Buscar

DIREITO CONSTITUCIONAL II resumo

Prévia do material em texto

DIREITO CONSTITUCIONAL II – CCJ0020 
Unidade I – Federalismo e Organização do Estado 
1. Noções preliminares 
Inicialmente, é necessário abordar conceitos que estão intrinsecamente ligados ao de 
federalismo e à organização do Estado, a fim de melhor compreendê-los. São eles: 
a) Território: é o limite espacial dentro do qual o Estado exerce de modo efetivo e 
exclusivo o poder de império sobre pessoas e bens. 
Hans Kelsen: o território é o âmbito de validez da ordenação jurídica chamada Estado. 
b) Estado: idéia de poder soberano, institucionalizado, que tem por fim específico e 
essencial a regulamentação global das relações sociais entre os membros de uma dada 
população sobre um dado território. Constitui-se de quatro elementos essenciais, 
conforme ensina José Afonso da Silva: um poder soberano de um povo situado num 
território com certas finalidades. A Constituição é o conjunto de normas que 
organizam estes elementos constitutivos do Estado. 
Uma coletividade territorial, pois, só adquire a qualificação de Estado, quando 
conquista sua capacidade de autodeterminação, com a independência em relação a 
outros Estados. Foi o que se deu com o Estado brasileiro, proclamado independente 
em 1822. 
c) País: O termo país manifesta a unidade geográfica, histórica, econômica e cultural das 
terras ocupadas pelos brasileiros. Trata-se de um conceito genérico referente a tudo 
aquilo que se encontra no território dominado por um Estado. 
d) Pátria: é o termo que exprime sentimentos cívicos, é a terra que se ama, é o local 
onde se sente bem. 
e) Nação: união de um povo, possuidor de um sentimento comum de pertencimento, 
compartilhando, muitas vezes, um conjunto mais ou menos definido de culturas, 
práticas sociais, idiomas, entre outros. Estados multinacionais (Espanha, por exemplo) 
e nações sem território (Curdos). 
f) Formas de Estado: o modo de exercício do poder político em função do território dá 
origem ao conceito de forma de Estado. Se existe unidade de poder sobre o território, 
pessoas e bens, tem-se o Estado unitário. Se, ao contrário, o poder se reparte, se 
divide, no espaço territorial (divisão espacial de poderes), gerando uma multiplicidade 
de organizações governamentais, distribuídas regionalmente, encontramo-nos diante 
de uma forma de Estado composto, denominado Estado federal ou Federação de 
Estados. 
A repartição regional de poderes autônomos constitui o cerne do conceito de Estado 
federal. Nisso é que ele se distingue da forma de Estado unitário (França, Chile, 
Uruguai, Paraguai e outros), que não possui senão um centro de poder que se estende 
por todo o território e sobre toda a população e controla todas as coletividades 
regionais e locais. É certo que o Estado unitário pode ser descentralizado e, 
geralmente, o é, mas essa descentralização, por ampla que seja, não é de tipo 
federativo, como nas federações, mas de tipo autárquico, gerando uma forma de 
autarquia territorial no máximo, e não uma autonomia político-constitucional, e nele 
as coletividades internas ficam na dependência do poder unitário, nacional e central. 
1. Origens históricas 
O federalismo tem as suas primeiras origens nos Estados Unidos. Surgiu como 
resposta à necessidade de um governo eficiente em vasto território, que, ao mesmo tempo, 
assegurasse os ideais republicanos que vingaram com a revolução de 1776. 
Para garantir a independência então conquistada, as antigas colônias britânicas 
firmaram um tratado de direito internacional, criando uma confederação, que tinha como 
objetivo básico preservar a soberania de cada antigo território colonial. 
Cada entidade componente da confederação retinha a sua soberania, o que 
enfraquecia o pacto. As deliberações dos Estados Unidos em Congresso nem sempre eram 
cumpridas, e havia dificuldades na obtenção de recursos financeiros e humanos para as 
atividades comuns. Além disso, a confederação não podia legislar para os cidadãos, dispondo, 
apenas, para os Estados. Com isso, não podia impor tributos, ficando na dependência da 
intermediação dos Estados confederados. As deliberações do Congresso, na prática, acabavam 
por ter a eficácia de meras recomendações. Não havia, tampouco, um tribunal supremo, que 
unificasse a interpretação do direito comum aos Estados ou que resolvesse juridicamente 
diferenças entre eles. 
A confederação estava debilitada e não atendia às necessidades de governo eficiente 
comum do vasto território recém-libertado. O propósito de aprimorar a união entre os Estados 
redundou na original fórmula federativa, inscrita pela Convenção de Filadélfia de 1787 na 
Constituição elaborada, conforme se vê do próprio preâmbulo da Carta, em que se lê: “nós, o 
povo dos Estados Unidos, a fim de formarmos uma União mais perfeita…”. 
Os antigos Estados soberanos confederados deixaram de ser soberanos, mas 
conservaram a sua autonomia, entregando a uma nova entidade, a União, poderes bastantes 
para exercer tarefas necessárias ao bem comum de todos os Estados reunidos. Passaram, por 
outro lado, a compor a vontade da União, por meio de representantes no Senado. 
O Brasil somente assumiu a forma de Estado federal, em 1889, com a proclamação 
da República, o que foi mantido nas constituições posteriores, embora o federalismo da 
Constituição de 1967 e de sua Emenda 1/69 tenha sido apenas nominal. A Constituição de 
1988 recebeu-a da evolução histórica do ordenamento jurídico. Ela não instituiu a federação. 
Manteve-a mediante a declaração, constante do artigo 1º, que configura o Brasil como uma 
República Federativa. 
2. Conceitos, características e classificação 
O Estado brasileiro, conforme se depreende da leitura do Preâmbulo e do caput dos 
artigos 1º e 18 da Constituição de 1988, adotou a forma federativa. 
Tecnicamente, o federalismo é uma divisão constitucional de poderes entre dois ou 
mais componentes dessa figura complexa que decorre da existência de um Estado, que possa 
apresentar formas de distribuição das tarefas políticas e administrativas. 
A federação, ou Estado federal, é caracterizada pela união de coletividades públicas 
dotadas de autonomia político-constitucional, autonomia federativa. 
Tais coletividades públicas possuem abrangência regional e são usualmente 
denominadas pela doutrina Estados federados, nomenclatura também utilizada pela 
Constituição em seu Capítulo III (artigo 25 e seguintes), Estados-membros ou simplesmente 
Estados. Nessa composição, às vezes, entram outros elementos, como os Territórios Federais 
e o Distrito Federal, e, no sistema brasileiro, é imprescindível destacar ainda a figura dos 
Municípios, incluídos na estrutura político-administrativa da Federação brasileira (arts. 1º e 
18). O cerne do conceito de Estado federal está na configuração de dois tipos de entidades: a 
União e as coletividades regionais autônomas (Estados federados). 
Estado federal é o todo, dotado de personalidade jurídica de Direito Público 
internacional. A União é a entidade federal formada pela reunião das partes componentes, 
constituindo pessoa jurídica de Direito Público interno, autônoma em relação aos Estados e a 
que cabe exercer as prerrogativas da soberania do Estado brasileiro. Os Estados-membros são 
entidades federativas componentes, dotadas de autonomia e também de personalidade jurídica 
de Direito Público interno. 
2.1. Características básicas do Estado Federal 
a) Soberania e autonomia 
A soberania, no federalismo, é atributo do Estado Federal como um todo. Os 
Estados-membros dispõem de outra característica - a autonomia. 
A autonomia importa, necessariamente, descentralização do poder. Essa 
descentralização é não apenas administrativa, como, também, política.. Os Estados podem não 
apenas podem, por suas próprias autoridades, executar leis, como é-lhes reconhecido elaborá-
las. Isso resulta em que se perceba no Estado Federal uma dúpliceesfera de poder normativo 
sobre um mesmo território e sobre as pessoas que nele se encontram, há a incidência de duas 
ordens legais: a da União e a do Estado-membro. 
A autonomia é uma prerrogativa de poder de ente político, própria do Estado federado, que se 
distingue da soberania do Estado, na medida em que não é poder independente. Entretanto, 
tem como prerrogativas básicas: 
• Auto organização: o Estado membro pode elaborar sua própria constituição e 
suas leis; 
• Autogoverno: dá ao povo do Estado membro o direito de escolher seus 
governantes, tanto no plano legislativo, como do executivo e do judiciário; 
• Autoadministração: permite ao Estado membro organizar e gerir sua máquina 
burocrática. 
A autonomia política dos Estados membros ganha mais notado relevo por abranger a 
capacidade de autoconstituição. Cada Estado federado tem o poder de se dotar de uma 
Constituição, por ele mesmo concebida, sujeita embora a certas diretrizes impostas pela 
Constituição Federal, já que o Estado membro não é soberano. 
É característico do Estado Federal que essa atribuição dos Estados membros de 
legislar não se resuma a uma mera concessão da União, traduzindo, antes, um direito que a 
União não pode, a seu talante, subtrair das entidades federadas; deve corresponder a um 
direito previsto na Constituição Federal. 
b) Existência de uma Constituição Federal 
A Constituição atua como fundamento de validade das ordens jurídicas parciais e 
central. Ela confere unidade à ordem jurídica do Estado Federal, com o propósito de traçar um 
compromisso entre as aspirações de cada região e os interesses das esferas locais em 
conjunto. A Federação gira em torno da Constituição Federal, que é o seu fundamento jurídico 
e instrumento regulador. 
O fato de os Estados membros se acharem unidos em função de uma Constituição 
Federal, e não de um tratado de direito internacional, designa fator diferenciador do Estado 
Federal com relação à confederação. 
Sustenta-se, ainda, que a Constituição Federal deve ser rígida e que o princípio 
federalismo deve ser cláusula pétrea, para prevenir que a União possa transformar a 
Federação em Estado Unitário. 
É a Constituição Federal que explicitará a repartição de competências entre a ordem central e 
as parciais. 
c) Repartição de competências prevista constitucionalmente 
Como no Estado Federal há mais de uma ordem jurídica incidente sobre um mesmo 
território e sobre as mesmas pessoas, impõe-se a adoção de mecanismo que favoreça a 
eficácia da ação estatal, evitando conflitos e desperdício de esforços e recursos. A repartição 
de competências entre as esferas do federalismo é o instrumento concebido para esse fim. 
A repartição de competências consiste na atribuição, pela Constituição Federal, a 
cada ordenamento de uma matéria que lhe seja própria. 
As Constituições prevêem ainda uma repartição de rendas, o que materializa a 
autonomia dos Estados federados e os habilita a desempenhar as suas competências. Para 
garantir a realidade da autonomia dos Estados - e o mesmo vale para o Distrito Federal e para 
os Municípios - Constituição regula, no capítulo sobre o sistema tributário nacional, a 
capacidade tributaria das pessoas políticas e descreve um modelo de repartição de receitas 
entre elas. Estados e Municípios também participam das receitas tributarias alheias por meio 
de fundos (artigo 159, I, da CF) e de participação direta no produto da arrecadação de outras 
pessoas políticas (arts. 157, 158 e 159, II, da CF). Dessa forma, propicia-se que Estados e 
Municípios com menor arrecadação possam, preservando sua autonomia, enfrentar as 
demandas sociais que superam as receitas obtidas por meio dos tributos de sua própria 
competência. Trata-se, também, de meio para permitir melhor equilíbrio socioeconômico 
regional (art. 3, III, da CF). Esse quadro demonstra o modelo de federalismo cooperativo 
existente no Brasil. 
d) Participação dos Estados membros na vontade federal 
Para que os Estados membros possam ter voz ativa na formação da vontade da União 
- vontade que se expressa sobretudo por meio das leis -, historicamente, foi concebido o 
Senado Federal, com representação paritária, em homenagem ao princípio da igualdade 
jurídica dos Estados membros. O igual número de representantes por Estado membro serve, 
também de contrapeso para o prestígio dos Estados mais populosos na Câmara dos 
Deputados. 
Observa-se, entretanto, um afastamento das câmaras altas dos Estados federais dessa 
primitiva intenção motivadora da sua criação. Na medida em que os partidos, que são 
nacionais, galvanizam os interesses políticos, passam a deixar em segundo plano, também, os 
interesses meramente regionais, em favor de uma orientação nacional sobretudo partidária. 
Os Estados membros participam da formação da vontade federal, da mesma forma, 
quando são admitidos a apresentar emendas à Constituição (artigo 60, I e III, da CF). 
e) Inexistência de direito de secessão 
Na medida em que os Estados membros não são soberanos, é comum impedir que os 
Estados se desliguem da União - no que o Estado federal se distingue da confederação. É 
frequente, nos textos constitucionais, a assertiva de ser indissolúvel o laço federativo (artigo 
1, da CF). 
f) Existência de uma corte nacional e a intervenção federal 
Uma vez que não há o direito de secessão na fórmula federativa, os conflitos que 
venham a existir entre os Estados membros ou entre qualquer deles com a União necessitam 
ser resolvidos para a manutenção da paz e da integridade do Estado como um todo. 
Assumindo feição jurídica, o conflito será levado ao deslinde de uma corte nacional, prevista 
na Constituição, com competência para isso. 
Falhando a solução judiciária ou não sendo o conflito de ordem jurídica meramente, 
o Estado Federal dispõe do instituto da intervenção federal, para se auto-reservar da 
desagregação, bem como para proteger a autoridade da Constituição Federal (artigo 34 e 
seguintes, da CF). 
A intervenção federal importa a suspensão temporária das normas constitucionais 
asseguradoras da autonomia da unidade atingida pela medida. 
Os doutrinadores alemães também a chamam de execução federal, uma vez que 
espelham uma coação federal, tendente a forçar as unidades federadas recalcitrantes a cumprir 
os seus deveres federais. 
2.2. Conceito abrangente de Estado Federal 
O Estado Federal expressa um modo de ser do Estado em que se divisa uma 
organização descentralizada, tanto administrativa quanto politicamente, erigida sobre uma 
repartição de competências entre o governo central e os locais, consagrada na Constituição 
Federal, em que os Estados federados participam das deliberações da União, sem dispor do 
direito de secessão. No Estado Federal, de regra, há uma Suprema Corte com jurisdição 
nacional e é previsto um mecanismo de intervenção federal, como procedimento assecuratório 
da unidade física e da identidade jurídica da Federação. 
2.3. Classificação 
a) Quanto às origens históricas: 
a.1) Agregação: Estados independentes deixam de lado sua soberania e agregam-se, 
dando origem a um novo Estado, do qual estes se tornam componentes, Estados 
federados. 
a.2) Desagregação: Ocorre quando determinado Estado unitário decide se descentralizar. 
É o caso do Brasil 
b) Quanto ao modo de repartição das competências: 
b.1) Dual: A separação de competências entre os entes federados é rígida. Tem como 
característica marcante a adoção de competências exclusivas ou privativas. 
A lógica de repartição de competências é uma lógica reciprocamente excludente: se foi 
dado a um, foi tirado do outro. 
Há um modelo de competências enumeradas para a União e residuais para os Estados. 
b.2) Cooperativo: É um modelo típico de constitucionalismo social. Aqui são utilizadas 
fundamentalmente as competências comuns e concorrentes.A lógica não é reciprocamente excludente. O objetivo é que haja a união de esforços entre 
os entes federativos para que haja a realização de atividades mais complexas. 
b.3) Misto ou híbrido: reúne características do federalismo dual e cooperativo 
c) Quanto à concentração do poder: 
c.1.) Centrípeto: A concentração de competências aponta para um modelo centralizador. 
c.2.) Centrífugo: uma opção pela distribuição mais ampla de poderes em favor dos 
Estados membros configura um modelo descentralizador. 
Obs.: podem ser utilizados também quanto às origens históricas - sinônimos de agregação 
e desagregação. 
c.3) De equilíbrio: dosagem contrabalançada de competências. 
d) Quanto a fatores culturais, sociais e linguísticos e à sistematização da repartição 
de competências 
d.1) Simétrico: No federalismo simétrico, se verifica a homogeneidade de cultura, língua 
e desenvolvimento. Busca a correção das diferenças regionais por meio de uma 
representação igualitária entre os entes federados. A idéia é a de que cada Estado 
mantenha o mesmo relacionamento para com a autoridade central, que haja divisão de 
poderes entre os entes federados, mas que o suporte das atividades do governo central 
seja igualmente distribuído. 
d.2) Assimétrico: ocorre nos Estados complexos, que convivem com uma diversidade 
linguistica e étnica, de especial complexidade histórica, como ocorre no Canadá, onde há 
a convivência de pessoas de cultura e idiomas diferentes. 
Obs.: no Brasil, assimetria quanto ao desenvolvimento regional e simetria quanto à 
sistematização. 
e) Quanto à estrutura do Estado 
e.1) Federalismo de primeiro grau: reconhecimento de apenas duas ordens de poder - 
central e regional. 
e.2) Federalismo de segundo grau: reconhecimento, além das ordens central e regional, 
de uma ordem local. 
f) Outras classificações 
f.1) Federalismo orgânico: o Estado federal é considerado um organismo, buscando a 
sustentação do todo em detrimento das partes. Esse modelo de federalismo é marcado por 
uma concepção centralizadora, em que os Estados membros são enfraquecidos pelo poder 
central, ideologia que inclusive serviu a objetivos ditatoriais de alguns Estados federais 
ao longo da história. 
f.2) Federalismo por integração: preponderância do governo central em relação aos 
demais entes federativos. Busca atenuar algumas características do modelo federativo 
clássico em nome da integração nacional. A doutrina costuma se referir a ele como um 
federalismo meramente formal, já que se aproxima mais de um Estado unitário 
descentralizado, em função da ampla dependência das unidades federativas em relação ao 
governo federal. 
3. Constitucionalismo e Novo Constitucionalismo Latinoamericano 
As Constituições latinoamericanas do século XXI constituem o ápice do 
desenvolvimento constitucionalista iniciado no século XVIII. 
No período pós II Guerra Mundial, deu-se início a uma forte agitação social que 
trouxe como consequência a positivação de valores nos textos e maior intervenção estatal. Tal 
movimento, denominado neoconstitucionalismo, fruto da teorização acadêmica de um 
movimento elitista, reproduziu os modelos constitucionais europeus e estadunidenses: 
estrutura clássica da divisão de poderes, constituição rígida e escrita e a positivação de 
direitos e valores. 
No início dos anos 80, a nova postura econômica dos países centrais, gerou uma 
reação latina ao modelo econômico imposto (neoliberalismo – Estado mínimo na economia), 
o que culminou com a criação de um novo movimento, denominado Novo Constitucionalismo 
Latinoamericano. 
Tal movimento, impulsionado por disputas sobre direitos dos imigrantes, dos 
indígenas e de outras minorias culturais, visa a questionar concepções de Estado-nação e 
monismo jurídico, respaldadas por políticas de homogeneização cultural e centralização 
político-jurídica. 
Novo Constitucionalismo latinoamericano 
- propõe maior integração das parcelas marginalizadas e maior presença do Estado na 
economia 
- Neoconstitucionalismo (teorização acadêmica, movimento elitista, soluções européias e 
estadunidenses) X Novo Constitucionalismo latinoamericano (fruto de demandas sociais, 
movimento em consolidação, soluções originais pensadas por latinos e para latinos, resgate do 
poder constituinte originário de fato) 
O Novo Constitucionalismo não rompe com o neoconstitucionalismo, uma vez que: 
- mantém a estrutura da divisão de poderes, Constituição rígida e escrita e a positivação de 
direitos e valores; 
- contudo, tem como máxima preocupação a legitimidade democrática da Constituição; 
- propõe um resgate e aprofundamento da dimensão política e democrática da Constituição, 
de modo a tornar o Estado acessível às parcelas da população tidas por excluídas do processo 
decisório; 
- rompe com o monismo jurídico através da criação de um Estado plurinacional; 
- O Novo Constitucionalismo fornece mecanismos institucionais para dar voz aos oprimidos 
(principalmente indígenas). 
Primeiros resultados: 
a) Colômbia (1991) 
b) Equador (1998) 
c) Venezuela (1999) 
Ápice: advento do Estado plurinacional: 
a) Equador (2006) 
b) Bolívia (2009) 
3.2.Características comuns a todos os processos constituintes citados acima 
a) Originalidade: inovações institucionais, soluções pensadas por latinos e para latinos; 
b) Prolixidade: textos longos – buscam dar respostas a grande parte das necessidades da 
população, bem como frear a atuação dos Congressos e das Cortes Supremas em dar 
interpretação em sentido contrário aos anseios da população; 
c) Complexidade: abordam temas complexos (questões econômicas e macroeconômicas, 
fiscais, tributárias e monetárias) – apesar de tratarem de temas de alta complexidade 
técnica, tentam utilizar linguagem simplista, acessível à população; 
d) Rigidez: Constituições rígidas que visam a impedir que os poderes constituídos 
disponham da capacidade de reformar a Constituição por eles mesmos. É necessário 
que haja consulta popular prévia. 
3.3.Análise do Constitucionalismo em Bolívia e Equador 
a) Bolívia: A Assembleia Constituinte deixou de ter sua representação oriunda dos 
movimentos sociais e dos povoso indígenas como se queria inicialmente, a qual 
passou a ter uma representação com origem em representantes eleitos. 
- ajuste final no Congresso: alteração de 144 artigos contra a vontade do movimento 
indígena e campesino. 
- até que ponto o texto original ficou enfraquecido? 
- plurinacionalidade: duas facetas: territorial e estrutura do Estado: 
Territorial: reconhecimento de direitos aos povos indígenas (terra e recursos naturais); 
Estrutura do Estado: participação efetiva nos poderes (co-governo). 
- idéia de que dar plena autonomia às regiões ricas em recursos naturais poderia 
incentivas a secessão (terrorismo da elite), o que culminou com a descentralização na 
forma tradicional, em departamentos e municípios. 
b) Equador: verificou-se uma forte intervenção, hiperpresidencialismo, do presidente 
Rafael Corrêa. 
- contudo, houve a manutenção do perfil nacional e redistributivo; 
- amplo e inovador rol de direitos: direitos econômicos, sociais e culturais – forte 
tutela do meio ambiente: meio ambiente como titular de direitos. 
4. Plurinacionalidade 
- fruto da evolução do Novo Constitucionalismo latinoamericano 
- a identidade pluralista busca questionar a herança colonial imposta pelos conquistadores, 
assim como o papel de subserviência imposto aos povos originários, o qual foi 
estabelecido por meio da expropriação de terras indígenas, exploração de seus recursos e 
de sua mão-de-obra, muitas vezes de forma escrava; 
- prática de inferiorização: desconsideração das identidades e particularidades dos povos 
indígenas, por meio da utilização do termo geral “indígena”; 
- imposição de um direito monista: lei geral paratodos; 
- O plurinacionalismo busca romper de vez com a herança colonial e aprofundar o espírito 
descolonizador. 
- O Constitucionalismo pluralista, iniciado na década de 80, é composto por 3 ciclos com 
características próprias: 
a) Constitucionalismo multicultural (anos 80): institucionaliza o conceito de diversidade 
cultural da sociedade, acompanhado do reconhecimento de direitos individuais e 
coletivos, incluindo aí direitos indígenas específicos. É o caso da CF/88 – v. art. 231 e 
§1º. 
b) Constitucionalismo pluricultural (anos 90): assegura a oficialização de idiomas 
próprios, acesso a terras, a consultas quanto à tomada de decisões que afetem os povos 
indígenas e reconhecimento de autoridades indígenas, seu direito costumeiro e sistemas 
de justiça peculiare. 
c) Constitucionalismo plurinacional (Equador e Bolívia): refundação do Estado, para 
inclusão das nações originárias indígenas como sujeitos com direito à 
autodeterminação. Ex.: arts. 2º e 30 da Constituição boliviana, os quais reconhecem o 
exercício de sistemas jurídicos, políticos e econômicos próprios, bem como a 
incorporação das instituições indígenas na estrutura do Estado, superando-se, pois, o 
monismo jurídico. 
5. Possibilidades de criação de um Estado Federal latino americano 
- Boaventura de Souza Santos defende a idéia de um “Estado Experimental latinoamericano”: 
em uma lógica experimental, deve-se manter o mínimo (divisão dos poderes, texto escrito e 
todo o escopo racional-normativo), pois isto permitiria a continuidade do Estado, caso as 
inovações não sejam interessantes ou não funcionem como se imaginou. 
- verifica-se a necessidade de conferir autonomia política, pois esta seria essencial, para que a 
estrutura plurinacional possa funcionar sem ser sufocada pelas tendências de centralização 
que um governo unitário emana. 
- O Estado Federal seria, então, o próximo passo a ser dado nos Estados plurinacionais, a 
título de refinamento institucional e para melhor exprimir a refundação traçada pelo Poder 
Constituinte originário. 
6. Entes da Federação Brasileira 
- Artigo 18, da CF: adoção da Federação como forma de Estado 
- Artigo 1, da CF: princípio da indissolubilidade do pacto federativo 
- Artigo 18, parágrafo 1, da CF: Brasília é a capital federal: não é sede de Município, é sede 
do Governo Federal, função de servir como sede da União e capital federal, bem como sede 
do Distrito Federal. 
6.1. União 
- representa a aliança indissolúvel do Estados entre si. É quem age em nome da Federação e 
quem exerce o poder soberano dos Estados. 
- Edita leis que alcançam todos os habitantes do território nacional, bem como sobre os 
servidores públicos federais e seu aparelho administrativo. 
- Possui bens próprios (art. 20, da CF): 
Decreto-Lei n. 9.760, de 05 de setembro de 1946, que dispõe sobre os bens imóveis da União 
Art. 2º São terrenos de marinha, em uma profundidade de 33 (trinta e três) metros, medidos 
horizontalmente, para a parte da terra, da posição da linha do preamar-médio de 1831: 
a) os situados no continente, na costa marítima e nas margens dos rios e lagoas, até onde se 
faça sentir a influência das marés; 
b) os que contornam as ilhas situadas em zona onde se faça sentir a influência das marés. 
Parágrafo único. Para os efeitos dêste artigo a influência das marés é caracterizada pela 
oscilação periódica de 5 (cinco) centímetros pelo menos, do nível das águas, que ocorra em 
qualquer época do ano. 
Art. 5º São devolutas, na faixa da fronteira, nos Territórios Federais e no Distrito Federal, as 
terras que, não sendo próprios nem aplicadas a algum uso público federal, estadual territorial 
ou municipal, não se incorporaram ao domínio privado 
- Faculdade de criação de regiões (artigo 43, da CF) - Superintendência do Desenvolvimento 
da Amazônia - SUDAM e Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE 
6.2. Estados-membros 
- artigo 25, da CF 
- Possuem governo e bens próprios (artigo 26, da CF) 
- Desempenham as funções dos 3 Poderes estatais - Executivo, Legislativo e Judiciário 
- Autonomia político-administrativa importa em auto-organização, através de Constituições 
estaduais, as quais tiveram de ser aprovadas até um ano após a promulgação da CF (artigo 
25, da CF e artigo 11, do ADCT) 
- Poder constituinte derivado decorrente 
- Não se trata de poder ilimitado - deve se pautar nos princípios previstos no artigo 34, VII, 
da CF. 
- Os governadores são as autoridades máximas dos Estado-membros e a Assembléia 
Legislativa é a sede do Poder Legislativo - a CF define regras para as eleições, 
funcionamento e remuneração (artigos 27 e 28, da CF). - Lei Complementar 78/93 - Câmara 
dos Deputados - máximo de 513 deputados federais, mínimo de 8 e máximo de 70 por 
Estado - cálculos realizados pelo IBGE. 
- A Constituição estadual define as competências as competências da Justiça Estadual (artigo 
125, parágrafo 1, da CF). 
- Regiões metropolitanas (artigo 25, parágrafo 3, da CF) 
Os Estados-membros podem criar regiões metropolitanas e microrregiões, por meio de lei 
complementar, considerando a viabilidade ou maior eficácia de serviços públicos. 
Comunhão de entre Municípios limítrofes de interesses socioeconômicos comuns. 
a participação dos Municípios é compulsória, não dependendo de manifestação de vontade ou 
de consulta prévia. Ex. STF - microrregião do Lagos e região metropolitana do Rio de 
Janeiro. 
O interesse comum diz respeito a a funções e serviços de interesse supramunicipal, os quais, 
normalmente possuem alto custo (saneamento básico, transporte etc.) 
A realização desses serviços de interesse comum também pode ser feita de forma voluntária, 
por meio de consórcios, convênios e gestão associada (artigo 241, da CF). 
6.3. Municípios 
- entes federativos a partir da CF/88 - dotados de autonomia, possuem Executivo e 
Legislativo próprios e a capacidade de auto-organização, por meio de Lei Orgânica (artigo 
29, da CF). 
- Teses em contrário (José Afonso da Silva): ausência de participação na formação da vontade 
federal (representação no Senado Federal); não possuem Poder Judiciário; e o STF não 
possui a competência de processar e julgar originariamente causas em que figurem 
Municípios contra outros entes federativos (artigo 102, I, ‘f’, da CF) 
- Vereadores possuem imunidade material (artigo 29, VIII) 
- Responsabilidade criminal e política dos Prefeitos (artigo 29, X, da CF, e Decreto-Lei n. 
201/67) 
Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do 
Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores: 
Art. 4º São infrações político-administrativas dos Prefeitos Municipais sujeitas ao julgamento 
pela Câmara dos Vereadores e sancionadas com a cassação do mandato: 
6.4. Distrito Federal 
- sede da União 
- Apresenta características dos Estados-membros e dos Municípios (artigo 32, parágrafo 1, da 
CF) 
- Não organiza ou mantém o Judiciário ou Ministério Público, polícias civil e militar e corpo 
de bombeiros (artigo 32, parágrafo 4, da CF) - todos são organizados pela União, a quem 
cabe legislar sobre a matéria (artigos 21, XIII e XIV, e 22, XVII, da CF) 
- Possui autonomia e capacidade auto-organização, através de Lei Orgânica 
- Poder Executivo representado por um Governador 
- Poder Legislativo - Câmara Legislativa do DF, composta por deputados distritais. 
- Possui representantes no Senado (artigo 46, parágrafo 1, da CF) 
6.5. Territórios 
- Descentralizações administrativas da União - não possuem autonomia (artigo 33, da CF) 
- A Constituição Federal extinguiu todos os territórios até então existentes (artigos 14 e 15, 
do ADCT) 
- Podem ser criados por lei complementar federal (artigo 18, parágrafo segundo, da CF) 
- Governadores nomeados pelo Presidente da República , medianteaprovação do Senado 
(artigo 84, XIV, da CF) 
6.6. Vedações constitucionais de natureza federativa 
- previstas no artigo 19, da CF 
- Servem para manter o equilíbrio federativo e se referem à natureza laica do Estado, 
liberdade religiosa e de culto, credibilidade de documentos públicos emitidos por outros 
entes federativos e ao princípio da igualdade, em razão da nacionalidade (artigo 5, XLI, da 
CF) 
6.7. Novos Estados, Territórios e Municípios 
- Estados e territórios - artigo18, parágrafo terceiro, da CF 
- Municípios - artigo 18, parágrafo quarto, da CF 
- Procedimento previsto na Lei 9.709/98 
Art. 4o A incorporação de Estados entre si, subdivisão ou desmembramento para se anexarem 
a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, dependem da aprovação da 
população diretamente interessada, por meio de plebiscito realizado na mesma data e horário 
em cada um dos Estados, e do Congresso Nacional, por lei complementar, ouvidas as 
respectivas Assembléias Legislativas. 
§ 1o Proclamado o resultado da consulta plebiscitária, sendo favorável à alteração territorial 
prevista no caput, o projeto de lei complementar respectivo será proposto perante qualquer 
das Casas do Congresso Nacional. 
§ 2o À Casa perante a qual tenha sido apresentado o projeto de lei complementar referido no 
parágrafo anterior compete proceder à audiência das respectivas Assembléias Legislativas. 
§ 3o Na oportunidade prevista no parágrafo anterior, as respectivas Assembléias Legislativas 
opinarão, sem caráter vinculativo, sobre a matéria, e fornecerão ao Congresso Nacional os 
detalhamentos técnicos concernentes aos aspectos administrativos, financeiros, sociais e 
econômicos da área geopolítica afetada. 
§ 4o O Congresso Nacional, ao aprovar a lei complementar, tomará em conta as informações 
técnicas a que se refere o parágrafo anterior. 
Art. 5o O plebiscito destinado à criação, à incorporação, à fusão e ao desmembramento de 
Municípios, será convocado pela Assembléia Legislativa, de conformidade com a legislação 
federal e estadual. 
- Cabe ao Congresso Nacional com a sanção do Presidente da República dispor sobre a 
incorporação, subdivisão ou desmembramento de áreas de territórios ou Estados, ouvidas as 
respectivas assembléias legislativas (art. 48, VI da CF). O parecer das Assembléias 
Legislativas não é vinculativo. 
a) Incorporação ou fusão: dois ou mais entes federativos se unem para formarem um 
novo 
b) Subdivisão ou cisão: um ente se separa, formando dois ou mais 
c) Desmembramento: Um Estado já existente, cede parte de seu território para formação 
de um novo ou para acrescer um outro Estado, também já existente. 
7. Repartição de competências 
- José Afonso da Silva define competência como “a faculdade juridicamente atribuída a uma 
entidade ou a um órgão ou agente do Poder Público para emitir decisões. Competências 
são as diversas modalidades de poder de que se servem os órgãos ou entidades estatais 
para realizar suas funções”. 
- Princípio da predominância ou da preponderância do interesse: princípio norteador da 
repartição de competências 
- Sistema de repartição horizontal e vertical de competências 
7.1. Classificação das competências 
A) Quanto à natureza: 
- Materiais ou administrativas: dizem respeito a ações administrativas. Podem ser exclusivas 
(artigo 21) ou comuns, também chamadas de cumulativas ou paralelas (artigo 23) 
- Legislativas: referem-se à capacidade de edição de normas jurídicas. Podem ser privativas 
(artigo 22), concorrentes (artigo 24) ou suplementares (artigo 24, parágrafo segundo) 
B) Quanto à forma: 
- Enumeradas ou expressas: atribuições expressas no texto constitucional. A União e os 
Municípios possuem competências específicas, dispostas na CF. 
- Remanescentes ou residuais: aos Estados-membros foram atribuídos os poderes reservados 
e não vedados pela CF (artigo 25, parágrafo primeiro). Em matéria tributária, é a União que 
detém competência residual, sendo permitida a instituição de outros tributos, além dos 
enumerados para ela e para as outras pessoas políticas (artigo 154, I). 
- Implícitas, resultantes, inerentes ou decorrentes: decorrem da própria natureza do ente 
federativo, se referem à prática de atos ou atividades necessárias ao exercício das 
competências expressas. 
C) Quanto à extensão: 
- Exclusivas: competências atribuídas a uma entidade, com exclusão das demais (artigo 21) 
- Privativas: atribuídas a uma única entidade federativa, com possibilidade de delegação 
(artigo 22 e parágrafo único) 
- Comuns, cumulativas ou paralelas: atribuídas a todas as entidades federativas, sem 
hierarquia estabelecida (artigo 23) 
- Concorrentes: atribuídas à União, aos Estados e ao DF. A União edita normas gerais, 
enquanto os Estados e o DF editam normas específicas (artigo 24). 
- Suplementares: atribuídas aos Estados e ao DF, para editar normas específicas, no caso das 
competências legislativas concorrentes (artigo 24, parágrafo segundo) 
Obs.: Na ausência de normas gerais em matéria de competência legislativa concorrente, os 
Estados e o DF poderão suprir tal lacuna, editando normas gerais e específicas (artigo 24, 
parágrafo terceiro). Trata-se da chamada competência supletiva. 
D) Quanto à origem: 
- Originárias: competências atribuídas, originariamente, a determinada entidade federativa 
pela CF. 
- Delegadas: atribuições transferidas de uma entidade federativa a outra, mediante legislação 
complementar (artigos 22, parágrafo único, e 23, parágrafo único) 
7.2. Repartição em matéria administrativa 
7.2.1. Competências administrativas da União 
- Competência geral: temas que envolvem o exercício dos poderes de soberano (artigo 21) 
- O artigo 21 não esgota o rol das competências materiais exclusivas da União, como se 
depreende do texto do artigo 177. 
- Competências comuns a todos os entes federativos (artigo 23) 
7.2.2. Competências administrativas dos Estados-membros 
- Competência residual (artigo 25, parágrafo primeiro) 
- Exploração direta, ou mediante concessão, dos serviços locais de gás canalizado (artigo 25, 
parágrafo segundo) 
- Competências comuns a todos os entes federativos (artigo 23) 
7.2.3. Competências administrativas dos Municípios 
- Competências comuns a todos os entes federativos (artigo 23) 
- Competências previstas no artigo 30, incisos III e seguintes. 
- Criação de guardas municipais (artigo 144, parágrafo oitavo) 
- Definir o horário de funcionamento das farmácias e do comércio em geral (Súmula 645, do 
STF) 
7.2.4. Competências administrativas do Distrito Federal 
- Competências comuns a todos os entes federativos (artigo 23) 
7.3. Repartição em matéria legislativa 
7.3.1. Competência legislativa da União 
- Privativa (artigo 22) 
- Edição de normas gerais em matéria de legislação concorrente (artigo 24) 
- As previstas no artigo 48 
- As leis integradoras da eficácia de certos dispositivos constitucionais, a exemplo de alguns 
direitos e garantias fundamentais (artigo 5, VIII e XII), bem como as leis que organizam a 
seguridade social (artigo 194, parágrafo único) e que viabilizam o desempenho da 
competência material exclusiva da União. 
- Matéria tributária (artigo 153 e 154) 
7.3.2. Competências legislativas dos Estados-membros 
- Suplementar: edição de normas específicas em matéria de legislação concorrente (artigo 24, 
parágrafo segundo) 
- Supletiva (artigo 24, parágrafo terceiro) 
- Remanescente ou residual (artigo 25, parágrafo primeiro) 
- Instituição de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões (artigo 25, 
parágrafo terceiro) 
- Matéria tributária (artigo 155) 
7.3.3. Competências legislativas dos Municípios 
- Legislar sobre assuntos de interesse local (artigo 30, I) 
- Suplementar (artigo 30, II) 
- Matéria tributária (artigos 30, III, e 156) 
7.3.4.Competências legislativas do Distrito Federal 
- Competências atribuídas aos Estados e Municípios (artigo 32, parágrafo primeiro)\ 
- Matéria tributária (artigo 155) 
8. Intervenção 
8.1. Parte geral 
- A despeito das experiências autoritárias (Era Vargas e ditadura militar), a intervenção foi 
concebida como um instituto jurídico-constitucional que visa a conter situações de grave 
anormalidade e exceção 
- Mecanismo destinado a salvaguardar o todo contra a desagregação. 
- Em caso de intervenção federal, a União assume, por delegado seu, temporária e 
excepcionalmente, o desempenho de competência pertencente a Estado-Membro ou ao 
Distrito Federal. 
- Invasão da esfera de competências pertencente e reservada aos Estados-membros e ao 
Distrito Federal, para assegurar o grau de unidade e de uniformidade indispensável à 
sobrevivência da Federação. 
- Humberto Peña de Moraes: “instituto típico da estrutura do Estado Federal, repousa a 
intervenção no afastamento temporário da atuação autônoma da entidade federativa sobre 
a qual a mesma se projeta”. 
- Instituto presente em nosso ordenamento jurídico desde a Constituição de 1891 
- Conhecido como guarantee clause, no direito estadunidense, e como execução federal, no 
direito germânico. 
- Somente a União pode intervir nos Estados 
- Nos Municípios, eventualmente são os Estados que podem intervir. O Distrito Federal, por 
não poder se subdividir em Municípios, não possui competência para intervir. (artigo 35) 
- A União poderá intervir nos Municípios situados nos Territórios (artigo 35) 
- Rol taxativo. Hipóteses devem ser interpretadas de forma restritiva. 
8.2. Intervenção federal 
8.2.1. Quadro geral 
- A decretação e a execução da intervenção federal são de competência privativa do 
Presidente da República (artigo 84, X), através de decreto presidencial de intervenção, que 
especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução, e, quando couber, nomeará o 
interventor. 
- Dá-se de forma expontânea (ex officio) ou provocada 
- Previsão de oitiva do Conselho da República (artigo 90, I), o qual é regido pela Lei n. 
8.041/90, e do Conselho de Defesa Nacional (artigo 91, §1º, II), regido pela Lei n. 8.183/91. 
- Os pareceres emitidos pelos referidos conselhos não vinculam a atuação do Chefe do Poder 
Executivo 
- O Congresso Nacional realizará controle político sobre o decreto de intervenção expedido 
pelo Executivo no prazo de 24 horas (artigo 36, §1º) 
- Em caso de recesso parlamentar, o Congresso Nacional deverá ser convocado no mesmo 
prazo de 24 horas (artigo 36, §2º)
- Caberá ao Congresso Nacional aprovar ou rejeitar a medida, suspendendo a execução do 
decreto interventivo, por meio de decreto legislativo (artigo 49, IV) 
- Em caso de rejeição pelo Congresso Nacional do decreto interventivo, o Presidente da 
República deverá cessá-lo imediatamente, sob pena de cometer crime de responsabilidade, 
passando o ato a ser inconstitucional (artigo 85, II) 
- Cessados os motivos da intervenção, as autoridades porventura afastadas de seus cargos a 
estes retornarão, salvo impedimento legal (artigo 36, §4º) 
8.2.2. Hipóteses de intervenção federal 
- espontânea: o Presidente da República age de ofício (artigo 34, I, II, III e V) 
- provocada por solicitação: quando coação ou impedimento recaírem sobre o Poder 
Legislativo ou o Poder Executivo, impedindo o livre exercício dos aludidos Poderes nas 
unidades da Federação, a decretação da intervenção federal, dependerá de solicitação do 
Poder Legislativo ou Executivo coacto ou impedido (artigo 34, IV c/c artigo 36, I) 
- provocada por requisição: 
a) do Supremo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário 
(artigo 34, IV c/c artigo 36, I) 
b) do STF, do STJ ou do TSE, de acordo com a matéria, no caso de desobediência a 
ordem ou decisão judicial (artigo 34, VI c/c artigo 36, II) - Ex.: não pagamento de 
precatórios - vem sendo frustrado pela jurisprudência do STF, tendo em vista a 
definição da necessidade de se tratar de descumprimento voluntários intencional, além 
da existência de recursos financeiros. 
- provocada, dependendo de provimento de representação 
a) no caso de ofensa aos princípios constitucionais sensíveis (artigo 34, VII), a 
intervenção federal dependerá de provimento, pelo STF, de representação do 
Procurador-Geral da República (artigo 34, VII c/c artigo 36, III) 
b) para prover a execução de lei federal, a intervenção também dependerá de provimento 
de representação do Procurador-Geral da República pelo STF (artigo 34, VI c/c 36, 
III) 
Obs.: Em caso de solicitação pelo Executivo ou pelo Legislativo, o Presidente agirá com 
discricionariedade, com base em conveniência e oportunidade. 
Obs. 2: Em caso de requisição do Judiciário, não sendo o caso de suspensão do ato 
impugnado, o Presidente da República estará vinculado a decretar a intervenção, sob pena de 
responsabilização (artigo 36, §3º) 
Obs. 3: O controle político pelo Congresso Nacional é dispensado, quando o decreto 
suspender a eficácia do ato impugnado e isto bastar ao restabelecimento da normalidade. 
(artigo 34, VI e VII c/c artigo 36, §3º). 
8.3. Intervenção estadual e intervenção federal nos Municípios localizados nos 
Territórios 
- Rol taxativo previsto no artigo 35 
- A decretação e a execução são de competência privativa do Governador do Estado, por 
meio de decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições da 
intervenção e, quando couber, nomeará o interventor. 
- Controle político pela Assembléia Legislativa e pela Câmara Territorial, no prazo de 24 
horas. Na hipótese de não estar funcionando, ocorrerá a convocação extraordinária, também 
no prazo de 24 horas. 
- Dispensado o controle político pela Assembléia Legislativa e pela Câmara Territorial, 
quando a suspensão do ato impugnado bastar ao restabelecimento da normalidade, no caso 
do artigo 35, IV (c/c artigo 36, §3º)
- Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus cargos retornarão a 
estes, salvo impedimento legal (artigo 36, §4º) 
9. A defesa do Estado e das instituições democráticas: o Estado de Defesa e o Estado de 
Sítio 
9.1. Sistema constitucional das crises 
- A ordem constitucional deve ser caracterizada pelo equilíbrio, o que consiste na distribuição 
igualitária do poder, de modo que nenhum grupo possa dominar os demais. 
- A disputa entre grupos somente é tolerável, se realizada em conformidade com os ditames 
constitucionais. 
- Fora dos parâmetros definidos pela Carta Magna, as competições pelo poder geram uma 
situação de crise, que poderá assumir as características de uma crise constitucional, e, esta, 
se não for bem administrada, poderá ensejar o rompimento do equilíbrio constitucional e 
pôr em risco as instituições democráticas. 
- Quando uma situação deste tipo se instaura, ocorre a manifestação da função do 
denominado sistema constitucional das crises. 
- Aricê Moacyr Amaral Santos define o sistema constitucional das crises como: “o conjunto 
ordenado de normas constitucionais, que, informadas pelos princípios da necessidade e da 
temporariedade, tem por objeto as situações de crises e por finalidade a mantença ou o 
restabelecimento da normalidade constitucional”. 
- São normas que visam a estabilização e a defesa da Constituição contra processos violentos 
de mudança ou perturbação da ordem constitucional, mas também a defesa do Estado 
quando a situação crítica derive de guerra externa. 
- A legalidade normal é substituída por uma legalidade extraordinária, que define e rege o 
estado de exceção. 
- Princípios do sistema constitucional das crises: princípio da necessidade e princípio da 
temporariedade. 
- Sem atenção ao princípio da necessidade, a medida constituirá golpe de estado, arbítrio; 
enquanto que a não observânciado princípio da temporariedade, importará a caracterização 
de uma ditadura. 
- No âmbito do sistema constitucional das crises, a CF/88 prevê dois tipos de estados de 
exceção: o Estado de Defesa e o Estado de Sítio. 
- Características dos estados de exceção: 
a) excepcionalidade 
b) taxatividade 
c) temporariedade (transitoriedade) 
d) determinação geográfica 
e) sujeição a controles 
f) publicidade (exigência da comunidade internacional contida no Pacto Internacional de 
Direitos Civis e Políticos de 1966) 
g) regramento constitucional 
h) proporcionalidade 
9.2. Tipos de estados de exceção 
9.2.1. Estado de Defesa 
- correspondente às medidas de emergência presentes na Constituição de 1967, a partir da EC 
n. 11/78. 
9.2.1.1. Limites materiais (hipóteses de decretação) 
- Rol taxativo previsto no artigo 136 
9.2.1.2. Limites formais (procedimento) 
- O Presidente da República, mediante decreto, pode, ouvidos o Conselho da República e o 
Conselho de Defesa Nacional, decretar o Estado de Defesa (artigo 84, IX, c/c artigo 136) 
- Os pareceres emitidos pelo Conselho da República e pelo Conselho de Defesa Nacional não 
possuem caráter vinculativo 
- O decreto deverá determinar (artigo 136, §1º): 
a) o tempo de duração da medida, o qual será de, no máximo, 30 dias, podendo ser 
prorrogado uma vez, por igual período (artigo 136, §2º) 
b) a área a ser abrangida (locais restritos e determinados) 
c) as medidas coercitivas: c.1) restrição aos direitos de reunião, ainda que exercida no 
seio de associações; sigilo de correspondência; sigilo de comunicação telegráfica e 
telefônica; e à garantia prevista no artigo 5º, LXI, ou seja, prisão somente em flagrante 
delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judicial competente; c.2) 
ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade 
pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes. 
- Prisão por crime contra o Estado (artigo 136, §3º): como exceção ao artigo 5º, LXI, a prisão 
poderá ser determinada pelo executor da medida. O juiz competente, imediatamente 
comunicado, poderá relaxá-la. Tal comunicação deverá vir acompanhada do estado físico e 
mental do detido, no momento de sua autuação. Referida ordem de prisão não poderá ser 
superior a 10 dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário, sendo facultado ao preso 
requerer o exame de corpo de delito à autoridade policial. Ressalte-se que a 
incomunicabilidade do preso é vedada. 
9.2.1.3. Controles 
• Político (Congresso Nacional) 
- imediato (artigo 136, §§ 4º a 7º) 
- concomitante (artigo 140) 
- sucessivo ou a posteriori (artigo 141, parágrafo único) 
• Jurisdicional 
- imediato:parte da doutrina sustenta a possibilidade de controle judicial do ato político da 
decretação nas hipóteses de abuso de direito ou desvio de finalidade, devendo o controle ser 
feito cum grano salis, ou seja, com parcimônia e em situações excepcionais. 
- concomitante: em relação às prisões (artigo 136, §3º) e repressão de abusos e ilegalidades 
cometidos durante o estado de crise constitucional, por meio, por exemplo, do mandado de 
segurança, do habeas corpus ou de qualquer outra medida jurisdicional cabível, tudo em 
virtude do princípio da inafastabilidade da tutela jurisdicional (artigo 5º, XXXV), 
observados os limites constitucionais das permitidas restrições a direitos. 
- sucessivo ou a posteriori: artigo 141, caput. 
9.2.2. Estado de Sítio 
- presente no ordenamento jurídico brasileiro desde a promulgação da Constituição de 1824 
- recebeu tal denominação a partir da Constituição de 1891 
- instituto originário do direito francês 
- no sistema de Common Law, seu correspondente é a lei marcial, que consiste em um aviso 
de que a força militar será empregada para a manutenção da ordem. Contudo, não enseja 
qualquer alteração da ordem legal. 
- Na Roma antiga, era prevista a suspensão da Constituição. Tal medida foi imitada pela 
Constituição francesa de 1799, a chilena de 1833 e a brasileira de 1937, para o caso de 
guerra. 
9.2.2.1. Limites materiais (hipóteses de decretação) 
- Rol taxativo previsto no artigo 137 
9.2.2.2. Limites formais (procedimento) 
- O Estado de Sítio pode, ouvidos os Conselhos da República e de Defesa Nacional, solicitar 
ao Congresso Nacional autorização para decretar o Estado de Sítio. (artigo 137 c/c artigo 
84, IX). 
- Os pareceres emitidos pelos Conselhos não são vinculativos. 
- O Presidente da República, ao solicitar autorização ao Parlamento, deverá relatar os 
motivos determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacional decidir por maioria 
absoluta, mediante decreto legislativo (artigo 137, parágrafo único c/c artigo 49, IV). 
- Se o controle político prévio for negativo, terá caráter vinculante, e o Presidente da 
República não poderá decretar o Estado de Sítio, sob pena de responsabilidade. 
- Caso a medida seja autorizada pelo Congresso Nacional, o Presidente poderá ou não 
decretar o Estado de Sítio. 
- O decreto deverá determinar o previsto no artigo 138. 
- O decreto não precisará abranger a totalidade do território nacional. 
- No caso de comoção grave de repercussão nacional ou da ineficácia das medidas tomadas 
durante o Estado de Defesa (artigo 137, I), a duração do Estado de Sítio não poderá ser 
superior a 30 dias, podendo ser prorrogada, sucessivamente, enquanto perdurar a situação 
de anormalidade, sendo que cada prorrogação também não poderá ser superior a 30 dias. 
- No caso de declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira (artigo 
137, II), o Estado de Sítio vigorará enquanto perdurar a guerra ou a agressão armada 
estrangeira. 
9.2.2.3. Medidas coercitivas 
- Na hipótese do artigo 137, I, somente poderão ser adotadas as medidas coercitivas previstas 
no artigo 139. 
- No caso do artigo 137, II, observado todo o procedimento previsto nos artigos 137 e 138, 
bem como os princípios da necessidade e da temporariedade, em tese, qualquer garantia 
constitucional poderá ser suspensa. 
9.2.2.4. Controles 
• Político (Congresso Nacional) 
- prévio (artigo 137 e parágrafo único) 
- concomitante (artigo 140) 
- sucessivo ou a posteriori (artigo 141, parágrafo único) 
• Jurisdicional 
- imediato:parte da doutrina sustenta a possibilidade de controle judicial do ato político da 
decretação nas hipóteses de abuso de direito ou desvio de finalidade, devendo o controle ser 
feito cum grano salis, ou seja, com parcimônia e em situações excepcionais. 
- concomitante: em relação à repressão de abusos e ilegalidades cometidos durante o estado 
de crise constitucional, por meio, por exemplo, do mandado de segurança, do habeas corpus 
ou de qualquer outra medida jurisdicional cabível, tudo em virtude do princípio da 
inafastabilidade da tutela jurisdicional (artigo 5º, XXXV), observados os limites 
constitucionais das permitidas restrições a direitos. 
- sucessivo ou a posteriori: artigo 141, caput. 
10. Das Forças Armadas 
10.1. Componentes das Forças Armadas 
 
 
 
 
- De acordo com o artigo 142 da Carta Magna, as Forças Armadas são constituídas pela 
Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica. Cada um dos três Comandos Militares 
desempenha funções específicas na defesa da integridade territorial e dos interesses da 
nação. 
- São instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na 
disciplina. 
- José Afonso da Silva afirma que, pelo fato de a Constituição lhes declarar como instituições 
permanentes e regulares, vincula-as à própria vida do Estado. Sendo assim, as Forças 
Armadas não poderão ser dissolvidas, salvo por decisão de uma Assembléia Nacional 
Constituinte. E, sendo regulares, deverão contar com efetivos suficientes ao seu 
funcionamento normal, por via do recrutamento constante. 
- Hierarquia podeser conceituada como o vínculo de subordinação escalonada e graduada de 
inferior a superior. Além da hierarquia interna, as Forças Armadas se subordinam em 
conjunto ao Presidente da República, que delas é o comandante supremo. (artigo 84, XIII) 
- Disciplina é o poder que os superiores têm de impor condutas e dar ordens aos inferiores. 
10.2. Destinação constitucional 
- As Forças Armadas se destinam: 
• à defesa da Pátria 
• à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da 
ordem. 
Presidente da República 
(Comandante supremo)
Ministério da Defesa 
(Direção superior)
Comandos militares da 
Marinha, do Exército e da 
Aeronáutica
- Constituem elemento fundamental da organização coercitiva a serviço do Direito e da paz 
social. São as responsáveis pela própria subsistência do Estado e pela perfeita realização de 
seus fins. 
- Sua missão essencial é a de defender a Pátria contra agressões estrangeiras em caso de 
guerra externa e, por outro lado, as instituições democráticas. 
- A defesa da lei e da ordem é competência subsidiária e eventual das Forças Armadas, pois 
esta é atribuição primária das forças de segurança pública (polícia federal e polícias civil e 
militar dos Estados e do Distrito Federal), e depende de convocação dos legítimos 
representantes de qualquer dos poderes federais. 
10.3. A obrigação militar 
- A prestação do serviço militar é obrigatória, ficando as mulheres e os eclesiásticos isentos 
de tal obrigação em tempos de paz, sujeitando-se, porém, a outros encargos que a lei lhes 
atribuir. 
- Apesar de obrigatória, alegando-se imperativo de consciência, decorrente de crença 
religiosa, convicção filosófica ou política (direito de escusa de consciência), às Forças 
Armadas competirá, na forma da lei, atribuir serviço alternativo em tempo de paz (artigo 5º, 
VIII, c/c o artigo 143, §§ 1º e 2º) 
- Havendo recusa da prestação alternativa nos termos da Lei n. 8.239/91 (atividades de 
caráter administrativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo), será declarada a 
perda dos direitos políticos (artigo 15, IV, da CF). 
10.4. Organização militar e seus servidores 
- Os integrantes das organizações militares possuem seus direitos, garantias, prerrogativas e 
impedimentos definidos nos §§ 2º e 3º, do artigo 142. Assim, não se vinculam ao conceito 
de servidores públicos. 
- Em exceção expressa ao artigo 5º, LXVIII, o §2º do artigo 142 dispõe sobre a 
impossibilidade de impetrar habeas corpus em relação punições disciplinares militares. É 
válido ressaltar, seguindo a jurisprudência do STF, a possibilidade de impetração de HC, 
para análise, pelo Judiciário, dos pressupostos de legalidade (hierarquia, poder disciplinar, 
ato ligado à função e pena suscetível de ser aplicada disciplinarmente), excluídas as 
questões do mérito da sanção administrativa (v. HC 70.648 - Rel. Min. Moreira Alves; RE 
338.840-RS - Rel. Min. Ellen Gracie; e RHC 88.543 - Rel. Min. Ricardo Lewandowski) 
- Conforme estabelece o §3º, os membros da Forças Armadas são denominados militares, 
aplicando-se-lhes, além das regras previstas em lei, as disposições constantes em seus 
incisos (quanto à regra do inciso V, ver artigo 14, §8º) 
- A parcela básica da remuneração dos militares é denominada soldo. 
- Súmula Vinculante n. 06 do STF: Não viola a Constituição o estabelecimento de 
remuneração inferior ao salário mínimo para as praças prestadoras de serviço militar inicial. 
Ementa: (...) I - A Constituição Federal não estendeu aos militares a garantia de remuneração 
não inferior ao salário mínimo, como o fez para outras categorias de trabalhadores. II - O 
regime a que submetem os militares não se confunde com aquele aplicável aos servidores 
civis, visto que têm direitos, garantias, prerrogativas e impedimentos próprios. III - Os 
cidadãos que prestam serviço militar obrigatório exercem um múnus público relacionado com 
a defesa da soberania da pátria. IV - A obrigação do Estado quanto aos conscritos limita-se a 
fornecer-lhes as condições materiais para a adequada prestação do serviço militar obrigatório 
nas Forças Armadas (...)." (RE 570177, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Tribunal 
Pleno, julgamento em 30.4.2008, DJe de 27.6.2008) 
11. Da Segurança Pública 
11.1. Aspectos gerais 
- A segurança pública, em conformidade com o artigo 144, é dever do Estado, direito e 
responsabilidade de todos, nacionais ou estrangeiros. 
- O Estado é responsável por garantir a segurança dentro de seu território e tentar impedir o 
cometimento de crimes ou outras infrações prejudiciais ao desenvolvimento social. 
- É exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do 
patrimônio, através dos seguintes órgãos (rol taxativo - ADI 1.182; ADI 2.827; e ADI 236): 
polícia federal; polícia rodoviária federal; polícia ferroviária federal; polícias civis; polícias 
militares e corpos de bombeiros militares. 
- Maria Sylvia Zanella Di Pietro conceitua o poder de polícia como “a atividade do Estado 
consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do interesse 
público”. 
- Assim, é possível realizar a distinção entre polícia administrativa lato sensu e polícia de 
segurança, esta última sendo dividida em polícia administrativa (preventiva ou ostensiva) e 
polícia judiciária. Esta análise se concentrará na polícia de segurança. 
 
 
 
 
 
 
11.2. Os órgãos de segurança pública 
11.2.1. Polícias da União 
A) Polícia Federal (PF) 
- órgão permanente, organizado e mantido pela União. 
- estruturada em carreira, de acordo com a Lei n. 9.266/96. 
- polícia administrativa e judiciária. 
Polícia de 
segurança
Polícia 
Administrativa 
(preventiva ou 
ostensiva)
Polícia 
Judiciária 
(investigação)
Federal: Polícia Federal; Polícia 
Rodoviária Federal; e Polícia 
Ferroviária Federal. 
Estadual: Corpo de Bombeiros e 
Polícia Militar
Federal: Polícia Federal 
Estadual: Polícia Civil
- tem suas competências definidas no §1º, do artigo 144, da CF 
B) Polícia Rodoviária Federal (PRF) 
- órgão permanente, organizado e mantido pela União 
- estruturada em carreira, de acordo com a Lei n. 12.775/2012 
- polícia administrativa 
- competência para exercer o patrulhamento ostensivo nas rodovias federais 
- suas principais atribuições estão definidas no artigo 20, do Código de Trânsito Brasileiro - 
CTB. 
C) Polícia Ferroviária Federal (PFF) 
- órgão permanente, organizado e mantido pela União 
- apesar do mandamento constitucional, inexiste plano de carreira 
- polícia administrativa 
- competência para exercer o patrulhamento ostensivo nas ferrovias federais 
- Por conta da desestatização das ferrovias federais, os profissionais da segurança pública 
ferroviária que estavam em exercício em 11/12/1990 passaram a integrar o Departamento de 
Polícia Ferroviária Federal do Ministério da Justiça, por força do artigo 29, §8º, da Lei n. 
10.683/2003. 
- na prática, ocorre somente a segurança patrimonial exercida pelas empresas concessionárias 
de serviço ferroviário. 
11.2.2. Polícias dos Estados 
- A segurança pública em nível estadual é exercida pelas polícias civis, polícias militares e ao 
corpo de bombeiros, organizados e mantidos pelos Estados. 
- Os integrantes das polícias civis são servidores estaduais civis, aplicando-se-lhes o disposto 
nos artigos 39 a 41 da CF, enquanto que os das polícias militares e dos corpos de bombeiros 
militares, como servidores militares dos Estados (artigo 42). 
Obs.: As polícias do Distrito Federal são organizadas e mantidas pela União (artigo 21, XIV), 
mas se subordinam ao Governador do DF. 
A) Polícia civil estadual 
- São dirigidas por delegados de polícia de carreira. 
- ressalvadas a competência da polícia federal, exercem as funções de polícia judiciáriae 
apuração de infrações penais, exceto as militares. 
- subordinam-se aos Governadores dos Estados. 
B) Polícia Militar (PM) e Corpo de Bombeiros Militares 
- forças auxiliares e reserva do Exército. 
- subordinam-se aos Governadores dos Estados. 
- a PM realiza o policiamento ostensivo ou preventivo. 
- o Corpo de Bombeiros exerce atividades de defesa civil. 
- a remuneração será definida por lei estadual e poderão ser superiores aos dos integrantes 
das Forças Armadas, não podendo servir como base de equiparação por estes últimos (STF - 
ARE 665.632, Rel. Min. Teori Zavascki, DJE de 28/04/2015) 
11.2.3. Segurança Pública na esfera municipal 
- possibilidade de criação de Guardas Municipais 
- a jurisprudência vem admitindo que as Guardas Municipais exerçam poder de polícia de 
trânsito (STF - RE 658.570, DJE de 30/09/2015) 
11.2.4. Segurança viária 
- artigo 144, §10º 
Unidade II - Poder Legislativo 
1. Introdução 
No quadro de divisão de funções entre os Poderes da República, cabem ao Legislativo as 
tarefas precípuas de legislar e de fiscalizar (funções típicas). 
Contudo, de forma atípica, o Poder Legislativo também exerce as funções de administração, 
quando, provê cargos de sua estrutura, e de julgar, quando processa e julga crimes de 
responsabilidade porventura praticados pelo Presidente e Vice-Presidente da República, por 
exemplo. 
1.1. Estrutura e funcionamento 
Considerando a forma do Estado brasileiro, cumpre analisar a manifestação do Poder 
Legislativo em âmbito federal, estadual, distrital e municipal. 
1.1.1. Poder Legislativo federal 
- No Brasil, no âmbito federal, vigora o chamado bicameralismo federativo, ou seja o Poder 
Legislativo federal é composto por duas Casas: a Câmara dos Deputados e o Senado 
Federal (artigo 44). 
- A primeira é constituída por representantes do povo, enquanto que a segunda, por 
representantes do Estados-Membros e do Distrito Federal. 
A) Atribuições do Congresso Nacional 
- De acordo com o artigo 48, cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da 
República, dispor sobre todas as matérias de competência da União. 
- O artigo 49 trata das matérias de competência exclusiva do Congresso Nacional, sendo 
dispensada a manifestação do Presidente da República. Tais atribuições serão materializadas 
via decreto legislativo. 
B) Câmara dos Deputados 
B.1) Aspectos fundamentais 
- Composição: representantes do povo, os Deputados Federais devem manifestar a vontade 
popular (artigo 45). 
- Eleição: os Deputados são eleitos pelo povo segundo o princípio proporcional (artigo 45, 
§1º). 
- Número de Deputados Federais: número mínimo de 8 Deputados e máximo de 70, 
considerando a população dos Estados e do Distrito Federal. Os Territórios elegerão um 
número fixo de 4 Deputados (artigo 45, §2º). O número total de Deputados foi fixado pela 
Lei Complementar n. 78/93 em 513. 
- Mandato: o mandato dos Deputados Federais é de 4 anos, período correspondente à 
legislatura (artigo 44, parágrafo único). 
- Renovação: a cada 4 anos. 
- Remuneração: artigo 49, VII c/c artigo 37, XI. Atualmente é de R$ 33.763,00 (trinta e três 
mil setecentos e sessenta e três reais), o mesmo subsídio pago aos Ministros do STF. 
B.2) Competências privativas da Câmara dos Deputados 
- As matérias de competência privativa dos Deputados Federais estão previstas no artigo 51, 
dispensada a manifestação do Presidente da República, nos termos do artigo 48, caput. 
- Tais atribuições são materializadas por meio de resoluções. 
C) Senado Federal 
C.1) Aspectos fundamentais 
- Composição: representantes dos Estados e do Distrito Federal (artigo 46). 
- Eleição: os Senadores são eleitos pelo povo segundo o princípio majoritário, ou seja, serão 
eleitos os candidatos que obtiverem nas urnas o maior número de votos. 
- Número de Senadores: número fixo de 3 Senadores por Estado e o Distrito Federal, sendo 
que cada um terá 2 suplentes (artigo 46, §§ 1º e 3º) 
- Mandato: 8 anos (duas legislaturas) 
- Renovação: a cada 4 anos, alternadamente, por um e dois terços (artigo 46, §2º). 
- Remuneração: artigo 49, VII c/c artigo 37, XI. Atualmente é de R$ 33.763,00 (trinta e três 
mil setecentos e sessenta e três reais), o mesmo subsídio pago aos Ministros do STF. 
C.2) Competências privativas do Senado Federal 
- As matérias de competência privativa do Senado Federal estão previstas no artigo 52, 
dispensada a manifestação do Presidente da República, nos termos do artigo 48, caput. 
- Tais atribuições são materializadas por meio de resoluções. 
D) Das reuniões (sessões legislativas) 
Sessão ordinária (artigo 57): de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de 
dezembro. Fora desse período, haverá o recesso parlamentar 
Durante o recesso, haverá uma Comissão representativa do Congresso Nacional, com 
atribuições definidas no regimento comum (artigo 58, §4º). 
A sessão legislativa não será interrompida sem a aprovação do projeto de lei de diretrizes 
orçamentárias (artigo 57, §2º). 
Sessão extraordinária (artigo 57, §§6º, 7º e 8º) 
Sessão conjunta (artigo 57, §3º) 
Sessão preparatória (artigo 57, §4º) 
E) Mesas Diretoras 
- As Mesas Diretoras de cada Casa exercem funções administrativas, devendo, em relação à 
sua constituição, ser assegurada, tanto quanto possível, a representação proporcional dos 
partidos ou dos blocos parlamentares que participam da respectiva Casa (artigo 58, §1º). 
- Então, existem a Mesa da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e a Mesa do 
Congresso Nacional, sendo esta última composta de acordo com o artigo 57, §5º. 
1.1.2. Poder Legislativo estadual 
- Unicameralismo: Assembleia Legislativa 
- Número de Deputados Estaduais: corresponderá ao triplo da representação do Estado na 
Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos 
quantos forem os Deputados Federais acima de doze (artigo 27, caput) 
- Mandato: 4 anos (artigo 27, §1º) 
- Remuneração: o subsídio pago aos Deputados Estaduais não poderá ser superior a 75% 
daquele estabelecido, em espécie, para os Deputados Federais (artigo 27, §2º). 
1.1.3. Poder Legislativo municipal 
- Unicameralismo: Câmara Municipal 
- Número de Vereadores: proporcional à população do Município, de acordo com o artigo 29, 
IV. 
- Mandato: 4 anos (artigo 29, I) 
- Inviolabilidade ou imunidade material: artigo 29, VIII 
- Remuneração (artigo 29, V e VI): limite máximo de 75% do subsídio dos Deputados 
Estaduais. 
1.1.4. Poder Legislativo distrital 
- Unicameralismo: Câmara Legislativa (artigo 32) 
- Aplicação das características dos Estados (artigo 32, §3º) 
1.1.5. Poder Legislativo dos Territórios 
- Regra geral: artigo 33, §3º. Tal dispositivo carece de regulamentação. 
1.2. Função de fiscalização: Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) 
1.2.1. Regras gerais 
- As CPIs são disciplinadas pelo artigo 58, §3º e pelas seguintes Leis: Lei n. 1.579/52, Lei n. 
10.001/2000, Lei Complementar n. 105/2001 e nos Regimentos Internos das Casas. 
- São comissões temporárias que objetivam investigar fato certo e determinado. 
1.2.2. Criação 
- Serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou 
separadamente, mediante requerimento de 1/3 da totalidade de seus membros. 
- Necessária indicação de fato determinado a ser apurado e de prazo certo para o 
desenvolvimento dos trabalhos. 
1.2.3. Direito público subjetivo das minorias 
A discussão sobre a temática do direito público subjetivo das minorias surgiu no bojo da CPI 
do Apagão Aéreo. 
Após efetivamente instalada, o Plenário da Câmara dos Deputados desconstituiu o ato de 
criação da CPI. Contra esse ato da Mesa e do presidente da Câmara dos Deputados, foi 
impetrado mandado de segurança, e o STF determinou a instauração da CPI, sob pena de 
violação do direito públicosubjetivo das minorias, mesmo contra a vontade da maioria da 
Casa (MS 26.441, Rel. Min. Celso de Mello, DJE de 18/12/2009). 
1.2.4. Objeto 
- As CPIs têm por objeto a apuração de fato determinado. 
- O artigo 35, §1º, do RICD, define fato determinado como o acontecimento de relevante 
interesse para a vida pública e a ordem constitucional, legal, econômica e social do País, 
que estiver devidamente caracterizado no requerimento de constituição da Comissão. 
1.2.5. Prazo 
- As CPIs devem ter prazo certo 
- O artigo 35, §3º, do RICD, indica que a CPI na Câmara, que poderá atuar também durante o 
recesso parlamentar, terá o prazo de 120 dias, prorrogável por até metade do prazo, 
mediante deliberação do Plenário. 
- O artigo 76 do RISF estabelece que as CPIs no Senado se extinguem pela conclusão de sua 
tarefa, ao término do respectivo prazo, ou ao término da sessão legislativa ordinária. 
Admitida a prorrogação, desde que esta não ultrapasse o período da legislatura em que for 
criada.
1.2.6. Poderes 
- As CPIs terão poderes de investigação, próprios das autoridade judiciais, além de outros 
previstos nos Regimentos Internos das Casas. 
Lei n. 1.579/52 
Art. 2o No exercício de suas atribuições, poderão as Comissões Parlamentares de Inquérito 
determinar diligências que reputarem necessárias e requerer a convocação de Ministros de 
Estado, tomar o depoimento de quaisquer autoridades federais, estaduais ou municipais, ouvir 
os indiciados, inquirir testemunhas sob compromisso, requisitar da administração pública 
direta, indireta ou fundacional informações e documentos, e transportar-se aos lugares onde se 
fizer mister a sua presença.(Redação dada pela Lei nº 13.367, de 2016) 
- Consoante decisão do STF, a CPI pode, por autoridade própria, ou seja, sem a necessidade 
de intervenção judicial, sempre por decisão fundamentada e motivada, observadas as 
formalidades legais, determinar: quebra do sigilo fiscal; quebra do sigilo bancário; e quebra 
do sigilo de dados (inclusive telefônicos) - MS 23.452/RJ, Min. Celso de Mello, DJ de 
12/05/2000 
- Ressalte-se que a CPI não tem competência para determinar a quebra do sigilo da 
comunicação telefônica (interceptação telefônica), mas somente requerer a quebra de sigilo 
- de registros telefônicos pretéritos. 
Lei Complementar n. 105/2001 
Art. 4oO Banco Central do Brasil e a Comissão de Valores Mobiliários, nas áreas de suas 
atribuições, e as instituições financeiras fornecerão ao Poder Legislativo Federal as 
informações e os documentos sigilosos que, fundamentadamente, se fizerem necessários ao 
exercício de suas respectivas competências constitucionais e legais. 
§ 1o As comissões parlamentares de inquérito, no exercício de sua competência constitucional 
e legal de ampla investigação, obterão as informações e documentos sigilosos de que 
necessitarem, diretamente das instituições financeiras, ou por intermédio do Banco Central 
do Brasil ou da Comissão de Valores Mobiliários. 
- As CPIs poderão ainda ouvir testemunhas, sob pena de condução coercitiva, bem como 
investigados ou indiciados. Contudo, devem respeitar o direito ao silêncio. 
1.2.7. Postulado de reserva constitucional de jurisdição 
- A CPI não poderá praticar determinados atos de jurisdição atribuídos exclusivamente ao 
Poder Judiciário, atos propriamente jurisdicionais. É vedado à CPI: 
• diligência de busca domiciliar - artigo 5º, XI 
• quebra dos sigilos das comunicações telefônicas (interceptação telefônica) - artigo 5º, 
XII 
• ordem de prisão, salvo no caso de flagrante delito, por exemplo, por crime de falso 
testemunho - artigo 5º, LXI 
2. Estatuto dos Congressistas: garantias constitucionais dos parlamentares 
- As imunidades parlamentares constituem o conjunto de prerrogativas constitucionais 
inerentes à função parlamentar, que visam a garantir o exercício do mandato, com 
independência e liberdade. 
- As imunidades não podem ser consideradas como privilégios, mas como prerrogativas 
tendentes a assegurar o livre exercício do mandato parlamentar, bem como o funcionamento 
normal do Poder Legislativo. 
- As imunidades se dividem em dois tipos: 
a) imunidade material, real ou substantiva, também denominada inviolabilidade (artigo 
53, caput) 
b) imunidade processual, formal ou adjetiva (artigo 53, §§ 2º a 5º) 
2.1. Imunidade parlamentar federal 
2.1.1. Imunidade material ou inviolabilidade parlamentar 
- Os parlamentares federais são invioláveis, civil e penalmente, por suas opiniões, palavras e 
votos, desde que proferidos em razão de suas funções parlamentares, no exercício e quando 
relacionados ao mandato. 
- O tipo penal fica descaracterizado, sem a possibilidade de imputação de responsabilidade, 
desde que o fato ocorrido se dê em razão do exercício do mandato e da função parlamentar. 
- Se a manifestação porventura ofensiva ocorre dentro do Congresso Nacional, não há de se 
questionar a existência da inviolabilidade, podendo a Casa a que pertencer o parlamentar 
coibir eventuais excessos (artigo 55, II). Contudo, se esta ocorre fora do recinto 
parlamentar, faz-se necessário verificar sua conexão com a atividade de representação 
política. (Inq. 1.958, DJ de 18/02/2004, rel. Min. Carlos Britto) 
- A imunidade material se estende a entrevistas jornalísticas; transmissão, para a imprensa, do 
conteúdo de pronunciamentos ou de relatórios produzidos nas Casas Legislativas; e 
declarações feitas aos meios de comunicação social. (STF - Inq. 2.874) 
Obs.: Alguém que é injuriado por parlamentar, beneficiado pela imunidade, e retruca de 
imediato, pode também se ver livre de repressão criminal. (STF - Inq. 1.247) 
Obs. 2: Pedro Lenza defende que a imunidade material não é absoluta e que, em situações 
excepcionais, se caracterizado o chamado hate speech (discurso de ódio) proferido por 
parlamentar, existiria a prática de crime. O STF ainda não enfrentou esta questão. 
2.1.2. Imunidade formal ou processual 
- Relativa à prisão dos parlamentares, bem como ao processo a ser instaurado contra eles. 
- A prerrogativa protege o parlamentar desde a expedição do diploma, ou seja, antes da posse, 
até o primeiro dia da legislatura seguinte. 
• Imunidade formal ou processual para a prisão 
- regra geral antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória: os 
parlamentares não poderão ser presos, seja a prisão penal processual, seja a prisão civil 
(artigo 5º, LXVIII). 
- exceção à regra geral: flagrante de crime inafiançável. 
- flagrante de crime inafiançável: os autos deverão ser remetidos à Casa Parlamentar 
respectiva, no prazo de 24 horas, para que, pela maioria absoluta de seus membros e pelo 
voto aberto, decida sobre a prisão. 
- efeitos daprisão em caso de sentença judicial transitada em julgado (STF): no âmbito 
do julgamento do “mensalão”, foi inicialmente reconhecida a perda automática do mandato, 
de acordo com o artigo 15, III (AP 470). No entanto, em momento seguinte, estabeleceu-se 
que a perda do mandato do parlamentar condenado não seria automática, devendo ser 
observada a regra do artigo 55, §2º (AP 565). 
• Imunidade formal ou processual para o processo 
- Recebida a denúncia, o STF deverá dar ciência do recebimento da acusação à respectiva 
Casa Legislativa. Esta, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da 
maioria absoluta de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. 
- Só se aplica a ações penais relativas a crimes ocorridos após a diplomação. 
- Enquanto o processo estiver suspenso, a prescrição pena não corre, mas volta a ter curso no 
dia em que o mandato se encerra. 
- Para crimes praticados anteriormente à diplomação, não há a necessidade de o STF dar 
ciência à respectiva Casa e esta última também não poderá sustar a ação. 
2.2. Prerrogativa de foro e outras garantias 
A) Foro privilegiado

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

Perguntas Recentes