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Cidadania UN03 00 29 05 2015 (1)

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CidadaniaCidad
U3
Objetivo do estudo
Nesta unidade vamos entender o processo histórico do Brasil 
e sua organização política. Conheceremos o que é cidadania 
e sua relação com os Direitos Humanos.
A Cidadania 
no Brasil
Apresentação
Somos súditos ou cidadãos do Estado 
Brasileiro?
O Estado existe para atender as demandas dos seus 
cidadãos ou os cidadãos somente devem trabalhar e pagar 
impostos para manter o Estado? 
O povo brasileiro é um povo pacífi co ou um povo violento?
O que podemos aprender com nossa experiência histórica 
quando presenciamos cenas de abuso de autoridade da 
força policial, de violência doméstica ou violência contra 
minorias?
Nesta Unidade 3, vamos estudar nossa formação sócio 
histórica para compreender os legados políticos e 
institucionais que conformam a cidadania no Brasil
h t tp : / / up load .w ik imed ia .o rg /w ik iped ia /
commons/3/3a/Oscar_Pereira_da_Silva_-_
Desembarque_de_Pedro_%C3%81lvares_
Cabral_em_Porto_Seguro_em_1500.jpg
2
A Cidadania no Brasil Cidadania | UNISUAM 
3 T1 Formação sócio histórica e a cidadania no Brasil Introdução
Vimos em módulos anteriores que quando a violência entra na esfera pública, política e 
cidadania desaparecem. É como se a selvageria fosse um reflexo de uma condição pré-
política ou mesmo antissocial. Não existe a possibilidade da interação ou da convivência. É 
uma relação de dominação avessa a uma condição de igualdade entre cidadãos e mesmo 
entre seres humanos que possuem os mesmos direitos e deveres no convívio comunitário.
Ainda assim, vivemos em uma sociedade extremamente violenta, perceptível nos altos 
índices de homicídios e casos de violência contra mulher, crianças e homossexuais. Violência 
também perceptível na relação entre o Estado e o cidadão. Ainda que seja correto afirmar 
que o Estado deva ter o direito do uso legitimo da força para impor e manter a ordem, 
presenciamos muitas vezes o abuso do poder ou a subordinação do cidadão que não pode 
nada em relação a um Estado que pode tudo. 
Desembarque de Cabral
3
A Cidadania no Brasil Cidadania | UNISUAM
No Brasil 
primeiro 
veio o 
Estado
e depois
o povo
Para saber um pouco mais sobre os índices de 
violência no país acesse:
http://www.mapadaviolencia.org.br/
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/
violencia-brasil-mata-82-jovens-por-dia-5716.html
Saiba mais!
Darcy Ribeiro (1995) dizia que o Brasil foi um país inventado 
pelos portugueses. De fato, o Brasil como território era 
ocupado por várias nações indígenas e existia muito 
tempo antes deles aqui chegarem. Existem indícios do 
conhecimento do nosso território mesmo antes da chegada 
dos Portugueses (uma terra Brasilis). Contudo, a chegada 
dos portugueses promoveu uma ruptura nesse fluxo 
histórico. A partir da sua chegada, temos uma data inicial 
para começar a contar a história do Brasil moderno, o país 
que conhecemos. País que surge a partir dos moldes e da 
imaginação do colonizador. Para ele:
“No Brasil, de índios e negros, a obra colonial de Portugal foi 
também radical. Seu produto verdadeiro não foram os ouros 
afanosamente buscados e achados, nem as mercadorias 
produzidas e exportadas. Nem mesmo o que tantas riquezas 
permitiram erguer no Velho Mundo. Seu produto real foi um povo-
nação, aqui plasmado principalmente pela mestiçagem, que se 
multiplica prodigiosamente como morena humanidade em fl or, à 
espera do seu destino. Claro destino, singelo, de simplesmente 
ser, entre os povos, e de existir para si mesmos. ” (Ibid. p.68)
Raymundo Faoro (2000) reforça esta percepção quando 
argumenta que:
No Brasil primeiro veio o Estado e depois o povo. Ao contrário 
dos outros povos que surgem de um processo histórico 
de construção de uma identidade nacional dentro de um 
território, no nosso país não foi desta maneira. 
Ou seja, o português conseguiu apagar a história anterior 
e fi rmar um novo marco político institucional no qual se 
construiu a história do Brasil moderno. “Tudo é tarefa do 
governo tutelando os indivíduos, eternamente menores, 
incapazes ou provocadores de catástrofes, se entregue a 
si mesmo. ” (p.85)
Oscar Pereira da Silva, 1904
O Estado brasileiro não foi apenas copiado como diria 
Wanderley Guilherme dos Santos, “um Brasil réplica, 
duplicata, serigráfi co até” (1993: p.11), se erigiu também a 
partir de uma organização autoritária e centralizadora. Foi, 
portanto, uma réplica aos moldes da Europa e principalmente 
do Estado Português. Talvez, em razão desse “trauma” de 
origem até hoje buscamos nos modelos vindos de fora uma 
referência para construirmos nosso futuro. 
No conjunto dessa refl exão, como temos observado desde 
as primeiras páginas do nosso curso, a política é resultado 
da intervenção humana e se espera de nós é que a partir 
de agora nossa história seja construída de uma forma mais 
justa e democrática. Ou seja, se nossa história foi resultado 
da intervenção das pessoas que nos antecederam, nosso 
futuro enquanto país depende do que fazemos agora.
4
A Cidadania no Brasil Cidadania | UNISUAM 
Brasil colonial e a cidadania
Ao analisar a formação sócio histórica brasileira em seu livro Donos do Poder, Raymundo 
Faoro, a partir de uma perspectiva weberiana, procurou destacar as estruturas de dominação 
que permitiram Portugal, mesmo sendo um país pequeno, controlar o vasto território brasileiro. 
Para ele a dominação portuguesa só foi possível com o desenvolvimento de uma estrutura 
estamental, burocrática e patrimonialista. 
Portugal na época era um país altamente avançado e sofisticado, ao contrário do que 
costumamos pensar, mas que para poder se tornar um império colonial teve de desenvolver 
um sistema de dominação que fosse capaz de controlar todas as suas colônias. Esse sistema 
político e administrativo e a organização da sociedade brasileira foi muito mais importante 
para moldar os padrões de exercício da cidadania no Brasil do que o modelo de exploração 
da nossa economia.
Portugal possuía universidades e escolas de navegação que produziam conhecimentos 
avançados para sua época, mas politicamente vivia numa monarquia absolutista. Foi esse 
modelo excludente e hierarquizado que Portugal transplantou para o Brasil. Uma sociedade 
estamental na qual as pessoas se relacionavam entre si e com o Estado a partir do seu 
status social. Sua condição de representante da coroa, comerciante, escravo ou senhor seria 
determinante para distinguir o espaço e o poder de cada um.
Talvez, por isso até hoje ouvimos um apelo por 
algum tipo de diferenciação social do tipo: “você 
sabe com quem está falando? ” .
sabe com 
quem está 
falando?
5
A Cidadania no Brasil Cidadania | UNISUAM
Somos todos iguais, mas gostamos de criar algum tipo de diferença e obter algum 
tipo de privilégio.
Patrimonial porque não tendo condições de estar presente no território brasileiro e em outros 
domínios, Portugal delegou aos seus representantes e aos chefes do poder local o direito de 
administrar aquela região em seu nome. O patrimonialismo se dá quando esses interesses 
coletivos e privados se confundem. Representando a coroa portuguesa, se governa partindo 
do princípio de que o poder público é um patrimônio privado. 
“O Estado se confunde com o empresário, o empresário que especula, que manobra os 
cordéis do credito e do dinheiro para favorecimento dos seus associados e para desespero 
de pequena faixa, empolgada com o exemplo do Europeu.” (p.85)
Portugal tinha de confi ar em seus representantes e nas elites políticas. Contudo, a possibilidade 
de fraude era grande e para se buscar uma administração mais efi ciente desenvolveu-se uma 
burocracia que se caracterizará pelo recurso do cartório para homologar e registrar todas 
as transações. O recurso não inviabiliza a corrupção, antes reforça o poder das pessoas 
que possuem este direitoe subordina o cidadão a boa vontade do servidor público que se 
confunde com aquele que se aproveita da coisa pública. Essa cultura cartorial valoriza o 
carimbo e a dependência estatal para iniciar e encerrar um negócio. O Estado tem de estar 
presente olhando, cobrando, regulando, participando do lucro e se isentando dos prejuízos.
Enfi m, as raízes do mandonismo local, da burocracia e da elitização da política encontram-se 
sem dúvida na origem colonial do Brasil e que defi nirá o Estado brasileiro como autoritário 
e excludente segundo José Luiz Fiori (1992). Mesmo que registremos a história política e 
eleitoral do século XX, mesmo hoje com a participação efetiva do cidadão na vida política, 
assim como os serviços prestado por esse Estado aos cidadãos, a relação entre o cidadão 
e o Estado ainda é bastante problemática e desigual.
6
A Cidadania no Brasil Cidadania | UNISUAM 
Como característica geral do nosso processo de colonização prevaleceu portanto o dirigismo 
econômico e político que afastou qualquer possibilidade do desenvolvimento de uma economia 
verdadeiramente liberal e uma vida política efetivamente mais democrática. A presença do 
estado direta ou indiretamente, mesmo em termos econômicos se deu de forma elitizada e 
protegida pelo Donos do Poder político.
Marquês de Pombal
O leitor mais atento e mais exigente pode argumentar, 
com razão, que nossa realidade presente não é um 
desdobramento e continuidade direta do nosso passado. 
Isto porque, as reformas políticas e administrativas que 
ocorreram depois da fase colonial tinham cada qual sua 
própria lógica e contexto específico, mas culturalmente 
sobrevive uma dificuldade de garantir ao cidadão seus 
direitos e uma prevalência do Estado em detrimento 
do cidadão.
7
A Cidadania no Brasil Cidadania | UNISUAM
T4 A Organização do Estado Nacional Brasileiro e a Cidadania
A vinda da Coroa portuguesa representou uma nova fase na história da cidadania no 
Brasil. A independência do Brasil, a formação do Estado nacional e a organização e 
regularização das eleições legislativas deram uma nova dinâmica a vida política nacional. 
O voto não era universal, dependia da renda anual do eleitor, mas signifi cou um aumentou 
na atividade política.
D. Pedro I
http://en.wikipedia.org/wiki/Pedro_I_of_Brazil
8
A Cidadania no Brasil Cidadania | UNISUAM 
ausência de 
participação 
do povo nos 
acontecimentos 
políticos mais 
relevantes da 
nossa história
Entretanto, a iconografia nacional nos chama atenção 
para um aspecto curioso do desenvolvimento da cidadania 
no Brasil, a ausência de participação do povo nos 
acontecimentos políticos mais relevantes da nossa história. 
Observem que no quadro que representa a independência do 
Brasil, Dom Pedro I encontra-se as margens do rio Ipiranga 
e com seu regimento declara a independência praticamente 
sem a presença do povo.
Tela a óleo de Pedro Americo 1888
Nos Estados Unidos, a guerra de independência durou 
8 anos de 1775 a 1783 e chegou ao fim após intensos 
conflitos. Mesmo após a vitória da Guerra de sete anos, a 
Inglaterra manteve restrições e controles sobre as Treze 
colônias americanas o que desencadeou a revolta contra 
o aumento dos impostos sobre o chá e posteriormente a 
própria Revolução Americana de 1776. Ressaltando, não 
apenas os conflitos que se estenderam nos anos seguintes, 
mas o processo de discussão sobre o jovem país que 
produziram um rico pensamento político que influenciou a 
Revolução Francesa, a Inconfidência Mineira e tantos outros 
acontecimentos posteriores.
9
A Cidadania no Brasil Cidadania | UNISUAM
Mas, como é 
possível haver 
uma República 
sem cidadãos?
Na Proclamação da República novamente percebemos a 
ausência do povo. Está certo que a cidade do Rio de Janeiro 
era palco de intensos debates políticos, principalmente em 
relação a escravidão e o republicanismo, mas a deposição 
da monarquia em si ocorreu via intervenção militar. Se 
olharmos o quadro da Praça Quinze e o regimento do 
Marechal Deodoro da Fonseca, mais uma vez não existe a 
presença do povo. 
Tela de Benedito Calixto de 1893
Jose Murilo de Carvalho (1987) nos adverte que estes fatos 
escondem uma cidadania “bilontra” (malandra). O brasileiro 
de um modo geral não acredita na política que sempre foi 
exercida pela elite e para a elite. A troca da monarquia para a 
República parecia ao cidadão comum uma disputa de poder 
que não dizia respeito a sua vida. Ele podia até participar 
do processo mas uma vez realizada a movimentação o 
povo era esquecido e a política passava a ser operada a 
partir das elites de maneira autoritária, excludente e sem 
participação popular. 
10
A Cidadania no Brasil Cidadania | UNISUAM 
República do 
Café com Leite
Entretanto, o povo tem consciência de que quando seus direitos e interesses são ameaçados 
é necessário a mobilização e ele age nem sempre de maneira tão cordial ou pacífi ca como 
se pensa. Nas suas palavras:
“Bestializado era quem levasse a política a sério, era o que se prestasse 
a manipulação (...) Quem apenas assistia, como fazia o povo do Rio por 
ocasião das grandes transformações realizadas a sua revelia, estava 
longe de ser bestializado. Era bilontra [gozador, espertalhão].” (p. 160).
Para provar sua teoria Jose Murilo de Carvalho cita a Revolta da Vacina em 1904. Para o 
brasileiro, de um modo geral, tanto a Independência do Brasil quanto a Proclamação da 
República foram movimentos elitistas. Porém, no início do Século XX, o então prefeito do 
Rio de Janeiro promove uma reforma urbana que moderniza a cidade mas acaba com os 
cortiços onde moravam milhares de cidadão na região que hoje conhecemos como avenida 
Presidente Vargas até quase a praça da Bandeira. Logo depois, quando Oswaldo Cruz iniciou 
sua campanha de vacinação a ameaça de novas desapropriações despertou a revolta da 
população.
Contudo, a pratica política e o exercício da cidadania não mudou qualitativamente nos 
períodos seguintes. 
Victor Nunes Leal (1975) registrará no seu livro clássico, “Coronelismo, Enxada e Voto”, a 
continuidade autoritária e excludente do Estado brasileiro durante o período chamado de 
República do Café com Leite. O poder local, o mandonismo, alicerçado numa economia rural, 
diante da incapacidade da presença do Estado em todo o território, será o dono do voto em 
um país agora pretensamente republicano.
Storni, Política Café-com-Leite, Revista Careta
https://historiandonanet07.files.wordpress.
com/2011/01/rep-velha-cafc3a9-com-leite-
charge-do-desenhista-storni-revista-careta.jpg
11
A Cidadania no Brasil Cidadania | UNISUAM
Se o aluno tiver oportunidade incentivamos o 
aprofundamento do estudo desses períodos. Acesse:
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.
php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_
id=10726
aprofundando
Esse domínio será possível com práticas clientelística exercida pelos coronéis ora reforçadas 
pelo medo e ora barganhando favores numa relação de subordinação. Situação que será 
amenizada com o fi m do voto de cabresto e o começo do voto secreto com Getúlio Vargas 
e fortalecimento do governo federal com a Revolução de 1930.
O padrão vai se repetir apesar dos diferentes contextos de cada época. Em 1930, a 
industrialização brasileira se amplia e a população urbana cresce. A insatisfação aumenta, 
principalmente em relação as classes médias urbanas levando Getúlio Vargas ao poder 
que apesar de governar de maneira populista exerceria o poder de maneira ditatorial neste 
primeiro momento. 
Depois teremos um período democrático-populista que vai de 1945 a 1964, quando 
assistiremos um afl oramento dos movimentos sindicais e sociais dentro do contexto da 
Guerra Fria que alimentou o debate político entre capitalismo e comunismo. As tensões 
sociais levaram a população às ruas defendendo os doisgrupos, mas quando os militares 
assumiram o poder a população mais uma vez volta as suas casas diante de um regime 
fechado e rígido que mantinha a democracia apenas a nível formal. 
Para nós, e do ponto de vista da cidadania, não é necessário nos limites dessa disciplina, 
entendermos e compreendermos cada especifi cidade da história brasileira, destacamos 
apenas que existe um movimento de maior ou menor participação popular em períodos 
democráticos e ditatoriais. Invariavelmente a população é chamada a participação política, 
mas o acesso ao poder e o seu exercício se mantem durante toda nossa história recente.
Vale dizer que os desafi os para a efetivação de uma cultura 
democrática e a vigência de uma cidadania plena não se 
deve apenas a um político e cultural da nossa história 
colonial, mas também ao sistema político brasileiro que 
apesar de reformado nas sucessivas constituições mantem 
um poder executivo forte que não favorece os direitos 
individuais e as garantias do cidadão frente ao Estado.
12
A Cidadania no Brasil Cidadania | UNISUAM 
relação de 
dominação que 
não permite a 
contestação
Vídeo:
h t t p s : / / w w w . y o u t u b e . c o m /
watch?v=Rpl87ML7WiQ
Saiba mAIS
https://politica3unifesp.wordpress.
com/a-pr imeira-republ ica-e-a-
revolucao-de-1930/
T3 Violência, cordialidade e Cidadania no Brasil
Como vimos a relação entre o cidadão e o Estado sempre foi precária no Brasil. Mesmo 
compreendendo que a existência do cidadão pressupõe a existência de uma República, uma 
vez que na monarquia temos o súdito, a relação do Estado com a população em geral no Brasil 
sempre foi limitada pela sua própria estrutura organizacional e societária. Esta realidade em si 
indica a violência e a arbitrariedade que caracteriza a precariedade da nossa cultura cidadã.
Mesmo se pensarmos a Inglaterra que é uma monarquia e pensarmos na condição dos 
súditos da coroa temos uma luta pela afi rmação dos direitos individuais. A teoria política de 
Locke no século XVII é um exemplo disso. Direitos Naturais aos quais o Estado não tem o 
direito de invadir como o trabalho, a vida e a propriedade. 
No caso brasileiro, ao contrário, desde o passado até o presente denúncias e manchetes 
de arbitrariedade são frequentes o que indica a necessidade de fazer valer os direitos do 
cidadão a saúde, educação, trabalho, moradia, a integridade da sua própria vida e outros 
direitos que se confundem muitas vezes com os direitos humanos.
Constatamos uma estrutura estatal que de uma maneira geral se apresenta de maneira 
arbitrária e excludente na sua relação com o cidadão. Do ponto de vista societário, apesar 
da democracia, presenciamos uma estrutura estamental que resiste socialmente na mediada 
em que autoridades públicas como juízes e detentores de algum poder político ou econômico 
se prevalecem em detrimento da maioria da sociedade. Esse contexto nos leva a refl etir 
como a nossa cultura também traduz essa realidade perversa na violência cotidiana que 
estabelecemos entre nós e que restringe nossa experiência de cidadania.
Sérgio Buarque de Holanda descreve o brasileiro como 
um homem cordial que foi assimilado pelo senso comum 
como sinônimo de passividade. De fato, referia-se o autor 
ao cordes, coração, o caráter afetivo do comportamento 
do brasileiro. Afetivo e inserido dentro de uma estrutura 
patriarcal que estabelece uma hierarquia que vai do senhor 
para os fi lhos, da esposa responsável pela reprodução, ama 
de leite e sua escrava até outros escravos e agregados 
como demonstra a tela pintada por Debret. Uma relação de 
dominação que não permite a contestação. Que pode ser 
carinhosa com as pessoas mais próximas e dura, ou mesmo 
cruel, com as pessoas mais distantes.
Falta um caráter mais racional e democrático que considere 
o outro na mesma condição social que o agente. 
O “homem cordial” não pressupõe bondade, mas somente 
o predomínio dos comportamentos de aparência afetiva, 
inclusive suas manifestações externas, não necessariamente 
sinceras nem profundas, que se opõem aos ritualismos da 
polidez. O “homem cordial” é visceralmente inadequado às 
relações impessoais que decorrem da posição e da função 
do indivíduo, e não da sua marca pessoal e familiar, das 
afi nidades nascidas na intimidade dos grupos primários. 
(Candido: 1999, p.17)
13
A Cidadania no Brasil Cidadania | UNISUAM
“aos amigos tudo; 
aos indiferentes
a lei e aos inimigos 
nem isso”
Família Patriarcal de Debret
O ditado popular, “aos amigos tudo; aos indiferentes a lei e aos inimigos nem isso”, refl ete esta 
visão de mundo. Uma realidade social na qual a lei, pressuposto do Estado democrático de 
direito, é esquecida quando nos referimos aos amigos e aos inimigos e como a convivência 
social é colocada de lado diante do confl ito de interesses. Quando não se respeita a lei ou o 
indivíduo resta a violência como mecanismo de ordenamento social. 
A violência pode ser compreendida nas suas diferentes 
formas. Ela se apresenta frequentemente através da 
agressão física, mas pode ser verbal, psicológica e outras. 
Se perpetua nas relações familiares, na escola, no trabalho 
e em diferentes espaços sociais e de circunstancias de 
convivência humana. 
Esse é o sentimento que experimentamos no dia a dia 
quando percebemos que não estamos sendo respeitados, 
quando não estamos sendo tratados de uma maneira digna 
e justa. A revolta realimenta a violência no comportamento 
social e atinge com frequência o distante ou subalterno 
naquele modelo patriarcal apresentado. A violência contra a 
mulher, homossexuais, crianças, o trabalhador se justifi cam 
por estarem na hierarquia social em um degrau abaixo. 
Esta lógica permite perdoar uma infração cometida pelo fi lho 
do senhor e punir ferozmente o fi lho do escravo. Nada é mais 
contrário para a consolidação de uma sociedade democrática 
e cidadã que a vigência dessa cultura de violência que escolhe 
e seleciona suas vítimas de maneira arbitrária e pessoal.
http://www12.senado.gov.br/jornal/edicoes/especiais/2013/07/04/
imagens/familia-brasileira-sec-19-xix-jean-baptiste-debret
14
A Cidadania no Brasil Cidadania | UNISUAM 
Uma cultura cidadã deve universalizar o respeito a pessoa humana em todas as relações 
sociais. Justifi ca-se, diante deste cenário de difi culdade, legislações especiais que procurem 
proteger um grupo social ou outro. Porém, o que se espera quando falamos em uma sociedade 
efetivamente democrática e cidadã é a garantia de os direitos iguais para todos, a certeza e 
o rigor de punição sufi ciente para inibir condutas violenta, de discriminação ou preconceito. 
Não se constrói a democracia criando uma disputa de forças entre maioria e minoria, mas 
criando condições de preservar o pluralismo. Possibilitar a convivência na diversidade. Toda 
realidade social que coloca uns contra outros inviabiliza a construção de outras alternativas 
possíveis que podem ser atingidas a partir do diálogo. A democracia surgiu não para rivalizar 
ideias ou grupos, mas para permitir sua convivência, por isso a máxima aristotélica que defi ne 
o fi m do direito de um indivíduo quando começa o direito do outro. Esse respeito ao outro é 
fundamental em qualquer situação que nos encontramos. Nisso temos muita para avançar.
Mas não podemos desistir, não é mesmo?
T4 Cidadania e Direitos HumanosQuando falamos em direitos humanos, em termos de senso comum, sempre associamos aos 
direitos dos criminosos como se os problemas sociais fossem da democracia ou das ciências 
sociais. Argumento fazendo uma analogia. Se não conseguimos curar uma doença é porque 
ela não tem cura ou o diagnóstico foi feito errado. Não é problema da pneumonia ou do 
câncer, mas é impossível tratar uma doença se o problema é outro. O remédio não funciona. 
Infelizmente, os problemas sociais não são tão facilmente resolvidos e normalmenterequerem 
um esforço coletivo muito maior. Em regra, o problema não é os direitos humanos, mas a 
realidade complexa que vivemos.
Importante frisar que todos querem fazer valer seus direitos e se consideram cidadãos, 
defendem a cidadania, mas quando falamos em direitos humanos não existe consenso. 
Cidadania e direitos humanos parecem ser coisas completamente diferentes uma da outra. 
De um modo geral, falamos de cidadania quando pagamos impostos e não recebemos 
serviços públicos adequados como saúde e educação. Sempre que ouvimos algo sobre 
direitos humanos normalmente está associado a violência e criminalidade.
Assim, percebemos como direitos que são naturais e universais são 
diferentes de direitos que fazem parte de um conjunto de direitos e 
deveres ligados às ideias de cidadão e cidadania. Um pequeno exemplo 
esclarece, penso eu, essa questão: uma criança não é cidadã, no 
sentido de que ela não tem certos direitos do adulto, responsável pelos 
seus atos, nem tem deveres em relação ao Estado, nem em relação 
aos outros; no entanto, ela tem integralmente o conjunto dos Direitos 
Humanos. (Benevides: sem data, p.6)
De fato como ensina Benevides, os direitos humanos estão relacionados as necessidades 
mais básicas da nossa condição humana como a vida e a liberdade. Eles versam sobre direitos 
que devem ser universais e precisam ser respeitados independentemente da existência de 
uma legislação.
O princípio é o da dignidade humana que observamos em todas as pessoas independentemente 
da origem, classe social ou opção sexual e devem prevalecer em qualquer país. Nesse 
sentido, preservar a integridade física, o combate da tortura, das práticas de violência ou da 
escravidão são desdobramentos lógicos dessas premissas.
15
A Cidadania no Brasil Cidadania | UNISUAM
As diferenças 
regionais também 
são importantes 
na compreensão 
dos direitos 
humanos.
Os direitos humanos são universais mas evoluem de acordo 
com a época e o lugar. Isto porque em época anterior a 
mulher era compreendida como inferior ao homem e em 
muitas sociedades ainda é assim. Considerar a mulher 
igual ao homem signifi ca transformar todas as dimensões 
da vida social, inclusive as afetivas. Padrões culturais e 
comportamentais são afetados e precisam mudar. Então, 
problemas que anteriormente fi cavam “escondidos” agora 
são debatidos. Aqueles que se benefi ciavam da realidade 
anterior reclamam sem considerar que a situação passada, 
de fato, favorecia apenas um lado da sociedade. 
As diferenças regionais também são importantes na 
compreensão dos direitos humanos. Temos um impasse 
importante, principalmente se considerarmos as diferenças 
entre o ocidente e o oriente, entre povos de diferentes 
culturas e religião. O esforço da UNESCO e da ONU é 
na difusão desses valores humanista que apesar de tudo 
encontram resistência em alguns países. Essas mudanças 
geram uma visão que se amplia da nossa condição humana 
e faz com que novos temas sejam inseridos na questão 
dos direitos humanos como o trabalho infantil, questões de 
gênero ou no que se refere a preservação do meio ambiente.
A cidadania parte de uma outra perspectiva. Ela surge 
historicamente para identifi car a relação política e social 
que existia entre o cidadão e a cidade, entre ele e os outros 
cidadãos. Atualmente, essa relação se dá entre o cidadão e o 
Estado e como temos ressaltado neste curso a necessidade 
da convivência e da liberdade.
http://www.saltoquantico.com.br/wp-content/uploads/Olhares1.jpg
16
A Cidadania no Brasil Cidadania | UNISUAM 
Segundo Benevides:
Cidadania e direitos da cidadania dizem respeito a uma determinada 
ordem jurídico-política de um país, de um Estado, no qual uma 
Constituição defi ne e garante quem é cidadão, que direitos e deveres 
ele terá em função de uma série de variáveis tais como a idade, o 
estado civil, a condição de sanidade física e mental, o fato de estar 
ou não em dívida com a justiça penal etc. Os direitos do cidadão e a 
própria ideia (sic) de cidadania não são universais no sentido de que 
eles estão fi xos a uma específi ca e determinada ordem jurídico-política. 
Daí, identifi camos cidadãos brasileiros, cidadãos norte-americanos e 
cidadãos argentinos, e sabemos que variam os direitos e deveres dos 
cidadãos de um país para outro. (Ibid. p.5)
Mesmo que se considere as diferenças entre cidadania e direitos humanos defendemos 
que esses dois temas são muito próximos um do outro e na verdade são difíceis de serem 
separados na prática. 
Se analisarmos a história da cidadania moderna, ela está inserida na formação dos Estados 
nacionais e na conquista de direitos do povo em relação ao poder estatal. O mesmo contexto 
histórico e político no qual se desenvolve a ideia de direitos humanos. Ambos são herdeiros 
da Declaração de Direito na Inglaterra em 1689 e a Declaração dos Direitos do Homem e 
do Cidadão de 1789 na França.
Em certo sentido, os direitos humanos são os mais básicos e vem primeiro, mas na medida 
em que falamos de dignidade ele se amplia e só pode se justifi car, se efetivar uma condição 
de vida que em última instancia equivale a do cidadão.
A dignidade da vida humana pressupõe acesso a moradia, educação, trabalho e outros recursos 
sem os quais uma pessoa normal, em pleno século XXI, não pode se considerar pleno.
Cidadania, como temos visto desde o primeiro módulo, depende da democracia para que as 
pessoas possam conviver, com liberdade e respeito ao outro. Ela só pode exercer plenamente 
seus direitos se os direitos humanos existirem de fato. Não se concebe a vigência da cidadania 
sem que tenhamos o respeito da individualidade humana e as condições mínimas da sua 
sobrevivência e coexistência.
Nessa perspectiva uma sociedade democrática verdadeiramente, não apenas do ponto de 
vista formal de eleições e leis, requer a convergência da cidadania e dos direitos humanos.
Colaboram para que esse cenário não prospere os problemas sociais como a desigualdade 
social, o desemprego, a criminalidade, tráfi co de drogas assim como a defi ciência das nossas 
instituições políticas e sociais expressas na corrupção, no acesso à justiça, saúde pública e outros. 
Uma sociedade complexa com fortes demandas em todos esses segmentos enfrenta sem 
dúvida um desafi o sério na universalização dos direitos humanos e na efetivação da cidadania. 
Em certo sentido, as difi culdades apontadas são faces de um Estado autoritário e excludente 
que desde de sua origem se organiza de maneira elitista e distante da população. 
Vale ressaltar que não se trata de uma elite no sentido de um grupo específi co ou em razão 
de um critério econômico, mas daqueles que ocupam o governo em qualquer tempo. O fato 
é que não se democratiza o poder executivo, não se limita o poder do Estado para que o 
cidadão tenha seus direitos assegurados. Ao contrário, observa-se a ampliação do poder 
Estatal como um agente civilizador no qual devemos confi ar na boa vontade do governante.
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Vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=CpsGlcptwFU
São vários os problemas e muitos espaços para 
intervenção, então a questão é por onde começar?
aprofundando
pare e reflita
as dificuldades 
apontadas
são faces
de um Estado 
autoritário
e excludente
problemas sociais
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Bibliografia
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Video Link:
O Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro - Matriz Tupi
https://www.youtube.com/watch?v=Dmi0Jn_9sPA
O Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro - Matriz Portuguesa
https://www.youtube.com/watch?v=3kLJ8mmHbKo
O Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro - Africana
https://www.youtube.com/watch?v=PzlVq5U177E
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