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DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Unidade IV Competência da Justiça do Trabalho Plano de Aula 3 Ações decorrentes da relação de trabalho e Competência em razão do lugar Aula 02 II.1.2. AÇÕES DECORRENTES DA RELAÇÃO DE TRABALHO: Partindo-se da premissa que a relação de emprego é apenas uma das espécies da relação de trabalho, abordaremos a seguir situações inerentes às ações mais comuns que envolvem relações de trabalho, verificando eventual competência da Justiça Trabalhista para dirimir os conflitos oriundos das mesmas. A EC nº. 45/2004 empreendeu profunda transformação no que tange da Justiça do Trabalho, no que tange às ações que não são derivadas das relações de emprego, mas que pressupõe uma prestação de serviço, na medida em que deu nova redação ao art. 114 da Constituição Federal, mormente no que tange ao inciso I. II.1.2.1. RELAÇÃO DE TRABALHO ESTATUTÁRIO: A problemática envolvendo a competência para processar e julgar ações decorrentes da relação de trabalho estatutária não é nova. Logo que a Constituição Federal de 1988 foi promulgada, sobreveio esta discussão, reforçada, posteriormente, pela Lei n.° 8.112/1990 (Estatuto dos Servidores Públicos) que em seu art. 240, alínea “e”, que o servidor público civil poderia ajuizar “individual e coletivamente, frente à Justiça do Trabalho, nos termos da Constituição Federal”. Fixou-se, portanto, a competência trabalhista. Todavia, no mesmo ano, a Procuradoria Geral de República - PGR interpôs a ADI n.° 492/DF, alegando que a competência para processar e julgar os dissídios (individuais e coletivos) envolvendo servidores estatutários, não seria da Justiça do Trabalho, pois o vínculo estatutário teria natureza jurídica diferente do vínculo de emprego. Em atenção à alegação da PGR, o STF julgou procedente a ADI n.° 492/DF, declarando a inconstitucionalidade da alínea “e” da Lei n.° 8.112/1990 (posteriormente revogada pela Lei n.° 9.527/1997). A partir de então, restou definida que a competência para julgamento das ações individuais e coletivas, decorrentes do vínculo estatutário mantido pelos servidores públicos, seria da Justiça Comum (Municipal, Estadual ou Federal). Somente no que tange aos empregados públicos, egressos por concurso público, sob o regime celetista é que a Justiça do Trabalho pode decidir eventuais conflitos de interesse. Pois bem, a EC n.° 45/2004, alterou o art. 114 da CRFB, trazendo em seu inciso I, a seguinte redação: [...] Art. 114. compete à justiça do trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da união, dos estados, do distrito federal e dos municípios; [...] (negritos acrescidos) Da leitura do inciso I do art. 114 da Constituição Federal, observa-se que o legislador utiliza expressão “RELAÇÃO DE TRABALHO”, a qual, como sabemos é expressão gênero, da qual relação de emprego e relação de trabalho com vínculo estatutário, são espécies. Como outrora, foi interposta uma ADI perante o STF, qual seja a de n.° 3.395-1/DF, desta vez proposta pela AJUFE�, sendo que a ANAMAGES� nela ingressou como litisconsorte ativa. Também nesta ADI, foi deferida liminar pelo então Min. NÉLSON JOBIM, a posteriori referendada pelo plenário do STF, suspendendo a eficácia da nova redação dada ao inciso I do art. 114 da Constituição Federal, mantendo a sistemática antiga de competência, por meio da qual ações que envolvam a prestação de trabalho de vínculo estatutário devem ser processadas e julgadas perante a Justiça Comum. II.1.2.2. RELAÇÃO DE TRABALHO AUTÔNOMO: A relação de trabalho autônomo é gênero da espécie relação de trabalho, diferindo da relação de emprego na medida em que lhe faltam alguns dos requisitos do vínculo empregatício, geralmente distinguido daquele, pela ausência de subordinação, tão presente na relação jurídica que envolve patrão e empregado. II.1.2.2.1. CONTRATO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS: No que tange à cobrança de valores inerentes a Contrato de Honorários Advocatícios (de advogado sem vínculo empregatício), há relevante divergência jurisprudencial. Isso porque, logo após a edição da EC n.º 45/2004, alguns tribunais passaram a entender que a Justiça do Trabalho seria competente para processar e julgar esse tipo de ação. No entanto, esse entendimento foi modificado e o entendimento atual é de que a competência é da Justiça Comum. Ratifica esse entendimento a Súmula nº. 363 do STJ: “compete à Justiça estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por profissional liberal contra cliente”. II.2. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LUGAR: É determinada levando em conta a circunscrição territorial onde atua o órgão jurisdicional. Originariamente é das Varas do Trabalho, mas em alguns casos isso pode mudar. II.2.1. COMPETÊNCIA DO LOCAL DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO: Regra geral, que objetiva facilitar o acesso do empregado à Justiça. Aqui se considera que a competência para processar e julgar a demanda trabalhista é da Vara do Trabalho da Comarca do último local onde o empregado prestou serviços ao empregador, ainda que o empregado tenha sido contratado em outra localidade. Na medida em que o caput do art. 651 não faz vinculação à pessoa do empregado, essa regra aplica-se, também, aos trabalhadores estrangeiros, desde que estes tenham prestado trabalho no Brasil. II.2.2. COMPETÊNCIA PARA AÇÕES ENVOLVENDO VIAJANTES COMERCIAIS: Neste caso, teremos que manejar DUAS regras de competência: • 1.ª REGRA ............. a competência será da Vara do Trabalho da comarca onde a empresa tiver agência ou filial, à qual está subordinado o empregado; • 2.ª REGRA ............. a competência será da Vara do Trabalho da comarca onde o empregado tenha estabelecido o seu domicílio ou a mais próxima a esse, quando não existir agência ou filial. Quando se diz que a empresa deve ter agência ou filial, está se fazendo menção ao local da prestação do serviço, posto que esse tipo de empregado, presta serviço em várias localidades, viajando, às vezes, de um Estado para outro. II.2.3. COMPETÊNCIA PARA AÇÕES ENVOLVENDO EMPREGADO BRASILEIRO QUE TRABALHA NO ESTRANGEIRO: Aqui há que se destacar que o ordenamento pátrio, prevê dois critérios importantes, sendo um de DIREITO PROCESSUAL e outro de DIREITO MATERIAL. ► Critério de Direito Processual: a competência para processar e julgar as demandas trabalhistas de brasileiros contratados para trabalhar no estrangeiro, é da Vara do Trabalho brasileira; ► Critério de Direito Material: a legislação trabalhista aplicável, neste caso, será a do país onde o trabalho tenha sido prestado; Quanto a, nestes casos, há uma certa divergência na Jurisprudência: ● Alguns entendem que a competência seria da Vara do Trabalho da Comarca onde empresa possua a sua sede ou a filial no Brasil; ● Outros entendem que a competência seria da Vara do Trabalho que se localiza na Comarca onde o empregado foi contratado; ● SÉRGIO PINTO MARTINS entende que se a empresa não possui sede ou filial no Brasil, torna-se impossível o ajuizamento da ação trabalhista. ● BEZERRA LEITE acredita que, mesmo que a empresa não possua sede ou filial no Brasil, ainda seria possível o ajuizamento da ação trabalhista, posto que poderíamos nos socorrer da Carta Rogatória (aplicação análoga do disposto no art. 21 do Novo CPC, incisos I e II), sendo que eventual questionamento da empresa, acerca da sua sujeição ou não à Justiça Brasileira, se daria num outro momento, superada a questão da competência. II.2.4. COMPETÊNCIA PARA AÇÕES ENVOLVENDO EMPRESA QUE DESENVOLVE SUA ATIVIDADE FORA DO LOCAL DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO: Aqui a escolha cabe ao empregado: • ou no LOCAL DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO; • ou no LOCAL DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. II.2.5. FORO DE ELEIÇÃO (arts. 62 e 63 do Novo CPC): No Direito Processualdo Trabalho, não se admite que as partes estipulem o foro para dirimir eventuais questões decorrentes do contrato de trabalho, pois tal atribuição é da União, enquanto única legitimada para legislar em matéria trabalhista, sendo que as normas de competência, são de ordem pública e, portanto, inderrogáveis. II.3. COMPETÊNCIA ABSOLUTA E COMPETÊNCIA RELATIVA: ► Competências ABSOLUTAS → → → → • em razão DA MATÉRIA; • em razão DA PESSOA e • em razão DA FUNÇÃO. ► Competência RELATIVA → → → → → • em razão DO TERRITÓRIO; • em razão DO VALOR. II.4. MODIFICAÇÕES DE COMPETÊNCIA: Salvo a hipótese do art. 43 do Novo CPC, a competência absoluta é IMUTÁVEL. Já no tocante à competência relativa, essa restrição não se verifica (art. 54 do Novo CPC). São seguintes as hipóteses em que a competência da Justiça do Trabalho pode ser modificada: A) PRORROGAÇÃO (Art. 65 do Novo CPC): Para efeito do processo do trabalho, a prorrogação que nos interesse é aquela inerente ao TERRITÓRIO (ao Foro). Situações em que a PRORROGAÇÃO pode ocorrer: • Quando o Autor aceita a modificação da competência, pois ajuizou sua ação perante Vara sabidamente incompetente; • Quando o Réu, mesmo sabendo que a ação foi ajuizada perante Vara incompetente, deixa de opor Exceção Declinatória de Foro; • Quando da aceitação do Juiz, na hipótese de nulidade do foro de eleição, previsto em contrato de adesão, o feito não tiver sua competência declinada para o do domicílio do Réu. B) CONEXÃO (Arts. 54, 55 e 57 do Novo CPC): A conexão só deve ser decretada, se não ocasionar embaraços ao processo. C) CONTINÊNCIA (Arts. 54, 55 e 57 do Novo CPC); D) PREVENÇÃO (Art. 58 do Novo CPC): A sua verificação na esfera trabalhista, depende de algumas adaptações, haja vista que a distribuição de uma ação perante a Justiça do Trabalho, configura-se como ato automático. Assim, parece-nos correta a lição de RODRIGUES PINTO�: “... na hipótese de duas ou mais ações conexas, o juízo prevento deve ser aquele em que a ação foi protocolada em primeiro lugar. ...” II.5. CONFLITOS DE COMPETÊNCIA (ART. 803 e seguintes da CLT): Incidente processual através do qual, dois ou mais órgãos da jurisdição se dizem competentes para processar e julgar uma demanda. • Art. 805 da CLT (indica quem é competente para suscitar o conflito). • Art. 806 da CLT (estabelece situação em que fica prejudicado o direito de suscitar o conflito). • Art. 807 da CLT (prova documental da existência do conflito). • Art. 808 da CLT (estabelece que solucionará o conflito). • A EC 45/2004 estabeleceu ser da Justiça do Trabalho a competência para processar e julgar “os conflitos de competência entre os órgãos da jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, “o” da CRFB.” • O processamento do Conflito de Competência observará o disposto nos arts. 809 e 810 da CLT. • O processamento do Conflito de Competência observará o disposto nos arts. 809 e 810 da CLT. � Associação dos Juízes Federais. � Associação Nacional dos Magistrados Estaduais. � PINTO, José Augusto Rodrigues. Processo Trabalhista de Conhecimento, p. 144, LTr, 2001. Prof. Luiz Augusto Bellini�E-mails: � HYPERLINK "mailto:luizaugusto.bellinilessa@gmail.com.br" ��luizaugusto.bellinilessa@gmail.com� ou � HYPERLINK "mailto:Luiz.bellini@metodistaes.edu.br" ��luizaugusto@bellinilessa.adv.br� ��
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