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Plano de Aula: DIREITO CIVIL IV - EFEITOS DA POSSE DIREITO CIVIL IV - CCJ0015 Título DIREITO CIVIL IV - EFEITOS DA POSSE Número de Aulas por Semana Número de Semana de Aula 3 Tema Efeitos da Posse Objetivos - Estudar os efeitos da posse quanto aos frutos e as benfeitorias; - Compreender, material e processualmente, as ações possessórias. Estrutura do Conteúdo UNIDADE 2: POSSE (continuação) 2.6 Efeitos da posse Aplicação Prática Teórica Caso Concreto Marcelo move ação reivindicatória em face de Rodrigo em 2015, afirmando ser proprietário de determinado imóvel, desde 2012. Porém, deixa de instruir a inicial com a escritura pública devidamente registrada, eis que não a possui. Rodrigo apresenta contestação na qual sustenta deter a posse do imóvel desde 2008, posse que lhe fora transmitida com a morte de sua mãe, possuidora mansa e pacífica do imóvel, desde 1998, com justo título e animus domini. Alega Rodrigo, em seu favor, a exceção de usucapião, requerendo a improcedência do pedido com o reconhecimento da prescrição aquisitiva, invocando, alternativamente, o direito de retenção por benfeitorias úteis, e protestando por prova testemunhal. Em audiência de conciliação considerou o magistrado estar comprovada a matéria de direito, inexistindo matéria de fato a ser considerada. Denega a produção de provas testemunhal e profere sentença de procedência do pedido inicial, sob os seguintes argumentos: a) que não cabe discussão acerca da posse ad usucapionem e que restou comprovado o domínio do autor; b) que, por ser a posse um estado de fato, não é possível a sua transmissão; c) que não cabe o direito de retenção por benfeitorias, pois se trata de possuidor de má fé. Diante do caso concreto, pergunta -se: 1. Como advogado(a) de Rodrigo, que direitos sustentaria para fundamentar sua defesa? 2. Sem discutir a questão da usucapião, terá Emerson direito à posse do bem? Por quê? 3. Como fica o direito de retenção por benfeitorias? 4. E o direito aos frutos? Questão objetiva 1 O possuidor de má fé: (a) Não tem direito à indenização independentemente do tipo de benfeitoria que tenha realizado no imóvel. (b) Tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e das úteis, m as só pode reter o imóvel em razão das necessárias. (c) Tem direito à indenização só das benfeitorias necessárias, mas não tem direito de retenção do imóvel. (d) Tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e das úteis sem direito de retenção do imóvel. (e) Tem direito à indenização só das benfeitorias necessárias com direito de retenção do imóvel. Questão objetiva 2 Assinale a alternativa incorreta: (a) O possuidor tem direito de ser mantido na posse em caso de turbação. (b) Considera-se possuidor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções. (c) O Código Civil reconhece como injusta a posse que for violenta, clandestina ou precária. (d) A posse poderá ser desmembrada em direta e indireta. Procedimentos de Ensino 2.6. Efeitos da posse Dentre os efeitos da posse, destacam-se: a) percepção de frutos; b) indenização e retenção por benfeitorias; c) indenização por prejuízos sofridos; d) defesa da posse (interditos possessórios); e) usucapião. A) Direito aos frutos O direito à percepção dos frutos varia conforme a classificação da posse quanto à subjetividade e está disciplinado nos arts. 1.214 a 1.216, CC (os quais recomenda-se a leitura atenta): Posse Frutos Colhidos Pendentes Percipiendos Boa-fé Direito do possuidor Restituição, com direito à dedução das despesas. ----- Má-fé Indenização ao possuidor legítimo, com direito à dedução das despesas. Só lhe assiste o direito às despesas. Indenização ao possuidor legítimo. O pagamento feito ao possuidor de má-fé pelas despesas de produção e custeio é devido tendo em vista o princípio do direito civil que proíbe o enriquecimento sem causa: Em que pese a existência de posse de má-fé, terá o possuidor direito às despesas que despendeu, necessárias à produção e ao custeio dos frutos. Trata -se de aplicação do princípio de vedação ao enriquecimento sem causa, não sendo dado ao proprietário ou legítimo possuidor gozar dos frutos oriundos da coisa sem devolver ao possuidor de má-fé as quantias gastas para dar produtividade à coisa. Obs: os frutos colhidos por antecipação devem ser devolvidos. Os frutos civis, por tratarem-se de rendimentos, reputam-se colhidos a cada dia. As normas contidas nos art.s 1.214 a 1.216, CC são supletivas, podendo, portanto, ser afastadas através do regular exercício da autonomia privada. B) Direito às benfeitorias Assim como ocorre com os frutos, a indenização pelas benfeitorias depende da classificação da posse quanto à sua subjetividade (vide arts. 1.219 e 1.220, CC): Posse Benfeitoria Necessária Útil Voluptuária Boa-fé Indenização + Retenção Indenização + Retenção Jus tollendi, sem direito de retenção Má-fé Apenas restituição do valor gasto pelo possuidor. ---- ---- Obs: as benfeitorias são compensadas com os danos. Enunciado n° 81, I Jornada de Direito Civil : O direito de retenção previsto no CC 1219, decorrente da realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica às acessões (construções e plantações) nas mesmas circunstâncias. Súmula n° 158 do STF: Salvo estipulação contratual averbada no registro imobiliário, não responde o adquirente pelas benfeitorias do locador. As normas contidas nos art.s 1.219 e 1.220, CC são supletivas, podendo, portanto, ser afastadas através do regular exercício da autonomia privada. C) Interditos possessórios O art. 1.210, CC, prevê a tutela da posse através dos interditos possessórios: Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. Interdito possessório é a denominação genérica que se dá às ações possessórias que visam combater as seguintes agressões à posse: Esbulho: agressão que culmina da perda da posse. Interdito adequado: reintegração de posse (efeito restaurador). CPC, arts. 926 a 931. Turbação: agressão que embaraça o exercício normal da posse. Interdito adequado: manutenção de posse (efeito normalizador). CPC, arts. 926 a 931. Ameaça: risco de esbulho ou de turbação. Interdito adequado: interdito proibitório. CPC, 932 e 933. O fato de o limite entre as formas de agressão da posse serem muito tênues, associado à velocidade com que uma agressão pode se transformar em outra, fez com que a legislação estabelecesse a fungibilidade entre as ações possessórias (art. 920, CPC). É importante nesse ponto definir a abrangência da expressão ?ações possessórias? para fins de aplicação da regra da fungibilidade. Entende a maioria da doutrina e jurisprudência que a fungibilidade a que se refere o CPC só existe entre as ações de reintegração de posse, manutenção de posse e interdito proibitório (ações possessórias em sentido estrito). Assim, ainda que as ações como a de nunciação de obra nova (art. 934, CPC) e a ação de dano infecto (art. 1.280, CC) possam ser utilizadas na defesa da posse, som ente as ações possessórias em sentido estrito estão sujeitas à regra da fungibilidade. Condições das ações possessórias : - Possibilidade jurídica do pedido: No campo possessório, a possib ilidade jurídica dopedido assume papel relevante, principalmente pela confusão relativamente habitual entre o âmbito petitório e possessório. Muitas vezes o autor do pedido nunca foi possuidor e não obteve qualquer transmissão ou sucessão na posse. Poderá ter pretensão e legitimidade para ingressar com ação reivindica tória. Entretanto, não terá pretensão possessória. Seu pedido será juridicamente impossível sob o prisma possessório (MEDINA, Miguel Garcia et.al. Procedimentos cautelares e especiais. 2.ed. São Paulo: RT, 2010. pp. 266-267). - Interesse de agir; - Legitimidade: possuidor, seja direto, seja indireto. O detentor não tem legitimidade ativa nem passiva. Se houver agressão à posse de bem sob sua apreensão, somente lhe é deferida a autotutela imediata e proporcional da posse; se ele for indicado como réu em ação possessória, deverá valer-se da nomeação à autoria (art. 62, CPC). Cumulação de pedidos : a cumulação de pedidos de indenização, multa pela não cessação imediata à agressão da posse, bem como demolição não desnaturam a natureza da ação possessória, q ue continuará a seguir o procedimento especial previsto pelo CPC (marcantemente diferenciado pela audiência de justificação). Exceptio domini: por expressa determinação legal (art. 923, CPC), não é possível, regra geral, no juízo possessório, discutir o domínio. A decisão acerca de uma ação possessória será tomada com base na melhor posse, e nesse aspecto a função social da posse assume papel relevante. Exceções: a usucapião pode ser utilizada como matéria de defesa e, consoante a Súmula 487, STF, será deferida a posse a quem, evidentemente, tiver o domínio se com base neste ela for disputada . Da questão da tutela antecipada nas ações possessórias A tutela de urgência é permitida no âmbito das ações possessórias pelo art. 928, CPC. Ela terá caráter satisfativo e estará pautada em cognição sumária. O art. 928 c/c art. 924, CPC, exige requisitos especiais para a concessão da medida liminar (que poderá ser deferida com ou sem audiência da parte contrária, lembrando que quando o réu for ente de direito público, não é possível a concessão de liminar inaudita altera parte): - prova da posse; - caracterização detalhada da agressão à posse, inclusive com indicação da data em que houve o esbulho ou a turbação; - que a agressão tenha ocorrido a menos de ano e dia (esbulho ou turbação novo). É importante ressaltar que, quanto ao terceiro requisito, a concessão da tutela de urgência não se limita ao esbulho ou à turbação nova. A interpretação sistemática do CPC conduz à conclusão de que caso a agressão tenha ocorrido há menos de ano e dia, a liminar concedendo antecipação de tutela seguirá o procedimento especial previsto no art. 928, CPC. Caso, porém, a agressão tenha ocorrido há mais de ano e dia, o direito fundamental de acesso à justiça e o princípio da inafastabil idade da jurisdição implicam na necessidade de tutela jurisdicional adequada à solução das crises de direito material, de modo que a tutela de urgência poderá ser concedida, mas na forma do art. 273, CPC (aplicação do art. 924, CPC). Desforço possessório Desforço incontinenti: defesa imediata da posse pelo possuidor agredido. Deve estar assentado no binômio imediatismo-proporcionalidade. O art. 1.210, § 1° tem que ser entendido em harmonia com o art. 188, também do Código Civil. O desforço próprio, como ação exclusiva do possuidor, deve ser promovido logo e limita-se a trazer a situação ao fato anterior à violência. Ou não permiti -lo que se perpetre. Logo, é prazo contínuo e ininterrupto. É decadencial, de modo que não permite um intervalo, pois se este se der, caberá ao interessado buscar as vias ordinárias, ou seja, procurar a Justiça, como órgão estatal, a disposição dos jurisdicionados (PUGLIESE, Roberto J. Direito das coisas. São Paulo: LEUD, 2005. p. 195). A doutrina costuma classificar a autotutela da posse em duas espécies: - desforço imediato: ocorre nos casos de esbulho, em que o possuidor recupera o bem perdido. - legítima defesa da posse: ocorre nos casos de turbação, em que o possuidor normaliza o exercício de sua posse. Recursos Físicos Quadro e pincel; Retroprojetor; Datashow. Avaliação Caso Concreto Marcelo move ação reivindicatória em face de Rodrigo em 2015, afirmando ser proprietário de determinado imóvel, desde 2012. Porém, deixa de instruir a inicial com a escritura pública devidamente registrada, eis que não a possui. Rodrigo apresenta contestação na qual sustenta deter a posse do imóvel desde 2008, posse que lhe fora transmitida com a morte de sua mãe, possuidora mansa e pacífica do imóvel, desde 1998, com justo título e animus domini. Alega Rodrigo, em seu favor, a exceção de usucapião, requerendo a improcedência do pedido com o reconhecimento da prescrição aquisitiva, invocando, alternativamente, o direito de retenção por benfeitorias úteis, e protestando por prova testemunhal. Em audiência de conciliação considerou o magistrado estar comprovad a a matéria de direito, inexistindo matéria de fato a ser considerada. Denega a produção de provas testemunhal e profere sentença de procedência do pedido inicial, sob os seguintes argumentos: a) que não cabe discussão acerca da posse ad usucapionem e que restou comprovado o domínio do autor; b) que, por ser a posse um estado de fato, não é possível a sua transmissão; c) que não cabe o direito de retenção por benfeitorias, pois se trata de possuidor de má fé. Diante do caso concreto, pergunta -se: 1. Como advogado(a) de Rodrigo, que direitos sustentaria para fundamentar sua defesa? 2. Sem discutir a questão da usucapião, terá Emerson direito à posse do bem? Por quê? 3. Como fica o direito de retenção por benfeitorias? 4. E o direito aos frutos? Gabarito: Como advogado(a) de Rodrigo sustentaria seu direito à posse do bem, eis que, inicialmente, nada possui o autor da ação, pois não detém a escritura pública da usucapião devidamente registrada. Além disso, a posse do imóvel lhe fora transmitida com a morte de sua mãe, possuidora mansa e pacífica do imóvel, com justo título e animus domini. Conforme legislação em vigor, a posse é transmitida com o mesmo caráter que foi adquirida (art. 1.206, CC). Também, é possível a permanência do sucessor unive rsal na posse de seu antecessor, podendo unir ambas as posses (art. 1.207, CC) para efeitos legais. Quanto ao direito de retenção por benfeitorias necessárias e úteis, Rodrigo poderá invocá -lo, alternativamente, de acordo com o art. 1.219, CC, enquanto não lhe forem indenizadas, eis que possuidor de boa fé. As benfeitorias voluptuárias não geram indenização, podendo Rodrigo, como possuidor de boa fé, levantá -las se desejar (art. 1.219, CC). Questão objetiva 1 O possuidor de má fé: (a) Não tem direito à indenização independentemente do tipo de benfeitoria que tenha realizado no imóvel. (b) Tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e das úteis, mas só pode reter o imóvel em razão das necessárias. (c) Tem direito à indenização só das benfeitorias necessárias, mas não tem direito de retenção do imóvel. (d) Tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e das úteis sem direito de retenção do imóvel. (e) Tem direito à indenização só das benfeitorias necessárias com direito de retenção d o imóvel. Gabarito: C Questão objetiva 2 Assinale a alternativa incorreta: (a) O possuidor tem direito de ser mantido na posse em caso de turbação. (b) Considera-se possuidor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções. (c) O Código Civil reconhece como injusta a posse quefor violenta, clandestina ou precária . (d) A posse poderá ser desmembrada em direta e indireta. Gabarito: B Considerações Adicionais
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