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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DE MACAÉ DO ESTADO DA BAHIA. GERSON, brasileiro, solteiro, médico, portador da carteira de identidade nº 1234567891, expedida pelo SSP/ES, inscrito no CPF/ES sob o nº 01234567891, endereço eletrônico <gerson@live.com>, residente e domiciliado na Avenida Princesa Isabel, nº 000, Bairro Centro, na cidade de Vitória/ES, CEP 00000-000; neste ato representado por sua procuradora, endereço eletrônico <advogada@terra.com.br>, com endereço profissional na Rua Marechal Floriano Peixoto nº 626, na cidade de Porto Alegre/RS, CEP 00000-000, endereço que indica para os fins do artigo 77, V, do CPC, vem à presença de Vossa Excelência propor a presente: AÇÃO PAULIANA, pelo procedimento COMUM, em face de BERNARDO, brasileiro, viúvo, autônomo, portador da carteira de identidade nº 0123456789, expedida pelo SSP/BA, inscrito no CPF/BA sob o nº 01234567890, endereço eletrônico <bernardo@live.com>, residente e domiciliado na Avenida Princesa Isabel nº 001, Bairro Centro, na cidade de Salvador/BA, CEP 00000-000 e JANAÍNA, brasileira, solteira, menor de idade, portadora da carteira de identidade nº 0123456789, expedida pelo SSP/BA, inscrita no CPF/BA sob o nº 01234567890, endereço eletrônico <janaina@live.com>, residente e domiciliada na Avenida Princesa Isabel nº 001, Bairro Centro, na cidade de Macaé/BA, CEP 00000-000, pelos fatos e fundamentos jurídicos que passa a expor: I - DA OPÇÃO DE NÃO REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO Na intenção de garantir pleno direito, a parte autora manifesta que não tem interesse na realização da audiência de conciliação. Neste sentido, dispõe o NCPC: Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência. § 5° O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na autocomposição, e o réu deverá fazê-lo, por petição, apresentada com 10 (dez) dias de antecedência, contados da data da audiência. Portanto, requer a dispensa do compromisso da audiência supracitada. II - DOS FATOS O autor é credor da parte ré, da importância de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) originado de negócio jurídico através de Nota Promissória, estando a dívida vencida desde o dia 10/10/2016. Eis que no dia do vencimento, o réu se manteve inerte com relação ao pagamento, negando-se a arcar amigavelmente com o compromisso. Alguns dias após o vencimento e a não quitação desse título de crédito, com a indiscutível intenção de fraudar a cobrança do crédito do ora autor, o réu realizou uma doação para sua filha Janaína, que é menor impúbere e reside com sua genitora na cidade de Macaé, estado do Rio de Janeiro. Nesta doação encontram-se os únicos dois imóveis que a parte ré possuía: um localizado na cidade de Aracruz e o outro localizado na cidade de Linhares, ambos no estado do Espírito Santo. Os dois imóveis correspondem a um valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais). É de extrema importância ressaltar que ainda há uma cláusula de usufruto vitalício em favor do próprio réu, combinada com uma cláusula de incomunicabilidade, conforme Certidão de ônus reais. Também é imprescindível salientar que as dívidas do réu ultrapassam a soma de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais) e que, inclusive, os dois imóveis encontram-se alugados a terceiros. Diante do exposto, não restou outra opção senão recorrer à tutela jurisdicional do Estado para ver resguardado seus interesses. III - DOS FUNDAMENTOS Ora Excelência, é preciso ressaltar que desde o primeiro instante a parte ré agiu de má fé para com a parte autora. Nos fatos está devidamente comprovada a manobra fraudulenta que o réu usou para burlar a execução do título de crédito do autor. Não restam dúvidas quanto a má fé do réu ao celebrar a doação dos seus únicos bens a sua única filha, sendo assim, dispõe o Código Civil: “Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores”. Segundo o artigo 145 do Código Civil, ipsis litteris “São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa”, não há divergências ao que tange o dolo do Sr. Bernardo no que se refere a doação visto que o crédito é preexistente ao ato, como demonstrado a seguir: Da anterioridade do crédito: O crédito já existia antes da doação, originado em nota promissória inclusive vencida antes do fato. O doutrinador Orlando Gomes, inclusive já se posiciou quanto à anterioridade do crédito: “de regra, só é anulável a transmissão feita depois de ter sido contraída a dívida, mas não há razão para essa limitação porque o ato de alienação praticado anteriormente pode ser dolosamente preordenado para o fim de prejudicar a satisfação do futuro credor” (Obrigações – Forense - Quarta edição – pag. 283). Neste mesmo sentido, vejamos: “AÇÃO PAULIANA - DOAÇÃO EM FRAUDE CONTRA CREDORES - ANTERIORIDADE DO DÉBITO - CARACTERIZAÇÃO DO EVENTO DANOSO E DO ACORDO FRAUDULENTO - AÇÃO PROCEDENTE - APELAÇÃO IMPROVIDA. Demonstrado que os créditos existiam antes da data da doação feita pelo devedor aos filhos, deixando de resgatar dívidas antigas e em execução, sem penhora, evidenciando-se a insolvência, com a transferência gratuita do imóvel, o reconhecimento da fraude contra credores se impõe naturalmente. O ônus da prova, quanto à solvência, na ação pauliana, não é exclusivamente do autor, cabendo ao devedor demonstrar que, a despeito do ato praticado, continuou solvente para elidir a ação. Ao credor não incumbe a prova de fato negativo e difícil de sua parte, quanto ao devedor, por sua vez, fácil seria demonstrar sua própria solvência, se verdadeira.(TJ-SC - AC: 260037 SC 1988.026003-7, Relator: José Bonifacio, Data de Julgamento: 04/09/1990, Segunda Câmara de Direito Civil, Data de Publicação: DJJ: 8.098DATA: 26/09/90PAG: 01)”. Ou seja, é explícita a tentativa de fraude ao credor visto que o réu tentou manobrar o pagamento de suas dívidas através de uma doação anulável, vejamos o que traz o artigo 106 do Código Civil, in verbis: "Os atos de transmissão gratuita de bens, ou remissão de dívida, quando os pratique o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, poderão ser anulados pelos credores quirografários como lesivos dos seus direitos". Da consciência das partes envolvidas e da insolvência do devedor: É evidente, desta forma, o dolo do réu ao que se refere a intenção de fraudar a execução da dívida, portanto cabe a norma do Código Civil que disciplinou o instituto da fraude contra credores: “Art. 158- Os negócios jurídicos de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. §1º - Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. §2º - Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles”. Neste caso, tratando-se de doação, ainda há de se presumir o consilium fraudis, visto que a doação foi de ascendente para descendente, mesmo que a prole seja menor. Ainda quanto à insolvência, é intrínseco o “eventus damni”, pois através do ato fraudulento, o réu se tornou incapaz de saldar todos os seus credores, o que está facilmente perceptível pelo exorbitante valor de sua atual dívida, que, inclusive, ultrapassa em R$ 100.000,00 (cem mil reais) o valor de seus bens. Desta forma, a parte autora requer o reconhecimento da fraude contra credor. E não menos importante a quitação de seu crédito, dando provimento ao pleito, sendo esse montante de R$80.000,00 (oitenta milreais). VI - DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Considerando a natureza alimentar dos honorários sucumbenciais, sendo um direito autônomo do causídico em executá-lo em nome próprio, vejamos o previsto na legislação processual, mais precisamente no tocante ao Art. 85 do Novo CPC: “§ 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos: I - o grau de zelo do profissional; II - o lugar de prestação do serviço; III - a natureza e a importância da causa; IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço”. VII - DOS PEDIDOS De acordo com o exposto, requer a este juízo: Com fulcro no art. 319, VII, do NCPC, dispensar a designação de audiência de conciliação, conforme fundamentado no item I; Determinar a citação do Requerido para integrar a relação processual, inicialmente pelo correio e, sendo esta infrutífera, por oficial de justiça, ou, ainda, por meio eletrônico, tudo nos termos do art. 246, incisos I, II e V, do CPC; Requer o suplicante, que a citação do menor impúbere, Janaína, recaia na pessoa de sua progenitora, bem como a intimação do Representante do Ministério Público, nos termos do inciso I, do artigo 82, do Código de Processo Civil; A procedência do pedido a fim de declarar a desconstituição do ato jurídico viciado para que se reincorpore o bem alienado ao patrimônio do requerido, restaurando-o como garantia patrimonial para possibilitar a solução do seu débito; Requer também a declaração de nulidade do mesmo para se reincorporar a coisa alienada ao patrimônio do primeiro requerido; A condenação do réu ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios, estes de acordo com o disposto no artigo 20, § 3° do Código de Processo Civil; Ao final, sejam julgados totalmente procedentes os pedidos veiculados nesta ação. VIII - DAS PROVAS Permitir provar o alegado por todos os meios legais admitidos, bem como os moralmente legítimos, os previstos na amplitude dos artigos 369 e seguintes do CPC, em especial a prova documental, prova pericial, prova testemunhal e o depoimento pessoal do réu ainda que não especificados em códigos. IV – DO VALOR DA CAUSA Dá-se à causa o valor de R$ 80.000,00, correspondente ao valor do negócio jurídico. Nestes termos pede o deferimento. Salvador, 22 de agosto de 2017. LUANA ROSA DA CUNHA OAB/RS XXX.XXX
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