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Aula 06 - Sociologia da Educação

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AULA 06 – KARL MARX E O ESTUDO DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 
PEDAGOGIA – PROF. FRANCISCO GILSON
Rio de Janeiro, 27 de Agosto de 2011
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OBJETIVOS
Apresentar o método científico de karl Marx;
Caracterizar a sociedade segundo o pensamento de karl Marx;
Refletir sobre a concepção de educação de Karl Marx.
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O MÉTODO
Dialética: a contradição (o ser é e não é ao mesmo tempo – carrega em si a sua própria negação), o conflito é a própria substância da realidade, a qual se supera num incessante processo de negação, conservação e síntese. Os fenômenos contêm em si um movimento intrínseco, um devir, uma tendência, uma inquietação, são prenhes de negação de si: produzem a si mesmo, nesta relação entre opostos – o que ele será já vem inscrito no que ele é. O fenômeno é a síntese (unidade) provisória entre sua conservação e a sua negação (diversidade). Aplicada aos fenômenos historicamente produzidos, a ótica dialética cuida de apontar as contradições constitutivas da vida social que resultam na negação de uma determinada ordem. 
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 “Hoje em dia, tudo parece levar em seu seio sua própria contradição. Vemos que as máquinas, dotadas da propriedade maravilhosa de encurtar e fazer mais frutífero o trabalho humano, provocam a fome e o esgotamento do trabalhador. As fontes de riqueza récem-descobertas convertem-se, por arte de um estranho malefício, em fontes de privações. [...] O domínio do homem sobre a natureza é cada vez maior; mas, ao mesmo tempo, o homem converte-se em escravo de outros homens [...] Até a pura luz da ciência parece não poder brilhar mais que sobre o fundo tenebroso da ignorância. Todos os nossos inventos e progressos parecem dotar de vida intelectual as forças produtivas materiais, enquanto reduzem a vida humana ao nível de uma força bruta. Este antagonismo entre indústria moderna e a ciência, por um lado, e a miséria e a decadência, por outro; este antagonismo entre as forças produtivas e as relações de produção de nossa época é um fato palpável, abrumador e incontrovertido [...] não nos enganemos a respeito deste espírito maligno que se manifesta constantemente em todas as contradições que acabamos de assinalar. Sabemos que, para fazer trabalhar bem as novas forças da sociedade, necessita-se unicamente que estas passem às mãos de homens novos, e que tais homens novos são os operários.”
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Materialismo: Para Marx o ponto de partida da história da humanidade “são os indivíduos reais, a sua ação e as suas condições materiais de existência, quer se trate daquelas que encontrou já elaboradas quando do seu aparecimento, quer das que ele próprio criou [...] A primeira condição de toda a história humana é, evidentemente, a existência de seres humanos vivos” (Ideologia Alemã). Portanto, as relações materiais que os homens estabelecem, o modo como produzem seus meios de vida, formam a base de toda as suas relações.
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 “Um primeiro pressuposto de toda existência humana e, portanto, de toda história, a saber, [é] que os homens devem estar em condições de poder viver a fim de ‘fazer a história’. Mas, para viver, é necessário, antes de mais, beber, comer, ter um teto onde se abrigar, vestir-se, etc. O primeiro fato histórico, pois, a produção dos meios que permitem satisfazer essas necessidades, a produção da própria vida material; trata-se de um fato histórico; de uma condição fundamental de toda a história, que é necessário, tanto hoje como há milhares de anos, executar, dia a dia, hora a hora, a fim de manter os homens vivos.” A premissa da análise marxista da sociedade é, portanto, a existência de seres humanos que, por meio da interação com a natureza e com os outros indivíduos, buscam suprir suas carências e, nessa atividade, recriam a si próprios e reproduzem sua espécie num processo continuamente transformado pela ação de sucessivas gerações. 
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Materialismo Histórico: fundamentado na dialética, entende que a produção das condições materiais de existência estruturam a história e o devir humano. Este perspectiva materialista e dialética considera efêmero todo fenômeno social ou cultural e que a análise da evolução dos processos de produção material da existência e de produção de conceitos, ideias, representações etc. deve partir do reconhecimento de que “as forças econômicas sob as quais os homens produzem, consomem e trocam são transitórias e históricas. Ao adquirir novas forças produtivas, os homens mudam seu modo de produção, e com o modo de produção mudam as relações sociais econômicas, que não eram mais que as relações necessárias daquele modo concreto de produção [...] as categorias econômicas não são mais que abstrações destas relações reais e que são verdades unicamente enquanto essas relações subsistem.” Em outras palavras, as próprias ideias, concepções, gostos, crenças, categorias do conhecimento e ideologias dependem do modo como os homens se organizam para produzir. 
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O TRABALHO HUMANO
 “Para entender a dimensão criadora de vida do trabalho e as formas históricas que ele tem assumido, é crucial responder [...] como se produzem socialmente os seres humanos? Na compreensão histórica [dialética e materialista] que temos de ser humano, caracterizamo-lo fundamentalmente por uma tripa dimensão: é individualidade – Joana, Paula, João, Antônio –; é natureza – constituído e dependente de ar, água, comida, ferro, cálcio, vitaminas, sais etc. –; é ser social – produz a sua individualidade e natureza em ralação aos demais seres humanos. Ou seja, a individualidade que possuímos e a natureza que desenvolvemos (nutridos, subnutridos, abrigados, sem-teto, sem-terra etc.) estão subordinadas ou resultam de determinadas relações sociais que os seres humanos assumem historicamente.” 
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Trabalho como criador da vida: “diferente do animal, que vem programado por sua natureza e por isso não projeta ou modifica suas condições de vida, adaptando-se e respondendo instintivamente ao meio, os seres humanos criam e recriam, pela ação consciente do trabalho, sua própria existência. A partir dessa elementar constatação, Marx destaca uma dupla centralidade do trabalho quando concebido como valor de uso: criador e mantenedor da vida humana em suas múltiplas e históricas necessidades e, como decorrência dessa compreensão, princípio educativo. ‘O trabalho, como criador de valores de uso, como trabalho útil, é indispensável à existência do homem – quaisquer que sejam as formas de sociedade – é necessidade natural e eterna de efetivar o intercâmbio material do homem e a natureza, e, portanto, de manter a vida humana’. Nesta concepção de trabalho, também está implícito o conceito ontológico de propriedade – intercâmbio material entre o ser humano e a natureza –, para poder manter a vida humana. Propriedade no seu sentido ontológico, é direito do ser humano, em relação e acordo solidário com os demais, de apropriar-se – transformar, criar e recriar, mediado pelo conhecimento, ciência e tecnologia – da natureza e dos bens que produz, para reproduzir a sua existência, primeiramente física e biológica, como também cultural, social, estética, simbólica, afetiva.”
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O TRABALHO NO CAPITALISMO
Capitalismo: “Modo de produção social da existência humana que se foi estruturando em contraposição ao modo de produção feudal, e que se caracteriza pela acumulação de capital, mediante o surgimento da propriedade privada dos meios de produção. Para constituir-se, todavia, necessitava – além do surgimento da propriedade privada – [...] dispor de trabalhadores duplamente livres, ou seja, de não-proprietários de meios e instrumentos de produção e tão pouco [serem] propriedades de senhores [...]. É dessa relação social assimétrica que se constituem as classes sociais fundamentais: os proprietários dos meios e instrumentos de produção e os não proprietários – trabalhadores que necessitam vender sua força de trabalho para sobreviver. Daí é que surge o trabalho/emprego, o trabalho assalariado.
Tanto a propriedade quanto o trabalho, a ciência e a tecnologia, sob o capitalismo, deixam de ter centralidade como valor de uso e de respostas às necessidades vitais de todos os seres humanos. Sua centralidade fundamental transforma-se em valor de troca com o fim de gerar mais lucro ou mais capital. Os trabalhadores, eles mesmos, tornaram-se mercadorias. Uma mercadoria especialíssima, pois é a única capaz de incorporar um valor maior às demais mercadorias que coletivamente produz.”
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Trabalho Alienado: o trabalho assalariado passa a ser a pedra de toque, o manancial de onde se torna possível a acumulação e a riqueza de poucos, mediante a exploração e alienação do trabalhador. [Alienação] palavra que vem do latim e significa transferir a outrem o seu direito de propriedade. [...] O trabalhador é alienado ou perde o controle sobre o produto de seu trabalho (que não lhe pertence) e do processo de produção. [...] Esse processo de alienação faz com que o salário que o trabalhador recebe [...] represente apenas parte do tempo pago pelo que produziu de bens e serviços; a outra parte fica com quem empregou o trabalhador [mais-valia]. Parte de seu esforço, que tem como resultado mercadorias e serviços, é, então, alienada. Ou seja, é apropriado pelo empregador. O que mascara esta exploração e a sua legalização pelo contrato de trabalho.”
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Ideologia: Como os trabalhadores percebem a sociedade capitalista, como tomam consciência a respeito do seu modo de vida, da produção material de sua sociedade e das relações de classe, sejam elas econômicas e políticas? Esta consciência está ligada às condições materiais de vida, ao intercâmbio econômico entre os homens, como já vimos. A consciência que os trabalhadores tem dessas relações no capitalismo não condiz com as relações materiais reais que de fato vivem: as representações, as concepções de como funciona o mundo capitalista não são capazes de captar a essência das relações às quais de fato estão submetidos. A ideologia dominante passa a ideia de que, ao assinarem um contrato, o patrão e o trabalhador o fazem igualmente livres e nas mesmas condições. Na verdade, a situação do patrão, comprador da força de trabalho, e a do trabalhador, vendedor de sua força de trabalho, configura uma relação de classe profundamente desigual. Nesse sentido, o contrato de trabalho, sob o capitalismo, é uma legalização da desigualdade ou uma exploração legalizada.
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SOCIALISMO
 Como superar as injustiças da sociedade capitalista? 
 Uma revolução, liderada pelos trabalhadores, “daria origem uma nova sociedade, sem exploradores nem explorados, sem alienação e sem ideologia, sem classes sociais e sem Estado”. Nessa sociedade, o homem se reencontraria consigo mesmo, seria autônomo, autocentrado e autoconsciente, trabalhador manual e intelectual ao mesmo tempo. Nas palavras de Marx: “Na sociedade comunista, porém, onde cada indivíduo pode aperfeiçoar-se no campo que lhe aprouver, não tendo por isso uma esfera de atividades exclusiva, é a sociedade que regula a produção geral e me possibilita fazer hoje uma coisa, amanhã outra, caçar de manhã, pescar à tarde, pastorear à noite, fazer crítica depois da refeição, e tudo isso a meu bel-prazer, sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador ou crítico.”
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MARX E EDUCAÇÃO
Marx via a educação da mesma forma que via a sociedade capitalista. “Por um lado, fazendo uma análise empírica (ainda pouco aprofundada) da situação educacional dos filhos dos operários do nascente sistema fabril, identificavam na educação uma das mais importantes formas de perpetuação da exploração de uma classe sobre a outra, utilizada pelo capitalista para disseminar a ideologia dominante, para inculcar no trabalhador o modo burguês de ver o mundo. Por outro, pensando a educação como parte de sua utopia revolucionária, identificaram nela uma arma valiosa a ser empregada em favor da emancipação do ser humano, de sua libertação da exploração e do jugo do capital. Ou seja, par Marx não existe ‘educação’ em geral. Conforme o conteúdo de classe ao qual estiver exposta, ela pode ser uma educação para a alienação ou uma educação para a emancipação”.
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Educação para a emancipação: “Marx diz que os conteúdos educacionais devem contemplar três dimensões: uma educação mental, uma educação física e uma educação tecnológica. [...] educação mental [...] uma educação elementar para o trabalho intelectual. A educação física seria a educação do corpo tal como a oferecida nos ginásios esportivos e no treinamento militar. [...] a educação tecnológica seria a iniciação das crianças e jovens no manejo dos instrumentos e das máquinas dos diferentes ramos da indústria, [...]. Com tal formação, pensava, os filhos de operários poderiam estar em nível muito superior ao dos burgueses e aristocratas, uma vez que estes últimos também jamais seriam homens completos, a menos que rompessem com a separação entre trabalho intelectual e manual. Em sua visão, portanto, é preciso substituir o indivíduo parcial, pelo indivíduo integralmente desenvolvido, para o qual as diferentes funções sociais não passariam de formas diferentes e sucessivas de suas atividades.” Educação que Marx chamou de politécnica.
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