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2017 Direito do Consumidor Arq. 2

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PROF. DANIEL MARTINS VAZ
Direito do Consumidor
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Código de Defesa do Consumidor
(Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990)
Campo de aplicação
Importa considerar o art. 1º do Código de Defesa do Consumidor, que dispõe:
“O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias.”
 Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
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Normas de ordem pública – normas cogentes, imperativas, pelo que indispensáveis e de observância necessária (as partes não podem alterar o conteúdo do dever nelas estabelecido e o juiz deve aplicá-las ex officio)
Normas de interesse social – normas que disciplinam um campo de relações marcadas pela desigualdade (interessam mais à sociedade que aos particulares)
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Na sequência, o Código estabelece com clareza os elementos da relação de consumo, definindo consumidor (art. 2º), fornecedor (art. 3º), produto (§ 1º) e serviço (§ 2º)
No art. 4º, o Código trata da Política Nacional de Consumo – uma disciplina jurídica única e uniforme destinada a tutelar os interesses morais e patrimoniais de todos os consumidores
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O Código objetiva criar um novo direito – para as relações de consumo, com objeto próprio e princípios próprios 
O campo de incidência do Código de Defesa do Consumidor é abrangente, difuso, permeia todas as áreas do Direito
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O Código do Consumidor é fundamentalmente um código principiológico
Não surgiu para disciplinar institutos jurídicos específicos, pois apodera-se de institutos típicos de outros ramos do direito
Destacam-se o Direito Civil e o Direito Comercial, acrescentando-lhes novo enfoque e novo alcance
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O Código estabelece regras gerais que estruturam um corpo de princípios específicos à disciplina do Direito do Consumidor
Os princípios sobrepõem-se às normas de direito geral nos casos que envolvam uma relação de consumo
Criou-se uma sobreestrutura jurídica multidisciplinar, com normas de sobredireito
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Princípios do Código de Defesa do Consumidor
O art. 4º do Código do Consumidor estipula os princípios que regem as relações de consumo e que podem ser entendidos como os Princípios do Direito do Consumidor
O Código não se limita a traçar uma política de proteção do consumidor, mas estabelece os preceitos gerais reguladores de toda a atividade estatal e privada afeta às relações de consumo.
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 Os princípios fundamentais da política nacional de relações de consumo podem ser reduzidos a sete categorias:
 a) principio protecionista ou da vulnerabilidade;
 b) princípio da intervenção estatal ou da obrigação governamental;
 c) princípio democrático ou da representação;
 d) princípio da qualidade ou da garantia de adequação;
 e) principio da boa-fé objetiva;
 f) princípio da informação e da educação;
 g) princípio da efetividade da norma ou do acesso à justiça.
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Papel dos princípios
Os princípios estão dotados de função estruturante, isto é, visam dar unidade e harmonia, estabilidade e credibilidade ao sistema jurídico, integrando suas diferentes partes
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Cláusulas Gerais e Conceitos Indeterminados
Conceitos jurídicos indeterminados - são proposições cujos termos são propositalmente indeterminados, imprecisos, de sentido vago, a serem precisados pelo intérprete
Cláusulas Gerais - são normas cujo enunciado, ao invés de traçar a hipótese e as suas consequências, desenha-se com vaga moldura, permitindo, pela abrangência de sua formulação, a incorporação de valores, princípios, diretrizes e máximas de conduta
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O Princípio da Boa-Fé
Traduz-se no interesse social da segurança das relações jurídicas onde as partes devem agir com lealdade e confiança recíprocas
Em sentido amplo, a boa fé é o conceito ético definido pela consciência de não prejudicar outrem em seus direitos
Em sentido estrito, é a mesma consciência de não lesar outrem com base no erro ou ignorância
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O princípio da boa-fé está positivado nos artigos 4º, inciso III e 51, inciso IV do Código de Defesa do Consumidor e que cria três deveres principais: 
- a lealdade; 
- a colaboração, que é basicamente o bem de informar o “candidato” a contratante sobre o conteúdo do contrato; 
- o de não abusar, ou até mesmo, de preocupar-se com a outra parte (dever de proteção)
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O Princípio da Transparência
Encontra-se positivado no art. 6°, III, do Código
Assegura-se ao consumidor a plena ciência da exata extensão das obrigações assumidas perante o fornecedor
O fornecedor deve transmitir efetivamente ao consumidor todas as informações indispensáveis à decisão de consumir ou não o produto ou serviço, de maneira clara, correta e precisa
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O Princípio da Confiança
Baseia-se na expectativa de que as outras pessoas venham a agir de um modo já esperado, ou seja, normal
Consiste na realização da conduta de uma determinada forma na confiança de que o comportamento do outro agente se dará conforme o que acontece normalmente
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O Princípio da Vulnerabilidade
Trata-se de princípio norteador do direito do consumidor, previsto no artigo 4º , I , do Código de Defesa do Consumidor , que reconhece a existência de uma parte vulnerável nas relações abrangidas por este diploma legal
Art. 4º. (...) 
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;
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Vulnerável é a parte mais fraca da relação, sendo que, reconhecidamente aqui, o consumidor é o vulnerável. 
Constatação se faz em três âmbitos distintos, quais sejam, econômico, técnico e jurídico ou científico
Notadamente, o fornecedor é quem detém com superioridade todos esses poderes e conhecimentos, se comparado ao consumidor
 A vulnerabilidade é fenômeno de direito material, diferente da hipossuficiência que se encontra no direito processual
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Art. 6º São direitos básicos do consumidor: 
(...) 
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; 
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A vulnerabilidade é um traço universal de todos os consumidores, ricos ou pobres, educados ou ignorantes, crédulos ou espertos
A hipossuficiência é marca pessoal, limitada a alguns – até mesmo a uma coletividade – mas nunca a todos os consumidores
A vulnerabilidade do consumidor justifica a existência do Código
A hipossuficiência, por seu turno, legitima alguns tratamentos diferenciados no interior do próprio Código, como, por exemplo, a previsão de inversão do ônus da prova – art. 6º, VIII
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O Princípio da Equidade
Prevista no art. 7º, in fine, a equidade é um princípio e uma técnica de hermenêutica que deve estar presente em toda a aplicação da lei. 
O Código de Defesa do Consumidor quando, no inciso IV, do art. 51, fulmina de nulidade as cláusulas contratuais que sejam incompatíveis com a equidade
A norma ao juiz a possibilidade de valoração da cláusula contratual, invalidando-a (total ou parcialmente) naquilo que for contrária à equidade e boa-fé
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Relação jurídica de consumo
Enfoques do Código de Defesa do Consumidor:
a) campo de aplicação abrangente, difuso – permeia todas as áreas do Direito onde ocorrem relações de consumo;
b) lei especial em razão dos seus destinatários – aplicável aos consumidores e fornecedores em suas relações.
O Código está direcionado para o sujeito mais fraco, não para o objeto da relação jurídica
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Elementos da relação de consumo
Classificação:
a) subjetivos (relacionados aos sujeitos da relação de consumo);
B) objetivos (relacionados
ao objeto das prestações ali surgidas).
 No primeiro grupo, temos os consumidores e os fornecedores e, no segundo grupo, os produtos e os serviços
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Consumidor
O Código de Defesa do Consumidor estabelece a definição no art. 2º, caput, nos seguintes termos:
“Consumidor é toda a pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.”
Trata-se do consumidor standard ou stricto sensu
A expressão “destinatário final” afigura-se controversa
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O que se deve entender por destinatário final?
Corrente maximalista ou objetiva
Para a caracterização de consumidor, apenas se requer a realização de um ato de consumo
A expressão “destinatário final” deve ser interpretada de forma ampla, bastando que a pessoa, física ou jurídica, seja destinatário fático do bem ou serviço
Encerra-se objetivamente a cadeia produtiva em que inseridos o fornecimento do bem ou a prestação do serviço
Ausência de intermediação ou de revenda
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Corrente finalista ou subjetivista
Entende como imprescindível que a destinação final seja econômica – satisfação de uma necessidade econômica do adquirente
Não se admite quando se vise incrementar uma atividade profissional lucrativa
Consumidor é o que põe fim ao processo econômico
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Abrandamento da corrente finalista ou subjetivista
Admite-se, excepcionalmente, desde que demonstrada in concreto a vulnerabilidade técnica, jurídica e econômica, a aplicação das normas do Código de Defesa do Consumidor
Aplicação a determinados consumidores profissionais, como pequenas empresas e profissionais liberais
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Posição do Superior Tribunal de Justiça
Teoria maximalista:
1 - REsp 208.793/MT, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, Terceira Turma, unânime, DJ 01/08/2000, o qual considerou existir relação de consumo entre Fertiza Companhia Nacional de Fertilizantes e Edis Fachin, por ser o agricultor destinatário final do adubo que adquiriu e utilizou em sua lavoura: “A meu sentir, esse cenário mostra que o agricultor comprou o produto na qualidade de destinatário final, ou seja, para utilizá-lo no preparo de sua terra, não sendo esse adubo objeto de nenhuma transformação”.
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2 - REsp 488.274/MG, Rel. Min. Nancy Adrighi, Terceira Turma, unânime, DJ 23/06/2003, O QUAL CONSIDEROU EXISTIR RELAÇÃO DE CONSUMO ENTRE PASTIFÍCIO SANTA AMÁLIA LTDA. E BAAN BRASIL SISTEMAS DE INFORMÁTICA LTDA., POIS AQUELA ADQUIRIU, COMO DESTINATÁRIA FINAL, PROGRAMAS DE COMPUTADOR DISTRIBUÍDOS POR ESTA, COM O INTUITO DE MELHOR GERENCIAR O SEU ESTOQUE DE PRODUTOS: “Extrai-se dos autos que a recorrente é qualificada como destinatária final, já que se dedica à produção de alimento e que se utiliza dos serviços de software, manutenção e suporte oferecidos pela recorrida, apenas para controle interno de produção. Deve-se, portanto, distinguir os produtos adquiridos pela empresa que são meros bens de utilização interna da empresa daqueles que são, de fato, repassados aos consumidores.”
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Corrente subjetivista
 – REsp 541.867/BA, na 2ª seção do STJ, Rel. Barros Monteiro – “não há falar em relação de consumo quando a aquisição de bens ou utilização de serviços, por pessoa natural ou jurídica, tem como escopo incrementar a sua atividade comercial.”
Tratava-se de uma farmácia filiada ao sistema de cartões de crédito. Em razão de equívoco por parte da administradora do cartão – com numeração errada – os valores que deveriam ser repassados à filiada foram repassados a terceira pessoa
Decisão:
Não há relação de consumo
“Competência. Relação de consumo. Utilização de equipamentos e de serviços de crédito prestado por empresa administradora de cartão de crédito. Destinação final inexistente.
- A aquisição de bens ou a utilização de serviços, por pessoa natural ou jurídica, com o escopo de implementar ou incrementar a sua atividade negocial, não se reputa relação de consumo e, sim, como uma atividade de consumo intermediária.
Recurso especial conhecido e provido para reconhecer a incompetência absoluta da Vara Especializada de Defesa do Consumidor, para decretar a nulidade dos atos praticados e, por conseguinte, para determinar a remessa do feito a uma das Varas Cíveis da Comarca.”
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Corrente finalista mitigada
Emblemático o seguinte Aresto:
“ Responsabilidade civil. Concessionária de telefonia. Serviço público. Interrupção. Incêndio não criminoso. Danos materiais. Empresa provedora de acesso à Internet. Consumidora intermediária. Inexistência de relação de consumo. Responsabilidade objetiva configurada. Caso fortuito. Excludente não caracterizada. Escopo de pacificação social do progresso. Recurso não conhecido.
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No que tange à definição de consumidor, a Segunda Seção desta Corte, ao julgar, aos 10.11.2004, o REsp 541.867/BA, perfilhou-se à orientação finalista ou subjetiva, todavia, certo abrandamento na interpretação finalista, na medida em que se admite, excepcionalmente, a aplicação das normas do CDC a determinados consumidores profissionais, desde que demonstrada, in concreto, a vulnerabilidade técnica, jurídica ou socioeconômica.
A recorrida, pessoa jurídica com fins lucrativos, caracteriza-se como consumidora com o intuito único de viabilizar sua própria atividade produtiva, consistente no fornecimento de acesso à rede mundial de computadores (internet) e de consultorias e assessoramento na construção de homepages, em virtude do que se afasta a existência de relação de consumo. Ademais, a eventual hipossuficiência da empresa em momento algum foi considerada pelas instâncias ordinárias, não sendo lídimo cogitar-se a respeito nesta seara recursal, sob pena de indevida supressão de instância.” (REsp 660.026/RJ, 4ª Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzinni).
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Características marcantes do consumidor:
Posição de destinatário fático e econômico;
Aquisição de um produto ou a utilização de um serviço para a satisfação de necessidades próprias, familiares, ou dos que se subordinam por vinculação doméstica ou protetiva a ele;
Não profissionalidade;
Vulnerabilidade em sentido amplo.
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Por força do Código, afiguram-se consumidores, não apenas as pessoas jurídicas de direito privado, mas igualmente as de direito público interno ou externo
O fornecedor responde pelos produtos e serviços alienados à União, Estados-membros, Municípios, Distrito Federal, autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista
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Consumidor por equiparação
A coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo (art. 2º, parágrafo único – terceiros-intervenientes);
Todas as vítimas do fato do produto ou do serviço (art. 17 – terceiros-vítimas);
Todas as pessoas, determináveis ou não, expostas às práticas comerciais e à disciplina contratual (art. 29 – terceiros-expostos).
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Fornecedor
Fornecedor, segundo o art. 3º do Código de Defesa do Consumidor, é “toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”.
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Visou-se atribuir ao conceito de fornecedor a maior amplitude possível, com o intuito de fixar a responsabilidade solidária, nas relações de consumo, de todos os corresponsáveis por eventuais vícios ou defeitos dos produtos e serviços
Apresentam-se como fornecedores as entidades pertencentes a qualquer setor de atividade, sejam hotéis, hospitais, corretoras de imóveis, empreiteiras de mão-de-obra do setor de construção imobiliária, empresas de transportes, oficinas mecânicas ou elétricas, depósitos, seguradoras, financeiras, administradoras de consórcio, cooperativas de crédito, assim como o são os pedreiros, pintores, jardineiros, etc.
Qualquer pessoa física ou jurídica que forneça produto ou serviço a outrem
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De acordo com o art. 3º do Código,
desde que a relação tenha conotação mercantil, será tida como relação de consumo, seja o fornecedor pessoa física ou jurídica
 Entre as pessoas jurídicas incluem-se as de direito privado — inclusive as religiosas, científicas e de utilidade pública — e as de Direito Público interno da administração direta (União, Estados, Municípios e Distrito Federal) e indireta (autarquias e fundações públicas)
O art. 3° do Código classifica ainda como fornecedor o ente despersonalizado, tal como a massa falida, o espólio, o condomínio e a família
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Produtos e Serviços
Produto, segundo dispõe o artigo 3º, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor, é “qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial”.
Engloba praticamente todos os bens comercializáveis, tanto móveis quanto imóveis
Não deixa dúvida quanto à aplicabilidade do Código aos negócios mobiliários e o art. 53 declara nulas de pleno direito as cláusulas do contrato de compra e venda de imóveis que estabeleçam a perda total das prestações pagas em caso de inadimplemento
Os bens imateriais consistem nos direitos autorais sobre obras intelectuais, direitos hereditários, usufruto e outros bens incorpóreos
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Serviço, nos termos do § 2º do artigo 3º, afigura-se conceituado como:
“qualquer atividade fornecida no mercado de consumo mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”.

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