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Aula 09 - Sociologia da Educação

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AULA 09
A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL
APRENDENDO COM A EXPERIÊNCIA DOS MESTRES
PEDAGOGIA – PROF FRANCISCO GILSON RODRIGUES OLIVEIRA
Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2011
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OBJETIVOS
Contextualizar o pensamento de Fernando de Azevedo e de Anísio Teixeira.
Caracterizar sumariamente o pensamento de educacional de Fernando de Azevedo e de Anísio Teixeira;
Apresentar o pensamento educacional de Florestan Fernandes.
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BRASIL: UM NOVO PROJETO DE NAÇÃO
 “As tendências dos anos 1930-45 apontaram em duas direções precisas, que indicaram dimensões para a orientação política do período – o industrialismo, como suporte do processo de desenvolvimento, e o autoritarismo. No governo Vargas, a falta de um projeto que fornecesse as diretrizes par a educação, o crescimento das populações urbanas e as iniciativas no âmbito da modernização colocaram o país, recém-saído de uma revolução, sob o risco da esterilidade, diante das exigências de uma nova fase econômica que anteviam para o país.” [p. 33 - referência bibliográfica: final da apresentação] 
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 Já nos anos de 1920 “foram criadas condições para a emergência de um grupo de educadores comprometidos com a idéia de mudança social, ancorados em uma fundamentação sociológica da sociedade. Esta intelligentsia se apresentou no espaço social do qual emergiu o desafio de atendimento, por parte do poder público, às necessidades das massas concentradas no contexto urbano, no qual estavam assentadas as pré-condições para o aprofundamento do processo de industrialização. Essa realidade de uma sociedade em transição propiciou o aparecimento de uma opinião pública sedenta de propostas inovadoras, e ao mesmo tempo crítica das bases e da estrutura de dominação oligárquica tradicional.” [p. 32] 
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 “Para criar as condições de articulação coletiva de produção e implementação de projetos inovadores, os pioneiros e seus discípulos transitaram e ocuparam espaços institucionais estratégicos. Estiveram presentes nas unidades da federação, já em meados dos anos 20 e nos anos 30, reformando o ensino público (Fernando de Azevedo e a Reforma do D. F., de 1927 a 1930, e em São Paulo em 1933); Anísio Teixeira na Bahia e no Distrito Federal, de 1931 a 1935). Estiveram presentes na Associação Brasileira de Educação (ABE), fundada em 1924, por Heitor Lira, que se destacou como agência na qual os educadores formularam diagnósticos e alternativas para o problema educacional do país.” [p. 34]
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O novo Brasil
 “A nova concepção de educação procurava uma definição pedagógica associando método à constituição de novos procedimentos educativos, didáticos e programáticos que levassem em conta a incessante necessidade de associação da ciência ao progresso. Valorizava ainda a técnica e a ciência para a construção de um conhecimento objetivo da realidade brasileira e de seus contrastes: atraso cultural versus modernidade; urbano versus rural.
 A ‘nação’ era um postulado a ser resgatado na medida em que a existência de uma mesma língua, dos mesmos costumes, dos mesmos valores e de uma mesma história formavam uma unidade que constituía a identidade nacional. Essa identidade nacional consistia numa ‘comunidade imaginária’, na qual valores universais como nação, ciência e progresso se traduziam no combate à ‘ignorância’, à barbárie, e na instauração de um sentido ‘civilizador’ que fundamentasse a ordem social.” [p. 39-40] 
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Manifesto da Escola Nova (1932)
Síntese do movimento escolanovista no Brasil, “o MANIFESTO DA ESCOLA NOVA, defendendo a adoção de uma pedagogia apropriada às necessidades de industrialização e às exigências democráticas, pregava a universalização da escola pública, única, laica e gratuita como requisito essencial para o progresso e o desenvolvimento do país.” [p.19]. “Ao proclamar a educação como um direito individual que deve ser assegurado a todos, sem distinção de classes e situação econômica; ao afirmar ser dever do Estado assegurá-la, principalmente por meio da escola pública e gratuita, obrigatória e leiga; e finalmente, ao opor-se à educação-privilégio, o Manifesto trata a educação como problema social, o que é um avanço para a época, principalmente se nos lembrarmos de que a sociologia aplicada à educação era uma ciência nova.... (Romanelli, 1978, p. 150)”. [p. 21] 
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ANÍSIO TEIXEIRA
 Educador, filósofo e teórico da educação brasileira, advogado, professor de filosofia da educação e ativista; administrador nos quadros do Estado (Diretor Geral da Instrução Pública no DF e na Bahia, criador da Universidade do Distrito Federal, Diretor do INEP), membro do Conselho Federal de Educação, Reitor da Universidade de Brasília, consultor da Fundação Getúlio Vargas e Professor Emérito da UFRJ.
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Anísio Teixeira “defendeu a escola como instrumento de regulação da sociedade: ‘[...] a grande reguladora social e seu programa, incluída a correção da maior parta das iniqüidades da atual ordem social e o preparo de uma nova ordem mais estável e mais justa. Isso não é o extremismo, nem nenhum partidarismo sectário, mas o reconhecimento da função social hoje proposta às escolas públicas
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Sistema Escolar Brasileiro
“Anísio Teixeira, em várias ocasiões, deixou registrada a necessidade de se ter uma visão da totalidade do sistema de ensino brasileiro e de se ajustar o sistema de ensino às perspectivas do desenvolvimento. Criticou a escola de então, por seu caráter seletivo e propedêutico, meramente informativo. Em seu entendimento, a educação deve desempenhar função social importante na construção de uma sociedade democrática e no processo de estabilidade social. Para efetivar essas propostas era essencial o acesso das classes populares à educação, sob responsabilidade do Estado: ‘[...] Custeando-a, assim, em parte, o Estado terá o direito e o poder de impor o sistema aberto de classes, e permitir que os mais capacitados possam ascender às classes superiores seguintes’ (Teixeira, 1956, p. 412).” [p. 19]
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FERNANDO DE AZEVEDO
Professor de educação física, filosofia, latim, psicologia e sociologia; jornalista (crítica literária e educação); educador ativista (redator de manifestos, realizador de reformas educacionais, criador de universidade); administrador da educação; pensador e humanista da cultura e da ciência; pesquisador (inquéritos e censos etc.); executivo (Diretor de editora), e acadêmico (Academia Brasileira de Letras).
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“A produção de Fernando de Azevedo [...] destacava a importância das ciências sociais para o tratamento científico da educação. Ele foi responsável pela divulgação e pela aplicação de conhecimentos sociológicos no campo educacional, visando à formulação e à implementação de uma política educacional capaz de atender a uma sociedade em transição. Em suas propostas, aparecia a defesa liberal da escola pública (estatal) como instrumento básico de formação do cidadão e de individualidades criadoras. Esta visão da educação se assentava numa convergência entre o pensamento de Durkheim (educação como transmissão da cultura e da tradição) e o de Dewey (educação como reconstrução da experiência social), enriquecida com outras fontes como Max Weber e Mannheim [...]. Ele se enquadra [...] no ‘projeto intelectual de uma elite conservadora’, que aposta na universidade capaz de formar quadros para civilizar a sociedade. Trata-se [...] de uma elite que, conservadora, acalenta idéias modernas no sentido de promover reformas sociais para garantir os avanços do capitalismo.” [p. 20] 
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Fernando Azevedo “percebe a educação dentro de uma sociedade em movimento na qual, por exemplo, processos como os de urbanização e de industrialização estavam ligados intimamente à procura de uma identidade político-educacional”. [p. 37] 
“[...] Fernando de Azevedo teria dado o exemplo do ideólogo que pretende reconstruir e regenerar a cultura a partir da escola. Um idealismo que concilia os contrastes
reais resolvendo-os em noções genéricas de ‘humanismo leigo’. O mal não estaria, aliás, nos valores últimos propostos, mas na cândida aceitação de um progressismo fatal que os realizaria harmoniosamente mediante a escolarização do provo brasileiro (Prefácio de Bosi, in, Mota, 1990).” [p. 21]
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FLORESTAN FERNANDES
“[...] nasceu na cidade de São Paulo em 1920. Desde de muito cedo precisou trabalhar para viver. Teve de enfrentar muitas dificuldades para estudar. Não completou o curso primário. Fez o curso de Madureza, como alternativa do secundário. Nos anos de 1941 a 1944 fez o bacharelado e a licenciatura em Ciências Sociais [...] (USP). Em 1946-47 completou o curso de pós-graduação em Sociologia e Antropologia [USP]. Tornou-se mestre em 1947 [...]; doutor em 1951 [...]; livre-docente em 1953 [...]; e catedrático em 1964. Foi aposentado compulsoriamente, pela ditadura militar, em 1969. Esteve como professor visitante , na Columbia University, NovaYork, em 1965-1966, e como professor residente e titular na Universidade de Toronto, em 1969-1972.” (IANN`, 1986, p. 08). Voltou ao Brasil foi professor da Puc-SP. Deputado por dois mandatos (1987-90 e 1991-94). Faleceu em 1995. 
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FLORESTAN E A EDUCAÇÃO
“Já em seu primeiro texto – 1946 – deixa evidentes as esperanças que depositava na educação: ‘Está mais do que patente que não sairemos do marasmo econômico e político sem transformarmos, de forma profunda e geral o nosso sistema de ensino’. A mesma expectativa está presente no texto de 1954: ‘...a intervenção do Estado, com propósito definido de ajustar o sistema educacional brasileiro às necessidades mais urgentes da vida política nacional, poderia alcançar dos efeitos presumíveis. Primeiro, criar condições dinâmicas essencialmente favoráveis á transição de uma ordem democrática incipiente para um ordem democrática plenamente constituída. (...). Segundo, concorrer ativamente para que essas condições dinâmicas se reproduzam similarmente, provocando efeitos socializadores relativamente uniformes, nos diferentes tipos de comunidades brasileiras’. Em texto de 1959 reitera as mesmas esperanças: ‘A educação é, naturalmente, o elemento crucial para o reajustamento do homem a situações sociais que se alteram celeremente, como aconteceu em São Paulo’ (...)” [Saviani, 1996, p. 76]
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 “As análises do [Florestan] confluem para a caracterização daquilo que chama de ‘dilema educacional brasileiro’ determinado pela situação se subdesenvolvimento o qual, ao mesmo tempo, coloca necessidades que exigem a intervenção da educação e obstáculos a que esta intervenção se efetive [...]: ‘A estabilidade e a evolução do regime democrático estão exigindo a extensão das influências socializadoras da escola às camadas populares e a transformação rápida do estilo imperante de trabalho didático, pouco propício à formação de personalidades democráticas’. No entanto, limitando a procura, rejeitando os candidatos à escolarização e resistindo à mudança interna, o próprio ‘sistema educacional brasileiro inclui-se entre os fatores adversos a esse desenvolvimento. Por conseguinte, em vez de acelerar a difusão e o fortalecimento dos ideais de vida, consagrados legalmente, ele interfere no processo como fator de demora cultural’. Em suma, o ‘dilema’ consiste em que o sistema educacional brasileiro é constituído por ‘instituições deficientes de ensino, que requerem alterações complexas, onerosas e profundas’ e, no entanto, não pode contar senão com ‘meios de intervenção insuficientes para fazer face, com expectativas definidas de sucesso, às exigências práticas da situação’.” [Saviani, p. 76] 
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DEFESA DA ESCOLA PÚBLICA
 Florestan foi a liderança mais expressiva e combativa do movimento na Campanha em Defesa da Escola Pública, em 1959. “Tudo se passou como se me transformasse, de um momento para o outro, em porta-voz das frustrações e da revolta dos meus antigos companheiros da infância e da juventude”. “O meu estado de espírito fez com que o professor universitário falasse em nome do filho da antiga criada e lavadeira portuguesa, o qual teve de ganhar a vida antes mesmo de completar sete anos, engraxando sapatos ou dedicando-se a outras ocupações igualmente degradadas, de maneira severa, naquela época”. Considera que foi como “representante fortuito das massas populares” que se empenhou nessa luta: “Professor, sociólogo e socialista – não foi de nenhuma dessas condições que extraí o elemento irredutivelmente inconformista, que deu sentido à participação que tive na Campanha de Defesa da Escola Pública. Se em nenhum momento traí qualquer uma dessas condições, devo reconhecer francamente que elas foram circunstanciais e acessórias. Elas apenas me ajudaram a compreender melhor aquele dever e me incentivaram a servi-lo de um modo que me seria inacessível de outra forma.” [citado por Saviani, p.79]
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Referências bibliográficas
PINTO, D.; LEAL, M.; PIMENTEL, M. Trajetórias de Liberais e Radicais pela Educação Pública. São Paulo: Loyola, 2000.
IANNI, Otávio (org.). Florestan Fernandes – sociologia. São Paulo: Ática, 1986.
SAVIANI, Dermeval. Florestan Fernandes e a educação. Estudos Avançados 10 (26), 1996.
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