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Plano de Aula: DIREITO CIVIL IV - AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL DIREITO CIVIL IV - CCJ0015 Título DIREITO CIVIL IV - AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL Número de Aulas por Semana Número de Semana de Aula 8 Tema Aquisição da propriedade móvel Objetivos - Estudar as formas de aquisição da propriedade móvel; - Analisar a usucapião de bens móveis. Estrutura do Conteúdo 3.5. Modos de aquisição da propriedade mobiliária 3.5.1 Espécies 3.5.2 Distinção entre descoberta e ocupação Aplicação Prática Teórica Caso Concreto Adriano, contumaz receptador de veículos furtados, adquiriu um veículo Honda em janeiro de 2006, alterando-lhe a placa e o chassi. Desde então, Adriano vem utilizando contínua e ininterruptamente o veículo. No entanto, em maio de 2016 Adriano foi parado em uma blitz que apreendeu o veículo, mesmo tendo este afirmado que como já estava na posse do bem há mais de dez anos, tinha lhe adquirido a propriedade por usucapião. Pergunta-se: bens furtados ou roubados podem ser objeto de usucapião por pessoa que conhece sua origem? Justifique sua resposta. Questão objetiva 1 Sobre a aquisição e perda da propriedade, analise as afirmações abaixo: I - A usucapião é forma de aquisição de propriedade. II - A usucapião no direito brasileiro, quanto aos bens imóveis poderá ser, entre outras espécies, ordinária, extraordinária, urbana e rural. III - A aquisição da propriedade por especificação somente é aplicável aos bens móveis. Quais são corretas? a) Apenas I e II. b) Apenas I e III. c) Apenas II e III. d) Apenas II. e) Todas as alternativas. Questão objetiva 2 Sobre a descoberta e ocupação, é correto afirmar que: a. A apropriação de uma coisa sem dono (res nullius) constitui um negócio jurídico uma vez que resulta da intenção de assenhorar-se do bem. b. Para efetivar-se a ocupação é essencial a apreensão da coisa com as próprias mãos. c. A coisa perdida é suscetível de ocupação. d. O tesouro pode ser considerado na legislação brasileira uma forma de ocupação uma vez que pode ser caracterizado como res nullius ou res derelicta. e. O usufrutuário não terá direito à parte do tesouro encontrado por outrem, quando o usufruto recair sobre universalidade ou quota-parte de bens. Procedimentos de Ensino Unidade 3 (continuação) A) Ocupação É forma originária de aquisição da propriedade. A ocupação ocorre quando alguém se apodera de algo que não tem proprietário, de coisa sem proprietário (res nullius e res derelictae). Ex: caça e pesca. Descoberta (invenção) Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontra-lo e, se não o encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente. Ocorre descoberta quando alguém encontra coisa perdida por outrem. O descobridor ou inventor fará jus a recompensa de no mínimo 5% (cinco por cento) sobre o valor do bem encontrado, mais as despesas com conservação e transporte. A recompensa, denominada de achádego, deverá ser fixada conforme o esforço do descobridor para encontrar o dono, as possibilidades que o dono teria de enco ntrar e a situação econômica de ambos (art. 1.234, CC/2002). Caso o descobridor danifique dolosamente o bem, responderá pelos prejuízos causados. A descoberta só se torna forma de aquisição da propriedade na hipótese de a coisa encontrada ser de valor exíguo, situação em que o Município poderá abandona-la em favor do descobridor. Em todas as demais hipóteses, a coisa será alienada em hasta pública. Achado do tesouro (arts. 1.264 a 1.266) B) Usucapião: Art. 1.260. Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e incontestadamente durante três anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade. Art. 1.261. Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá usucapião, independentemente de título ou boa-fé. Na usucapião ordinária exige-se, além da boa-fé, que a posse tenha por causa justo título, cuja noção já foi firmada na unidade referente à teoria da posse. O prazo para a usucapião ordinária é de 3 (três) anos. Na usucapião extraordinária de bens móveis dispensa-se a prova da boa-fé. Assim, mesmo de má-fé o possuidor poderá usucapir o bem. A ausência da exigência de boa-fé é refletida no prazo da usucapião, que é de 5 (cinco) anos. Obs: polêmica sobre a possibilidade de usucapião de bens furtados ou roubados pelo adquirente de boa- fé. Posição da jurisprudência: Recurso Especial. Usucapião ordinário de bem móvel. Aquisição originária. Automóvel furtado. - Não se adquire por usucapião ordinário veículo furtado. - Recurso Especial não conhecido. (STJ, Terceira Turma. REsp 247345 / MG. Rel. Min. Nancy Andrighi. Publicação em DJ 25/03/2002) Nessa ocasião, o recurso especial não foi conhecido por ter entendido o STJ que não havia afronta a dispositivo de lei federal. Entretanto, vem a jurisprudência entendendo que há, sim, possibilidade de o adquirente de boa-fé usucapir o bem, desde que não una sua posse a da pessoa que praticou o crime: Ementa PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM E DE IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. REJEITADAS. USUCAPIÃO DE BEM MÓVEL. PRESSUPOSTOS DE DIREITO MATERIAL. VEÍCULO FURTADO. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE POR TERCEIRO DE BOA-FÉ. POSSIBILIDADE. 1. COMPREENDIDO QUE O INSTITUTO DA LEGITIMIDADE PARA A CAUSA RELACIONA-SE À IDENTIFICAÇÃO DAQUELE QUE PODE PRETENDER SER O TITULAR DO BEM DA VIDA DISCUTIDO EM JUÍZO, SEJA COMO AUTOR, SEJA COMO RÉU, AFIGURA-SE CLARA A LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DA PARTE DEMANDADA QUE, TANTO EM CONTESTAÇÃO, QUANTO EM SEDE DE APELAÇÃO, FAZ REQUERIMENTO PARA QUE O AUTOR DA AÇÃO DE USUCAPIÃO ENTREGUE-LHE O BEM LITIGIOSO. ADEMAIS, NO CASO CONCRETO, A RÉ É PROPRIETÁRIA ORIGINÁRIA DO VEÍCULO OBJETO DA PRESENTE AÇÃO, DE MODO QUE, ACASO JULGADO PROCEDENTE O PEDIDO, ELA É QUE SUPORTARÁ OS EFEITOS DO DECISUM. 2. A PRETENSÃO AUTORAL A QUE SEJA DECLARADA A SUA TITULARIDADE DO VEÍCULO, EM RAZÃO DE USUCAPIÃO, ENCONTRA GUARIDA NO ORDENAMENTO JURÍDICO PÁTRIO, NOTADAMENTE NOS ARTIGOS 618 E 619 DO CÓDIGO CIVIL DE 1916, NÃO HAVENDO QUE SE FALAR, POR ISSO MESMO, EM IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. 3. O ARTIGO 618, CAPUT E PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO CIVIL DE 1916 - CORRESPONDENTE AO ARTIGO 1.260 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002 - DISCIPLINA A COGNOMINADA USUCAPIÃO ORDINÁRIA, CUJOS PRESSUPOSTOS DE DIREITO MATERIAL QUE VIABILIZAM A AQUISIÇÃO DA TITULARIDADE DA COISA CORRESPONDEM AOS SEGUINTES: POSSE MANSA E PACÍFICA, ININTERRUPTAMENTE E SEM OPOSIÇÃO, DURANTE 03 (TRÊS) ANOS, EXERCIDA COM ANIMUS DOMINI, JUSTO TÍTULO E BOA-FÉ. 4. A PARTIR DA ANÁLISE DA CADEIA DOMINIAL DO VEÍCULO OBJETO DESTES AUTOS, INFERE-SE QUE, AINDA QUE SE PUDESSE COGITAR DE EVENTUAL MÁ-FÉ PORVENTURA EXISTENTE NA TRANSAÇÃO REALIZADA ENTRE A SOCIEDADE EMPRESÁRIA SARITA AUTOS LTDA. E O SR. ROMUALDO PAES DE BARROS - DADA A INEXISTÊNCIA DE INFORMAÇÃO NO CRV DESTE ÚLTIMO ACERCA DE EMPLACAMENTO ANTERIOR -, A MESMA COMPREENSÃO NÃO SE APLICA ÀQUELES QUE ADQUIRIRAM O AUTOMÓVEL POSTERIORMENTE. ESTES, AO QUE TUDO INDICA, COMPRARAM O VEÍCULO DESCONHECENDO A RESTRIÇÃO DE FURTO QUE PENDIA SOBRE O BEM; OS NEGÓCIOS JURÍDICOS DE COMPRA E VENDA DO AUTOMÓVEL FORAM CELEBRADOS DE BOA-FÉ; ADEMAIS, O PRÓPRIO PODER PÚBLICO, POR MEIO DO COMPETENTE ÓRGÃO DE TRÂNSITO, CONFIRMOU AS TRANSFERÊNCIAS RELATIVAS AO BEM, EMITINDO O APROPRIADO CERTIFICADO DE REGISTRO DE VEÍCULO. 5. AS POSSES EXERCIDAS PELO AUTOR E SEUS ANTECESSORES - ATÉ,AO MENOS, O SR. CIRILINDO VIEIRA DE SÁ -, UNIDAS POR FORÇA DA ACCESSIO POSSESSIONIS, NOS TERMOS DO ARTIGO 619, PARÁGRAFO ÚNICO, C/C O ARTIGO 552, AMBOS DO CÓDIGO CIVIL DE 1916, PREENCHEM OS PRESSUPOSTOS DE DIREITO MATERIAL VIABILIZADORES DA USUCAPIÃO ORDINÁRIA. 6. NADA OBSTA QUE O TERCEIRO DE BOA-FÉ QUE ADQUIRE AUTOMÓVEL PROVENIENTE DE FURTO ADQUIRA A TITULARIDADE DESTE POR MEIO DA USUCAPIÃO. 7. RECURSO DE APELAÇÃO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (TJDF, 1ª Turma Cível. Processo nº 2008 01 1 033256-0 ? APC. Rel. Des. Flavio Rostirola. Publicação no DJe em 31/08/2009). Portanto, a usucapião de bens furtados somente enfrenta dois problemas: - possibilidade jurídica, fator que pode ser superado considerando que é possível a interversão da posse; - superada a possibilidade, qual a modalidade (se ordinária ou extraordinária). Isso porque ainda que o adquirente esteja de boa-fé, é inegável que o título que ensejou sua posse não é apto a transferir a propriedade, eis que passado por aquele que não é proprietário. Assim, a situação não se enquadra no conceito de justo título já defendido anteriormente, motivo pelo qual alguns autores preferem posicionar- se no sentido de que a usucapião daqui decorrente será extraordinária. Como o posicionamento mais recente que há no STJ até o presente momento é o referenciado acima, ainda não é possível falar em consolidação da jurisprudência no assunto . É provável, no entanto, que diante da evolução da jurisprudência o STJ reveja seu posicionamento para admitir a possibilidade de usucapião de bens furtados. C) Tradição Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição. Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico. Art. 1.268. Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a propriedade, exceto se a coisa, oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono. § 1 o Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade, considera-se realizada a transferência desde o momento em que ocorreu a tradição. § 2 o Não transfere a propriedade a tradição, quando tiver por título um negócio jurídico nulo. Tal qual a posse, a propriedade dos bens móveis também é transmitida através da tradi ção, que pode ser real, presumida (tácita) ou consensual, espécies já estudadas quando da transmissão derivada da posse. Importante notar que o art. 1.268, § 2º esclarece ser a tradição negócio jurídico causal. Tradição a non domino: não transmite a propriedade. Exceção: teoria da aparência (coisa ofertada ao público, adquirida de boa-fé); nesse caso, há parte da doutrina que entende que propriamente não se trata de tradição. Pós-eficacização da tradição: hipótese do art. 1.268 §1º. D) Especificação Art. 1.269. Aquele que, trabalhando em matéria-prima em parte alheia, obtiver espécie nova, desta será proprietário, se não se puder restituir à forma anterior. Art. 1.270. Se toda a matéria for alheia, e não se puder reduzir à forma precedente, será do especificador de boa-fé a espécie nova. § 1 o Sendo praticável a redução, ou quando impraticável, se a espécie nova se obteve de má-fé, pertencerá ao dono da matéria-prima. § 2 o Em qualquer caso, inclusive o da pintura em relação à tela, da escultura, escritura e outro qualquer trabalho gráfico em relação à matéria-prima, a espécie nova será do especificador, se o seu valor exceder consideravelmente o da matéria-prima. Art. 1.271. Aos prejudicados, nas hipóteses dos arts. 1.269 e 1.270, se ressarcirá o dano que sofrerem, menos ao especificador de má-fé, no caso do § 1 o do artigo antecedente, quando irredutível a especificação. Variáveis a serem consideradas: irredutibilidade da especificação e boa/má-fé do especificador. Na especificação, se o valor agregado for desproporcionalmente superior ao da matéria -prima, o especificador será proprietário da obra final, independente da intenção (boa/má-fé). Recursos Físicos Quadro e pincel; Retroprojetor; Datashow. Avaliação Caso Concreto Adriano, contumaz receptador de veículos furtados, adquiriu um veículo Honda em janeiro de 2006, alterando-lhe a placa e o chassi. Desde então, Adriano vem utilizando contínua e ininterruptamente o veículo. No entanto, em maio de 2016 Adriano foi parado em uma blitz que apreendeu o veículo, mesmo tendo este afirmado que como já estava na posse do bem há mais de dez anos, tinha lhe adquirido a propriedade por usucapião. Pergunta-se: bens furtados ou roubados podem ser objeto de usucapião por pessoa que conhece sua origem? Justifique sua resposta. Gabarito: Adriano poderá adquirir a propriedade do veículo por meio de usucapião, ainda que conheça a origem ilícita do objeto e desde que preenchidos os requisitos dos arts. 1260 a 1264, CC (vide Apelação Cível 2002.020040-4, São Francisco do Sul). Questão objetiva 1 Sobre a aquisição e perda da propriedade, analise as afirmações abaixo: I - A usucapião é forma de aquisição de propriedade. II - A usucapião no direito brasileiro, quanto aos bens imóveis poderá ser, entre outras espécies, ordinária, extraordinária, urbana e rural. III - A aquisição da propriedade por especificação somente é aplicável aos bens móveis. Quais são corretas? a) Apenas I e II. b) Apenas I e III. c) Apenas II e III. d) Apenas II. e) Todas as alternativas. Gabarito: E Questão objetiva 2 Sobre a descoberta e ocupação, é correto afirmar que: a. A apropriação de uma coisa sem dono (res nullius) constitui um negócio jurídico uma vez que resulta da intenção de assenhorar-se do bem. b. Para efetivar-se a ocupação é essencial a apreensão da coisa com as próprias mãos. c. A coisa perdida é suscetível de ocupação. d. O tesouro pode ser considerado na legislação brasileira uma forma de ocupação uma vez que pode ser caracterizado como res nullius ou res derelicta. e. O usufrutuário não terá direito à parte do tesouro encontrado por outrem, quando o usufruto recair sobre universalidade ou quota-parte de bens. Gabarito: B Considerações Adicionais
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