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Aula 01 (2)

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Profa. Ana Paula www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 87 
 
Conhecimentos Específicos para o TJ/SP 
Teoria e exercícios comentados 
Profa. Ana Paula de Oliveira ʹ Aula 01 
 
 
AULA 01: Fundamentos históricos e teórico-
metodológicos do serviço 
social/Institucionalização do serviço social ao 
movimento de reconceituação na América Latina, 
em particular no Brasil/ Análise crítica das 
influências teórico-metodológicas e as formas de 
intervenção construídas pela profissão em seus 
distintos contextos históricos. 
 
SUMÁRIO PÁGINA 
1. Apresentação 1 
2. Introdução ao conteúdo teórico 2 
3. Serviço Social enquanto especialização do trabalho coletivo 3 
4. Trajetória histórica do Serviço Social 
4.1 - O ethos tradicional: Serviço Social doutrinário 
4.2 - A construção de uma nova base profissional 
4.3 - O movimento de Renovação do Serviço Social 
4.4 - A Década de 1970 e o Congresso da Virada 
 12 
 12 
 17 
 
 20 
 26 
5. Redimencionamento da profissão ante as transformações 
societárias: condições e relações de trabalho, espaços sócio-
ocupacionais e atribuições 
 34 
6. Fundamento éticos do agir profissional 36 
7. Projeto ético-político do serviço social: construção e 
desafios 
 43 
8. Legislação específica 
8.1 - Lei de regulamentação da profissão 
8.2 - Código de Ética profissional 
8.3 - Diretrizes curriculares dos cursos de Serviço Social 
8.4 Resoluções do Conselho Federal de Serviço Social 
 50 
 50 
 55 
 58 
 61 
9. Resumo d@ concurseir@ 68 
10. Questões comentadas 75 
 
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Conhecimentos Específicos para o TJ/SP 
Teoria e exercícios comentados 
Profa. Ana Paula de Oliveira ʹ Aula 01 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO AO CONTEÚDO TEÓRICO 
 
 
 
 
 
[...] os homens fazem sua própria história, 
 mas não a fazem como querem; 
não a fazem sob circunstanciais de suas escolha, 
e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, 
legadas e transmitidas pelo passado. 
(MARX, 1978, p. 17) 
 
 
 
Car@ alun@! Estudaremos nesta aula os fundamentos históricos, teórico-
metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos do Serviço Social. Assim, você precisa 
ficar atent@ as datas, e as correntes teóricas que influenciaram a intervenção 
profissional nos diferentes momentos históricos, sobre os quais falaremos detalhadamente. 
 
 
Observação importante: este curso é protegido por direitos autorais 
(copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a 
legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Grupos de 
rateio e pirataria são clandestinos, violam a lei e prejudicam os 
professores que elaboram os cursos. Valorize o trabalho de nossa equipe 
adquirindo os cursos honestamente através do site Estratégia Concursos 
;-) 
 
Profa. Ana Paula www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 87 
 
Conhecimentos Específicos para o TJ/SP 
Teoria e exercícios comentados 
Profa. Ana Paula de Oliveira ʹ Aula 01 
 
 
 
A institucionalização do Serviço Social enquanto profissão no Brasil está 
profundamente ligada à gênese e ao desenvolvimento das relações sociais capitalistas, 
considerando o marco histórico de 1930, assinalado pelo desenvolvimento industrial e pela 
expansão urbana. A década de 1930 no país significou alterações no âmbito político e 
econômico, pois marcou a queda do regime oligárquico baseado num modelo agrário-
exportador cuja ênfase estava na produção da monocultura cafeeira e o início do processo de 
intensificação industrial. Esta política de industrialização desencadeou um intenso êxodo 
rural, já que os trabalhadores dirigiam-se às cidades em busca de emprego no setor 
inaugurado; por conseguinte, esta nova configuração da economia acarretava o aumento do 
espaço urbano. O movimento migratório ocorreu de forma desordenada: os centros urbanos 
não possuíam uma infra-estrutura adequada para comportar o grande contingente 
populacional, submetendo o proletariado a precárias condições de vida e de trabalho. Neste 
contexto, ampliam-se as desigualdades sociais, concentração de renda, aumento das tensões 
nas relações de trabalho e agravamento das expressões da questão social. 
Netto (2006, p. 29) afirma que nesse período do capitalismo, marcado pela 
QHFHVVLGDGH�GH� ³PHFDQLVPRV�GH� LQWHUYHQomR�H[WUD� HFRQ{PLFRV´�HP� IDFH�GD� DJXGL]DomR�GDV 
manifestações da questão social, foram gestadas as condições para a constituição do Serviço 
Social como profissão. Em suas palavras: 
 
 
[...] o capitalismo monopolista conduz ao ápice a contradição 
elementar entre a socialização da produção e a apropriação 
privada: internacionalizada a produção, grupos de monopólios 
controlam-na por cima de povos e Estados. E no âmbito 
emoldurado pelo monopólio, a dialética forças 
produtivas/relações de produção é tensionada adicionalmente 
pelos condicionantes específicos que a organização monopólica 
impõe especialmente ao desenvolvimento e à inovação 
tecnológicos. O mais significativo, contudo, é que a solução 
 
Profa. Ana Paula www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 87 
 
Conhecimentos Específicos para o TJ/SP 
Teoria e exercícios comentados 
Profa. Ana Paula de Oliveira ʹ Aula 01 
 
das quais se toma consciência das mudanças ocorridas nas condições 
materiais de produção. Nesse processo são gestadas e recriadas as lutas 
sociais entre os agentes sociais envolvidos na produção, que expressam a 
luta pelo poder, pela hegemonia das diferentes classes sociais sobre o 
conjunto da sociedade. 
 
 
 
 
Nesse sentido, Iamamoto (2006) elucida que o Serviço Social deve ser compreendido 
a partir de uma posição historicamente situada, visto que é uma profissão que se instituiu pela 
necessidade de respostas estatais às novas formas de manifestação da questão social, 
considerando o marco histórico da década de 1930, assinalado pelo desenvolvimento 
capitalista industrial e pela expansão urbana, como já foi dito. 
Tendo em vista tal acepção, e ponderando que a sociedade capitalista sustenta-se na 
valorização do mundo das coisas e na desvalorização do mundo dos homens (MARX, 1994), 
Iamamoto (2011, p. 82) destaca que o Serviço Social não se mantém aquém desta realidade, 
visto que 
 
[...] a atuação do Assistente Social é necessariamente polarizada pelos 
interesses de tais classes, tendendo a ser cooptada por aqueles que têm 
uma posição dominante. Reproduz, também, pela mesma atividade, 
interesses contrapostos que convivem em tensão. Responde tanto a 
demandas do capital como do trabalho e só pode fortalecer um ou outro 
polo pela mediação do seu oposto. Participa tanto dos mecanismos de 
dominação e exploração como, ao mesmo tempo e pela mesma 
atividade, da respostas às necessidades de sobrevivência da classe 
trabalhadora e da reprodução do antagonismo nesses interesses sociais, 
reforçando as contradições que constituem o móvel básico da história. 
 
Iamamoto (2011) sinaliza que, à primeira vista, é possível identificar o Serviço Social 
como profissão que não participa do processo de criação de produtos e de valor. No entanto, 
não se pode esquecer que a especificidade do trabalho profissional do assistente social se dá, 
majoritariamente, por sua intervenção direta nas vidas cotidiana e material do trabalhador e 
de sua família, a qual é operacionalizada pela gestão, organização e prestação de serviços 
sociais, tendo o Estado como principal empregador.Profa. Ana Paula www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 87 
 
Conhecimentos Específicos para o TJ/SP 
Teoria e exercícios comentados 
Profa. Ana Paula de Oliveira ʹ Aula 01 
 
Desta forma, a autora aponta que, sendo o trabalhador e a sua força de trabalho a fonte 
de toda a riqueza social, o Serviço Social encontra-VH� LQWLPDPHQWH� YLQFXODGR� ³>���@� DR�
processo de criação de condições indispensáveis ao funcionamento da força de trabalho, à 
extração de mais-YDOLD´��,$0$0272��������S������ 
 
Embora a profissão não se dedique, preferencialmente, ao desempenho 
de funções produtivas, podendo ser, em geral, caracterizada como 
trabalho improdutivo [...] participa, ao lado de outras profissões, da 
tarefa de implementação de condições necessárias ao processo de 
reprodução no seu conjunto, integrada como está à divisão social e 
técnica do trabalho. [...] Embora não sejam produtoras de valor, 
tornam mais eficiente o trabalho produtivo, reduzem o limite negativo 
colocado à valorização do capital, não deixando de ser para ele uma 
fonte de lucro. (IAMAMOTO, 2011, p. 93).1 
Conforme pontuado anteriormente, Iamamoto (2011) explicita que a atuação 
profissional dos assistentes sociais é mediatizada pelos serviços sociais operacionalizados 
pelo Estado e por instituições privadas; por conseguinte, se estabelece uma relação de compra 
e venda de sua força de trabalho. Desta feita, o exercício profissional do assistente social é 
profundamente polarizado por interesses antagônicos, dada a própria natureza de seu trabalho 
em face das manifestações da questão social. 
 
 
1
 (P�REUD�SXEOLFDGD�HP�������QD�TXDO�,DPDPRWR�ID]�XP�EDODQoR�FUtWLFR�GH�³5HODo}HV�VRFLDLV�H�6HUYLoR�6RFLDO�
QR� %UDVLO´�� D� DXWRUD� ������� LQGLFD� D� DWXDOLGDGH� GD� WHVH� UHODFionada à caracterização da profissão enquanto 
trabalho produtivo e/ou improdutivo. Inicialmente, fundamentada nos pressupostos marxianos, Iamamoto (2011, 
S�� ���� H[S}H� TXH� ³D� SURGXWLYLGDGH� GR� WUDEDOKR� VXS}H� >���@� XPD� UHODomR� VRFLDO� GHWHUPLQDGD�� R� WUDEDOKR�� como 
WUDEDOKR�DVVDODULDGR��H�RV�PHLRV�GH�WUDEDOKR��FRPR�FDSLWDO�´��LQGLFDQGR�³>���@�TXH�R�PHVPR�WLSR�GH�WUDEDOKR�SRGH�
ser produtivo ou improdutivo: a cantora que vende seu canto é improdutiva, mas, se contratada por um 
empresário que a faz cantar para enriTXHFHU��p�SURGXWLYD��SRUTXH�SURGX]�FDSLWDO�´��,$0$0272��������S�������
Ademais, a autora explicita que o trabalho realizado no âmbito da prestação de serviços públicos não pode ser 
considerado como produtivo, uma vez que não há uma relação direta com o capital. Tal assertiva é corroborada 
SRU�,DPDPRWR��������S�������HP�REUD�DQWHULRU��QD�TXDO�H[S}H�TXH�QD�yUELWD�GR�(VWDGR�³>���@�QmR�H[LVWH�FULDomR�
capitalista de valor e mais-valia, visto que o Estado não cria riquezas ao atuar no campo das políticas sociais 
p~EOLFDV´�� 1HVVH� VHQWLGR�� D� DXWRUD� DILUPD� TXH� ³>���@� D� DQiOLVH� GDV� FDUDFWHUtVWLFDV� DVVXPLGDV� SHOR� WUDEDOKR� GR�
assistente social e de seu produto depende das características particulares dos processos de trabalho que se 
inscreve´��,$0$0272��������S�������3RU conseguinte, vislumbra-se uma polêmica acerca desse debate, visto 
que a inserção profissional do assistente social não se restringe à esfera estatal, sendo que a condição de 
trabalhador assalariado o coloca diante de todas as particularidades do processo de trabalho sobre os ditames do 
capital. Perante tais especificidades e considerando o amplo contexto de privatização e mercantilização dos 
serviços sociais, Iamamoto (2011) assevera a proeminência em analisar as condições e relações de trabalho, bem 
como o trabalho especializado exercido pelos assistentes sociais, nos diversos espaços sócio-ocupacionais da 
profissão. 
 
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Conhecimentos Específicos para o TJ/SP 
Teoria e exercícios comentados 
Profa. Ana Paula de Oliveira ʹ Aula 01 
 
No Brasil, o Serviço Social tem caráter de profissão liberal, com exigência de 
formação de nível superior, Código de Ética, Lei de Regulamentação. Ou seja, possui 
normativas legais que regulamentam a atividade e garantem certa autonomia profissional. No 
entanto, o assistente social não dispõe dos instrumentos e meios necessários para a realização 
plena de seu trabalho, que depende das reODo}HV�HVWDEHOHFLGDV�FRP�VHXV�HPSUHJDGRUHV��³>���@�R�
Estado (e suas distintas esferas de poder), o empresariado, as organizações da sociedade civil 
>���@´��,$0$0272��������S��������(VVDV�UHODo}HV�LQWHUIHUHP�VXEVWDQFLDOPHQWH�QR�H[HUFtFLR�
profissional. 
 
O significado social do trabalho profissional do assistente social depende 
das relações que estabelece com os sujeitos sociais que o contratam, os 
quais personificam funções diferenciadas na sociedade. Ainda que a 
natureza qualitativa dessa especialização do trabalho se preserve nas 
várias inserções ocupacionais, o significado social de seu processamento 
não é idêntico nas diferenciadas condições em que se realiza esse trabalho 
porquanto envolvido em relações sociais distintas (IAMAMOTO, 2012 
p.218, grifo da autora). 
Ou seja: 
 
A profissão se consolida, então, como parte integrante do aparato estatal e de 
empresas privadas, e o profissional, como um assalariado a serviço das mesmas. 
Dessa forma, não se pode pensar a profissão no processo de reprodução das 
relações sociais independente das organizações institucionais a que se vincula, 
como se a atividade profissional se encerrasse em si mesma e seus efeitos 
sociais derivassem, exclusivamente, da atuação profissional. Ora, sendo 
integrantes dos aparatos de poder, como uma das categorias profissionais 
envolvidas na implementação de políticas sociais, seu significado social só pode 
ser compreendido ao levar em consideração tal característica (IAMAMOTO, 
2012, p. 86). 
 
 
Embora preserve certa autonomia pela própria natureza de especialização do seu 
trabalho, o profissional não tem controle total sobre a maneira de exercer ou sobre os 
resultados de seu exercício profissional, que é permeado por diversos determinantes, tanto 
internos ± referem-se às suas próprias atividades; quanto externos ± relacionados às 
circunstâncias sociais, como as relações institucionais, realidade social específica dos 
usuários da instituição, instrumentos e técnicas utilizados, recursos financeiros, entre outros 
(IAMAMOTO, 2006, p. 107, grifo da autora). Ou seja, 
 
 
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Teoria e exercícios comentados 
Profa. Ana Paula de Oliveira ʹ Aula 01 
 
desse trabalho qualificado e complexo (IAMAMOTO, 2012, p. 215, 
grifo da autora). 
 
É importante reforçar, ainda, como já foi dito, que o exercício profissional dos 
assistentes sociais é mediatizado por políticas e serviços sociais, materializados por 
instituições públicas e privadas (IAMAMOTO, 2012, p. 218-219), e esse processo 
 
[...] envolve necessariamente, a incorporação de parâmetros institucionais e 
trabalhistas que regulam as relações de trabalho, consubstanciadas no 
contrato de trabalho, que estabelecem as condições em que esse trabalho se 
realiza: intensidade, jornada, salário, controle do trabalho, índices de 
produtividade e metas a serem cumpridas. Os empregadores definem ainda a 
particularização de funções e atribuições consoante as normas que regulam 
o trabalho coletivo. Oferecem, ainda o background de recursos materiais, 
financeiros, humanos e técnicos indispensáveis à objetivação do trabalho e 
recortam as expressões da questão social que podem se tornar matéria da 
atividade profissional. Assim, as exigências impostas pelos distintos 
empregadores, no quadro da organização social e técnica do trabalho,também materializam requisições, estabelecem funções e atribuições, 
impõem regulamentações especificas ao trabalho a ser empreendido no 
âmbito do trabalho coletivo, além de normas contratuais (salário, jornada, 
entre outras) que condicionam o conteúdo do trabalho realizado e 
estabelecem limites e possibilidades à realização dos propósitos 
profissionais. 
 
A elucidação desses aspectos é importante, numa conjuntura em que impera a 
ideologia neoliberal e consequente reestruturação do papel do Estado e das políticas sociais, 
RX� VHMD�� FRQMXQWXUD� PDUFDGD� SHOD� ³>���@� SURJUHVVLYD� PHUFDQWLOL]DomR� GR� DWHQdimento às 
necessiGDGHV�VRFLDLV�>���@´��,$0$0272��������S��������TXH�SURGX]�PXGDQoDV�QRV�SURFHVVRV�
de trabalho em que os assistentes sociais estão inseridos, como no âmbito do Judiciário, as 
quais repercutem na esfera da relativa autonomia do profissional. 
Entretanto, é mister não perder a perspectiva de que o trabalho profissional dos 
assistentes sociais é condicionado por outro fator relacionado 
 
[...] às necessidades sociais dos sujeitos, que condicionadas pelas lutas 
sociais e pelas relações de poder, se transformam em demandas 
profissionais, re-elaboradas na óptica dos empregadores no embate com os 
interesses dos cidadãos e cidadãs que recebem os serviços profissionais 
(IAMAMOTO, 2012, p. 219). 
 
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Teoria e exercícios comentados 
Profa. Ana Paula de Oliveira ʹ Aula 01 
 
 
 
De acordo com Yazbek (2009, p. 145), 
 
[...] é por demais conhecida a relação entre a profissão e o ideário 
católico na gênese do Serviço Social brasileiro, no contexto de 
expansão e secularização do mundo capitalista. Relação que vai 
imprimir à profissão caráter de apostolado fundado em uma 
DERUGDJHP�GD�µTXHVWmR�VRFLDO¶�FRPR�SUREOHPD�PRUDO�H�UHOLJLRVR�H�
numa intervenção que prioriza a formação da família e do 
indivíduo para solução dos problemas e atendimento de suas 
necessidades materiais, morais e sociais. O contributo do Serviço 
Social, nesse momento, incidirá sobre valores e comportamentos 
GH�VHXV�µFOLHQWHV¶�QD�SHUVSHFWLva de sua integração à sociedade, ou 
melhor, nas relações sociais vigentes. 
 
Por conseguinte, nessas bases, o trabalho profissional se materializava a partir da 
premissa do ajustamento dos indivíduos à regularidade harmônica da sociedade, em uma 
perspectiva na qual a pobreza era compreendida como um problema moral individual. 
 
 
 
O princípio primeiro a pôr em evidência, é que o homem deve aceitar 
com paciência a sua condição: é impossível que na sociedade civil todos 
sejam elevados ao mesmo nível [...] Foi ela (natureza), realmente, que 
estabeleceu entre os homens diferenças tão multíplices como profundas, 
diferenças de inteligência, de talento, de habilidade, de saúde, de força; 
diferenças necessárias donde nasce espontaneamente a desigualdade 
das condições. (LEÃO XIII, Encíclica Rerum Novarum). 
 
Na décade de 1940 verifica-se o surgimento de grandes instituições 4, nas quais o 
profissional de Serviço Social passa a se inserir. A partir de então, os assistentes sociais 
rompem com as coordenadas do bloco católico e passam a desenvolver o seu trabalho 
 
4
 6LOYD��������S�����³(QWUH�RXWUDV��VXUJHP��HP�������R�&RQVHOKR�1DFLRQDO�GH�6HUYLoR�6RFLDO��HP�������D�/HJLmR�
Brasileira de Assistência; em 1942, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial; em 1946, o Serviço Social 
GD�,QG~VWULD��R�6HUYLoR�6RFLDO�GR�&RPpUFLR�H�D�)XQGDomR�/HmR�;,,,´� 
 
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Teoria e exercícios comentados 
Profa. Ana Paula de Oliveira ʹ Aula 01 
 
 
 
Conforme Barroco, na origem da trajetória ético-política da profissão 
predominava-se o ethos, modo de ser, tradicional, pois o assistente social deveria 
adaptar o maior número possível de indivíduos à vida social. Ou seja, a questão social 
era entendida como problemas morais individuais, transformando as demandas por 
GLUHLWRV�VRFLDLV�HP�SDWRORJLDV��³>���@�DR�PRUDOL]DU�D�µTXHVWmR�VRFLDO¶��WUDQVIRUPD�D�PRUDO 
em moralismo, o que reproduz uma ética profissional preconceituosa, negando seu 
GLVFXUVR�KXPDQLWiULR�´�%$552&2��������S����. 
 
 
4.2 A construção de uma nova base profissional 
 
O Professor José Paulo Netto (2011) explicita que, ao final dos anos 50, gestaram-
se novas demandas para a profissão, a partir do movimento de industrialização pesada, 
no Brasil. Desse modo, as atividades profissionais, fundamentadas em intervenções 
individuais e grupais e pela importação de modelos de abordagem de outras realidades 
sociais, eram insuficientes para atender às demandas específicas do País. 
Nesse contexto é que afloraram as discussões sobre o Desenvolvimento de 
Comunidade5�� YLVWR� TXH� D� ³>���@� WHPiWLFD� GD� VXSHUDomR� GR� VXEGHVHQYROYLPHQWR� GDYD� D�
tônica nas ciências sociais, na atividade política e imantava interesses governamentais e 
UHFXUVRV� HP� SURJUDPDV� LQWHUQDFLRQDLV� >���@´� �1(772�� ������ S�� ������ WHQGR� HP� YLVWD�
formas de intervenção mais condizentes com as necessidades e características regionais. 
 
5
 ³>���@� R� 6HUYLoR� 6RFLDO� SDVVD� D� WHU� SUHVHQoD� VLJQLILFDWLYD� QR� SURMHWR� GH� GHVHQYROYLPHQWR� QDFLRQDO� TXDQGR��
durante a década de 50, a Organização das Nações Unidas (ONU) e outros organismos internacionais se 
empenham em sistematizar o Desenvolvimento de Comunidade (DC) como estratégia de integrar os esforços da 
SRSXODomR�DRV�SODQRV�QDFLRQDLV�H�UHJLRQDLV�GH�GHVHQYROYLPHQWR�´��6,/9$��������S�������2�'HVHQYROYLPento de 
Comunidade possuía uma visão acrítica e aclassista, apreendendo a dinâmica social como harmônica. À época, 
para os profissionais de Serviço Social, a proposta da ONU era a forma de intervenção mais condizente com as 
reais demandas e características da sociedade brasileira. 
 
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É nesta postura que, nem sempre elaborada teórica e estrategicamente, 
VH�ILOWUD�D�HURVmR�GDV�EDVHV�GR�6HUYLoR�6RFLDO�³WUDGLFLRQDO´��VHP�QHJDU-
lhe explicitamente a legitimidade, as novas energias profissionais 
dirigiam-se para formas de intervenção (e de representação) que 
apareciam como mais consentâneas com a realidade brasileira que as já 
FRQVDJUDGDV� H� FULVWDOL]DGDV� QRV� ³SURFHVVRV´� TXH� R� LGHQWLILFDYDP�
historicamente (o caso e o Grupo). (NETTO, 2011, p. 138). 
 
O autor salienta que tal processo não significou uma crise do Serviço Social 
³WUDGLFLRQDO´��PDV�VLP�XPD�VLQDOL]DomR��$QDOLVD�TXH��QRV�DQRV�VXEVHTXHQWHV�D�HVVH�PRPHQWR��
balizaram-se os pilares para a erosão do modo de ser confessionalista da profissão, sendo que 
³VHXV�GHWRQDGRUHV�GH�IXQGR�VmR�H[WUDSURILVsionais: compreendem o estágio de precipitação da 
dinâmica sociopolítica da vida brasileira, entre 1960-61/1964, como o aprofundamento e a 
SUREOHPDWL]DomR�GR�SURFHVVR�GHPRFUiWLFR�QD�VRFLHGDGH�H�QR�(VWDGR�>���@´��1(772��������S��
139). E foram permeados pelos seguintes elementos profissionais: 
 
O primeiro remete ao próprio amadurecimento de setores da categoria 
profissional, na sua relação com outros protagonistas (profissionais: nas 
equipes multiprofissionais; sociais: grupos da população politicamente 
organizados) e outras instâncias (núcleos administrativos e políticos do 
Estado). O segundorefere-se ao desgarramento de segmentos da Igreja 
FDWyOLFD�HP�IDFH�GR�VHX�FRQVHUYDQWLVPR�WUDGLFLRQDO��D�HPHUVmR�GH�µFDWyOLFRV�
SURJUHVVLVWDV¶� H� PHVPR� GH� XPD� HVTXHUGD� FDWólica, com ativa militância 
cívica e política, afeta sensivelmente a categoria profissional. O terceiro é o 
espraiar do movimento estudantil, que faz seu ingresso nas escolas de 
Serviço Social e tem aí uma ponderação muito peculiar. O quarto é o 
referencial próprio de parte significativa das ciências sociais do período, 
imantada por dimensões críticas e nacional-populares. (NETTO, 2011, p. 
139). 
 
 
 
Em 1961, no Rio de Janeiro, é realizado o II Congresso Brasileiro de Serviço 
Social. Neste encontro sinalizou-se a necessidade de vincular o Serviço Social às 
 
Profa. Ana Paula www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 87 
 
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Teoria e exercícios comentados 
Profa. Ana Paula de Oliveira ʹ Aula 01 
 
Nesse sentido, o autor elucida que o questionamento e a revisão das bases que 
fundamentavam o exercício profissional foi um fenômeno que ocorreu em escala 
mundial, e para compreendermos esse processo nos marcos da realidade brasileira é 
mister elucidar o Movimento de Reconceituação latino-americano que se explicitou no 
período de 1965-75. 
 
 
 
4.3 O movimento de Renovação do Serviço Social no Brasil 
 
 
 
 
Preliminarmente, o autor indica que o cenário da década de 1960 foi permeado pelo 
HVJRWDPHQWR� GH� XP� SDGUmR� GH� GHVHQYROYLPHQWR� FDSLWDOLVWD�� SURSLFLDQGR� ³>���@� XP� TXDGUR�
favorável para mobilização das classes sociais subalternas em defesa dos seus interesses 
LPHGLDWRV´��1(772��������S������� 
 
[...] começam a cristalizar-se reivindicações referenciadas a categorias 
específicas (negros, mulheres, jovens), à ambiência social e natural (a 
cidade, o equipamento coletivo, a defesa dos ecossistemas), a direitos 
emergentes (ao lazer, à educação permanente, ao prazer) etc. Nas suas 
expressões menos consequentes, este movimentos põem em questão a 
racionalidade do Estado burguês e suas instituições; nas suas expressões 
mais radicais, negam a ordem burguesa e o seu estilo de vida. Em 
qualquer dos casos, recolocam em pauta as ambivalências da cidadania 
fundada na propriedade e redimensionam a atividade política, 
multiplicando os seus sujeitos e as suas arenas. (NETTO, 2011, p. 143). 
 
 
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Por conseguinte, Netto (2011) elucida que essa conjuntura culminou na 
contestação da forma de conduzir um conjunto de atividades profissionais vinculadas à 
reprodução das relações sociais, não se restringindo ao Serviço Social. 
Desse modo, o questionamento das bases profissionais tradicionais, além do 
cenário exterior à profissão, encontrou elementos internos ao Serviço Social para a sua 
operacionalidade, os quais também foram apontados nos anos precedentes à instauração do 
golpe militar de 1964, quais sejam: 
 
 
Em primeiro lugar, a revisão crítica que se processa na fronteira das 
FLrQFLDV�VRFLDLV��2V�LQVXPRV�³FLHQWtILFRV´�GH�TXH�KLVWRULFDPHQWH�VH�YDOLD�
R� 6HUYLoR� 6RFLDO� H� TXH� IRUQHFLDP� D� FUHGLELOLGDGH� ³WHyULFD´� GR� VHX�
fundamento com a chancela das disciplinas sociais acadêmicas viam-se 
questionados no seu próprio terreno de legitimação original. [...] O 
segundo vetor que intercorria no processo era o deslocamento 
sociopolítico de outras instituições cujas vinculações com o Serviço 
Social são notórias: as Igrejas [...] Deslocamento muito desigual nas 
várias latitudes, porém visível em todas elas e operantes em dois planos: 
no adensamento de alternativas de interpretação teológica que 
justificavam posturas concretamente anticapitalistas e antiburguesas e 
na permeabilidade de segmentos da alta hierarquia a demandas de 
reposicionamento político-VRFLDO�DGYLQGDV�GDV�EDVHV�H�GR�³EDL[R�FOHUR´��
[...] Finalmente [...] o movimento estudantil: condensamente, ele 
reproduz, no molde particular da contestação global característica da 
sua intervenção, todas as alterações que indicamos e as insere 
perturbadoramente no próprio lócus privilegiado da reprodução da 
categoria profissional: as agências de formação, as escolas. (NETTO, 
2011, p. 144 e 145). 
 
Netto (2011) discorre que o Movimento de Reconceituação Latino-Americano foi 
XPD�GDV�SULQFLSDLV�PDQLIHVWDo}HV�GR�SURFHVVR�GH�HURVmR�GR�6HUYLoR�6RFLDO�³WUDGLFLRQDO´�
e, de acordo com Iamamoto (2006, p. 207), caracterizou-VH� SHOD� ³>���@� EXVFD� GD�
construção de um novo Serviço Social [...], saturado de historicidade, que apostasse na 
criação de novas formas de sociabilidade a partir do próprio protagonismo dos sujeitos 
FROHWLYRV´�� 
 
 
 
 
 
 
 
 
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[...] a reconceptualização está intimamente vinculada ao circuito 
sociopolítico latino-americano da década de sessenta: a questão que 
originalmente a comanda é a funcionalidade profissional na superação do 
subdesenvolvimento. Indagando-se sobre o papel dos profissionais em face 
GDV� PDQLIHVWDo}HV� GD� ³TXHVWmR� VRFLDO´�� LQWHUURJDQGR-se sobre a adequação 
dos procedimentos profissionais consagrados às realidades regionais e 
nacionais, questionando-se sobre a eficácia das ações profissionais e sobre a 
eficiência e legitimidade das suas representações, inquietando-se com o 
relacionamento da profissão com os novos atores que emergiam na cena 
política (fundamentalmente ligados às classes subalternas) ± e tudo isso sob 
o peso do colapso dos pactos políticos que vinham do pós-guerra, do 
surgimento de novos protagonistas sociopolíticos, da revolução cubana, do 
incipiente reformismo gênero Aliança para o Progresso ±, ao mover-se 
assim, os assistentes sociais latino-americanos, através de seus segmentos de 
vanguarda, estavam minando as bases tradicionais da sua profissão. 
(NETTO, 2011, p. 146). 
 
Netto (2011) explicita que, nesse processo de funcionalidade profissional para a 
superação do subdesenvolvimento, considerando a adaptação dos procedimentos 
profissionais, de acordo com a realidade latino-americana, surgiram diferentes 
posicionamentos relacionados às concepções política, teórica e da própria profissão. De 
DFRUGR� FRP� R� DXWRU�� ³>���@� XP� SROR� LQYHVWLD� QXP� DJJLRUQDPHQWR� GR� 6HUYLoR� 6RFLDO� H�
RXWUR�WHQFLRQDYD�XPD�UXSWXUD�FRP�R�SDVVDGR�SURILVVLRQDO�>���@´��1(772��������S�������� 
É nesse contexto que a profissão aproxima-VH�GD�WUDGLomR�PDU[LVWD��³>���@�H�R�IDWR�
central é que, depois da reconceptualização, o pensamento de raiz marxiana deixou de 
VHU� HVWUDQKR� DR� XQLYHUVR� SURILVVLRQDO� GRV� DVVLVWHQWHV� VRFLDLV´� �1(772�� ������ S�� ������
Iamamoto (2006) discorre que a aproximação da profissão com a teoria crítico-dialética, 
nos marcos da década de 1970/1980, significou um processo de ruptura com o 
tradicionalismo profissional, e um reducionismo na análise de seu universo teórico. 
Em um primeiro momento, a interlocução do Serviço Social com a perspectiva 
crítico-dialética foi mediada pela prática político-partidária, permeada pela indiferença 
entre a militância política e a prática profissional. Tal posicionamento também 
culminou na restrição ao compromisso político e na ausência de interlocução com o 
conhecimento científico acumulado. 
 
Essa primeira forma de aproximação redundou no chamamento dos 
profissionais ao compromisso político, o que sugeria a necessidade de 
dispor de um ponto de vista de classe na análise da sociedade e do papel da 
profissão nessasociedade. Esse ângulo de visão, alimentado apenas pela 
prática e pela vontade política, mostrava-se, em si, insuficiente para desvelar 
tanto a herança intelectual do Serviço Social como sua prática no jogo das 
 
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relações de poder econômico e nas relações do Estado como movimento das 
classes sociais. Tal exigência não depende apenas de uma ação político-
moral, mas supõe uma consciência teórica capaz de possibilitar a explicação 
do processo social e o desvelamento das possibilidades de ação nele 
contidas. Ora, se a consciência teórica tem suas raízes nas relações 
econômicas e nas lutas de classes historicamente determinadas, ela não 
surge espontaneamente de tais relações e lutas. Exige, para a sua construção, 
uma interlocução crítica com o conhecimento científico acumulado, um 
trabalho rigoroso de elaboração intelectual, o que, na reconceituação, não 
foi possível acumular a contento. (IAMAMOTO, 2006, p. 210). 
 
Iamamoto (2006, p. 212) ainda dispõe que esse encontro do Serviço Social com o 
marxismo foi permeado por interpretações da teoria crítica através de manuais de 
divulgação, portanto, delineou-VH�XP�PDU[LVPR�³VHP�0DU[´��FDUDFWHUL]DGR�SRU� IRUWHV�
traços ecléticos. Como exemplos de leituras reducionistas, a autora pontua a ausência da 
categoria trabalho nas análises realizadas, além de as categorias do método marxiano 
GHL[DUHP�GH�³>���@� µH[SUHVVDU� IRUPDV�GH� VHU��GHWHUPLQDo}HV�GD� H[LVWrQFLD¶�� GHVOLJDQGR-se do 
movimento da sociedade que deveriam expressar, passando a ser criações aleatórias do 
SHQVDPHQWR´��(P�IDFH�GHVVDV�LQWHUSUHWDo}HV��VXUJLUDP�QD�SURILVVmR�GXDV�IRUPDV�UHGXFLRQLVWDV�
de compreensão do significado social do Serviço Social, quais sejam, o fatalismo e o 
messianismo, nos quais, segundo Iamamoto (2006, p. 213), há um esvaziamento da 
historicidade da prática social. 
 
O fatalismo, inspirado em interpretações que naturalizam a vida social, 
apreendida à margem da subjetividade humana, redundando em uma 
visão perversa da profissão concebida como totalmente atrelada às 
malhas de um poder tido como monolítico, resultando disso a 
impotência e a subjugação do profissional ao instituído. Por outro lado, 
o messianismo utópico privilegiando os propósitos do profissional 
individual, num voluntarismo, não permite o desvendamento do 
movimento social e das determinações que a prática profissional 
incorpora nesse movimento, ressuscitando inspirações idealistas que 
reclamam a determinação da vida social pela consciência. 
 
No tocante ao Brasil, a autora aponta que o debate da reconceituação difundiu-se em 
parcela minoritária da categoria profissional, devido ao contexto político dos anos da 
Ditadura Militar. Nesse sentido, 
 
 
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Este panorama contribui para que, no Brasil, diferentemente da tônica 
predominante nos demais países, o embate com o Serviço Social 
tradicional se revertesse em uma modernização da profissão que 
atualiza a sua herança conservadora. Verificou-se uma mudança no 
discurso, nos métodos de ação e nos rumos da prática profissional, no 
sentido de obter um reforço de sua legitimidade junto às instâncias 
demandantes da profissão, em especial o Estado e as grandes empresas, 
adequando o Serviço Social à ideologia dos governantes. (IAMAMOTO, 
2006, p. 215) 
 
 
Netto (2011, p. 152) destaca que, no Brasil, se gestou um processo de renovação 
da profissão, cuja característica mais relevante referiu-se ao esforço de validar 
teoricamente todas as etapas de intervenção do Serviço Social. O autor esclarece que tal 
SURFHVVR� ³>���@� FRQILJXUD� XP� PRYLPHQWR� FXPXODWLYR�� FRP� HVWiJLRV� GH� GRPLQkQFLD�
teórico-cultural e ideopolítica distintos, porém entrecruzando-se e sobrepondo-se, donde 
a dificuldade de qualquer esquema para representá-OR´. 
 
Dentre esses estágios, Netto (2011) explicita três momentos característicos. Para 
compreender melhor este tema, você, querid@ alun@, precisa ter conhecimento do 
livro de José Paulo Netto ± ³'LWDGXUD�H�6HUYLoR�6RFLDO��XPD�DQiOLVH�GR�6HUYLoR�6RFLDO�QR�
Brasil pós-��´� �������� SRLV�� QHVWD� REUD� R� DXWRU� GHQRPLQD� H� DQDOLVD� RV� WUrV� PRPHQWRV�
característicos da renovação do Serviço Social brasileiro. O primeiro, nomeado pelo 
DXWRU� SRU� ³SHUVSHFWLYD� PRGHUQL]DGRUD´�� GLIXQGLX-se no país na segunda metade dos 
anos 1960 e baseava-se na corrente teórica positivista, a qual não questionava a ordem 
política e tinha como pressuposto a adequação do Serviço Social às exigências da 
autocracia burguesa. Netto (2011) afirma que em meados de 1975 surge o segundo 
PRPHQWR� GHVWH� PRYLPHQWR�� GHQRPLQDGR� SRU� HOH� GH� ³UHDWXDOL]DomR� GR�
FRQVHUYDGRULVPR´�� (VWD� SHUVSHFWLYD� IXQGDPHQWDYD-se na vertente teórica 
fenomenológica, a qual, na apreensão efetuada pelos assistentes sociais daquela época, 
recuperava a herança psicossocial, a tendência à centralização nas dinâmicas 
individuais e o viés psicologizante. Por fim, Netto (2011) explica que na abertura dos 
anos de 1980 instituiu-VH� D� GHQRPLQDGD� ³LQWHQomR� GH� UXSWXUD´�� IXQGDPHQWDGD� QD�
tradição marxista, cujo enfoque é a análise e o questionamento da sociedade de classes, 
com vistas à transformação social por meio do protagonismo da classe trabalhadora. 
 
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Tendo recebido ponderável influência do pensamento latino-americano 
reconceptualizado no final dos anos setenta e o início da presente década 
(1980), esta vertente tem muito da sua audiência contabilizada ao descrédito 
político da perspectiva modernizadora e à generalizada crítica às ciências 
sociais acadêmicas; no entanto, parecem-nos fundamentais, para explicar a 
sua repercussão, as condições de trabalho da massa da categoria profissional 
± com sua aproximação geral às camadas trabalhadoras -, o novo público em 
que se recrutam os quadros técnicos [...] o clima efervescente do circuito 
universitário quando da crise da ditadura (envolvendo todos os 
intervenientes da arena acadêmica) e, principalmente, o quadro sociopolítico 
e ideológico dos primeiros anos da década, que conduziu à participação 
cívica amplos contingentes das novas camadas médias urbanas, com 
destaque para seus setores técnicos. (NETTO, 2011, p. 160). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Movimento de Renovação do Serviço Social brasileiro (segundo José Paulo Netto): 
 
 - Primeiro momentR�� GHQRPLQDGD� ³SHUVSHFWLYD� PRGHUQL]DGRUD´� �SRVLWLYLVPR��� QRV�
marcos da segunda metade dos anos 1960; 
- 6HJXQGR� PRPHQWR�� ³UHDWXDOL]DomR� GR� FRQVHUYDGRULVPR´� �IHQRPHQRORJLD��� VHJXQGD�
metade dos anos 1970); 
- 7HUFHLUR�PRPHQWR�� ³LQWHQomR�GH� UXSWXUD´� �WUDGLomR�Parxista), se localiza na abertura 
dos anos 1980. 
 
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É importante ressaltar ainda que no primeiro período do movimento de renovação do Serviço 
Social brasileiro ocorreram os Seminários de Araxá e Teresópolis. Lembremos que, como já foi 
HVWXGDGR�� D� ³SHUVSHFWLYD� PRGHUQL]DGRUD´� não questionava a ordempolítica estabelecida pelo 
Golpe Militar, desta forma, tinha o pressuposto de adequar o Serviço Social às exigências da 
autocracia burguesa, a fim de que este se integrasse ao movimento desenvolvimentista. A citada 
perspectiva se afirma a partir dos encontros organizados pelo Centro Brasileiro Cooperação e 
Intercâmbio de Serviço Social (CBCISS). O primeiro ocorre entre 19 e 26 de março de 1967, na 
cidade de Araxá (MG) e o segundo acontece em Teresópolis (RJ), entre os dias 10 e 17 de janeiro 
de 1970. No Documento de Araxá, explicita-se a preocupação de discutir a teorização do Serviço 
6RFLDO�� HQWUHWDQWR�� VHJXQGR� 1HWWR�� D� WHQWDWLYD� IRL� LQFLSLHQWH�� Mi� TXH� ³>���@� R� GRFXPHQWR� UHGX]� D�
WHRUL]DomR� D� µXPD� DERUGDJHP� WpFQLFD operacional em função do modelo básico do 
GHVHQYROYLPHQWR¶� �&%&,66�� ��������´�� �1(772�� ������ S������ Neste mesmo encontro, ao 
Serviço Social é conferido um desempenho em nível micro e macro, sendo que no primeiro é 
indicada a administração e prestação de serviços diretos e, no último, é demarcada a integração das 
funções dos assistentes sociais à política de desenvolvimento. É na concepção de globalidade, 
macroatuação, que se verifica o avanço desta perspectiva, pois se desvincula do campo ético 
neotomista. Entretanto, não podemos esquecer que a visão de globalidade estava associada à teoria 
estrutural-IXQFLRQDOLVWD�� RX� VHMD�� ³$V� µGLVIXQo}HV¶� FRORFDP-se como objeto de intervenção 
justamente porque o equilíbrio dinâmico do sistema guarda potencial para corrigi-las (e mesmo 
preveni-ODV��´��1(772��������S������ O documento criado em Teresópolis, portanto, conserva os 
valores ideoculturais e a noção de desenvolvimento presentes em Araxá, contudo, evidencia-se a 
consolidação dos valores modernos sob a herança tradicional. Conforme Netto, as formulações de 
Teresópolis voltam-se para a metodologia de ação, isto é, quais serão os instrumentais capazes de 
JDUDQWLU� XPD� SUiWLFD� SURILVVLRQDO� GH� HILFiFLD�� 6HQGR� DVVLP�� ³DSRQWDP� SDUD� D� UHTXDOLILFDomR� GR�
assistente social, definem nitidamente o perfil sociotécnico da profissão e a inscrevem 
FRQFOXVLYDPHQWH�QR�FLUFXLWR�GD�µPRGHUQL]DomR�FRQVHUYDGRUD¶�´��1(772��������S������GHVWDTXH�GR�
autor). 
 
 
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Por conseguinte, Iamamoto (2006) explicita que no cerne da crise da Ditadura 
brasileira gestaram-se alguns pilares para o rompimento do Serviço Social com o 
tradicionalismo profissional, contidos nas correntes teóricas e no posicionamento 
político da profissão. 
Esses pilares surgem com a reorganização do aparelho do Estado; consolidação 
de um mercado de trabalho para a profissão; ampliação do contingente de profissionais 
e das unidades de ensino públicas e privadas; efetiva inserção do Serviço Social nos 
quadros universitários (ensino-pesquisa-extensão); criação da pós-graduação stricto 
sensu; renovação e qualificação dos quadros docentes e a expansão da interlocução da 
profissão com as ciências afins. 
 
 4.4 A Década de 1970 e o Congresso da Virada 
 
Considerando que a profissão deve ser pensada a partir das relações sociais 
constituintes da história, pode-se vislumbrar que na crise da Ditadura Militar gestaram-se 
outras bases e possibilidades para a retomada do processo de Renovação da profissão em 
curso, o qual almejava a construção de um Serviço Social crítico e sintonizado com os 
interesses das classes trabalhadoras. 
Netto (2009, p. 27) destaca que a reinserção da classe operária na arena política, por 
intermédio das mobilizações grevistas no setor industrial da chamada região do ABC 
paulista, também evidencia a crise já delineada. Desse modo, 
 
 
Ao fim da década de 1970, a oposição à ditadura já não se expressa 
mais abertamente apenas nos limites do horizonte burguês: extravasa 
os seus marcos, com a vanguarda operária, envolvendo e mobilizando 
não só o proletariado, mas um amplíssimo e heterogêneo universo de 
assalariados, a que se agregaram franjas de classe pequeno-burguesas e 
burguesas ± e, por isto mesmo, o regime não pôde articular o bloco 
social que o seu projeto de autorreforma exigia, sendo que este não se 
realizou segundo os cálculos dos seus estrategistas. 
 
A partir da indicação do contexto histórico ora explicitado, é possível iniciar um 
SURFHVVR� UHIOH[LYR� DFHUFD� GR� URPSLPHQWR� GR� FKDPDGR� 6HUYLoR� 6RFLDO� ³WUDGLFLRQDO´�� WHQGR 
como cerne determinante o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS). 
 
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Nesse sentido, a autora destaca que cerca de 600 congressistas organizaram-se de 
forma paralela, em assembleia, que salienta a forma autoritária de organização do Congresso 
H� ³>���@� RV� UXPRV� TXH� WRPRX�� GHIHQGHQGR� H� ID]HQGR� SURSDJDnda das políticas sociais dos 
JRYHUQRV�IHGHUDO��HVWDGXDLV�H�PXQLFLSDLV´��6286$��������S������� 
 
Por decisão unânime da assembleia paralela, as lideranças sindicais 
tomaram a direção do Congresso na abertura da plenária geral do 
segundo dia e, no início dos trabalhos, a Mesa Diretora propôs e foi 
aprovada a destituição da Comissão de Honra do Congresso, composta, 
à revelia da categoria, pelo então presidente da República, o general 
João Batista Figueiredo, pelo ministro do Trabalho, Murilo Macedo 
(que havia cassado a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, 
cujo presidente era Luiz Inácio Lula da Silva), pelo ministro da 
Previdência, Jair Soares, pelo governador de São Paulo, Paulo Salim 
Maluf, e pelo prefeito da Capital, Antônio Salim Curiati. Também por 
decisão soberana da assembleia, a Comissão de Honra passou a ser 
integrada por representantes dos dirigentes sindicais cassados: do 
Comitê Brasileiro pela Anistia, do Movimento Contra a Carestia, da 
Associação Popular de Saúde e da Frente Nacional do Trabalho (em 
homenagem aos trabalhadores brasileiros e a todos os que morreram 
na luta em defesa da democracia). (SOUSA, 2009, p. 115). 
 
Tais acontecimentos fizeram do III CBAS um momento de ruptura com o monopólio 
FRQVHUYDGRU�H�GD�VXSRVWD�SRVWXUD�GH�³QHXWUDOLGDGH´�GD�SURILVVmR��YLVWR�TXH�R�FRQWH[WR�VRFLDO�
YLYHQFLDGR�SHOD�VRFLHGDGH�EUDVLOHLUD�³>���@�H[LJLD�SRVLFLRQDPHQWR�SROtWLFR�H�DILUPDomR�FODUD�GH�
FRPSURPLVVR�FRP�UHODomR�DRV�LQWHUHVVHV�VRFLDLV�HP�GLVSXWD�´��6286$��������S������� 
 
Enfim, sem que se retire do III CBAS o seu caráter inaugural como 
Congresso da Virada, é importante situá-lo também como uma 
importante e madura síntese histórica da luta de toda uma geração de 
Assistentes Sociais, a geração de 65, juntamente com as novas gerações 
das décadas de 1970 e 1980. (MARTINELLI, 2009, p. 103). 
 
Por conseguinte, evidencia-se que, nas diversas análises realizadas por expoentes 
do Serviço Social, o denominado Congresso da Virada edifica os alicerces para a 
 
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construção de uma nova postura profissional, a qual está sintetizada no projeto ético-
político profissional vigente. 
O referido processo crítico encontra como solo fecundo a conjuntura política de 
democratização do País. Segundo Nogueira (2011, p. 24), embora os regimes militares 
tenham produzido a corporatiYL]DomR�GD� VRFLHGDGH�� ³>���@� IUDFLRQDQGR-a em compartimentos 
estanques, presos a interesses particularistas e desejosos de um diálogo direto com o Estado, 
VHP�D�PHGLDomR�GH�SDUWLGRV�RX�LQVWLWXLo}HV�UHSUHVHQWDWLYDV´��D�SDUWLU�GD�UHFHVVmR�SURYHQLHQWH�do esgoWDPHQWR� GR� ³PLODJUH� HFRQ{PLFR´�� WDLV� JUXSRV� YLVOXPEUDUDP� D� SURHPLQrQFLD� GH�
estabelecer uma coalização forçada, com vistas à superação dos governos conduzidos pela 
repressão. 
 
[...] a necessidade de unidade aproximaram os democratas entre si, fizeram 
entrar em crise os velhos modelos de partido político e obrigaram a esquerda 
a encarar com seriedade o desafio da renovação. Foi nesse terreno que se 
fortaleceu, dentro do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e, depois, 
no PMDB, o projeto de organizar um partido com boa base parlamentar e 
fundado na convivência de um largo espectro político e ideológico, e que o 
Partido dos Trabalhadores experimentou uma estruturação partidária a partir 
µGH� EDL[R¶�� LVWR� p�� GRV� VLQGLFDWRV� H� GRV� PRYLPHQWRV� SRSXODUHV�� )RL� QHOH�
também que cresceu uma Igreja Católica mais forte e ágil, que aprofundou 
suas relações com os setores populares e sofisticou sua elaboração teórico-
política. Foi nele, enfim, que se multiplacaram os movimentos sociais e 
emergiu uma nova disposição participativa, autônoma em relação ao Estado 
e aberta à invenção no plano da mobilização e da organização. [...] Tal 
processo alcançou o ápice em 1982, quando as oposições vencem as 
eleições, chegam ao governo em 10 dos 23 Estados do país e passam a deter 
praticamente metade das cadeiras do Congresso Nacional, fazendo com que 
a transição adquirisse outra qualidade. Quebrou-se a capacidade de o regime 
continuar detendo a iniciativa política. O governo Figueiredo mergulhou em 
profunda crise de governabilidade e foi literalmente paralisado pelos efeitos 
de sua própria incompetência administrativa, de sua desastrada conduta 
política e da corrupção plantada em seu interior. (NOGUEIRA, 2011, p. 26) 
 
Todavia, o Serviço Social brasileiro, nesse contexto, vive um descompasso, visto 
TXH�³>���@�FDUHFLD�GH�PDVVD�FUtWLFD�DFXPXODGD�SDUD�HPEDVDU�D�DXWR-renovação [...] com 
DV� LQTXLHWXGHV� SURILVVLRQDLV� H� SROtWLFDV� GR� PRYLPHQWR� GH� UHFRQFHLWXDomR�´�
(IAMAMOTO, 2006, p. 217). Desse modo, a categoria profissional retoma a análise 
crítica estabelecida pelo movimento latino-americano da década de 1970, estabelecendo 
um processo de ruptura e de continuidade aos posicionamentos e reflexões suscitados no 
âmbito dos países hispânicos. 
 
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De acordo com Iamamoto (2006, p. 218), no que diz respeito à continuidade, há uma 
recuperação do posicionamento crítico ao conservadorismo profissional e o resgate da 
inspiração marxista para interpretação da sociedade e da profissão. Quanto à ruptura, 
 
[...] foi sendo construída no processo mesmo de aprofundamento das 
premissas e propósitos do movimento de reconceituação. Seu 
desenvolvimento crítico, adensado pelas inéditas condições histórico-
profissionais presentes na sociedade brasileira, criou as condições 
daquela ultrapassagem. Os pontos de ruptura podem ser localizados em 
dois grandes âmbitos: na crítica marxista do próprio marxismo e dos 
fundamentos do conservadorismo assim como no redimensionamento 
das interpretações históricas da profissão [...]. 
 
Para ilustrar tal processo, destacamos que foi na década de 1980 que ocorreu o 
DSURIXQGDPHQWR� GR� HQFRQWUR� GD� SURILVVmR� FRP� D� REUD� PDU[LDQD�� R� TXDO� ³>���@� IRL�
mediado pela produção de Marx e por pensadores que construíram suas elaborações 
ILpLV�DR�HVStULWR�GD�DQiOLVH�PDU[LDQD�>���@´��,$0$0272��������S������� 
 
 
 
 Por conseguinte, o próprio Serviço Social foi colocado como objeto de análise9. 
 
Este referencial, a partir dos anos de 1980 e avançando nos anos de 
1990, vai imprimir direção ao pensamento e à ação do Serviço Social no 
país, voltadas para a formação de assistentes sociais na sociedade 
brasileira (o currículo de 1982 e as atuais diretrizes curriculares); aos 
eventos acadêmicos e àqueles resultantes da experiência associativa dos 
profissionais, como convenções, congressos, encontros e seminários; 
estará presente na regulamentação do exercício profissional e no 
Código de Ética (NETTO, 1996:111). (YAZBEK; MARTINELLI; 
RAICHELIS, 2008, p. 19). 
 
9
 A presente elaboração teórica, constante da obra de Iamamoto e Carvalho, intitulada Relações Sociais e 
Serviço Social: Esboço de uma Interpretação Histórico-Metodológica, publicada em 1982, está explicitada no 
primeiro capítulo desta Dissertação. 
 
 
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5. REDIMENSIONAMENTO DA PROFISSÃO ANTE AS TRANSFORMAÇÕES 
SOCIETÁRIAS: condições e relações de trabalho, espaços sócio-ocupacionais e 
atribuições 
 
 
 
Tomamos como base para essa discussão o tópico II (Trabalho e Serviço Social: o 
redimensionamento da profissão ante as transformações societárias recentes) constante na 
primeira parte do livro da Professora Marilda Villela Iamamoto ± ³O Serviço Social na 
contemporaneidade: trabalho e formação profissional´ ±. 
Neste sentido, apresentaremos aqui as ideias principais da autora. No entanto, é 
fundamental que você também leia o material, para fins de apreensão mais qualificada do 
conteúdo apresentado. 
 
 
 
De maneira geral, o texto de Iamamoto (2006) situa a discussão do Serviço Social 
enquanto especialização do trabalho coletivo, bem como a condição de trabalhador 
assalariado do assistente social, visto que o trabalho cotidiano depende da relação que o 
profissional estabelece com o seu empregador, a qual é determinada pelo conjunto 
macroestrutural do modo de produção vigente ± tratamos disso nos tópicos anteriores da 
aula, se ainda há dúvida, retome o conteúdo ou me acione no fórum!!! 
Iamamoto (2006) ainda problematiza que a ideologia neoliberal tem implicado na 
reestruturação do papel do Estado e das políticas sociais. Assim, considerando que o Estado é 
o maior empregador de assistentes sociais, bem como as políticas sociais são uma mediação 
fundamental para o exercício profissional, esta conjuntura tem produzido mudanças nos 
processos de trabalho nos quais os assistentes sociais estão inseridos. 
 
 
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no concurso, ela também será primordial para a sua atuação enquanto assistente social da 
instituição. 
 
 
 
Você sabe que nós, assistente sociais, temos um Código de Ética (CE), aprovado em 
13 de março de 1993 pela Resolução CFESS (Conselho Federal de Serviço Social) nº 273? 
Porém, antes de tratarmos deste Código e dos anteriores a este, é importante que você 
entenda como se constitui a ética, para tanto, vamos nos aproximar de algumas contribuições 
da Professora Maria Lúcia Barroco, autora de maior referência no tema. 
Em sua análise sobre a ética, Barroco (2010, p. 116) explicita sua fundamentação a 
partir da teoria social de Marx. Desse modo, sinaliza que a ³>���@� pWLFD� p� XPD� FRQVWUXomR�
histórica dos homeQV´�� $� DXWRUD� ������� DSRQWD� TXH� R� WHUPR� pWLFD� VXUJH� FRP� R�
nascimento da filosofia, sendo uma a ética uma dimensão do conhecimento filosófico 
que estuda o fundamento teórico do comportamento. 
Portanto, a possibilidade de constituição dos homens como seres éticos se efetiva 
pela sua capacidade em agir de forma consciente e racional, uma vez que, através da 
práxis, o homem transforma a natureza e cria um produto que não existia anteriormente.Nesse processo, o sujeito se modifica e pode se auto-reconhece como sujeito 
de sua obra; a natureza se modifica por ter sido transformada pela ação do 
homem. O produto passa a ter uma existência independente do sujeito que o 
criou, mas não independente da práxis da humanidade, pois é resultante do 
acúmulo de conhecimento e da prática social dos homens. (BARROCO, 
2010, p. 24) 
De acordo com Barroco (2010), tendo em vista a capacidade teleológica dos homens 
de transformar a natureza, inicia-se um processo de criação de alternativas, no qual o ser 
humano é capaz de fazer escolhas e, deste modo, realizar escolhas de valor. Por conseguinte, 
o valor, como forma de objetivação da ética, também se institui como uma construção 
 
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histórica dos homens, embora, muitas vezes, sua gênese seja identificada pela avaliação 
subjetiva dos indivíduos. 
 
[...] os valores morais surgem das necessidades históricas dos homens. 
Uma vez instituídos, passam a se estruturar como sistema normativo: 
conjunto de normas morais que visa à regulação do comportamento dos 
indivíduos, tendo por finalidade atender às necessidades de 
sobrevivência, de justiça, de defesa etc. da comunidade. (BARROCO, 
2010, p. 60) 
 
Considerando a dimensão ética dos homens, entendidos como sujeitos históricos, 
chegamos à conclusão de que a intervenção cotidiana do assistente social também se 
instaura como um processo ético, visto que, conforme Barroco (2012), o exercício 
profissional produz um resultado na vida concreta dos usuários, bem como na própria 
constituição histórica da sociedade. 
A partir destas considerações, podemos vislumbrar o assistente social como um 
sujeito ético-moral, pois, tendo em vista os valores contidos no Código, o profissional 
DGTXLUH�VHQVR�RX�FRQVFLrQFLD�PRUDO��QD�TXDO�³>���@�DVVXPH�TXH�R�V��RXWUR�V��SRGH�P��RX�
não sofrer as consequências por seus atos; por isso, a moral supõe o respeito ao outro 
(alteridade) e a responsabilidade em relação aos resultados das ações para outros 
LQGLYtGXRV��JUXSRV�H�SDUD�D�VRFLHGDGH�HP�JHUDO�´��%$552&2��������S����� 
 
O CE é um instrumento educativo e orientador do comportamento ético 
profissional do assistente social: representa a autoconsciência ético-
política da categoria em dado momento histórico. Assim, é mais do que 
um conjunto de normas, deveres e proibições; é parte da ética 
profissional: ação prática mediada por valores que visa interferir na 
realidade, na direção social da sua realização objetiva, produzindo um 
resultado concreto. (BARROCO, 2012, p. 35) 
 
Conforme nos explicita Barroco (2012) a instituição de um Código de Ética, o seu 
conhecimento e aceitação pela categoriD� SURILVVLRQDO�� ³>���@� QmR� JDUDQWHP� D� REMHWLYDomR� GD�
ética profissional, pois ela decorre de uma série de condicionantes profissionais e 
FRQMXQWXUDLV�TXH�H[WUDSRODP�R�&yGLJR�H�D�LQWHQomR�GRV�DJHQWHV�� WRPDGRV�LQGLYLGXDOPHQWH�´�
(BARROCO, 2012, p. 36) 
 
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Nesse sentido, a ética profissional é perpassada por determinantes externos à 
profissão, como a moral, a educação, as instituições culturais e os costumes, os quais 
estão ancorados em projetos societários compatíveis ou não à perspectiva profissional. 
 
Quando surge a sociedade de classes e seus antagonismos, fundados na 
propriedade privada, na divisão social do trabalho e na exploração do 
trabalho, a função normativa da moral adquire uma relativa autonomia em 
face de outras funções; assume formas ideológicas e, através de várias 
mediações, contribui para a veiculação de modos de ser, de valores e 
costumes que justificam a ordem social dominante e suas ideias. 
(BARROCO, 2010, p. 62) 
 
Além dessas, há determinações internas as quais se referem ao projeto de 
profissão, o que significa pensar na construção histórica do Serviço Social, bem como na 
formação moral e profissional, no exercício profissional cotidiano, na dimensão 
ideológica e política da sua direção social, nas entidades da categoria e no seu Código de 
Ética. 
 
 
 
De acordo com Barroco (2012), o posicionamento ético não se restringe à 
intencionalidade do profissional, visto que também é perpassado, conforme pontuamos 
anteriormente, por outros determinantes, como a qualidade (ou não) da formação profissional, 
pela cultura (conservadora), produzindo intervenções profissionais frágeis de preparo teórico, 
técnico, consciência crítica, dentre outros. 
Situados estes aspectos mais gerais sobre a ética profissional, agora trataremos dos 
Códigos de Ética do Serviço Social. 
 
 
 
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De acordo com o que já discutimos anteriormente, o Movimento de Reconceituação 
Latino-americano e o processo de renovação do Serviço Social brasileiro (NETTO, 2011), na 
sua relação com o contexto sócio-político daquele período, gestaram as bases para a ruptura 
com o tradicionalismo profissional, bem como para a aproximação da profissão à tradição 
teórica marxista. Esse cenário culminou na reformulação da ética profissional, materializada 
por meio do Código de Ética de 1986, o qual foi produto de um processo coletivo de 
politização e de deliberação na categoria de assistentes sociais. 
 
O conjunto das conquistas efetivadas no CE de 1986 podem assim ser 
UHVXPLGR�� R� URPSLPHQWR� FRP� D� SUHWHQVD� SHUVSHFWLYD� ³LPSDUFLDO´� GRV�
Códigos anteriores; o desvelamento do caráter político da intervenção 
ética; a explicitação do caráter de classe dos usuários, antes dissolvidos 
QR� FRQFHLWR� DEVWUDWR� GH� ³SHVVRD� KXPDQD´�� D� QHJDomR� GH� YDORUHV� D-
históricos; a recusa do compromisso velado ou explícito com o poder 
instituído. A partir de 1986, o CE passa a se dirigir explicitamente ao 
compromisso profissional com a realização dos direitos e das 
necessidades dos usuários, entendidos em sua inserção de classe. Como 
se percebe, são conquistas políticas inestimáveis, sem as quais não seria 
possível alcançar o desenvolvimento verificado nos anos 1990. 
(BARROCO, 2012, p. 48) 
 
A partir do amadurecimento desse projeto profissional, especialmente em uma 
conjuntura marcada pela promulgação da Constituição Federal de 1988, emerge-se a 
necessidade de objetivar com mais rigor as implicações dos princípios conquistados e 
SODVPDGRV� QR� &yGLJR� GH� ������ ³>���@� WDQWR� SDUD� IXQGDU� PDLV� DGHTXDGDPHQWH� RV� VHXV�
parâmetros éticos quanto para permitir uma melhor instrumentalização deles na 
SUiWLFD�FRWLGLDQD�GR�H[HUFtFLR�SURILVVLRQDO´��&)(66��������S����� 
 
A revisão do texto de 1986 processou-se em dois níveis. Reafirmando os 
seus valores fundantes - a liberdade e a justiça social -, articulou-os a 
partir da exigência democrática: a democracia é tomada como valor 
ético-político central, na medida em que é o único padrão de 
organização político-social capaz de assegurar a explicitação dos valores 
essenciais da liberdade e da equidade. É ela, ademais, que favorece a 
ultrapassagem das limitações reais que a ordem burguesa impõe ao 
desenvolvimento pleno da cidadania, dos direitos e garantias 
individuais e sociais e das tendências à autonomia e à autogestão social. 
Em segundo lugar, cuidou-se de precisar a normatização do exercício 
profissional de modo a permitir que aqueles valores sejam retraduzidos 
no relacionamento entre assistentes sociais,instituições/organizações e 
população, preservando-se os direitos e deveres profissionais, a 
qualidade dos serviços e a responsabilidade diante do usuário. (CFESS, 
1993, p. 02) 
 
 
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Por conseguinte, esta revisão resultou na instituição do Código de Ética de 1993. 
 
 
[...] CE de 1993 [...] ao estabelecer as mediações entre os projetos 
societários e profissionais, ofereceu respostas objetivas ao exercício 
profissional, explicitando a relação entre valores essenciais e as suas 
formas de objetivação no âmbito das instituições, nos limites da 
sociedade burguesa, partindo do pressuposto que elas não se esgotam 
em si mesmas: devem ser realizados na perspectiva do seu alargamento, 
com a consciência crítica de seus impedimentos, na direção do 
fortalecimento das necessidades dos usuários, tratados em sua inserção 
de classe. (BARROCO, 2012, p. 60) 
 
Nesta consideração Barroco (2012) evidencia a categoria da contradição como 
pressuposto teórico-metodológico para apreensão da ética profissional, pois esta 
contradição é produto do próprio movimento da história e das relações de 
produção/forças produtivas da sociedade. De acordo com Marx, (1976, p. 117) 
 
Essa oposição de interesses dimana das condições econômicas de sua vida 
burguesa, portanto, cada dia é mais evidente que as relações de produção em 
que a burguesia se desenvolve, não possuem um caráter uniforme e simples, 
mas um duplo caráter; que dentro das mesmas relações em que se produz a 
riqueza, produz-se também, a miséria; que dentro das mesmas relações em 
que se opera o desenvolvimento das forças produtivas, existe outrossim uma 
força que da origem à opressão; que essas relações não criam a riqueza 
burguesa, isto é, a riqueza da classe burguesa, senão destruindo 
continuamente a riqueza dos membros integrantes dessa classe e formando 
um proletariado que cresce sem cessar. 
 
Segundo Barroco (2012, p. 67) ³>���@� D� SURILVVmR� QmR� SRGH� HOLPLQDU� XPD� GDV�
dimensões de sua atuação; porém, por causa da sua opção política, o assistente social 
pode colocar-se a serviço de uma delas, optando por fortalecer a classe trabalhadora 
SRU�PHLR�GH�VHXV�VHUYLoRV´� 
Neste sentido, ao assumir tal posição, a profissão se distancia do relativismo ético-
moral reproduzido pelo senso comum, o qual nega a construção da ética profissional coletiva 
H� UDFLRQDO� H� D� GLIXQGH� ³>���@� FRPR� XP� FRQMXQWR� GH� YDORUHV� LGHDLV� TXH� FDGD� XP� µHVFROKH¶�
individualmente, construindo uma ideologia que leva os indivíduos a entenderem que não 
 
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H[LVWHP�SDUkPHWURV�VRFLDLV�H�XQLYHUVDLV�SDUD�R�MXOJDPHQWR�GDV�Do}HV�pWLFDV�>���@´��%$552&2��
2012, p. 68) 
 
 
7. PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL: construção e desafios 
 
 
 
De acordo com o Prof. José Paulo Netto (1999, p. 93), a teoria social crítica 
dispõe que as ações humanas são sempre direcionadas a partir de uma intencionalidade, 
QD�TXDO�VH�H[SOLFLWDP�REMHWLYRV��PHWDV�H�ILQV��1HVVH�VHQWLGR��³D�DomR�KXPDQD�>���@�LPSOLFD�
sempre um projeto, que é, em poucas palavras, uma antecipação ideal da finalidade que 
se quer alcançar, com a invocação dos valores que a legitimam e a escolha dos meios 
para atingi-OD´�� 
O autor destaca que essa intencionalidade humana é conduzida por projetos 
individuais e coletivos, enquanto que os projetos societários se situam nesse último âmbito e 
³>���@� DSUHVHQWDP� XPD� LPDJHP� GH� VRFLHGDGH� D� VHU� FRQVWUXtGD�� TXH� UHFODPDP� GHWHUPLQDGRV�
valores para justificá-la e que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizá-
OD´� �1(772�� ���9, p. 93). Ademais, Netto esclarece que, na sociedade capitalista, os 
projetos societários são sinônimos de projetos de classe. 
 
 
 
 
 
 
No interior dos projetos coletivos, situam-se os projetos profissionais, os quais, 
segundo Netto (1999, p. 95) 
 
 
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Cabe ressaltar que o autor (1999, p. 98) elucida que os projetos profissionais são 
SHUSDVVDGRV�SHOD�YDORUDomR�pWLFD��D�TXDO�QmR�VH�OLPLWD�³>���@�D�QRUPDWL]Do}HV�PRUDLV�H�RX�
prescrição de direitos e deveres, mas envolvem ainda as escolhas teóricas, ideológicas e 
SROtWLFDV�GDV�FDWHJRULDV�H�GRV�SURILVVLRQDLV�>���@´�� 
 
 
 
Em se tratando do Serviço Social brasileiro, identificamos que no decorrer de sua 
trajetória histórica, especificamente na transição da década de 1970 à de 1980, instaura-se 
a construção de um projeto profissional de ruptura, ou seja, o projeto ético-político da 
profissão. 
Yazbek, Martinelli e Raichelis (2008, p. 24 e 25) elucidam que a construção dessa 
direção social foi impulsionada pelos seguintes fatores: 
 
x A busca de ruptura com o histórico conservadorismo no pensamento e na 
ação profissional, na perspectiva de comprometer a profissão com os 
interesses e necessidades de seus usuários. 
x O avanço de sua produção de conhecimentos, sobretudo com o 
desenvolvimento da pós-graduação em Serviço Social no país. [...] este 
acúmulo teórico instala no âmbito do Serviço Social uma massa crítica e um 
amplo debate que vai favorecer a construção do projeto profissional. 
x O debate sobre a formação profissional e a reforma curricular 
desencadeada e coordenada pela Associação Brasileira de Ensino de Serviço 
Social ± Abess que impulsionou a revisão curricular de 1982 e as atuais 
Diretrizes Curriculares (1996) [...]10. 
 
10
 De acordo com as autoras (2008), a partir dessas revisões, a formação profissional pretende capacitar o aluno 
SDUD�³D�DSUHHQVmR�FUtWLFD�GR�SURFHVVR�KLVWyULFR�FRPR�WRWDOLGDGH�>���@�D�LQYHVWLJDomR�VREUH�D�IRUPação histórica e 
os processos sociais contemporâneos que conformam a sociedade brasileira [...] a apreensão do significado 
social da profissão desvelando as possibilidades contidas na realidade social [...] a apreensão das demandas ± 
consolidadas e emergentes ± postas ao Serviço Social via mercado de trabalho, visando formular respostas 
 
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x A Lei de Regulamentação da Profissão (Lei 8.662, de 7/6/1993), que 
dispõe sobre o exercício profissional, suas competências, suas atribuições 
privativas e os fóruns que objetivam disciplinar e defender o exercício da 
profissão [...]. 
x O Código de Ética, aprovado em 13 de março de 1993, pela resolução do 
Cfess, que define os princípios éticos fundamentais da profissão [...]. 
 
Nesse sentido, o projeto ético-político profissional do Serviço Social 
 
[...] tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor 
central ± a liberdade concebida historicamente, como possibilidade de 
escolher entre alternativas concretas; daí um compromisso com a 
autonomia, a emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais. 
Consequentemente, o projeto profissional vincula-se a um projeto 
societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem 
dominação e/ou exploração de classe, etnia e gênero. A partir destas 
escolhas que o fundam, tal projeto afirma a defesa intransigente dos 
direitos humanos e a recusa do arbítrio e dos preconceitos,contemplando positivamente o pluralismo ± tanto na sociedade como no 
exercício profissional. (NETTO, 1999, p. 105). 
 
 
 
 
 
Outrossim, Netto (1999) indica a radicalidade do projeto com vistas à democracia, 
equidade, justiça social, ao acesso e à publicização dos programas e políticas sociais, em um 
proeminente compromisso com as classes trabalhadoras. 
 
 
O serviço social como profissão foi chamado historicamente para 
intervir na questão social [...]. Ao intervir no embate da relação 
capital/trabalho, o objetivo é evitar que as refrações desta luta ganhem 
contornos indesejáveis. Embora socialmente esta seja a designação dada 
à profissão, o serviço social nega esta identidade atribuída ao longo de 
sua história e constrói um projeto profissional que procura contribuir 
FRP�R� IRUWDOHFLPHQWR� GDV� OXWDV� GRV� WUDEDOKDGRUHV�� �6$17¶$1$�� ������
p. 14). 
 
profissionais que potenciem o enfrentamento da questão social, considerando as novas articulações entre público 
e privado [...] o exercício profissional cumprindo as competências e atribuições previstas na legislação 
SURILVVLRQDO�HP�YLJRU´��<$=%(.��0$57,1(//,��5$,&+(/,6��������S������ 
 
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Braz (2004) afirma a presença de três dimensões no projeto ético-político. A 
primeira dirige-se ao aspecto teórico, o qual implica a produção de conhecimentos no 
âmbito da profissão�� ³>���@� UHODFLRQD-se à sistematização teórica das várias modalidades 
interventivas da profissão, configurando-se no seu momento reflexivo-investigativo´� A 
segunda dimensão refere-se ao ponto de vista jurídico-SROtWLFR� TXH� UHSUHVHQWD� R� ³>���@�
conjunto de leis, resoluções, documentos e textos políticos consagrados no meio 
SURILVVLRQDO´. Por fim, destaca a relevância da base político-organizativa do Serviço 
6RFLDO��³>���@�RQGH�HVWmR�DVVHQWDGRV�>���@�HVSDoRV�GHOLEHUDWLYRV�H�FRQVXOWLYRV�GD�SURILVVmR�
FRQVWUXtGRV� KLVWRULFDPHQWH� SRU� PHLR� GRV� PRYLPHQWRV� RUJDQL]DGRV� GD� FDWHJRULD´��
(BRAZ, 2004, p.58). 
 
 
 
Embora no percurso de sua trajetória o Serviço Social tenha construído um 
projeto ético-político progressista e sintonizado com a construção de outra ordem 
societária, assim como adquirido a maioridade intelectual, isto não significa que a 
profissão tenha alcançado um patamar de desenvolvimento que se encontra estanque na 
história. 
Yazbek, Martinelli e Raichelis (2008) dispõem que o referido projeto tem 
convivido, a partir da década de 1990, com as inflexões das políticas neoliberais, as quais 
apresentam um projeto de sociedade contrário à defesa política da profissão, uma vez que 
SURPXOJDP� D� PLQLPL]DomR� GR� SDSHO� GR� (VWDGR�� R� LGHiULR� GD� ³VRFLHGDGH� VROLGiULD´� H� R�
desmantelamento dos direitos sociais garantidos na Constituição Federal de 1988 e em suas 
subsequentes legislações específicas, como a Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), a 
Lei Orgânica da Saúde (LOS); o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), entre outras. 
Logo, à profissão instaura-se o desafio de 
 
 
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[...] reafirmação do projeto ético-político profissional do Serviço Social, 
seus valores, objetivos e conhecimentos teóricos que o sustentam, e os 
limites para a sua concretização no atual quadro sociopolítico a ele 
refratário. A busca de novas práticas que se esboçam como alternativa 
ao neoliberalismo é um caminho a ser percorrido coletivamente, 
considerando as lutas e propostas de resistência na perspectiva de uma 
globalização contra-hegemônica, construída por um complexo de 
mediações e articulações transnacionais e nacionais de movimentos, 
associações e organizações que defendem interesses das classes e 
camadas subalternizadas pelo capitalismo global hegemônico. 
(YAZBEK; MARTINELLI; RAICHELIS, 2008, p. 28). 
 
De acordo com Braz (2004), este cenário, baseado nas privatizações e na redução dos 
direitos sociais conquistados legalmente pela classe trabalhadora, traz repercussões para as 
três dimensões do projeto ético-político, citadas anteriormente, quais sejam: as 
dimensões teórica, jurídico-política e político-organizativa. 
O autor explicita que a dimensão teórica pode sofrer alterações, pois se propaga a 
mercantilização das universidades públicas. Esta tendência ocasiona restrições nos 
financiamentos públicos de pesquisa e a deterioração das condições de trabalho dos 
docentes. 
 
Isto pode acarretar uma fragilização da base teórica-acadêmica do projeto 
profissional [...] dos espaços de formação e dos grupos de pesquisa 
consolidados que [...] plantaram os pilares acadêmicos que sustentam e 
contornam a dimensão teórica do projeto ético-político [...]. (BRAZ, 2004, 
p. 60). 
 
Em relação à dimensão jurídico-política, Braz (2004) coloca a emergência de 
duas ordens de problemas. O primeiro aponta para a flexibilização das relações 
trabalhistas e a desregulamentação das profissões, já o segundo sinaliza a degradação, a 
mercantilização e a privatização dos serviços públicos. Este trinômio rebate na 
capacidade de materialização dos direitos advindos da Constituição de 1988. 
Por fim, identifica-se que a dimensão político-organizativa do projeto ético-
político altera-se, significativamente, com as propostas advindas do ideário neoliberal, 
QD�PHGLGD�HP�TXH�HVWH�SUHJD�D�QHJDomR�GDV�Do}HV�FROHWLYDV��³>���@�IHUWLOL]DQGR�R�WHUUHQR�
GR� µVDOYH-VH� TXHP� SXGHU¶�� GDV� VDtGDV� LQGLYLGXDLV�� GR� LVRODFLRQLVPR´�� �BRAZ, 2004, p. 
63). 
 
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Em suas colocações, Braz (2004) pontua um prognóstico sobre o futuro do projeto 
ético-político, relatando que três tendências podem se desenvolver no bojo do projeto 
profissional de ruptura. 
 
 
A primeira disposição retrata a possibilidade de emergirem perspectivas políticas 
que se vinculem a projetos profissionais conservadores. Outra tendência enfatiza que 
³>���@� D� SURGXomR� WHyULFD� SRGHUi� SHUGHU� XP� HL[R� FHQWUDO� TXH� D� YHP� FDUDFWHUL]DQGR�� D�
defesa das políticas públicas, com caráter univHUVDO�H�GH�UHVSRQVDELOLGDGH�GR�(VWDGR´��
Já a terceira tendência discorre que é possível o desenvolvimento das bases 
conservadoras do Serviço Social. 
 
As repercussões desta tendência rebaterão na produção teórica e nas 
entidades da categoria. Na produção teórica, poderá se expressar por meio 
de uma reatualização de fontes teóricas tradicionais, enaltecendo os modelos 
de intervenção profissional que primam pelo fortalecimento de receitas à 
atuação profissional. No âmbito das organizações políticas, poderá crescer 
um movimento silencioso de deslegitimá-la politicamente, desconhecendo 
sua representatividade. (BRAZ, 2004, p. 65). 
 
No que concerne à possibilidade de desenvolvimento destas bases conservadoras, 
destaca-se que a incorporação da teoria crítico-dialética no direcionamento do trabalho 
profissional (IAMAMOTO, 2011), não significou a extinção do modo de ser conservador do 
6HUYLoR� 6RFLDO�� ³SRLV� D� KHUDQoD� FRQVHUYDGRUD� H� DQWLPRGHUQD�� FRQVWLWXWLYD� GD� JrQHVH� GD�
profissão, atualiza-se e permanece presente nos WHPSRV�GH�KRMH´��<$=%(.��0$57,1(//,��
RAICHELIS, 2008, p. 22). 
Tal

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