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Além do Homem e Mulher Novas Famílias.pdf 2 (3)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
BRUNO CARVALHO, JACQUELINE VIANA, JÚLIA RABELLO, 
MARCO ANTONIO MOREIRA, MARIA MERGENER, 
MATHEUS FARIA, MYLENA FURTADO
ALÉM DO HOMEM E MULHER: NOVAS FAMÍLIAS
RIO DE JANEIRO
2016 

BRUNO CARVALHO, JACQUELINE VIANA, JÚLIA RABELLO, 
MARCO ANTONIO MOREIRA, MARIA MERGENER, 
MATHEUS FARIA, MYLENA FURTADO
ALÉM DO HOMEM E MULHER: NOVAS FAMÍLIAS
Trabalho de conclusão da disciplina de Psicologia Jurídica 
apresentado à Escola de Ciência Jurídica da Universidade Federal do 
Estado do Rio de Janeiro como requisito parcial à obtenção de aprovação 
na disciplina.
Orientadora: Professora Doutora Denise Maurano Mello
RIO DE JANEIRO
2016 

RESUMO
Este trabalho analisa as novas formas de parentalidades emergentes na 
sociedade brasileira atual, bem como as questões psicanalíticas agregadas. Após 
sucinta introdução, o trabalho discute o papel da família monoparental e da 
constituída por parentes. Depois é mostrado um panorama histórico-evolutivo sobre 
o divórcio no Brasil e do papel de pais separados no âmbito familiar e da existência 
da alienação parental. Também é falado sobre pais adotivos e a conjuntura do 
processo de adoção. Por fim, o trabalho expõe a questão das famílias 
homoparentais e a homossexualidade; a evolução no campo jurídico da adoção por 
casais homoafetivos e o florescimento da transexualidade na família e na 
sociedade.
Palavras-chave: Novas Parentalidades. Adoção. Transformação Familiar. 

ABSTRACT
This work analyses the new forms of parenthood that emerged in the modern-
day Brazilian society, as well as the psychoanalytic issues attached to it. After a brief 
introduction, the work talks about the role of the one-parent family and of the family 
formed by relatives. Then it displays a historical and evolutive perspective about the 
divorce in Brazil and the role of divorced parents within the family circle and the 
existence of parental alienation. It also discusses adoptive parents and the 
circumstances of the adoption process. At the end, the work exhibits the issue of 
the LGBT family and homosexuality; the improvements in adoption by same-sex 
parents by the judiciary, and the flourishing of transsexuality in the family and 
society.
Keywords: Modern Parenthoods. Adoption. Family Transformation.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADCT	 Ato da Disposições Constitucionais Transitórias
----------------------------------
ADI 	 Ação Direta de Inconstitucionalidade
-------------------------------------------------
ADPF 	 Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
-------------------------
CC 	 Código Civil
------------------------------------------------------------------------------
CF 	 Constituição Federal
--------------------------------------------------------------------
CNJ 	 Conselho Nacional de Justiça
--------------------------------------------------------
ECA 	 Estatuto da Criança e do Adolescente
-----------------------------------------------
RE 	 Recurso Extraordinário
------------------------------------------------------------------
REsp 	 Recurso Especial
---------------------------------------------------------------------
STF 	 Supremo Tribunal Federal
-------------------------------------------------------------
STJ 	 Superior Tribunal de Justiça
-----------------------------------------------------------
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 6--------------------------------------------------------------------------
2. FAMÍLIA MONOPARENTAL 7-------------------------------------------------------------
2.1. CONTEXTUALIZAÇÃO 7
2.2. LICENÇA-MATERNIDADE E PATERNIDADE PARA PAIS ADOTANTES SOLTEIROS 11
2.3. QUESTÕES PSICANALÍTICAS 12
3. FAMÍLIA ENTRE PARENTES 15------------------------------------------------------------
3.1. O PLANO DOGMÁTICO 15
3.2. O PLANO ZETÉTICO 16
4. PAIS SEPARADOS 19----------------------------------------------------------------------
4.1. A EVOLUÇÃO HISTÓRICA 19
4.2. O DIVÓRCIO E O DIREITO BRASILEIRO 19
4.3. PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA 23
4.4. O DIVÓRCIO E A ALIENAÇÃO PARENTAL 23
5. PAIS ADOTIVOS 25------------------------------------------------------------------------
5.1. O PERIGO DA MOTIVAÇÃO PARA ADOTAR 25
5.2. A CRIANÇA ADOTIVA 25
5.3. AS EXPECTATIVAS E AS ANGÚSTIAS DOS PAIS ADOTIVOS 26
5.4. A EVOLUÇÃO LEGISLATIVA 28
6. PAIS HOMOSSEXUAIS 30-----------------------------------------------------------------
6.1. A HISTÓRIA DA HOMOSSEXUALIDADE 30
6.2. AS FORMAS DE PARENTALIDADE HOMOSSEXUAL 31
6.3. QUESTÕES PSICANALÍTICAS 32
6.4. A VISÃO DA SOCIEDADE 34
7. A EVOLUÇÃO JURÍDICA NO PROCESSO DE ADOÇÃO 36----------------------------
8. TRANSSEXUAIS 39------------------------------------------------------------------------
8.1. TRANSEXUALIDADE, TRAVESTILIDADE, INTERSEXUALIDADE E DRAG QUEENS 39
8.2. PRECONCEITO E SEGREGAÇÃO 40
8.3. VIOLÊNCIA SILENCIADORA 40
8.4. CONTEMPORANEIDADE 41
9. CONCLUSÃO 43--------------------------------------------------------------------------
REFERÊNCIAS 45--------------------------------------------------------------------------------
�6
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo expor os diferentes tipos de família 
existentes na sociedade atual. É verdade que a família, enquanto instituição social, 
tem passado por inúmeras mudanças em relação à sua organização e à sua 
estrutura no decorrer do último século. O modelo tradicional de família passa a 
dividir espaço com diversos outros que não são melhores ou piores, apenas 
diferentes.
A família é responsável por promover a educação dos filhos e orientar, em 
primeira instância, o comportamento no meio social. É importante salientar que o 
ambiente familiar deve ser um local de harmonia, afeto e suporte, 
independentemente de sua configuração. Essas relações de confiança e bem-estar 
são responsáveis pela unidade familiar.
Ao longo do trabalho entraremos em contato com essas configurações 
modernas de família e veremos como elas são encaradas frente à sociedade. 
Poderemos observar também as dificuldades e peculiaridades que cada uma delas 
enfrentam, seja no âmbito legal, ou nas questões sociais.
Passaremos pelos desmembramentos da família tradicional, com pais 
divorciados e famílias monoparentais (seja por óbito ou pelo desconhecimento de 
um dos genitores) e também por novos tipos de família como a homoafetiva.
A questão da adoção é bastante explorada ao longo do trabalho. As 
dificuldades enfrentadas por pais adotivos são apresentadas, bem como os 
preconceitos e o reconhecimento dos filhos como membros da família.
Também observaremos como as configurações familiares enfrentam a questão 
da criação dos filhos, do reconhecimento enquanto família e em alguns casos, da 
adoção. O trabalho também apresenta a questão da transexualidade e todo o 
preconceito envolvido.
O mais importante a se salientar é que não importa qual seja a configuração, 
não existe um tipo de família ideal ou modelo correto. Todos os tipos familiares tem 
a mesma potencialidade de ser responsável pela formação dos cidadãos na 
sociedade.

�7
2. FAMÍLIA MONOPARENTAL
Por Júlia Rabello 
2.1. CONTEXTUALIZAÇÃO
Paulo Roberto Ceccarell i , no artigo Configurações edípicas da 
contemporaneidade: reflexões sobre as novas formas de filiação, traz o seguinte 
questionamento, gerado pela polemização que paira sobre as novas formas de 
filiação na sociedade contemporânea: "As crianças criadas por apenas um dos 
genitores (às vezes o outro é totalmente desconhecido) (…) terão necessariamente 
problemas de subjetivação? Ou seja, a falta de um dos genitores — 
monopaternidade — (…) terá repercussões particulares nos processos 
identificatórios e, por conseguinte, na organização psíquica do sujeito?" A partir 
dessa questão,que Ceccarelli também aplica à família homoparental, foco do seu 
artigo, esta seção do trabalho procura situar as famílias monoparentais em um 
contexto histórico, jurídico e psicanalítico.
Por família monoparental entende-se "a comunidade formada por qualquer 
dos pais e seus descendentes”, como consta na Constituição Federal de 1988, a 
primeira positivação brasileira desse modelo como uma forma de família. Essa 
modalidade será considerada neste trabalho dentro de algumas possibilidades: a 
morte, separação ou abandono de um dos pais (sendo o caso do divórcio 
contemplado em outra seção), a adoção por uma pessoa solteira, viúva ou 
separada, ou a inseminação artificial por uma mulher que deseja criar um filho sem 
um parceiro ou parceira.
Esses núcleos ganharam visibilidade exponencialmente desde os anos 60, 
apesar de sempre haverem existido famílias órfãs de pai ou mãe, pais solteiros, 
separados ou abandonados por seus parceiros. 
Segundo o Censo 2010 do IBGE, a família composta por mulher sem cônjuge 
e com filhos aumentou de 11,5%, em 1980, para 15,3%, em 2010. Já a composta 
por homem sem cônjuge passou, no mesmo período de tempo, de 0,8% para 
2,2%. Verifica-se, então, um fenômeno crescente, que passou a constituir tema 
relevante nos estudos jurídicos e psicanalíticos.
�8
2.1.1.ADOÇÃO MONOPARENTAL
A possibilidade de se adotar independentemente do estado civil foi admitida 
no Brasil com a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA) .
1
Em março de 2013, no Brasil, os pais solteiros, viúvos ou separados que 
querem adotar uma criança sem um parceiro representavam 10,72% do total de 
29.164 pretendentes inscritos no Cadastro Nacional de Adoção, gerido pela 
Corregedoria Nacional de Justiça, órgão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A 
maioria correspondia ao sexo feminino, com 9,49%. Os pretendentes cujo estado 
civil era solteiro eram 8,46%, divorciado ou separado 2,44% e viúvo 0,8%. Dados 
mais atuais do mesmo órgão, porém menos específicos, revelam que, em 2016, 
entre cerca de 37 mil pretendentes, 5.019 são solteiros, número que já corresponde 
a mais de 13,56% dos adotantes.
2.1.2.VIUVEZ
 	 Em 1968, para cada duas mulheres de famílias monoparentais no 
Brasil, uma era viúva. A partir de 1982, esse número começa a cair para uma mulher 
viúva em cada três de famílias monoparentais, coincidindo com um aumento da 
expectativa média de vida dos homens e um aumento dos índices de divórcio e 
separação.
Na viuvez, seja de qualquer uma das partes, em que existem filhos, a criança 
continua a residir com o progenitor vivo. Constitui-se, assim, a forma mais remota, 
porém mais antiga de família monoparental.
Desde 1980, a porcentagem dessas famílias decorrentes da viuvez de uma 
das partes de um casal vêm decrescendo. Uma teoria para esse fenômeno é o 
aumento da expectativa de vida dos homens, já que, em sua maioria, são as 
mulheres que tornam-se viúvas.
 Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm.1
�9
As mães viúvas, segundo um levantamento de dados de 2009, da Pesquisa 
Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD), compõem 27% dos domicílios de 
famílias monoparentais femininas, isto é, famílias nas quais a mãe é a única 
progenitora responsável pela criação os filhos. 
2.1.3.ABANDONO
A Constituição Federal de 1988 afirma, no art. 227, que o dever de um pai é 
prover sustento, cuidado e zelo a sua prole. No entanto, um problema sério no 
cotidiano atual do país é o abandono de pais para com os seus filhos, deixando 
centenas de crianças desamparadas econômica e emocionalmente, resultando no 
crescimento exponencial de famílias monoparentais.
O abandono de um pai pode ser caracterizado de três formas diferentes: 
intelectual, material e afetivo, sendo os dois primeiros crimes contra a assistência 
familiar. O abandono intelectual ocorre quando um dos pais deixa de educar o seu 
filho ou permite que ele seja mal influenciado, roubando-lhe de seu direito à 
educação. O abandono material, por sua vez, constitui-se quando um dos pais 
deixa de pagar a pensão alimentícia, não custeando as necessidades da criança. Já 
o abandono afetivo, a única forma não criminalizada , caracteriza-se quando um 2
dos pais simplesmente não dá atenção ao seu próprio filho, mantendo uma postura 
indiferente.
A evasão paternal é a forma mais comum de abandono afetivo. Em 2015, uma 
estimativa da Corregedoria Nacional de Justiça na Cartilha Pai Presente, com base 
em declarações dos alunos no Censo Escolar de 2011, indicou que 5,4 milhões de 
estudantes brasileiros não tinham o pai em seus registros, o que corresponde 
aproximadamente a 10% dos estudantes contemplados pelo Censo.
Em 2014, a então Presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei n.º 13.058/14, 
que modificou parte do Código Civil para prever a guarda compartilhada entre 
 Apesar de não criminalizada, a prática é passível de compensação por dano moral 2
conforme o REsp 1.159.242/SP. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/
documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=15890657.
�10
ambos os pais. A guarda unilateral será concedida, no entanto, quando uma das 
partes intencionalmente abrir mão da guarda da criança .
3
Além disso, o pai, mesmo quando abandona seu filho, é obrigado a 
reconhecê-lo como seu perante à Justiça. Caso haja a recusa de fazê-lo, é possível 
mover contra ele o processo de Ação de Investigação de Paternidade, no qual a 
criança é representada por sua mãe. Assim, um juiz ordena um exame de DNA para 
comprovar paternidade . Se este for positivo, o pai será obrigado a cumprir com 4
suas obrigações legais, incluindo o registro e o pagamento da pensão, assim como 
a previsão da criança no recebimento de sua herança.
O papel geralmente exercido por um pai no crescimento de uma criança pode 
ser cumprido através de outras figuras, porém o abandono é uma marca psíquica, 
capaz de deixar cicatrizes vitalícias.
2.1.4.INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL
Tema que instiga debate entre juristas e psicólogos, a técnica de inseminação 
artificial consiste em engravidar uma mulher de forma não convencional, 
concretizando seu desejo de tornar-se mãe, sem necessitar de um parceiro, apenas 
de um doador de esperma. No caso das famílias monoparentais constituídas por 
mulheres, o processo é geralmente o heterólogo — quando o doador do esperma 
utilizado na fecundação não é uma pessoa vinculada à mulher, mas um doador 
anônimo. O processo é custoso, além de não ter garantia de sucesso — as chances 
de engravidar variam entre 25% e 35%.
Apesar da Constituição de 1988 prever o planejamento familiar livre, ou seja, 
consagrar o direito de todo e qualquer indivíduo, seja este casado ou não, de 
formar uma família, há uma lacuna jurídica no que diz respeito à mulher solteira que 
deseja realizar inseminação artificial. A única previsão na legislação brasileira é o art 
 Lei nº 10.406/02, art. 1.584, § 2º — "Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os 3
filhos deve ser dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista 
as condições fáticas e os interesses dos filhos:"
 Ainda que o pai se recuse a fazer o exame, a súmula 301 do STJ diz: "Em ação 4
investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção 
juris tantum de paternidade."
�11
1.597 do Código Civil que dispõe que há presunção de paternidade do marido 
falecido no caso de uma viúva, tendo consentimento oficial de seu marido antes de 
sua morte, ser inseminada com seu esperma, preservado por técnicas de 
congelamento, ou de outro homem.
Existe um grande preconceito em torno dessa forma de gerar um bebê 
quando se diz respeito a uma mulher solteira. Há quem afirme que a criança que 
vier a ser concebida será prejudicada devido à faltade uma figura paterna desde o 
seu nascimento, defendendo que todo indivíduo deveria ter, inerentemente, acesso 
a um núcleo familiar “normal”, dotado de uma mãe e de um pai. 
2.2. LICENÇA-MATERNIDADE E PATERNIDADE PARA PAIS ADOTANTES 
SOLTEIROS
Normalmente, quando há a concepção biológica de uma criança, a mãe tem 
direito a licença-maternidade, que pode durar de 4 a 6 meses. O pai, por sua vez, 
tem direito a licença-paternidade por 5 dias, de acordo com o art. 7º do inciso XIX 
da CF/88 c/c art. 10, § 1° do ADCT. Para os pais que trabalham em empresas 
participantes do programa Empresa Cidadã, no entanto, segundo a Lei nº 13.257, 
de 8 de março de 2016, sancionada pela então presidente Dilma Rousseff, que 
altera artigos da Lei nº 11.770, de 9 de setembro de 2008, há direito a 20 dias de 
licença.
A partir do art. 5º da Lei nº 12.873, de 24 de outubro de 2013, altera-se o art. 
71-A da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, e o direito à licença e ao salário-
maternidade passa a ser concedido também a quem adota uma criança. Além 
disso, um dos pais adotivos têm direito a 120 dias afastados de seu emprego para 
cuidar da criança .
5
Esses direitos podem, também, ser aplicados a pais adotivos solteiros. No 
entanto, ainda há uma lacuna jurídica, pois, em muitos casos, a falta de clareza das 
normas leva à necessidade de processos judiciais para que tal pedido seja 
reconhecido como válido, com base na garantia de um período de adaptação da 
 Lei nº 8.213/91, art. 71-A: "Ao segurado ou segurada da Previdência Social que adotar ou 5
obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança é devido salário-maternidade pelo 
período de 120 (cento e vinte) dias.”
�12
criança com o pai ou a mãe adotivos, presente no Estatuto da Criança e do 
Adolescente e na Constituição Federal.
2.3. QUESTÕES PSICANALÍTICAS
2.3.1.FUNÇÕES DE MÃE E DE PAI APLICADAS AO CASO DE PAIS SOLTEIROS
Segundo os estudos de Jacques Lacan e sua releitura de Freud, a partir dos 
anos 50, o sujeito se constitui a partir da linguagem, posto que o inconsciente se 
estrutura como uma linguagem. O sujeito precisa da linguagem porque é através 
dela que ele exprime o desejo advindo da pulsão, conceito desenvolvido por Freud 
que se atribui a uma “força constante que impele o sujeito à satisfação“ (Guerra e 
Fuks, 2014, p.178). 
O instante do nascimento, para Freud, representa uma condição de 
desamparo fundamental, pois o bebê precisa de um Outro que corresponda à ação 
necessária para que ele sobreviva. A amamentação será a ação que dá sentido à 
mensagem presente no apelo da criança: é a linguagem que permite que a mãe 
interprete esse choro. Nessa primeira demanda do bebê, está o desejo de 
restituição de um estado de completude que o sujeito acredita ter existido. O Outro, 
portanto, satisfaz a necessidade e introduz a criança ao campo da linguagem, o que 
faz com que ela queira a presença desse Outro e de seu afeto.
Em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, Freud explica que o 
desenvolvimento psíquico dos sujeitos passa pelo desejo de matar o pai e ter a mãe 
para si, pois ela seria o primeiro objeto de desejo, estabelecido na relação dual que 
se dá a partir do nascimento. É para ilustrar esse desejo que ele apresenta o mito 
de Édipo, de Sófocles (427 A.C.), que, rejeitado ao nascer, retorna a Tebas e cumpre 
um destino de assassinar o pai e casar com a mãe.
É a mãe, ou a figura que corresponde à função de mãe, que satisfaz as 
necessidades da criança. Porém, como afirmam Guerra e Fuks, “se essa relação é 
necessária, fundamental à sobrevivência do homem, mostra-se igualmente 
perigosa, já que não seria possível o desenvolvimento psíquico da criança se não 
acontecesse nada capaz de limitar esse princípio do prazer” (2014, p. 185). A 
�13
introdução da figura do pai nesse meio corresponderia à limitação desse gozo; é o 
pai que revela a não-liberdade da criança para gozar com o objeto de desejo.
Na Psicologia, quando se fala em função materna e paterna, na verdade, 
qualquer pessoa na vida da criança pode representar essas funções. “Em uma 
família monoparental, por exemplo, onde não há a figura física de um homem, pode 
haver o exercício da função paterna pela mulher, que deve sinalizar as interdições 
culturais ao filho” (Guerra e Fuks, 2014, p. 186). Da mesma forma, é possível que 
um pai corresponda à função materna, por corresponder às necessidades afetivas 
da criança desde o nascimento. Por isso, respondendo ao questionamento que as 
famílias monoparentais geram na sociedade, colocado em discussão por Ceccarelli, 
não se pode afirmar na falta de uma figura paterna ou materna um motivo para 
falhas na subjetivação e na organização psíquica do sujeito. Nas configurações 
monoparentais, as funções de pai e de mãe são representadas por alguém, seja o 
próprio pai ou a mãe, um parente, a escola ou qualquer outro elemento em suas 
vidas. Logo, não é simplesmente a partir da criação por apenas um dos pais que 
são passíveis de se desenvolverem problemas psíquicos.
2.3.2.PAPEL DO PSICÓLOGO NA ADOÇÃO
O processo de adoção pode demorar muito tempo, variando de acordo com a 
região do país e com a idade da criança. No entanto, a média é de 
aproximadamente dois anos, durante os quais ocorrem o pedido de inscrição, a 
participação no curso de preparação e o estudo psicossocial. Essa espera cria uma 
expectativa nos adotantes e uma idealização de como será a criança. Logo, a 
adoção envolve não só a adaptação dos pais com o filho como também a 
adaptação diante das diferenças entre o que foi imaginado e a realidade. A ausência 
de vínculo genético, a impossibilidade de acompanhar a gestação e o receio em 
relação aos pais biológicos são outros fatores que afetam os pais.
Ao fim desse processo, há ainda a fase de adaptação do adotante à criança e 
ao papel de mãe ou pai, na qual é necessária a formação de um vínculo. A 
constituição da identidade parental apresenta-se como pré-requisito para que esse 
vínculo se estabeleça, pois é a partir da subjetividade, da compreensão que o 
�14
sujeito tem de si mesmo, que o adotante passa a se enxergar como pai ou mãe em 
uma “gravidez psicológica”, já que não participa do período pré-natal.
Dessa forma, é indispensável o acompanhamento psicológico durante os 
primeiros estágios da adoção, pois ele contribui para que os pais percebam suas 
motivações conscientes e inconscientes para adotar. Grupos de apoio a pais 
adotivos também podem ser positivos durante a espera pelos trâmites legais, pela 
troca de experiências e conhecimentos, além do sentimento de pertencimento a um 
grupo de interesse afim.
Cursos preparatórios para os pretendentes à adoção foram instituídos com a 
Lei nº 12.010/09 . O programa é oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude e 6
inclui preparação psicológica. Adotantes devem ter frequência de 100% nas 
“aulas”, planejadas e realizadas pela equipe técnica do Setor Psicossocial da Vara 
da Infância e da Juventude e do juiz titular da Vara.
O estudo psicossocial acontece após a inscrição e a preparação e consiste 
em entrevistas e visitas domiciliares para verificar as motivações e os sentimentos 
dos candidatos. O adotante é avaliado de acordo com sua capacidade de exercer 
papel parental e satisfazer as necessidades da criança durante o seu 
desenvolvimento. Prioriza-se, portanto, o interesse da criança, conforme o ECA, a 
partir da observação, em candidatos a pais ou mães, de aspectos como 
personalidade, maturidade, desempenho no trabalho, tolerância, disciplina, relações 
familiares e forma de lidar com situações adversas, que os permitam assumir a 
responsabilidade total sobre um filho.
O trabalho do psicólogo, portanto, como mediador do processo de adoção 
envolve dar visibilidade à subjetividade do outro. O objetivo principal é favorecer a 
comunicação e a vinculaçãoafetiva do pai ou da mãe adotiva com o filho, 
promovendo a adequação dessa família. 

 Lei que alterou o ECA para conter o art. 197-C:
6
"Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância 
e da Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios que 
permitam aferir a capacidade e o preparo dos postulantes para o exercício de uma 
paternidade ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios desta Lei."
�15
3. FAMÍLIA ENTRE PARENTES
Por Marco Antonio Moreira 
3.1. O PLANO DOGMÁTICO
Entende-se como adoção, a modalidade artificial de filiação, onde toma-se um 
filho no seio familiar, de maneira voluntária e legal. O Brasil possui uma legislação 
específica para tratar casos de adoção por consanguíneos, com a proposta de 
equilibrar a relação entre abandonados e adotantes, tendo em vista que crianças da 
mesma família (relação sanguínea) teriam uma espécie de preferência na hora de 
serem selecionadas.
A lei brasileira veda a adoção a parentes ascendentes (avós, bisavós) e 
descendentes (filhos, netos e irmãos), mas permite que tios e primos possam fazê-
lo. A intenção da lei é de evitar que o adotado passe por conflitos de entendimento 
familiar. Um exemplo: uma pessoa que é adotada por sua avó, deixa de ser neta e 
passa a ser filha, o que pode gerar confusão na cabeça de adotados.
Além disso, a lei brasileira só considera como parentes colaterais até o quarto 
grau. O Código Civil estabelece:
Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas 
para com as outras na relação de ascendentes e descendentes.
Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto 
grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da 
outra.
Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de 
consanguinidade ou outra origem.
Art. 1.594. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo 
número de gerações, e, na colateral, também pelo número delas, subindo 
de um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar 
o outro parente.
Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do 
outro pelo vínculo da afinidade.
§ 1º O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos 
descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro.
�16
§ 2º Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do 
casamento ou da união estável.
3.2. O PLANO ZETÉTICO
No entanto, na prática vemos situações muito diferentes. Inúmeras são as 
pessoas criadas por avós, especialmente na sociedade em que nos encontramos. A 
necessidade de que ambos os pais trabalhem e deixem seus filhos aos cuidados 
dos avós, faz com que eles sejam parte extremamente importante na formação dos 
netos. Embora os avós não sejam tutores legais da criança, a questão da família vai 
muito além do âmbito legal. Família também diz respeito ao psicológico, ao 
sentimento de pertencimento, e é nesse aspecto que a Psicologia e o Direito se 
chocam com frequência. 
	 O problema é que, no Brasil, a adoção de netos por avós era utilizada com o 
propósito de fraudar a segurança fiscal. A ideia era de manter os benefícios aos 
netos, quando os avós viessem a falecer. Dessa maneira, não existia como a 
Previdência Social se negar a fornecer os benefícios aos netos, visto que eles 
também eram filhos dos contribuintes. Porém com a elaboração do ECA, a adoção 
por ascendentes foi proibida, e consequentemente os avós foram proibidos de 
adotar seus netos, tento de certa forma sanado o problema.
	 Há quem alegue, entretanto, que essa proibição é inconstitucional, e nesse 
meio são destacadas algumas hipóteses para a adoção de crianças por seus avós. 
Elas são: quando a criança for órfã; ou quando o pai for destituído do poder familiar. 
Nestes casos, entende-se como constitucional a adoção dos jovens por avós . 
7
	 Além disso, dar a possibilidade de ser criada por alguém do mesmo grupo 
familiar, propicia a manutenção do sentimento de pertencimento e identidade do 
adotado. Assim, a adoção por avós ou outro parente consanguíneo ascendente é 
uma espécie de maneira de resguardar o interesse da criança e zelar pelo seu bem-
estar psicológico. Certamente isso não quer dizer que outra família não teria a 
capacidade de proporcionar tudo isso a um adotado, mas o importante aqui é a 
manutenção do afeto e da proximidade com os avós. 
 É o decidido no REsp 1.448.969/SC. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/7
documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=40700170.
�17
	 Diante de tudo isso, alguns tribunais têm dado pareceres favoráveis a 
adoção de netos por avós no Brasil. Um exemplo é o do STJ que reconheceu a 
relação sócio afetiva do casal de avós com uma criança que nasceu após a mãe, de 
oito anos, ter sido abusada sexualmente. A menina foi adotada pelo casal já 
estando grávida, e tanto ela quanto o bebê passaram a ser cuidados pelo casal, 
que conseguiu adotar ambos.
	 Sobre esse ocorrido, pode ser citada a fala de Silvana do Monte Moreira, 
presidente da Comissão de Adoção do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de 
Família). “O ser social não é estanque; pelo contrário, é absolutamente mutável. Os 
princípios basilares insculpidos na Constituição Federal são norteadores dos novos 
direitos e caminha no reconhecimento das novas configurações familiares”. 
	 Outro tipo de adoção importante é a feita por tios. A legislação brasileira 
entende que parentes colaterais podem adotar, desde que seja algo consensual e 
que a família (tios) tenha total condição de manter a criança. Ou seja, a preferência 
da adoção não será dada aos parentes apenas por serem parentes, pois os 
mesmos se submetem a uma série de requisitos iguais aos de qualquer outra família 
que não tenha laços sanguíneos com o adotado.
	 A nova lei da adoção também nos apresenta o que é conhecido como 
parentesco por afinidade. Esse grau de parentesco surge com o casamento e 
outras relações sociais que criam vínculos afetivos entre as pessoas. Por exemplo, 
uma mulher que se case com o avô de um indivíduo, passa a ser sua parente por 
afinidade. É interessante dizer que esses parentes por afinidade não são impedidos 
de adotar, mesmo sendo casados com membros ascendentes do adotando, pois 
não são entendidos como parentes consanguíneos. 
	 Esse parentesco sócio afetivo também surge com o que conhecemos como 
“pais de criação”, que assumem a paternidade de crianças que sabem não serem 
pais, mas tratam como se fossem. Essa relação de afinidade e afetividade tem sido 
cada vez mais importante em decisões judiciais, onde entende-se que parentesco 
biológico e parentesco sócio afetivo são distintos entre si, e, portanto, a ausência 
de um não significa a impossibilidade de reconhecimento do outro.
�18
	 É importante entender principalmente, que a adoção rápida por parentes, 
sejam colaterais, sócio afetivos ou até mesmo ascendentes (alguns raros casos) 
evita que a criança ou adolescente passe por diversos transtornos que podem ser 
acarretados pela ausência de família. Existem inúmeros estudos que mostram os 
danos psicológicos sofridos por crianças que esperam na fila da adoção. Muitas 
passam tanto tempo na fila para um lar, que quando conseguem, já nem mais 
sabem como se comportar em família, pois nunca tiveram uma, ou passaram muito 
tempo sem esse laço.
	 Segundo John Bowlbly, a privação das relações com os pais pode gerar uma 
série de problemas, tais como angústia, exagerada necessidade de amor, distúrbios 
nervosos, personalidade instável, entre diversos outros. Além disso, muitas crianças 
desenvolvem problemas de depressão, sentimento de rejeição pela sociedade, o 
que acaba levando-as a quadros gravíssimos. 
	 Por fim, é importante tocar mais uma vez no ponto da identidade.Sendo 
adotado por parentes, onde já se tem afinidade, laços afetivos, o jovem já se 
reconhece como membro da família. Para recém-nascidos, isso pode não ser tão 
significativo, porém para crianças maiores e adolescentes, essa relação, o 
sentimento de pertencimento é extremamente importante. Além disso, os pais-
parentes também vão poder apresentar ao adotado a história de seus pais 
biológicos com muito mais proximidade, o que é de suma importância para grande 
porção dos adotados.

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4. PAIS SEPARADOS
Por Mylena Furtado 
4.1. A EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Analisando a história percebe-se que o conceito de família passou por 
diversas transformações. A família medieval obedecia aos moldes ditados pelo 
discurso religioso, mas a família contemporânea, ao contrário do que se poderia 
inicialmente supor, também se submete a padrões que, embora não mais 
referendados pela Igreja, são desenhados pela norma jurídica. 
É indubitável que na atualidade, as leis e as decisões judiciais, detêm o poder 
de ditar não apenas o jurídico e o antijurídico, mas o certo e o errado no que diz 
respeito aos comportamentos, aptidão outrora pertencente, primordialmente, aos 
patriarcas das famílias e à religião. 
A propósito, é interessante ressaltar que os deveres e direitos parentais 
ganharam novo enfoque nos últimos anos. Não se fala mais em pátrio poder, mas 
sim, em poder parental. O Judiciário, diante de um conflito familiar, deve considerar 
a abrangência da família em cada comunidade, levando em conta seus valores e 
costumes.
 O matrimônio, antes indissolúvel, passou por modificações ao longo do 
tempo, tanto social quanto juridicamente. A Segunda Guerra Mundial, que trouxe à 
mulher fortalecimento e independência em relação aos homens, jamais tidos 
anteriormente, é considerada como um grande fator impulsionador para tal 
mudança.
4.2. O DIVÓRCIO E O DIREITO BRASILEIRO
Inicialmente, vale ressaltar que o casamento tal qual como fora introduzido no 
Brasil do tempo do Império era regido pelas normas da Igreja Católica, haja vista 
que o catolicismo era a religião oficial da nossa metrópole, Portugal. Sendo assim, 
aplicavam-se as disposições estabelecidas no Concílio de Trento.
�20
Com relação ao matrimônio, o maior dogma instituído referia-se à sua 
indissolubilidade. Até mesmo nas hipóteses em que se autorizava a separação de 
corpos não havia rompimento do vínculo matrimonial.
 Séculos se passaram e, mesmo com a independência do Brasil, nada mudava 
com relação à autoridade da normatização eclesiástica do matrimônio. 
Apenas em 1890 surgiram as condições favoráveis para a implantação, com o 
Decreto nº 181/1890 , do casamento civil no Brasil, em que pese ainda continuasse 8
a existir o casamento religioso.
Com o surgimento do referido diploma, também passou a existir a separação 
de corpos, denominada de divórcio, que era regido pelas leis da Igreja. As causas 
que a justificavam eram as mesmas que depois foram utilizadas para autorizar o 
desquite no Código de Beviláqua. Além do adultério, admitia-se como causa para a 
separação de corpos a tentativa de morte, a sevícia ou injúria grave, o abandono 
voluntário do domicílio conjugal por dois anos contínuos e o mútuo consentimento 
dos cônjuges que fossem casados há mais de dois anos.
Com o advento do Código Civil de 1916, surge no direito brasileiro o instituto 
do desquite, que era, nas palavras de Pontes de Miranda, "a separação sem quebra 
do vínculo". Percebe-se, por conseguinte, que a modificação efetuada foi apenas 
terminológica. O novo instituto introduzido nada mais era do que o divórcio regido 
pelo Decreto nº 181/1890, mas com outra nomenclatura. Segundo Sílvio Rodrigues,
“A palavra ‘desquite’ foi introduzida no direito brasileiro com o Código 
Civil de 1916. O Decreto nº 181/1890, que instituiu entre nós o casamento 
civil, ainda utilizava a expressão divórcio, embora não o admitisse com o 
efeito de romper o vínculo conjugal. De forma que o Código Civil, fora 
modificações menores, nada inovou ao direito anterior, a não ser o nome 
do instituto”
Frente ao crescimento do movimento divorcista, que aos poucos vinha 
ganhando força principalmente entre os congressistas, o legislador constitucional 
se antecipou a uma possível regulamentação infraconstitucional da separação e do 
divórcio e inseriu a indissolubilidade do casamento na Constituição de 1934, o que 
conferiu status constitucional a esse preceito.
 Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/8
D181impressao.htm.
�21
Não obstante o número de defensores da dissolubilidade do vínculo 
matrimonial estivesse crescendo em progressões geométricas, as Constituições de 
1937, 1946 e 1967 mantiveram-se fiéis à indissolubilidade, frustrando as 
expectativas de boa parte da sociedade e não permitindo a regulamentação de um 
fato que já vinha ocorrendo na prática, qual seja, a formação de novas famílias 
pelos ex-cônjuges desquitados.
Somente em 28 de junho de 1977 o divórcio foi oficialmente instituído no 
Brasil. Em 26 de dezembro do mesmo ano foi regulamentado pela promulgação da 
Lei nº 6.515/77 . A partir de então, o Brasil eliminava de uma vez por todas o 9
caráter indissolúvel do casamento e a perpetuidade do vínculo matrimonial mesmo 
após o desquite. 
Conhecida como Lei do Divórcio, esse diploma revogou os artigos 315 a 328 
do Código Civil de 1916, inserindo o divórcio definitivamente no ordenamento 
jurídico brasileiro. Além disso, passou a chamar de separação judicial o que até 
então era conhecido como desquite. 
Entre os principais aspectos da Lei nº 6.515/77 — Lei do Divórcio — está a 
regulação da guarda dos filhos na dissolução do casal. 
Nela, a guarda é conferida apenas a um dos genitores, segundo decisão do 
Juiz, bem como fiscalizar sua manutenção na educação. No caso da separação 
judicial em que se atribui a um dos cônjuges a responsabilidade do casamento 
(teoria de culpabilidade), a guarda dos filhos menores fica com aquele que não 
houver dado causa – o inocente. Caso ambos sejam responsáveis pela dissolução, 
os filhos menores de 16 anos ficam com a mãe, salvo se o Juiz verificar que tal 
solução possa causar prejuízo moral a eles. Ao culpado caberia a responsabilidade 
pelos proventos.
 Porém, com a Constituição de 1988 há a queda do princípio de culpabilidade 
e a criação do princípio de igualdade. Tal dispositivo legal possibilita diferentes 
formas de proteção voltadas para o interesse dos menores. A CF/88 introduziu 
relevantes mudança no conceito de família e no tratamento dispensado a essa 
instituição considerada a base da sociedade.
 Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6515.htm.9
�22
 Em 2002 entrou em vigor o Novo Código Civil, lei nº 10.406/02, substituindo o 
Código Civil de 1916. Essa mudança trouxe inovações acerca das regras do direito 
da família, como por exemplo, o critério de culpabilidade pela separação, que foi 
definitivamente revogado e a guarda passa a ser atribuída aquele que tem melhores 
condições para exercê-la. Coloca fim ao poder pátrio, cedendo lugar para o poder 
familiar.
	 Já em 2008 entrou em vigor a Lei 11.698, que normatiza duas possibilidades 
de guarda: a unilateral e a compartilhada. Enquanto a primeira reserva somente à 
um adulto (genitor ou alguém que substitua) a responsabilidade pelas decisões 
inerentes à criação do menor, a segunda indica uma situação jurídica onde ambos 
pais têm a guarda e responsabilidade do filho. 
É válido ressaltar que quando não se consolida a guarda compartilhada, 
ainda há uma inclinação dos tribunais de atribuir a guarda à mãe. Cabendo ao pai a 
visitação quinzenal, o que limita um relacionamento mais estreito com os filhos. E 
quando o pai pleiteia visitas menos esparsas, o Judiciário costuma alegar que talpedido pode aumentar a desavenças entre os ex-cônjuges. 
Em 22 de dezembro de 2014 entra em vigor a lei nº 13.058. Essa Lei 
estabelece o significado da expressão “guarda compartilhada” e dispõe sobre sua 
aplicação, para o que modifica os arts. 1.583, 1.584, 1.585 e 1.634 da Lei nº 10.406, 
de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). Ela instituiu que quando não houver acordo 
entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, encontrando-se ambos os genitores 
aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um 
dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor.
O § 5º afirma que caso o juiz verifique que o filho não deve permanecer sob a 
guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda a pessoa que revele compatibilidade 
com a natureza da medida, considerados, de preferência, o grau de parentesco e as 
relações de afinidade e afetividade.
Essa lei trouxe um aparo jurídico aos pais para a divisão das 
responsabilidades e despesas diante da criação de seus filhos por meio da guarda 
compartilhada. Além disso, os termos da guarda são estabelecidos legalmente. 
Assim, há uma participação conjunta na criação dos filhos. 
�23
	 Portanto, as normativas visam estabelecer que a separação dos pais não 
implique na relação entre pais e filhos, e muito menos, no direito de terem a 
companhia um do outro.
4.3. PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA
A criança e o adolescente possuem, além de todos os direitos individuais e 
sociais reconhecidos pela Constituição Federal, direitos distintos dos direitos dos 
adultos. Direitos chamados de direitos fundamentais especiais, tendo em vista a 
sua peculiar condição de ser em desenvolvimento. Dentre os direitos fundamentais 
da infanto-adolescência está o direito à convivência familiar.
Entretanto, esse direito é, muitas vezes, ferido quando os pais esquecem que 
os problemas como cônjuge não devem afetar a relação e afeto entre pais e filhos. 
Quando o elo conjugal é rompido, deve-se ter em vista que a relação parental deve 
permanecer a mesma.
O Brasil incorporou, em caráter definitivo, o princípio do "melhor interesse da 
criança" em seu sistema jurídico, e sobretudo, tem representado um norteador 
importante para a modificação das legislações internas no que concerne à proteção 
da infância em nosso continente.
O interesse da criança é um critério usado juridicamente sempre que a 
situação da mesma requer a intervenção do magistrado, visando a lhe assegurar um 
desenvolvimento adequado.
A aplicação do princípio de melhor interesse permanece como um padrão 
considerando, sobretudo, as necessidades da criança em detrimento dos interesses 
de seus pais, devendo realizar-se sempre uma análise do caso concreto. 
4.4. O DIVÓRCIO E A ALIENAÇÃO PARENTAL
O fim do elo conjugal, muitas vezes, é caracterizado por conflitos ou 
situações tensas entre os cônjuges. Tais circunstâncias podem levar o guardião da 
criança (o detentor da guarda) a adotar medidas que obstruem a relação do filho 
com o outro genitor, como criar barreiras para a visitação. Quando se chega a esse 
estado ocorre o que é chamado de Alienação Parental.
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Nesse sentido, vale apontar a diferença entre Síndrome de Alienação Parental 
e Alienação Parental, apesar de se complementarem estando intimamente ligadas 
ou seus conceitos não se confundem. 
Alienação Parental é desconstituir para a criança, a figura parental de um dos 
seus genitores por intermédio de uma campanha de desmoralização, e 
marginalização do seu genitor tendo como objetivo afastá-lo do seu convívio e 
transformá-lo em um estranho para a criança. Essa campanha não está restrita 
somente ao guardião da criança, e pode ser praticada dolosamente ou não, por um 
terceiro ou um agente externo. Há casos em que os avós também promovem a 
Alienação Parental, sendo possível que qualquer pessoa com ou sem relação 
parental com a criança pratique esse processo. 
A Síndrome de Alienação Parental diz respeito aos efeitos emocionais e as 
condutas comportamentais desencadeadas na criança que é ou foi vítima desse 
processo. Grosso modo, são as sequelas deixadas pela Alienação Parental.
A Síndrome de Alienação Parental, segundo Richard Gardner pode ser 
entendida como um processo que consiste em programar uma criança para que 
odeie um dos seus genitores sem justificativas, decorrendo daí que a própria 
criança contribui na trajetória de campanha para desmoralização desse genitor.
Esse cenário gera um sentimento de rejeição a um dos genitores, via de regra 
incutido pelo outro genitor. Em primeiro momento, sem justificativas, introduz 
conceitos negativos sobre o progenitor do qual se intenta alienar. Posteriormente, 
evolui para um completo e irreversível afastamento, não só do genitor alienado, bem 
como de seus amigos e familiares.
Portanto, nota-se que a Alienação Parental tem efeitos gravíssimos. Os danos 
psicológicos, jurídicos e sociais causados na vida das crianças e adolescentes 
resultantes dessa prática a partir da desagregação familiar, leva ao rompimento de 
vínculos parentais e insere a criança em um universo imaginário de afastamento e 
abandono emocional prejudicando sua formação psíquica, podendo causar danos 
irreparáveis para o resto de sua vida. Uma vez identificado tal processo, o Poder 
Judiciário deve abortar o seu desenvolvimento impedindo que a síndrome venha a 
se instalar e assim, o direito dos filhos à uma convivência familiar sadia se cumpra. 

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5. PAIS ADOTIVOS
Por Matheus Faria 
5.1. O PERIGO DA MOTIVAÇÃO PARA ADOTAR
Existem diversos motivos que levam um casal a adotar uma criança, 
entretanto, para que ocorra uma adoção com uma boa preparação psicológica é 
recomendado aos pais que diferenciem com clareza o que os leva a essa escolha.
As motivações para a adoção expressam pensamentos conscientes e 
inconscientes que podem representar futuros entraves no relacionamento com a 
criança. Em grande partes das vezes, um dos componentes do casal, ou ambos, é 
estéril. Alguns, após diversas tentativas fracassadas de serem pais, recorrem à 
adoção para a realização desse sonho, renunciando à imagem do filho biológico, 
que se pareceria com eles, e empreendem sua incursão no mundo da adoção. 
Há casais que convivem satisfatoriamente com sua limitação biológica, mas, 
por vezes, a esterilidade é sentida como uma ferida, que impossibilita o desejo da 
continuidade biológica e imortalidade dos pais. Nesse caso pode haver sentimentos 
ambivalentes em relação a criança adotada, que acaba representando a limitação 
dos pais.
A ideia da mãe adotiva ao "ganhar um bebê" e não "ter um bebê" cria uma 
relevância na representação mental de si mesma. Brinich (1980) diz que enquanto a 
mãe biológica pensa no filho como "parte dela mesma", a mãe adotiva sabe que a 
criança era parte de outra pessoa.
5.2. A CRIANÇA ADOTIVA
Em estudos clínicos de crianças adotivas e seus respectivos pais, notou-se a 10
importância não apenas de a criança saber que é adotada, mas também de 
conhecer a história pregressa e possibilitar que toda a família fale sobre os 
questionamentos referentes ao processo vivenciado. (REIS, 2014)
 Weber, L.N.D. Aspectos psicológicos da adoção. Curitiba: Juruá; 201110
�26
A criança adotada acaba criando questionamentos próprios, com as 
particularidades de um adotivo, influenciando na construção de sua identidade. 
Essas dúvidas criam medo, gerando ideias como por exemplo: do mesmo modo 
que foram abandonadas pelos pais biológicos, elas poderiam também serem 
abandonadas pelos pais adotivos, ou um pensamento antagônico, desenvolvendo o 
pensamento que seus pais biológicos agiriam de maneira melhor que os pais 
adotivos, criando uma idealização.
Relações iniciais com a mãe biológica causam marcas psíquicas, que podem 
ser mantidas, agravadas outerem um novo significado a partir do contato com os 
pais adotivos. No início da vida, a mãe biológica detém a preocupação materna 
primária, entretanto a mãe adotiva não vivenciou esse momento desta forma, 
podendo dificultar os primeiro contatos mãe e filho. Essa falta de adaptação 
somada ao medo de ser abandonado, gera uma grande preocupação na criança 
sobre à sua aceitação, acarretando na repressão de uma parte de si mesmo.
Mas também é preciso dizer, que a construção de laços familiares não surge 
do nada, dependendo das vivências pelos adotivos em cada família. O 
desconhecimento sobre a própria história pode contribuir para sentimentos de 
vazio, dificuldades de relacionamento entre outros sintomas da ordem afetivo-
emocional.
Quando a criança é colocada num novo lar, ela inicialmente pode reagir de 
forma boa; entretanto, à medida que for se tornando mais confiante, pode sentir-se 
irritado com a mudança de ambiente ocorrida. Assim, os pais adotivos poderão 
perceber que se tornam alvo do ódio da criança, necessitando suportar, entender e 
não desanimar.
5.3. AS EXPECTATIVAS E AS ANGÚSTIAS DOS PAIS ADOTIVOS
No trabalho “Notas sobre o Narcisismo” (1914), Freud mostra que os filhos 
muitas vezes representam a esperança dos pais de realizar seus próprios ideais 
narcísicos. Os pais adotivos defrontam com a tarefa de absorver as diferenças em 
relação àquilo que esperavam de seu filho, em função das características peculiares 
à situação de adoção. A falta de vínculo genético, não ter acompanhado a criança 
�27
desde seu nascimento, as fantasias em relação aos pais biológicos, entre outros, 
podem dificultar essa acomodação.
A falta de habilidade e de alguns pais adotivos em aceitar as expressões mais 
instintivas da criança pode estar ligada à descontinuidade biológica. Como a 
criança "não veio deles", acreditam que sua forma de se comportar "só pode vir 
daquilo que trazem de seus pais biológicos". 
Encontramos ainda pais que apresentam dificuldades em admitir a dualidade 
natural de sentimentos diante de seu filho adotivo. Tendo enfrentado muitos 
desafios e angústias para poder ter o seu filho, sentem-se inseguros diante dos 
momentos de irritação ou decepção. Esforçam-se para manter uma visão idealizada 
da adoção, o que por vezes resulta em sérias dificuldades no estabelecimento de 
um relacionamento verdadeiro com o filho.
Surgem efeitos desastrosos com a idealização do processo de adoção, ainda 
mais quando a criança adotada, apresenta problemas emocionais de certa 
magnitude. É muito comum encontrar pais que não têm ideia que necessitaram de 
uma dedicação e paciência maiores do que o comum com estas crianças. Assim 
eles são assaltados por sentimentos de decepção, perplexidade e até mesmo 
arrependimento pela adoção.
As vezes ocorre uma identificação de um dos pais adotivos ou de ambos com 
o filho que passou por uma situação de abandono. Quando crianças, eles próprios 
se sentiram abandonados e dando um lar ao filho adotivo, sentem como se 
estivessem recuperando a criança no seu subconsciente. Novamente podem 
ocorrer dificuldades caso não ocorra uma diferenciação entre os sentimentos dos 
pais com a criança
Fantasias de roubo podem ser identificadas também em pais adotantes, 
surgindo o sentimento de que teriam “roubado” a criança, apresentando temores de 
castigo e retaliação, podendo perder o filho a qualquer momento.
Os pais biológicos são imaginados inconscientemente como personagens que 
podem voltar a qualquer momento para reaver o filho. Isso pode ser observado, por 
exemplo, nos pais que estão permanentemente assustados com ideias de perder a 
criança, e que passam a superprotegê-la. Este temor corresponde ao mundo fictício 
�28
dos pais adotivos e também se apoia em alguns fatos reais, como os casos de 
mães biológicas “arrependidas” que querem seus filhos de volta.
5.4. A EVOLUÇÃO LEGISLATIVA
A evolução do sistema jurídico acompanha, mesmo com ressalvas, a 
transformação familiar, interpretando a família de acordo com os fatos sociais.
A primeira referência de família no Direito Positivo Brasileiro foi o artigo 144 da 
Constituição Brasileira de 16 de julho de 1934: “A família constituída pelo 
casamento indissolúvel, está sob proteção especial do Estado”. Desse momento 
em diante, as Constituições condicionaram a ideia de família a do casamento, onde 
os filhos “legítimos” eram subordinados ao pai, sendo limitado seus direitos, 
resumindo-se em educação, criação e sustento. Já, os filho havidos “fora do 
casamento”, eram discriminados tanto pela lei como pela sociedade, esta 
subordinação também se estendia a mulher que deveria, unicamente, cuidar da 
casa, dos filhos e de seu marido.
Foi somente com a Lei nº 4.121 de 1.962, conhecida como o Estatuto da 
Mulher Casada, que se modificou a posição da mulher na sociedade conjugal, além 
de exercer o pátrio poder conjuntamente com o marido e adquirir capacidade civil, 
esta lei criou a figura dos bens reservados a mulher. Quanto aos filhos, a Lei nº 883 
de 1949 trouxe o reconhecimento do filho ilegítimo, através de ação judicial. Em 
1977, a implementação da Lei do Divórcio, pôs termo ao vínculo matrimonial, e 
também conferiu aos filhos o direito de postular alimentos em face de seus 
genitores.
O que transformou a ideia de família legítima foi a atual Constituição, que 
abrangeu, além da família fora do casamento e a igualdade entre os cônjuges, 
proibiu qualquer tratamento discriminatório aos filhos, independente de sua origem. 
Outrossim, as normas constitucionais consolidaram o afeto como elemento 
fundamental no estabelecimento da filiação e formação da família. Além disso, 
acrescentou, entre outros, os princípios da igualdade entre os filhos e o da 
dignidade da pessoa humana para alicerças a família sociológica.
�29
Com isso, o estado passou a reconhecer, outras entidades familiares, as quais 
não se originam no casamento, quais sejam: a união de fato (art. 226, §3º, da CF), a 
família monoparental (art. 226, §4º, da CF) e a família adotiva (art. 227,§6º, da CF).
Afirmando-se nas normas constitucionais promulgou-se o Estatuto da Criança 
e do Adolescente, Lei 8.069 de 1990, que disciplinou os interesses da criança, 
fazendo com que o filho deixasse de ocupar a posição de objeto, para ocupar a 
posição de sujeito na relação familiar e jurídica (art. 15 do ECA).
O atual Código Civil, em vigor a partir de janeiro de 2003, possibilitou ao 
Direito de Família um renascimento para os fatos sociais, isso se denota pela 
modificação da expressão pátrio poder em poder familiar, seguindo-se do 
reconhecimento da igualdade da filiação, bem como pela adoção como forma de 
filiação irretratável. Embora tenha silenciado o código, a respeito da posse de 
estado de filho, a doutrina referindo-se as legislações estrangeiras, assim como a 
jurisprudência pátria, abriram espaço para a filiação socioafetiva.
Em seu artigo 1.605, o mesmo código, mesmo que implicitamente, abriu as 
portas do Judiciário para o reconhecimento da posse de estado de filho que se 
desvincula da origem biológica, bastando a aparência dos papéis sociais de pais e 
filhos. Por outro lado, a jurisprudência reconhece a posse de estado, como 
característica fundamental no processo de determinação de paternidade, 
assegurando a criança e ao adolescente o direito de ter como pais aqueles que lhe 
garantem amor, sustento e proteção.Assim, a sociedade vem demonstrando um 
amadurecimento não só jurídico mas também social, no que se refere ao respeito e 
ao reconhecimento das novas formas de constituição da família.

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6. PAIS HOMOSSEXUAIS
Por Maria Mergener 
6.1. A HISTÓRIA DA HOMOSSEXUALIDADE
	 Considera-se como homossexual o indivíduo que se relaciona amorosamente 
com pessoas do mesmo sexo, e não com pessoas do sexo oposto. 
A homossexualidaderemonta aos primórdios da história da humanidade, 
estando presente indiscriminadamente em várias sociedades, desde os povos 
selvagens até as antigas civilizações, como a romana, a grega, a egípcia e a assíria. 
Na Grécia, em particular, o relacionamento entre homens era considerado mais 
nobre e estético do que o heterossexual.
	 A visão da sociedade sobre a prática homossexual se deturpou 
completamente com o advento do cristianismo, que condenava o amor 
homossexual explicitamente através da Bíblia. Nos séculos XII e XIII, a legislação 
previa pena de morte aos inclinados à homossexualidade, o que se acirrou na Santa 
Inquisição, com a verdadeira perseguição desses indivíduos, que passaram a se 
refugiar em guetos, isolados da sociedade. Ainda assim, na Idade Média, era 
comum haver relações homossexuais em lugares de confinamento com 
homogeneidade de gênero, como no mosteiros e campos militares, para os 
homens, e nos haréns e internatos, para as mulheres.
	 Com o passar do tempo, novas formas de exclusão e discriminação dos 
homossexuais foram surgindo, seja por simples constrangimento social ou por 
factual eliminação (grande exemplo foi o Holocausto). Em contrapartida, também 
crescia entre os homossexuais a compreensão de uma comunidade e a criação de 
esforços maiores para o seu reconhecimento. Até 1985, a prática homossexual era 
considerada transtorno sexual, digno de tratamento, como se doença fosse. Nesse 
ano, o Código Internacional de Doenças (CID) deixou de considerar distúrbio mental 
para enquadrar o "homossexualismo" como desajustamento social decorrente de 
discriminação religiosa ou sexual. Em 1991, a Anistia Internacional caracterizou 
como violação dos direitos humanos a proibição da homossexualidade. Apenas em 
1995, todavia, o CID alterou o sufixo "ismo", que designa doença, fixando a 
�31
nomenclatura homossexualidade como a correta, sendo o sufixo "dade" equivalente 
a "modo de ser".
	 No Brasil, D. Pedro I, em 1830, assinou o Código Penal do Império, que 
eliminava as referências à sodomia. A homossexualidade foi, portanto, 
descriminalizada. Contudo, somente em 1999 o Conselho Federal de Psicologia 
definiu que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem 
perversão”, sendo que o mesmo proíbe seus profissionais a oferecer e participar de 
eventos e serviços que proponham tratamento e cura da homossexualidade.
Em 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu, por unanimidade, a 
existência da entidade familiar chamada união homoafetiva entre casais 
homossexuais. Desta forma, os direitos concedidos a casais homossexuais se 
assemelham à união estável em alguns aspectos, como pensões, aposentadorias e 
inclusão em planos de saúde. E em 2013, o Conselho Nacional de Justiça emitiu a 
Resolução 175, que proíbe que os cartórios recusem a habilitação ao casamento 
entre pessoas de mesmo sexo
	 Hoje em dia, ainda são escassos os aparatos judiciais de reconhecimento da 
parentalidade homossexual, sobre a qual se discorre a seguir.
6.2. AS FORMAS DE PARENTALIDADE HOMOSSEXUAL
	 Em seu artigo sobre o assunto, Elizabeth Zambrano aponta algumas formas 
de parentalidade homossexual. A primeira ocorre quando uma das partes do casal 
já teve, previamente, um filho decorrente de relação heterossexual, e a 
parentalidade da criança é assumida por ambas as partes do relacionamento 
homoafetivo.
	 A segunda opção é a adoção, legal ou informal. Temores quanto à aceitação 
do processo adotivo levam o casal homossexual, muitas vezes, a dar início ao 
processo com apenas uma das partes, por ser mais fácil obter aprovação de uma 
adoção individual do que a de uma adoção homoafetiva. Quando a adoção é legal, 
estabelece-se o vínculo de filiação irrefutável, o que implica em direitos e deveres 
por parte dos pais (ou mães). Na adoção informal, os direitos de filiação não 
existem, e os laços entre os adotantes e a criança adotada são meramente afetivos.
�32
	 A terceira forma de parentalidade homossexual se dá através de novas 
tecnologias reprodutivas que possibilitam o nascimento de filhos biológicos, ainda 
que apenas parcialmente. Para as lésbicas, há o caso da inseminação artificial ou 
fertilização medicamente assistida. Como o casal lésbico já dispõe de, no mínimo, 
um útero para a gestação, necessitam apenas do sêmen, que pode ser adquirido 
através de um doador conhecido ou por um banco de esperma. Devido a 
possibilidade mais acessível de ter um laço consanguíneo com a criança, casais 
lésbicos podem tender a optar pelas tecnologias reprodutivas.
Para os gays, há a opção da chamada "barriga de aluguel" — quando um dos 
pais insemina uma mulher, cujo papel seria somente de gestar a criança, abdicando 
de qualquer filiação com a esta após o nascimento. Todavia, além de uma maior 
dificuldade, para a realização desse processo, já que requer a presença de uma 
mulher, ainda há restrições legislativas no Brasil, onde o procedimento da "barriga 
de aluguel" é considerado ilegal. Por esse motivo, os casais gays possuem a 
tendência de preferirem a opção da adoção, valorizando mais a parentalidade social 
do que a biológica.
6.3. QUESTÕES PSICANALÍTICAS
	 Algumas questões particulares devem ser analisadas quanto à parentalidade 
homossexual. Na família homoparental, ocorre a ausência de papéis fixos entre os 
membros — isto é, não há a dicotomia pai-mãe, típica do relacionamento 
heterossexual, onde relega-se o papel materno à mulher e a função paterna ao 
homem. Isso implica na adoção de um modelo heteronormativo pelo casal 
homossexual, no qual um dos homens ou das mulheres assumiria a função materna 
e a outra parte, o papel de pai. Ou, então, acontece uma flexibilização do modelo 
de família, havendo alternâncias e deslocamentos de papéis e lugares.
	 Da mesma forma, em núcleos familiares de parentalidade homossexual, 
prevalece a horizontalidade de relações internas, de modo que não há a típica 
hierarquia paternalista do relacionamento heterossexual que confere ao homem o 
papel de autoridade. No casal homoafetivo, a dominância de uma das partes vai 
dizer respeito a alguns assuntos e, a da outra parte, a outros. Não há a clara 
�33
definição do papel provedor de pai e do papel criador de mãe, posto que se tratam 
de famílias com dois pais ou duas mães.
	 Esta despadronização do modelo familiar tradicional que ocorre nas famílias 
homoparentais desencadeia uma série de discussões na psicanálise. Segundo o 
fundador da psicanálise, Sigmund Freud, o processo de subjetivação do indivíduo 
tem parte importante no Complexo de Édipo, que Freud vai designar como uma 
fase universal na infância em que há uma triangulação na constituição familiar (filho, 
pai e mãe). Nessa triangulação, cabe à mãe o papel de relegar amor incondicional 
ao filho, que será disputado por ele com o pai, a figura autoritária e disciplinadora. 
Na família homoparental, não há a triangulação objetiva dos papéis. Propõe-se, em 
contrapartida, a atribuição da identificação da criança não com o objeto real (a 
figura do pai ou da mãe), mas com a representação deste. Desse modo, no casal 
homossexual, qualquer das partes pode assumir a função da mãe — fornecedora 
de amor incondicional — ou do pai — figura autoritária com a qual disputa-se o 
afeto maternal, no complexo edipiano.
	 O debate deve-se não concentrar na homossexualidade dos progenitores, 
em favor do foco na demonstração, para o filho, da flexibilidade dos papéis, através 
da construção de laços sociais, do estabelecimento de códigos sociais claros e da 
simbolização de pontos de referência. O medo da indiferenciação por parte da 
criança resulta, justamente, do não reconhecimento da homoparentalidade, 
tentando-se impor os padrões heteronormativos de organização familiar a um 
contexto completamente diverso.
	 Da mesma forma, a releitura do complexo edipianonão implica em uma 
subversão da mentalidade infantil tão somente pela parentalidade homossexual. 
Pelo contrário: as deturpações no psiquismo da criança são muito mais recorrentes 
e decisivas no caso de abandono por parte do pai ou da mãe, na ausência ou perda 
de uma das partes da triangulação familiar. Por outro lado, casais homossexuais 
tem uma tendência significativamente menor de propiciarem a desconstrução do 
núcleo da família em comparação com casais heterossexuais.
	 Esta afirmação também tem respaldo na psicanálise. Os casais homoafetivos 
que desejam ter filhos encontram um complexo trabalho psíquico: surgem 
contradições que são vivenciadas pelos membros do casal, por desejarem ter 
�34
filhos, mas serem incapazes de gerá-los. Fomenta-se um sentimento de luto, 
porque há a expectativa da continuidade genealógica através da filiação, a qual, 
contudo, só poder se concretizar com o apelo a um agente externo, representado 
por pessoas e instituições. Ou seja, o casal homossexual que de fato obtém um 
filho já superou, além dos obstáculos jurídicos e burocráticos, o fardo do luto no 
psiquismo, e, portanto, realmente empregará empenho máximo no mantimento 
daquela família, finalmente construída após tanta dificuldade. O mesmo não 
acontece nos casais heterossexuais, quando a família pode ser constituída a partir 
de uma gravidez não planejada ou mesmo indesejada. Nesses casos, o abandono 
da criança, o descaso dos pais ou a má estruturação da família são realidades 
comuns. A possibilidade biológica de ter filhos não implica no desejo de tê-los, o 
qual já é implícito à família homoparental.
6.4. A VISÃO DA SOCIEDADE
	 A visão da sociedade sobre a parentalidade homossexual percorreu um 
caminho evolutivo longo. Hoje em dia, as principais correntes que se opõem à esta 
nova forma de parentalidade se pautam em dois principais cernes: a ameaça de 
destruição da sociedade e os prováveis prejuízos causados às crianças 
pertencentes a famílias homoparentais.
	 A primeira pauta diz que a constituição de famílias com progenitores 
homossexuais implica no perpetuamento da homossexualidade em um nível global 
que culminaria na extinção da espécie humana. Essa vertente se baseia no 
argumento de que pais homossexuais passariam seus hábitos aos filhos, gerando 
um ciclo infindável que destruiria a família tradicional. Todavia, não há nenhuma 
comprovação científica de que a homossexualidade é transmitida hereditariamente, 
tampouco de que ela seja sequer transmissível. Não há nada que comprove que ter 
contato com homossexuais terá qualquer influência factual na orientação sexual do 
indivíduo. Sabe-se que ser homossexual, assim como ser heterossexual, é algo 
definido no nascimento, e não em uma escolha. Afinal, por que alguém optaria, 
conscientemente, por ser homossexual, estando ciente dos tipos de discriminação 
aos quais estaria sujeito?
�35
	 Quanto aos prejuízos para a criança, filha de uma união homoafetiva, já se 
tendo excluído a fantasiosa ideia de que a criança seria também homossexual, 
necessariamente, por simples contato com os progenitores, restam apenas os 
prejuízos relativos ao preconceito. O filho de uma família homoparental pode vir a 
sofrer tratamentos preconceituosos, ainda que tenha uma criação exemplar e um 
núcleo familiar amoroso e acolhedor. Percebe-se que aquilo que se opõe à família 
homoparental é a mesma e única coisa que pode acabar com essa oposição: a 
própria sociedade.
	 Nesse sentido, os movimentos LGBTTT, e os simpatizantes desses, 
trabalham na desconstrução de imagens preconceituosas e na redução da 
discriminação das famílias homoparentais, já tendo obtido incrível progresso ao 
longo do tempo. 
O intuito primordial dessa comunidade é conscientizar a sociedade da 
importância da felicidade da criança e da qualidade da parentalidade, e não à 
orientação sexual dos pais nem ao cumprimento de leis religiosas ou preceitos 
morais intolerantes.

�36
7. A EVOLUÇÃO JURÍDICA NO PROCESSO DE ADOÇÃO
Por Jacqueline Viana 
Como abordado ao longo deste trabalho, o conceito de família sofreu 
mutações ao longo da história. O modelo tradicional construído pelo patriarcado foi 
decaindo por meio das transformações e lutas sociais, possibilitando que novos 
tipos de família fossem constituídas. No entanto, ainda há resistência de grupos 
mais conservadores para aceitarem essas novas formas de laços de afeto e amor. 
Por conta disso, os casais homoafetivos, por exemplo, ainda são estigmatizados 
pela sociedade. Esse problema se reflete no processo de adoção, dificultando o 
sonho de pessoas homoafetivas a terem filhos. 
Quem defere ou indefere os processos de adoção é o Poder Judiciário, 
composto por diferentes juízes, que ao contrário do que muito se diz, não são 
imparciais. Todas as pessoas possuem crenças e valores morais próprios e, com 
base neles, tomam suas decisões.
Ainda há juízes muito conservadores que não aceitam a constituição de uma 
família diferente daquela tradicional que vigorou até meados do século XX. Como a 
nossa constituição é silente quanto à admissibilidade da formação de uma família 
homoparental, alguns juízes utilizam a omissão da Magna Carta para negar a 
composição desse tipo de entidade familiar. Ainda que nossa Constituição Cidadã 
traga, no caput do conhecido artigo 5º, o princípio da isonomia, e, no inciso IV do 
artigo 3º, a promoção do bem estar de todos, sem distinção de origem, raça, cor, 
idade ou outras formas de discriminação. 
Nem mesmo o ECA prevê obstáculo para adoção em decorrência de 
orientação sexual do(s) requerente(s). As únicas restrições dispostas na referida lei 
são quanto à idade mínima de 18 anos do adotante e à diferença de 16 anos entre 
ele e o adotando . O caput desse mesmo artigo ainda dispõe sobre a irrelevância 11
do estado civil do requerente para a admissibilidade do pedido. A partir disso, é 
possível afirmar que, para a lei, a composição duplo e, consequentemente, hétero 
parental não é fator determinante e estritamente necessário. 
 Lei nº 8.069, art. 42, caput e § 3º:
11
"Art. 42.  Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil. 

 § 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando."
�37
A negação da adoção aos homoafetivos costumava acontecer em primeira e 
segunda instância. O STJ só veio a formar jurisprudência sobre o assunto pela 
primeira vez em 2010, por meio do julgamento do REsp 889.852/RS interposto 12
pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, o qual foi desprovido pela 
4ª turma por unanimidade e gerou o acórdão cuja ementa segue abaixo: 
DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. ADOÇAO DE MENORES POR CASAL 
HOMOSSEXUAL. SITUAÇÃO JÁ CONSOLIDADA. ESTABILIDADE DA 
FAMÍLIA. PRESENÇA DE FORTES VÍNCULOS AFETIVOS ENTRE OS 
MENORES E A REQUERENTE. IMPRESCINDIBILIDADE DA PREVALÊNCIA 
DOS INTERESSES DOS MENORES. RELATÓRIO DA ASSISTENTE SOCIAL 
FAVORÁVEL AO PEDIDO. REAIS VANTAGENS PARA OS ADOTANDOS. 
ARTIGOS 1º DA LEI 12.010/09 E 43 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE. DEFERIMENTO DA MEDIDA. 
A decisão do STJ fundamentou-se, principalmente: pelo artigo 1º da 
Lei nº 12.010/09 que estabelece o direito à convivência familiar a todas crianças e 
adolescentes; pelo artigo 43 do ECA, o qual dispõe que a adoção deve ser deferida 
quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos 
legítimos; por estudos científicos especializados sobre o assunto realizados na 
Universidade de Virgínia, na Universidade de Valência e na Academia Americana de 
Pediatria que "não indicam qualquer inconveniente em que crianças sejam 
adotadas por casais homossexuais, mais importando a qualidade do vínculo e do 
afeto que permeia o meio familiar em que serão inseridas e que as liga a seus 
cuidadores" (STJ, 2010); e pelo relatório elaborado pela assistentesocial favorável à 
adoção, ante a constatação da estabilidade da família. 
A citada jurisprudência do STJ foi muito importante para solidificar o 
entendimento jurisprudencial que parecia ser diverso em diferentes comarcas. Mais 
importante ainda foi a decisão do STF, em 2015, sobre o RE 846.102 interposto pelo 
Ministério Público do Estado do Paraná, gerando uma jurisprudência vinculante a 
todos os órgãos judiciais. Por meio desse recurso, o MP – PR queria instituir a 
limitação à idade mínima e sexo da criança a ser adotada em razão da orientação 
sexual do casal homoafetivo adotante, entretanto o STF negou provimento ao 
recurso. 
 Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?12
componente=ATC&sequencial=9823377.
�38
R E C U R S O E X T R A O R D I N Á R I O . C O N S T I T U C I O N A L . 
RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL HOMOAFETIVA E RESPECTIVAS 
CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS. ADOÇÃO. AÇÃO DIRETA DE 
INCONSTITUCIONALIDADE N. 4.277. ACÓRDÃO RECORRIDO 
HARMÔNICO COM A JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL 
FEDERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO AO QUAL SE NEGA 
SEGUIMENTO. (Supremo Tribunal Federal, 2015) 
A referida decisão foi fundamentada por jurisprudência do mesmo órgão que 
firmou a equiparação das uniões homoafetivas às uniões estáveis, por meio do 
julgamento da ADI 4.277 e da ADPF 132, em 2011. O STF atribuiu interpretação 
conforme à Constituição ao artigo 1.723 do CC “para dele excluir qualquer 
significado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura 
entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como 
sinônimo perfeito de família. Reconhecimento que é de ser feito segundo as 
mesmas regras e com as mesmas consequências da união estável 
heteroafetiva” (STF, 2011). Dessa maneira, o STF afirma em relatório da decisão do 
Recurso Extraordinário que " se as uniões homoafetivas já são reconhecidas como 
entidade familiar, com origem em um vínculo afetivo, a merecer tutela legal, não há 
razão para limitar a adoção, criando obstáculos onde a lei não prevê". 
Isto posto, a jurisprudência consolidou-se com a admissibilidade de adoção 
por casal ou solteiro homoafetivo. Com a vinculação gerada por essas duas 
importantes jurisprudências dos tribunais superiores, os demais passaram a 
produzir sentenças favoráveis ao direito de adoção, sem discriminação por 
orientação sexual do adotante, levando-se em consideração o que é mais 
importante nessa questão: o bem estar da criança e do adolescente que se 
encontra desamparado, sem a proteção legal da tutela permanente de um 
responsável e pela falta de afetividade que só a família é capaz de proporcionar. 
Pertencer a uma família, seja ela mono, duplo, homo ou hétero parental, ou até 
mesmo constituída nuclearmente por outros parentes, é a opção mais saudável 
para uma criança, do que esta crescer e se desenvolver em um abrigo. 

�39
8. TRANSSEXUAIS
Por Bruno Carvalho 
Apesar do recente progresso de aceitação por parte da sociedade e pelo 
judiciários de famílias homoafetivas, existem alguns grupos que por, excesso de 
desconhecimento e pelo preconceito derivado, continuam a ter pouca visibilidade 
no meio social.
Ainda é habitual, por parte do senso comum, a confusão entre termos como 
transsexual, travesti, intersexual e drag queen , bem como a vinculação desses 13
termos com a ideia de algum tipo de perversão sexual.
Além dessa confusão, para Sant'Anna:
"O desconhecimento da conceituação do que é ser homossexual, 
travesti e transexual, reforça o quadro de preconceito, estabelecendo um 
senso comum que tais identidades pertencem a um mesmo universo."
Mesmo com dificuldades, já existem família formadas por transsexuais no 
Brasil e no mundo na contemporaneidade. 
8.1. TRANSEXUALIDADE, TRAVESTILIDADE, INTERSEXUALIDADE E 
DRAG QUEENS
Para que possamos falar em família com pais transsexuais é importante 
primeiro que diferenciemos os termos que causam maior confusão.
Enquanto transsexual vem a ser a sensação de possuir uma identidade de 
gênero diferente do sexo biológico designado no nascimento, a intersexualidade é 
denominada pela presença de características sexuais (incluindo genitais, gônadas e 
padrões de cromossomos) que não são abarcadas pelas noções binárias típicas de 
sexo masculino ou feminino . Por outro lado, de acordo com a ANTRA , travesti é 14 15
 Segundo o Oxford English Dictionary o termo drag existe desde 1870 e pode significar 13
vestes femininas usadas por um homem.
 De acordo com a campanha Free & Equal promovida pelo Alto Comissariado das Nações 14
Unidas para os Direitos Humanos.
 Articulação Nacional de Travestis e Transexuais. Veja mais em: https://15
www.facebook.com/antrabrasil/.
�40
a pessoa que nasce do sexo masculino ou feminino, mas que tem sua identidade 
de gênero oposta ao seu sexo biológico, assumindo papéis de gênero diferentes 
daquele imposto pela sociedade. Já as drag queens são pessoas, geralmente 
homens, que se vestem com roupas femininas de forma satírica e extravagante para 
o exercício da profissão em eventos.
8.2. PRECONCEITO E SEGREGAÇÃO
Diferentemente de gays, que quando não afeminados passam 
desapercebidos, ou lésbicas, quando não masculinas, transexuais ao se 
transicionarem se expõem de tal forma que o simples ato de sair de casa 16
ou ir à escola pode se tornar traumático ou perigoso.
O preconceito também é institucionalizado na forma do registro civil e 
no documento de identidade onde fica conservado o nome e o sexo de 
nascimento .
17
8.3. VIOLÊNCIA SILENCIADORA
Apesar da escassa base de dados oficiais a respeito de violência 
transfóbica , transgêneros são mais propensos a serem vítimas de violência 18
física ou psicológica do que homossexuais no Brasil — pais que mais mata 
travestis e transsexuais de acordo com a ONG Transgender Europe 
 Termo preferido para identificar transexuais que se aperceberam como tais. 16
 A primeira decisão em sede de REsp que não só permitiu a alteração do prenome e do 17
sexo no assento de nascimento, como também proibiu que fosse registrado que a mudança 
se deveu a decisão judicial ou redesignação sexual de transexual apenas ocorreu em 18 de 
novembro de 2009. (Resp 1.008.398/SP)
 O Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil realizado pela Secretaria Especial de 18
Direitos Humanos da Presidência da República em 2012 demonstra que em 82,98% dos 
casos de violência homofóbica (termo usado para designar violência relacionada ao gênero 
ou orientação sexual) registrados a vítima não sabia como se autodeclarar.
�41
(TGEU) . Na America Latina, a expectativa de vida de uma pessoa trans é 19
de 30 a 35 anos, dependendo do pais .
20
Além de mais propensas à violência, por serem consideradas invisíveis 
por parte da sociedade, os crimes contra transexuais repercutem pouco ou 
quase nada no cenário legislativo de maneira geral. (ANTUNES, 2010, p.112)
Devido à violência e ao preconceito imposto pela sociedade, a 
sobrevivência e a busca por uma identidade acabam por se tornar temas de 
vida ou morte para os transexuais, de modo que outros assuntos como 
estudos, carreira profissional, casamento e constituição de família não fazem 
parte do dia a dia.
8.4. CONTEMPORANEIDADE
Apesar do histórico de violência e baixa visibilidade, recentemente há 
uma maior exposição sobre o assunto na mídia, além de mais pessoas se 
identificando com a transexualidade em conjunto com uma orientação 
heterossexual .
21
No cenário internacional há o exemplo da medalhista de ouro no 
decátlon, Caitlyn Jenner, que anunciou publicamente em abril de 2015 ser 
uma mulher trans na capa de uma importante revista americana . Por ser, 22
até a época, o padrasto da socialite Kim Kardashian, o evento foi 
amplamente coberto pela mídia americana, em geral em tom positivo.

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