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Vender é o que interessa...
O gerente de vendas recebeu o seguinte fax de um dos seus novos vendedores: 
"Seo Gomis, o criente de Belzonte pidiu mais cuatrucenta pessa. Faz favor toma as providenssa. Abrasso, Nirso". 
Aproximadamente uma hora depois recebeu outro: 
"Seo Gomis, os relatorio di venda vai xega atrazado proque to fexando umas venda. Temo que mandá treiz miu pessa. Amanhã to xegando. Abrasso, Nirso". 
No dia seguinte: 
"Seo Gomis, num xeguei pucausa de que vendi maiz deis miu em Beraba. To indo pra Brazilha. Abrasso, Nirso". 
No outro: 
"Seo Gomis, Brazilha fexo 20 miu. Vo pra Frolinoplis e de lá pra Sum Paulo no vinhão das cete hora. Abrasso, Nirso". 
E assim foi o mês inteiro. O gerente, muito preocupado com a imagem da empresa, levou ao presidente as mensagens que recebeu do vendedor. O presidente, um homem muito preocupado com o desenvolvimento da companhia e com a cultura dos funcionários, escutou atentamente o gerente e disse: 
-Deixa comigo que eu tomarei as providências necessárias. E tomou. Redigiu de próprio punho um aviso e afixou no mural da empresa, juntamente com as mensagens enviadas pelo vendedor: 
"A parti de oje nois tudo vamo fazê feito o Nirso. Si priocupá menos em iscrevê serto, mod vendê maiz. 
Acinado, o Prizidenti".
Disponível em <http://www.palestrante.srv.br/index.php/fabulas/627-fabula-e-parabola>. Acesso em 07 ago. 2016.
 O gênero textual piada, comumente, reflete uma postura preconceituosa. O texto “Vender é o que interessa...”, de autoria desconhecida, provoca a reflexão sobre a imagem que se faz das pessoas a partir de como usam a língua. Por que a piada reflete uma visão linguística preconceituosa?
 Nas piadas, as identidades de personagens provêm de construções sociais estereotipadas, ou seja, crenças são compartilhadas para caracterizar comportamentos de determinados grupos ou tipos de sujeitos, imaginando situações que estão ligados ao seu modo de vida, refletindo negativamente as imagens que são atribuídas. 
 As marcas no texto do Nirso permitem-nos identificar que ele faz uso de uma variedade regional, conhecida como o "falar caipira", frequentemente utilizada de modo estereotipado para caracterizar personagens de baixo estrato social. O texto de Nirso apresenta uma série de "erros" ortográficos porque pretende ser uma transcrição da fala. Se as regras ortográficas do Português determinassem que devemos escrever como falamos, a representação escrita da língua seria semelhante à utilizada por Nirso. 
 A preocupação do gerente com a variedade utilizada pelo vendedor revela o seu preconceito linguístico, pois é evidente que ele conclui que tal variedade poderia comprometer a imagem da empresa por ser bastante diferente da variedade de prestígio do português. Porém vimos que o presidente não se importou e percebe-se que a variedade do vendedor é desconsiderada em função dos resultados que apresenta para a empresa ao desempenhar suas funções (ele vende muito), mas não podemos afirmar que o presidente não manifestaria o mesmo preconceito revelado pelo gerente caso "Nirso" não vendesse tanto.

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