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O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO E O REDIMENSIONAMENTO DO PAPEL CONSTITUCIONAMENTE ASSOCIADO AOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA E AOS TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS

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O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO E O REDIMENSIONAMENTO DO PAPEL CONSTITUCIONAMENTE ASSOCIADO AOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA E AOS TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS
Revista de Processo: RePro, São Paulo, v. 40, n. 248, p. 273-285, out. 2015. 
Revista dos Tribunais
Luis Alberto Reichelt
Doutor e Mestre em Direito pela UFRGS. Professor nos cursos de graduação, especialização e mestrado em Direito do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), em Porto Alegre e em Canoas (RS). Procurador da Fazenda Nacional em Porto Alegre (RS). lreichelt@uniritter.edu.br
Área do Direito: 
Constitucional; Processual
Resumo: 
O presente ensaio investiga a alteração do perfil constitucional projetado em relação aos Tribunais de Justiça e aos Tribunais Regionais Federais brasileiros por força da introdução do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, estabelecido nos termos do novo Código de Processo Civil, em uma realidade permeada pelo respeito ao direito ao processo justo.
Palavras-chave: 
Processo civil - Jurisdição - Demandas repetitivas - Processo justo.
Abstract: 
The present essay analyses the change of the constitutional profile associated to brazilian Courts of Law and Federal Regional Courts due to the advent of a repetitive claims solution incident, established in the new Brazilian Civil Procedural Rules, in a context influenced by the right to a fair trial.
Keywords: 
Civil procedure - Jurisdiction - Repetitive claims - Fair trial.
Sumário:
- 1. Introdução - 2. Em busca de um possível perfil constitucional originalmente traçado para a atividade jurisdicional desenvolvida pelos Tribunais de Justiça e dos Tribunais Regionais Federais - 3. O incidente de Resolução de Demandas Repetitivas no novo Código de Processo Civil brasileiro - 4. O perfil estabelecido pelo novo Código de Processo Civil para a atuação dos Tribunais de Justiça e aos Tribunais Regionais Federais - 5. A título de conclusão - 6. Bibliografia
 
Recebido em: 30.06.2015
Aprovado em: 18.09.2015
 
1. Introdução
Fruto de intenso debate, o novo Código de Processo Civil brasileiro surge como uma ferramenta forjada em função de uma série de objetivos anunciados abertamente pelos responsáveis pela sua elaboração, dentre os quais o de “estabelecer expressa e implicitamente verdadeira sintonia fina com a Constituição Federal”,1 sendo a primeira codificação processual brasileira elaborada após o estabelecimento da nova ordem inaugurada em 1988.2
Esta pretensão de alinhamento entre a lei processual civil e o texto constitucional é fenômeno que pode assumir inúmeras conformações possíveis. O presente ensaio busca investigar de que forma se dá o arranjo no caso da introdução de um novo instituto pelo Código de Processo Civil (Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas), pensando nas consequências produzidas em relação à formatação anteriormente existente em matéria constitucional no que se refere à competência jurisdicional dos Tribunais de Justiça e dos Tribunais Regionais Federais.
 
2. Em busca de um possível perfil constitucional originalmente traçado para a atividade jurisdicional desenvolvida pelos Tribunais de Justiça e dos Tribunais Regionais Federais
Dá-se o nome de competência jurisdicional à atribuição de poder do Estado, através do ordenamento jurídico, a órgãos do Estado, a fim de que esses, na condição de terceiros imparciais, venham a exercer a jurisdição. A competência, sob esta ótica, é pressuposto para o exercício da jurisdição, entendida como uma das diversas atividades de exercício de poder do Estado, diferenciando-se em relação às demais pelo fato de ser exercida por um terceiro imparcial.3
Este conjunto de definições, rico em detalhes, dá azo ao surgimento de inúmeras reflexões. Uma primeira perspectiva a ser considerada é a que envolve o fio condutor a agrupar os diversos órgãos listados no art. 93 da CF (LGL\1988\3). O quadro de componentes do Poder Judiciário, como qualquer sistema que se preze, possui como referencial de unidade o fato de lhes ser comum uma mesma atividade-fim a ser desenvolvida, qual seja a jurisdição.4 É sob esta ótica que se justifica o trabalho desenvolvido no texto constitucional, linhas adiante, ao apresentar todo um quadro de repartição de competências entre os diversos órgãos, reconhecendo-se que cada órgão exerce uma tarefa específica, mas que todas elas podem ser agrupadas como espécies de um mesmo gênero.
Este ponto de partida serve como justificativa segura para que possa refletir, ainda, sobre as diversas formas pelas quais se dá a inserção da atividade jurisdicional na dialética processual. É neste sentido que se justifica falar, por exemplo, em um processo (ou atividade processual) de conhecimento, forma pela qual se designa o debate travado entre autor, juiz e réu com vistas à determinação quanto à norma jurídica a ser respeitada em relação a um determinado caso.5 Da mesma forma, fala-se em processo (ou atividade processual) de execução para fazer menção ao debate entre tais sujeitos voltado à adoção de medidas práticas, situadas no plano dos fatos, tendentes a garantir o adimplemento efetivo de prestações obrigacionais.6 Em ambos os casos, tem-se solicitações feitas pelas partes com vistas à atuação dos órgãos jurisdicionais (isto é, atividade jurisdicional), ainda que com diferentes escopos, dos quais se espera o exercício do poder do Estado que lhes foi atribuído pelo ordenamento jurídico.
Em todas estas manifestações de atividade jurisdicional, é possível observar a existência de uma série de exigências ou requisitos a serem observados com vistas ao regular exercício do poder do Estado. Neste sentido, um direito humano e fundamental que se destaca na tutela daqueles que sofrerão os efeitos decorrentes das decisões judiciais proferidas é, sem dúvida, o direito ao juiz natural. Garante-se às partes, desta forma, o direito a não serem privadas dos seus bens ou de sua liberdade senão no caso de a decisão que assim o diga haver sido proferida por órgão competente (CF (LGL\1988\3), art. 5.º, LIII), bem como o direito a não serem submetidas a tribunal de exceção (CF (LGL\1988\3), art. 5.º, XXXVII).7 Trata-se, em ambos os casos, de faces integrantes do direito ao processo justo.8
As premissas acima assentadas servem como esteio para que se possa analisar, ainda, a atividade processual recursal, que compreende o debate estabelecido entre as partes e o juiz em função do pleito de reforma, anulação, integração ou esclarecimento de decisão anteriormente proferida em um determinado proceso.9 A este respeito, vale observar que a Constituição Federal brasileira faz referência à competência de tribunais para “julgar, em grau de recurso, (…)” determinadas questões anteriormente decididas por outros julgadores, em fórmula que se contrapõe à utilizada para referir à chamada competência originária, que compreende os atos de “processar e julgar, originariamente (…)” certas causas definidas em função da matéria discutida ou das pessoas que figurem como parte no debate processual.
Um exemplo que bem ilustra o fenômeno da competência recursal pode ser visto na exegese do constante do art. 108, II, da CF (LGL\1988\3), o qual estabelece ser da competência dos Tribunais Regionais Federais a tarefa de julgar recursos interpostos em face das decisões proferidas pelos Juízes Federais. São inerentes à definição da competência recursal dos órgãos componentes do Tribunal Regional Federal, (a) a existência de uma decisão inicialmente proferida por um Juiz Federal, bem como (b) a presença de um pleito formulado pela parte ao Tribunal (ou ao órgão que dele faz parte) com o escopo de obter a reforma, anulação, complementação ou esclarecimento de decisão anteriormente proferida. O desrespeito à regra de competência jurisdicional recursal acima referida acarreta a negativa de seguimento ao recurso interposto.
Da leitura do art. 108 do Texto Constitucional, marco essencial no que se refere à competência dos Tribunais Regionais Federais,observa-se a preocupação em definir as diversas formas através das quais tais órgãos exercem a atividade jurisdicional (competência originária e competência recursal), mas também a preocupação em projetar quais as causas em relação às quais tais Cortes terão a tarefa de proferir decisões. No que tange a esta segunda dimensão, observa-se claramente a adoção de dois critérios, quais sejam a presença de certos entes ocupando a posição de parte (competência ratione personae) e a inclusão de certas matérias como objeto do processo (competência ratione materiae). Da mesma forma, impõe-se lembrar, na forma do já reconhecido pelo STF, que a existência de previsão constitucional em relação à competência jurisdicional recursal do Tribunal Regional Federal não inibe a possibilidade de o legislador adotar critério diverso para definir quem será o responsável pelo julgamento de recursos interpostos em face de decisões proferidas por Juízes Federais.10
Vale alertar, ainda, que a Constituição Federal lança mão de técnicas distintas quando se observa de que forma se dá a combinação entre os diversos critérios de competência acima listados. Ao dispor sobre a competência jurisdicional originária dos Tribunais Regionais Federais, o texto é expresso no que se refere aos limites a serem respeitados em relação à competência em razão da matéria objeto do debate processual e das pessoas que nele figuram como parte. Diferentemente, ao estabelecer a competência jurisdicional recursal, a fórmula utilizada é a da remissão ao âmbito de competência dos Juízes Federais em relação a tais aspectos (art. 109), fórmula justificada em função de serem eles os responsáveis pela prolação das decisões em primeira instância.
No que diz respeito aos Tribunais de Justiça, a fórmula aberta empregada pelo art. 125 da CF (LGL\1988\3) traz consigo uma plêiade de reflexos importantes. Em primeiro lugar, cumpre registar que nada é dito pela Constituição Federal no que se refere à competência funcional jurisdicional dos Tribunais de Justiça, de modo que inexistente qualquer demarcação no que se refere à sua atuação como órgão responsável pelo julgamento em primeira instância, assim como no que tange à atividade jurisdicional em sede recursal. É possível inferir, contudo, de leitura sistemática, que a regulamentação a ser implementada com vistas à definição de tais atividades tenderá a contemplar a existência de competência originária para o julgamento de certas demandas (“única instância”, como referido, por exemplo, nos arts. 102, II, a, e 105, II, b), podendo contemplar também o exercício de função jurisdicional em sede recursal (“última instância”, como aponta o art. 105, II, a e III, de maneira textual, e o art. 102, III, de maneira implícita). Da mesma forma, é lícito concluir no sentido de que os Tribunais de Justiça coexistirão com outros órgãos (“Juízes”, na forma do art. 92, VII) na composição do todo que forma a Justiça Estadual mencionada no art. 125.
No que se refere à matéria, a competência jurisdicional dos Tribunais de Justiça é considerada, como regra geral, residual, sendo-lhe permitido atuar no julgamento de causas que não estejam elencadas expressamente como sendo de competência dos demais órgãos do Poder Judiciário. Exceções como as constantes dos arts. 125, §§ 2.º e 5.º, e 126 da CF (LGL\1988\3) apenas servem como indicativo confirmador da regra geral inicialmente assentada. A mesma lógica vale, outrossim, em se considerando a competência em razão das pessoas que figuram como parte, de modo que a inexistência de regra específica faz com que seja atribuída aos órgãos da Justiça Estadual a responsabilidade pelo exercício da atividade jurisdicional.
 
3. O incidente de Resolução de Demandas Repetitivas no novo Código de Processo Civil brasileiro
Com o advento do novo Código de Processo Civil brasileiro, deu-se a introdução de um novo instituto inserido no âmbito da competência dos tribunais, qual seja o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. De acordo com o art. 976 da referida codificação, é admissível a instauração do referido incidente na medida em que presente efetiva repetição de demandas envolvendo controvérsia sobre a mesma questão de direito e, ao mesmo tempo, existente risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.
A introdução do instituto em comento traz consigo o acréscimo de uma nova competência associada aos Tribunais de Justiça e aos Tribunais Regionais Federais. É o que se infere da leitura do art. 977 da novel lei, que determina que o pleito de instauração do incidente deve ser dirigido ao presidente de tais tribunais, e vem reforçado pelo art. 978 subsequente, segundo o qual o julgamento do incidente caberá ao órgão indicado pelo regimento interno dentre aqueles responsáveis pela uniformização de jurisprudência do respectivo tribunal.
O novo instituto em questão veio projetado a partir do olhar para experiências vivenciadas no direito comparado, o que evidencia que o desafio a ser vencido pelo legislador de forma alguma pode ser visto como exclusividade da realidade brasileira, mas, antes, é um problema presente na cultura contemporânea de maneira universal. O Musterverfahren alemão, em especial, serviu como parâmetro para a construção da proposta brasileira para o enfrentamento de demandas de massa.11
O referido incidente é pensado como uma ferramenta com pretensão de ofertar solução eficiente para demandas que apresentem conteúdo padronizado, impedindo que a existência de um sem-número de provocações endereçadas ao Poder Judiciário a respeito de uma determinada questão jurídica redunde na oferta de soluções discrepantes por diversos julgadores responsáveis pelo enfrentamento de casos considerados análogos. Parte desta perspectiva a orientação do legislador ao prever, no art. 982 do CPC/2015 (LGL\2015\1656), que uma vez admitido o incidente de resolução de demandas repetitivas, o relator suspenderá os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitam no Estado ou na região em que se dá a atuação do tribunal responsável pelo julgamento. A lógica, em tal caso, é a de impedir que os diversos juízes que se deparem com tais causas análogas acabem por proferir decisões com conteúdos distintos no que se refere ao entendimento jurídico a ser respeitado, rompendo com as exigências de segurança jurídica e de oferta de tratamento isonômico aos jurisdicionados. Tem-se, aqui, um dos instrumentos forjados em função dos compromissos impostos aos tribunais pelo art. 926 do CPC/2015 (LGL\2015\1656) no que tange aos deveres de uniformização da jurisprudência e de manutenção de sua estabilidade, integridade e coerência.
O mesmo espírito norteia, outrossim, o constante do art. 985 do CPC/2015 (LGL\2015\1656), segundo o qual a orientação estabelecida no julgamento do incidente de resolução de demandas repetitivas será aplicada a todos os debates judiciais pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre idêntica questão de direito e que tramitem na área de competência territorial do Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal prolator da decisão citada. Ainda, segundo o mesmo comando legal, o referido entendimento fixado pelo tribunal será aplicável também àqueles processos que tramitem nos juizados especiais do respectivo Estado ou região, bem como aos casos futuros que versem idêntica questão de direito que venham a tramitar no território de competência do tribunal. Em todos estes casos, tem-se manifestações que confirmam a obrigatoriedade imposta aos juízes e tribunais no que se refere ao respeito ao estabelecido nos acórdãos em incidente de resolução de demandas repetitivas, prevista no art. 927, III, do CPC/2015 (LGL\2015\1656).
 
4. O perfil estabelecido pelo novo Código de Processo Civil para a atuação dos Tribunais de Justiça e aos Tribunais Regionais Federais
A atribuição de competência aos Tribunais de Justiça e aos Tribunais Regionais Federais com vistas ao processamento e julgamento do incidente de resolução de demandas repetitivas traz consigo sérias implicações do pontode vista do redesenho do quadro institucional projetado originalmente pela Constituição. Acresce-se nova tarefa àquelas já associadas pelo texto constitucional àqueles órgãos colegiados, a qual não se confunde com as espécies já anteriormente previstas no ordenamento jurídico.
O contraste entre o perfil constitucional associado aos Tribunais de Justiça e aos Tribunais Regionais Federais e a formatação imposta pelo legislador responsável pelo novo Código de Processo Civil brasileiro abre as portas para múltiplas possibilidades a serem consideradas. Uma hipótese a ser investigada, neste sentido, é a da possibilidade de modificação do perfil originalmente previsto no texto constitucional por força de alteração do seu significado, com a ocorrência de verdadeira mutação constitucional.12 Tal possibilidade, contudo, pressupõe a análise de diversos fatores envolvidos na composição do marco constitucional.
A primeira questão a ser pontuada diz respeito ao fato de o legislador atribuir competência para enfrentamento de questão não tratada de maneira expressa pelo texto constitucional. Estivesse o legislador infraconstitucional simplesmente dispondo sobre o âmbito de competência residual ratione personae ou ratione materiae, problema algum haveria. Contudo, o que se vê é a definição de um novo âmbito de competência funcional originária associado aos Tribunais Regionais Federais e aos Tribunais de Justiça.
Esta questão ganha cores especiais em se considerando um outro aspecto igualmente relevante, qual seja o fato de que o novel instituto vem associado a uma função nomofilácica13 a ser exercida pelos Tribunais Regionais Federais e os Tribunais de Justiça. Tem-se, no ponto, uma verdadeira inovação em múltiplas perspectivas. O legislador fez com que tais órgãos assumissem uma tarefa que antes era atribuída, primordialmente, no âmbito cível, ao STJ e ao STF, a qual era exercida através dos pronunciamentos veiculados no julgamento de recursos especiais e de recursos extraordinários. Nos seus respectivos âmbitos de competência territorial, os tribunais locais passarão a exercer o papel de responsáveis pela guarda do significado da linguagem empregada na construção e aplicação de normas jurídicas, exercendo tal mister mediante o emprego de uma nova ferramenta processual.
Ainda sobre tal ponto, de se frisar que o legislador infraconstitucional não tratou de simplesmente deslocar o exercício da função nomofilácica de um órgão do Poder Judiciário para outro. Ao contrário, a construção projetada em lei é significativamente mais complexa e sofisticada. Para além da coexistência de múltiplas ferramentas destinadas ao mesmo escopo (recurso especial, recurso extraordinário, incidente de resolução de demandas repetitivas, incidente de assunção de competência etc.), agregou o legislador um outro traço fundamental a ser considerado para fins de dimensionamento do poder que agora vem a ser atribuído aos tribunais locais. Trata-se do caráter vinculante associado às decisões proferidas mediante o emprego de tais mecanismos processuais, decorrente do constante do art. 927, III do CPC/2015 (LGL\2015\1656), até então existente apenas em relação a determinadas decisões proferidas em sede de controle de constitucionalidade.
A profundidade da modificação proposta pode ser vista, outrossim, na conjugação do acima disposto com o constante do art. 489, § 1.º, VI, da mesma codificação processual. A determinação no sentido de não ser considerada fundamentada a decisão judicial que deixe de seguir orientação firmada em precedente traz reflexos, em última instância, no que se refere à ressignificação do dever fundamental de motivação das decisões judiciais, previsto no art. 93, IX, da CF (LGL\1988\3). Sem prejuízo de outras hipóteses que possam ser verificadas pelo intérprete no debate processual, o legislador, de antemão, indica o desrespeito a precedentes estabelecidos no referido incidente como uma das possíveis causas de nulidade da decisão judicial por falta de fundamentação, tratando tal caso como tipo legal ensejador de invalidade processual.
Avançando neste debate, nota-se, ainda, que o novo Código de Processo Civil, visto de maneira sistemática, acabou por atribuir aos Tribunais Regionais Federais e aos Tribunais de Justiça muito mais do que a simples tarefa de proferir decisões que sinalizem quanto ao significado a ser associado à linguagem do legislador. Foi dado a tais tribunais o poder de criar parâmetros a serem considerados no controle da validade de decisões judiciais proferidas pelos órgãos jurisdicionais que atuam no mesmo âmbito territorial. O controle de validade de atos processuais deixa de ser exercido apenas com base em parâmetros estabelecidos em lei, e passa a ser desenvolvido levando em conta referenciais oriundos da atividade destes tribunais.14
Como se vê, os Tribunais Regionais Federais e os Tribunais de Justiça eram projetados pela Constituição Federal como órgãos aos quais vinha associada a tarefa de exercer jurisdição, seja em âmbito originário, seja na função de instância recursal. Com o advento do novo Código de Processo Civil, o legislador tratou de redesenhar a função destes órgãos, que agora agregam outra tarefa àquelas de que eram anteriormente detentores, qual seja o papel de definir critérios a serem respeitados com vistas ao regular exercício da jurisdição em determinado âmbito territorial.
Esta compreensão é relevante para que se possa, ainda, afastar a simplória tentativa de explicação da nova realidade projetada pelo legislador como uma manifestação de pretensa hierarquia entre os órgãos jurisdicionais. A independência necessária ao exercício das diversas funções é compatível com a existência de limites a serem observados com vistas à afirmação da racionalidade dos comandos judiciais.15 A obediência a precedentes judiciais não necessariamente precisa ser fundada em relações de subordinação entre dois órgãos colocados em correlação, mas, antes, pode ser justificada na existência de especialização de um órgão no que se refere ao exercício de determinada tarefa. A expectativa de maior qualificação no resultado desenvolvido por quem exerce um trabalho especializado, traço esperado em se tratando de órgãos aos quais vem atribuída a tarefa específica de produção de precedentes judiciais, faz com que o respeito a tais decisões pelos demais julgadores seja motivado pelo desejo de oferta de solução igualmente mais qualificada em favor dos jurisdicionados.16
 
5. A título de conclusão
A introdução de uma nova forma de enfrentamento das demandas de massa trazidas a conhecimento do Poder Judiciário, em especial no que se refere à dimensão dos chamados direitos individuais homogêneos, necessariamente impõe um redesenho do projeto constitucional originalmente proposto em relação ao quadro de organização judiciária do Estado brasileiro. A revisão em relação ao significado do texto constitucional permite a adequação do texto constitucional “às novas exigências, necessidades e transformações resultantes dos processos sociais, econômicos e políticos que caracterizam a sociedade contemporânea”.17
Os reflexos decorrentes desta nova repartição de tarefas certamente são maiores do que o simples deslocamento de competências de um órgão para o outro. Prova disso pode ser sentida na medida em que se observa o que se passa quando da tentativa de utilização de ferramentas processuais já conhecidas como meio para ordenar um debate que envolve o exercício de atividade substancialmente distinta daquela que se conhece como sendo a da jurisdição no sentido mais tradicional. A existência de proposta doutrinária no sentido de considerar que a ampla defesa e o contraditório seriam ofertados de maneira distinta no contexto do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas18 é sintomática a este respeito. Os tortuosos caminhos enfrentados pelo Poder Judiciário no trato do princípio da imparcialidade do juiz em hipóteses envolvendo demandas repetitivas (ainda que antes do advento do instituto em questão)19 são, também,sinais de que se está diante da necessidade de soluções diversas em relação àquelas tradicionalmente conhecidas.
Repensar o papel dos Tribunais de Justiça e dos Tribunais Regionais Federais como forma de propor um novo enfrentamento para os problemas contemporâneos pode ser uma solução adequada desde que isso ocorra de maneira consciente, sem trazer prejuízo no que se refere às conquistas sedimentadas na experiência histórica que transparece no texto constitucional. A alteração legislativa é compatível com a linguagem empregada na Constituição, mas inegavelmente altera o seu significado – e é esse o ponto de partida a ser considerado por aqueles que, no futuro, afirmarão que a mudança trouxe os desejados avanços, acarretou indesejável retrocesso ou, ainda, acabou por se revelar estéril.
 
6. Bibliografia
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WATANABE, Kazuo. Da cognição no processo civil. 2. ed. atual. São Paulo: Central de Publicações Jurídicas/Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciais, 1999.
1. 
A expressão consta da exposição de motivos do PLS 166/2010, do qual se originou o novo Código de Processo Civil.
2. 
O lembrete consta expressamente do parecer apresentado pelo Deputado Vital do Rego, relator do Substitutivo da Câmara dos Deputados ao PLS 166/2010: “hoje, estamos trabalhando no parto do primeiro Código de Processo Civil nascido em um regime efetivamente democrático, colorido pela Constituição Cidadã, fruto da participação vasta de todos os setores da sociedade civil”.
3. 
Como lembra Athos Gusmão Carneiro, “todos os juízes exercem jurisdição, mas a exercem numa certa medida, obedientes a limites preestabelecidos. São, pois, ‘competentes’ somente para processar e julgar determinadas causas. A ‘competência’, pois, é a ‘medida da jurisdição’, ou, ainda, é a jurisdição na medida em que pode e deve ser exercida pelo juiz” (CARNEIRO, Athos Gusmão. Jurisdição e competência. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 97).
4. 
Sobre a importância do referencial de unidade como fator relevante do conceito de sistema, radicada na própria ideia de Direito, ver CANNARIS, Claus-Wilhelm. Pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do Direito. Traduzido para o português por Antonio Menezes Cordeiro. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1996. p. 19-21.
5. 
Segundo WATANABE, Kazuo. Da cognição no processo civil. 2. ed. atual. São Paulo: Central de Publicações Jurídicas/Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciais, 1999. p. 58-59, “a cognição é prevalentemente um ato de inteligência, consistente em considerar, analisar e valorar as alegações e as provas produzidas pelas partes, vale dizer, as questões de fato e as de direito que são deduzidas no processo e cujo resultado é o alicerce, o fundamento do judicium, do julgamento do objeto litigioso do processo”.
6. 
Segue-se trilha análoga à de Ovídio Araújo Baptista da Silva, quando faz a seguinte observação: “se observarmos o que acontece no ‘processo de execução’ regulado por nosso Código de Processo Civil – relativo às execuções obrigacionais –, veremos que o processo executivo, em qualquer de suas modalidades, tem por fim a realização de um ato material de transformação do mundo dos fatos, através do qual se opera, por intermédio do juiz, uma transferência de valor do patrimônio do devedor executado para o patrimônio do credor exequente” (SILVA, Ovídio A. Baptista da; GOMES, Fábio Luiz. Teoria geral do processo civil. 6. ed. rev. e atual. por Jaqueline Mielke Silva e Luiz Fernando Baptista da Silva. São Paulo: Ed. RT, 2011, p. 303).
7. 
Diversas são as correntes doutrinárias que propõem o estudo do conteúdo do princípio do juiz natural, sem, contudo, que se alcance consenso a este respeito. A título de exemplo, vale lembrar que há autores que acrescentam ao conteúdo do direito ao juiz natural a exigência de imparcialidade do juiz, como, v.g., NERY JR., Nelson. Princípios do processo na Constituição. 10. ed. São Paulo: Ed. RT, 2010. p. 130, afirmando ser uma garantia “tridimensional”, e CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; e DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 58. Entendimento diverso pode ser visto na orientação de quem defende que “o direito fundamental ao juiz natural envolve, no mínimo, dois aspectos relevantes: (a) a independência e a imparcialidade jurisdicional e (b) a predeterminação de critérios específicos para fixação da competência jurisdicional”, concluindo no sentido de que “juiz natural é o juiz imparcial, independente e competente” (ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto; E MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. vol. 1, p. 31). A visão ora defendida é semelhante àquela apresentada por MARINONI, Luiz Guilherme; e ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil. vol. 2. Processo de Conhecimento. 9. ed. São Paulo: Ed. RT, 2011. p. 46.
8. 
Sobre o ponto, ver PÉREZ, David Vallespín. El Modelo Constitucional de Juicio Justo en el Ámbito del Proceso Civil. Barcelona: Atelier, 2002. p. 70 e ss., bem como COMOGLIO, Luigi Paolo. Le Garanzie Fondamentali del Giusto Processo. Etica e Tecnica del Giusto Processo. Turim: G. Giappichelli Editore, 2004. p. 75-76, diferenciando o direito ao juiz natural, dotadode um “contenuto più articolato”, em relação à exigência de preconstituição do juiz.
9. 
A reflexão segue a trilha do conceito de recurso conforme apresentado por BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010. vol. V, p. 233.
10. 
STF, AgRg em AgIn 151.641-1, 1.ª T., j. 27.06.1997, rel. Min. José Carlos Moreira Alves.
11. 
Conforme referido na exposição de motivos do novo Código de Processo Civil, “com os mesmos objetivos, criou-se, com inspiração no direito alemão, o já referido incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, que consiste na identificação de processos que contenham a mesma questão de direito, que estejam ainda no primeiro grau de jurisdição, para decisão conjunta”. Sobre o ponto, ver CABRAL, Antonio do Passo. O novo procedimento-modelo (Musterverfahren) alemão: uma alternativa às ações coletivas. Revista de Processo. vol. 147. p. 123-146. São Paulo: Ed. RT, 2007.
12. 
O conceito ora abordado vem na esteira da lição de FERRAZ, Anna Cândida da Cunha. Mutação, reforma e revisão das normas constitucionais. Cadernos de Direito Constitucional e Ciência Política. vol. 5. p. 5-24. 1993, especialmente p. 16-17, compreendendo as mutações “que não violentam a Constituição, isto é, aquelas que, se confrontadas por qualquer meio de controle, particularmente pelo jurisdicional, não sofrerão a pecha de inconstitucionalidade”. A mesma autora já havia apresentado definição análoga, inserindo sob tal rótulo a “alteração, não da letra ou do texto expresso, mas do significado, do sentido e do alcance das disposições constitucionais, por meio ora da interpretação judicial, ora dos costumes, ora das leis, alterações essas que, em geral, se processam lentamente, e só se tornam claramente perceptíveis quando se compara o entendimento atribuído às cláusulas constitucionais em momentos diferentes, cronologicamente afastados uns dos outros, ou em épocas distintas e diante de circunstâncias diversas” (FERRAZ, Anna Cândida da Cunha. Processos informais de mudança da Constituição: mutações constitucionais e mutações inconstitucionais. São Paulo: Max Limonad, 1986. p. 9).
13. 
A chamada função nomofilácica pode ser definida como aquela que tem por objeto “o ‘controle’ e a ‘definição’, num processo de natureza dialética, ‘da criação jurisprudencial do direito’, ou seja, da ‘produção jus-criadora do Poder Judiciário’”, nos termos do proposto por KNIJNIK, Danilo. O recurso especial e a revisão da questão de fato pelo Superior Tribunal de Justiça. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 98-105.
14. 
Poder-se-ia dizer que os tribunais teriam o poder de criar parâmetros que servem para a construção de justificativas de segundo nível, na expressão utilizada por TARUFFO, Michele. La Motivación de la Sentencia Civil. Traduzido para o espanhol por Lorenzon Córdova Vianello. Madrid: Editorial Trotta, 2011. p. 258-259.
15. 
Em sentido contrário, ver ABBOUD, Georges; e CAVALCANTI, Marcos de Araújo. Inconstitucionalidades do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) e os riscos ao sistema decisório. Revista de Processo. vol. 240. ano 24. p. 221-242. São Paulo: Ed. RT, 2015.
16. 
Reconheça-se, contudo, que a definição do que se deve entender como “especialização” de um órgão jurisdicional, para além do senso comum, não é tarefa fácil. A este respeito, ver SILVESTRI, Elisabetta. Judicial Specialization: in search of the ‘right’ judge por each case? Russian Law Journal. vol. II. p. 169-175, especialmente p. 168 e ss. 2014.
17. 
Tais considerações, originalmente tecidas em relação à interpretação judicial (mas que se aplicam, por certo, também à exegese proposta pela doutrina), vêm estampadas em decisões proferidas pelo STF que concluíram no sentido da inconstitucionalidade da prisão civil do depositário infiel em função da incompatibilidade com os limites da Convenção Americana de Direitos Humanos. A este respeito, ver: STF, HC 90.450-5, 2.ª T., j. 23.09.2008, rel. Min. Celso de Mello; STF, HC 91.361-0, 2.ª T., j. 23.09.2008, rel. Min. Celso de Mello; STF, HC 94.695-0, 2.ª T., j. 23.09.2008, rel. Min. Celso de Mello.
18. 
MENDES, Aluísio Gonçalves de Castro; RODRIGUES, Roberto de Aragão Ribeiro. Reflexões sobre o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas Previsto no Projeto de novo Código de Processo Civil. Revista de Processo. vol. 211. p. 191-208. São Paulo: Ed. RT, 2012.
19. 
Veja-se, no ponto, as seguintes decisões, que ilustram caso paradigmático a este respeito: TJRS, Incidente de Uniformização de Jurisprudência 70027461235, 5.ª T. Civ. do 6.º Grupo Cível, j. 03.04.2009, rel. Des. Orlando Heeman Júnior, e STJ, REsp 1165623, 2.ª Seção, j. 14.04.2010, rel. Des. conv. Vasco Della Giustina.
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