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Principais diferenças entre os crimes de estelionato, apropriação indébita, receptação e furto mediante fraude

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FACULDADE DE DIREITO DE FRANCA
Nome: Letícia Lucas Gomes nº: 12 Série: 3º ano B – Noturno
Disciplina: Direito Penal II Professor: Dr. Carlos Ernani Constantino
Principais diferenças entre furto mediante fraude e estelionato 
O crime de estelionato tem como ponto central a incidência de fraude e pode ser identificado a partir das seguintes hipóteses: a) conduta praticada com emprego de qualquer meio fraudulento; b) a vítima é induzida e/ou mantida em erro, e c) a finalidade é ter vantagem ilícita em prejuízo alheio. Nesse sentido, tal prática exige a presença de vantagem ilícita e prejuízo alheio, além de ser um crime que não admite a modalidade culposa. Já no furto mediante fraude (art. 155, § 4º, II do CP) o uso comportamental ardiloso, em regra, é usado com a finalidade de facilitar a subtração pelo próprio agente dos bens que pertencem à vítima.
Ou seja, no furto mediante fraude esta é utilizada para iludir a atenção ou vigilância da vítima, que acaba não percebendo que a coisa foi subtraída, ao passo que, no estelionato, a fraude é anterior ao apossamento da coisa e é causa por sua entrega, pela vítima, ao estelionatário.  
Nas palavras de Cezar Roberto Bitencourt (2012, p. 60): 
Embora a fraude seja característica inerente ao crime de estelionato, aquela que qualifica o furto não se confunde com a deste. No furto, a fraude burla a vigilância da vítima, que, assim, não percebe que a res lhe está sendo subtraída; no estelionato, ao contrário, a fraude induz a vítima a erro. Esta, voluntariamente, entrega seu patrimônio ao agente. No furto, a fraude visa desviar a oposição atenta do dono da coisa, ao passo que no estelionato o objetivo é obter seu consentimento, viciado pelo erro, logicamente. O dissenso da vítima no crime de furto, mesmo fraudulento, e sua aquiescência, embora viciada, no estelionato são dois aspectos que os tornam inconfundíveis.
Em suma, a distinção entre os dois crimes se dá pela análise do elemento semelhante a ambos os tipos, no caso, a fraude: No furto é utilizada pelo agente com o fim de burlar a vigilância da vítima, que, por desatenção, tem seu bem subtraído, diferente do que acontece na hipótese de estelionato em que a fraude é usada como meio para obter o consentimento da vítima que, iludida, entrega voluntariamente o bem (STJ, CC 67343/GO).
Principais diferenças entre apropriação indébita e estelionato
O delito de apropriação indébita, diferencia-se do crime de estelionato, visto que para sua ocorrência não há fraude. Na apropriação, o indivíduo tem a posse anterior e passa a agir como se fosse dono da coisa. Previsto no art. 168 do CP, esse tipo exige que a coisa tenha sido entregue ao sujeito pela vítima, sem fraude. 
Na apropriação indébita, ao contrário do crime de estelionato, o agente tem a posse lícita da coisa. Nela, o agente exerce a posse em nome de outrem. O dono autoriza o agente a exercer a posse de fato sobre a coisa para determinado fim. Ou seja, o agente a recebeu legitimamente, o que muda é somente o animus que o liga à coisa. No entanto, se o agente a recebe de má-fé, induzindo ou mantendo em erro quem a entrega, pratica o crime de estelionato e não o de apropriação. Com efeito, o que distingue a apropriação indébita do crime de estelionato é que com ela não se produz violação da posse material do dominus: a coisa não é subtraída ou ardilosamente obtida, pois já se encontra no legítimo poder de disponibilidade física do agente. Enquanto no crime de estelionato a disponibilidade fática sobre a res é obtida com o próprio crime, na apropriação indébita essa disponibilidade física precede ao crime. No estelionato, há uma obtenção fraudulenta; na apropriação indébita, uma arbitrária inversão da natureza da posse. No estelionato, o agente obtém enganando; na apropriação indébita, aproveitando-se. 
Outro elemento distintivo entre os dois crimes é que o dolo no estelionato existe desde o início, ao passo que na apropriação indébita ele é subsequente. 
Principais diferenças entre receptação e apropriação indébita
Na apropriação indébita, a vítima entrega voluntariamente uma coisa móvel ao agente, e este, após tê-la em sua posse ou detenção, inverte-as de maneira arbitrária, passando a se comporta como se fosse dono da coisa. A posse e a detenção devem ser desvigiadas; se se tratar de detenção vigiada, como no caso, por exemplo, do patrão e do empregado, haverá furto. 
A receptação é crime acessório e depende de um crime antecedente/principal (furto, estelionato, etc), tendo-se em vista que se o objeto material da receptação não for produto de crime, não há que se falar em crime de receptação. Neste crime, o sujeito ativo obtém a posse do bem de maneira clandestina, tendo se em vista que ele foi objeto de crime anterior. 
Ou seja, na apropriação indébita, o agente tem a posse ou mera detenção do bem de forma legítima. A vítima lhe entrega o bem e o autoriza a exercer a posse de fato sobre a coisa para determinado fim. Já na receptação, não há que se falar em posse legítima. A posse sobre o bem é clandestina ou violenta, tendo-se em vista que foi obtida a partir de um crime (furto, estelionato, roubo, etc). 
O sujeito ativo do crime de apropriação pode ser qualquer pessoa, exceto o proprietário, tendo se em vista que o proprietário não pode apropriar-se daquilo que já é dele. Ao passo que no crime de receptação, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive o proprietário (ex.: o dono de um relógio, dado em penhor, recebe-o de um ladrão que o furtou do credor pignoratício).
O sujeito passivo do crime de receptação é a vítima do crime antecedente, ou seja, a vítima do furto, roubo, estelionato etc., enquanto que o sujeito passivo do crime de apropriação indébita é, em geral, o proprietário do bem. 
REFERÊNCIAS
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, vol. 3, Parte Especial: Dos crimes contra o patrimônio até dos crimes contra o sentimento religioso e o respeito aos mortos. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 59/60.
CONSTANTINO, Carlos Ernani. Apostila de Direito Penal II. Versão 2017. 
LIMA, Cezar de. Saiba a diferença entre furto, apropriação indébita e estelionato, Rio Grande do Sul, 31 maio 2016. Disponível em: <https://canalcienciascriminais.com.br/saiba-a-diferenca-entre-furto-apropriacao-indebita-e-estelionato/>. Acesso em: 12 nov. 2017.

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