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A CONCILIACAO NO PROCESSO JUDICIAL1

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ 
Rogério Lucena Suruagy do Amaral 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A CONCILIAÇÃO NO PROCESSO JUDICIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2011 
 
 
Rogério Lucena Suruagy do Amaral 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A CONCILIAÇÃO NO PROCESSO JUDICIAL 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da 
Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti 
do Paraná com requisito parcial para obtenção do título 
de Bacharel. 
Orientadora: Professora Patrícia Menezes de Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2011 
 
 
TERMO DE APROVAÇÃO 
Rogério Lucena Suruagy do Amaral 
 
 
 
 
 
A CONCILIAÇÃO NO PROCESSO JUDICIAL 
 
Essa monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de bacharel no curso 
de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná. 
 
Curitiba, ____ de novembro de 2011. 
 
 
Coordenador: ______________________________________ 
Dr. Eduardo Oliveira Leite 
 
Faculdade de Ciências Jurídicas 
Universidade Tuiuti do Paraná 
 
Orientador: _______________________________________ 
 Professora: Patrícia Menezes de Oliveira 
 
______________________________________ 
 Professor (a): 
 
______________________________________ 
 Professor (a): 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar alguns aspectos da conciliação, 
como os ligados aos seus benefícios, obstáculos e facetas processuais, mostrando este 
meio de autocomposição como uma forma rápida, barata e eficiente para solucionar 
conflitos trazidos ao Judiciário. Também será abordado o papel do conciliador na 
busca pela solução mais justa do conflito e na maioria dos casos, a obtenção da 
pacificação social. Por fim, serão expostas as técnicas de que dispõem os 
conciliadores para busca de acordos. Como fontes, utiliza a pesquisa bibliográfica e a 
pesquisa de campo. É relevante o estudo à medida que mostra a conciliação como 
meio alternativo de composição de conflitos rápido e eficaz. 
 
Palavras-chave: principais vantagens; aspectos processuais; natureza jurídica papel do 
conciliador; técnicas de conciliação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO............................................................................................................. 6 
1 ASPECTOS GERAIS 
1.1 CONCEITO................................................................................................... 9 
1.2 NATUREZA JURÍDICA............................................................................... 13 
1.3 ASPECTOS POSITIVOS DA CONCIAÇÃO JUDICIAL............................ 17 
1.4 OBSTÁCULOS............................................................................................. 22 
2 ASPECTOS PROCESSUAIS 
2.1 O OBJETO DA CONCILIAÇÃO.................................................................. 26 
2.2 NATUREZA JURÍDICA DA HOMOLOGAÇÃO DA CONCILIAÇÃO...... 34 
2.3 O RITO DA CONCILIAÇÃO....................................................................... 38 
2.4 REFORMA DO ACORDO............................................................................ 46 
3 TÉCNICAS DE CONCILIAÇÃO 
3.1 O CONCILIADOR........................................................................................ 49 
3.2 MODELOS DE CONCILIAÇÃO................................................................. 52 
3.3 TÉCNICAS DE ATUAÇÃO DO CONCILIADOR...................................... 56 
4 CONCLUSÃO............................................................................................................. 61 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................ 64 
 
 
 
 
 
 
6 
 
INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho tem como objetivo analisar a conciliação como forma de 
solução de conflitos onde ocorre um acordo de vontades entre as partes. Diante de um 
conflito de interesses, os conflitantes, através de diálogo facilitado por um terceiro 
imparcial, buscam a solução para tal controvérsia. 
Uma das principais vantagens apresentadas pela conciliação é o seu efeito 
apaziguador, que faz com que as partes reaproximem-se, sendo assim, um grande meio 
de renovação de laços sociais. 
Outro aspecto processual de grande importância da conciliação é sua celeridade, 
pois dispensa instrução probatória e por não permitir uma infinidade de recursos que 
acabam estendendo o tempo processual. E ainda, uma menor quantidade de recursos, 
torna os custos com os processos mais baixos, estimulando as pessoas a procurarem o 
Poder Judiciário. Há a superação do Estado de litigiosidade latente, no qual se evita 
acionar a máquina estatal para solucionar controvérsias. 
Destarte, a conciliação se mostra de grande valia para garantir a retidão das 
decisões e a simplificação do processo judicial. 
Questão relevante é o papel do conciliador na construção de acordo, também 
abordado no estudo. É ele quem conduz a conciliação, sem, contudo, fazer qualquer 
julgamento ou favorecimento das partes. Entretanto, apesar da importância dessa 
figura, há poucos profissionais habilitados nessa função. 
Mesmo com tal carência, a conciliação vem sendo bastante estimulada no 
ordenamento jurídico. Na Justiça do Trabalho, é a forma preferida de solução de 
7 
 
conflitos, tendo ali, grande êxito. É necessário observar que a celeridade é fundamental 
em processo de natureza trabalhista, que na maioria das vezes discute verbas de 
natureza alimentar. 
Também nos Juizados Especiais dar-se privilégio a conciliação, já que eles têm 
por competência controvérsias envolvendo valores pequenos, e a possibilidade de uma 
solução rápida e barata estimula a busca pelo Judiciário e evita que os oponentes 
resolvam suas questões com violência. 
O presente trabalho, irá se desenvolver em torno da conciliação realizada no 
âmbito judicial, em razão do impacto que gera no Poder Judiciário, bem como pelo 
alcance social que o método de solução de conflitos tem atingido, uma vez que permite 
que os processos sejam menos dispendiosos e mais céleres, facilitando o acesso à 
Justiça para a população de menor renda. 
Em um primeiro momento, analisar-se-á o conceito e a natureza jurídica da 
conciliação. Também será feita uma análise sobre as vantagens da conciliação, assim 
como se apontará alguns obstáculos existentes para sua melhor aceitação. 
Após, será apresentada uma pesquisa sobre questões processuais atinentes à 
conciliação. O estudo abrangerá a matéria que pode ser objeto da conciliação e 
avançará analisando qual a natureza jurídica da decisão que homologa o acordo. A 
seguir buscar-se-á apresentar os momentos em que a conciliação deve ser tentada. 
Também será realizada análise sobre a possibilidade de interposição de recurso da 
sentença homologatória da conciliação. 
O último capítulo é destinado à figura do conciliador. O estudo abrangerá 
algumas das características dessa figura e sua postura ao incentivar a conciliação. 
8 
 
Então, será analisado o modelo didático do comportamento conciliatório para que se 
esclareça como deve agir o conciliador nas fases desse procedimento, ultimando pelas 
estratégias que o conciliadorpode adotar para facilitar a construção de um acordo. 
Após a análise de como se processa a conciliação e da figura do conciliador, 
conclusivamente será apontada a importância desta forma de solução como meio de 
pacificação social e como instrumento de acesso à Justiça, bem como será reafirmada a 
importância da abordagem acadêmica sobre o assunto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
1 ASPECTOS GERAIS 
 
1.1 CONCEITO 
 
Na forma dos estados modernos, três funções foram atribuídas ao Estado: 
legislar, administrar e julgar os conflitos existentes entre as pessoas para que exista 
harmonia na sociedade. Cabe ao Poder Judiciário, salvo raras hipóteses em que se 
permite a autotutela, resolver os conflitos gerados no meio social. 
Assim, a jurisdição é a função do Estado pela qual são solucionados os conflitos 
surgidos entre as pessoas. Como ensina Fredie Didier Junior, “jurisdição é a função 
atribuída a terceiro imparcial de realizar o Direito de modo imperativo e criativo, 
reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas concretamente deduzidas, em 
decisão insuscetível de controle externo e com aptidão para torna-se indiscutível.” 
(2010, p. 83). 
Para exercitar a função jurisdicional, o Estado confere aos magistrados o poder 
de, ao fim de um processo judicial, observados princípios que garantam às partes 
envolvidas a possibilidade de defender suas razões, dizer de modo impositivo a 
solução da questão. Invariavelmente, uma das partes sairá perdedora e terá que se 
submeter àquilo que foi determinado. 
Este modo de resolução de conflitos é chamado de heterocomposição, já que 
“(...) um terceiro substitui a vontade das partes e determina a solução do problema 
apresentado.” (DIDIER JUNIOR, 2010, p. 84). 
Além da jurisdição exercida pelo Estado por meio da atuação dos magistrados, 
10 
 
pode-se citar como forma de heterocomposição a arbitragem. Por meio da arbitragem, 
uma terceira pessoa escolhida pelas partes é convocada para que, imparcialmente, 
decida a questão controvertida. No dizer de Fredie Didier Junior, “é técnica de solução 
de conflitos mediante a qual os conflitantes buscam em uma terceira pessoa de sua 
confiança, a solução amigável e “imparcial” (porque não feita pelas partes 
diretamente) do litígio.” (2010, p. 98). 
A arbitragem é constituída por um negócio jurídico chamado de convenção de 
arbitragem, do qual são espécies as cláusulas compromissórias, estabelecidas entre as 
partes abstratamente, sem existência prévia de controvérsia, e o compromisso arbitral, 
estabelecido pelas partes após a ocorrência do litígio. 
Ao lado da heterocomposição, existem outras formas de solução de conflitos, 
como a autotutela e a autocomposição. 
Pela autotutela, há a imposição da vontade de uma das partes, ou seja, é a 
solução de conflito pela força. Essa forma de composição é própria dos primórdios da 
civilização, sendo assim, raras vezes é permitida no ordenamento jurídico vigente1. 
No mesmo sentido leciona Mauro Schiavi: 
 
A autotutela ou autodefesa é o meio mais primitivo de resolução de conflitos 
em que uma das partes, com utilização de força, impõe sua vontade sobre a 
parte mais fraca. Nesta modalidade, há uma ausência de Estado na solução 
do conflito, sendo uma espécie de vingança privada. (…) 
Hoje nas legislações, ainda há resquícios de autotutela em alguns códigos, 
como legítima defesa da posse no Código Civil, ou o estado de necessidade e 
legítima defesa na esfera penal. (2010, p. 32). 
 
 
1
 Art. 1.210, CC: O possuidor tem direito a ser mantido na posso em caso de turbação, restituído no 
esbulho, e segurado de violência eminente, se tiver justo receio de ser molestado. 
§1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restitui-se por sua própria força, contanto 
que o faça logo; os atos de defesa, ou de esforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, 
ou restituição da posse. 
11 
 
Como se pode notar, mesmo que a autotutela trate de uma forma primitiva de 
resolução de conflitos ela ainda está presente no ordenamento jurídico. Entretanto, só 
poderá ser utilizada quando existir previsão legal. 
A autocomposição, como veremos a seguir, trata da solução amigável de 
conflitos, onde ambas as partes definem a melhor forma de resolver suas pendências. 
Neste sentido, para Fredie Didier Junior, a autocomposição: 
 
É a forma de solução de conflitos pelo consentimento espontâneo de um dos 
contentadores em sacrificar o interesse próprio, no todo ou em parte, em 
favor do interesse alheio. É a solução altruísta do litígio. Considerada, 
atualmente, como legítimo meio alternativo da pacificação social. Avança-se 
no sentido de acabar com o dogma da exclusividade estatal para solução dos 
conflitos de interesse. Pode ocorrer dentro ou fora do processo. (2010, p. 93-
97). 
 
São formas autocompositivas: a transação (que compreende concessões 
mútuas), a submissão (reconhecimento da procedência do pedido), e a renúncia pra 
pretensão reduzida. 
Dentre as modalidades mais utilizadas na autocomposição estão a mediação e 
a conciliação. 
A mediação é o meio pelo qual um terceiro aproxima as partes para que estas 
resolvam uma disputa. Como assevera Mauro Schiavi, “mediação é a forma de solução 
de conflitos por meio do qual o mediador se insere entre as partes, procurando 
aproximá-las para que elas próprias cheguem a uma solução consensual do conflito”. 
(2010, p. 33). 
Já a conciliação é o meio de solução pacífica pelo qual ambas as partes 
chegam a uma decisão, consensualmente. Como ensina Maurício Godinho Delgado: 
 
A conciliação, por sua vez, é o método de solução de conflitos em que as 
12 
 
partes agem na composição, mas dirigidas por um terceiro, destituído do 
poder decisório final, que se mantém com os próprios sujeitos originais da 
relação jurídica conflituosa. Contudo, a força condutora da dinâmica 
conciliatória por esse terceiro é real, muitas vezes conseguindo implementar 
resultado não imaginado ou querido, primitivamente, pelas partes (…). 
(2010, p.1346). 
 
Grande semelhança existe entre a mediação e a conciliação, entretanto as duas 
modalidades não se confundem. A diferença está na forma de atuação do mediador. 
Como preconiza Mauro Schiavi, “segundo a doutrina, a atividade do mediador é mais 
intensa que a do conciliador, pois aquele toma mais iniciativas que este, não só 
realizando propostas de conciliação, mas persuadindo as partes para que cheguem a 
uma solução do conflito. Não obstante, o mediador, ao contrário do árbitro ou do juiz, 
não tem poder de decisão”. (2010, p.34). 
Assim observa-se que a mediação é um procedimento mais elaborado, melhor 
adequado a situações nas quais haja continuidade das relações interpessoais. Como 
assevera Juliana Demarchi: 
 
Daí depreende que o método da conciliação é de menor complexidade e mais 
rápido que a mediação, pois, em conflitos com aspectos subjetivos 
preponderantes , nos quais há uma inter-relação entre os envolvidos, tais 
como os conflitos que envolvem questões familiares, mostra-se mais 
adequado o emprego da mediação, que exige melhor preparo do profissional 
de solução de conflitos, mais tempo e maior dedicação, vez que é preciso 
esclarecer primeiramente a estrutura da relação existente entre as partes 
(como as partes se conheceram, como foi/é seu relacionamento), bem como 
a estrutura do conflito, para, depois tratar das questões objetivas em 
discussão. (2008, p. 55). 
 
Contudo, não há regra absoluta que determine que para a solução de conflitos 
objetivos se recorra à conciliação, enquanto que para conflitos subjetivos se aplique a 
mediação.Tal escolha deve ser feita pelo profissional de solução de conflitos, de 
acordo com o caso concreto. 
13 
 
Nota-se, entretanto, haver controvérsia na doutrina a cerca da classificação da 
mediação e da conciliação como meios de autocomposição ou heterocomposição. 
Maurício Godinho Delgado considera serem meios de heterocomposição, justamente 
pela influência exercida pelo mediador ou conciliador. Em suas palavras: 
 
É que a diferenciação entre os métodos de solução de conflitos encontram-
se, como visto, nos sujeitos envolvidos e na sistemática operacional do 
processo utilizado. Na autocomposição, apenas os sujeitos originais em 
confronto é que se relacionam na busca da extinção do conflito, conferindo 
origem a uma sistemática de análise e solução de controvérsia autogerida 
pelas próprias partes. Já na heterocomposição, ao contrário, dá-se a 
intervenção de um agente exterior aos sujeitos originais na dinâmica de 
solução de conflito, transferindo, como já exposto, em maior ou menos grau, 
para esse agente exterior a direção dessa própria dinâmica. Isso significa que 
a sistemática de análise e solução dessa controvérsia deixa de ser 
exclusivamente gerida pelas partes, transferindo-se em alguma extensão para 
a entidade interveniente. (2010, p. 1344). 
 
Observe que a idéia central da conciliação é a mesma, seja para quem 
considera método de heterocomposição, seja para quem considera meio de 
autocomposição: a existência de uma pessoa estranha ao conflito auxiliando as partes a 
resolverem a pendência, contudo sem poder decisório para substituir a vontades das 
partes. 
Como explica Caetano Lagrasta Neto, “são públicos os processos judiciais e a 
conciliação prevista tanto na justiça tradicional como nos Tribunais Especiais. São 
privadas a negociação, a arbitragem e a mediação. Também pode sê-lo a conciliação, 
quando realizada fora do sistema judicial, em escritórios privados”. (2008, p. 16). 
 
1.2 NATUREZA JURÍDICA 
 
A exemplo da classificação de conciliação judicial como forma de 
14 
 
autocomposição ou heterocomposição, também não há consenso sobre a natureza 
jurídica desse instituto. 
Na explicação da Elaine Nassif (2005, p. 102-103), os estudiosos do tema 
apontam haver diversas teorias para defini-la, dentre as quais a teoria jurisdicionalista 
e a teoria contratualista, das quais derivam a teoria da conciliação judicial como 
jurisdição voluntária e a teoria híbrida. 
A teoria jurisdicionalista da conciliação utiliza do critério da verificação dos 
poderes e deveres do juiz, assim, essa teoria equipara os efeitos da conciliação com os 
efeitos da jurisdição contenciosa. Em síntese, “a conciliação é um instituto do 
processo, pois é um de seus momentos, e produz efeitos processuais, privilegia o 
princípio inquisitório e o papel do juiz interventor na formação da vontade das partes”. 
(NASSIF, 2005, p.113). 
Já a teoria contratualista privilegia a vontade das partes. Como explica a já 
mencionada autora, Elaine Nassif Noronha, “ao contrário da jurisdicionalista, o poder 
dispositivo das partes é privilegiado, o documento produzido não é uma sentença, mas 
um negócio jurídico reconhecido pelo poder público para fazer valer título executivo, 
que não produz coisa julgada. Pode ser modificado como os atos jurídicos em geral”. 
(2005, p. 113). 
A teoria da conciliação como jurisdição voluntária não é unitária, tendo 
diferentes consequências conforme aquilo que se compreende por jurisdição 
voluntária. 
Fredie Didier Junior (2010, p.115-116) assevera que a doutrina se divide entre 
aqueles que consideram a jurisdição voluntária como administração pública de 
15 
 
interesses privados, como Frederico Marques, e aqueles que consideram ser atividade 
jurisdicional, a exemplo de Passos e Ovídio Baptista. 
Prevalece na doutrina a posição de que a jurisdição voluntária não é jurisdição, 
e sim administração pública de interesses provados. Como ensina Fredie Didier Junior: 
 
Essa construção doutrinária é um tanto tautológica. Partem da premissa de 
que a jurisdição voluntária não é jurisdição, porque não há lide a ser 
resolvida; sem lide, não se pode falar em jurisdição. Não haveria também 
substitutividade, pois o que acontece é que o magistrado se insere entre os 
participantes do negócio jurídico, não os substituindo. Porque não há lide, 
não há partes, só interessados; porque não há jurisdição, não seria correto 
falar de ação nem de processo, institutos correlatos à jurisdição; só haveria 
requerimento e procedimento (...). (2010, p. 115-116). 
 
A consequência para quem adota esta teoria sobre jurisdição voluntária é que a 
conciliação produziria os mesmos efeitos defendidos pela corrente contratualista. 
Como melhor sintetiza Elaine Nassif: 
 
Na teoria contratualista, tal como aquela que vê a jurisdição voluntária como 
administração de interesses privados, a função conciliativa é considerada 
absolutamente extra jurisdicional, por não produzir efeitos de soberana 
atuação do ordenamento, exaurindo-se na mera cooperação realizada através 
de impulso e mediação, em nada diferentes daquela cooperação que pode ser 
efetuada por outro terceiro influente para uma boa ou “justa” composição de 
conflitos. (2005, p. 108). 
 
A seu turno, há autores que vêem na jurisdição voluntária atividade 
jurisdicional. 
Na lição de Fredie Didier Junior (2010, p. 116-118), há varias razões pelas 
quais se pode considerar a jurisdição voluntária atividade jurisdicional, dentre as quais 
se destacam: a presença de lide; ser exercida por um juiz; desenvolver-se por meio de 
formas processuais; há partes; e há, por fim, coisa julgada. 
Sob o enfoque de que a jurisdição voluntária tem natureza de atividade 
16 
 
jurisdicional, os efeitos da conciliação seriam os mesmos de quem adota a teoria 
jurisdicionalista da conciliação judicial, ou seja, há efeitos próprios do processo na 
decisão conciliada. 
Ainda sobre jurisdição voluntária, vale lembrar que há parte minoritária da 
doutrina, batizada pelos estudos de Fazzalari, que compreende que a jurisdição 
voluntária é autônoma. Elaine Nassif (2005, p. 97), sintetizando o pensamento do autor 
italiano, explica que o Estado tem funções legislativas, administrativas e jurisdicionais, 
e que a jurisdição voluntária não se confunde com tais, sendo função autônoma. 
Sobre o enfoque da autonomia da jurisdição voluntária, a conciliação judicial, 
se assim considerada, tem efeitos autônomos, diferentes da teoria contratualista e 
jurisdicionalista. 
Considera-se ainda, que a conciliação judicial tenha natureza híbrida. Assim 
aponta Elaine Nassif: 
 
(...) ao lado de quem enquadra o instituto como ato de natureza 
exclusivamente processual, surge a opinião de que se configure como um 
fenômeno mais complexo: por um lado, como negócio sujeito à disciplina 
que lhe é própria e dotado de autônoma eficácia (…), e outro, como ato 
processual, em razão da irreversível extinção do processo a que dá causa. 
Esta teoria vem sendo chamada pela doutrina italiana de teoria híbrida ou 
complexa. (2005, p. 119-120). 
 
Diante do exposto, observa-se haver diversidade de posições quanto à natureza 
jurídica da conciliação judicial, considerando-se, portanto, que a teoria sobre a 
conciliação ainda está por ser formulada. 
Embora ainda não muito explorada, esta discussão se revela bastante 
importante em razão das consequências geradas nos processos judiciais resolvidos por 
meio da conciliação. Nota-se que, conforme se adote esta ou aquela teoria, a 
17 
 
conciliação pode não fazer coisa julgada, por exemplo. Sobre os aspectos processuais, 
contudo, haverá análise mais rigorosa em capítulo próprio. 
 
1.3 ASPECTOS POSITIVOS DA CONCIAÇÃOJUDICIAL 
 
Diversos são os fundamentos utilizados para aqueles que defendem a forma 
conciliada de composição de conflitos. 
Aponta-se hoje na doutrina diversos relatos sobre uma crise na estrutura 
judiciária pátria. Frequentemente são apontados fatores como a morosidade nos 
processos e seus altos custos, que dificultam o acesso à justiça; a mentalidade dos 
juízes e jurisdicionados; a falta de informação sobre a possibilidade de soluções 
pacíficas; a falta de conhecimento das técnicas conciliativas. Estes problemas, pois, 
traduzem verdadeiros obstáculos ao acesso à justiça. 
Tal é a posição de Luciane Moessa de Souza: 
 
Os estudiosos do tema, como Mauro Cappelletti e Bryant Garth, em sua obra 
clássica, e, no Brasil, entre outros, Luiz Guilherme Marinoni, apontam, 
basicamente, quatro ordens de obstáculos para acesso a justiça: 
a) obstáculos de natureza financeira, consistentes nos altos valores 
praticados para a cobrança de custas processuais e honorários advocatícios, 
bem como configurados pela economia de escala que os litigantes habituais 
têm se comparados aos litigantes eventuais; 
b) obstáculos temporais, consubstanciados na grande morosidade 
característica do Poder Judiciário, seja por dificuldades institucionais, 
relacionadas à má administração, falta de modernização tecnológica e/ou 
insuficiência do número de magistrados e de servidores, seja em razão da 
complexidade do nosso sistema processual, que permite a interposição 
infindável de recursos; 
c) obstáculos psicológicos e culturais, consistentes na extrema 
dificuldade para a maioria da população no sentido de até mesmo reconhecer 
a existência de um direito, especialmente se este for de natureza coletiva, na 
justificada desconfiança que a população em geral (e em especial a mais 
carente) nutre em relação aos advogados e ao sistema jurídico como um todo 
e, ainda, na também justificável intimidação que as pessoas em geral sentem 
diante do formalismo do Judiciário e dos próprios advogados; e 
d) obstáculos institucionais, referentes aos direitos de natureza coletiva, em 
18 
 
que a insignificância de lesão ao direito, frente ao custo e a morosidade do 
processo, pode levar ao cidadão a desistir de exercer o seu direito por ser a 
causa antieconômica. (2009, p. 59-60). 
 
Um dos aspectos mais relevantes no que tange a dificuldade do acesso à 
justiça está na morosidade da tramitação dos processos judiciais. Isto ocorre, ainda que 
a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, LXXVII, determine que, “a todos, no 
âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os 
meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. 
Há no judiciário brasileiro a existência de um sistema recursal que favorece a 
postergação do fim do processo. Na justiça brasileira a morosidade é agravada por 
indivíduos, firmas e grupos de interesses que utilizam a justiça não para pleitear 
direitos, mas para postergar o cumprimento das obrigações. 
O que também se conclui é que o acesso à ordem jurisdicional não é 
necessariamente provocado pela falta de informação dos detentores do direito. Ao 
contrário disso, um número cada vez maior de pessoas conhece seus direitos, mas 
muitas vezes deixam de preiteá-lo por considerarem que o tempo e os custos da 
tramitação do processo serão maiores que os da própria lesão. 
Este quadro é conhecido como litigiosidade contida. Na percepção de Luciane 
Moessa de Souza, “é preciso ter em mente, sempre, que a melhoria de qualidade e a 
eficiência na prestação de serviços jurisdicionais, muitas vezes, faz aumentar o número 
de litígios, por trazer à tona a chamada “litigiosidade contida”, ou seja, todos aqueles 
litígios que esperavam solução, mas que não eram levados ao Poder Judiciário em 
razão dos citados obstáculos”. (2009, p. 66). 
Ao lado destas questões, observa-se que existe um contínuo aumento da 
19 
 
demanda. Kazuo Watanabe afirma que, “o que devemos encarar, sem medo nem 
preconceito, é o fato de que o Poder Judiciário, ao menos no Estado de São Paulo, não 
mais está capacitado para atender à demanda: se antes se temia a litigiosidade contida, 
teme-se hoje ante a litigiosidade expandida”. (2008, p. 12). 
O problema não está necessariamente no número insuficiente de magistrados e 
servidores, mas sim no fato de que cada vez mais indivíduos irão buscar a efetivação 
dos seus direitos por meio judicial. Mesmo que se aumentasse a estrutura do Poder 
Judiciário, o problema persistiria, pois na mesma escala cresceria a procura pela tutela 
jurisdicional. 
É nesse contexto que surge a conciliação judicial e toma força, pois por meio 
deste método, as próprias partes resolvem seus conflitos. Não há despesas 
desnecessárias com advogados ou para produzir provas, pois há concessões mútuas 
sobre os fatos alegados. Não há uma demorada espera pelo provimento jurisdicional, 
pois a solução nasce do próprio encontro das partes. Estes são os aspectos positivos de 
maior relevância apresentados pelos estudiosos do tema. 
Em razão dessas vantagens, a conciliação deve ser vista como instrumento útil 
à satisfação de direitos fundamentais constantes em nossa constituição, a exemplo do 
acesso a justiça e a duração razoável do processo. 
Dentro deste contexto, chamando atenção para novos meios de soluções de 
conflitos, Alexandre Freitas Câmara explica que os sucedâneos de jurisdição, dentre os 
quais se destaca a conciliação, “são de extrema importância para que se torne possível 
a completa satisfação do jurisdicionado, assegurando-se amplo acesso a ordem jurídica 
justa”. (2009, p. 12). 
20 
 
Ao lado dos aspectos práticos da celeridade e baixos custos do processo que 
conferem importância à conciliação judicial, há outros fundamentos, de natureza 
social, que justificam sua importância. 
Observa a doutrina que a conciliação, além de instrumento de solução de 
controvérsias entre as partes litigantes, é também instrumento de pacificação social. 
Isto ocorre porque na autocomposição, não há a substituição da vontade das partes por 
um terceiro, de modo que ninguém resulta perdedor do embate, evitando injustiças. 
Segundo o raciocínio de Ada Pellegrini Grinover: 
 
Revela assim, o fundamento social das vias conciliativas, consistente na sua 
função de pacificação social. Esta, via de regra, não é alcançada pela 
sentença que se limita da dotar autoritativamente a regra para o caso 
concreto, e que, na grande maioria dos casos, não é aceita de bom grado pelo 
vencido, o qual contra ela costuma insurgir-se com todos os meios na 
execução; e que, de qualquer modo, se limita a solucionar a parcela de lide 
levada a juízo, sem possibilidade de pacificar a lide sociológica, em geral 
mais ampla, da qual aquela se imergiu, como simples ponta do iceberg. Por 
isso mesmo, foi salientado que a justiça tradicional se volta para o passado, 
enquanto a justiça informal se dirige para o futuro. A primeira julga a 
sentença; a segunda compõe, concilia, previne situações de tensões e 
rupturas, exatamente onde a coexistência é um relevante elemento 
valorativo. (2008, p. 04). 
 
A questão atinente à pacificação é de suma importância, principalmente 
quando existem relações continuadas entre as partes envolvidas, como no caso de 
disputas entre vizinhos, ou envolvendo questões de família. Ao exporem suas razões, 
as partes além de resolverem a questão posta em discussão, resolvem também outras 
questões não expostas diretamente e evitam que novos conflitos surjam entre si. 
Destarte, do ponto de vista judicial a conciliação é vantajosa por seu caráter 
pacificador, não observado na heterocomposição. 
21 
 
A Constituição Federal afirma, em seu artigo 1º, I e II2, que a cidadania e a 
dignidade da pessoahumana são, dentre outros, fundamentos do nosso Estado 
Democrático de Direito e com uns dos objetivos fundamentais, a construção de uma 
sociedade livre justa e solidária. Observa-se que a cidadania concebida com a 
completa fruição dos direitos e garantias pelo ordenamento jurídico é privilégio 
reservado a poucos em detrimento da maioria excluída aos mais elementares direitos. 
Nota-se, portanto, que a realização da cidadania tal como, o digno tratamento a pessoa 
humana, figuram como outras vantagens da conciliação. 
Há ainda um quarto aspecto da conciliação judicial, que é seu fundamento 
político, pois permite que haja participação popular na administração da justiça. É que 
o sistema processual formal resulta na imposição pelo Estado de uma solução para 
uma competição. Nos meios autocompositivos, não há essa imposição, de modo que as 
próprias partes criam a solução. Como salienta Ada Pellegrini Grinover, “representa 
ela, ao mesmo tempo, instrumento de garantia e instrumento de controle, configurando 
meio de intervenção popular direita pelos canais institucionalizados de conciliação e 
mediação”. (2008, p. 05). Dessa forma, as pessoas concretizam sua cidadania. 
 
 
 
 
2Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios 
e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania 
III - a dignidade da pessoa humana; 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político. 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou 
diretamente, nos termos desta Constituição. 
 
22 
 
1.4 OBSTÁCULOS 
 
A implementação da conciliação judicial como meio preferido para solução de 
litígios também encontra vários desafios a serem vencidos. 
O principal deles, para Kazuo Watanabe, é a mentalidade dos operadores do 
Direito. Afirma o autor: 
 
O grande obstáculo, no Brasil, à utilização mais intensa da conciliação, da 
mediação e de outros meios alternativos de resolução de conflitos, está na 
formação acadêmica dos nossos operadores de Direito, que é voltada, 
fundamentalmente, para a solução contenciosa e adjudicada de conflitos de 
interesses. Vale dizer, toda ênfase é dada à solução de conflitos por meio de 
processo judicial, onde é proferida uma sentença, que constitui a solução 
imperativa dada pelo juiz como representante do Estado. (2008, p. 06). 
 
Tal afirmação se confirma ao observarmos o comportamento de todos 
envolvidos no processo. 
Em um primeiro momento, se analisarmos a conduta das partes, como já 
mencionado anteriormente, podemos perceber que não há, necessariamente, a intenção 
de resolver o conflito. Muitas vezes o que está presente ao buscar o Poder Judiciário é 
o interesse de postergar o cumprimento das obrigações, como por exemplo, fazendo 
uso dos inúmeros recursos cabíveis no processo e aproveitando a morosidade da 
justiça. 
Aponta-se, ainda, para uma cultura popular que valoriza o conflito em 
detrimento da sua solução. André Gomma de Azevedo assinala: 
 
As partes consideram vitória sobre a outra como a única opção adequada. 
(…) Ao tratar conflitos como um jogo de soma zero, frequentemente as 
partes em conflito, inadvertidamente abdicam de diversos interesses que 
possuem, como manutenção do relacionamento social pré-existente com a 
outra parte ou a resolução dos pontos controvertidos como objetivamente 
23 
 
apresentados no início do conflito e não em razão de um acirramento de 
conflito que se expandiu, tornando-se “independente de suas causas inicias”. 
A percepção de que se faz necessário em um determinado conflito que uma 
parte “vença a outra” (jogo soma zero) – e não “objetivamente resolva os 
pontos em relação ao quais as partes divergem” - faz com que as partes 
evitem esforços para prejudicar uma à outra e não necessariamente apenas 
para resolver os pontos controvertidos. (2009, p. 25-26). 
 
O problema percebido é que para as partes, a conciliação ainda não traduz 
método eficiente para conclusão de questões litigiosas. Assim, apontam Liliam Maia 
de Morais Sales e Cilana Morais Soares Rabelo que deve haver adequação entre o 
conflito e o tipo de solução apresentado. Para as autoras, “(...) é importante desapegar-
se da visão de que só é possível a resolução de um conflito por um caminho exclusivo 
ou quando houver intervenção estatal e passar a construir a idéia de que um sistema 
conta com instituições e procedimentos que procuram prevenir e resolver controvérsias 
a partir da necessidade e dos interesses das partes”. (2009, p. 75-76). 
Em relação aos advogados, observa-se uma postura zelosa na defesa dos 
interesses de seus clientes. André Gomma de Azevedo é quem dita esta questão: 
 
Os advogados adotam uma postura excessivamente litigiosa e adversal. 
Muitos advogados, ao ponderarem sobre suas práticas profissionais, 
concluem que o efetivo “empenho” previsto no preâmbulo de Código de 
ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil requer que 
desenvolvam maior número de atividades dentro da suas relações 
processuais em curso, desde que estas não sejam expressamente proibidas 
em lei. Essa conduta estimula advogados a litigar de forma enfática, 
buscando auferir todas as formas possíveis de ganhos para seus clientes. Em 
regra, esta relação ocorre sob forma de jogo de soma zero – isto é, busca-se 
vencer determinada lide, derrotando a parte contrária. (2009, p. 26). 
 
Os advogados, portanto, também exercem uma obstrução às vias conciliatórias 
ao concluírem ser indispensável atuar de modo mais intenso possível no processo, 
lançando mão de todos os tipos de recursos processuais existentes. 
A resistência ainda pode partir do próprio magistrado, que tem a cultura de 
24 
 
sentenciar as questões que lhe são apresentadas. Essa cultura é alienada pela 
sobrecarga de trabalho, como afirma Kazuo Watanabe: 
 
Todavia, a mentalidade forjada nas academias e fortalecida na práxis forense 
é aquela que já mencionada, de solução adjudicada autoritativamente pelo 
juiz, por meio de sentença, mentalidade esta agrava pela sobrecarga 
excessiva de trabalho (os juízes cíveis da Capital do Estado de São Paulo 
recebem, anualmente, cerca de 5.000 novos processos). 
Disso tudo nasceu a chamada cultura da sentença, que se consolida 
assustadoramente. Os juízes preferem proferir sentença ao invés de tentar 
conciliar as partes para a obtenção da solução amigável dos conflitos. 
Sentenciar, em muitos casos, é mais fácil e mais cômodo do que pacificar os 
litigantes e obter, por via de consequência, a solução dos conflitos. (2008, p. 
07). 
 
A ausência de abordagem acadêmica sobre as possíveis alternativas à 
heterocomposição também cria uma deficiência no quadro de profissionais 
especializado nas técnicas conciliatórias. Bem assinala Kazuo Watanabe que “não se 
nota, todavia, um investimento maior na formação e treinamento de profissionais 
voltados à solução não-contenciosa de conflitos, como negociação, conciliação e 
mediação”. (2008, p. 06). 
Como por exemplo, o grande obstáculo a ser observado para que a conciliação 
alcance maior aplicabilidade é a ausência de exploração do tema nos meios 
acadêmicos. A abordagem das técnicas autocompositivas no período de formação, por 
consequência, proporcionará sua maior aceitação e utilização por parte dos futuros 
profissionais de Direito. 
Não se pode pensar, contudo, que os obstáculos de ordem cultural ou a 
ausência de abordagem acadêmica das soluções amigáveis de conflitos seriam os 
únicos a serem enfrentados. 
Ciente desses problemas existe também a necessidade de se destinarrecursos 
25 
 
financeiros para que se instale a justiça da conciliação, pois é fundamental que haja 
espaço físico e equipamentos, além de servidores, conciliadores e magistrados 
destinados a este fim. 
Diante do exposto, nota-se que a cultura da conciliação ainda precisa ser 
assimilada pelos brasileiros. Para tanto, o problema pode ser contornado se houver 
maior investimento em formação de profissionais, assim como a necessária destinação 
de recursos financeiros para um reaparelhamento do Poder Judiciário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
2 ASPECTOS PROCESSUAIS 
 
2.1 O OBJETO DA CONCILIAÇÃO 
 
Apesar do muito que se fala sobre as vantagens da conciliação, nem todas as 
matérias estão sujeitas ao seu procedimento. Isso porque alguns direitos são 
fundamento da personalidade humana e permitem que cada um possa exercer sua 
liberdade sem que isso afete sua dignidade. 
Deste modo, alguns direitos são indisponíveis para o seu titular e sobre eles 
não pode haver negociação. Servem, pois, para proteção de certas condições inerentes 
ao ser humano. 
Na conciliação ocorrem concessões mútuas, ou seja, as partes abrem mão de 
parte dos direitos que acreditam serem titulares para solucionar uma controvérsia. Por 
isso, a princípio, a conciliação só pode envolver direitos disponíveis para as partes. 
Dita o artigo 3313 do Código de Processo Civil que quando a causa versar 
sobre direitos que admitam transação haverá uma audiência preliminar no intuito de se 
alcançar a conciliação. A seu turno, o artigo 447 do mesmo diploma legal determina 
que versando o litígio sobre direitos patrimoniais de caráter privado, assim como nas 
 
3
 Art. 331. Se não ocorrer qualquer das hipóteses previstas nas seções precedentes, e versar a causa 
sobre direitos que admitam transação, o juiz designará audiência preliminar, a realizar-se no prazo de 
30 (trinta) dias, para a qual serão as partes intimadas a comparecer, podendo fazer-se representar por 
procurador ou preposto, com poderes para transigir. 
§ 1º Obtida a conciliação, será reduzida a termo e homologada por sentença. 
§ 2º Se, por qualquer motivo, não for obtida a conciliação, o juiz fixará os pontos controvertidos, 
decidirá as questões processuais pendentes e determinará as provas a serem produzidas, designando 
audiência de instrução e julgamento, se necessário. 
§ 3º Se o direito em litígio não admitir transação, ou se as circunstâncias da causa evidenciarem ser 
improvável sua obtenção, o juiz poderá, desde logo, sanear o processo e ordenar a produção da prova, 
nos termos do § 2º. 
27 
 
que envolvem direito de família, será oportunizada a conciliação.4 
O citado artigo 331 faz menção aos direitos que admitam transação, instituto 
de Direito Civil que se assemelha à conciliação. Pela transação, “cada parte abre mão 
de parcela de seus direitos para impedir ou por fim em demanda.” (VENOSA, 2004, p. 
315). 
Todavia, embora a transação também seja a solução de um litígio por meio de 
concessões mútuas, ela tem natureza contratual, diferente da conciliação. 
A transação pode recair, conforme redação do artigo 8415 do Código Civil, 
sobre direitos patrimoniais de caráter privado. Como explica Sílvio de Salvo Venosa, 
“(...) os direitos indisponíveis, os relativos ao estado e à capacidade das pessoas, os 
direitos puros de família, os direitos personalíssimos, não podem ser objetos de 
transação. De modo geral, pode haver transação sobre direitos que não estão no 
comércio jurídico”. (2004, p. 319). 
Contudo, a conciliação pode atingir outros contornos que não se enquadram na 
limitação posta neste artigo. Ainda que o direito seja indisponível, sobre o aspecto 
patrimonial deste direito se pode dispor. É o caso das questões quantitativas que 
decorrem desse direito. 
Na lição de Luiz Rodrigues Wambier: 
 
(…) há casos em que apesar da indisponibilidade que caracteriza alguns 
direitos, sobre eles é perfeitamente possível realizarem-se acordos, 
especialmente quando a pretensão gira em torno de aspectos puramente 
quantitativos. Exemplo: ações que evolvam prestações de natureza alimentar 
são evidentemente indisponíveis, mas suscetíveis de ser objeto de acordo, no 
 
4
 
4Art. 447. Quando o litígio versar sobre direitos patrimoniais de caráter privado, o juiz, de ofício, 
determinará o comparecimento das partes ao início da audiência de instrução e julgamento. 
Parágrafo único. Em causas relativas à família, terá lugar igualmente a conciliação, nos casos e para os 
fins que a lei consente a transação. 
5
 Art. 841. Só quanto a direitos patrimoniais de caráter privado se permite a transação. 
28 
 
que diz respeito ao quantum, Mesmo as chamadas ações de estado, que 
apesar de versarem sobre direitos tidos como indisponíveis, contemplam 
hipóteses de acordo. (p. ex., a “separação litigiosa” pode resolver-se 
consensualmente). (2008, p. 424-523). 
 
O supracitado autor explica que a conceituação de um direito como 
indisponível é problemática, pois há direitos, ainda que indisponíveis, que admitem 
alguns acordos. Há, portanto, diferentes graus de indisponibilidade, de modo a permitir 
que certos direitos não disponíveis sejam transacionados. Explica o autor: 
 
Assim é possível encontrar, sob a proteção da indisponibilidade, direitos de 
diferentes matrizes, cada qual com uma conformação própria, e que tem 
muito pouco em comum entre si. Na verdade, o que há de comum entre uns e 
outros desses direitos é um espectro de maior rigidez no tratamento legal, ora 
mais ora menos acentuado, Há, como se viu, exemplos de direitos 
absolutamente irrenunciáveis (indisponíveis, portanto), mas que, nem por 
isso, ficam fora do alcance de eventual tentativa de composição extrajudicial 
dos interesses em litígio. (2008, p.524). 
 
Observa-se assim que podem ser objeto de transação os direitos patrimoniais 
disponíveis e os aspectos econômicos relativos a direitos indisponíveis. Ilustrando a 
segunda hipótese, o direito a alimentos é direito indisponível, mas a partes podem 
discutir o seu quantum. 
Em relação às lides que envolvem relações interpessoais continuadas, como 
nos casos de direitos de família ou vizinhança, a solução pacífica dos conflitos é 
sempre a preferida, por ser capaz de resolver questões além das postas em juízo. Isso 
porque, quando as próprias partes, por meio de concessões mútuas, criam suas próprias 
decisões não há vencedor nem vencido; ambos os litigantes ganham com a 
conciliação. 
Como ensina Vânia Maria Ruffini Peteado Balera: 
 
29 
 
(...) nas relações interpessoais, envolvendo conflitos de ordem subjetiva, a 
solução deve ser buscada através de composição, elaborada pelas próprias 
partes, onde não tenham espaço para vitorioso ou perdedor. 
Deve-se buscar solução de convivência, de tolerância entre as partes, capaz 
de permitir que a situação de conflito seja apaziguada, tornando 
desnecessária a intervenção de terceiro, na hipótese o juiz, para dar solução 
ao problema que lhe é submetido à apreciação. A sentença, solução dada 
pelo juiz, porá fim ao processo e, não raro, a situação em litígio perdurará no 
tempo. Quantas são as decisões que fixam guarda, visitas, alimentos e 
quantos são os pedidos de revisão de pensão, alteração de guarda 
envolvendo as mesmas partes em curto espaço de tempo. (2008, p. 45). 
 
Também no direito da família, que envolve relações continuadas, a conciliação 
é possível. Daniel Fabretti afirma que se pode obter a conciliação em se tratando de 
ações de alimentos, lembrando que “as partes tem ampla liberdade para fixação do 
valor da pensão por meio de acordo.”(2008, p. 45). 
Daniel Fabretti (2008, p. 56) prossegue salientando que pode resultar em 
conciliação as ações de separação, divórcio, reconhecimento e dissolução de união 
estável e investigação de paternidade, quando o acordo poderá abranger partilha dos 
bens comuns, fixação de pensão entre as partes ou dispensa recíproca de pensão, 
fixação de guarda dos filhos menores, fixação de regime e visitas e pensão para filhos 
menores, e estabelecimento do período em que durou a união estável e 
estabelecimento quanto ao nome da mulher, que volta a usar o nome de solteira. 
Neste último quesito, fica nítido que a conciliação também pode atingir 
direitos indisponíveis, pois o nome que a pessoa usará após o divórcio também pode 
ser definido por acordo. 
Ainda como exemplo, Daniel Fabretti (2008, p. 81) cita que podem ser objeto 
de conciliação as ações cíveis em geral, como problemas entre vizinhos, envolvendo 
direitos dos consumidores, acidentes de trânsito e cobranças em geral. 
A questão da indisponibilidade de direitos no Direito do Trabalho, a seu turno, 
30 
 
é vista sobre outro enfoque. É que é neste ramo do Direito vige o princípio da 
indisponibilidade das normas trabalhistas. 
Este princípio, segundo Maurício Godinho Delgado (2010, p. 186), é traduzido 
pela inviabilidade técnico jurídica de o empregado poder se despojar de suas vantagens 
e proteções garantidas pela ordem jurídica. 
Os direitos trabalhistas, em geral, trazem em si a imperatividade, posto que 
são normas que visam resgatar o equilíbrio social. 
Nas palavras de Maurício Godinho Delgado: 
 
A indisponibilidade inata aos direitos trabalhistas constitui-se talvez no 
veículo principal utilizado pelo Direito do Trabalho para tentar igualizar, no 
plano jurídico, a assincronia clássica existente entre os sujeitos da relação 
socieconômica de emprego. O aparente contingenciamento da liberdade 
obreira que resultaria da observância desse princípio desponta, na verdade, 
como o instrumento hábil a assegurar afetiva liberdade no contexto da 
relação empregatícia; é que aquele contingenciamento atenua ao sujeito 
individual obreiro a inevitável restrição de vontade que naturalmente tem 
perante o sujeito coletivo empresarial. (2010, p. 186-187). 
 
Contudo, embora a importância do princípio da indisponibilidade das normas 
trabalhistas seja indiscutível por assegurar ao trabalhador um patamar civilizatório 
mínimo, também se observam dois alcances desta indisponibilidade. Assim, um direito 
indisponível pode ser relativo ou absoluto. Recorre-se à lição do supracitado autor para 
melhor descrição do fenômeno: 
 
A indisponibilidade inerente aos direitos oriundos da ordem justrabalhista, 
não tem, contudo, a mesma exata rigidez e extensão. Pode-se, tecnicamente, 
distinguir entre direitos imantados por indisponibilidade absoluta ao lado de 
direitos imantados por indisponibilidade relativa. 
Absoluta será a indisponibilidade, do ponto de vista do Direito Individual do 
Trabalho, quando o direito enfocado merecer uma tutela de nível de interesse 
público, por traduzir um patamar civilizatório mínimo firmado pela 
sociedade política em um dado momento histórico. É o que ocorre, como já 
apontado, ilustrativamente, com o direito à assinatura do CTPS, ao salário 
mínimo, à incidência das normas de proteção à saúde e segurança do 
31 
 
trabalho. (...) 
Relativa será a indisponibilidade, do ponto de vista do Direito Individual do 
Trabalho, quando o direito enfocado traduzir interesse individual ou bilateral 
simples, que não caracterize um padrão civilizatório geral mínimo firmado 
pela sociedade política em um dado momento histórico. É o que se passar, 
ilustrativamente, com a modalidade de salário paga ao empregado ao longo 
da relação de emprego (salário fixo versus salário variável, por exemplo): 
essa modalidade salarial pode se alterar, licitamente, desde que a alteração 
não produza prejuízo efetivo ao trabalhador. As parcelas de indisponibilidade 
relativa podem ser objeto de transação (não de renúncia, obviamente), desde 
que a transação não resulte em efetivo prejuízo do empregado. (2010, p. 
201). 
 
Do exposto, podemos perceber que ainda que a indisponibilidade do direito 
trabalhista seja relativa, sua alteração nunca pode resultar em prejuízo ao trabalhador. 
Observa-se neste ponto uma aparente contradição: o empregado titular de um 
direito trabalhista, dele não pode dispor se disso resultar em prejuízo, embora na 
conciliação ele acabe por abrir mão de parcela desse direito. 
Nota-se ainda, que na Justiça do Trabalho, a conciliação é sempre preferida, 
devendo ser tentada em diversos momentos processuais. 
Para solucionar os impasses decorrentes das concessões feitas na conciliação e 
a indisponibilidade dos direitos trabalhistas, a doutrina criou pontos de equilíbrio 
artificiais, dentre os quais se destaca o dogma da res dubia. Por este dogma, colocam-
se em incerteza os direitos das partes, permitindo que sobre essa dúvida se possa 
conciliar. Na explicação de Elaine Nassif: 
 
Ora, o direito patrimonial é traduzido no valor quantitativo que o exprime, 
ele não é um protocolo de intenções. Dizer-se que renunciar ao quantitativo 
não é a mesma coisa que renunciar ao direito é inaceitável. A certeza dobre o 
direito a receber somente é possível após a sentença. Antes da sentença tudo 
é res dubia. (2005, p. 214). 
 
Para alguns autores, portanto, a indisponibilidade de direitos é resolvida a 
partir de uma criação artificial, na qual se coloca em dúvida a titularidade dos direitos 
32 
 
trabalhistas. 
Já Mauro Shiavi usa outro raciocínio, sustentando que “o fato de existirem 
normas de ordem pública do Direito do Trabalho não significa dizer que os Direitos 
Trabalhistas são indisponíveis” (2010, p. 35). Para o autor, a indisponibilidade dos 
direitos deve perdurar enquanto se mantiver a relação de subordinação existente na 
relação de trabalho para que se mantenha o equilíbrio nas ralações. Todavia, cessado o 
vínculo de emprego e a subordinação, os direitos poderiam ser objeto de disposição. 
Em suas palavras: 
 
Pertencendo ao Direito Privado e contando com uma elevada gama de 
normas de ordem pública e, ainda, considerando-se o estado de subordinação 
a que está sujeito o empregado, os Direitos Trabalhistas, durante a vigência 
do contrato de trabalho são irrenunciáveis, como regra geral. Entretanto, uma 
vez cessados o vínculo de emprego e o consequente estado de subordinação, 
o empregado pode renunciar e transacionar direitos, máxime estando na 
presença de um órgão imparcial, como o Sindicado da Justiça e do Trabalho 
(2010, p. 35). 
 
Desta maneira, a questão de indisponibilidade dos direitos trabalhistas não é 
um obstáculo para que se busque a conciliação no âmbito da Justiça do Trabalho. Para 
tanto, há quem considere duvidosa a titularidade do direito discutido (res dubia) e 
ainda, quem considere cessada a indisponibilidade com o fim do vínculo de emprego e 
da subordinação. 
Ainda sobre o objeto da conciliação, observamos um aspecto interessante, que 
é a possibilidade de alteração da lide. Isso porque ao ajustar suas decisões, a parte 
pode recorrer a questões não postas em juízo. Sobre esta questão manifesta-se Luiz 
Rodrigues Wambier: 
 
Por outro lado, a transação permite a alteração da lide, circunstâncias em que 
as partes “cedem”, alterando a postulação feita em juízo. Pode ocorrer que, 
33 
 
em determinada causa, em que originalmente se tenha formulado pedido em 
torno de direito indisponível, se faça acordo sobre direito disponível. Por 
exemplo, pela literalidade do dispositivo, nem seria de se designar audiência 
preliminar numa causa que versasse sobre anulação de casamento. A 
jurisprudência, todavia,admite ser possível sua transformação em separação 
consensual . (2008, p. 524). 
 
Também na Justiça do Trabalho observa-se que a conciliação é a mais 
eficiente forma de solução de conflitos porque pode abarcar mais questões que as 
expostas na inicial. Neste sentido há a possibilidade de ser dada a quitação geral de um 
contrato de trabalho por meio de um acordo. Como explica Mauro Schiavi: 
 
Embora a CLT não preveja, a conciliação pode abranger prestações não 
postas em juízo, ou seja, que não fazem parte do processo, pois tanto a 
conciliação como a transação tem por finalidade primordial não só 
solucionar, mas prevenir eventuais litígios. Além disso, o escopo da 
conciliação é a pacificação. Por isso, são frequentes, na Justiça do Trabalho, 
constarem dos termos de homologação de conciliação que o empregado dá 
quitação do todos os direitos decorrentes de objeto do processo e do extinto 
contrato de trabalho, para não mais reclamar. (2010, p.37). 
 
Em relação a esta possibilidade de alteração do pedido inicial na solução 
conciliada, aspecto importante é o alcance subjetivo que a conciliação tem. Muitas 
vezes, os aspectos subjetivos não são trazidos na inicial, e as reais razões que levaram 
ao conflito não podem ser analisadas pelo juiz na hora de sentenciar. Assim, a sentença 
irá por fim ao processo, mas não irá pacificar as partes. Em consequência, as relações 
sociais não serão retomadas. 
Nota-se, portanto que a conciliação pode envolver uma gama enorme de 
situações postas em juízo, indo além da disposição sobre direitos patrimoniais de 
caráter privado. Assim, direitos indisponíveis podem ter sua indisponibilidade 
graduada de modo a se admitir acordos sobre eles, bem como é nítido o caráter 
quantitativo destes direitos e a possibilidade de admitir-se a conciliação. Inclusive, na 
34 
 
Justiça do Trabalho, para viabilizar a conciliação, são criados mecanismos para que se 
permita que direitos indisponíveis admitam acordo. 
 
2.2 NATUREZA JURÍDICA DA HOMOLOGAÇÃO DA CONCILIAÇÃO 
 
Obtida a conciliação, a mesma é homologada pelo juiz e, por determinação do 
artigo 4496 do Código de Processo Civil, tem força de sentença. 
Caso não seja cumprido o acordo, pode ensejar procedimento de execução. Tal 
é a redação do artigo 475-N, III, do Código de Processo Civil, que determina que a 
sentença homologatória de conciliação ou de transação é título executivo judicial, 
ainda que inclua matéria não posta em juízo. 
Uma vez resolvida a lide por meio de acordo entre as partes, havendo 
homologação pelo juiz, não mais se discutirão aspectos relativos ao conflito. A 
conciliação homologada, portanto, faz coisa julgada material e põe fim a fase de 
conhecimento do processo. 
Outra característica da homologação da conciliação é que a coisa julgada pode 
atingir inclusive as parcelas que não foram postas no pedido inicial. Como afirma Luiz 
Rodrigues Wambier: 
 
A característica básica da transação é a reciprocidade de concessões, sendo 
lícito às partes levar a transação elementos, em princípio, estranhos à lide. A 
lide é praticamente redefinida na transação, pois que, do contrário, de 
transação não se trataria. O juiz, havendo transação, terá a liberdade de optar, 
ao decidir, cingida a esfera mínima de verificação da existência dos 
requisitos formais – ficando, após essa etapa, vinculado. (2008, p. 553). 
 
 
6Art. 449. O termo de conciliação, assinado pelas partes e homologado pelo juiz, terá valor de 
sentença. 
35 
 
Assim, o trânsito em julgado poderá ir além do pedido e obrigar 
definitivamente tanto autor quanto réu. Uma vez descumprido o acordo, o 
procedimento de execução de sentença é cabível para ambas as partes, já que a 
conciliação prevê concessões mútuas, ou seja, ambos os lados saem, em parte, 
vencedores. 
Contudo, observa-se dinâmica diferenciada da Justiça do Trabalho em relação 
à Justiça Comum. Tal diferenciação decorre da já mencionada natureza dos direitos 
trabalhistas, que estabelecem um patamar civilizatório mínimo para o trabalhador e 
que por isso, são gravados pela indisponibilidade. 
Em razão dessa indisponibilidade, e também da fragilidade do trabalhador em 
relação ao seu empregador, o Tribunal Superior do Trabalho editou a Súmula 418 com 
o seguinte teor: 
 
SUM-418 MANDADO DE SEGURANÇA VISANDO A CONCESSÃO DE 
LIMINAR OU HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO (conversão das 
Orientações Jurisprudenciais nºs 120 e 141 da SBDI-2) – Res. 137/2005. DJ 
22, 23 E 24 E 24.08.2005 
A concessão de liminar ou homologação de acordo constituem faculdade do 
juiz, inexistindo direito líquido e certo tutelável pela via do mandado de 
segurança. (ex.-Ojs da SBDI-2 nºs 120 – DJ 11.08.2003 – e 142 DJ 
04.05.2004) . 
 
Nota-se que o Juiz do Trabalho não fica vinculado ao acordo celebrado entre 
as partes, podendo deixar de homologar a conciliação se assim o entender, desde que 
de modo motivado. 
Não há, portanto, “direito” à homologação na Justiça do Trabalho, de modo 
que o juiz pode negá-la para proteger o trabalhador. Neste caso, o juiz determinará o 
prosseguimento normal do processo. A seu turno, no processo civil, são menores as 
possibilidades de haver negação da homologação por envolver direitos disponíveis. A 
36 
 
negação da homologação precisa ser motivada, podendo ter natureza processual ou 
material. 
Assim como no processo civil, as conciliações homologadas na Justiça do 
Trabalho também são irrecorríveis. Como menciona Carlos Henrique Bezerra Leite, 
“outra peculiaridade do processo do trabalho repousa na equiparação prática do termo 
de conciliação à coisa julgada.” (2007, p. 81). 
Elaine Nassif entende que há uma grande diferença entre a atribuição de efeito 
de sentença aos acordos no Processo Civil e no Processo do Trabalho, determinada 
pela questão da desigualdade entre as partes que o celebram da Justiça Laboral e que, 
por tal razão requer proteção. Em suas palavras: 
 
Assim, uma grande diferença é que, em tese, enquanto no juízo cível a parte, 
em condição de igualdade com sua ex adversa, discute direito patrimonial 
disponível e tem o direito de contar com a assistência em um advogado, 
profissional, que poderá auxiliá-la na tomada de decisão e mesmo aconselhá-
lo a não celebrar o acordo, no juízo trabalhista, em tese, a parte em condição 
de desigualdade econômica com sua ex adversa, discute direito indisponível 
(ou relativamente indisponível) sem assistência qualificada, ou seja, um 
advogado ( 2005, 163). 
 
O tema atinente à irrecorribilidade da decisão conciliada é conteúdo do artigo 
831 da Consolidação das Leis do Trabalhado, em seu parágrafo único, que determina 
que “no caso de conciliação, o termo que for lavrado valerá como decisão irrecorrível, 
salvo para a Previdência Social quanto às condições que lhe forem devidas.7” 
Sobre as contribuições previdenciárias, como afirma Carlos Henrique Bezerra 
Leite, “constata-se que, com relação ao INSS, a decisão que homologa a conciliação 
entre os sujeitos originários da lide em comento produzirá os efeitos da coisa julgada, 
 
7Art. 831 - A decisão será proferida depois de rejeitada pelas partes a proposta de conciliação. 
Parágrafo único. No caso de conciliação, o termo que for lavrado valerá como decisão irrecorrível, 
salvo para Previdência Social quanto ás condições que lhe forem devidas. 
37 
 
se aquela autarquia, intimada para tomar ciência da decisão, deixar transcorrer in albis 
o prazo judicial que lhe for assinalado para manifestação.” (2007, p. 483). 
Em uma análise mais aprofundada sobre a natureza jurídica da homologação 
da conciliação, nota-se uma impropriedade ao falar quea homologação do acordo tem 
natureza de sentença. Assim de posiciona Elaine Nassif ao afirmar que “o legislador 
brasileiro deu ao termo de conciliação, assinado pelas partes e homologado pelo juiz, o 
valor de sentença. Certo é que a forma, o efeito e o conteúdo de ambos são 
completamente diferentes” (2005, p. 128). 
Prosseguindo a explicação, a autora aponta que na homologação da 
conciliação não são exigidos os requisitos essenciais da sentença, a saber, relatório, 
fundamento, e dispositivo, assemelhando-se, portanto, a um despacho. Também quanto 
aos efeitos, Elaine Nassif (2005, p.128) explica que a homologação faz coisa julgada 
imediatamente, enquanto a sentença pode ser atacada por recurso, para somente então 
transitar em julgado. 
Em razão destas diferenças, após a análise do Código de Processo Civil sobre 
os atos do juiz, conclui a autora que “a homologação, portanto, é (no atual e 
equivocado sistema) um ato jurídico processual com forma de despacho e o efeito de 
sentença transitada em julgado”. (2005, p. 129). 
Contudo, prevalece que no Processo Civil, a decisão que homologa a 
conciliação tem natureza de sentença transitada em julgado, inclusive sobre matérias 
não postas em juízo, mas abrangidas pelo acordo, podendo ser objeto de procedimento 
de cumprimento de sentença. Já no Direito do Trabalho, a conciliação possui natureza 
de decisão irrecorrível, embora se admita que o juiz não fique adstrito ao termo da 
38 
 
conciliação, podendo, caso entenda, não homologar a conciliação e determinar o 
procedimento normal do processo. 
 
2.3 O RITO DA CONCILIAÇÃO 
 
A conciliação vem sendo muito estimulada como alternativa à decisão 
impositiva dada pelo juiz. Vários são os momentos em que o juiz deve estimulá-la, 
como adiante se vê. 
No processo civil, determina-se que a conciliação deve ser tentada tanto no 
procedimento sumário quando no procedimento ordinário. Do mesmo modo, o 
procedimento dos Juizados Especiais também é voltado para a autocomposição. 
Nota-se, na leitura do artigo 277 8 do Código de Processa Civil, que no 
procedimento sumário, o juiz, após designar a audiência, determinará a citação das 
partes para audiência de conciliação. A doutrina, por sua vez, prefere denominar esta 
audiência de audiência preliminar, já que a conciliação não é seu único objetivo. É o 
que ensina Alexandre Freitas Câmara: 
 
8
 Art. 277. O juiz designará a audiência de conciliação a ser realizada no prazo de trinta dias, citando-
se o réu com a antecedência mínima de dez dias e sob advertência prevista no § 2º deste artigo, 
determinando o comparecimento das partes. Sendo ré a Fazenda Pública, os prazos contar-se-ão em 
dobro. 
§ 1º A conciliação será reduzida a termo e homologada por sentença, podendo o juiz ser auxiliado por 
conciliador. 
§ 2º Deixando injustificadamente o réu de comparecer à audiência, reputar-se-ão verdadeiros os fatos 
alegados na petição inicial (art. 319), salvo se o contrário resultar da prova dos autos, proferindo o 
juiz, desde logo, 
§ 3º As partes comparecerão pessoalmente à audiência, podendo fazer-se representar por preposto com 
poderes para transigir. 
§ 4º O juiz, na audiência, decidirá de plano a impugnação ao valor da causa ou a controvérsia sobre a 
natureza da demanda, determinando, se for o caso, a conversão do procedimento sumário em 
ordinário. 
§ 5º A conversão também ocorrerá quando houver necessidade de prova técnica de maior 
complexidade. 
39 
 
 
Deferida que seja a petição inicial, determinará o juiz a citação do 
demandado para comparecer a uma audiência chamada pelo CPC de 
audiência de conciliação (art. 277), embora também aqui tenha a doutrina 
preferido a termologia audiência preliminar. Isto porque tal audiência (assim 
como a prevista no art. 331 do CPD para o procedimento ordinário) tem 
múltiplas finalidades, como ela se visando alcançar não só a conciliação das 
partes, mas também (se o acordo não for obtido) a prática da maior parte dos 
autos que compões o procedimento sumário, como a apresentação de 
resposta, sendo possível, até mesmo, que nesta audiência seja proferida 
sentença. (2009, 363). 
 
A audiência de conciliação visa, portanto, a obtenção de um acordo, mas no 
caso de sua impossibilidade, outras finalidades serão atendidas. É nesta audiência que 
a parte ré, caso não tenha entrado em acordo, apresentará sua resposta. 
O supracitado artigo determina que na audiência de conciliação, a parte deve 
comparecer pessoalmente à audiência ou se fazer presente por preposto com poderes 
de transigir, de modo a permitir a conciliação. Ainda, o § 2º do artigo 277 determina 
que a ausência do réu acarreta a revelia, com a presunção relativa da veracidade dos 
fatos alegados pelo autor. 
A parte, portanto, tem três formas de afastar a revelia: comparecer sozinha na 
audiência, se fazer representar por preposto com poderes para transigir ou comparecer 
à audiência acompanhada de advogado. 
Dessas três hipóteses, há consequências. 
Mais nítida é a revelia. Em a parte não comparecendo, nem se fizer representar 
por pessoa com os poderes necessários, os fatos narrados pelo autor reputar-se-ão 
verdadeiros. Esta é a literalidade do § 2º do artigo 277, CPC. 
Já mais complexa é a situação em que a parte comparecer, mas 
desacompanhada de advogado. A questão reside no fato de que na audiência de 
conciliação do procedimento sumário, caso não seja obtida a conciliação, deve ser 
40 
 
apresentada a defesa do réu, em geral a contestação. Caso a parte compareça 
pessoalmente, sem estar acompanhada de advogado, falta-lhe a capacidade 
postulatória para apresentar sua resposta, então o réu nesta situação é revel. 
Já se a parte não comparece, fazendo-se apenas representar por seu advogado, 
as consequências não estão pacificadas pela doutrina. Há quem entenda que há revelia, 
pela determinação expressa dessa consequência no § 2º do artigo 277 no Código de 
Processo Civil. A seu turno, há quem entenda que o advogado pode apresentar a defesa 
afastando com isso a revelia, que se configura essencialmente pela ausência de 
resposta do réu. 
Recorrendo à doutrina de Alexandre de Freitas Câmara, para quem o não 
comparecimento pessoal da parte que se faz representar por advogado não leva à 
revelia extrai-se seu pensamento: 
 
A seguir, há que se verificar a consequência processual da ausência do réu, 
que não comparece nem se faz representar por preposto seu. Aqui há, a meu 
juízo, que se tomar em consideração as seguintes hipóteses: se o réu não vai 
(nem mesmo representado por prepostos com poderes para transigir), não 
comparecendo tampouco seu advogado, a consequência é a revelia. De outro 
lado, se o réu comparece (ou se faz representar por preposto), mas 
desacompanhado de advogado, será possível a tentativa de conciliação, mas 
não obtida esta, o réu ficará revel (por não poder contestar). Até este ponto 
parece haver consenso na doutrina. Fica então, uma última possibilidade: de 
o réu não comparecer pessoalmente, mas se fazer representar apenas pelo 
seu advogado (tenha ele ou não poderes para transigir). Parte da doutrina 
considera que, nesta hipótese, haverá revelia (pelo não comparecimento). 
Esta, todavia, não me parece a melhor posição. Revelia no sistema do CPC 
continua a ser “ausência de contestação”. A ausência (ainda que sem 
justificativa) do demandado, que apesar disto, se faz representar em juízo por 
advogado, não levará necessariamente à falta de contestação, a qual poderá 
ser oferecida pelo causídico. Por esta razão, não me parece se possa aqui 
falar em revelia. (2009, 364-365). 
 
Há semelhança no que tangencia a conciliação nos procedimentos sumário e 
41 
 
ordinário. Sobreeste, determina o Código de Processo Civil, em seu artigo 3319. O 
mencionado dispositivo determina que deve ocorrer o comparecimento pessoal das 
partes, mas caso ele não ocorra, não há consequências processuais. Como ensina 
Alexandre Freitas Câmara, “a esta audiência deverão, nos termos da lei, comparecer as 
partes (que podem se fazer representar por procurador – que pode ser o próprio 
advogado – ou o preposto com poderes para transigir). A ausência de qualquer das 
partes, que não vá pessoalmente nem se faça representar, implica, tão somente, tornar 
inviável a conciliação neste momento.” (2009, p. 346). 
O Código de Processo Civil chamou essa audiência, diferente do que ocorre 
no processo sumário, de audiência preliminar. A conciliação é a prioridade, mas caso 
não seja alcançada, haverá o saneamento do processo. 
A audiência preliminar no procedimento ordinário é possível nos casos em que 
estão envolvidos direitos que admitem transação, embora se admita que a mesma 
recaia sobre o quantitativo de direitos indisponíveis, conforme já estudado. A mesma 
não ocorrerá, conforme redação de § 3º do artigo 331, se a causa versar sobre direito 
que não admita transação ou se as circunstâncias da causa evidenciarem improvável a 
conciliação. Sobre esta segunda parte, há manifestações críticas da doutrina. 
Luiz Guilherme Marinoni assevera que a dispensa da audiência de conciliação 
 
9
 Art.331. Se não ocorrer qualquer das hipóteses previstas nas seções precedentes, e versar a causa 
sobre direitos que admitam transação, o juiz designará audiência preliminar, a realizar-se no prazo de 
30 (trinta) dias, para a qual serão as partes intimadas a comparecer, podendo fazer-se representar por 
procurador ou preposto, com poderes para transigir. 
§ 1º Obtida a conciliação, será reduzida a termo e homologada por sentença. 
§ 2º Se, por qualquer motivo, não for obtida a conciliação, o juiz fixará os pontos controvertidos, 
decidirá as questões processuais pendentes e determinará as provas a serem produzidas, designando 
audiência de instrução e julgamento, se necessário. 
§ 3º Se o direito em litígio não admitir transação, ou se as circunstâncias da causa evidenciarem ser 
improvável sua obtenção, o juiz poderá, desde logo, sanear o processo e ordenar a produção da prova, 
nos termos do § 2º. 
 
42 
 
não pode ser feita com base em critérios puramente subjetivos do juiz. Em suas 
palavras: 
 
(…) quando as circunstâncias da causa evidenciarem ser improvável a 
obtenção de conciliação, o juiz deverá consultar as partes sobre a intenção de 
conciliar. Ao juiz não se pode dar a possibilidade de dispensa da audiência 
preliminar com base em simples “impressão subjetiva” das “circunstâncias 
da causa”. Para que o juízo capaz de dispensar a audiência preliminar possa 
ser mais preciso, facilitando inclusive a tarefa do julgador, é necessária a 
consulta às partes a respeito da possibilidade de conciliação. (2007, p. 244). 
 
No mesmo sentido é a posição de Alexandre Freitas Câmara, para quem a 
audiência preliminar não deveria ser dispensada por permitir um diálogo entre o juiz e 
as partes, facilitando o julgamento. Explica o autor: 
 
(…) a audiência preliminar era extremamente útil mesmo nos casos em que a 
causa versa sobre direitos que não admitem transação, eis que permite um 
diálogo entre o juiz as partes e seus advogados, o que otimiza a instrução 
processual. A possibilidade de as partes e o juiz dialogarem a respeito da 
instrução probatória permite evitar a prática de atos processuais 
desnecessários para a solução da causa. (2009, 364-353). 
 
Não obtida a conciliação na audiência preliminar, haverá um segundo 
momento no procedimento ordinário em que as partes tentarão conciliar, que ocorre na 
audiência de instrução e julgamento, como determina os artigos 447 e seguintes do 
Código de Processo Civil10. 
Assim, nota-se que no procedimento ordinário, dois são os momentos em que 
a conciliação é tentada antes de haver a substituição da vontade das partes pela do Juiz. 
 
10
 Art. 447. Quando o litígio versar sobre direitos patrimoniais de caráter privado, o juiz, de ofício, 
determinará o comparecimento das partes ao início da audiência de instrução e julgamento. 
Parágrafo único - Em causas relativas à família, terá lugar igualmente a conciliação, nos casos e para 
os fins em que a lei consente a transação. 
Art. 448. Antes de iniciar a instrução, o juiz tentará conciliar as partes. Chegando a acordo, o juiz 
mandará tomá-lo por termo. 
Art. 449. O termo de conciliação, assinado pelas partes e homologado pelo juiz, terá valor de sentença. 
43 
 
Maior relevância adquire a conciliação nos procedimentos dos Juizados 
Especiais. Os Juizados Especiais, por sua própria competência, são destinados a 
atender questões que demandem menor valor da causa e menor complexidade na 
instrução probatória. São verdadeiros mecanismos de acesso à Justiça, e que para 
atender a população, adota em seu procedimento princípios próprios, como o da 
celeridade e da simplicidade. 
A Lei 9099/1995, que dispões sobre os Juizados Especiais, logo em seu artigo 
1º estabelece que os Juizados Especiais são criados para “conciliação, processo, 
julgamento e execução, nas causas de sua competência”.11 
A mesma lei determina, em seu artigo 2º, que a conciliação ou transação 
sempre devem ser buscadas nas causas submetidas à apreciação pelos Juizados 
Especiais.12 
Assim, conforme leciona Luiz Guilherme Marinoni, “a conciliação é 
notoriamente privilegiada nos Juizados Especiais, onde é estabelecida a tentativa de 
conciliação como pressuposto necessário e inarredável para passagem à fase de 
instrução e julgamento.” (2007, p. 244). 
Seguindo o procedimento, apresentado o pedido inicial, o réu é citado para 
audiência de conciliação. A regra nos Juizados Especiais é a citação do réu pelo 
correio, e excepcionalmente se admite a citação por oficial de justiça, conforme 
determinação do artigo 18 da Lei 9099/1995. O não comparecimento do réu à 
 
11
 Art. 1º. Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, órgãos da Justiça Ordinária, serão criados pela 
União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para conciliação, processo, julgamento e 
execução, nas causas de sua competência. 
12
 Art. 2º. O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia 
processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação. 
44 
 
audiência de conciliação pode levar aos efeitos da revelia.13 
Comparecendo as partes à audiência de conciliação, deverá haver por parte do 
juiz um estímulo à conciliação, conforme determinação do artigo 2114 da Lei dos 
Juizados Especiais. 
O procedimento adotado pelos Juizados Especiais é todo voltado para a 
conciliação, por ser um método mais célere e de menos custo para a solução de 
conflitos menos complexos apresentados ao Poder Judiciário. Ademais, a adoção e 
estímulo da conciliação têm como um de seus objetivos garantir o acesso à justiça por 
parte de todos os cidadãos. 
Nos procedimentos, ordinário e sumário trabalhista, a conciliação deve ser 
tentada em dois momentos distintos: por ocasião da abertura da audiência (artigo 831, 
CLT) e após o termino da instrução e apresentação de razões finais pelas partes (artigo 
850, CLT). 
Salienta-se que parte da doutrina aponta que no processo trabalhista, caso 
sejam omitidas as duas tentativas de conciliação, há nulidade do processo. Esta opinião 
é partilhada por Carlos Henrique Bezerra Leite, ao afirmar que: 
 
Embora não haja previsão legal expressa

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