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RESUMÃO CIVIL AV1

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(PLANOS DE AULA DO 1 AO 6) 
CÓDIGO CIVIL
*O DIREITO CIVIL COMO RAMO DO DIREITO PRIVADO
* O FENÔMENO DA CODIFICAÇÃO
*A CODIFICAÇÃO CIVIL BRASILEIRA
*O CÓDIGO CIVIL DE 2002
PLANO DE AULA 1
DIREITO CIVIL COMO RAMO DO DIREITO PRIVADO
O direito civil é o principal ramo do direito privado. Trata-se do conjunto de normas jurídicas (regras e princípios) que regulam as relações jurídicas entre as pessoas, sejam estas naturais ou jurídicas, que comumente encontram-se em uma situação de equilíbrio de condições.
O FENÔMENO DA CODIFICAÇAO
Codif icar é organizar sistematicamente os Princípios Jurídicos de modo a estabelecer um todo unitário a 
determinadas disciplinas do Direito. 
A Doutrina diverge sobre as vantagens da codificação: Alguns grandes juristas como Savigny e Gabba acham 
que constitui um retrocesso, alegando que o Direito não é estático, e a Codificação impediria sua evolução. 
Já os que são favoráves à Codificaçao, argumentam que não há esse problema, pois a Lei codificada pode 
ser alterada com o passar do tempo. Logo a Codificação é bastante utilizada para Legislações em geral. 
      O código é uma lei que busca disciplinar integral e isoladamente uma parte substanciosa do direito positivo. Assim, codificação nada mais é que um processo de organização, que reduz a um único diploma diferentes regras jurídicas da mesma natureza, agrupadas segundo um critério sistemático.
            Dessa forma, obtém-se uma unidade orgânica que centraliza as normas aplicáveis a determinados tipos de relações jurídicas.
            Codificação se diferencia de incorporação, recepção e consolidação, por ser sistematizado em um só corpo todas as regras vigentes; não se trata de um ordenamento jurídico estrangeiro que é recebido como Direito Próprio; tem perspectivas criativa, fazendo eliminações, adaptações e construções
A CODIFICAÇÃO CIVIL BRASILEIRA
No Brasil Colônia, fomos regidos pelas Ordenações Filipinas e, mesmo após a Independência, essas 
ordenações ainda vigoraram por algum tempo. 
Com a Constituição de 1824, foi determinada a criação do Código Criminal em 1830, e o Código Comercial em 
1850.
VI. 1 – PRINCÍPIOS NORTEADORES DO CÓDIGO CIVIL DE 2002
            Um dos temas mais fascinantes sobre o novo Código Civil Brasileiro é a sua principiologia.
            São eles os princípios da ETICIDADE, SOCIALIDADE E OPERABILIDADE.
            Consiste o Princípio da ETICIDADE na busca, de compatibilização dos valores técnicos, conquistados na vigência do Código anterior, com a participação de valores éticos no ordenamento jurídico.
            Já o Princípio da SOCIABILIDADE surge em contraposição à ideologia individualista e patrimonialista do sistema de 1916. Por ele, busca-se preservar o sentido de coletividade, muitas vezes em detrimento de interesses individuais.
            Por fim, o Princípio da OPERABILIDADE importa na concessão de maiores poderes hermenêuticos ao magistrado, verificando, no caso concreto, as efetivas necessidades a exigir a tutela jurisdicional
Personalidade Jurídica(PLANO DE AULA 2)
Conceito e inicio da personalidade jurídica
O aprendizado do tema é de máxima importância, uma vez que todos os demais atos da vida civil dependem da personalidade civil. O estudo aborda o principal sujeito de direito e que figurará em todos os livros do Código, ou seja, a personalidade jurídica é analisa no alfa da parte geral atingindo até o ômega das sucessões que cuidará da sua extinção e dos consequentes reflexos jurídicos da morte.
Assim sendo, conceituaremos a priori a pessoa natural com um sujeito humano, com aptidão de adquirir direitos e deveres (em sua maioria). Que em primeiro momento pode-se diferencia-lo da pessoa jurídica, por esta ser uma ficção jurídica, ou seja não há sua materialização física, contudo ambas podem ser sujeito de direitos.
Contudo antes de adentramos nos temas supra, é necessária conceituamos o instituto da personalidade, inicialmente restringido o tema as pessoas naturais. A personalidade jurídica é a capacidade lato senso de um sujeito de uma relação jurídica, no mínimo contraindo direitos. Nas palavras Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, “trata-se do atributo reconhecido a uma pessoa para que possa atuar no plano jurídico (titularizando relações diversas) e reclamar a proteção jurídica dedicada pelos direitos da personalidade.”[1].
Início da Personalidade
Com intuito de estabelecer a aquisição da personalidade jurídica de uma pessoa natural, ou seja, a capacidade de adquirir direitos e deveres, o código civil estabeleceu no seu art. 2º que: “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.”[2]
Assim sendo, o início da capacidade jurídica começa com a respiração, sendo irrelevante se posteriormente o nascituro venha a óbito, a entrada de ar nos pulmões é o suficiente para aquisição da personalidade.
Teorias da aquisição da personalidade civil.
Para elucidar melhor o tema, abortaremos três teorias doutrinárias sobre o estudo:
Teoria Concepcionista: a personalidade tem início com a concepção; ou seja, com a própria gravidez (momento em que o óvulo fecundado pelo espermatozoide se junta à parede do útero). Teoria não adotada no brasil.
Teoria Natalista: a personalidade se inicia a partir do nascimento da criança com vida. Teoria adota pelo código civil.
Teoria da Viabilidade: pressupõe a possibilidade de sobrevivência da criança. Países que adotam esta teoria entendem que se uma criança nasceu com uma doença que a levará a morte em poucos dias, não haverá a aquisição da personalidade.
No Brasil a doutrina se manifesta de forma divergente, pois, se por um lado a lei estabelece que a personalidade civil tem início com o nascimento com vida, o mesmo dispositivo a seguir assegura ao nascituro direitos desde sua concepção.
Frisa-se que ocorre o nascimento quando a criança é separada do ventre materno (parto natural ou por intervenção cirúrgica), mesmo que ainda não tenha sido cortado o cordão umbilical.
Além disso, é necessário que tenha respirado. Há nascimento e há parto quando a criança, deixando o útero materno, respira. Portanto, se o recém-nascido respirou, nasceu com vida. E é nesse momento que a personalidade civil terá início em sua plenitude, com todos os efeitos subsequentes.
E para se saber se nasceu viva e em seguida morreu, ou se já nasceu morta, é realizado um exame chamado de docimasia hidrostática de Galeno, que consiste em colocar o pulmão da criança morta em uma solução líquida; se flutuar é sinal que a criança chegou a dar pelo menos uma inspirada, portanto, nasceu com vida; se afundar, é sinal que não chegou a respirar e, portanto, nasceu morta, não recebendo e nem transmitindo direitos. No entanto, atualmente a medicina dispõe de técnicas mais modernas e eficazes para tal constatação.
TUTELA JURIDICA DO NASCITURO
TUTELA DO NASCITURO, ou seja, à proteção jurídica conferida o ser humano gerado ou já concebido no ventre materno, mas ainda por nascer. A polêmica surgiu desde o Código Civil de 1916 e se protrai no tempo até a atualidade. É que a péssima redação do antigo Código Civil acerca do surgimento da personalidade foi de forma descompromissada repetida pelo Código Civil de 2002, não inovando acerca da tutela do nascituro, mantendo a diretriz démodé que desmerece a divergência doutrinária sem oferecer uma solução definitiva.
Consoante disposição do Código Civil Brasileiro, Lei n.º 10.406/2002, no caputdo seu artigo 2º, “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe à salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.
Ao tratar da personalidade civil, conforme clássica lição de Caio Mário da Silva Pereira (2009, p.181), o dispositivo legal disciplina a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair deveres na ordem jurídica, enfatizando que “esta aptidão é hoje reconhecida a todo ser humano, o que exprime uma conquistada civilização jurídica”. Assim, podemos asseverar que a personalidade é atributo jurídico inerente à condição de pessoa (natural, ou jurídica), onde, em especial, atualmente, todo ser humano tem personalidade.
Por sua vez, podemos dizer que pessoa seria todo ser humano de existência biopsíquica real, ou um ente de existência ideal[1] reconhecido pelo direito para o exercício de uma atividade, com capacidade para ser sujeito ativo ou passivo de direitos na ordem jurídica. Desta forma, o Codex Civile vinculou à pessoa (natural, ou jurídica), a capacidade de titularizar direitos e deveres, quando em seu artigo inicial determinou que “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil” (Art. 1º, CCB-02).
Para Orlando Gomes (2010, p.107), quando a lei ressalva direitos ao nascituro, não garante a este personalidade, mas, desde a concepção, é como se tivesse, por isso, o mesmo sustenta haver duas categorias de personalidade: a real, verdadeira e autêntica; em contraposição à fictícia, artificial ou presumida. Para o mesmo, a personalização do nascituro é uma ficção atribuída por reconhecer nos beneficiários a aptidão para ter direitos, mas não lhes concede a condição de pessoa natural antes de nascer com vida (sic).
Conforme leciona Tânia da Silva Pereira (2008, p.233), tem-se uma inusitada situação:
[...] afirma-se que com a concepção, o nascituro adquire direitos, mas a personalidade civil somente surge com o nascimento com vida, conforme estatui o referido artigo. São acontecimentos distintos. Primeiro adquire direito e, somente mais tarde, adquire personalidade civil, surgindo a curiosa situação de possuir direitos, sem ter personalidade, no período compreendido entre a concepção e o nascimento.
Pois é, desta disciplina do Codex Civile surgem três correntes teóricas que buscam nortear, sob o prisma jurídico, a aptidão para ser titular de direitos e deveres na ordem civil, quais são materializadas pela personalidade civil, diante da origem da vida, perante a efetiva produção dos seus efeitos, são elas: a corrente natalista; a corrente concepcionista; e a híbrida ou mista, chamada de corrente da personalidade condicional.
Segundo a teoria natalista, a personalidade civil surge a partir do nascimento com vida, donde a pessoa passará a titularizar direitos e deveres na ordem jurídica. Conforme leciona Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2010, p.125):
No instante em que principia o funcionamento do aparelho cardiorespiratório, clinicamente aferível pelo exame de docimasia hidrostática de Galeno, o recém-nascido adquire personalidade jurídica, tornando-se sujeito de direito, mesmo que venha a falecer minutos depois.
Segundo lição de Caio Mário da Silva Pereira (2009, p.184 e 188), o nascituro ainda não é pessoa (sic), não é um ser dotado de personalidade jurídica, todavia, ao lhes reconhecer direitos, não se estaria reconhecendo a condição de sujeito de direito, mas, apenas um estado potencial destes serem efetivados após o nascimento com vida.
Por sua vez, a teoria concepcionista determina a aquisição da personalidade jurídica desde a concepção. Nestes moldes, compreende-se haver pessoa desde a concepção, de modo que o feto é plenamente reconhecido como sujeito de direito.
Conforme lecionam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2012, p.303), defendendo tal teoria, além da inquestionável titularidade dos direitos da personalidade pelo nascituro, o ordenamento jurídico brasileiro confere-lhe outros tantos direitos, tais como o reconhecimento da filiação, a nomeação de curador em seu favor, o direito à ser beneficiário de doação, a capacidade sucessória, entre outros, de modo a se delinear o reconhecimento da personalidade jurídica do nascituro.
Por fim, a teoria híbrida, mista, eclética ou da personalidade condicionada disciplina que desde a concepção passa-se a ser sujeito de direito, adquirindo personalidade ainda na vida intrauterina, mas ressalva que a titularidade de direitos têm seus efeitos patrimoniais contidos, condicionados ao nascimento com vida.
Neste sentido, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2010, p.127) alertam: [...] essa personalidade confere aptidão apenas para a titularidade de direitos da personalidade (sem conteúdo patrimonial), a exemplo do direito à vida ou a uma gestação saudável, uma vez que os direitos patrimoniais estariam sujeitos ao nascimento com vida (condição suspensiva).
Na doutrina e no ambiente acadêmico criou-se o mito de que a corrente natalista seria a majoritária no Brasil, haja visto o fato do dispositivo legal falar expressamente em seu artigo 2º (CC-02) que “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida”(...). Em verdade, na época do Código Civil de 1916 tal entendimento era predominante na doutrina, todavia, atualmente não se comprova a prevalência de tal posicionamento entre os doutos contemporâneos, pois como pontua Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2012, p.303) “a lei civil (CC, art. 2º) resguarda, expressamente, os direitos do nascituro, servindo para afastar, peremptoriamente, a tese natalista, por pregar que somente seria possível reconhecer direitos do nascituro depois de nascer vivo”.
O acolhimento da tese natalista pela doutrina no curso do Século XX é justificável, pois quando da regulamentação do Código Civil Brasileiro de 1916, a existência real da pessoa só poderia ser concretizada a partir do nascimento com vida, visto que no ventre materno não se podia alcançar-lhe, nem tampouco oferecer-lhe a guarida dos seus direitos da personalidade, pois não se teria acesso à sua imagem, não podendo alcançar ou invadir sua intimidade, nem ofender sua honra, ou sequer atribuir-lhe um nome, já que este dependeria do assento de nascimento no registro público. Quanto ao direito à vida, ou à integridade física, sustentava-se haver uma expectativa de direito, que se concretizaria a partir do momento da expulsão das entranhas maternas, promovendo a completa separação de um ser humano do outro, atestando-se que nascesse com vida.
Pois bem, os tempos mudaram e a vida intrauterina não pode mais ser desprezada. Com a ultrassonografia em 3D consegue-se com exatidão alcançar a imagem do feto, permitindo, inclusive, invadir a sua intimidade e até atentar contra sua honra. A atividade cerebral e cardíaca pode ser controlada com a ultrassonografia morfológica. Quanto ao nome, não se faz necessário o registro para que se alcance a proteção dos direitos da personalidade, pois a atual legislação reconhece ao pseudônimo, para os fins lícitos, todos os direitos que corresponderiam ao nome civil. Enfim, novos paradigmas reclamam uma nova postura do direito, não sendo razoável manter um posicionamento ultrapassado, que distancia o direito da realidade.No âmbito do direito penal, inclusive, encontra-se tipificado pelo Código Penal Brasileiro, no título dos crimes contra a pessoa, mais precisamente no capítulo destinado aos crimes contra a vida, a figura do crime de aborto, prescrita no artigo 124 e seguintes, sob a rubrica inicial de Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento.
Partindo da premissa de que o aborto consiste na interrupção da gravidez, ocasionando a morte do feto, privando-lhe do nascimento, faz-se imperioso o reconhecimento da proteção à vida intrauterina pelo Direito Penal, destinando atenção especial ao nascituro, reconhecendo-o como sujeito de direito, tutelando seu direito à vida, não se podendo deturpar a compreensão da lei penal para restringi-la justificando a proteção apenas à mera expectativa de vida.
De forma muito elucidativa posiciona-se Rogério Greco (2008) asseverando que:
A vida tem início a partir da concepção ou fecundação, isto é, desde o momento em que o óvulo feminino é fecundado pelo espermatozóide masculino. Contudo, para fins de proteção por intermédio da lei penal, a vida só terá relevância após a nidação, que diz respeito à implantação do óvulo já fecundado no útero materno, o que ocorre 14 (quatorze) dias após a fecundação. (grifos no original)Assim, a vida da pessoa para a proteção penal tem início a partir da concepção ou fecundação, todavia, se a relevância jurídica da concepção se dá a partir do momento em que o feto ingressa no útero materno passando a desenvolver-se, pode-se compreender porque o uso das chamadas pílulas do dia seguinte não configura o crime de aborto.
A observação da realidade, com respeito à evolução tecnológica e científica, bem como a tentativa de preservar a coerência do ordenamento jurídico nos faz constatar que a afirmativa de que o Código Civil teria adotado as diretrizes da corrente natalista, conferindo a titularidade de direitos à pessoa a partir do nascimento com vida, seria uma postura não apenas precipitada, como deveras equivocada, que segregaria o direito civil da harmonização com as demais diretrizes adotadas pelo ordenamento jurídico do país.
Destarte, diante de tal realidade contemporânea, faz-se necessário promover uma releitura dos paradigmas da tutela do nascituro, de modo a reconhecer que no ventre materno se desenvolve um ser humano, que ontologicamente é, independentemente do nascimento, uma pessoa, somente assim pode ser inteligível delimitarmos o março inicial da titularidade de direitos pela pessoa, desde a concepção, na condição de nascituro, reconhecendo a plenitude da proteção do ser humano pelo ordenamento jurídico brasileiro.
- PERSONALIDADE E CAPACIDADE 
1. Origem etimológica e a metáfora dos manuais
A palavra “pessoa” tem, em sua raiz etimológica, prósopon (grego). Era a máscara que se usava no teatro grego para fazer com que a voz fosse manifestada mais intensamente, para dar voz. Assim como essa máscara, que dá vida aos personagens, a personalidade jurídica dá vida, constitui o que é de mais essencial para ser pessoa no direito brasileiro.
2. Conceito
- Tradicional: Personalidade – aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. Muito assemelhada com uma ideia de ser sujeito de direitos.
Todavia, é preciso ter em mente que a legalidade constitucional alterou a sistemática do direito anterior para encontrar no ser humano o seu centro referencial. Nesse sentido é necessária a superação da compreensão que esgota a personalidade unicamente nesta “aptidão”, a personalidade não pode ser sinônimo de capacidade.
A rigor, há dois sentidos técnicos para o conceito de personalidade. O primeiro associa-se à qualidade para ser sujeito de direito, conceito aplicável às pessoas físicas quanto às jurídicas. O segundo traduz o conjunto de características e atributos da pessoa humana, considerada objeto de proteção privilegiada por parte do
ordenamento, bem jurídico representado pela afirmação da dignidade humana, sendo peculiar, portanto, à pessoa natural”. Gustavo Tepedino – conceito ligado principalmente aos autores do Direito Civil Constitucional. Logo, mais do que ser sujeito de direitos, envolve, nas suas relações, uma série de situações subjetivas existenciais, extrapatrimoniais que requerem uma tutela jurídica diferenciada. Por mais que hoje em dia se diga que pessoas jurídicas sofra dano moral e tenha alguns direitos da personalidade, ela certamente não tem todos os direitos da personalidade, existe uma tutela diferente.
O conceito de personalidade, então, tanto pode se entender como aplicável ao sujeito de direito (aquele apto a ser titular de uma situação jurídica subjetiva – art. 1º, CC), como também objeto de direitos (direito da personalidade).
Assim, para evitar a perigosa mistura de conceitos, parte da doutrina vem denominando esta aptidão para exercer direitos e obrigações de subjetividade, cuja denominação pode ser perfeitamente estendida às pessoas jurídicas e aos entes despersonalizados (condomínio edilício, espólio, fundos de investimentos, entre outros), sem que se traga a estas categorias o conceito de personalidade (conjunto de atribuições da pessoa), intimamente relacionada à pessoa humana.
Mas de forma geral, os manuais acabam dizendo que ser pessoa é ter a possibilidade de ser titular de direitos e deveres, em conformidade com o art. 1º do CC.
Art. 1º - “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Se ela pode exercer a capacidade por si própria, é outra coisa.
A capacidade é a medida dessa personalidade, a forma de exercitar a personalidade, exercer os atributos através das relações jurídicas em que a pessoa é sujeito das relações jurídicas, exercendo seus direitos através do seu regime de capacidade.
3. O começo da personalidade
Art. 2º: “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.
Assim, basta nascer e respirar pela primeira vez para se tornar pessoa humana, para adquirir direitos e contrair obrigações. O direito brasileiro não pede viabilidade da existência da pessoa nem forma humana (alguns códigos europeus adotam, mas são ruins; o segundo critério, principalmente é muito polêmico).
Observação: Colocar a salvo seus direitos do nascituro significa impedir que situações que venham prejudicar os direitos que vão ser estabelecidos com seu nascimento possam ocorrer antes do mesmo.
O CC não nega a existência do nascituro, mas não concede a ele todo esse conjunto de direitos e deveres aos quais corresponde a personalidade. É uma entidade que possui a potencialidade de adquirir direitos, pois a regra é que ele venha a nascer e, nascendo, torne-se sujeito de direitos e essa é a ideia de potência, entendida como aquilo que não é atual, mas pode vir a ser.
Exemplos: Artigos 2; 542; 1609; 1779; 1799, I.
4. Fim da Personalidade
- Art. 6º - A existência da pessoa natural termina com a morte, presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.
a) Morte para fins jurídicos, adotados pela ciência e doutrina, é a morte cerebral.
b) Morte Presumida
- 1ª hipótese - Decretação de ausência (artigos 22 e 23)
- Outras hipóteses: Art. 7 - Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.
Lei 6.015/73 - Art. 88. Poderão os Juízes togados admitir justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível encontrar-se o cadáver para exame.
c) O corpo após a morte
Art. 14: “É valida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único: O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo”.
O art. 14 parece indicar que a pessoa pode livremente dispor do seu corpo após sua morte. Existem controvérsias no Direito em relação a isso. Histórico:
- Lei 9434 criava uma presunção de consentimento de doação quando a pessoa morresse, caso ela dissesse que não queria ser doadora de órgãos – essa lei gerou muitas críticas, pois muitas pessoas, por diversas questões, poderia querer manter a integridade corporal. Começou-se a questionar se isso não era uma estatização do corpo. Levou a edição da:
- MP1718/98 – Quando a pessoa não falasse nada sobre seu corpo, deveria consultar os familiares. Depois:
- Lei 10211/2001 – A vontade dos familiares decide o destino dos órgãos da pessoa após a morte - seria mais relevante que a da própria pessoa. Essa lei é contrária ao CC, que entra em vigor após essa lei.
Apesar de ser mais geral, o CC e a lei de 2001 tratam do mesmo ponto e, por ser mais novo, revogaria a outra (entendimento de alguns doutrinadores mais recentes, mas há controvérsia na hipótese de discordância entre família e a pessoa).
Obs.: Lei nº 8501/92 –“O cadáver não reclamado às autoridade públicas no prazo de 30 dias poderá ser destinado às escolas de medicina para fins de ensino e pesquisas de caráter científico”.
d) Comoriência
Art. 8º: “Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos”.
A comoriência é a morte simultânea de duas ou mais pessoas, sendo elas reciprocamente herdeiras umas das outras.
Essa simultaneidade evita a sucessão entre elas - A consequência da comoriência é que não haverá transmissão de direitos entre os comorientes, isto é, os bens de ambos passarão diretamente aos seus respectivos herdeiros diretos.
II- Teoria Geral dos Direitos da Personalidade
Uma vez que você é reconhecido como pessoa natural, há uma categoria de direitos específica: os direitos da personalidade, que são uma construção jurídica nova, remontam do século XIX.
Existem áreas comuns entre os direitos fundamentais, humanos e da personalidade, como a proteção à honra. Embora, tenham o mesmo objeto (construir um estatuto jurídica que proteja a pessoa), separam-se por áreas do Direito. Os direitos da personalidade são típicos de civil, os fundamentais de Constitucional e os humanos principalmente de Internacional.
Foram reconhecidos de forma mais fortalecida no século XX com as guerras mundiais e conflitos que violaram a pessoa humana, o que representa uma consequência: O código de 1916 não apresentava um capítulo sobre tais direitos, os artigos eram esparsos, pois essa teoria ainda estava em construção e debate durante sua redação. O código de 2002 apresenta.
Quem era contra esses direitos argumentava que a personalidade não podia ser objeto da ciência jurídica – o autor é pessoa e o objeto também é a pessoa, muito abstrato. Isso foi enfraquecido com a ideia de que a pessoa é um sujeito de direitos e deve ter direitos protegidos.
Muitos autores dizem que os direitos da personalidade são uma especificação da defesa da dignidade de pessoa humana, o que demonstra como esse conceito é central para o Direito Civil.
1. Características dos Direitos da Personalidade
Essas seis características não vêm diretamente do CC, mas são inspiradas nele. Compilam vários textos e doutrinas e não são restritamente seis.
a) Generalidade – A forma de concessão dos direitos da personalidade é o nascimento – Vale para todos, geral.
Obs.: Por que não são chamados de direitos inatos? Essa ideia é evitada para que não entre em uma discussão jusnaturalista x positivista. Inato evoca uma ideia de direito natural (que existe independente da lei).
b) Extrapatrimonialidade
Os direitos da personalidade (DP) não têm preço (apreciação pecuniária; uma proteção diferenciada a esses direitos), mas isso não significa que não possa haver uma indenização, isto é, um valor para tentar compensar a lesão que foi causada ao direito e também não significa que não se possam envolver os DP em um contrato. Nem o valor da indenização ou o valor do contrato corresponde ao valor dos seus direitos.
Ex.: Gisele Bünchen – Comercial. O contrato é por um atributo dela, sua imagem. Seus contratos não possuem o mesmo preço (ex.: oral B e pantene), porque o contrato não é o preço do DP, no caso, do direito à imagem.
c) Indisponibilidade
São irrenunciáveis e impenhoráveis, não podem ser objeto de livre disposição, de contratação, alienação → Mas, na realidade, isso acontece. Há contratos envolvendo os DP. Precisamos trabalhar a ideia de indisponível como os DP não podendo ser alienados em sua integralidade (consequentemente não são renunciáveis).
d) Absoluto
Oponíveis erga-omnes – impõe a todos os terceiros o dever de respeitá-los.
É o termo adequado? São absolutos ou oponíveis? O termo absoluto é impreciso para sua definição (tema já discutido na aula de direito subjetivo).
e) Imprescritibilidade
Se um direito é violado, nasce uma pretensão, o poder de exigir dessa pessoa um comportamento (art. 189). Essa pretensão dura por determinado tempo, quando ocorre a prescrição dessa proteção, prescreve o poder de exigir um comportamento da outra parte, mas não o direito.
Ex.: Prescreve o prazo para que você exija que alguém que bateu no seu carro te pague uma indenização, isso significa que você não pode mais exigir tal comportamento dessa pessoa, mas se ela, por vontade própria, decidir te pagar, isso não é considerada uma doação, pois você tinha o direito à indenização, só não podia exigi-lo.
Os livros consideram, então, que os DP sejam imprescritíveis, mas estão fora da realidade, pois isso não se adequa à segurança jurídica. Existe jurisprudência em que se aceita essa imprescritibilidade, mas normalmente respeita os prazos prescricionais no artigo 206, obedecendo ao prazo de 3 anos para ingressar em uma ação por crimes de responsabilidade civil.
A figura de imprescritibilidade é, então, teorizada pelos manuais, mas a jurisprudência se orienta em outro sentido.
f) Intransmissibilidade – impede que os DP venham a ser transferidos com a morte de seu titular.
Ela aparece em grandes partes dos livros de direito civil. Mas, em alguns casos, temos, na própria lei, uma garantia dos direitos post-mortem.
Art. 12, parágrafo único – O artigo dá legitimidade ao cônjuge, a família em linha reta ou colateral até o quarto grau (vai até o ancestral comum e conta quantos até chegar a pessoa) de exigir os direitos da personalidade do morto (tutela inibitória – cessando ameaça – e compensatória).
Logo, hoje se questiona a intransmissibilidade, pois o CC dá abertura para os herdeiros/famílias de entrarem com uma ação. O artigo 20 deixa a honra e a imagem serem protegidas pela família toda, não estabelece limitação ao 4º colateral.
Obs.: O parentesco pode ser consanguíneo ou por afinidade (art. 1595 – o casamento – o parentesco por afinidade, em linha reta, não se dissolve nem com o final do casamento).
2. Classificação dos Direitos da Personalidade
a) Ligados à integridade física (à vida, ao corpo...).
b) Integridade moral
Ex.: Direito moral do autor – Um dos poucos que não se adquire com o nascimento – Ao criar uma obra, tem-se os direitos autorais sobre ela, sem precisar registrá-la, mas registrar é a melhor forma de provar ser o autor.
Obs.: O Direito protege direitos materiais (explorar comercialmente a obra – não tem nada a ver com DP) e morais do autor (é um DP – série de direitos que dizem respeito à relação entre autor e obra, entre eles, o entendimento de que a obra é extensão da personalidade do autor).
3. Fontes dos Direitos da Personalidade
- Tradicional – o ordenamento jurídico apenas reconhece direitos que são pré-existentes a ele (jusnaturalismo) - Principalmente na 2ª metade do século XX.
- Crítica: abre espaço a uma insegurança jurídica – quais são os direitos? Quantos são? O que é natureza humana? - A partir daí outros autores defendem que a única fonte aceitável para os DP é a lei, são positivados (como Tepedino).
4. Qual a melhor maneira de proteger os direitos da personalidade na lei
a) Teoria Pluralista – É melhor ter na lei os DP em espécie, uma análise mais exemplificativa e detalhada, porque são muitos direitos da personalidade.
b) Teoria Monista – Uma cláusula geral única para os DP, uma só bem abrangente, porque a personalidade humana é única.
O CC2002 optou pela teoria pluralista (tem artigos específicos sobre DP específicos), mas os autores, principalmente os ligados ao Direito Civil Constitucional defendem que existe também, no Direito brasileiro, uma verdadeira cláusula geral de defesa da personalidade pela Constituição (Art. 1º, III), mas não o CC.
Logo, o CC é pluralista, mas, NO BRASIL, há os dois.
6. Direitos da Personalidade e pessoa jurídica
A jurisprudência consagrou os DP da pessoa jurídica. Os direitos à imagem e à honra (objetiva e não subjetiva; subjetiva é a honra que a própria pessoa tem de si) são os principais reconhecidos pela jurisprudência. A tese de que a PJ só é afetada no patrimonial é minoritária.
É importante que se some àanálise jurisprudencial, o art. 52 – Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade – abre um espaço para que a jurisprudência possa reconhecer eventualmente outros DP para PJ.
Logo, no Brasil, seja pela jurisprudência, seja pelo art. 52, aplicamos os DP às PJ, mas não na integralidade, pois nem todos cabem à PJ.
7. Tutela e Legitimidade
Art. 2: Tutela inibitória (cessar ameaça ao direito) e tutela indenizatória (compensar pelo dano sofrido).
A resposta ao dano é insuficiente para a possibilidade de danos que a tecnologia, mídia, meios de comunicação vão gerando. Por isso cria o inibitório, mas até antes do CC2002, podia o juiz obrigar alguém a fazer ou deixar de fazer algo pelo art. 461 do Código de Processo Civil.
A tutela inibitória é importante, é uma infração ao livre agir da pessoa (filosofia do direito) pelo poder judiciário, mas, com a expansão dos danos e infinitas possibilidades de danos a terceiros, o Direito achou por bem permitir que os magistrados interferissem.
III- Capacidade e Incapacidade
1. Conceito de Capacidade
- Capacidade de direito – aquisição – como os direitos são de fatos adquiridos pelo direito, potencialidade de adquirir direitos ou de contrair obrigações (=conceito de personalidade clássica)
- Capacidade de fato – exercício – se a pessoa tem capacidade de ela mesma exercer seu direito. É o limite da potencialidade. As pessoas são capazes, sujeitos de direitos, mas, por algum motivo, algumas não podem exercer de forma autônoma, é uma exceção. Tem então, uma redução na capacidade de fato.
2. Absolutamente Incapazes
Art. 3: - “São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I - os menores de dezesseis ano
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses ato
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade”.
Obs.: Menores de 16 são absolutamente incapazes, pois não atingiram o discernimento para distinguir o que podem ou não fazer, o que lhes é conveniente ou prejudicial. É uma regra geral, nem todos são assim, mas precisa de um conceito não subjetivo.
O CC difere da realidade – menores de 16 fazem atos jurídicos civis sem representação, coisas da rotina própria da idade e em pequena quantia (como comprar o lanche). O CC português resolve de forma honrosa esse problema, admitindo esses atos de rotina em pequena quantia.
Obs2: Exemplo dos que não podem exprimir por causa transitória: Ébrios não-habituai
3. Relativamente Incapazes
Art. 4 – “São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito ano
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial”.
I. Idade
É importante ressaltar que a omissão dolosa da idade ou a declaração falsa de idade obriga o menor incapaz ao cumprimento da obrigação – art. 180.
II. Vício
Obs.: Dependendo do grau dos vícios em tóxicos e bebidas alcoólicas, a pessoa perde total discernimento para os atos civis e pode ser enquadrada como absolutamente capaz (por falta de discernimento)
Obs2: Uma área fronteiriça entre direito civil e público: Poderia o Estado internar compulsoriamente aqueles que, de tão viciados, perdem o contato com a família, esquecem o próprio nome, por conta da segurança pública, integridade física e psíquica do indivíduo e outros princípios? Não há conclusão sobre isso.
III. Excepcionais
Ex.: Síndrome de Down.
IV. Pródigo
Pródigo é aquele que por impulso irreprimível desperdiça os seus bens, isto é, dilapida seu patrimônio.
O Código Civil mantém uma linha intermediária, inscrevendo o pródigo entre os relativamente incapazes, mas privando-o exclusivamente daqueles atos que possam comprometer a sua fortuna (emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar etc.).
Observação: Art. 932 → I. Responsabilidade dos pais pelos filhos; II. Tutores; IV – colégio e dono de hotel (não se fala mais em dono de hotel. Quebra nexo causal).
4. Reconhecimento da Incapacidade
Em regra, os atos praticados pelo incapaz mesmo antes da interdição são inválidos. Vale dizer, se praticados por absolutamente incapaz são nulos, enquanto que se praticados por relativamente incapaz, são anuláveis.
Isto porque a sentença de interdição, conforme doutrina civilista, apenas declara a situação de incapacidade já existente antes.
Portanto, o ato desempenhado pelo absolutamente incapaz sem devida representação é nulo. O ato desempenhado pelo relativamente em capaz sem a devida assistência não é nulo, é anulável. A exceção se faz quando tais atos são praticados com terceiro de boa fé, ou seja, aquele que não sabia e não teria como saber que o outro possuía alguma incapacidade (a incapacidade não era visível) e que não tenha causado nenhum prejuízo ao incapaz.
Obs.: Atos nulos x anuláveis
Nulidade
Art. 166, I. Anulabilidade
Violação à ordem pública (mais graves) Violação a interesse particular
Pode ser considerado ex officio, ou seja, juiz pode declarar nulo por vontade própria, sem precisar ser demandado por terceiros. Só pode ser declarado mediante requerimento dos interessado
Não é suscetível de confirmação – A nulidade é tão intensa que não pode ser ratificada, é nula para sempre. Admite ratificação – No caso da capacidade, quando fosse plenamente capaz, poderia ratificar o ato que fez quando antes não era e este vale.
Não convalesce pelo decurso do tempo (art. 169) Prazo decadencial de 4 anos (prazo para poder pleitear a anulação do ato).
Não produz efeitos Produz efeitos até a sentença que declara invalidade.
5. Emancipação
A emancipação é um instrumento jurídico para conceder àquele que era relativamente incapaz a capacidade de fazer atos jurídicos. Não significa que atingiu a maioridade antes da hora, pois esta é um conceito cronológico.
Art. 5º: “A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completo
II - pelo casamento
III - pelo exercício de emprego público efetivo
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria”.
Suprimento e cessação da incapacidade civil (tutela e curatela)
A incapacidade cessa desaparecendo os motivos que a determinaram. O art. 5º do Código Civil prevê as formas de cessação da incapacidade:
Maioridade
A maioridade civil começa aos 18 anos completos, tornando-se a pessoa apta para as atividades da vida civil que não exigirem limite especial. Cessa a menoridade no primeiro momento do dia em que o individuo completa os 18 anos. No caso das pessoas nascidas no dia 29 de fevereiro de ano bissexto, completa a maioridade no dia 1º de março.
O limite de 18 anos foi adotado também no Código Civil português de 1966, no Código Civil italiano, no Código Civil argentino, bem como em varias legislações modernas, mas não encontra correspondência em diversos sistemas jurídicos, visto decorrer de mera opção legislativa e não de algum critério cientifico.
Desse modo, há diferenças, como por exemplo, a plenitude da capacidade civil é alcançada, no direito suíço, aos 20 anos; no alemão, aos 21; no espanhol, aos 23; no chileno, aos 25.
O critério é unicamente etário: leva-se em conta somente a idade, mesmo havendo, em determinados casos, maturidade precoce. Não há diferença de tratamento em relação ao sexo, aplicando-se o mesmo limiteao homem e à mulher.
“Essa capacidade de natureza civil não deve ser confundida com a disciplinada em leis especiais, como a capacidade eleitoral, que hoje se inicia, facultativamente, aos 16 anos (CF, art. 14, § 1º, II, c; Código Eleitoral, art. 4º), nem com a idade limite para o serviço militar (17 anos, para fins de alistamento e prestação do serviço militar, segundo o art. 73 da Lei n. 4.375/64, reproduzido no Dec. n. 57.654/66) ou com a prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069, de 13-7-1990, art. 2º, paragrafo único) para a aplicação de suas normas às pessoas entre 18 e 21 anos de idade, nos casos expressos em lei e excepcionalmente. Igualmente não deve ser confundida com a idade em que tem início a responsabilidade penal. Se esta vier a serem antecipados para os 16 anos, como pretendem alguns, em nada tal redução afetará a maioridade civil, que permanecerá regida por dispositivo especifico do Código Civil.
No direito anterior, a maioridade civil era atingida aos 21 anos. O atual Código antecipou-a para 18 anos, ensejando a equiparação com a maioridade criminal, trabalhista e eleitoral. Entendeu o legislador que os jovens de hoje amadurecem mais cedo, em decorrência das circunstancias da vida contemporânea, como os modernos meios de comunicação, incluindo-se os recursos da informática, que conduzem a uma precoce formação cultural e a uma prematura experiência de vida. Desse modo, aos 18 anos os jovens passaram a responder civilmente pelos danos causados a terceiros, ficando autorizados a praticar validamente todos os atos da vida civil sem a assistência de seu representante legal, como adotar uma criança, por exemplo, desde que sejam 16 anos mais velhos que o adotado (art. 1.618)”. [1]
Emancipação Voluntária
Os pais podem emancipar o menor entre 16 e 18 anos.
Emancipação significa o ato de tornar livre ou independente.
Logo, a emancipação voluntária é a que decorre da concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro. De modo que a anuência (elemento volitivo) é requisito fundamental para realizar o ato da emancipação do filho, isto é, não poderá haver discordância de vontade parental.
Caso um dos pais não concordar com a emancipação, o Juiz poderá autorizá-la se a recusa não tiver uma justificativa válida. Esse ato é chamado de suprimento judicial.
Todo o procedimento é feito em cartório, através de uma escritura pública, não havendo necessidade de homologação judicial para tanto. A lei estabelece um único requisito fundamental, o menor emancipado deverá ter 16 anos completos.
Emancipação Judicial
Na emancipação judicial, cessará a incapacidade do menor, que tenha no mínimo 16 anos completos, a pedido de seu tutor, quando os pais forem ausentes, ou ainda, se estiverem destituídos do poder familiar.
Essa hipótese também poderá ocorrer se houver divergência entre os pais (um quer emancipar e o outro não), o caso deverá ser levado ao Poder Judiciário para ser julgado.
Após a sentença, o juiz irá comunicar o oficial do cartório para proceder o registro.
Emancipação Legal
A emancipação legal se dá de forma automática, quando as situações previstas na lei são alcançadas. São 4 as formas de emancipação legal:
I) Pelo casamento
Toda pessoa poderá contrair casamento a partir dos 16 anos, desde que autorizadas pelos pais ou tutores. A partir do momento em que o pai autoriza seu filho menor a se casar, tacitamente está autorizando a sua emancipação, para que tenha capacidade plena para iniciar uma nova família. Ilógico seria o contrário, permanecendo o vínculo parental mesmo após o matrimônio.
Importante destacar que essa regra, por objetiva previsão legal, só se aplica ao casamento, isto é, não se aplica à união estável.
II) Pelo exercício de emprego público efetivo
Muito embora essa previsão ainda esteja contemplada em nosso Código Civil, é muito raro a lei permitir o provimento de emprego público efetivo, já que para a maioria deles, ter 18 anos completos é requisito.
III) Pela colação de grau em curso de ensino superior
Com a extensão do ensino fundamental e médio no sistema educacional brasileiro, torna-se muito difícil que o sujeito cole grau antes de completar a maioridade civil natural. No entanto, por haver estrita previsão legal, essa hipótese também é aceita para o caso de um superdotado vir a colar grau antes dos 18 anos, tornando-se emancipado.
IV) Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.
Neste caso, adquire a emancipação o menor de 16 anos que se estabelecer como comerciante ou que tenha relação empregatícia nos moldes da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), desde que, para esses dois casos, o indivíduo tenha  economia própria, ou seja, que possa prover meios financeiros para se sustentar, não dependendo dos pais ou do seu tutor.
Emancipação é ato irrevogável
É importante destacar que o ato de emancipação é irrevogável.
O que significa que, se uma jovem de 16 anos, com autorização dos pais, se casa e, após seis meses, por alguma razão, esse casamento é dissolvido pelo instituto do divórcio, separação judicial ou ainda pela morte do cônjuge, ela não retorna para ao “status quo” anterior, ou seja, não poderá ser novamente incapaz.
Doutrina
A menoridade, à luz do Novo Código Civil, cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil (art. 5.º).
Nesse ponto, vale anotar a curiosa observação de WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO:
“Interessantes problemas relacionam-se intimamente com o advento da maioridade. O primeiro é este: em que instante, precisamente, se completa a maioridade? Contam-se os 21 anos de momento a momento? Será preciso se compute o último dia integralmente? A opinião mais correta é no sentido de que o indivíduo se torna maior e capaz no primeiro momento do dia em que perfaz os 21 anos. Se ele nasceu num ano bissexto, a 29 de fevereiro, a maioridade será alcançada no 21.º ano, mas a 1.º de março. Se ignorada a data do nascimento, exigir-se-á exame médico, porém, na dúvida, pender-se-á́ pela capacidade (in dubio pro capacitate).”
Ocorre que é possível a antecipação da capacidade plena, em virtude da autorização dos representantes legais do menor ou do juiz, ou pela superveniência de fato a que a lei atribui força para tanto.
Cuida-se da emancipação, figura equivalente à declaração de maioridade do direito alemão e do direito suíço.[1]
TUTELA E CURATELA (distinção)
Tutela e curatela são institutos autônomos e que não possuem relação entre si, embora tenham semelhanças em alguns aspectos. Os dois se prestam ao papel fundamental de proteger pessoas incapazes que necessitam do auxílio de outrem para agir em seu nome e tomar decisões.
A curatela é um encargo atribuído por juiz para que uma pessoa zele, cuide e gerencie o patrimônio de outra que tem mais de dezoito anos e é judicialmente declarada incapaz. Independe se essa incapacidade adveio de má formação congênita, transtornos mentais, dependência química ou doença neurológica, sendo apenas necessário que por conta desse problema ela esteja impossibilitada de reger os atos da sua vida civil.
Por outro lado, a tutela é um encargo atribuído por um juiz para que um adulto capaz possa proteger, zelar e administrar o patrimônio de crianças e adolescentes. Geralmente é dado quando os pais do menor de idade estão ausentes ou são falecidos e se prolonga até que o tutelado atinja a maioridade civil, ou seja, dezoito anos.
Podem seres curadores as pessoas que tenham relação direta com o curatelado, tal como seus pais, irmãos, cônjuge e filhos. Na ausência deles, o Ministério Público poderá suprir a ausência. Para assumir a tutela, porém, pode ser qualquer pessoa próxima à criança ou adolescente, desde que seja idônea, não possua causas que sejam contra o interesse do tutelado e que tenha a real intenção de zelar por ele e seu patrimônio.
Cabe ao curador e ao tutor, em igual medida,proteger os interesses do tutelado ou curatelado, provendo sua alimentação, saúde e educação de acordo com suas necessidades e condições. Em caso de falecimento do curador ou tutor, caberá ao juízo que o nomeou efetuar a substituição da forma mais rápida possível, para que seja dada continuidade à administração dos bens. Em caso de não cumprimento ou descumprimento das suas obrigações, poderá ser pedida a sua substituição.
Ademais, tanto na tutela quanto na curatela são feitas prestações de contas perante o juiz para descrever os gastos e ganhos financeiros. Poderá ser anual, semestral ou trimestral, de acordo com o que for determinado pelo juízo que conferir a medida. Caso haja comprovação de irregularidade ou suspeita de que o dinheiro do tutelado ou curatelado esteja sendo usados para fins que não sejam os de sua necessidade, poderá ser ajuizada Ação Cível.
São dois institutos do Direito Civil com semelhanças, mas, também, com particularidades. Apesar das características em comum, porém, não se confundem, principalmente pela clara diferença entre o tutelado e curatelado no que diz respeito às características que os definem como tal.
A PESSOA NATURAL (AULA 3)
São três as formas de individualização da pessoa natural: nome, estado e domicílio.
Nome
É um dos mais importantes atributos da pessoa natural, pois individualiza o ser humano. Constitui-se por dois elementos necessários:
prenome – “nome” próprio do indivíduo, que pode ser simples (ex.: João) ou composto (ex.: João Paulo); e
sobrenome – apelido de família. Indica a procedência da pessoa e a sua filiação. Pode decorrer de sobrenome materno, sobrenome paterno ou da conjunção dos dois.
Facultativamente, o nome poderá ser composto pelo agnome e pela inserção de alcunha.
Agnome: terminação distintiva do sobrenome. O agnome individualiza a pessoa dentro de seu grupo familiar. Ex.: Filho, Júnior, Neto.
Alcunha: designação dada a alguém levando em consideração determinadas situações particulares; é um apelido. Ex.: Gugu, Xuxa, Zico.
O nome é um direito da personalidade e, sendo assim, é em regra, imutável; mas a imutabilidade do nome comporta algumas exceções e será possível a alteração do nomequando ocorrer.
Exposição ao ridículo: são situações em que a pessoa passa por constrangimento ou tem abalos emocionais por força do nome que utiliza.
Erro gráfico evidente: o erro gráfico evidente também é admitido pela Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/73).
Uso prolongado e constante de nome diverso daquele que figura no registro: pode ser que a pessoa ao possibilitar que toda e qualquer pessoa no primeiro ano após a maioridade civil possa alterar o nome.
Inclusão de alcunha: temos diversos casos conhecidos, como Xuxa e Pelé. Trata-se de situações em que a alcunha compõe a personalidade da pessoa, situações em que, portanto, o nome poderá ser alterado com a inclusão da alcunha.
Homonímia: é possível, para a prevenção de dissabores, danos ou prejuízos a interesses personalíssimos que visem à preservação da integridade moral e intelectual da pessoa que, quando exposta a situações vexatórias por ter um homônimo, tenha a prerrogativa, por meio da tutela jurisdicional, de modificar seu nome, com fulcro na cláusula geral do art. 12 do Código Civil, com vista a espancar a possibilidade de lesões aos seus interesses pessoais.
Adoção – nos casos de adoção, há disposição expressa.
Tradução – realizada por tradutor juramentado.
Mudança de estado familiar individualizador: casamento, separação, divórcio e união estável. Conforme as regras diversas previstas no Código Civil.
Proteção à Testemunha: “Art. 58. O prenome será definitivo. Parágrafo único. A substituição do prenome será ainda admitida em razão de fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime, por determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido o Ministério Público.”
Estado
É o modo particular de existir de cada um. Divide-se em estado individualizador individual, familiar e político.
Individual: O neonato (pessoa que nasceu com vida e respirou ao menos uma vez) passa a ter seu Estado Individual, ou seja, torna-se um individuo, tem seus próprios direitos. Juridicamente falando, torna-se sujeito de direito. Adquire, por força de lei, individualidade: física, psíquica e social. Caracteriza-se individualmente pelos seguintes atributos: idade, sexo, saúde.
Familiar: Trata-se do vínculo conjugal, do parentesco por consanguinidade, ou ainda, do parentesco por afinidade. 
Família é o grupo de parentes que é ligado ao neonato devido vinculo de sangue ou afinidade. Exitem, dentro da família, linhas de parentesco, conforme exposição abaixo:
Parentesco de 1º grau: parentesco em linha reta, consanguíneo. São os pais e filhos.
Parentesco de 2º grau: parentesco em linha reta, consanguíneo. São os avôs e netos.
Observação importante: Os graus de parentesco em linha reta não tem limites.
Parentesco de 2ºgrau Colateral: consanguíneo. São os irmãos.
Parentesco de 4ºgrau Colateral: consanguíneo. São os primos, por exemplo.
Observação importante: Os graus de parentesco em linha colateral são aceitos até o 4º grau somente.
Parentesco por afinidade – 0º grau – esposo, esposa (só esse vínculo se encerra com o divórcio).
Parentesco por afinidade – 1ºgrau – sogro, sogra (esse vínculo não se encerra com o divórcio)
Parentesco por afinidade – 2ºgrau – cunhado, cunhada (esse vínculo não se encerra com o divórcio).
Político: O Estado Político trata da nacionalidade. A nacionalidade garante ao neonato um vínculo Estatal e assim ele fica protegido pelas leis nacionais.
Existem 3 níveis de Estado Político (art. 12 da Constituição Federal)
 Brasileiro nato: nacionalidade adquirida em função do nascimento;
 Brasileiro reconhecido: nacionalidade adquirida por morar em domicilio dos pais brasileiros, mesmo que os mesmos tenham nascido em outro país;
 Brasileiro naturalizado: nacionalidade adquirida através de consentimento judicial, ou seja, os pais da pessoa não são brasileiros, a própria pessoa não é brasileira, mas pediu ao Poder Judiciário para que fosse reconhecido como brasileiro. Enfim, nacionalidade em função judicial.
Domicílio
É o local onde se permanece com ânimo definitivo. Seu conceito reúne dois elementos: o psicológico (vontade) e o físico (residência). Pode ser:
voluntário, o fixado de maneira livre;
de eleição ou especial, o estabelecido por lei ou judicialmente; terão domicílio necessário: o incapaz (os menores ou interditos, cujo domicílio necessário é a casa dos pais, tutores ou curadores), o servidor público, o militar, o marítimo e o preso, consoante o art. 76 do CC;
plural, quando a pessoa tem várias residências onde alternadamente viva, conforme disposição expressa do art. 71 do CC.
Doutrina
Modos de individualização
É essencial que os sujeitos das diversas relações sejam individualizados, perfeitamente identificados como titulares de direitos e deveres na ordem civil. Essa identificação interessa não só a eles mas também ao Estado e a terceiros, para maior segurança dos negócios e da convivência familiar e social. Os principais elementos individualizadores da pessoa natural são:
Nome, designação que a distingue das demais e a identifica no seio da sociedade.
Estado, que indica a sua posição na família e na sociedade política.
Domicílio, que é a sua sede jurídica.
O nome completo também pode sofrer alterações em caso de transsexualismo:
Transexualismo: tem essa condição sido invocada, também, em pedidos de retificação de nome e de sexo no registro civil. Confira‐se: “Ainda que não se admita a existência de erro no registro civil, não se pode negar que a utilização de nome masculino por transexual que se submeta a cirurgia de mudança de sexo o expõe ao ridículo, razão pela qual admite‐se a modificação para o prenome feminino que o autor da pretensão vem se utilizando para se identificar, nos moldes do art. 55, par. ún., c/c o art. 109 da Lei 6.015/73. A Constituição Federalde 1988, em seu art. 5º, X, inclui, entre os direitos individuais, a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, fundamento legal autorizador da mudança do sexo jurídico de transexual que se submeteu a cirurgia de mudança de sexo, pois patente seu constrangimento cada vez que se identifica como pessoa de sexo diferente daquela que aparenta ser”86. Na IV Jornada de Direito Civil, realizada pelo CJF/STJ, foi aprovado o Enunciado 276, do seguinte teor: “O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência médica, autoriza as cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a consequente alteração do prenome e do sexo no Registro Civil”. O Tribunal de Justiça de São Paulo autorizou a mudança de nome no registro civil de transexual, antes mesmo de mudança de sexo. Correta a decisão, visto que a transexualidade deve ser constatada em avaliação psiquiátrica, uma vez que se trata de um transtorno mental, e não em exame físico[1]
Jurisprudência
“APELAÇÃO CÍVEL. Ação de retificação de registro civil. Autor transexual almeja que seu nome social feminino substitua o nome masculino oficialmente registrado. Sentença de extinção do feito, por falta de interesse processual, a exigir submissão a procedimento cirúrgico de redesignação de sexo, como condição para alteração do registro civil. Apelo do autor. Conjunto probatório apto a demonstrar tratar-se de pessoa transexual, não identificada com o sexo masculino, que aguarda fila para realização de cirurgia de mudança de sexo. Não apenas tem a pessoa natural direito ao nome que lhe é dado no momento do nascimento para identificá-la, como também tem direito ao nome com o qual se identifique, e do qual não advenham constrangimentos. Apego às regras estanques da imutabilidade e indisponibilidade do nome não podem servir de justificativa para limitar direito fundamental do indivíduo transexual à fruição plena de sua cidadania, sob pena de violação ao princípio da dignidade da pessoa humana. Se, por prevalência de princípio constitucional, admite-se a relativização das normas registrais, não se pode condicionar esta relativização à realização de procedimento cirúrgico de transgenitalização, o que significaria a instituição de requisito discriminatório, a forçar indivíduos a realizar interferências cirúrgicas no próprio corpo, nem sempre desejadas. Precedentes desta Câmara e Tribunal. Sentença reformada, para permitir a alteração do registro civil e substituição do prenome masculino. Recurso provido.”(v.20362).
Questões
(I EXAME UNIFICADO – OAB – FGV – 2010) Considere que o filho de Mário Lins de Souza e de Luna Ferreira de Melo tenha sido registrado com o nome de Paulo de Souza. Nessa situação hipotética,
a) Paulo, se assim o desejar, poderá, no prazo de até um ano após atingir a maioridade, introduzir em seu nome um patronímico materno, sem que precise justificar sua vontade.
b) é obrigatória, em razão da abolição do traço patriarcal da legislação civil brasileira, a adoção do sobrenome materno, de modo que o registro de nascimento de Paulo poderá ser alterado a qualquer momento e, até mesmo, de ofício.
c) apenas por meio do casamento será possível a Paulo alterar seu nome, o que será feito com a inclusão de sobrenome da esposa.
d) Paulo poderá, se assim o desejar, incluir em seu nome apelido que seja notório, o que deverá ocorrer por meio de pedido devidamente instruído e dirigido ao oficial do cartório de registro civil.
[showhide type=”q1a”]Resposta: a [/showhide]
(XII EXAME UNIFICADO – OAB – FGV – 2013) João Marcos, renomado escritor, adota, em suas publicações literárias, o pseudônimo Hilton Carrillo, pelo qual é nacionalmente conhecido. Vítor, editor da Revista “Z”, empregou o pseudônimo Hilton Carrillo em vários artigos publicados nesse periódico, de sorte a expô-lo ao ridículo e ao desprezo público. Em face dessas considerações, assinale a afirmativa correta.
a) A legislação civil, com o intuito de evitar o anonimato, não protege o pseudônimo e, em razão disso, não há de se cogitar em ofensa a direito da personalidade, no caso em exame.
b) A Revista “Z”pode utilizar o referido pseudônimo em uma propaganda comercial, associado a um pequeno trecho da obra do referido escritor sem expô-lo ao ridículo ou ao desprezo público, independente da sua autorização.
c) O uso indevido do pseudônimo sujeita quem comete o abuso às sanções legais pertinentes, como interrupção de sua utilização e perdas e danos.
d) O pseudônimo da pessoa pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, quando não há intenção difamatória.
Fim da Personalidade da Pessoa Natural
A personalidade se dá com o nascimento com vida, acompanhando o indivíduo durante toda a sua vida. E termina com o fim da existência da pessoa natural, ou seja, com a morte (art. 6º, CC).
Verificada a morte de uma pessoa, desaparecem, como regra, os direitos e as obrigações de natureza personalíssima (ex.: dissolução do vínculo matrimonial, relação de parentesco, etc.). Já os direitos não personalíssimos (em especial os de natureza patrimonial) são transmitidos aos seus sucessores.
Num sentido genérico podemos dizer que há três espécies de morte:
Real;
Civil;
Presumida.
A doutrina acrescenta também a hipótese da Lei nº 9.140/95 que reconheceu como mortos, para todos os efeitos legais (morte legal), os “desaparecidos políticos”.
1 Morte Real
A personalidade civil termina com a morte física, deixando o indivíduo de ser sujeito de direitos e obrigações.
A morte, portanto, é o momento extintivo dos direitos da personalidade. A morte real se dá com o óbito comprovado da pessoa natural e o critério jurídico de morte no Brasil é a morte encefálica (Lei 9.434/97 – Lei de Transplantes).
A regra geral é que inicialmente se exige um atestado de óbito (para isso é necessário o corpo), que irá comprovar a certeza do evento morte, devendo o mesmo ser lavrado por profissional registrado no Conselho Regional de Medicina.
Com este documento é lavrada a certidão de óbito, por ato do oficial do registro civil de pessoa natural, sendo esta a condição para o sepultamento. Na falta do corpo, recorre-se aos meios indiretos de comprovação morte real (também chamada de justificação judicial de morte real).
Isto está disciplinado no art. 88 da Lei nº 6.015/73 (Lei de Registros Publicos): "Poderão os juízes togados admitir justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em naufrágios, incêndio, terremoto ou outra qualquer catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível encontrar o cadáver para exame".
Se um avião explode matando todos os passageiros, há o óbito comprovado de todos; entretanto, pode ser que não tenhamos os corpos de todos os passageiros. Mesmo assim podemos dizer que houve a morte real, pela justificação judicial: não foram encontrados todos os corpos, mas há certeza da morte de todos.
2 Morte Civil
A morte civil era a perda da personalidade em vida. A pessoa estava viva, mas era tratada como se estivesse morta. Geralmente era uma pena aplicada a pessoas condenadas criminalmente, em situações especiais.
Atualmente, pode-se dizer ela não existe mais. No entanto, há resquícios de morte civil. Ex.: exclusão de herança por indignidade do filho, “como se ele morto fosse” (vejam esta expressão no art. 1.816, CC); embora viva, a pessoa é ignorada para efeitos de herança.
3 Morte Presumida
Ocorre quando não se consegue provar que houve a morte real. O tema é tratado inicialmente pelos arts. 6º e 7º, CC.
Vejamos primeiro o art. 6º, CC, que é bem mais complexo, pois exige a declaração de ausência, que está prevista nos arts. 22 a 39, CC. Ausência é o desaparecimento de uma pessoa do seu domicílio.
A pessoa que deixa de dar notícias de seu paradeiro por um longo período de tempo, sem deixar um representante (procurador) para administrar seus bens(art. 22, CC). Os efeitos da morte presumida são patrimoniais (protege-se o patrimônio do ausente) e alguns pessoais (ex.: o estado de viuvez do cônjuge do ausente).
A ausência só pode ser reconhecida por meio de um processo judicial composto de três fases:
Curadoria de ausentes;
Sucessão provisória;
Sucessão definitiva.
3.1 Declaração de ausência
Ausente uma pessoa, qualquer interessado na sua sucessão (e até mesmo o Ministério Público) poderá requerer ao Juiz a declaração de ausência e a nomeação de um curador, obedecendo a ordem do art. 25, CC.
Trata-se da curadoria dos bens do ausente. Os bens são arrecadados e entregues ao curador apenas para os mesmos sejam administrados (não há efeitos pessoais). Durante um ano (no caso do ausente não deixar representante ou procurador) devem-se expedir editais convocando o ausente para retomar a posse de seus haveres.
Com a sua volta opera-se a cessação da curatela, o mesmo ocorrendo se houver notícia de seu óbito comprovado. No entanto, se o ausente deixou um representante para cuidar de seus interesses, aquele prazo (de um ano) eleva se para três anos.
3.2 Sucessão Provisória
Se o ausente não comparecer no prazo (um ou três anos, dependendo da hipótese), poderá ser requerida e aberta a sucessão provisória e o início do processo de inventário e partilha dos bens.
No processo de ausência a sentença do Juiz é dada logo no início do processo, para que se inicie a sucessão provisória. Mas esta sentença determinando a abertura da sucessão ainda não produz efeitos de imediato.
O art. 28, CC prevê uma cautela a mais. Ou seja, concede um prazo de mais 180 dias para que o ausente reapareça e tome conhecimento da sentença que determinou a abertura da sucessão provisória de seus bens.
Assim, a sentença somente irá produzir efeitos 180 dias após sua publicação na imprensa. Trata-se, digamos, de uma “última chance” que se dá ao ausente. Após este prazo, a ausência passa a ser presumida.
Nesta fase cessa a curatela dos bens do ausente. É feita a partilha dos bens deixados e agora são os herdeiros, de forma provisória e condicional (e não mais o curador) que irão administrar os bens, prestando caução (ou seja, dando garantias de que os bens serão restituídos no caso do ausente aparecer).
No entanto, se estes herdeiros forem descendentes, ascendentes ou cônjuge do ausente, não necessitam prestar a caução.
Nesta fase os herdeiros ainda não têm a propriedade; exercem apenas a posse dos bens do ausente. Apenas se antecipa a sucessão, sem delinear definitivamente o destino dos bens desaparecido.
Por isso os sucessores ainda não podem vender os bens. Os imóveis somente podem ser vendidos com autorização judicial. A sucessão provisória é encerrada se o ausente retornar ou se comprovar a sua morte real.
Convém acrescentar que o descendente, o ascendente e o cônjuge (herdeiros necessários) que forem sucessores provisórios do ausente e estiverem na posse dos bens terão direito a todos os frutos e rendimentos desses bens.
Se seu pai retornar posteriormente, o filho não será obrigado a restituir os aluguéis que recebeu com a casa e nem o que lucrou explorando a fazenda. Já os demais sucessores terão direito somente à metade destes frutos ou rendimentos.
3.3 Sucessão definitiva
O art. 37, CC. Após 10 (dez) anos do trânsito em julgado da sentença de abertura da sucessão provisória, sem que o ausente apareça, será declarada a morte presumida. Nesta ocasião converte-se a sucessão provisória em definitiva.
Os sucessores deixam de ser provisórios, adquirindo a propriedade plena (ou o domínio) e a disposição dos bens recebidos. Porém esta propriedade é considerada resolúvel. Isto é, se o ausente retornar em até 10 (dez) anos seguintes à abertura da sucessão definitiva terá direito aos bens, mas no estado em que se encontrarem.
Ou então terá direito ao preço que os herdeiros houverem recebido com sua venda. Se regressar após esse prazo (portanto após 21 anos de processo), não terá direito a mais nada. É interessante acrescentar que o art. 38, CCpossibilita se requerer a sucessão definitiva provando-se que o ausente conta com 80 anos de idade e que de cinco datam as últimas notícias dele.
É nesta fase (na sucessão definitiva, ou seja, até 10 anos após o trânsito em julgado da sentença de abertura da sucessão provisória) que também se dissolve a sociedade conjugal, considerando-se rompido o vínculo matrimonial. É o que prevê o art. 1.571, § 1º do CC. Neste caso o cônjuge será considerado viúvo (torna-se irreversível a dissolução da sociedade conjugal), podendo se casar novamente.
No entanto este cônjuge não precisa esperar tanto tempo para se casar novamente. Mesmo antes de ser considerado viúvo ele pode ingressar com um pedido de divórcio, atualmente, com a edição da Emenda Constitucional nº 66/2010, muito mais simples e sem necessidade de aguardar prazos. Divorciada, a pessoa já está livre para convolar novas núpcias.
3.3.4 A hipótese do Art. 7º do Código Civil
É bem mais fácil, pois permite a declaração da morte presumida sem decretação de ausência. Isto é assim para melhor viabilizar o registro do óbito, resolver problemas jurídicos e regular a sucessão causa mortis. Vejamos as duas situações excepcionais:
For extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida.
Pessoa desapareceu em campanha ou feito prisioneiro e não foi encontrado até dois anos após o término da guerra.
A declaração de ausência nestes casos somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. Com a declaração de ausência nas hipóteses previstas, abre-se a sucessão definitiva. O patrimônio do “morto presumido” se transforma em herança, sendo que os herdeiros já podem ter a posse dos bens.
3.4 Comoriência
Comoriência é o instituto pelo qual se considera que duas ou mais pessoas morreram simultaneamente, sempre que não se puder averiguar qual delas pré-morreu, ou seja, quem morreu em primeiro lugar. Art. 8º, CC: “Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos”.
Trata-se de uma presunção relativa (juris tantum), ou seja, que admite prova em contrário. Aplica-se o instituto da morte simultânea sempre que houver uma relação de sucessão hereditária entre os mortos. Se não houver esta relação também não haverá qualquer interesse jurídico na questão.
A consequência prática é que se os comorientes forem herdeiros uns dos outros, não haverá transferência de bens e direitos entre eles; um não sucederá o outro.
4.1 Questão em debate
E se duas pessoas falecerem em locais diferentes, mas nas mesmas circunstâncias de tempo?
Há autores que defendem a posição de que somente haverá comoriência se as mortes se derem no mesmo acontecimento, lugar e tempo.
Outros afirmam, que embora o problema da Comoriência tenha começado a ser regulado a propósito de caso de morte conjunta no mesmo acontecimento, ele se coloca com igual relevância em matéria de efeitos nos casos de pessoas falecidas em lugares e acontecimentos distintos, mas em datas e horas simultâneas ou muito próximas.
A expressão na mesma ocasião não requer que o evento morte se tenha dado na mesma localidade; basta que haja inviabilidade na apuração exata da ordem cronológica dos óbitos.
5 Efeitos do fim da personalidade
São os principais efeitos do fim da personalidade:
Dissolução do vínculo conjugal e do regime matrimonial;
Extinção do poder familiar;
Extinção dos contratos personalíssimos, etc.
Outro efeito de suma importância é a extinção da obrigação de prestar alimentos com o falecimento do credor. Observem que o credor é a pessoa que estava recebendo a pensão alimentícia; morrendo não faz mais jus ao benefício e este não se transmite a seus herdeiros.
No entanto, no caso de morte do devedor (que é a pessoa que paga a pensão alimentícia), os herdeiros deste assumirão a obrigação até as forças da herança. Trata-se de uma inovaçãodo atual Código, tratada no Direito das Sucessões.
No entanto, não podemos aplicar o brocardo mors omnia solvit (a morte dissolve tudo) no Direito Civil.
Como vimos, muitos dos direitos de personalidade se estendem após à morte da pessoa. A vontade do de cujus, pode sobreviver por meio de um testamento. Ao cadáver é devido respeito.
Os militares e os servidores públicos de uma forma geral podem ser promovidos post mortem. Alguns direitos ainda permanecem (podendo sofrer ameaça ou lesão) e devem ser respeitados, sendo tutelados pela lei, como o direito à imagem, à honra, ao nome, aos direitos autorais, etc.
( PLANO DE AULA 3 e o 4 tratam do mesmo assunto)
PLANO DE AULA 5
3. Direitos da personalidade e pessoas jurídicas
Podem as pessoas jurídicas ser titulares de direitos da personalidade?
A resposta nos parece negativa, uma vez que os direitos da personalidade, seja na concepção monista, seja na pluralista, seja ainda sob a perspectiva de uma cláusula geral de tutela da personalidade, se destinam à proteção e ou promoção da pessoa humana, tendo por base a tábua axiológica constitucional.
A pessoa jurídica recebe proteção na medida em que é meio para atingir fins almejados pelas pessoas naturais. Por detrás delas estarão sempre pessoas humanas, estas sim, objeto da cláusula geral de tutela da personalidade. Quando se ofende a “honra” da pessoa jurídica, está-se prejudicando as pessoas naturais que dela dependem ou dela se utilizam para sua realização. Daí a proteção dispensada pela Lei, por exemplo, à “honra” e ao nome da pessoa jurídica.
Há quem entenda, porém, que as pessoas jurídicas podem ser titulares de direitos da personalidade, evidentemente daqueles que com ela sejam compatíveis, tais como o nome, símbolos, marca, crédito e mesmo direito à honra.[10] É posição, como vimos, um tanto quanto questionável, uma vez que não se pode conceber a pessoa jurídica, a não ser como irradiação do próprio ser humano e suas atividades econômicas. É a ele, em última instância, que se deseja proteger e promover.
O Código Civil, em seu art. 52, estabelece que se aplica às pessoas jurídicas a proteção dos direitos da personalidade. A norma pode ser interpretada de duas formas: a primeira, a mais óbvia e fácil, seria no sentido entender que o legislador concedeeu às pessoas jurídicas titularidade de direitos da personalidade. No entanto, de acordo a segunda interpretação, menos óbvia, a intenção da Lei não é a de considerar a pessoa jurídica titular de direitos da personalidade, mas tão-só a de conferir um meio de proteção e de reparação às lesões sofridas pelas pessoas jurídicas no respeitante a seu nome ou reputação, de vez que tais lesões atingem, seja os sócios ou acionistas, seja o desenvolvimento de suas atividades econômicas. Em última instância, mesmo o art. 52 do Código Civil visa, em última instância, proteger o ser humano.
Direitos da personalidade 
No Brasil, a sede principal dos direitos da personalidade é a própria Constituição. É ela que prevê de forma, pode-se dizer, implícita a cláusula geral de tutela da personalidade, ao eleger como valor fundamental da República a dignidade da pessoa humana, que deverá ser protegida e promovida individual e socialmente.
Arrola o legislador constituinte vários direitos da personalidade, que denomina fundamentais, tais como a liberdade, a honra e outros, deixando claro, evidentemente, que a lista não é exaustiva. Adota, pois, claramente, a tese pluralista dos direitos da personalidade.
O Código Civil de 2002, na mesma esteira, dedica, timidamente, aos direitos da personalidade o Capítulo II do Título I do Livro I da Parte Geral, arts. 11 a 21.
Não se pode dizer que o Diploma Civil contenha, de forma clara, uma cláusula geral de tutela da personalidade. Limita-se a dispor que os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo sofrer limitações voluntárias em seu exercício. Além disso, prevê a possibilidade de se exigir que cesse qualquer ameaça a esses direitos, além da indenização por lesão que venham a sofrer.
Em seguida, passa a tratar de alguns direitos da personalidade, a saber o direito ao próprio corpo, ao nome, à honra, à reputação e à intimidade.
O Código Brasileiro, ao contrário de outros, como o japonês,[11] por exemplo, preocupa-se muito mais, para não dizer tão-só, com as possíveis patologias dos direitos da personalidade, em vez de tutelar a personalidade de modo mais holístico, promovendo a dignidade humana e vinculando a interpretação das normas de Direito privado a este valor fundamental. Continua, pois, a ser necessário reportar-se à Constituição para a consecução desse objetivo hermenêutico.
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Os direitos da personalidade (CONSTITUIÇÃO 1988)
1
A violação à honra, intimidade e imagem de figuras notórias não encontra qualquer justificativa sob o ponto de vista do debate político, pluralismo cultural, para fins históricos, etc., se prestando apenas para fins lucrativos, alimentando a curiosidade pública (por vezes mórbida).
A superação do paradigma liberal do Direito resultou na proteção pelo ordenamento jurídico a outros bens relacionados não apenas à tutela de cunho patrimonial. Passou o ordenamento jurídico a proteger direitos que não podem ser separados da pessoa humana. Tal proteção, inicialmente concebida sob a ótica das leis civis passou a apresentar status constitucional no ordenamento jurídico pátrio, nos termos do artigo 5º, X, da Constituição Federal de 1988. Ante sua nova posição hierárquica, podem surgir conflitos entre os direitos da personalidade e outros bens também objeto de proteção pela Carta Magna, notadamente no que tange à liberdade de expressão.
1 INTRODUÇÃO
A proteção do Direito a determinados bens jurídicos se verifica após julgamento acerca daqueles que se apresentem objeto de maior relevância à pessoa humana, cuja tutela se apresenta imprescindível a resguardar a vida em sociedade, optando o legislador inicialmente, sob perspectiva eminentemente liberal, pelo resguardo a bens como a liberdade e patrimônio material.
O Direito representa elemento indispensável ao convívio em sociedade, já que, através das normas jurídicas, se compartilham direitos e deveres, bem como liberdades e responsabilidades. Sendo o homem um ser social, no exercício de seus direitos não poderá agir de forma abusiva, sob pena de grave ofensa às normas jurídicas. Assim é que, na lição de Arnaldo Vasconcelos, existir implica coexistir, ou seja, limitação recíproca de liberdade, apontando ainda que “a norma jurídica objetiva o propósito histórico de conciliar o individual com o social”.[1]
O Código Civil de 1916 não contemplou normas protetiva dos direitos de personalidade, conceituados pela doutrina clássica como aqueles relacionados à vida, à liberdade física ou intelectual, ao nome, ao corpo, à imagem e àquilo que o indivíduo crê ser sua honra, reputados como inalienáveis, intransmissíveis, imprescritíveis e irrenunciáveis.[2]
Ocorre que não obstante os códigos tenham se devotado inicialmente a proteger apenas direitos de caráter patrimonial, viu-se a necessidade de tutelar outros valores, também imprescindíveis à vida em sociedade, embora não pudessem ser objeto de mensuração econômica, e que sequer poderiam ser objeto de renúncia ou disponibilidade por seus titulares, como vida e honra.
Assim é que o Código Civil atualmente em vigor já dedicou um capítulo específico aos direitos da personalidade, reconhecendo serem os mesmos intransmissíveis e irrenunciáveis, trazendo proteção a bens jurídicos de altíssima importância a seus titulares, como o nome (artigo 17), honra, boa fama e respeitabilidade (artigo 20), bem como à vida privada (artigo 21).
A tutela acima referida surge como decorrência lógica do princípio da dignidade da pessoa humana, reconhecido como fundamento da República Federativa do Brasil, nos moldes do artigo 1º, III, da Carta Magna de 1988, ao qual podem ser reconduzidos todos os direitos fundamentais e que representa norte hermenêutico para a interpretação de conflitos

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