Buscar

Caso concreto Penal 3

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 47 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 47 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 47 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Caso concreto 10 – Direito Penal IIIpor Raphael Lima
1) Luana, Vanessa e Isabela, jovens de 22 e 23 anos, após terem sido demitidas da empresa de propaganda na qual trabalhavam resolveram alugar um imóvel e dividir as despesas do mesmo. Passados alguns meses sem que conseguissem novo emprego, decidiram trabalhar por um tempo como “garotas de programa” para seu sustento. A fim de evitar chamar a atenção de amigos e familiares resolveram utilizar a sua própria residência como local dos encontros. Para tanto, acordaram que Luana ficaria responsável pela “administração” do local, recebendo parte do dinheiro obtido por suas colegas com o serviço sexual, utilizando-o no pagamento do aluguel, anúncios, empregada e outras despesas necessárias à mantença do local. No mais, as próprias colegas agendavam e negociavam os programas que realizavam. Passados alguns meses do início das “atividades”, após diversas notificações às jovens reclamando sobre o excessivo movimento de estranhos no edifício, o síndico, desconfiado das atividades lá realizadas, notifica os fatos à autoridade pública, bem como a ocorrência de pequenos delitos no local. Após detalhada verificação de todos os fatos, inclusive através de interceptações telefônicas deferidas judicialmente, restou demonstrada a habitualidade das condutas de Luana, Vanessa e Isabela. Dos fatos, as jovens restaram denunciadas pela prática da conduta descrita no art. 229, do Código Penal, sendo cumulada à conduta de Luana a figura típica do art. 230, do Código Penal.
Ante o exposto, com base nos estudos realizados sobre a moderna teoria do delito, quais as possíveis teses defensivas a serem apresentadas por Luana, Vanessa e Isabela? Responda de forma objetiva e fundamentada:
RESPOSTA: Embora as condutas de Luana, Vanessa e Isabela encontrem previsão legal no delito previsto no art. 229 do Código Penal.
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente:
Pena – reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
Não devem ser enquadradas neste dispositivo visto a tolerância por parte da sociedade em relação aos diversos estabelecimentos existentes destinados a praticas sexuais, e não só é tolerado pela sociedade, quanto é pelas próprias autoridades que conhecendo estes locais pela sua notoriedade não fazem vista grossa com relação a repreensão de tais prática, isso só deixa demonstrado que a conduta das indiciadas é tanto tolerada pela sociedade quanto até pelas autoridades que possuem a missão de zelar pela segurança e bem estar da sociedade bem como estão incumbidas da manutenção da segurança social e eliminação de todas as formas de delitos.
Nesse sentido a jurisprudência tem entendido de que o principio da adequação social deve ser levado em consideração no momento da aplicação da lei penal, analisando as transformações experimentadas pela sociedade afim de se buscar o alcance ou a negativa da lei penal a determinado caso concreto.
APELAÇÃO CRIME. MANUTENÇÃO DE CASA DE PROSTITUIÇÃO. ART. 229 DO CP. ATIPICIDADE. A manutenção de casa de prostituição com o pleno conhecimento da autoridade, que nenhuma restrição lhe opõe, desfigura o delito previsto no art. 229 do CP. Conduta que, embora inscrita na norma repressiva, em atenção às transformações de toda a ordem experimentadas pela sociedade, que traçam novos rumos, a partir do redimensionamento de valores coletivos e individuais, das quais o direito penal não se pode abstrair, em face das finalidades e princípios norteadores das normas recriminadoras; deve ser visualizada dentro de uma concepção maior, buscando a verdadeira finalidade da norma que incrimina a conduta, com todas as suas circunstâncias, inclusive respeitando as transformações sociais. Princípio da adequação social. Precedentes nesta Corte. Absolvição mantida.
(TJ-RS – ACR: 70035963552 RS, Relator: Fabianne Breton Baisch, Data de Julgamento: 12/01/2011, Oitava Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 10/02/2011)
No mais, no que tange o local onde supostamente era usado para exploração sexual, vale frisar que o mesmo é uma residência habitada por três mulheres e não um estabelecimento especialmente destinado a prática da exploração sexual com o caput do art. 229,  crime este que esta sendo imputado injustamente, visto que, não pode essas três mulheres ser imputado tal prática sendo que o que ocorria no ambiente residencial eram apenas alguns encontros que não podem ser interpretados desta forma grosseira e serem enquadradas em um tipo Penal como este.
Além do mais, a jurisprudência tem entendido que para a configuração do delito do art. 229 do Código Penal, é necessária a transformação do estabelecimento em local exclusivo de prostituição, o que não restou comprovado.
CASA DE PROSTITUIÇÃO – ATIPICIDADE DA CONDUTA – ABSOLVIÇÃO – MANUTENÇÃO. Para a configuração do delito do artigo 229 do Código Penal, é necessária a transformação do estabelecimento em local exclusivo de prostituição.
(TJ-MG 100240305478550011 MG 1.0024.03.054785-5/001(1), Relator: DELMIVAL DE ALMEIDA CAMPOS, Data de Julgamento: 12/01/2010, Data de Publicação: 24/03/2010)
Confirmando o entendimento jurisprudencial, leciona Cézar Roberto Bitencourt:
“Há dois aspectos indispensáveis para se poder caracterizar determinado local (casa de prostituição ou estabelecimento em que possa ocorrer exploração sexual) como destinado à prostituição ou exploração sexual: (i) a natureza do local e (ii) a sua finalidade exclusiva (ou, no mínimo, preponderante).”
Quanto a cumulação de crimes contra Luana, imputando-lhe também o art. 230 do Código Penal.
Art. 230 – Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 2o Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da pena correspondente à violência.
Também não deve ser acatado na forma de como ficou bem demonstrado a descaracterização do crime do art. 299 do Código Penal referente a casa de prostituição, não há que se atribuir a Luana tal cumulação, uma vez que não houve o delito principal e mesmo na incidência deste como demonstrado no caso concreto a conduta dela seria de administrar os valor e não de uma verdadeira “rufiona” que estaria explorando as próprias amigas de habitação tirando proveito das práticas sexuais destas se fazendo sustentar, visto que o local onde residiam era pago por estas em uma divisão dos gastos.
Diante de todo o exporto fica demonstrada a descaracterização do crime de casa de prostituição previsto no art. 229 do Código Penal, bem como o crime de rufianismo previsto no art. 230 do mesmo diploma legal.
2) Com relação aos crimes de lenocínio tráfico de pessoa para fim de prostituição ou outra forma de exploração sexual analise as assertivas abaixo e assinale a opção correta:
I. Agente que aluga imóvel para a montagem de casa de prostituição, sabendo da finalidade do locatário sem, contudo, ter qualquer envolvimento com a referida exploração sexual não poderá ser responsabilizado pela conduta prevista no art. 229, do CP.
II. No delito de casa de prostituição tutela-se o interesse da coletividade de modo a evitar a proliferação de todas as formas de lenocínio.
III. Para a consumação do delito de casa de prostituição é prescindível a prática efetiva de ato libidinoso, bem como a finalidade de lucro.
IV. Agente que utilizaresidência alheia, com habitualidade, para a prática da prostituição não pratica a conduta no art. 229, do CP.
Estão corretas as assertivas:
a. I, II e III.
b. I, II e IV.
c. II, III e IV.
d. I e III.
RESPOSTA: I – A primeira alternativa esta incorreta, pois o agente alugando o imóvel sabendo da destinação do mesmo em casa de prostituição, responde como participe do crime nos termos do art. 29 do Código Penal.
Art. 29 – Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
§ 1º – Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.
§ 2º – Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
II – A segunda alternativa esta correta, como bem leciona nesse sentido Cézar Roberto Bitencourt.
“A proibição constante do art. 229 tem a pretensão de proteger a moralidade sexual pública, objetivando, particularmente, evitar ou restringir o incremento e o desenvolvimento da prostituição.”
III – A terceira alternativa esta correta, a consumação deste delito se dá com a manutenção de estabelecimento destinado a exploração sexual, podendo haver ou não lucro; por ser um crime habitual exige-se a pratica reiterada do ato delituoso.
IV – A quarta alternativa esta correta, o agente que se serve de residência alheia para ali a pratica da prostituição não comete o delito do art. 299 do Código Penal, e não pratica nenhum delito, visto que a prostituição não é considerada ato ilícito pela nossa legislação Penal.
3) Com relação aos crimes de lenocínio tráfico de pessoa para fim de prostituição ou outra forma de exploração sexual e aos crimes de ultraje público ao pudor analise as assertivas abaixo e assinale a opção correta:
I. Configura o crime de favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável, submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual, alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone.
II. O crime de tráfico de pessoas poderá ser caracterizado ainda que haja consentimento da vítima.
III. Os processos em que se apurarem crimes, tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual e tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual correm em segredo de justiça, mas o mesmo não ocorre em relação ao crime de rufianismo.
IV. A conduta de casal que, durante exibição de filmes, aproveita-se do escuro do ambiente e é flagrado mantendo relações sexuais, em tese configura ato obsceno.
Estão corretas as assertivas:
a) I, II e III.
b) I, II e IV.
c) II, III e IV.
RESPOSTA: I – A primeira alternativa esta correta e encontra previsão legal no art. 228 do Código Penal.
Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1º Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
§ 2º – Se o crime, é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:
Pena – reclusão, de quatro a dez anos, além da pena correspondente à violência.
§ 3º – Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.
II – A segunda alternativa esta correta, o crime de tráfico de pessoas pode ser caracterizado mesmo com o consentimento do ofendido uma vez que a redação do artigo traz as expressões: induzir, atrair, facilitar, impedir ou dificultar. Entendendo-se por estes verbos que há uma concordância por parte da vítima em ser levada a exploração sexual por outrem.
III – A terceira alternativa esta incorreta, de acordo com o art. 234-B do Código Penal que versa sobre as disposições gerais do “Título IV – Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual”, os processos correrão em segredo de justiça.
Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de justiça.
IV – A quarta alternativa esta correta e encontra previsão legal no art. 233 do Código Penal.
Art. 233 – Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público:
Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa.
BIBLIOGRAFIA:
* Bitencourt, Cezar Roberto – Tratado de direito penal, 4 : parte especial : dos crimes contra a dignidade sexual até dos crimes contra a fé pública / Cezar Roberto Bitencourt. – 8. ed. rev., ampl. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2014.
* Estefam, André – Direito penal, volume 3 / André Estefam. – São Paulo : Saraiva, 2011.
Plano de aula 10 - Direito Penal III
Caso concreto 9 – Direito Penal IIIpor Raphael Lima
1) STJ reforma decisão e condena homem por estuprar enteada Mariângela Gallucci – O Estado de S. Paulo 26 Agosto 2014 | 16h 24 Disponível : http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,stj-reforma-decisao-e-condena-homem-por-estuprarenteada,1549894
O relator do caso fez críticas aos argumentos utilizados nas decisões das instâncias inferiores que haviam inocentado BRASÍLIA – O Superior Tribunal de Justiça (STJ) reformou decisão do Judiciário paulista que havia absolvido um homem acusado de praticar sexo com a enteada de 13 anos. Por unanimidade, os ministros da 6ª. Turma do STJ decidiram condená-lo. O processo será encaminhado ao Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo para que a pena seja fixada. Relator do caso, o ministro Rogerio Schietti Cruz fez críticas aos argumentos utilizados nas decisões das instâncias inferiores da Justiça, que tinham absolvido o padrasto. “Repudiáveis os fundamentos empregados pela magistrada de primeiro grau e pelo relator do acórdão impugnado (no TJ) para absolver o recorrido, reproduzindo um padrão de comportamento judicial tipicamente patriarcal, amiúde observado em processos por crimes dessa natureza, nos quais o julgamento recai inicialmente sobre a vítima para somente a partir daí julgar-se o réu”, afirmou. Para os ministros do STJ, a presunção de violência nos crimes de estupro e atentado violento ao pudor contra menores de 14 anos tem caráter absoluto. “A interpretação que vem se firmando sobre tal dispositivo é no sentido de que responde por estupro o agente que, mesmo sem violência real, e ainda que mediante anuência da vítima, mantém relações sexuais (ou qualquer ato libidinoso) com menor de 14 anos”, disse o relator. O caso chegou à Justiça após o padrasto ter sido denunciado pela própria companheira. A juíza de 1ª. Instância concluiu que a menina não foi vítima de violência presumida porque “se mostrou determinada para consumar o coito anal com o padrasto”. “O que fez foi de livre e espontânea vontade, sem coação, ameaça, violência ou temor. Mais: a moça quis repetir e assim o fez”, disse: “A vítima foi etiquetada como uma adolescente desvencilhada de preconceitos, muito segura e informada sobre os assuntos da sexualidade, pois ‘sabia o que fazia’. Julgou-se a vítima, pois, afinal, ‘não se trata de pessoa ingênua’. Desse modo, tangenciou-se a tarefa precípua do juiz de direito criminal, que é a de julgar o réu, ou, antes, o fato delituoso a ele atribuído”, concluiu Schietti.
A partir do caso concreto narrado, identifique:
a. Quais os reflexos da caracterização da expressão vulnerabilidade como absoluta ou relativa? Responda de forma objetiva e fundamentada.
b. Nos casos de estupro contra vulnerável quem possui legitimidade para a propositura da ação penal?
c. O fato da conduta ter sido praticada pelo padrasto da vítima possui alguma relevância jurídica para fins de aplicação de pena?
d. Caso na situação descrita a vítima tivesse 14 anos e a relação sexual fosse oriunda de graveameaça proferida pelo padrasto as respostas anteriores se alterariam?
RESPOSTA: A) O legislador Penal estabeleceu uma maior proteção para quem é vulnerável, e com este termo não estamos tratando de uma vulnerabilidade eventual decorrente de determinadas circunstâncias em que todos estamos sujeitos, estamos tratando de uma vulnerabilidade classificatória de acordo com a idade e a capacidade da vítima. Nesta classificação, o legislador em alguns artigos como: arts. 217-A, 218 e 218-A, referiu-se como vulnerável o menor de quatorze anos; já nos arts. 218-B, 230, § 1º, 231, § 2º, I, 231-A, § 2º, I, tratou do vulnerável como o menor de dezoito anos. Diante destas tratativas distintas para o vulnerável, temos a divisão em vulnerabilidade absoluta e relativa, sendo a absoluta para o menor de quatorze anos, e a relativa para o menor de dezoito anos.
B) De acordo com o art. 225, parágrafo único do Código Penal, o crime de estupro de vulnerável previsto no art. 217-A da lei Penal é de ação penal pública incondicionada se a vítima é relativamente ou absolutamente vulnerável.
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação.
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.
C) O fato da conduta ter sido praticada pelo padrasto da vitima incide diretamente na pena que neste caso é aumentada de metade, esse aumento esta previsto no art. 226, II do Código Penal.
Art. 226. A pena é aumentada:
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;
II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela;
III – (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
D) No caso do crime ser praticado mediante violência ou grave ameaça, há a descaracterização do crime de estupro de vulnerável previsto no art. 217-A do Código Penal para o crime de estupro previsto no art. 213, § 1º da Lei Penal.
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2º Se da conduta resulta morte:
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
As demais alternativas não sofreriam nenhuma alteração com a nova incidência do crime praticado.
2) José, rapaz de 23 anos, acredita ter poderes espirituais excepcionais, sendo certo que todos conhecem esse seu dom, já que ele o anuncia amplamente. Ocorre que José está apaixonado por Maria, jovem de 14 anos, mas não é correspondido. Objetivando manter relações sexuais com Maria e conhecendo o misticismo de sua vítima, José a faz acreditar que ela sofre de um mal espiritual, o qual só pode ser sanado por meio de um ritual mágico de cura e purificação, que consiste em manter relações sexuais com alguém espiritualmente capacitado a retirar o malefício. José diz para Maria que, se fosse para livrá-la daquilo, aceitaria de bom grado colaborar no ritual de cura e purificação. Maria, muito assustada com a notícia, aceita e mantém, de forma consentida, relação sexual com José, o qual fica muito satisfeito por ter conseguido enganá-la e, ainda, satisfazer seu intento, embora tenha ficado um pouco frustrado por ter descoberto que Maria não era mais virgem. (FGV – 2013 – OAB – Exame de Ordem Unificado – X – Primeira Fase)
Com base na situação descrita, assinale a alternativa que indica o crime que José praticou.
a) Corrupção de menores (Art. 218, do CP).
b) Violência sexual mediante fraude (Art. 215, do CP).
c) Estupro qualificado (Art. 213, § 1º, parte final, do CP).
d) Estupro de vulnerável (Art. 217-A, do CP).
RESPOSTA: O crime praticado por José foi o de violação sexual mediante fraude, prevista no art. 215 do Código Penal.
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.
Não há que se falar neste caso concreto em estupro de vulnerável, pois para que seja considerada a vulnerabilidade absoluta é necessário que a vítima tenha idade inferior a quatorze anos, e no caso concreto a vitima já contava com quatorze anos de idade, neste caso trata-se da vulnerabilidade relativa; se a vitima do caso concreto possuísse idade menor que quatorze anos, seria aplicado o crime previsto no art. 217-A do Código Penal. Esse é o entendimento de Cézar Roberto Bitencourt ao tecer comentários sobre o sujeito passivo do crime cometido:
“Tratando-se, no entanto, de vítima com idade inferior a quatorze anos (menor de quatorze) o crime será o estupro de vulnerável (art. 217-A)”.
3) Jorge, diretor financeiro de uma grande empresa, há semanas vem chamando sua secretária Luiza para saírem juntos. Como Luiza recusa todos os convites, Jorge, auxiliado por Pedro que trabalha como motoboy na mesma empresa, ameaça Luiza dizendo que, caso ela não vá a um motel com ele, no dia seguinte estará demitida. Luiza, mais uma vez, recusa a ceder e, muito abalada psicologicamente, leva o fato ao conhecimento do Presidente da empresa a fim de que as devidas providências sejam tomadas em relação a Jorge e Pedro. Diante dos fatos, é correto afirmar que:
a) Jorge e Pedro responderão por assédio sexual consumado.
b) Jorge responde por assédio sexual tentado, pois não conseguiu obter favorecimento sexual, e Pedro não responde por nenhum crime, pois não é superior hierárquico da vítima.
c) Jorge e Pedro responderão por assédio sexual tentado, pois não houve a obtenção de favorecimento sexual.
d) Jorge responderá por assédio sexual consumado e Pedro pelo delito de constrangimento ilegal, pois não é superior hierárquico da vítima.
RESPOSTA: Neste caso concreto, embora tratar-se de um crime próprio, ambos responderão por assédio sexual consumado, previsto no art. 216-A do Código Penal:
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
Parágrafo único. (VETADO)
§ 2º A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos.
A conduta de Pedro incorre no mesmo crime de assédio sexual devido ter auxiliado e aderido a conduta de Jorge sabendo de sua condição de superior hierárquico de Luiza. O Código Penal em seu art. 30 dispõe que somente se comunicam as circunstâncias quando elementares do crime, portanto Pedro neste caso concreto será punido de acordo com sua culpabilidade nos termos do art. 29 do Código Penal.
Art. 29 – Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
§ 1º – Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.
§ 2º – Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
Art. 30 – Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.
4) Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do enunciado abaixo, na ordem em que aparecem. (MPE-RS – 2014 – MPE-RS – Promotor de Justiça).
Durante o festival de balonismo, na cidade de Torres, Afonso Dias, 52 anos, deslocou-se até a Boate Cristal para festejar a sua classificação no evento. Norecinto, conheceu o transformista Maitê, 21 anos, convidando-o para acompanhá-lo na comemoração. Enquanto conversavam, Afonso disfarçadamente colocou uma substância na bebida de Maitê, que o levou a perder os sentidos. Na sequência, conduziu o transformista desmaiado, sem poder oferecer resistência, até seu carro, onde praticou com ele sexo anal. No dia seguinte, Maitê registrou o fato delituoso contra Afonso na Delegacia de Polícia e adotou as medidas necessárias para responsabilizá-lo. No presente caso, o crime praticado pelo agente é o de _______e a ação penal correspondente é ________.
a) estupro de vulnerável – pública incondicionada
b) estupro – pública incondicionada
c) violação sexual mediante fraude – pública condicionada à representação
d) estupro – pública condicionada à representação
e) violação sexual mediante fraude – privada
RESPOSTA: O crime praticado por Afonso Dias foi o de estupro de vulnerável previsto no art. 217-A, § 1º do Código Penal.
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
§ 2º (VETADO)
§ 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§ 4º Se da conduta resulta morte:
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
O estupro de vulnerável não visa somente tutelar a proteção do estupro praticado contra menor de quatorze anos, visa também a proteção do estupro de vulnerável praticado contra pessoa portadora de deficiência ou doença mental e por pessoa que não pode oferecer resistência, estes estão previstos no § 1º do referido artigo. Portanto neste caso concreto aplica-se o artigo em comento, pois o agente ministrando uma substância na bebida da vitima teria reduzido a sua capacidade de defesa e com isso se aproveitou desta situação de vulnerabilidade para que pudesse consumar o seu intento criminoso. Nesse sentindo é a precisa lição de André Estefam:
“Por fim, são vulneráveis as pessoas que não têm, por qualquer causa, capacidade de resistir. A elasticidade do termo utilizado na norma importa em que a origem da incapacidade pode ou não ter sido provocada pelo agente. Assim, por exemplo, dar-se-á a situação prevista em lei quando o agente ministrar substância que retire a consciência da vítima ou quando isto for feito por terceiro, aproveitando-se o sujeito da situação. São exemplos: enfermidades, paralisia transitória dos membros, idade avançada, desmaios, embriaguez, hipnose”.
A ação penal para este crime é a ação pública condicionada à representação de acordo com o art. 225 do Código Penal.
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação.
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.
BIBLIOGRAFIA:
* Bitencourt, Cezar Roberto – Tratado de direito penal, 4 : parte especial : dos crimes contra a dignidade sexual até dos crimes contra a fé pública / Cezar Roberto Bitencourt. – 8. ed. rev., ampl. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2014.
* Estefam, André – Direito penal, volume 3 / André Estefam. – São Paulo : Saraiva, 2011.
Plano de aula 9 - Direito Penal III
Caso concreto 8 – Direito Penal IIIpor Raphael Lima
1) Claudinei Bom de Papo, proprietário de um veículo BMW, ano 1995, decide convidar Anabellla, colega de faculdade, para jantar em um caro restaurante próximo à casa da jovem a fim de impressioná-la. Combina de se encontrarem às 21h na porta do restaurante. Ao término do jantar romântico, Claudinei Bom de Papo estende o convite para um cineminha próximo à sua casa e pede que Anabella o acompanhe até o serviço de manobrista do restaurante para que ele possa retirar seu BMW. Poucos minutos após entregar o ticket de estacionamento ao manobrista recebe seu carro com um pequeno plus fornecido pelo restaurante ? outro carro, BMW, da mesma cor, mas 20 anos mais novo. Ciente do engano do manobrista e sem tecer qualquer comentário pega as chaves de seu novo carro e vai embora do restaurante com Anabella.
A partir do caso concreto narrado e dos estudos realizados sobre os crimes contra o patrimônio, responda de forma objetiva e fundamentada: sendo certo que Claudinei Bom de Papo não provocou o engano e tampouco não o informou ao manobrista qual a correta tipificação de sua conduta?
RESPOSTA: A conduta de Claudinei Bom de Papo corresponde ao disposto no art. 171 do Código Penal:
Art. 171 – Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.
Quando Claudinei Bom de Papo recebe o veículo trocado e nota a diferença e não avisa o manobrista mantendo o mesmo em erro, pratica o crime de estelionato, pois agiu com dolo de ocultar o erro do manobrista para auferir vantagem com a troca do veículo. Sua namorada Annabela não concorreu para o crime e nos termos do art. 29 do Código Penal não há que se falar em concurso de pessoas neste caso concreto.
2) Determinado sujeito, que acabara de se desiludir amorosamente, decide matar sua até então namorada. Toma emprestado o automóvel de seu vizinho e, durante o trajeto, por descuido, abalroa gravemente um outro veículo, causando sério prejuízo material. Mas, faltando-lhe coragem para consumar o homicídio, estaciona próximo a um bar, às portas da casa de sua ex-namorada e intencionalmente se embriaga, a fim de ganhar valentia para executar seu plano. Abandona o veículo, vai a pé até a casa da ex-namorada e, mediante asfixia, tira-lhe a vida. À luz do Direito Penal, o sujeito cometeu: (VUNESP – 2014 – TJ-RJ – Juiz Substituto)
a) dano e homicídio duplamente majorado, pela embriaguez dolosa e asfixia.
b) homicídio qualificado pela asfixia.
c) homicídio qualificado pela asfixia e agravado pela embriaguez pré-ordenada.
d) dano e homicídio qualificado pela asfixia, em concurso material.
RESPOSTA: O agente neste caso concreto o agente praticou o crime de homicídio qualificado pela asfixia e agravado pela embriaguez pré-ordenada.
O crime praticado esta tipificado no art. 121, § 2º, III do Código Penal:
Art. 121. Matar alguem:
§ 2° Se o homicídio é cometido:
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
Pena – reclusão, de doze a trinta anos.
Não há que se falar em feminicídio uma vez que para caracterização desta qualificadora é necessário que o crime se dê contra mulher por razões da condição de sexo feminino; e é necessário o preenchimento das condições elencadas no § 2-A, I e II do mesmo artigo:
Art. 121. Matar alguém:
§ 2° Se o homicídio é cometido:
VI – contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
Pena – reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I – violência doméstica e familiar;
II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Com relação ao fato do agente ter intencionalmente se embriagado com o fim de ter coragem para dar continuidade com o intento delitivo, esse tipo de embriaguez voluntaria não exclui a culpabilidade penal; regra esta prevista no art. 28, II do Código Penal:
Art. 28 – Não excluem a imputabilidade penal:
II – a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.
E por fim, em decorrência da embriaguez, terá o agente a pena agravada de acordo com o que dispõe o art. 61, II e l do Código Penal:
Art. 61 – São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituemou qualificam o crime:
II – ter o agente cometido o crime:
l) em estado de embriaguez preordenada.
3) Jonas Esperto, assistente de Eleonora, designer de interiores, mantém união estável com esta. Certo dia, após perder muito dinheiro apostando em cavalos sem que sua companheira soubesse, pois havia pego emprestado de sua amada o dinheiro utilizado para as apostas, decide simular um sequestro a fim de obter, não só o valor perdido, mas também, mais dinheiro para futuras apostas. Procura um velho amigo, Beto Faz Tudo e o contrata para forjar o sequestro de sua companheira. Acordam que o valor do resgate será divido na porcentagem de 70% e 30%, já que ele ficou responsável pelo planejamento da operação por conhecer com riqueza de detalhes os horários de Eleonora. Realizada a empreitada criminosa, chega o momento da exigência do preço do resgate ao companheiro e aos filhos de Eleonora. Durante a conversa de Jonas Esperto com o sequestrador, Carlos Norberto Filho, filho de Eleonora descobre que Jonas foi o responsável por toda a organização do sequestro.
Ante o exposto, com base nos estudos sobre os crimes contra o patrimônio é correto afirmar que a conduta de Jonas Esperto configura:
a) sequestro, mas será isento de pena.
b) estelionato, mas será isento de pena.
c) extorsão mediante sequestro na forma tentada.
d) extorsão mediante sequestro consumado.
e) extorsão mediante sequestro consumada, mas será isento de pena.
RESPOSTA: A conduta de Jonas Esperto configura o crime de extorsão mediante sequestro consumado.
O crime praticado por Jonas Esperto esta previsto no art. 159 do Código Penal:
Art. 159 – Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
Pena – reclusão, de oito a quinze anos.
§ 1º Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
Pena – reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2º – Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º – Se resulta a morte:
Pena – reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
§ 4º – Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.
Não há que se falar em isenção de pena com base no arts. 181 e nas condições de procedibilidade do art. 182, ambos do Código Penal, pois trata-se de crime hediondo consumado, não incidindo a escusa absolutória pela violência praticada; nos termos do art. 183, I do Código Penal.
Art. 183 – Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
I – se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa;
Na precisa lição de Cezar Roberto Bitencourt:
“Nas hipóteses de crime de roubo ou extorsão, ou quando, de qualquer forma, houver emprego de violência ou grave ameaça, não se justificam os favores concedidos pela lei”.
BIBLIOGRAFIA:
* Bitencourt, Cezar Roberto – Tratado de direito penal : parte especial, volume 3: dos crimes contra o patrimônio até dos crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos / Cezar Roberto Bitencourt. – 10. ed. rev., ampl. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2014.
Plano de aula 8 - Direito Penal III
Caso concreto 7 – Direito Penal IIIpor Raphael Lima
1) Por volta das 7h de uma segunda feira, Jesuíno e Lorrany, casal de namorados, ambos de 20 anos, abordaram o carro de Cláudia, parada em um semáforo em frente à escola do seu filho após deixá-lo. Jesuíno portava um revólver calibre 38 municiado e obrigou Cláudia a sentar no banco de trás do veículo ao lado de Lorrany. Jesuíno conduziu o veículo até a esquina mais próxima onde, então, Wallace Augusto entrou no carro e sentou-se na frente, no banco do carona portando a arma de Jesuíno apontada para a cabeça de Cláudia. Circularam por cerca de duas horas com a vítima fazendo com que esta efetuasse diversos saques de sua conta corrente e cartões de crédito em caixas eletrônicos quando, então, decidiram por largá-la no local em que havia sido rendida. Os agentes fugiram com o veículo, todavia alguns funcionários da escola que conheciam Cláudia viram o que acontecia e avisaram à Polícia, vendo ainda que os dois criminosos apanharam um homem que os aguardava nas cercanias. Dos fatos, restou provado no curso da ação penal que Jesuíno, Lorrany e Wallace Augusto associaram-se de forma estável e permanente para a prática de crimes contra o patrimônio.
A partir do caso concreto narrado, com base nos estudos realizados sobre os delitos de roubo, extorsão e extorsão mediante sequestro identifique:
a.  A correta tipificação das condutas. Responda de forma objetiva e fundamentada.
b. Caso os agentes sejam denunciados pelas condutas contra o patrimônio com a majorante e ou qualificadora resultante de concurso de pessoas, é possível a cumulação de penas com o delito de associação criminosa? Responda de forma objetiva e fundamentada.
c. Caso no momento em que Cláudia fosse rendida pelos agentes, tivesse reagido e levado um tiro de Jesuíno que empreendeu fuga deixando a vítima ferida, qual seria a correta tipificação da conduta de Jesuíno?
RESPOSTA: A) As condutas do casal Jesuíno e Lorrany e de Wallace Augusto se convergiram para o mesmo fim, que era constranger a vitima mediante grave ameaça com o fim de que a mesma efetuasse diversos saques de sua conta corrente e cartões de crédito, portanto, todos os agentes incorreram no mesmo crime que esta tipificado no art. 158 do Código Penal:
Art. 158 – Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º – Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade.
§ 2º – Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente.
B) Quanto ao concurso de pessoas, de acordo com a agravante prevista no §1º do art. 158, há aumento de pena de um terço até a metade quando o crime é cometido por duas ou mais pessoas e com o emprego de arma.
Art. 158 – Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º – Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade.
O crime de associação criminosa esta previsto no art. 288 do Código Penal, a redação do artigo é clara ao falar em “crimes”, e no caso concreto houve somente um crime, portanto, não há que se falar em cumulação de penas e da incidência deste artigo.
Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente.
C) Se a intenção desde o inicio de Jesuíno era de cometer a extorsão, de acordo com o §3º do art. 158 do Código Penal, prevê que se o crime for cometido mediante a restrição da liberdade da vitima a pena é de reclusão de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além de multa; se resultar lesão corporal grave ou morte, será aplicada as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º do Código Penal:
Art. 158 – Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter parasi ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente.
Portanto, no caso concreto a pena aplicada a Jesuíno será a do art. 159, §2º do Código Penal:
Art. 159 – Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
Pena – reclusão, de oito a quinze anos.
§ 2º – Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º – Se resulta a morte:
Pena – reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
2) Em relação aos delitos de extorsão e extorsão mediante sequestro, previstos nos arts. 158 e 159, do Código Penal, analise as assertivas abaixo:
I. São considerados delitos hediondos, independentemente da produção do resultado mais gravoso lesão corporal de natureza grave ou morte.
II. O denominado “sequestro relâmpago” configura-se como uma qualificadora do delito de extorsão mediante sequestro e é considerado delito hediondo.
III. Os delitos de extorsão e roubo possuem como elemento distintivo a prescindibilidade do comportamento da vítima no roubo.
IV. A extorsão é uma espécie de constrangimento ilegal, diferenciando-se deste em decorrência da natureza da vantagem almejada.
São corretas apenas as assertivas:
a) I e II;
b) I, II e III;
c) I, II e IV;
d) II, III e IV.
e) III e IV.
RESPOSTA: I) A primeira assertiva esta incorreta, para considerar como hediondo os crimes de extorsão e extorsão mediante sequestro é necessário a incidência do resultado mais gravoso, como esta previsto de acordo com o art. 1°, III e IV da Lei n. 8.072/90:
Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, consumados ou tentados:
III – extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º);
IV – extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lº, 2º e 3º);
II) A segunda assertiva esta incorreta, o crime de sequestro relâmpago não esta previsto em nenhuma modalidade do art. 159 do Código Penal que trata da extorsão mediante sequestro, e sim no crime de extorsão no art. 158, aplicando-se a qualificadora prevista no §3º do Código Penal:
Art. 158 – Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente.
III) A terceira assertiva esta correta, o que distingue o crime de roubo para o crime de extorsão é justamente o comportamento da vitima, no roubo a vitima tem uma conduta passiva, onde mediante violência ou grave ameaça tem o seu bem subtraído, arrancado, tomado de si; já no crime de extorsão a vitima tem uma conduta ativa, onde mediante violência ou grave ameaça é constrangida ela mesma à entregar o bem para o agente.
IV) A quarta assertiva também esta correta, o crime de constrangimento ilegal consiste em constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda, este crime esta previsto no art. 146 do Código Penal e se diferencia do art. 158 do Código Penal pois neste o agente constrange a vitima com a finalidade de obtenção de vantagem econômica.
3) Após terem subtraído significativa quantia de dinheiro de um estabelecimento comercial, mediante grave ameaça, objetivando a detenção da res furtiva e a impunidade do crime, os agentes efetuaram disparos de arma de fogo contra policiais militares que os aguardavam na porta do estabelecimento. Embora não tenham conseguido fugir da ação policial e nem atingir nenhum dos milicianos, os agentes atuaram com evidente animus necandi em relação aos policiais militares. Conforme o atual entendimento do Superior Tribunal de Justiça, nesse caso, ocorreu (FUNDEP – 2014 – DPE-MG – Defensor Público)
a) roubo consumado em concurso material com homicídio tentado.
b) roubo tentado em concurso material com resistência.
c) latrocínio consumado.
d) latrocínio tentado.
RESPOSTA: O crime de latrocínio esta previsto no art. 157, §3º do Código Penal:
Art. 157 – Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.
O latrocínio é o roubo que tem por consequência a morte em decorrência da violência da ação, sendo incorreto falar em roubo seguido de morte, pois o agente pode matar e depois roubar que ainda sim é tipificado no artigo e parágrafo em comento, caracterizando o crime de latrocínio.
De acordo com a súmula 610 do STF:
Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vitima.
Portanto, mesmo que o agente por circunstâncias alheias à sua vontade não consiga realizar a subtração dos bens da vitima, mais para isso tenha praticado o homicídio, esta caracterizado o crime de latrocínio.
No caso concreto, os agentes mediante violência e grava ameaça objetivando a detenção da res furtiva e a impunidade do crime começaram a efetuar disparos em direção aos policiais que cercavam a porta do estabelecimento, agindo com animus necandi em relação ao objetivo de alvejarem os policiais os mesmo passaram a incorrer no crime de latrocínio, que só não se consumou por circunstâncias alheias a vontade dos agentes, regra esta prevista no art. 14, II do Código Penal:
Art. 14 – Diz-se o crime:
II – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Parágrafo único – Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
Nesse sentido decidiu o STJ no HC n. 201.175/MS, rel. Min. Jorge Mussi:
HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO ORIGINÁRIA. SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO ESPECIAL CABÍVEL. IMPOSSIBILIDADE. RESPEITO AO SISTEMA RECURSAL PREVISTO NA CARTA MAGNA. NÃO CONHECIMENTO. 1. Com o intuito de homenagear o sistema criado pelo Poder Constituinte Originário para a impugnação das decisões judiciais, necessária a racionalização da utilização do habeas corpus, o qual não deve ser admitido para contestar decisão contra a qual exista previsão de recurso específico no ordenamento jurídico. 2. Tendo em vista que a impetração aponta como ato coator acórdão proferido por ocasião do julgamento de revisão criminal, contra a qual seria cabível a interposição do recurso especial, depara-se com flagrante utilização inadequada da via eleita, circunstância que impede o seu conhecimento. 3. Como o writ foi impetrado antes da alteração do entendimento jurisprudencial desta Corte Superior de Justiça, o alegado constrangimento ilegal será enfrentado para que se analise a possibilidade de eventual concessão de habeas corpus de ofício.LATROCÍNIO TENTADO (ARTIGO 157, § 3º, COMBINADO COM O ARTIGO 14, INCISO II, DO CÓDIGO PENAL). DESCLASSIFICAÇÃO PARA O CRIME DE ROUBO. NULIDADE DO LAUDO DE EXAME DE CORPO DE DELITO. AUSÊNCIA DE ASSINATURA. DESNECESSIDADE DE OCORRÊNCIA DE LESÕES CORPORAIS LEVESOU GRAVES PARA A CARACTERIZAÇÃO DO CRIME DE LATROCÍNIO TENTADO. EXISTÊNCIA DE OUTROS DOCUMENTOS QUE PERMITEM A IDENTIFICAÇÃO DA MÉDICA RESPONSÁVEL PELA PERÍCIA REALIZADA NA VÍTIMA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CONFIGURADO. 1. A figura típica do latrocínio se consubstancia no crime de roubo qualificado pelo resultado, em que o dolo inicial é de subtrair coisa alheia móvel, sendo que as lesões corporais ou a morte são decorrentes da violência empregada, atribuíveis ao agente a título de dolo ou culpa 2. Embora haja discussão doutrinária e jurisprudencial acerca de qual delito é praticado quando o agente logra subtrair o bem da vítima, mas não consegue matá-la, prevalece o entendimento de que há tentativa de latrocínio quando há dolo de subtrair e dolo de matar, sendo que o resultado morte somente não ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente. 3. Por esta razão, a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça pacificou-se no sentido de que o crime de latrocínio tentado se caracteriza independentemente da natureza das lesões sofridas pela vítima, bastando que o agente, no decorrer do roubo, tenha agido com o desígnio de matá-la. Precedentes do STJ e do STF. 4. No caso dos autos, que as instâncias de origem atestaram que, na espécie, o paciente praticou o crime de latrocínio tentado, subtraiu a caminhonete da vítima e, com animus necandi, atentou contra a sua vida, e somente não a matou por circunstâncias alheias à sua vontade. 5. Assim, irrelevante se a vítima experimentou lesões corporais leves ou graves, já que evidenciada a intenção homicida do denunciado, que tentou matar a vítima de diversas maneiras. 6. Por conseguinte, sendo dispensável a ocorrência de lesões corporais leves ou graves para a caracterização do crime de latrocínio tentado, a existência de eventual mácula no laudo de exame de corpo de delito efetuado na vítima não tem o condão de desclassificar a conduta imputada ao paciente para o crime de roubo, como pretendido na inicial do mandamus. 7. Existem outros documentos nos autos que permitem a identificação e atestam a procedência do laudo pericial elaborado, além do que a defesa não demonstrou de que maneira a simples falta de assinatura no exame realizado a teria prejudicado, circunstâncias que impedem o reconhecimento da eiva articulada na impetração. 8. Habeas corpus não conhecido.
(STJ – HC: 201175 MS 2011/0062941-0, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento: 23/04/2013, T5 – QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 08/05/2013)
BIBLIOGRAFIA:
* Andreucci, Ricardo Antonio – Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2014.
Plano de aula 7 - Direito Penal III
Caso concreto 6 – Direito Penal IIIpor Raphael Lima
1) Roberto Carlos, profissional autônomo, conhecido na pequena cidade em que trabalha pela qualidade de seus serviços nas reformas de cozinhas e banheiros foi surpreendido em determinado dia, durante o horário de almoço, pela subtração de sua máquina de cortar cerâmica. Desesperado por tratar-se de maquinário indispensável à sua atividade laborativa perguntou a todos os conhecidos sobre o ocorrido. Alguns dias após a subtração encontrou a máquina jogada à porta da casa na qual estava trabalhando. Os moradores da casa viram quando um homem, identificado posteriormente como Leozinho, a jogou na porta e saiu correndo. Dos fatos, Leozinho restou denunciado pela conduta incursa no art.155, caput, do Código Penal. Inconformado alegou em defesa a aplicação do princípio da insignificância com vistas à exclusão da tipicidade material de sua conduta e, sucessivamente, a isenção de pena em decorrência da devolução da máquina e consequente ausência de prejuízo a Roberto Carlos.
A partir do caso concreto narrado e dos estudos realizados sobre o crime de furto, responda de forma objetiva e fundamentada:
a) A defesa deve prosperar?
b) O fato de Leozinho ter restituído a máquina de cortar cerâmica poucos dias após a subtração possui alguma relevância jurídico-penal? Caso a res furtiva fosse restituída no curso da ação penal a reposta seria a mesma?
RESPOSTA: A questão trata do crime de furto, do princípio da insignificância e do arrependimento posterior.
a) A defesa não deve prosperar alegando o princípio da insignificância e o arrependimento posterior porque em relação ao princípio da insignificância, deve ser analisado os prejuízos sofridos pela vitima e se o bem subtraído é de valor ínfimo, no caso concreto a subtração foi de um maquinário indispensável para o labor da vitima, o que se presume ter interrompido suas atividades econômicas e causados diversos prejuízos; em relação ao arrependimento posterior, a reparação do dano ou restituição da coisa deve se dar até o recebimento da denúncia ou da queixa, e no caso concreto a defesa pretende alegar tal princípio após a denúncia, contrariando o que dispõe o art. 16 do Código Penal:
Art. 16 – Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
b) O fato de Leozinho ter restituído a maquina poucos dias após a subtração tem relevância como atenuante para a fixação da pena, onde o agente por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar ou minorar as suas consequências, foi o que ocorreu no caso concreto, onde Roberto Carlos teve o bem restituído poucos dias após a subtração, esta atenuante esta disposta na 1° parte da alínea b do art. 65, III do Código Penal:
Art. 65 – São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
III – ter o agente:
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;
No caso da res furtiva fosse restituída no curso da ação penal, ainda sim o agente teria sua pena atenuada com base na 2° parte da alínea b do art. 65, III do Código Penal, que dispõe a reparação do dano antes do julgamento:
Art. 65 – São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
III – ter o agente:
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;
2) No dia 14 de setembro de 2014, por volta das 20h, José, primário e de bons antecedentes, tentou subtrair para si, mediante escalada de um muro de 1,70 metros de altura, vários pedaços de fios duplos de cobre da rede elétrica avaliados em, aproximadamente, R$ 100,00 (cem reais) á época dos fatos. Sobre o caso apresentado, segundo entendimento sumulado do STJ, assinale a afirmativa correta:
a) é possível o reconhecimento do furto qualificado privilegiado independentemente do preenchimento cumulativo dos requisitos previstos no Art. 155, § 2º, do CP.
b) é possível o reconhecimento do privilégio previsto no Art. 155, § 2º, do CP nos casos de crime de furto qualificado se estiverem presentes a primariedade do agente e o pequeno valor da coisa, e se a qualificadora for de ordem objetiva.
c) não é possível o reconhecimento do privilégio previsto no Art. 155, § 2º, do CP nos casos de crime de furto qualificado, mesmo que estejam presentes a primariedade do agente e o pequeno valor da coisa, e se a qualificadora for de ordem objetiva.
d) é possível o reconhecimento do privilégio previsto no Art. 155, § 2º, do CP nos casos de crime de furto qualificado se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa, e se a qualificadora for de ordem subjetiva.
RESPOSTA: A questão trata do reconhecimento crime do privilégio no caso de cometimento de furto qualificado.
Analisando a questão, José mediante escalada de um muro de 1.70 metros de altura, tentou subtrair vários pedaços de fios duplos de cobre da rede elétrica avaliados aproximadamente em R$100,00. De acordo com essa conduta, José seria enquadrado em furto qualificado, disposto no art. 155, §4º, II do Código Penal:
Art. 155 – Subtrair, parasi ou para outrem, coisa alheia móvel:
§ 4º – A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
II – com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
A questão quer saber se devido José ser primário e de bons antecedentes pode ser aplicado o privilegio disposto no §2º do art. 155 do Código Penal:
Art. 155 – Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
§ 2º – Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
De acordo com a súmula 511 do STJ, é possível aplicar o privilégio ao furto qualificado desde que presente no caso concreto a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa furtada e a qualificadora for de ordem objetiva.
Súmula 511: É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.
3) Em relação ao delito de furto, analise as assertivas abaixo e assinale a opção correta:
I. A diferença entre o furto mediante fraude e estelionato reside na forma pela qual o agente se apropria da coisa, pois enquanto no primeiro a vítima não percebe que a coisa lhe está sendo retirada, no segundo é a própria vítima que entrega a coisa ao agente.
II. De acordo com o entendimento majoritário da doutrina, para caracterização da majorante do abuso de confiança basta a relação empregatícia com vínculo permanente.
III. Agente que subtrai para si energia elétrica alheia de pequeno valor, fazendo-o em concurso de pessoas, sendo ambos absolutamente primários, à luz da jurisprudência hoje dominante no Superior Tribunal de Justiça, pratica furto qualificado-privilegiado.
IV. Júnior, jovem de 20 anos, furta R$ 5.000,00 de seu próprio pai, Claudionor, de 53 anos. Nesta situação, Júnior responde pelo crime de furto agravado.
São corretas apenas as assertivas:
a) I e II;
b) I, II e III;
c) I, e III;
d) I, III e IV.
e) I, II e III.
RESPOSTA: I) A primeira assertiva esta correta, no crime de furto mediante fraude o agente usa deste meio para iludir, ludibriar a vigilância ou atenção da vitima, distraindo-a para que não perceba que esta sendo furtada; no crime de estelionato a fraude é empregada pelo agente para ludibriar a vitima para que ela mesma voluntariamente entregue o bem para o agente.
Nesse sentido é o entendimento do STJ:
PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. ESTELIONATO OU FURTO MEDIANTE FRAUDE. ENGANAR A VÍTIMA PRESTANDO AJUDA NO SISTEMA DE AUTOATENDIMENTO DE BANCO. ESTELIONATO. ART. 70 DO CPP. CONSUMAÇÃO NO MOMENTO E LUGAR DA OBTENÇÃO DA VANTAGEM ILÍCITA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITADO. 1. No delito de estelionato, o agente conduz a vítima ao erro ou a mantém nele, para que esta entregue o bem de forma espontânea. Já no furto mediante fraude, o agente, por meio de um plano ardiloso, consegue reduzir a vigilância da vítima, de modo que seus bens fiquem desprotegidos. 2. “A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução” (art. 70 do CPP). 3. O crime de estelionato consuma-se no momento e lugar em que o agente obtém a vantagem indevida. 4. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 10ª Vara Criminal da Seção Judiciária do Estado de São Paulo, ora suscitado.
(STJ – CC: 100587 BA 2008/0245516-7, Relator: Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, Data de Julgamento: 26/08/2009, S3 – TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 23/09/2009)
II) A segunda assertiva esta incorreta, o entendimento majoritário da doutrina é de que para caracterizar a majorante, é necessário que o empregado tenha alguma atribuição de confiança, como por exemplo: o cargo de gerente que tem atribuições de confiança que facilitaria a pratica delituosa.
Nesse sentido é o entendimento do STJ:
HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO. IMPOSSIBILIDADE DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA APROPRIAÇÃO INDÉBITA. PEDIDO DE AFASTAMENTO DA QUALIFICADORA DE ABUSO DE CONFIANÇA. IMPROCEDÊNCIA. AGENTE QUE SE VALEU DA CONDIÇÃO DE GERENTE DA EMPRESA-VÍTIMA. RELAÇÃO DE CONFIANÇA. PENA-BASE. REAJUSTAMENTO. CONSEQUÊNCIAS DO CRIME. 1. Não comporta guarida o pleito de desclassificação. A uma, porque a via estreita do habeas corpus não admite o revolvimento aprofundado das provas coligidas no processo sob o crivo do contraditório. A duas, porque a sentença, de maneira fundamentada concluiu tratar-se a hipótese de furto qualificado mediante abuso de confiança. 2. No caso, o paciente teria provocado a retirada, em seu proveito, de determinado equipamento da empresa da qual era gerente, maquinário este de que não tinha a posse. 3. Encontra-se justificado o reconhecimento da qualificadora de abuso de confiança, dado que o paciente ostentava a condição de gerente, circunstância essencial para a consecução da subtração. 4. A pena-base deve ser fixada concreta e fundamentadamente (art. 93, IX, CF) de acordo com as circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código Penal, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do delito. 5. A imputabilidade, a exigibilidade de conduta diversa e o potencial conhecimento da ilicitude constituem pressupostos da culpabilidade como elemento integrante do conceito analítico do crime, ao passo que a “culpabilidade” prevista no art. 59 do Código Penal diz respeito ao grau de reprovabilidade da conduta do agente, esta, sim, a ser valorada no momento da fixação da pena-base. 6. Na hipótese, o juiz de primeiro grau teve a culpabilidade do paciente “em grau alto” com amparo nos mencionados aspectos inerentes à própria compleição analítica do delito, o que não admite a jurisprudência desta Casa. 7. No tocante às consequências do crime, a pena-base está suficientemente motivada, amparando-se o magistrado no prejuízo contínuo causado à vítima, já que subtraído equipamento seu destinado à fabricação de discos de aço ou flanges de aperto, deixando a empresa de produzir e auferir lucro durante todo o período em que esteve privada da res. 8. Reajustamento da pena-base, levando-se em consideração apenas as consequências do crime. 9. Ordem concedida parcialmente para reduzir a pena do paciente de 2 (dois) anos e 4 (quatro) meses de reclusão e 13 (treze) dias-multa a 2 (dois) anos e 2 (dois) meses de reclusão e 11 (onze) dias-multa, mantidos o regime prisional aberto e a substituição de pena.
(STJ – HC: 90161 SC 2007/0211581-2, Relator: Ministro OG FERNANDES, Data de Julgamento: 09/02/2010, T6 – SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 08/03/2010)
III) A terceira assertiva esta correta em virtude da Súmula 511 do STJ:
É possível o reconhecimento do privilégio previsto no §2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.
IV) A quarta assertiva esta incorreta, Junior ao praticar furto contra seu pai Claudionor ficará isento de pena nos termos do art. 181, II do Código Penal:
Art. 181 – É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003)
II – de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
BIBLIOGRAFIA:
* Andreucci, Ricardo Antonio – Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2014.
* Bitencourt, Cezar Roberto – Tratado de direito penal : parte especial, volume 3: dos crimes contra o patrimônio até dos crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos / Cezar Roberto Bitencourt. – 10. ed. rev., ampl. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2014.
Observação: Para fazer o download do respectivo plano de aula clique aqui.
Caso concreto 5 – Direito Penal IIIpor Raphael Lima
1) Walter Weber, conhecido por seu comportamento agressivo, foidenunciado e condenado como incurso nas sanções do art. 147 do Código Penal, a uma pena de 03 (três) meses de detenção, substituída por uma pena restritiva de direitos, consistente na prestação de serviços à comunidade, durante três meses, à razão de 07 (sete) horas semanais, por ter havido, no dia 05 de maio de 2010, por volta das 19 horas, ameaçado sua ex companheira Jacinta Silva, por meio da utilização de um facão. A referida conduta teve por elemento propulsor o fato de Walter não aceitar a separação do casal. Consoante provas testemunhais (fls.101/102) dos vizinhos, que a tudo assistiram, haja vista a conduta de Walter ter sido praticada no portão da garagem da casa do então casal, Walter teria ameaçado Jacinta de matá-la caso a visse com outro homem. Inconformado com a decisão interpôs recurso inominado, com vistas à reforma da decisão e consequente absolvição por insuficiência de provas, bem como sustentou, que o fato não passara de uma mera “discussão entre marido e mulher” não tendo a mulher prestado “queixa”.
A partir do caso concreto narrado e dos estudos realizados sobre os crimes contra a liberdade individual, identifique.
a. Os elementos da figura típica de ameaça e seu momento consumativo. Responda de forma objetiva e fundamentada.
b. A natureza da ação penal aplicável ao caso. Responda de forma objetiva e fundamentada.
RESPOSTA: A questão trata do crime de ameaça, seus elementos, consumação e ação penal aplicável.
A – Walter Weber foi e denunciado e condenado por ameaça, crime previsto no art. 147 do Código Penal.
Art. 147 – Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único – Somente se procede mediante representação.
O elemento da figura típica, o verbo do art. 147 do Código Penal é ameaçar. De acordo com o princípio da fragmentariedade e da intervenção mínima do Direito Penal, somente os bens jurídicos mais importantes merecem receber a tutela Penal, para configurar o crime de ameaça ela deve ser dirigida à um bem jurídico tutelado com a promessa de ocorrência de “um mal injusto e grave”, ou seja, é necessário que haja uma ação anunciando um mal futuro e grave, essa ação pode vir por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico. Por se tratar de um crime formal, que não exige um resultado naturalístico, o crime de ameaça se consuma com a mera realização do ato ameaçador.
B – A ação penal aplicável ao caso concreto é a pública condicionada à representação da vitima, prevista no art. 100, §2º do Código Penal.
Art. 100 – A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º – A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Em regra a ação penal é pública, é o que se extrai do caput do artigo em comento, “a ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido”. O parágrafo único do art. 147, prevê para o crime que ameaça que “somente se procede mediante representação”. Estamos neste caso diante de uma ação penal condicionada à representação da vitima, o jus puniente sempre pertencerá exclusivamente ao Estado, porém este transfere a faculdade de jus accusationis quando o interesse do ofendido se sobrepor ao interesse público, quando este interesse afetar diretamente a vítima, portanto, é dado ao ofendido a faculdade de querer ou não mover à maquina judiciária, isso pode ocorrer quando o processo acarretar males maiores do que os resultantes do crime, neste caso prefere o ofendido amargar com a dor do crime do que ter de se expor.
2) Uma mulher apaixonada por um homem que inobstante tentar conquistá-lo de todas as formas, não consegue lograr êxito em seu intento. Assim, sendo, de porte de uma arma de fogo, empregando ameaça, obriga o homem indefeso à prática de relações sexuais, restando consumado, portanto o crime de: (Prova: CRSP – PMMG – 2014 – PMMG. Modificada)
a) Constrangimento ilegal.
b) Violação sexual mediante fraude.
c) Ameaça.
d) Estupro.
RESPOSTA: De acordo com o fato narrado, a mulher teria constrangido este homem mediante ameaça com o emprego de uma arma de fogo e obriga-lo à prática de relações sexuais. Neste caso há perfeita congruência com crime de estupro, previsto no art. 213 do Código Penal.
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 2o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
As demais alternativas estão incorretas, pois de acordo com o princípio da consunção, na precisa lição de Cezar Roberto Bitencourt:
“Há consunção quando o fato previsto em determinada norma é compreendido em outra, mais abrangente, aplicando-se somente esta.”
Portanto, as demais alternativas fariam parte do inter criminis para a consumação do crime de estupro sendo por este absorvido.
3) Manoel invadiu o computador de Paulo sem autorização deste e alterou várias informações do proprietário do computador, inclusive violando indevidamente seu mecanismo de segurança, em troca de um carro. Assim, Manoel: (Prova: FUNCAB – 2013 – PC-ES).
a) não praticou crime.
b) praticou o crime de invasão de dispositivo informático (artigo 154-A do CP).
c) praticou o crime de estelionato (artigo 171 do CP).
d) praticou o crime de inserção de dados falsos em sistema de informação (artigo 313- A do CP).
e) praticou o crime de modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações (artigo 313-B do CP).
RESPOSTA: Neste caso a conduta de Manoel de invadir sem autorização e alterar informações de um computador, incorre no art. 154-A do Código Penal, que dispõe:
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
§ 4º Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
§ 5º Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado contra: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
I – Presidenteda República, governadores e prefeitos; (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
II – Presidente do Supremo Tribunal Federal; (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
III – Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
IV – dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência Ação penal (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
Este artigo foi incluído pela Lei. nº 12.737/2012 mais conhecida como “Lei Carolina Dieckmann”, a atriz teve fotos intimas divulgadas na internet mediante invasão, na época do fato havia projeto de lei do deputado Paulo Teixeira (PT-SP) acerca do assunto, trazendo diversas modalidades e penas para os crimes cibernéticos.
A primeira alternativa esta incorreta, pois houve crime tipificado no art. 154-A do Código Penal. A terceira alternativa esta incorreta pois não há que se falar em estelionato pois Manoel de acordo com o caso concreto não induziu ou manteve Paulo em erro mediante qualquer artifício ardil ou fraudulento e não há adequação típica da conduta realizada para o crime em comento. As duas últimas alternativas relacionadas a inserção de dados falsos em sistema de informação art. 313-A, e modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações art. 313-B, também não encontram adequação típica, pois estes são crimes próprios e exigem que o sujeito ativo seja funcionário público.
BIBLIOGRAFIA:
* Nucci, Guilherme de Souza – Manual de direito penal / Guilherme de Souza Nucci. – 10. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2014.
* Mirabete, Julio Fabbrini, Manual de direito penal, volume 1 : parte geral, art. 1º a 120 do CP / Julio Fabbrini Mirabete, Renato N. Fabbrini. – 31. ed. rev. e atual. até 5 de janeiro de 2015. – São Paulo : Atlas, 2015.
* Bitencourt, Cezar Roberto – Tratado de direito penal : parte geral 1 / Cezar Roberto Bitencourt. – 21. ed. rev., ampl. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2015.
Observação: Para fazer o download do respectivo plano de aula clique aqui.
Caso concreto 4 – Direito Penal IIIpor Raphael Lima
1) O gerente da empresa XYZ Ltda., pretendendo que a empregada Rosa das Neves, portadora de deficiência física, apresentasse sua demissão, passou a afirmar que ela estava desviando dinheiro do caixa e que fazia uso dos recursos para manter sua relação extraconjugal com um colega de trabalho. Estas afirmações foram realizadas reiteradamente para todos os colegas, por mais de três meses, levando Rosa a sentir-se em um ambiente de trabalho insustentável. O Juiz do Trabalho reconheceu a prática de assédio moral e determinou a expedição de ofício para apuração de delitos. (TRT 14R – 2014 – TRT – 14ª Região (RO e AC) – Juiz do Trabalho MODIFICADA).
A partir do caso concreto narrado e dos estudos realizados sobre os crimes contra a honra:
a)Avalie a possibilidade de concurso de crimes entre os delitos de calúnia, difamação e injúria quando praticados no mesmo contexto fático.
b) Identifique as consequências jurídico-penais caso o gerente promova a retratação antes da prolação da sentença.
c) O fato de Rosa das Neves ser portadora de deficiência física possui relevância para a tipificação da conduta do gerente?
RESPOSTA: a) Os delitos de calúnia, difamação e injúria cometidos em um mesmo contexto fático, não há que se falar em concurso de crimes em caso de ofensa a um mesmo bem jurídico, aplica-se neste caso o princípio da consunção, que na lição de Damásio de Jesus:
“Ocorre a relação consuntiva, ou de absorção, quando um fato definido por uma norma incriminadora é meio necessário ou normal fase de preparação ou execução de outro crime, bem como quando constitui conduta anterior ou posterior do agente, cometida com a mesma finalidade prática atinente àquele crime.”
Portanto, a difamação e a injúria fica absorvida pela calúnia que é mais grave e mais abrangente que os demais.
b) De acordo com o art. 143 do Código Penal, a retratação só é cabível para os delitos de calúnia e difamação, tendo o querelante de se retratar antes da sentença transitada em julgado para ficar isento de pena, podendo o ofendido em casos de crime praticado através dos meios de comunicação, pedir que a retratação seja feita por estes mesmos meios. Estas previções estão no art. 143, parágrafo único do Código Penal:
Art. 143 – O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena.
Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa. (Incluído pela Lei nº 13.188, de 2015)
Portanto, a retratação do gerente da empresa XYZ será somente para os crimes de calúnia e difamação, neste caso, responderá somente pela injúria.
c) O fato de Rosa Neves ser portadora de deficiência física aumenta a pena em um terço para os crimes previstos neste capítulo de acordo com o art. 141, IV do Código Penal:
Art. 141 – As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido:
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)
Parágrafo único – Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro.
2) Com relação aos delitos contra a honra, leia atentamente as situações hipotéticas apresentadas abaixo:
I. Funcionário público oferece representação contra colega entendendo-se ultrajado na sua honra, (em sua dignidade). Acionado criminalmente, o colega retratou-se. A referida retratação é irrelevante para o Direito Penal.
II. Um indivíduo comparece à Delegacia Policial e oferece notícia de crime em face de terceiro, um desafeto seu, sendo certo que o noticiante imputou ao noticiado crime de que o sabia inocente. Em decorrência da referida notícia foi instaurado inquérito policial. Neste caso, a conduta do noticiante encontra-se incursa no tipo penal da calúnia.
III. Um indivíduo, maior e capaz, com o ânimo de ridicularizar um vizinho, portador de deficiência mental, o xinga de “idiota bobalhão”. Arrasado com a ofensa chora e conta aos seus pais e amigos que foi “humilhado”. Neste caso é correto afirmar que a conduta deste indivíduo será tipificada como injúria discriminatória.
IV. Dois indivíduos, por motivo irrelevante, iniciam violenta discussão em um bar, no curso da qual um deles, despeja um copo de cerveja na cabeça do outro. A sua conduta configura a contravenção penal de vias de fato.
Estão certos apenas os itens:
A) I e II.
B) I, e III.
C) I, II e III IV.
D) I, II e IV.
RESPOSTA: I – A primeira alternativa esta correta, a retratação só é relevante para o Direito Penal nos crimes de calúnia e difamação, não encontrando previsão para o crime de injúria, é o que se extrai do art. 143 do Código Penal:
Art. 143 – O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena.
Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa. (Incluído pela Lei nº 13.188, de 2015)
II – A segunda alternativa esta incorreta, pois ao noticiar o crime de calúnia as autoridades que o sabia inocente e em decorrência disso ter sido aberto inquérito para apuração, o agente incorre no art. 399 do Código Penal que prevê a denunciação caluniosa, que neste caso absorve o crime de calúnia através do princípio da consunção, como bem ensina Fernando Capez:
“A calúnia constitui crime contra a honra, ao passo que a denunciação caluniosa é crime contra a administração da Justiça. Se tiverem como base os mesmos

Outros materiais