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Modalização da linguagem VAL

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MODALIZAÇÃO DA LINGUAGEM NA PRODUÇÃO DE TEXTO
 Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que se haviam zangado . Cada um me contou a narrativa de por que se haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambos tinham razão. Ambos tinham toda a razão. Não era que um via uma coisa e outro outra, ou um via um lado das coisas e outro um lado diferente. Não: cada um via as coisas exatamente como se haviam passado, cada um as via com um critério idêntico ao do outro. Mas cada um via uma coisa diferente, e cada um, portanto, tinha razão. Fiquei confuso desta dupla existência da verdade.
Fernando Pessoa
 Nesta parte deste capítulo III, discute-se a aplicação dos estudos da modalização, considerando não só o ensino da análise linguística, mas também o ensino da leitura e da produção textual. O objetivo é demonstrar de que maneira o fenômeno da modalização é indispensável para a construção de sentidos em um enunciado ou texto, e como o aluno pode utilizar o esse fenômeno para desenvolver a sua competência linguístico-discursiva. 
 Aqui a modalização é vista como uma estratégia semântico-discursiva presente em diferentes tipos e gêneros textuais/discursivos, a partir de Koch (2002), Nascimento (2010) e Nascimento e Silva (2012).
 Pontua-se que isso é possível porque a modalização se apresenta como um fenômeno que permite ao locutor deixar registrado, no seu discurso, marcas de sua subjetividade por meio de determinados elementos linguístico-discursivos e, portanto, imprimir um modo como esse discurso deve ser lido. Dessa forma, age em função da interlocução. Em outros dizeres, a modalização é um fenômeno inerente à linguagem humana porque, por meio dele, pode-se expressar avaliação sobre o dito e interagir com nossos interlocutores, indicando ora como nosso enunciado deve ser lido, ora como se quer que o interlocutor (re)aja. 
 Assim, ao asseverar em enunciado “É certo que Paulo venha”, o locutor além de expressar certeza com relação ao fato da vinda futura de Paulo, ele o faz em função do seu interlocutor, ou porque queira que seu interlocutor acredite também que essa informação é verdadeira, ou porque tem outra intenção, que, algumas vezes, só é recuperada pela enunciação.
 Logo, o estudo dos elementos modalizadores deve estar voltado para o uso da linguagem, para os efeitos de sentido que esses elementos provocam nos enunciados e nos textos.
 Koch (2002, p. 85) apresenta uma lista de vários tipos de lexicalização das modalidades, transcritos a seguir:
a) performativos explícitos: eu ordeno, eu proíbo, eu permito;
b) auxiliares modais: poder, dever, querer, precisar.;
c) predicados cristalizados: é certo, é preciso, é necessário, é provável;
d) advérbios modalizadores: provavelmente, certamente, necessariamente, possivelmente.;
e) formas verbais perifrásticas: dever, poder, querer + infinitivo;
f) modos e tempos verbais: imperativo; certos empregos de subjuntivo; uso do pretérito perfeito com valor de probabilidade, hipótese; uso do imperfeito do indicativo com valor de irrealidade.;
g) verbos de atitude proposicional: eu creio, eu sei, eu duvido, eu acho;
h) entonação: (que permite, por ex.: distinguir uma ordem de um pedido, na linguagem oral);
i) operadores argumentativos: pouco, um pouco, quase, apenas, mesmo.
 
 Os modalizadores, elementos linguísticos que materializam, explicitamente, a modalização, classificam-se de acordo com o tipo de modalização que expressam, nos enunciados e discursos em que aparecem.
. Para o estudo da modalização da linguagem, parte-se também do entendimento de que o discurso é o efeito de sentidos entre interlocutores, pensando o fato dos sentidos se relacionarem com os textos e suas condições de produção; com os diferentes tipos de textos; e com as relações do dizer com o que não é dito. Resulta daí o caráter múltiplo e incompleto do sentido, jamais fechado e acabado. O discurso é constituído pelo movimento das significações, da tensão entre a polissemia dos sentidos e a paráfrase ( o mesmo). 
 A modalidade está expressa na atitude do falante ao produzir um enunciado. Ela revela a maneira como o enunciador tenta persuadir seu interlocutor em uma proposição, que poderá ser ou não verdadeira, divulga as intenções desse enunciador, a forma de se expressar e de opinar sobre o conteúdo do assunto em foco.
 Sempre que o falante pronuncia seu discurso, seja ele político, religioso, científico ou cultural, deixa marcas linguísticas que expressam sua opinião e que, na maioria das vezes, revelam o que ele conhece acerca do assunto. O modo como o falante veicula sua mensagem está presente na estrutura semântica, sintática e pragmática do discurso que produz.
 O sujeito enunciador marca, assim, sua presença no enunciado pelas marcas de modalização. Entendidas como índice das atitudes, opiniões e pontos de vista do enunciador em relação ao seu dizer, a modalização contribui para oferecer ao leitor um 
direcionamento argumentativo, possibilitando perceber o grau de adesão do falante ao seu discurso. O emprego dos modalizadores possibilita a identificação do ponto de vista do enunciador no discurso. 
 As atitudes, de posicionamentos, de julgamentos, de modulações afetivas do sujeito da enunciação em relação ao seu dizer e ao dito são manifestadas na língua por diferentes estruturas lexicais, morfológicas e sintáticas (KOCH, 2002). 
 A modalização tem um papel importante na argumentação, uma vez que, como afirmado anteriormente, é responsável pela instauração dos modos de existência e presença dos sujeitos no discurso. Por essa razão, apesar dos procedimentos, muitas vezes utilizados para produzir o efeito de objetividade e neutralidade, é possível perceber, a partir dos procedimentos de modalização, um posicionamento do enunciador e uma intencionalidade por meio da orientação argumentativa construída no texto. Essa orientação aponta para uma direção argumentativa, indicando um modo de ler o texto e analisar os fatos que enuncia.
A narração, apesar de apresentar um foco meramente informativo, voltando-se, pois, para a função referencial da linguagem, tende sempre a adotar um ponto de vista inicial. É esse ponto de vista que faz com que o narrador, ao narrar qualquer fato, de acordo com a sua intenção, procure convencer o leitor/ouvinte, a partir de sua interpretação pessoal dos fatos narrados.
 As escolhas lexicais são responsáveis por deslizamentos de sentido e os vocábulos que dão suporte a essas escolhas são os nomes – substantivos e adjetivos – em sua 
maioria, axiológicos (avaliativos) e advérbios. Os axiológicos constituem uma categoria lexical que está intimamente ligada às apreciações do enunciador. 
 A maior parte dos substantivos afetivos e avaliativos é derivada de verbos ou de adjetivos. Nessa visão, à medida que alguns substantivos revelam uma avaliação do sujeito enunciador, podem variar de uma enunciação para outra e devem ser eliminados de um discurso com pretensões de objetividade. Tais substantivos, que podem ser considerados como portadores de subjetividade, possuem traços axiológicos. Os substantivos axiológicos serão, portanto, mais numerosos em enunciados de pretensão avaliativa. 
 Em relação aos adjetivos, constata-se que as unidades lexicais de uma língua são carregadas de subjetividade, de acordo com uma escala significativa que transita do mais objetivo para o mais subjetivo. 
 O emprego dos adjetivos subjetivos afetivos não se aplica a certos tipos de discurso, que pretendem objetividade. Algumas vezes, no entanto, é possível encontrá-los em editoriais. 
 Há também os advérbios modalizadores que podem ser reveladores de julgamentos de verdade, como talvez, sem dúvida, certamente e aqueles que implicam um julgamento de realidade como realmente, verdadeiramente, efetivamente.
. Osadvérbios modalizadores são importantes na análise linguística visto que compõem uma classe de elementos adverbiais que têm como característica básica expressar alguma intervenção do falante na definição da validade e do valor de seu enunciado. Além disso, o uso dos modalizadores constitui uma das estratégia para marcar essa atitude do falante em relação ao que ele próprio diz. 
 É grande a importância de substantivos, adjetivos e advérbios subjetivos, sobretudo os avaliativos, na enunciação argumentativa porque marcam, de maneira significativa, a presença do sujeito enunciador e permitem a orientação para o sujeito destinatário de determinadas conclusões ou interpretações, que interessam ao sujeito enunciador. 
 É importante destacar que quanto mais um discurso se esforça em ser exaustivo, tanto mais tende à objetividade; quanto mais seleciona as informações que verbalizará, tanto mais corre o risco de ser subjetivo. 
 A noção de pressuposição é relevante para o estudo do significado linguístico. Os pressupostos podem ser considerados como sensíveis ao contexto discursivo, seja ele de natureza semântica ou pragmática, no qual o enunciado poderá ser desenvolvido. 
 A pressuposição é a relação que se estabelece entre os elementos, de modo que a presença de um deles é condição necessária para a presença do outro. 
 A outra forma de implícito – o subentendido – só aparece ligada à enunciação, ao componente retórico, constituindo uma opção de organização do discurso e produzindo efeitos de sentido que surgem na interpretação. O subentendido não aparece marcado na frase; é fruto de um processo interpretativo. Pelo fato de sugerir, sem dizer, o subentendido funciona como estratégia de não-comprometimento do enunciador. 
 Assim, o pressuposto é uma informação estabelecida como indiscutível ou evidente tanto para o falante quanto para o ouvinte, pois a estrutura linguística oferece os elementos necessários para depreender o sentido do enunciado. Já o subentendido, por possibilitar dizer alguma coisa, sem dizê-la explicitamente, passa a ser de responsabilidade do ouvinte/leitor. 
ATENÇÃO
 Os modalizadores, elementos que ativam modalização nos enunciados e no discurso, podem gerar diferentes efeitos de sentido e, dependendo do sentido que veiculam, é possível classificá-los em epistêmicos (ligados ao conhecimento), deônticos (ligados à obrigatoriedade, permissão, proibição ou volição), avaliativos (expressando juízo de valor) e delimitadores (estabelecendo limites para o conteúdo do enunciado). Assinala-se que a classificação de um modalizador não é fechada e depende do contexto em que o aparece, uma vez que um mesmo modalizador pode assumir diferentes funções.
 Optou-se aqui por não dar relevância a essa classificação ou nomenclatura dos elementos modalizadores, por acreditar-se que se pode muito bem trabalhar a modalização na análise linguística sem valer-se de uso de nomenclaturas classificatórias, mas voltando-se, principalmente, para o uso desses elementos em enunciados e textos.
 Modalização e leitura 
 Em determinados textos, a observância dos modalizadores é de fundamental importância para a construção de um sentido mais global do próprio texto. Por essa razão, quando da ocorrência de modalizadores, o aluno deve considerar os efeitos de sentido que eles geram, bem como de que maneira esses modalizadores interferem para a compreensão global.
 A seguir estão transcritos alguns textos em que a identificação e compreensão dos modalizadores são indispensáveis para uma leitura mais profunda. Para cada texto segue uma análise do funcionamento discursivo dos modalizadores, com o objetivo de indicar, para o aluno, como os elementos modalizadores devem ser tratados no processo de leitura.
 Observe também como é impossível uma narração isenta, imparcial:
	 
O réu ameaçava a vítima que, aos gritos, clamava por não ser morta. Ele pediu as joias e, ao ouvir a negativa da vítima, que dizia não possuir nenhuma, não teve dúvida: com frieza desumana, puxou o gatilho do revólver encostado à cabeça da vitimada, prostrando-a no chão sem vida, de forma cruel, por motivo absolutamente fútil. (RODRÍGUEZ, 2002, p.178)
O réu, no intento de roubar, pediu à vítima joias e dinheiro. Assustado, temeroso e alterado, pois não é bandido profissional, mas incidentalmente cometendo aquele equívoco, ouviu a ríspida negação da vítima e, supondo tendo ela chance de reação, que por certo poria sua vida em risco, em um ímpeto de emoção e medo apertou o gatilho, temendo por sua sobrevivência.( RODRÍGUEZ, 2002, p.178)
	Têm-se, aqui, duas narrativas da mesma cena. Cada narrador a descreve exatamente como se tinha passado. Não é que um tenha visto uma coisa e o outro, outra diferente, ou seja, desviando-se da verdade. Não: cada um via a cena exatamente como se havia passado, mas cada um a descreveu com um ponto de vista diferente (acusatório e defensivo), conforme se depreende intertextualmente com a epígrafe de Pessoa. 
	Nota-se, então, que, na narrativa dos fatos, o ponto de vista é implícito, pois não é enunciado diretamente, apenas sugerido, em uma modalização da linguagem “aparentemente” imparcial.
	Para maior compreensão do que está sendo afirmado até o momento, leia os textos hipotéticos, extraídos também do livro de Rodríguez ( 2002,p.177):
1) CAMELÔS INVADEM O CENTRO DA CIDADE E TUMULTUAM A VIDA DO PAULISTANO.
 Revoltados porque a Prefeitura resolveu retirá-los das ruas do centro da cidade, camelôs fizeram ontem manifestação agressiva, destruindo vitrines de lojas e tumultuando o centro da cidade, inclusive ferindo transeuntes. A polícia foi obrigada a apaziguar o tumulto, dispersando os manifestantes.
2) POLÍCIA AGRIDE MANIFESTANTES NO CENTRO DA CIDADE.
	Camelôs, que foram expulsos de seu local de trabalho nas ruas do centro da cidade, fizeram ontem manifestação na região central. A tropa de choque foi chamada para reprimir a manifestação, agredindo vários camelôs, que saíram feridos.
Observa-se que ambos os textos narram este mesmo evento: a manifestação dos camelôs e a repressão dos policiais. Entretanto, cada autor apresenta seu ponto de vista implícito mediante a utilização de dois procedimentos: a seleção vocabular e a seleção de fatos a serem narrados.
Percebe-se que não há diferença entre os fatos relatados, apenas o modo de ver ou o ponto de vista varia, escolhendo, cada um dos narradores, relatar aquilo que lhe parece mais relevante. Nos fatos mais importantes - manifestação de camelôs em virtude de uma conduta da prefeitura e o chamado da polícia para pôr fim ao tumulto -, os textos coincidem. No entanto, fatos diferentes, atendendo à necessidade de comprovação do ponto de vista apresentado por cada um dos redatores, foram selecionados, mostrando o objetivo acusatório ou defensivo, sem, entretanto, enunciar que cada um deles narra os fatos da forma que lhe interessa ou que ambos fujam à verdade. 
Perceba a escolha lexical opositiva, apresentada em ambos os textos: “dispersa x agride”; “apaziguar o tumulto x reprimir a manifestação”; “os camelôs feriram transeuntes x a polícia feriu camelôs”.
Constata-se, pois, que a seleção vocabular e a intencionalidade do narrador funcionam como elementos de persuasão e modificam a recepção do texto.
Leia mais estes outros exemplos: 
1º exemplo:
O comandante do policiamento de Belém, coronel PM Geraldo Magela, recuou e decidiu anteontem não cumprir a ordem judicial de despejo de 400 famílias sem-teto em Ananindeua, região metropolitana de Belém. Os cerca de mil sem-teto ocupam desde agosto uma área de 90 mil metros quadrados. Anteontem, os sem-teto se armaram com facões, paus e pedras e o coronel Magela ordenou a suspensão da operação. “Esperamos uma segunda ordem da Justiça”, disse Teodoro Nagano, gerente da empresa Agropel, que é proprietária da área.
“Cabia a mim avaliar a situação e preferi evitar o massacre”, disseMagela ao se reunir com a juíza Odete Silva e explicou os motivos do recuo. A juíza aguarda um relatório dos oficiais da Justiça.( Folha de São Paulo, 2006 )
2º exemplo:
	Um grupo de 40 famílias de sem-teto ocupou o plenário da Câmara de Campinas (99 Km de SP) entre 14h e 21 h de ontem após ser desalojado de uma área invadida em abril deste ano por cerca de 600 pessoas. Os sem teto permaneceram no plenário da Câmara e só concordaram em deixar o local após o juiz Jamil Miguel, da 5.a Vara Civil de Campinas, anular liminar para reintegração de posse expedida ontem. (Folha de São Paulo, 2008 )
Percebe-se, nos textos acima, como é significativa a escolha desta ou daquela palavra e como esta escolha constrói sentidos distintos. Sabemos que a questão da “escolha” é consciente, diz respeito a um sujeito intencional. Dizer invadir ou dizer ocupar traz, necessariamente, diferentes efeitos de sentido, pois estas palavras trazem consigo uma memória discursiva distinta. 
No exemplo 1, há a presença do discurso jurídico- militar e a situação é de confronto, pois o vocabulário da notícia é jurídico-militar também: os sem-teto estão em operação de guerra, armam-se, o coronel suspende a operação, recua, evita um massacre. O coronel tem nome, o proprietário da área também. Os sem-teto são anônimos, sem voz, e a notícia os silencia. 
Nota-se, portanto, as diferentes maneiras de funcionamento de uma prática discursiva que permite o apagamento de um sentido para os sem-teto, mas que, contraditoriamente, pela falta de sentido, mais possibilidades de sentido apresentam.
Também requer atenção o uso da palavra invadida no texto 2, pois diz-se invadir para não se dizer ocupar. Invadir é tomar à força; ocupar, no sentido jurídico, é o ato de apoderar-se legalmente, ter ou possuir por direito.
Dessa forma, os sentimentos contra ou a favor dos sem-teto vão se sedimentando; ressaltando, assim, como o funcionamento dos sentidos resulta da escolha lexical que corresponde ao ponto de vista do relator. 
Conclui-se, assim, que a seleção de fatos da narrativa deve ser feita de acordo com as intenções da argumentação daquele que a redige.
Leia agora a tirinha a seguir:
No primeiro quadro, Calvin, ao telefonar para Susie, pede-lhe que diga qual a tarefa de casa para a aula do dia seguinte. Esse pedido é apresentado por meio do modalizador “podia”. Na incerteza de que Susie lhe dará a resposta, ou para parecer mais persuasivo, o pedido é apresentado como uma possibilidade.
No quadrinho seguinte, a Susie, mediante a expressão modalizadora “tem certeza”, questiona o grau de certeza de Calvin, com relação a seu pedido, ou seja, questiona de Calvin a certeza de ser isso mesmo o que ele quer. 
Calvin responde a ela, perguntando-lhe por que outro motivo ligaria. No penúltimo quadrinho, por meio do modalizador “talvez” e do verbo no subjuntivo “tivesse”, Susie apresenta uma possibilidade para Calvin, como: ele estaria com saudades da voz da garota. A reação de Calvin, gritando, quebra, portanto, a expectativa de Susie, e a possibilidade que a menina apresenta: “Você está louca? Tudo que eu quero é a maldita lição.”
Susie, por sua vez, reage, no último quadrinho mediante este enunciado: “Primeiro diga que você está com saudade do som melodioso de minha voz”, em que aparece o verbo “dizer”, no imperativo, indicando obrigatoriedade. Em outras palavras, Susie impõe uma obrigatoriedade a Calvin, para fornecer-lhe o que foi pedido. O verbo dizer no imperativo funciona, portanto, como um modalizador de obrigatoriedade.
Observe-se que do primeiro ao último quadrinho o sentido do texto vai se construindo com o uso de elementos modalizadores. Os modalizadores vão tecendo, ao longo do texto, um caminho discursivo que começa na volição (1º quadro), passa pelo questionamento da certeza (2º grau) e pela apresentação de uma possibilidade (3º quadro), finalizando em uma ordem (4º quadro).
 É certo que outros elementos textuais precisam ser lidos nesse texto, mas a não observância dos elementos modalizadores, embora não prejudique a compreensão global do texto, impede que se aprofunde essa compreensão, a qual, se efetivada mediante o estudo auxiliar dos modalizadores, levaria a uma avaliação ou a uma reflexão crítica de um comportamento humano em relação à forma como a mulher (no caso Susie) se porta com relação ao homem (no caso Calvin).
Por essa razão, em um texto como esse, o aluno deve realizar leituras mais profundas, identificando os efeitos de sentido gerados pelos modalizadores, que certamente convergem para uma compreensão além texto. 
Leia agora o texto abaixo:
Pudim de pão com chocolate 
Ingredientes 
- 20 fatias de pão de forma sem casca e picadas 
- 120 ml de leite 
- 8 ovos 
- 1 xícara (chá) + 1/2 xícara (chá) de açúcar (340 g) 
- 2 xícaras (chá) de chocolate em pó (240 g) 
- 100 g de chocolate meio amargo cortado em quadradinhos 
CALDA DE CHOCOLATE 
- 1 xícara (chá) de açúcar (190 g) 
- 1 xícara (chá) de chocolate em pó (120 g) 
- 1 colher (sopa) de margarina 
- 1/2 xícara (chá) de leite 
Modo de Preparo 
1 - Num processador coloque 20 fatias de pão de forma sem casca e picadas e processe por 1 minuto. Acrescente 120 ml de leite, 8 ovos, 340 g de açúcar e 2 xícaras (chá) de chocolate em pó e bata bem até formar um creme. 
2 - Numa fôrma de pudim, untada com manteiga, coloque metade do creme e salpique 50 g de chocolate meio amargo picado. Coloque o restante do creme e a outra metade do chocolate picado. Leve ao forno pré-aquecido a 180 graus em banho-maria por +/- 45 minutos. 
CALDA DE CHOCOLATE 
Numa panela coloque 1 xícara (chá) de açúcar, 1 xícara (chá) de chocolate em pó, 1 colher (sopa) de margarina e 1/2 xícara (chá) de leite e leve ao fogo brando mexendo sempre até ferver (+/- 5 minutos). Retire do fogo e deixe esfriar. 
Disponível em http://receitas.maisvoce.globo.com/. Acesso em 16/9/2014.
 O texto acima é um exemplo de texto injuntivo, pois trata-se de receita culinária. É característica composicional desse tipo textual a existência de duas partes. Na primeira, como o próprio nome sugere, estão presentes os ingredientes necessários para que seja realizada a receita. Na segunda parte é descrito o modo de preparo da receita, que tem o objetivo de levar o cozinheiro a produzir o alimento com sucesso. 
 Como se observa nesse exemplo, essa descrição é comumente realizada de forma instrucional, ou seja, o locutor se vale de estratégias linguístico-discursivas para instruir o cozinheiro a conseguir realizar o preparo de forma adequada. No referido exemplo, a estratégia utilizada foi o uso de verbos no modo imperativo (coloque, acrescente, salpique, leve, retire, deixe). 
 O imperativo acima funciona como um modalizador de obrigatoriedade no sentido em que indica que o locutor tem de obrigatoriamente realizar as ações previstas pelo verbo, na ordem em que aparecem, para que o alimento seja preparado adequadamente. Ele é usado para dar instruções claras para o interlocutor a fim de que este atinja o objetivo esperado pelo locutor. 
 No quadrinho, Susie utiliza o modalizador de obrigatoriedade para dar uma ordem e, assim, chantagear Calvin, o que imprime uma leitura de obrigação. Já no caso da receita, os modalizadores utilizados devem ser lidos a partir das próprias características do gênero, isto é, sob a perspectiva da instrução.
CURIOSIDADE
 Em determinados tipos textuais, a presença desses elementos linguístico-discursivos é tão necessária que se torna difícil a produção do texto sem a sua utilização. É o caso dos chamados textos instrucionais (a exemplo dos manuais de instruções), em que a presença de modalizadores de obrigatoriedade determina de que maneira o leitor deve proceder para executar determinada tarefa.
Em síntese
 A partir da modalização da linguagem, observa-se como há diferentes formas para se trabalhar os processos de produção de sentidos nos diversos tipos de textos.
 Adquirira capacidade de ler e produzir enunciados em que esses elementos modalizadores aparecem, expressando diferentes efeitos de sentido, é uma das habilidades que o aluno precisa adquirir para ser competente linguisticamente. 
 Logo, se faz necessário estudar esses elementos não somente no processo de análise linguística, mas também no processo de leitura e produção textual. 
 Por fim, a modalização é indispensável para a construção de sentido em determinados tipos textuais e, em razão disso, o aluno tem que dar atenção a esse tema para que venha a ler e produzir textos com competência.
 
PARTE PRÁTICA
Questão 1
Observe os enunciados abaixo e faça o que se pede:
A – Com certeza Miguel estudou.
B – Talvez Miguel tenha estudado.
C - Felizmente Miguel estudou.
D - Praticamente Miguel estudou.
a) Em qual enunciado o locutor assume total responsabilidade pelo dito, assumindo como verdadeiro o conteúdo do enunciado?
b) Em qual enunciado considera o conteúdo como verdadeiro apenas em um único aspecto?
c) Em qual enunciado o locutor não pode ser responsabilizado pelo dito? Por quê?
d) Em qual enunciado o locutor emite uma avaliação pessoal, ou seja, um juízo de valor sobre o conteúdo do enunciado?
Resposta
 A atividade proposta na questão 01 tem o objetivo de fazer o aluno perceber que, embora veiculem o mesmo conteúdo (Carlos estudou), há nuances de sentido diferentes, que são obtidas por meio de diferentes elementos modalizadores (os elementos sublinhados). Cabe ao aluno não somente perceber essas nuances de sentido, mas também enxergar que esses efeitos ocorrem por meio da utilização de elementos modalizadores distintos. 
Questão 2
 Nos enunciados abaixo, aparece o verbo poder. Observe o funcionamento desse verbo, em cada enunciado, e responda ao que se pede.
A – O menino pode ter vindo da Itália.
B – Você pode entrar no clube.
C – Eu posso comer essa goiaba?
D – Vão não pode assistir a esse filme, porque você não tem 18 anos.
a) Qual enunciado expressa uma proibição?
b) Qual enunciado foi utilizado para pedir permissão?
c) Qual enunciado foi utilizado para dar permissão?
d) Em qual enunciado, o locutor apresenta uma possibilidade ou probabilidade (algo que pode ou não ser verdadeiro)? 
Resposta
 Espera-se que o aluno perceba que o verbo poder é utilizado para expressar diferentes efeitos de sentido, diferentes modalidades. O aluno deve tomar consciência de que um único elemento modalizador, em diferentes contextos discursivos, pode expressar sentidos diferentes.

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