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Direito Civil SEÇÃO 1 ESPELHO DE CORREÇÃO Seção 1 Direito Civil Agora, vamos à resolução comentada do caso de suas clientes Helena e Camila? Inicialmente, vale frisar que para a construção de um raciocínio argumentativo e, por conseguinte, a sua exposição em uma peça processual deve, necessariamente: ( i ) Identifi car objetivamente os fatos que contextualizam os confl itos ou as questões para as quais se necessita atuação do Poder Judiciário, bem como o objetivo pretendido pelo cliente; ( ii ) Constatar qual(is) fundamento(s) jurídico(s) criam o nexo entre os fatos, confl itos e questões vivenciadas pelo cliente e o objetivo esperado por ele; ( iii ) Para que, então, seja possível a formulação dos pedidos adequados que solucionará e trará o objetivo esperado pelas clientes. Neste sentido, no caso em análise, verifi camos que os principais (i) fatos e informações trazidas pelas clientes foi: • Morte do Henrique, cônjuge e pai, respectivamente, de suas clientes, ocorrida em 20/04/2016; • Domicílio do falecido em São Paulo/SP; • Existência de herdeiros maiores e capazes, dos quais, um deles, o fi lho Rogério, não está concordando com os interesses da mãe; Na prática! 2 NPJ - NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA DIREITO CIVIL - ESPELHO DE CORREÇÃO - SEÇÃO 1 • Patrimônio deixado por ele incluindo bens e dívida estimado em aproximadamente R$ 2.700.000,00, dos quais a viúva não detém todas as informações, mas sabe que alguns imóveis estão alugados. Para identificarmos (ii) os fundamentos jurídicos correspondentes, estudamos as noções preliminares sobre a sucessão hereditária, bem como o procedimento previsto para que os bens deixados por alguém que faleceu sejam verificados e partilhados entre seus herdeiros, do que concluímos que para pleitear os direitos sucessórios faz-se necessário realizar o procedimento de inventário e a partilha de todo o acervo deixado pelo falecido (também identificado por de cujus). Foi visto que o inventário pode ser feito pela via judicial e, quando todos os herdeiros estiverem em consenso com todas as questões do inventário e da partilha e inexiste testamento, pela via extrajudicial. No caso, em razão do conflito de interesses entre o filho Rogério e sua mãe, já podemos identificar que o inventário deverá ser feito pela via judicial. Se, pela via judicial, verifica-se que o inventário poderá ter o rito ordinário, admitindo-se o litígio entre as partes. Ou quando todos estão de acordo, o rito poderá ser o arrolamento comum ou sumário. Também em razão da divergência de interesse entre mãe e filho, será necessário adotar o rito ordinário. Para que seja iniciado o procedimento do inventário, pela via judicial, no rito ordinário, faz-se necessária, portanto, a elaboração de uma petição inicial com pedido de abertura de inventário. Por se tratar de um procedimento que visa o recebimento de herança, espera-se que fique demonstrado que o escopo constitucional que garante o pedido, o que, no caso, trata-se do art. 5º, inciso XXX, da Constituição Federal. Para elaboração da petição, devem ser observados todos os requisitos de uma petição inicial expostos no art. 319 a 321, do Código de Processo Civil, atentando-se, ainda, quanto à 33 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 1NPJ necessidade de ser apresentada a certidão de óbito, conforme exigido pelo art. 616, do Código de Processo Civil. Na oportunidade, além dos requisitos formais de elaboração de qualquer petição inicial, é importante perceber todas as consequências e/ou correspondências de cada um dos fatos pontuados acima. Assim, temos que o domicílio do falecido à época do óbito atrairá a competência para processar a ação, pelo que deve ser identificado o foro da Comarca de São Paulo/SP como o competente para receber o pedido de abertura do inventário. Para expor adequadamente os fatos, atentem-se à necessidade de ser demonstrado e comprovado o vínculo que justifica legitimidade das Requerentes em pleitear a abertura do inventário, isto é, da Helena como cônjuge supérstite e, da Camila, como filha, e art. 616, inciso I e II, do Código de Processo Civil. Atente-se ao fato de que, para fins de requerimento de abertura do inventário, não há relevância se o cônjuge é ou não herdeiro, de modo que esta questão não precisa ser abordada nesta oportunidade. Interessante que seja expressamente apontada a tempestividade da distribuição do pedido dentro do prazo recomendado (já que não há ônus processual para a sua inobservância) pelo art. 611, do Código de Processo Civil. Deste modo, a petição deve ser datada dentro do prazo de dois meses a contar do óbito do autor da herança, a fim de que fique demonstrada a tempestividade do pedido. Tendo em vista que no inventário a oportunidade adequada para prestar todas as informações sobre os herdeiros e sobre o acervo a ser partilhado é no momento de apresentação das Primeiras Declarações, não se faz necessário correlacionar todos os dados relevantes para o desenrolar do inventário já conhecidos no momento da petição inicial da abertura do inventário. Neste sentido, não é necessário nem sequer relacionar os bens, dívidas e herdeiros conhecidos, já que isso deverá ser feito oportunamente. 44 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 1NPJ Verifica-se, portanto, que tal petição tem por finalidade principal o simples pedido de abertura e processamento do inventário e, para tanto, a nomeação de inventariante para que seja escolhida a pessoa responsável por trazer os bens ao inventário e administrá-los. Deste modo, é necessário demonstrar a legitimidade para nomeação do inventariante, no caso, da Helena, valendo-se da previsão do art. 617, do Código de Processo Civil. Com esta nomeação, Helena poderá deter o documento necessário para comprovar sua legitimidade em representar o espólio e adotar todas as providências necessárias para administrar os bens, realizar do inventário até que seja feita a partilha. E, por conseguinte, a Helena terá legitimidade para receber os aluguéis dos imóveis do espólio, assumindo a responsabilidade de administrá-los, mediante o dever de prestar contas sempre que lhe for exigido. Assim como, lhe será permitido ter conhecimento de todos os bens e dívidas e obter todas as informações necessárias para que eles sejam inventariados. Frisa-se também que, para demonstração da legitimidade da nomeação como inventariante, não se faz necessário adentrar referentes aos direitos sucessórios em si, haja vista que a legitimidade é atribuída na ordem do citado dispositivo legal sem, contudo, criar qualquer condição ou vinculação. Embora a citação de todos os herdeiros que já não tenham requerido a abertura do inventário, bem como da Fazenda Pública possa ocorrer após apresentação das Primeiras Declarações (consoante art. 626, do Código de Processo Civil), tendo em vista que já é de conhecimento a existência e a qualificação do outro herdeiro, Rogério Rocha Lima, deve-se agir com diligência e prudência para que seja requerida sua citação desde a petição de abertura, a fim de otimizar o procedimento. Por fim, tendo em vista que o patrimônio ainda não é totalmente conhecido pelas requerentes, à causa deve ser atribuído o valor estimado por elas, que seria de R$ 2.700.000,00. Com tais colocamos, vamos conferir ao que já tenha feito? 55 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 1NPJ EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DE SUCESSÕES DA COMARCA DE SÃO PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO HELENA SOARES ROCHA LIMA, brasileira, viúva, médica, portadora da Cédula de Identidade, expedida pela, e do CPF, endereço eletrônico, e CAMILA ROCHA LIMA, brasileira, solteira, estudante de Arquitetura, portadora da Cédula de Identidade, expedida pela,e do CPF, endereço eletrônico, ambas residentes e domiciliadas na Rua, número, Bairro, Cidade São Paulo, Estado de São Paulo, por intermédio de seu (sua) advogado(a) e bastante procurador(a), conforme procuração juntada em anexo, com escritório profi ssional situado à Rua, número, Bairro, Cidade São Paulo, Estado de São Paulo, onde recebe notifi cações e intimações, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 610, do Código de Processo Civil, requerer ABERTURA DE INVENTÁRIO dos bens deixados por Henrique Andrade Lima, que era brasileiro, engenheiro civil, casado, portador da Cédula de Identidade, expedida pela, e do CPF, endereço eletrônico, residente e domiciliado na Rua, número, Bairro, Cidade São Paulo, Estado de São Paulo, considerando os fatos e fundamentos a seguir. Questão de ordem! 66 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 1NPJ I. DOS FATOS No dia 20 de abril de 2016, às horas e minutos, Henrique Andrade Lima faleceu em razão de um acidente de carro, na cidade de Belo Horizonte/MG, conforme se comprova pela certidão de óbito número, registrada junto ao Registro Civil de Pessoas Naturais da Comarca de Belo Horizonte/MG conforme cópia em anexo, deixando bens e herdeiros, sobre os quais se esclarece adiante. I.1. DO AUTOR DA HERANÇA: Henrique Andrade Lima, já qualificado acima. I.2. DOS HERDEIROS O falecido era casado com Helena Soares Rocha Lima, ora Requerente, sob o regime da separação convencional de bens, há 25 anos, do que se demonstra com a certidão de casamento em anexo. Eles tiveram dois filhos: a) Rogério Rocha Lima, de 29 anos, maior, capaz, brasileiro, divorciado, engenheiro mecânico, portador da Cédula de Identidade, expedida pela, e do CPF, endereço eletrônico, residente e domiciliado na Rua, número, Bairro, Cidade Campinas, Estado de São Paulo, cuja filiação é demonstrada com a cópia de sua certidão de casamento com o divórcio averbado em anexo. b) e Camila Rocha Lima, de 22 anos, maior, capaz, já qualificada acima, cuja filiação é comprovada pela cópia de sua certidão de nascimento em anexo. Deste modo, apresentam-se como herdeiros a viúva e os dois filhos, sendo que o filho acima qualificado apresentou-se contrário à proposta de partilha elaborada pelas ora Requerentes, bem como não manifestou interesse em requerer a abertura do inventário junto a elas, razão pela qual deverá ser citado para que venha a se habilitar corretamente nos autos e manifestar sobre os termos do inventário e partilha. 77 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 1NPJ I.4. DA NOMEAÇÃO DO INVENTARIANTE Tendo em vista que a viúva Helena, e ora Requerente, estava convivendo com o autor da herança ao tempo do óbito, requer seja ela nomeada inventariante, nos termos do art. 617, do Código de Processo Civil. As Requerentes informam que ela já vinha exercendo a administração provisória, restando, limitada, contudo, nas providências necessárias para identificação de todos os bens, gestão dos frutos e manutenção dos bens, sendo-lhe necessária a nomeação para que possa arrolar adequadamente todos os bens. Afirma, desde já, que assume o compromisso de fielmente desempenhar a função de inventariante, sendo responsável por todas as providências necessárias para que o inventário seja realizado e ultimada a partilha, nos termos dos art. 617, parágrafo único, e art. 618, do Código de Processo Civil. I.5. DOS BENS E DÍVIDAS As requerentes informam que o de cujus deixou bens e dívida a serem inventariados, estimados em um montante equivalente a R$ 2.700.000,00. Contudo, conforme mencionado acima, todas as informações acerca deles ainda não são inteiramente conhecidas, pelo que, com fulcro no art. 620, inciso II, do Código de Processo Civil, a inventariante reserva-se no direito de apresentar a descrição dos bens, apresentando os respectivos títulos de propriedade, quando vier a apresentar as Primeiras Declarações. II. DO DIREITO A abertura do presente inventário, pelo rito ordinário, encontra- se garantida pelo art. 610, §1º, do Código de Processo Civil, tendo em vista que, embora os interessados sejam maiores e capazes, não há consenso sobre a partilha. 88 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 1NPJ Apresenta-se em anexo a certidão de óbito do autor da herança, respeitada a exigência do art. 615, parágrafo único, do Código de Processo Civil. A distribuição do pedido na presente data apresenta-se tempestiva, conforme recomenda o art. 611, do Código de Processo Civil. O foro da Comarca de São Paulo/SP mostra-se competente, tendo em vista que corresponde ao último domicílio do autor da herança, em consonância com o que é estabelecido no art. 1.785, do Código Civil, e art. 48, do Código de Processo Civil. Relaciona-se como herdeiros os filhos e a viúva, tendo em vista que esta era casada sob o regime da separação de bens, conforme garante o art. 1.829, inciso I, do Código Civil. A legitimidade da viúva e das herdeiras, ora Requerentes, cujo parentesco é comprovado pelas certidões de casamento e de nascimento em anexo, para pedir a presente abertura do inventário está prevista no art. 616, inciso I e II, do Código e Processo Civil. Assim como está prevista no art. 617, inciso I, do mesmo diploma legal, a legitimidade da cônjuge supérstite em ser nomeada inventariante, já que ela vinha convivendo com o autor da herança quando ele faleceu. III. DOS PEDIDOS Diante de todo o exposto, requer: a) A abertura do respectivo inventário dos bens deixados por Henrique Andrade Lima; b) A nomeação da viúva Helena Soares Rocha Lima, como inventariante, que prestará o compromisso de praticar todos os atos que se fizerem necessários ao bom andamento do presente inventário; c) A citação do herdeiro Rogério Rocha Lima, no endereço mencionado acima - Rua, número, Bairro, Cidade Campinas, 99 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 1NPJ Estado de São Paulo, para que venha integrar a relação processual, habilitando-se como herdeiro e manifestando-se sobre as providências a serem realizadas ao longo do inventário até a partilha final. Dá-se à causa o valor de R$ 2.700.000,00 (dois milhões e setecentos mil reais). Nesses termos, pede deferimento. São Paulo/SP, 15 de maio de 2016. [Assinatura do Advogado] [Número de Inscrição na OAB] 1010 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 1NPJ Perguntas: Questão 01: Em qual situação o inventário judicial é necessário? Resposta: Sempre que existir testamento ou interessado incapaz. Questão 02: Quais os tipos de inventário admitidos pelo CPC? Resposta: (i) Quando há litígio entre as partes, (i.1) será necessário o inventário judicial, previsto no art. 610 a 658, do Código de Processo Civil, apresentando-se como o mais amplo; (ii) quando há consenso entre as partes sobre todas as questões necessárias para defi nição da partilha, podendo se dar por (ii.1) o arrolamento comum, conforme art. 664, do Código de Processo Civil, apropriado para os casos em que a herança não seja superior a mil salários mínimos vigentes à época de abertura da sucessão, independentemente de serem ou não capazes os herdeiros ou de existir testamento; (ii.2.) o arrolamento sumário, disciplinado pelos artigos 659 a 603, do Código de Processo Civil, destinado à arrecadação de bens e deveres independentemente do valor, exigindo-se, contudo, além do consenso entre as partes, que os herdeiros sejam capazes; ou (ii.3) pelo inventário e partilha extrajudicial, a ser feito por escritura pública, permitido pelo art. 610, §1º, do Código de Processo Civil, desde que todos sejam capazes e concordes e que não haja testamento. Deve-se lembrar, ainda, que o art. 666, do Código de Processo Civil, estabelece que independeráde inventário ou de arrolamento o levantamento dos valores previstos na Lei 6.858/1980, dentre eles quantias depositadas em FGTS. Resolução comentada 1111 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 1NPJ Questão 03: Quem tem legitimidade para requerer a abertura do inventário? Resposta: Aqueles previstos no art. 616, do Código de Processo Civil, quais sejam: a) O cônjuge ou companheiro supérstite, independentemente do regime de bens vigente no casamento; b) O herdeiro; c) O legatário; d) O testamenteiro; e) O cessionário do herdeiro ou do legatário; f) O credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança; g) O Ministério Público, havendo herdeiros incapazes; h) A Fazenda Pública, quando tiver interesse; i) O administrador judicial da falência do herdeiro, do legatário, do autor da herança ou do cônjuge ou companheiro supérstite. Vale comentar que não se confunde vocação hereditária com legitimidade para requerer a abertura do inventário. A primeira implica o reconhecimento de quem será chamado a suceder, tendo, portanto, direitos sucessórios sobre aquela herança. Já a segunda diz respeito apenas àquelas pessoas que têm legitimidade para pedir que seja processado o inventário. Questão 04: Onde deve ser aberto o inventário? Resposta: Dispõe o art. 1.785, do Código Civil, que a sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido. Assim, o art. 48, do Código de Processo Civil, especifica que o foro de domicílio do autor da herança no Brasil é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de 1212 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 1NPJ partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. O parágrafo único deste último dispositivo legal ainda prevê que se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente o foro de situação dos bens imóveis; havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes; ou não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio. Questão 05: Qual prazo para abertura e desfecho do inventário? Resposta: O prazo para abertura, de dois meses a contar do óbito, e de desfecho, nos 12 meses subsequentes (conforme art. 611, do Código de Processo Civil), que são dilatórios e impróprios, pelo que não acarretam ônus processual às partes. Mas, é lícita a previsão de multa, pela Fazenda Pública Estadual, em caso de atraso, com amparo no art. 155, I, da Constituição Federal e entendimento exposto na Súmula 542, do Supremo Tribunal Federal. 131313 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 1NPJ
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