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Trabalho Estado de Perigo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
ADMINISTRAÇÃO
ESTADO DE PERIGO
ESTADO DE PERIGO
ALUNOS: Victória de Andrade Araujo; Hozana Viana Sena de Souza; Amanda Maria Gonçalves; Geisy Coelho Lopes; Mariana de Fátima Marques Ferreira; Tatiana Fernandes Rodrigues.
	
Trabalho apresentado para avaliação na disciplina de Noções Direito Privado do curso de Administração, da Universidade Federal de Juiz de Fora, ministrado pela professora Marina Oliveira Guimarães. 
Defeitos do Negocio Jurídico 
Estado de Perigo 
Defeito é todo vício que macula o negócio jurídico, o que possibilita a sua anulação.
A nulidade pode ser relativa ou absoluta. Quando o ato é anulável, ele se divide em duas modalidades de vício: a) vício de consentimento – são aqueles que provocam uma manifestação de vontade não correspondente com o íntimo e o verdadeiro querer do agente (o erro ou ignorância, dolo, coação, estado de perigo e lesão); 
b) vício social – são atos contrários à lei ou à boa-fé, que é exteriorizado com o objetivo de prejudicar terceiro (fraude contra credores). 
Palavras – chaves: Negocio Jurídico, Estado de Perigo, Vícios.
 
Sumário 
Introdução 
Desenvolvimento 
Defeitos do Negocio Jurídico
Coação 
Erro
Dolo
Lesão
Simulação
Fraude contra credores 
Estado de Perigo 
Conclusão 
Referências 
Introdução
Os Negócios Jurídicos têm, na vontade individual, seu impulso criado, para serem normais e regulares é preciso que a vontade não padeça de vícios que o distorcem. Esses vícios, são conhecidos como os defeitos do negocio jurídico, decorrentes das razões pessoais, subjetivas, que influem na mente do indivíduo, porém esses vícios só ocorrem quando essas razões tem segundas intenções, ou seja, quando um indivíduo realiza um ato jurídico para uma falta representação, diferenciando da vontade real com a vontade declarada, podendo ser feita de forma espontânea ou como consequência da ação de outrem.
Desenvolvimento 
O presente artigo tem o objetivo de estudar os defeitos do negocio jurídico, trazendo todos seus elementos caracterizadores e formas possíveis, além de discussões doutrinárias a respeito e efeitos que acarretam o seu reconhecimento. 
Coação
“Coação é toda ameaça ou pressão exercida sobre um indivíduo
para forçá-lo, contra a sua vontade, a praticar um ato ou realizar um
negócio.”
CC, Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade,
há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano
iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos
seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à
família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias,
decidirá se houve coação.
Tipos de Coação
Há dois tipos de coação:
- Coação absoluta ou física (vis absoluta)
- Coação relativa ou moral (vis compulsiva)
A coação absoluta ou física, em verdade, não consiste em
um defeito do negócio jurídico, mas em motivo de completa
aniquilação da manifestação de vontade, a qual atingirá o plano da existência do negócio jurídico, não apenas o plano da validade (como a coação relativa e os demais defeitos do negócio). Assim, o negócio jurídico realizado por coação absoluta será INEXISTENTE, e não inválido. A coação invalidante, portanto, é a COAÇÃO RELATIVA, aquela na qual existe manifestação de vontade ainda que viciada.
Assim:
COAÇÃO FÍSICA – INEXISTÊNCIA DO Negocio Jurídico
COAÇÃO MORAL – ANULAÇÃO DO Negocio Jurídico
CASO CONCRETO
CC, Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela” 
Diferentemente do ERRO, a coação não é analisada com base na figura do homem médio, mas sim em cada caso concreto específico.
Coação Principal X Coação Acidental
Da mesma forma como ocorre com o dolo, também há a distinção da coação principal e da coação acidental. Tal distinção não provém da lei, mas da doutrina.
Coação Principal 
Aquela que atinge a essência do negócio – Gera a anulação do Negócio Jurídico.
Coação Acidental 
Aquela que não atinge a causa determinante do negócio, mas apenas as condições do acordo, a coação sem a qual o negócio se realizaria de forma menos desfavorável à vítima – Não gera a anulação do Negócio Jurídico, gera apenas a obrigação à indenização por perdas e danos.
Requisitos da Coação
CC, Art. 151 - Para que a ameaça seja considerada como
coação necessário se faz que seja A CAUSA DO ATO, que seja GRAVE, que seja INJUSTA, de DANO ATUAL OU IMINENTE, que acarrete JUSTO RECEIO DE DANO e que seja ameaça de dano à PRÓPRIA PESSOA, SUA FAMÍLIA OU SEUS BENS.
Causa do ato 
Relação de causalidade entre a coação e o ato extorquido.
Grave 
De intensidade suficiente a gerar real temor de dano à sua pessoa, à sua família e aos seus bens. Para aferir essa gravidade usa-se, como dito anteriormente, a análise do caso concreto, não o patamar do homem médio (padrão abstrato).
Injusta 
Ameaça de realização de ato ilícito (contrário ao ordenamento jurídico), ou abusivo.
 “…é injusta a conduta de quem se vale dos meios legais para obter vantagem indevida. Por exemplo: a do credor que ameaça proceder à execução da hipoteca contra sua devedora caso esta não concorde em desposá-lo; a do indivíduo que,
surpreendendo alguém ao praticar algum crime, ameaça denunciá-lo caso não realize com ele determinado negócio”
*Ameaça de exercício regular de direito não é coação!
De dano atual ou iminente –
Dano próximo e provável, aquele de consumação próxima – análise no caso concreto. Não constitui coação a ameaça de dano impossível, remoto ou eventual.
Que acarrete justo receio de dano
O Código de 1916 previa a exigência de uma proporcionalidade entre o sacrifício exigido e o mal evitado. Hoje não mais se faz essa exigência, aceitando-se apenas o justo receio de dano grave.
Que seja ameaça de dano à própria pessoa, sua família ou seus bens
Sempre lembrar que família hoje é considerada como “entidade familiar”.
CC, art. 151, parágrafo único - Incluem-se os parentes por
afinidade, laços de amizade, noivos, namorados e qualquer pessoa cuja ameaça tenha sido suficiente para gerar sensibilização ou intimidação da vítima – análise do caso concreto.
Coação X Ameaça do exercício normal de um direito
CC, Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício
normal de um direito, nem o simples temor reverencial.
CC, Art. 153*, 1ª parte - A ameaça do exercício normal de um
direito não constitui coação, pois não é ameaça injusta.
Coação X Temor reverencial
CC, Art. 153*, 2ª parte - A coação não se confunde com o
temor reverencial, o qual é o respeito à autoridade constituída, seja ela profissional, eclesiástica, familiar ou de outra ordem. Ex: Patrão, superior, sogro, pai, padre, pastor.
A submissão a negócio jurídico não desejado ensejada apenas pela posição de “sujeição psicológica” ou profissional não gera a anulação do Negócio Jurídico, a não ser que acompanhada de ameaça grave (coação).
Coação de Terceiro
A coação por terceiro pode levar a anulação do negocio, desde que o declarante tivesse ou devesse dela tomar conhecimento. Quer dizer, se o declarante não tomou ciência da violência moral, nem dela devia conhecer o negócio jurídico não será anulado. É o que dispõe o art. 154, do CC “vicia o negocio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos”. Assim, só seadmite a nulidade relativa do negócio se o beneficiário soube ou devesse saber da coação, respondendo solidariamente com o terceiro pelas perdas e danos. Se a parte coagida de nada sabia, subsiste o negócio jurídico, respondendo o autor da coação por todas as perdas e danos que houver causado ao coagido, conforme preceitua o art. 155, do CC.
Erro
“O erro consiste em uma falsa representação da realidade. Nessa modalidade de vicio do consentimento o agente engana-se sozinho. Ou seja, em relação a uma pessoa, negócio, objeto ou direito, que acomete a vontade de uma das partes que celebrou o negócio jurídico.”
O Código Civil equiparou o erro à ignorância, mas ambos expressam situações distintas. Enquanto no erro é a ideia falsa da realidade, na ignorância é o completo desconhecimento da realidade dos fatos ou da lei. Num e noutro caso, o agente é levado a praticar o ato ou a realizar o negócio que não celebraria por certo, ou que praticaria em circunstancias diversas, se estivesse devidamente esclarecido. Entretanto, o erro sé é considerado como causa de anulabilidade ou nulidade relativa do negocio jurídico se for: essencial ou substancial (art. 138, do CC), escusável ou perdoável e real.
O erro essencial ou substancial é aquele que incide sobre a causa do negócio que se prática, sem o qual este não teria se realizado. Um exemplo seria, uma pessoa compra um brinco achando que é de prata, mas na verdade é de bijuteria.
Características do erro substancial
As hipóteses de erro substancial estão enumeradas no art. 139, do CC e segundo Carlos Roberto Gonçalves o erro substancial se
caracteriza por uma das seguintes modalidades:
a) Error in negotio: É aquele em que uma das partes manifesta a sua vontade pretendendo e supondo celebrar determinado negócio, e na verdade, realiza outro diferente. É um erro sobre categoria jurídica. Exemplos são os das pessoas que empresta uma coisa e a outra entende que houve doação.
b) Error in corpore: É o que incide sobre a identidade do objetivo. A manifestação recai sobre objeto diverso daquele que o agente tinha em mente. Exemplos: um comprador, que acredita estar a adquirir um terreno supostamente valorizado, em rua bem situada, mas na verdade, tem pouco valor, pois a rua tem o mesmo nome, mas localizada em outro lugar.
c) Error in substantia: Ocorre quando o motivo determinante do negócio é a suposição de que o objeto possui determinada qualidade, que, posteriormente se verifica inexistir. Neste caso, o erro não recai sobre a identidade do objeto, que é o mesmo que se encontrava no pensamento do agente. Exemplos: quando uma pessoa adquiri um quadro com alto valor, na persuasão de se tratar de original, quando não passa de cópia.
d) Error in persona: Pode referir-se tanto à identidade quando às qualidades da pessoa. Exige-se, no entanto, para ser invalidante, que tenha influído na declaração da pessoa. Essa modalidade de erro pode ocorrer em relação ao destinatário da manifestação de vontade como também ao beneficiário. Tem especial importância no casamento e nas liberalidades, como na doação e nos testamentos, além de contrato de sociedade e prestação de serviços.
e) Erro juris ou erro de direito: É o falso conhecimento, ignorância ou interpretação errônea da norma jurídica aplicável a situação concreta. Todos os exemplos recai sobre qualquer elemento ou circunstância do negócio jurídico, como objeto, pessoa e qualidade.
Erro escusável e erro real: O erro escusável aquele que dentro do que se espera do homem médio que atue com grau normal de diligencia. Não se admite, outrossim, a legação de erro por parte daquele que atuou com acentuado grau de displicência, pois o direito não deve amparar o negligente, como dispõe no art. 138 do CC. Adotando assim, o critério de comparar a conduta do agente, como a da média das pessoas, considerando, em casa hipótese as condições pessoas.
O Código Civil de 2002 afastou o critério de escusabilidade, cujo exame se dava sobre o próprio emissor da vontade, trazendo para a disciplina o principio da confiança, cujo critério aferidor passou a ser o destinatário da manifestação da vontade que, mesmo percebendo que a autora estava em erro, silenciou ao invés de adverti-la. Além disso, o Superior Tribunal de Justiça, em acórdão de 19 de agosto de 2010, proclamou: 
“ O erro que enseja a anulação de negócio jurídico, além de essencial, deve ser inescusável, decorrente da falsa representação da realidade própria do homem mediano, perdoável, no mais das vezes, pelo desconhecimento natural das circunstancias e particularidades do negócio jurídico. Vale dizer, para ser escusável o erro deve ser de tal monta que qualquer pessoa de inteligência mediana o cometeria” ( STJ, REsp 744.311-MT, 4ª T. Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 19-8-2010)
Para invalidar o negócio, não basta ser apenas substancial e escusável, também tem que ser real, isto é, efetivo, causador de prejuízo concreto para o interessado. Exemplo: o ano de fabricação do veículo adquirido for 2005 em vez de 2009 é substancial e real, porque, se o adquirente tivesse conhecimento da realidade não teria comprado, sofrendo assim grande prejuízo. Porém, se o erro dissesse respeito somente à cor do veículo, seria acidental porque é irrelevante para definição do preço.
Vício redibitório X Erro substancial
Vício redibitório é o erro objetivo sobre a coisa, geralmente em contratos comutativos, que contém um defeito oculto, quando provado o defeito oculto ocorre a garantia legal prevista para os contratos comutativos conhecida como ações edilícias, podendo o adquirente rejeitá-la, redigindo o contrato, ou exigir abatimento no preço, disciplinados nos arts. 441 a 446 do CC.
O Código de Defesa do Consumidor estabelece o prazo de trinta dias, para os casos de vícios aparentes em produto não durável, e de noventa dias em produto durável. Nesse caso não existe erro, pois o agente recebe exatamente o que pretendia comprar. O erro quanto ás qualidades essenciais do objeto é subjetivo, pois reside na manifestação da vontade. O vício redibitório não toca o psiquismo do agente. Exemplo: Se o adquirente compra um relógio de ouro como supunha, porém não funciona em razão do defeito de uma peça, a hipótese é de vicio redibitório.
O falso motivo nos negócios jurídicos: 
“Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante.”
O motivo do negócio, ou seja, as razões psicológicas que levam a pessoa a realiza-lo, não precisa ser mencionado pelas partes. Esses motivos são ideias, consideradas acidentais e sem relevância para a apreciação da validade do negócio. Nesses casos o erro quando ao objetivo não vicia, entretanto o dispositivo legal permite que as partes promovam o erro acidental a erro relevante. Os exemplos mais comuns são: o adquirente quer alugar um imóvel para instalar um restaurante, pressupondo que em frente terá uma escola, quando na verdade isto não ocorre.
Transmissão errônea da vontade: 
“Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração direta.”
Se o declarante não se encontra na presença do declaratório e se vale de interposta pessoa, mensageiro (quem transmitiu errado pode vir a responder por perdas e danos), ou de um meio de comunicação (fax, e-mail, telégrafo) e a transmissão da vontade, nesses casos, não se faz com fidelidade, estabelecendo-se uma divergência entre o querido e o que foi transmitido erroneamente, caracteriza-se o vicio que propícia anulação do negocio. Porém, se houver culpa do emitente prevalece o Negócio Jurídico e também se aplicar na hipótese do mero acaso e não quando há dolo, neste caso a parte que escolheu o emissário fica responsável pelos prejuízos que tenha causado à outra parte por sua negligência na escolha feita.
Convalescimento do erro: 
Há a possibilidade de convalescimento do erro conforme se prevêo art. 144 do C. C. Em razão do princípio da conservação dos atos e negócios jurídicos e ainda pelo princípio da segurança jurídica.
Às vezes o erro surge devido ao meio de comunicação empregado para a transmissão de vontade negocial, assim diante de mensagem truncada, há o vício e, a possibilidade de anulação do negócio jurídico. Outras vezes o erro decorre de culpa in eligendo ou in vigilando de quem escolhe o mensageiro para levar a declaração de vontade. Não raro encontram-se discrepâncias graves entre a declaração de vontade emitida e a vontade finalmente comunicada.
Exemplo: Um individuo pensa que comprou o lote n. 2 da quadra A, quando, na verdade, adquiriu o n.2 da quadra B. Trata-se de erro substancial, mas antes de anular o negocio o vendedor entrega o lote n. 2 da quadra A, não havendo assim qualquer dano ao individuo, continua sendo valido o negocio, pois a vontade é real. Se tal execução não fosse possível, de nada adiantaria a boa vontade do vendedor.
Erro obstativo ou impróprio 
É o erro de relevância exacerbada, que apresenta uma profunda divergência entre as partes, impedindo que o negócio jurídico venha a se formar, é, portanto, o que obsta a sua formação e, destarte, inviabiliza a sua existência.
Dolo
“Dolo é o artifício empregado para induzir alguém à prática de um ato que o prejudica, e aproveita ao autor do dolo ou a terceiro. Consiste em manobras maliciosas levadas a efeito por uma das partes, ou terceiro, a fim de conseguir da outra uma emissão de vontade que lhe traga proveito. O dolo é provocado intencionalmente por uma das partes ou por terceiro, e faz com que a vítima se equivoque.” 
Segundo os irmãos Mazeud, “a vítima do dolo não está só enganada, mas também foi enganada” (Gonçalves, Carlos Alberto “Direito Civil Brasileiro – Parte Geral 1). A rigor, o dolo não é vício de vontade, mas causa do vício de vontade.
No direito penal, o dolo é a intenção de praticar um ato que se sabe contrário à lei, portanto, diz-se doloso o crime quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. No direito civil, dolo é todo artifício usado para enganar e/ou induzir alguém. Distingue-se, também, o dolo processual, que provém da conduta processual reprovável, contrária a boa-fé.
Caracteres do dolo
No dolo o equívoco é provocado por outrem; provocado na vítima pelo autor do dolo ou terceiro, sendo passível de anulabilidade. O dolo, como espécie de vício de consentimento pode levar o seu autor a indenizar os prejuízos que tiver causado com seu comportamento de indução. A vítima de dolo participa diretamente do negócio e é enganada pela má-fé do autor.
Os requisitos do Dolo são: 
Intenção de induzir o declarante a praticar o ato jurídico, utilização de recursos fraudulentos graves, que esses artifícios sejam a causa determinante da declaração da vontade, que procedam do outro contratante ou de terceiros.
Classificações e Espécies de dolo
Destacam-se as seguintes espécies de dolo:
a) Dolo Principal: Somente o dolo principal vicia o negócio jurídico. É caracterizado quando o negócio é realizado somente porque houve induzimento malicioso de uma das partes. Se não houvesse o artifício ou a manobra maliciosa, o negócio não se teria concretizado.
“Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa”.
b) Dolo Acidental: Essa espécie de dolo não vicia o negócio. O consentimento viria de qualquer maneira, o que não leva a anulação do negócio, mas obriga a reparação das perdas e danos.
c) “Dolus Bonus”: É o dolo tolerável, não há gravidade suficiente para viciar a manifestação de vontade (exemplo: comerciantes que exageram as qualidades das mercadorias que estão vendendo). Não faz com que o negócio seja anulável, pois de qualquer maneira realizariam o negócio e não se deixam envolver. Para Washington de Barros Monteiro o dolo pode ter “fim lícito, elogiável, e nobre”, quando, por exemplo, induz alguém a tomar remédio que recusa ingerir, e lhe é necessário.
d) “Dolus Malus”: É o dolo que possui gravidade, é aplicado com a intenção de ludibriar e de prejudicar. O “dolus malus” divide-se em: dolo principal e dolo acidental, já citado acima. Apenas o “dolus malus” vicia o consentimento, o que leva a anulabilidade do negócio jurídico ou a obrigação de reparar perdas e danos, conforme a gravidade da manobra.
(*) Dolus bonus e Dolus malus– vem do Direito romano.
A lei não regulamenta a intensidade da gravidade do dolo que vicia o consentimento, não distinguindo entre tolerável ou não tolerável. Portanto, cabe ao juiz analisar o caso concreto para decidir se o ludibriante excedeu ou não o limite do razoável.
e) Dolo positivo ou comissivo e dolo negativo ou omissivo: o dolo omissivo também pode ser denominado como omissão dolosa, que de acordo com o art. 147 do Código Civil, o silêncio intencional de uma das partes pode ser considerado omissão dolosa, e prova-se que sem ela o negócio não teria sido celebrado. Dessa maneira, pode ser pleiteada a anulação do negócio jurídico, baseando-se no princípio da boa-fé.
f) Dolo de terceiro: o dolo pode ser proveniente de outro contratante ou de terceiro, que não faz parte do negócio. O art. 148 do Código Civil garante a anulação para negócios jurídicos viciados por dolo de terceiro. Se uma das partes, beneficiada no caso do dolo de terceiro, souber da manobra e não advertir a outra parte é considerado cúmplice e responde por sua má-fé. Entretanto, se a parte beneficiada não souber do dolo de terceiro, não se anula o negócio jurídico. Mas a vítima poderá reclamar perdas e danos do autor do dolo.
g) Dolo de Representante: o representante de uma das partes não pode ser considerado terceiro, pois age em nome do representado, como se fosse o próprio. Se o representante induz ao erro a outra parte, este será anulável.
h) Dolo Bilateral: “Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização”.
Assim, se ambas as partes tem culpa, uma vez que cada qual quis obter vantagem em prejuízo da outra, na poderão anular o negócio, ou reclamar indenização. Ninguém pode valer-se da própria torpeza, não houve boa-fé para que possam se defender.
i) Dolo de Aproveitamento: consiste na ideia de que alguém se aproveita da situação de necessidade ou inexperiência do outro contratante para obter benefícios desproporcionais ao negócio.
Lesão
É vício do negócio jurídico que se caracteriza pela obtenção de um lucro exagerado por se valer uma das partes da inexperiência ou necessidade econômica da outra. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou inexperiência, se obriga à prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta, sendo que a avaliação dessa desproporção será feita segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado.
“Art. 157”. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
§ 1º. Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.
§ 2º. Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. “
A lesão diferencia-se dos demais defeitos do negócio jurídico por representar uma ruptura do equilíbrio contratual desde a fase de formação do negócio. É um negócio defeituoso em que não se observa o princípio da igualdade, e, no qual, não há a intenção de se fazer uma liberalidade. Não há equivalência entre prestação e contraprestação. Traduz-se no prejuízo resultante da manifesta desproporção existente entre a prestação e a contraprestação de um negócio jurídico, em face da inexperiência, necessidade econômica ou leviandade de um dos declarantes.
Exemplo:A situação de alguém que na iminência de ter sua falência decretada, vende seu imóvel por preço bem inferior ao de mercado, em razão da falta de liquidez de recursos para saldar a dívida; daquele que, diante da necessidade de continuar a atividade, paga preço exorbitante pelo fornecimento de água, numa época de seca.
A anulabilidade do negócio jurídico em razão da lesão encontra fundamento na deformação da manifestação de vontade por fatores pessoais do contratante. Não tem relação direta com a intenção do agente em tirar proveito da necessidade do outro, o que pode ou não ocorrer no caso concreto.
Requisitos:
a) Requisito subjetivo: Deve haver uma deficiência, desequilíbrio psicológico de uma das partes proveniente de inexperiência para o negocio ou de sua premente necessidade econômica.
b) Requisito Objetivo: É a desproporção ente as prestações. Consiste em ofensa à comutatividade dos contratos, pois não há equivalência entre prestações, uma das partes irá experimentar um empobrecimento desproporcional (ex: venda de imóvel por quantia 50% inferior ao valor de mercado para poder deve ser verificada de acordo com os valores vigentes à época do negócio quitar divida com instituição financeira. A desproporção entre as prestações.
Diante da existência dos dois elementos – subjetivo e objetivo – exigidos pela lei, o vício no consentimento se torna manifesto, ficando, desde então, evidenciada a lesão do negócio celebrado e sua consequente nulidade relativa, sendo desnecessário e inexigível o conhecimento e vontade, por uma das partes, de se aproveitar das circunstâncias pessoais desfavoráveis da outra.
Efeito: Diante das normas prevista no Código Civil se o negocio jurídico estiver viciado com a lesão será, em regra, anulável, ou seja, terá a sua nulidade relativa declarada com efeito ex nunc (art. 171, II). Porém o parágrafo 2º do art. 157 estabelece que “não se decretará a anulação do negócio, se foi oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar coma redução do proveito”.
Sendo, assim, nada impede que as partes venham ratificar o negocio anulável, como deixa claro o parágrafo 2º, art. 172, do CC. O legislador permite que o juiz não decrete a anulação se a parte lesante oferecer suplemento suficiente ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. Trata de solução que procura salvar o negócio jurídico, evitando o enriquecimento ilícito ou sem causa.
Simulação
Não obstante o Código Civil ter retirado o vicio da simulação do capitulo afeto aos defeitos dos negócios jurídicos, transportando-o para o da invalidade, o seu estudo se faz mais adequado nessa oportunidade, pois na verdade não se tem dúvida de que a simulação é um vicio social.
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.
§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;
§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.
É uma declaração falsa, enganosa, da vontade, visando aparentar negócio diverso do efetivamente desejado. Negócio jurídico simulado, assim, é o que tem aparência contrária à realidade. A simulação é o produto de um conluio entre contratantes, para lesar terceiro ou obter efeito diferente que a lei estabelece, ou ainda, a simulação pode ser real, onde não há efetivamente o conluio entre as partes, mas o tempo, demonstram que uma realidade fática, que foi o sustentáculo do negocio jurídico nunca se concretizou.
No direito civil a simulação pode ser classificada como absoluta ou relativa (objetiva ou subjetiva).
a) Absoluta: é uma situação jurídica irreal e lesiva a direito de terceiro, formada por ato jurídico perfeito, porém ineficaz. Por exemplo, o sujeito que simula com outro a locação de um bem, sem que de fato o contrato exista; da pessoa que emite títulos de crédito em seu desfavor para demonstrar à determinado credor que existem outras dívidas a serem pagas. Nulo, devendo ser anulado todo o ato.
b) Relativa: É uma declaração de vontade ou confissão falsa, com o objetivo de encobrir ato de natureza diversa. As partes pretendem atingir efeitos jurídicos concretos, embora vedados por lei. Assim, existem dois atos distintos: um rela, que efetivamente se pretende praticar e outro simulado, cujas características servirão única e exclusivamente para iludir. Podendo esta simulação ser dividida em objetiva ou subjetiva conforme o ato praticado.
b.1) objetiva: Quando a simulação diz respeito à natureza do negocio jurídico, a seu objeto ou algumas características. No caso, por exemplo, do sujeito que realiza uma doação, simulando uma compra e venda; vende um bem simulando a venda de outro; faz constar cláusulas não verdadeiras, tais como o preço mais baixo, com objetivo de burlar o fisco, menciona datas diferentes ou realiza outras mudanças, tudo para lesar terceiro.
b.2) Subjetiva: Verifica-se quando a pessoa declarada no negócio não é real parte ou beneficiaria do mesmo. Trata-se do que a doutrina chama de interposta pessoa. É o caso, por exemplo, do sujeito que desejando fazer uma doação à sua amante, transfere o bem a uma amigo que, por sua vez, o transmite à real destinatária da liberalidade, com o objetivo de fugir da aplicação do 550, do CC.
a) simulação por interposta pessoa (relativa subjetiva): Para a realização de fins ilegais é comum o agente valer-se de conluio com outra pessoa, utilizando o negocio jurídico simulado.
b) simulação por declaração não verdadeira (relativa objetiva): Tal modalidade pode dizer À própria natureza do contrato ou apenas a alguns de seus itens.
c) simulação por data fictícia (relativa objetiva): Visando fraudar a lei ou terceiro a aposição de data em documento particular, seja ante-datado ou pos-datando.
Efeitos: Nulo ou nulidade absoluta com efeitos ex tunc.
Estabelece o art. 167, CC "é nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou se válido for à substância e à forma".
Nota-se do preceito do Código Civil que os efeitos do negócio jurídico simulado variam conforme o tipo de simulação em análise.
Na simulação absoluta, considerava a doutrina tratar-se de negócio jurídico Nulo. A afirmação parece procedente em relação ao Código Civil, que vislumbra no parágrafo 2º do artigo 167 que são ressalvados "os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado". Nesse sentido, útil faz-se a análise da distinção feita por Gomes (2007, p. 420-421) dos atos inexistentes e dos atos nulos. Segundo o autor, "a utilidade da distinção entre inexistência e nulidade está na circunstância de que o negócio mesmo nulo pode, às vezes, produzir algum efeito (...) enquanto o negócio inexistente se apresenta como o nada jurídico, sem aptidão alguma a produzir qualquer efeito jurídico".
Assim, embora as partes não tenham a vontade real de criar efeitos, como elemento de fato necessário a formação do negócio jurídico, como apontado pela doutrina que a celebração de um negócio ainda que meramente aparente poderia criar direitos a terceiros de boa-fé que nesta aparência acreditaram. O negócio jurídico na simulação absoluta apareceria, portanto, como nulo, embora excepcionalmente possa gerar direitos quanto a terceiros de boa-fé.(ex: a venda de um bem a outrem com o devido pagamento de imposto, o Estado receberia o valor do imposto independentemente do negócio jurídico ser posteriormente considerado nulo).
Na simulação relativa o negócio jurídico não é causa de nulidade se a simulação for inocente, ou seja, se o negócio aparente não tiver sido realizado para ocultar uma relação jurídica que causaria prejuízos a terceiros ou contrariaria imperativo legal, não sendo considerado nulo, por não trazer prejuízo a ninguém.
Pela disposiçãodo artigo 167 do CC, não se considera a relação jurídica aparente, que as partes quiseram transparecer à coletividade, mas subsistiria a relação jurídica dissimulada desde que esta fosse inocente, ou seja, "válida na substância e na forma".
Sobre esta espécie de simulação, o CC de 2002 acaba por reproduzir as conclusões da análise a respeito do Código de 1916: debruça-se sobre o negócio dissimulado, prevalecendo à vontade real das partes em contraste ao declarado à coletividade, o negócio aparente. Ao contrário da simulação inocente, a simulação maliciosa implica na nulidade do negócio jurídico, afetando tanto sua relação simulada quanto sua relação dissimulada.
Terceiros de Boa-fé: coma nulidade do negócio jurídico celebrado por simulação, a lei visa coibir que a fraude prevaleça e que terceiros de boa-fé sejam prejudicados pela manobra ilícita. Assim, declarada a nulidade do ato negocial à situação jurídica deve retornar ao status quo ante.
Legitimidade Ativa: O artigo 168 estabelece que qualquer interessado e o Ministério Público podem alegar a nulidade do negócio jurídico, devendo mesmo o juiz pronunciá-la ex officio, ainda que contra o requerimento das partes.
Fraude contra Credores 
Fraude contra credores é a prática maliciosa ou má fé do devedor através de atos que dilapidam seu patrimônio com o objetivo de salvá-lo de uma ação de execução por dívidas. A fraude contra credores é classificada como vício social porque o devedor, objetivando inadimplir (não pagar) com a obrigação assumida perante seu credor, firma contrato com terceiro alienando (vendendo) bens que garantiriam sua solvência (pagamento). Aqui, o terceiro tem ciência do motivo da disposição do bem, e em conluio com o devedor, conclui o negócio em prejuízo do credor.
Solvente: Quem possui bens que possam pagar a divida.
Insolvente: Ocorre quando o passível do devedor passa a ser maior que o seu ativo, ou seja, o valor da divida supera o valor dos seus bens. Também será insolvente aquele que vender o imóvel para não pagar a dívida.
A grande problemática colocada neste tema é a escolha entre a proteção dos interesses do adquirente de boa-fé ou do credor. A lei protege o adquirente de boa-fé (quem está comprando o bem e não tem conhecimento da ação maliciosa) como bem pode ser observado na ação pauliana (ou revocatória), usada para rever o contrato que colocou o devedor em estado de insolvência, que tem como um de seus requisitos o consilium fraudis, como será visto mais adiante.
Requisitos 
Eventus damni – elemento objetivo
É o tornar-se insolvente em virtude da alienação do bem de sua propriedade para terceiro. O estado de insolvência não precisa ser de conhecimento do devedor, é objetivo, ou seja, existe ou não, independentemente do conhecimento do insolvente.
Consilium fraudis- elemento subjetivo
O termo significa conluio fraudulento, pois alienante (devedor) e adquirente (comprador) têm ciência do prejuízo que causarão ao credor em vista da alienação de bens que garantiriam o adimplemento da obrigação assumida, mas os alienam de má-fé visando frustrar o cumprimento (pagamento) do negócio, e por isso se faz necessária a intervenção judicial.
A boa-fé do adquirente impede a caracterização do consilium fraudis, requisito essencial para ajuizamento da ação paulina.
Esses dois requisitos devem ser provados pelo credor para que seu pedido seja procedente, e assim ser declarada a ineficácia relativa do negócio jurídico fraudulento firmado entre as partes. O consilium fraudis não precisará ser provado, excepcionalmente, em algumas hipóteses previstas no Código Civil, quando a lei presume a existência de propósito de fraude.
Exceções ao consilium fraudis – presunção
Os atos de transmissão gratuitos de bens (doações) e as remissões de dívidas antecipadas (perdão), quando praticados levando o devedor à insolvência, ou já o sendo, não será necessária a prova do consilium fraudis, pois a lei o presumirá. Preferiu a lei os credores que procuram evitar um prejuízo, aos donatários, que visam assegurar o lucro, incluindo as remissões de dívidas, que assim como as doações e o perdão são liberalidades dos devedores. Também se presumem fraudulentos o pagamento antecipado de dívida à credores quirografários, tendo por escopo colocar em situação de igualdade todos os credores, incidindo a regra do artigo 162 do Código Civil. Estando a dívida vencida, seu pagamento não poderá ser considerado fraude.
Outra atitude presumidamente fraudulenta é a concessão de garantias de dívidas à outros credores (hipoteca, penhor e anticrese) pelo devedor já insolvente, colocando-os em posição mais vantajosa que os demais. Será retirada, neste caso, apenas a garantia, retornando estes devedores à condição de quirografários. Em contrapartida, certos atos são presumidos de boa-fé pela lei, não podendo ser alcançados pela ação pauliana. Todos os negócios indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural ou industrial, ou ainda à subsistência do devedor e de sua família (art. 164 do Código Civil) são incluídos neste rol.
Ação Pauliana: É o meio para reconhecimento da fraude contra credores, também chamada de Revocatória, que tem por finalidade a aplicação do princípio da responsabilidade patrimonial do devedor, restaurando-se aquela garantia dos seus bens em favor de seus credores. Não tem o condão de anular o ato fraudulento, mas proclama a sua ineficácia relativa, tornando-o impunível ao credor fraudado, o qual poderá agir, na defesa do seu crédito, sobre o bem ou bens transferidos do patrimônio do devedor para o de terceiro, partícipe da fraude. Corrente minoritária defende que o negócio deve ser anulado ao invés de ser declarada a sua ineficácia.
Negócios jurídicos passiveis de fraude: 
A título gratuito (doação ou remissão de dívida) Art 158:
Quando o devedor praticar doação ou remissão de dívida e independente de má fé e esse já for insolvente ou ficar reduzido à insolvência, poderá ser anulado o negócio jurídico pelo credor quirografário (sem garantia) porque lesou seu direito. É importante que o crédito (valor a receber) seja anterior ao negocio jurídico.
A título oneroso (com valor, exemplo: compra e venda) Art 159: Será anulável o contrato oneroso do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.
Outorga de garantia real Art 163: Acarretará sua anulabilidade se o devedor outorgar a garantia real a um dos credores quirografários, prejudicando os direitos dos demais credores.
Pagamento antecipado do débito a um dos credores quirografários Art 162: O pagamento antecipado do débito a um dos credores quirografários frustrará a igualdade que deve haver entre todos os credores.
Estado de Perigo 
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias (ANGHER, 2007, p. 206).
Entende-se que ocorre o estado de perigo quando o agente, diante de situação de grave perigo conhecido pela outra parte, emite declaração de vontade para salvar-se ou pessoa próxima, assumindo obrigação excessivamente onerosa. É, portanto, “a situação de extrema necessidade que conduz uma pessoa a celebrar negócio jurídico em que assume obrigação desproporcional e excessiva” (GONÇALVES, 2005, p. 392).
São exemplos trazidos pela doutrina, extraídos de Gagliano e Pamplona Filho (2004), Diniz (2004) e Gonçalves (2005): o indivíduo que está se afogando promete quantia exorbitante ao seu salvador; indivíduo abordado por assaltantes promete recompensa ao seu libertador; vítima de acidente de automóvel que assume obrigaçãoexcessivamente onerosa para que não morra no local do acidente; o doente, em perigo de vida, que paga honorários excessivos para o cirurgião atendê-lo.
A anulabilidade do negócio jurídico em razão do estado de perigo encontra fundamento na inexigibilidade de conduta diversa, ante a comparação dos dois males irremediáveis. Ainda, consagra o princípio da função social do contrato, probidade e boa-fé, verdadeira cláusula implícita de conteúdo ético e exigibilidade jurídica. Visa a uma equivalência material entre os contratantes, proibindo os contratos iníquos.
Elementos:
Para que se configure o estado de perigo, necessária a observância de alguns requisitos.
Em primeiro lugar, como assevera Lotufo (2003, p.430) “é necessário que exista uma ameaça de dano grave à própria pessoa, ou a alguém de sua família, bem como pessoa estranha a seu círculo”. É necessário que a ameaça de dano recaia sobre essas pessoas. Assevere-se que em relação à pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá de acordo com as circunstâncias de cada caso. É irrelevante que o dano tenha sido provocado pela própria vítima ou por terceiro, podendo originar-se de ação humana voluntária ou involuntária ou acontecimento natural.
Para a aferição da gravidade do dano, o juiz não deve levar em conta tão somente o padrão do homem médio, devendo perquirir todas as circunstâncias que possam influir na gravidade do estado de perigo, tais como sexo, idade, condição de saúde, dentre outras. A ameaça do grave dano deve ser atual, pois é a atualidade do dano que exerce a pressão psicológica sobre o indivíduo e o força a escolher dentre os dois males: o do grave dano, ou da assunção de negócio jurídico em condições excessivamente desvantajosas. Segundo Gonçalves (2005, p. 397), “se não tiver essa característica inexistirá estado de perigo, pois haverá tempo para o declarante evitar a sua consumação, sem ter de, pressionado, optar entre sujeitar-se a ele ou participar de um negócio em condições desvantajosas”.
No tocante à atualidade, também é apto a anular o negócio jurídico a declaração manifestada na hipótese em que a pessoa julga estar sob grave perigo (estado de perigo putativo). Isso ocorre pelo fato de que o fundamento da anulação é a diminuição da liberdade de contratação do indivíduo, ou seja, o vício no consentimento expressado. Logo, o dano não precisa ser concreto.
Temos ainda que o estado de perigo deve ser o motivo determinante da manifestação de vontade. Com efeito, deve haver um nexo de causalidade entre o perigo e a manifestação da vontade. Para Gonçalves (2005, p. 397), a “vontade deve se apresentar distorcida em consequência do perigo de dano”. A vítima do dano, por desconhecê-lo, ou por não imaginar a extensa gravidade do dano ao celebrar um negócio, não poderá requerer a anulação do negócio por esse fundamento, pois não foi o motivo determinante da declaração de vontade. A vontade deve se apresentar distorcida em consequência do perigo do dano.
A lei exige, para que se configure o estado de perigo, o conhecimento do dano pela outra parte. É o que alguns doutrinadores chamam de dolo de aproveitamento, caracterizador da má-fé. Deve ter em vista que a boa-fé se presume, e a má-fé deve ser comprovada. Desconhecendo o perigo de grave dano, o negócio jurídico não deverá ser anulado com fundamento no estado de perigo. O que o Código veda é o enriquecimento sem causa. Por fim, é necessária que a obrigação assumida seja excessivamente onerosa. Essa onerosidade deve ser analisada de forma objetiva e deve ser concomitante à celebração do negócio. Se a obrigação assumida for razoável, o negócio deve ser considerado válido.
Efeitos
Consoante dispõe o art. 178, II do Código Civil, é anulável o negócio jurídico celebrado em estado de perigo no prazo de quatro anos a partir de sua celebração. Trata-se, indubitavelmente, de prazo decadencial.
O Código Civil brasileiro não prevê compensação para aquela parte que prestou o serviço. Com efeito, a doutrina critica a rigidez da norma que enuncia a pura e simples anulação do negócio jurídico, sem a possibilidade de sua conservação, como pode ocorrer na lesão, consoante o parágrafo segundo do art. 157. De fato, seria muito mais recomendável a tentativa de continuidade do negócio, à luz do princípio da segurança jurídica e da estabilidade dos negócios.
Alguns atribuem o rigor da lei ao fato de que a parte que não a vítima agiu com o dolo de aproveitamento, ou seja, agiu de má-fé ao se beneficiar do temor do declarante. 
Para outros, a impossibilidade de suplementar a obrigação para validar o negócio decorre da natureza da prestação e da contraprestação: 
Ao conceito dado pela norma comentada, pode-se acrescentar a obrigação assumida por aquele que se encontra em estado de perigo é sempre de dar ou de fazer, e a contraprestação será sempre de fazer. Essa é a razão pela qual não se pode suplementar a contraprestação para validar o negócio. A oferta de quem se encontra em estado de perigo não vincula, pois a manifestação de vontade, nesse caso, é viciada. Em outras palavras, a simples oferta vicia o negócio (NERY JUNIOR e NERY, 2005, p. 248).
Em que pese a qualidade de seus defensores, não compartilhamos a interpretação estanque da norma jurídica. À luz dos princípios constitucionais citados, deve-se oferecer a possibilidade de dar continuidade ao negócio jurídico, mormente naquelas situações em que o desfazimento do mesmo importaria em enriquecimento sem causa da vítima. Ora, se de um lado o ordenamento invalida o negócio decorrente de estado de perigo, também o faz em relação ao enriquecimento sem causa. A solução a esse aparente conflito seria a aplicação do parágrafo segundo do art. 157 do Código Civil, segundo o qual o negócio poderá ser mantido ante o oferecimento de suplemento suficiente ou, se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.
Nesse exato sentido tem se posicionado o Conselho da Justiça Federal, ao aprovar o enunciado nº 148 da III Jornada de Direito Civil, com o seguinte verbete: “Ao ‘estado de perigo’ (art. 156) aplica-se, por analogia, o disposto no § 2º do art. 157”.
Abaixo, elencamos algumas ementas de decisões judiciais que reconheceram ou afastaram, no caso concreto, a ocorrência do estado de perigo:
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CHEQUE. DESPESAS MÉDICO-HOSPITALARES. ESTADO DE PERIGO. ENTIDADE FILANTRÓPICA. Comprovado, de forma inequívoca, o vício de consentimento decorrente do estado de perigo do paciente, impõe-se o decreto de nulidade do título executivo. Apelação improvida. (Apelação Cível Nº 70038758116, Décima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Bayard Ney de Freitas Barcellos, Julgado em 14/12/2011). 
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. ESTADO DE PERIGO. REQUISITOS PARA A CONFIGURAÇÃO. HOSPITAL. 1. De acordo com o disposto no art. 156 do Código Civil, para a configuração do estado de perigo, é necessária a presença dos seguintes requisitos: a) necessidade de salvar-se ou a pessoa de sua família; b) atualidade do dano; c) obrigação excessivamente onerosa, e; d) conhecimento do perigo pela outra parte. 2. No caso específico dos autos, não é possível considerar como excessivamente onerosa a obrigação. Também não se pode falar em aproveitamento da situação de necessidade por parte do hospital, que apenas estava cobrando pelos serviços realizados. 3. Não havendo defeito no negócio jurídico mantido entre as partes, a sentença merece ser reformada, no sentido da improcedência dos pedidos da inicial. Apelo provido. (Apelação Cível Nº 70011372141, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Dálvio Leite Dias Teixeira, Julgado em 01/09/2005)
Ementa: AÇÃO DE COBRANÇA. EQUIPAMENTOS MÉDICO-HOSPITALARES. ALEGAÇÃO DE ESTADO DE PERIGO. Aquisição, pelos réus, de equipamentos necessários à realização de intervenção cirúrgica à qual se submeteu o primeiro demandado. Alegação de estado de perigo.Ausência de onerosidade excessiva. Interpretação do art. 156, CCB. Falta de prova de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da autora. Ação improcedente. Negaram provimento. (Apelação Cível Nº 70039241252, Décima Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Rafael dos Santos Júnior, Julgado em 13/09/2011)
Conclusão 
O direito, baseado no princípio da autonomia da vontade, valoriza a celebração de negócios jurídicos livres, condenando qualquer interferência na formação do consentimento dos contratantes, razão pela qual possibilita o reconhecimento de nulidade em contratos, decorrentes de vícios da vontade. Dessa sorte, busca o legislador preservar os interesses daqueles que são forçados a celebrar um contrato, assumindo obrigação excessivamente onerosa, porém necessária para o seu próprio salvamento ou de pessoa próxima ou de desconhecidos, prescrevendo a anulabilidade do negócio jurídico no prazo de quatro anos contados de sua celebração.
A interpretação literal do disposto no art. 156 do Código Civil levaria à conclusão de que no estado de perigo, diante do dolo de aproveitamento, ficaria impossibilitado o aproveitamento do negócio jurídico mediante a suplementação do negócio ou redução do proveito do beneficiário. No entanto, asseverou-se a necessidade de interpretar o estado de perigo consoante os princípios constitucionais e o tripé principiológico sobre o qual se assenta o novel diploma civil.
Diante disso, não se pode negar a afronta à segurança jurídica e a boa-fé de terceiros que causaria a eventual anulação do negócio, sem a possibilidade de suplementação ou de redução do proveito. Ainda, não se pode olvidar que, a depender da situação, a anulação poderia resultar em enriquecimento sem causa, o que é rechaçado, de um modo geral, pelo ordenamento jurídico, inclusive em sede de Direito Público.
Com efeito, embora parte da doutrina não admita, entendemos a necessidade de se aplicar o §2º do art. 157 do Código Civil ao estado de perigo, desde que seja possível e socialmente recomendável, podendo a parte beneficiada elidir a anulação mediante a suplementação ou redução de seu proveito. Consoante apontado neste artigo, o Conselho da Justiça Federal, através dos enunciados firmados na III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal, corrobora com esse entendimento, afirmando, ainda, a necessidade do magistrado proceder, sempre que possível, a revisão do contrato, em detrimento de invalidação.
Referências Bibliográficas 
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http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1832
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http://www.esmeg.org.br/pdfMural/esmeg_material_6_-_dra._barbara_queiroz.pdf
https://marinagaldino.jusbrasil.com.br/artigos/339774959/vicio-de-consentimento-coacao
https://jus.com.br/artigos/23603/guia-dos-defeitos-do-negocio-juridico-e-suas-repercussoes
http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/o-estado-de-perigo-como-defeito-do-neg%C3%B3cio-jur%C3%ADdico-0 
https://jus.com.br/artigos/21572/defeitos-do-negocio-juridico-da-lesao-e-do-estado-de-perigo 
Carlos Roberto Gonçalves, Direito civil Brasileiro vol. 1, ed: Saraiva, p.400 a 414
Francisco Amaral, Direito civil: introdução vol. 1, p. 479 a 488
Washington de barros Monteiro, Curso de direito civil, vol. 1 p. 195 a 201
Maria Helena Diniz, Lei de Introdução ao Código Civil brasileiro
Governador Valadares - 2017

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