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O direito se organiza, se classifica ou se divide pelo campo desti-nado ao seu estudo e aplicação à norma jurídica (lei). O organograma abaixo descreve as referidas classificações mais comuns na doutrina:
direito natural – O direito natural compreende as regras de convi-vência humana que foram estabelecidas pela própria natureza. Para os antigos gregos, havia a crença de que o direito natural se sobrepunha às leis humanas, evidenciando-se esta compreensão na declaração de He-ráclito, quando disse que: “Todas as leis humanas se alimentam de uma, qual seja a divina; esta manda quando quer, basta a todos e as supera”. Os Jusnaturalistas são os que compõem a corrente que defende que o direito esteja ligado a princípios superiores, identificados na natureza racional e social do homem.
direito positivo – O Estado compõe seu ordenamento jurídico através das leis vigentes, as quais representam a vontade do povo em determinada época, por meio de princípios para convivência pacífica. O ordenamento jurídico é, portanto, o conjunto de todas as leis vigentes em um país, compondo assim o seu direito positivo.
direito objetivo – O conjunto de normas impostas pelo Estado que possuem caráter geral (norma agendi), pois obrigam a todos indistinta-mente através da coerção – dever ser. O direito objetivo é assim chama-do por atender ao objetivo do Estado, que é obrigatório, imposto erga omnes através da lei.
direito subjetivo – Enquanto o direito objetivo impõe uma con-duta geral (dever ser), anulando a vontade ou escolha, o direito sub-jetivo (facultas agendi) protege a vontade, permitindo que qualquer pessoa física ou jurídica busque o Estado para impelir outrem a um determinado comportamento, toda vez que houver lesão ou ameaça de lesão a direitos (vinculando-se à vontade do sujeito quanto ao impulso da tutela do Estado).
direito público – Esta classificação é anterior ao Direito Romano; compreende-se do ramo do direito público tudo o que diga respeito à coisa pública (do Estado), deste modo, poderíamos dizer que o direito
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público abrange o estudo do Direito Constitucional, Direito Tributário, Direito Administrativo, Direito Penal e Processual Penal, Direito Inter-nacional, etc.
Direito privado – Se destinam ao ramo do direito privado todos os temas de estudo que não abrangidos pelo direito público, ou seja, aqueles temas que interessam à solução de conflitos entre os particu-lares e grupos sociais. Exemplos: Direito Civil, Direito Comercial ou Empresarial.
1.5	o direito civil
O Direito Civil, por sua vez, orienta, regula e estuda a relação entre os particulares, pessoas físicas ou jurídicas. As relações entre os particula-res é campo do Direito Privado, e divide-se em relações pessoais, familia-res, patrimoniais e obrigacionais, estando disciplinadas no Código Civil, conhecido entre os estudiosos por “constituição do homem comum”.
Diante do que estudamos até aqui, podemos notar que a sociedade requeria muito a organização das leis por meios de códigos, pois se en-tendia que só este seria o caminho para uniformizar as condutas espera-das dos indivíduos pelo Estado. Surge então o fenômeno da codificação, a começar pelo direito civil.
1.6	o fenômeno da codificação
A dinâmica, amplitude e complexidade das relações privadas in-dicavam a necessidade de sua codificação, com vistas a tornar claro e uniforme a aplicação do direito a cada caso concreto.
Francisco Amaral esclarece que o fenômeno da codificação pretendia organizar estruturalmente a disciplina das relações privadas para propor-cionar igualdade e coordenação, pois expressava o racionalismo do direito, que era influenciado naquela época pelo pensamento iluminista, o qual marcou a ciência jurídica da modernidade (séculos XVIII e XIX).
Analisando o processo histórico, é possível identificar a codificação do direito como uma consequência lógica a que se chegou por razões políticas, filosóficas e técnicas daquela época. Regular e sistematizar o tratamento para solução das questões, tanto no âmbito privado quanto público, realmente apontava ser o melhor caminho para criação de uma sociedade melhor, mais justa.
Desse modo, a codificação trazia alguns paradigmas de sua cultu-ra, a saber: a influência iluminista; o racionalismo; o individualismo; a consideração da norma jurídica como comando imperativo lógico-hi-potético do Estado; o desenvolvimento do pensamento sistemático na
Direito Civil
VOCABULÁRIO
Codificação: Processo cultural e histórico oitocentista que re-alizou a ordenação e sistema-tização do direito, proporcio-nando o seu desenvolvimento técnico como ciência jurídi-ca, dada sua uniformização e prescrição abstrata de situa-ções e condutas.
COMENTÁRIO
O Iluminismo, ou Século das Luzes, marcou o início de uma era em que o poder da razão buscou reformar a sociedade, livrando-se dos arcaicos conceitos impregna-dos pela Era das Sombras (Idade Medieval). O conhecimento da natureza passou a ter um objetivo mais claro de utilidade ao homem moderno. Esse movimento cultural do Século XVIII teve impulso na Eu-ropa. Do iluminismo surgiu a ideia de mecanização, organização e controle, que influenciou o direito.
Immanuel Kant foi um grande pensador do iluminismo e contri-buiu muito com o direito por suas obras, das quais destaca-se: “Crí-tica da Razão Pura”. Ele descreve o iluminismo assim:
"O iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram inca-pazes de fazer uso da própria ra-zão independentemente da dire-ção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento mas da falta de re-solução e coragem para se fazer uso do entendimento indepen-dentemente da direção de ou-trem. Sapere aude! Tem coragem pa
O Brasil, no período colonial, era regido pelo sistema jurídico vi-gente em Portugal, quando então vigiam as Ordenações Filipinas1 que tratavam de todos os aspectos jurídicos do país, desde a proclamação da independência em 1822, até o dia 1º de janeiro de 1917, quando entrou em vigor o Código Civil (1916) elaborado pelo jurista Clóvis Beviláqua.
Antes do Código Civil de 1916, a Constituição de 1824 previa a elaboração de um Código Civil, cuja tarefa, de início, fora confia-da ao jurista Augusto Teixeira de Freitas, apresentada sob o nome de “ConSolidação das Leis Civis”2. O referido esboço do Código Civil continha cinco mil artigos e não foi aceito por críticas da comissão revisora, que culminaram em desestimular o jurista a continuar. En-tretanto, o esboço de Teixeira de Freitas influenciou o Código Civil Argentino. Com efeito, somente após a proclamação da República do Brasil (1889) é que foi possível concluir o nosso primeiro Código Civil (1916), por Clóvis Beviláqua, o qual sofreu forte influência da Escola dos Pandectas.
O Código Civil (1916) era precedido por uma pequena lei, a LICC, Lei de Introdução ao Código Civil, que na realidade ao longo de décadas serviu como parâmetro de interpretação de todas as leis brasileiras. Após o texto da LICC, o Código Civil surgia trazendo a parte geral, que apre-sentava princípios gerais aplicáveis aos livros da Parte Especial.
A exposição de motivos do Código Civil (2002) vigente, demonstra os objetivos da lei na ocasião em que o referido Diploma fora publica-do. O direito se realiza, em atenção às necessidades da sociedade de sua época, por isto é imprescindível que quem estuda o direito busque com-preender sua evolução histórica, e sua incidência no espaço e no tempo.
A comissão de juristas foi nomeada em 1967, sob a supervisão de Miguel Reale, sendo que o projeto do Código Civil veio a ser aprova-do somente em 1984, após o cuidadoso debate e estudo de suas 1.063 emendas, apresentando seu texto final consolidado com cerca de 2.046 artigos. Faziam parte da comissão conhecidos e renomados nomes do direito brasileiro, sendo José Carlos Moreira Alves (SãoPaulo) destina-do a escrever sobre a Parte Geral, Agostinho de Arruda Alvim (São Pau-lo), Direito das Obrigações, Sylvio Marcondes (São Paulo), Direito de Empresa, Ebert Vianna Chamoun (Rio de Janeiro), Direito das Coisas,
BRASIL. SENADO FEDERAL. Biblioteca Digital do Senado. Código Philippi-no, ou Ordenações e Leis do Reino de Portugal. Disponível em <http://www2. senado.leg.br/bdsf/handle/id/242733.
BRASIL. SENADO FEDERAL. Biblioteca Digital do Senado. FREITAS, Au-gusto Teixeira de. A consolidação das leis civis. Disponível em <http://www2. senado.leg.br/bdsf/item/id/242360.
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Clóvis do Couto e Silva (Rio Grande do Sul), Direito de Família e Tor-quato Castro (Pernambuco), Direito das Sucessões.
Os juristas buscaram manter a estrutura e as disposições do Código Civil anterior (1916), ajustando aos valores sociais e éticos com atenção à jurisprudência e legislação da época, olhando para o futuro.
Elaborado de modo a facilitar sua compreensão e uso prático, tor-nou-se muito mais didático que o Código Civil de 1916, desligando-se também da visão individualista, que brindava o cunho patrimonialista, inquinando-se a zelar pela socialização e por valorizar mais a dignidade da pessoa humana.
Entre suas características marcantes, enfaticamente citadas na ex-posição de motivos da lei, o Código Civil (2002) buscou unificar o direi-to das obrigações, exclui matéria de ordem processual e adota o sistema de cláusulas gerais, permitindo ao juiz uma margem mais flexível de in-terpretação para proferir suas decisões a cada caso em concreto.
	1.9
	A ESTRUTURA DO CÓDIGO CIVIL
	
	BRASILEIRO
1.9.1. Da Evolução Histórica da Codificação Civil
Observando o quadro abaixo, notamos a evolução histórica da co-dificação civil no Brasil. As Ordenações Filipinas, que regiam Portugal desde 1603, regulavam também o Brasil-Colônia, tratando de aspectos ligados a outras áreas do direito e organização judiciária:
	
	AS ORDENAÇÕES FILIPINAS
	LIVRO I
	Direito Administrativo e Organização Judiciária
	LIVRO II
	Direito dos Eclesiásticos, do Rei, dos Fidalgos e dos
	
	Estrangeiros
	LIVRO III
	O Processo Civil
	LIVRO IV
	O Direito Civil e o Direito Comercial
	LIVRO V
	O Direito Penal e o Processo Penal
É possível identificar sem nenhuma dificuldade o alto grau de dis-tinção que se fazia dos indivíduos, e a consolidação do poder da mo-narquia, no sistema jurídico imposto pelo sistema Brasil-Colonial, pois
Direito Civil
COMENTÁRIO
A	ESCOLA
DAS PANDECTAS
– Na busca de interpretar o di-reito, surgiram várias escolas.
Pandectas era o nome grego que se dava ao Digesto, expressão la-tina que se traduz como “pôr em ordem”, nome do antigo Corpus Juris Civilis, código estabelecido no Direito Romano por Justiniano.
O curioso é que na interpretação jurídica dos casos, a Alemanha passou a admitir a aplicação do direito romano, não através do Legislativo, mas pelo direito con-suetudinário, pela prática comum de aplicação dos juristas, os pan-dectas, que se valiam desse re-gramento para fundamentarem suas decisões e pareceres.
25
CiNEmATECA
“Danton, o pro-cesso da re-volução” (dire-ção de Andrzej Wajda, 1982). O fi lme retrata a situação econô-mica da França,
quatro anos após a Revolução
Francesa.
as leis administrativas, a organização judiciária, os direitos do rei, dos fidalgos, dos estrangeiros e até mesmo os direitos civis, comerciais, o di-reito penal e o processo penal, ficavam sob o seu comando e supervisão.
Conforme já estudamos, por influência da Revolução Francesa, a codificação civil brasileira adotou valores do Estado Liberal, inspirando--se Clóvis Beviláqua na estrutura do Código de Napoleão para constru-ção do nosso Código Civil de 1916. O Código de Napoleão, como co-nhecido ficou o Código Civil Francês (Code Civil des Français), trazia em sua estrutura quatro livros, sendo o primeiro deles um título preliminar que procurava descrever o efeito das leis no espaço tempo:
Code Civil des Français 1804 – Código Civil Francês – Código de Napoleão
	PRELIMINAR
	Arts. 1º a 6º
	Da publicação, dos efeitos e da
	
	
	aplicação das leis em geral
	LIVRO I
	Arts. 7º a 515
	Das pessoas
	LIVRO II
	Arts. 516 a 710
	Dos bens e das modificações da
	
	
	propriedade
	LIVRO III
	Arts. 711 a 2302
	Dos modos de aquisição da
	
	
	propriedade
O Código Civil de 1916, Lei n. 3.071/1916, sob a supervisão do ju-rista Clóvis Beviláqua, sofreu influência do iluminismo, adotando valo-res do Estado Liberal, com um viés burguês e patrimonialista, por força da Revolução Francesa, inspirando-se também no Código de Napoleão, trazia ainda a compreensão oitocentista de que o Código representava o sistema jurídico em completude (fechado). Tinha três pilares: a família, a propriedade e o contrato. Antes do seu texto, era precedido pela LICC
– Lei de Introdução ao Código Civil, uma pequena lei de 21 artigos que identificava o início da vigência, a obrigatoriedade, a integração, a inter-pretação e aplicação das Normas no Tempo e no Espaço:
	
	CÓDIGO CIVIL 1916 – Clóvis Beviláqua
	LICC
	Arts. 1º a 21
	Introdução
	
	PARTE GERAL
	LIVRO I
	Arts. 2º a 42
	Das Pessoas
	LIVRO II
	Arts. 43 a 73
	Dos Bens
	LIVRO III
	Arts. 74 a 179
	Dos Fatos Jurídicos
	
	PARTE ESPECIAL
	LIVRO I
	Arts. 180 a 484
	Do Direito de Família
	LIVRO II
	Arts. 485 a 862
	Do Direito das Coisas
	LIVRO III
	Arts. 863 a 1.571
	Do Direito das Obrigações
	LIVRO IV
	Arts. 1.572 a 1.805
	Do Direito das Sucessões
	
	Arts. 1.806 e 1.807
	Disposições Finais
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Direito Civil
O Código de 1916 teve influência predominantemente francesa (in-dividualismo quanto conteúdo do Código), além da influência germâni-ca (quanto à estruturação formal do Código). No revogado Código Civil havia uma parte geral, tal qual a codificação alemã – BGB (O Código dos franceses não tem parte geral). Aquele Diploma legal adotava a ideia da codificação total, de completude. Deste modo, o Código Civil era uma lei considerada completa, não precisava de leis especiais. Ao analisarmos comparativamente os Códigos Civis de 1916 e 2002, devemos ressaltar suas diferenças, em razão dos momentos históricos de cada século (XIX e XX). Houve a influência também da reforma das situações jurídicas, novos fatores sociais como o advento da Lei do Divórcio (n. 6.515/77); Lei dos Conviventes (n. 9.278/96) e a Lei do Inquilinato (n. 8.245/91). E claro, primordialmente, a Constituição Federal de 1988. Reportando--nos ao Código Civil vigente, este conservou sua estrutura semelhante, tanto na parte geral quanto na especial. Adicionou as obrigações mer-cantis (comerciais) às cíveis. Prestigiou os microssistemas, cedendo a diversas influências do Código de Defesa do Consumidor. No tocante a sua recodificação, prestigiou as matérias e as interpretações consolidadas a partir do Código Civil de 1916.
O Código Civil de 2002 não foi uma obra solo, mas teve a parti-cipação de juristas de diversas regiões do Brasil, que ocuparam dife-rentes papéis como operadores do direito (magistrados, advogados e professores de direito), por conta do notável saber jurídico, houve qua-tro versões iniciais do projeto, publicadas na imprensa oficial (1972, 1973,1974 e 1975).
Sob a supervisão de Miguel Reale, o qual esclareceu que a inicia-tiva de um novo Código Civil não surgiu de repente, mas foi conse-quência de duas tentativas anteriores que já demarcaram as condições que deveriam ser evitadas ou, então, complementadas. Não houve a intenção de unificar o Direito Privado em um só Código, como erro-neamente se pensa; o intento era consolidar e aperfeiçoar o que já era seguido no país. Se refere à superação do Código Comercial de 1850 e às questões comerciais que por ele não eram mais abrangidas, o que força-va os juízes a se socorrerem no Código Civil de 1916, situação que pro-vocou a necessidade de adequaçãoda parte que tratava das obrigações. Então, deixou-se de lado a ideia de fazer um Código das Obrigações em separado, aproveitando o trabalho já desenvolvido naquele sentido pe-los juristas Hahneman Guimarães, Orozimbo Nonato e Philadelpho de Azevedo, desempenhado no anteprojeto do Código das Obrigações; e, depois, do trabalho realizado por Orlando Gomes e Caio Mário da Sil-va Pereira, quando da proposta de elaboração separada de um Código Civil e de um Código das Obrigações, contando com a colaboração, nes-te caso, de Silvio Marcondes, Theóphilo de Azevedo Santos e Nehemias Gueiros. Optar pelo aproveitamento do trabalho já realizado daqueles juristas foi o motivo da alteração da ordem da matéria.
27
Como bem se pode notar, o Código atual, levou em consideração a realidade de uma sociedade de natureza agrária, começando a tratar do Direito de Família, passando pelo Direito de Propriedade e das Obriga-ções, até chegar ao das Sucessões.
CÓDIGO CIVIL 2002 – Miguel Reale
	
	PARTE GERAL
	
	LIVRO I
	Arts. 1º a 78
	Pessoas
	LIVRO II
	Arts. 79 a 103
	Bens
	LIVRO III
	Arts. 104 a 232
	Fatos Jurídicos
	
	PARTE ESPECIAL
	
	LIVRO I
	Arts. 233 a 965
	Direito das Obrigações
	LIVRO II
	Arts. 966 a 1.195
	Direito de Empresa
	LIVRO III
	Arts. 1.196 a 1.510
	Direito das Coisas
	LIVRO IV
	Arts. 1.511 a 1.783
	Direito de Família
	LIVRO V
	Arts. 1.784 a 2.027
	Direito das Sucessões
	Livro Complementar
	Arts. 2.028 a 2.046
	Disposições finais e
	
	
	transitórias
A antiga LICC – Lei de Introdução ao Código Civil, instituída pelo Decreto-Lei n. 4.657/42, por muito tempo serviu como tábua rasa de auxílio a todas as demais normas do direito brasileiro, deixando de se tratar apenas de introdução ao Código Civil. Passou então a ser chama-da de LINDB – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, por alteração legislativa introduzida pela Lei n. 12.376/2010, desaparecendo da parte introdutória do Código Civil novo.
A Parte Geral passou a enunciar os direitos e deveres gerais da pes-soa humana e estabelecer pressupostos gerais da vida civil. Na Parte Es-pecial, disciplina as obrigações que emergem dos direitos pessoais. Pode--se dizer que, enunciados os direitos e deveres dos indivíduos, passa-se a tratar de sua projeção natural, que são as obrigações e os contratos.
O direito obrigacional traz extensa essa disciplina, diante da neces-sidade de tratar as questões já não abrangidas pelo Código Comercial de 1850, unificando as obrigações civis com as obrigações empresariais, termo adotado preferencialmente por Miguel Reale, pois a atividade econômica não se assinalava mais pelos atos de comércio de outrora, tendo uma projeção maior, por relevantes aspectos de natureza indus-trial ou financeira.
Após o Direito das Obrigações, o Código Civil de 2002 trouxe uma parte nova, que é o Direito de Empresa, também no sentido de atender às necessidades de uma norma que pudesse regular situações em que as
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Direito Civil
pessoas se associam e se organizam a fim de, em conjunto, dar eficácia e realidade ao que pactuam. Sem dúvida nenhuma esta foi uma inovação inigualável, por não existir codificação semelhante.
O próximo livro trata do Direito das Coisas, trazendo para o Direi-to Real uma nova forma de identificar o conceito de propriedade, já sob a influência do princípio constitucional, que empresta função social à propriedade, abandonando o conceito burguês anterior em que prima-va o interesse exclusivo do indivíduo, do proprietário ou do possuidor. Concluído o livro do Direito das Coisas, surge o Livro do Direito de Fa-mília, seguido do Livro do Direito das Sucessões. Aqui outro ponto que merece destaque, pois trouxe alteração relevante na estrutura do código, a qual não encontra símile na codificação dos demais países.
A Comissão trabalhou no sentido de buscar preservar e respeitar o trabalho intelectivo do saber jurídico que construiu a estrutura do siste-ma civil, mantendo a mesma disposição da Parte Geral do Código Civil, conquistada desde Teixeira de Freitas, organizando a matéria em coerên-cia lógica com as recentes codificações3.
Excluiu a matéria de ordem processual, restringindo-se apenas aquelas que profundamente ligadas à natureza material.
O Sistema Misto – as Cláusulas Gerais e os Conceitos Vagos
A estrutura ideal de um sistema jurídico dotado de cláusulas gerais é aquela que se admite incompleta, aberta e com mobilidade em cer-tas áreas (novo pensamento sistemático). Para que as cláusulas gerais ocupem sua função, demandam flexibilidade do sistema. Desse modo, o sistema deve ser aberto ou elástico o suficiente para permitir o melhor desempenho de suas cláusulas gerais.
Segundo muitos autores, o Código Civil Brasileiro de 2002 seria ca-racterizado, então, como um sistema misto, eis que constituído por uma parcela de disposições rígidas, por meio das quais o legislador lançou mão do método casuístico, que obriga o aplicador da norma a valer-se do método lógico-subsuntivo, e outra parcela de disposições flexíveis, típicas de um sistema aberto e móvel, possibilitando a incidência de cláusulas gerais.
Adotou a possibilidade do uso das cláusulas gerais e conceitos ju-rídicos indeterminados ou vagos, através da linguagem, como forma de flexibilização do sistema jurídico, dilatando ao juiz a possibilidade de interpretação para aplicação da norma ao caso concreto. Desprendendo-
3. BRASIL, SENADO FEDERAL. Biblioteca Digital do Senado. Quadro com-parativo entre o novo Código Civil e o Código Civil antigo. Disponível em < http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70309/704509.pdf?se-quence=2 > . Acesso em 30 mar. 2015.
29
-se do falso conceito que existia quanto à completude do sistema jurí-dico positivado em Código, a mudança na técnica legislativa, incluindo cláusulas gerais e conceitos vagos, permitiu a abertura ao sistema jurídi-co, tornando-o de fechado em misto, o que quer dizer que não é aberto, mas apenas permite sua abertura quando diante de um caso concre-to aplicável. Esta técnica pós-moderna surgiu das transformações que ocorreram após a Revolução Industrial; diante das enormes mudanças ocorridas na sociedade, não havia mais condições de manter a antiga estrutura tradicional, atendendo muito melhor a integração do sistema jurídico através das cláusulas gerais.
Judith Martins-Costa descreve como a linguagem empregada per-mite que a codificação funcione como um sistema aberto, facilitando a constante incorporação de soluções de novos problemas, pela jurispru-dência ou por atividades de complementação legislativa. A jurista afirma que as cláusulas gerais são como janelas deixadas pelo legislador civil em razão da mobilidade da vida:
“Estas janelas, bem denominadas por Irti de ‘concetti di collegamen-to’, com a realidade social são constituídas pelas cláusulas gerais, técnica legislativa que conforma o meio hábil para permitir o in-gresso, no ordenamento jurídico codificado, de princípios valorati-vos ainda não expressos legislativamente, de standards , arquétipos exemplares de comportamento, de deveres de conduta não previs-tos legislativamente (e, por vezes, nos casos concretos, também não advindos da autonomia privada), de direitos e deveres configura-dos segundo os usos do tráfego jurídico, de diretivas econômicas, sociais e políticas, de normas, enfim, constantes de universos meta-jurídicos, viabilizando a sua sistematização e permanente ressiste-matização no ordenamento positivo.
Nas cláusulas gerais a formulação da hipótese legal é procedida mediante o emprego de conceitos cujos termos têm significado intencionalmente vagos e abertos, os chamados ‘conceitos jurídi-cos indeterminados’. Por vezes, e aí encontraremos as cláusulas gerais propriamente ditas – o seu enunciado, em vez de traçar pontualmente a hipótese e as consequências, é desenhado como uma vaga moldura, permitindo, pela vagueza semântica que ca-racteriza os seus termos, a incorporação de princípiose máximas de conduta originalmente estrangeiros ao corpus codificados, do que resulta, mediante a atividade de concreção destes princípios, diretrizes e máximas de conduta, a constante formulação de no-vas normas”.
A utilização de cláusulas gerais é uma técnica legislativa que per-mite fazer uso de normas formuladas a partir do uso de concei-tos jurídicos indeterminados. A vagueza de conteúdo semântico possibilita a incorporação, no momento da aplicação do direito, de valores filosóficos, sociológicos e econômicos.
30
Segundo Rodrigo Reis Mazzei, existem três espécies de cláusulas ge-rais no Código Civil de 2002:
Cláusulas gerais restritivas – que restringem em certas situações o âmbito de um conjunto de permissões advindas da regra ou prin-cípio jurídico. Por exemplo: a liberdade de contratar está restrita à função social do contrato (CC, art. 421)4;
Cláusulas gerais regulativas – que regulam com base em um prin-cípio, hipóteses de fato ou não previstas em lei. Por exemplo: a re-gulação da responsabilidade civil por culpa (CC, arts. 927 e 943), e
Cláusulas gerais extensivas – que ampliam a regulação jurídica, permitindo a introdução de princípios e regras de outros textos normativos. Por exemplo: O que dispõe o Código de Defesa do Consumidor (artigo 7º)5.
1.9.3. Os Princípios Norteadores do Código Civil
Miguel Reale também se preocupou em dar ao Código Civil de 2002 princípios norteadores básicos, os quais deverão ser sempre observados, por serem considerados valores essenciais, são eles:
Princípio da Eticidade;
Princípio da Socialidade; e
Princípio da Operabilidade.
Quanto à eticidade, procurou-se superar o apego ao formalismo jurídico, conservando as conquistas das técnicas jurídicas (normas ge-néricas ou cláusulas gerais), sem a preocupação com o rigorismo con-ceitual, buscando com ênfase proteger a pessoa humana, priorizando a boa-fé, a justa causa, a equidade e outros critérios éticos. No que tange a sociabilidade, buscou-se afastar o caráter individualista da lei, priman-
Código Civil, art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na con-clusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
Código de Defesa do Consumidor, art. 7º – Os direitos previstos neste Códi-go não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos ex-pedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que de-rivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade. Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.
Direito Civil
JURISPRUDÊNCIA
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
“Neste sentido, NELSON NERY JÚNIOR e ROSA MARIA ANDRADE NERY anotam: “A cláusula geral contida no art. 422 do novo Có-digo Civil impõe ao juiz interpre-tar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como exigência de comportamento leal dos contratantes.” (Código Civil Anotado e legislação extra-vagante, Saraiva, 2ª Edição, 2003, p. 340-341). Apelação Cível n. 1.0024.04.262215-9/001, rel. Des. Tarcísio Martins Costa, j. 6.3.2007).
31
ComENTário
oS TrÊS TiPoS DE DiáLoGoS DAS foNTES:
Para o Ministro João Otávio de Noronha, no entendimento de Claudia Lima Marques, existem três tipos de diálogo das fontes entre o Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor: 1) o diálogo sistemático de coerên-cia – a aplicação simultânea das duas leis; 2) a incidência coorde-nada de duas leis – quando uma lei pode complementar a aplica-ção de outra, conforme o caso concreto, valendo também aos princípios; 3) o diálogo de infl uên-cias recíprocas com uma possível redefi nição do campo de aplica-ção de uma lei. Exemplo: defi ni-
ção de consumidor stricto sensu e a de consumidor equiparado, que pode sofrer infl uência fi nalís-tica do Código Civil.
NORONHA, João Otávio. Cri-se de fontes normativas: Código Civil x Código de Defesa do Con-sumidor. Disponível em <http:// www.editorajc.com.br/2011/10/ crise-de-fontes-normativas-codi-go-civil-x-codigo-de-defesa-do-consumidor-parte-1/>. Acesso em 22 mar. 2015.
do pelo predomínio do social, dos valores coletivos sobre os individuais (surge então a função social nos direitos: posse, contrato, propriedade, etc.). A operabilidade busca as soluções simples que se estabeleçam de modo a facilitar a interpretação e aplicação e dar maior efetividade ao operador do direito. Característica que permeia o Código Civil, tornan-do-o mais didático e prático.
Deste modo, o sistema jurídico misto brasileiro permite que as questões cíveis sejam julgadas conforme cada caso concreto. Isto é possí-vel por conta dos conceitos vagos, que para obterem a melhor aplicação diante de casos em que exista dúvida ou lacuna interpretativa, permite a aplicação das cláusulas gerais, sempre primando por manter o respeito aos princípios norteadores do Código Civil.
Ainda estudaremos, logo adiante, as regras de interpretação da nor-ma jurídica para a correta aplicação do direito em cada caso, por meio da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
As cláusulas gerais do Código Civil, conforme já estudamos, podem ser a) restritivas; b) regulativas e c) extensivas. Ainda com estas categorias em mente, examinemos os artigos 112, 113, 114, 421, 422 e 423 do Có-digo Civil. Tais artigos fornecem critérios interpretativos ao magistrado para que lhe permitam, ao julgar o caso concreto, conservar os princípios da intencionalidade, da probidade e da boa-fé nas relações negociais.
CLÁUSULAS GERAIS DO CÓDIGO CIVIL
	Art.
	Texto
	PALAVRAS-CHAVE
	
	
	
	
	Nas declarações de vontade se atenderá mais
	PRINCÍPIO DA IN-
	112
	à intenção nelas consubstanciadas do que ao
	
	
	
	TENÇÃO
	
	sentido literal da linguagem.
	
	
	
	
	
	
	
	
	Os negócios jurídicos devem ser interpreta-
	PRINCÍPIO DA
	113
	dos conforme a boa-fé e os usos do lugar de
	BOA-­FÉ OBJETIVA E
	
	sua celebração.
	COSTUMES
	
	
	
	
	
	INTERPRETAÇÃO
	114
	Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia
	RESTRITA
	
	interpretam-se estritamente.
	negócios gratuitos,
	
	
	
	
	
	doação e renúncia
	
	
	
	
	A liberdade de contratar será exercida em
	
	421
	razão e nos limites da função social do con-
	FUNÇÃO SOCIAL
	
	trato.
	
	
	
	
	
	Os contratantes são obrigados a guardar
	PRINCÍPIO DA
	
	assim na conclusão do contrato como em
	
	422
	
	PROBIDADE E DA
	
	sua execução os princípios da probidade e da
	
	
	
	BOA-FÉ OBJETIVA
	
	boa-fé.
	
	
	
	
	
	
	
	
	Quando houver no contrato de adesão cláu-
	INTERPRETAÇÃO
	
	sulas ambíguas e contraditórias, dever-se-á
	
	423
	
	BENÉFICA AO MAIS
	
	adotar a interpretação mais favorável ao
	
	
	
	FRACO
	
	aderente.
	
	
	
	
	1.12
	A LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO
	
	DIREITO BRASILEIRO
	
	
1.12.1. A Interpretação da Norma Jurídica
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Lei n. 12.376/2010), antiga Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto-Lei n. 4.657/1942), embora pequena, com apenas dezenove artigos, apresenta diversas regras destinadas a orientar o operador e aplicador do direito:
	
	LINDB
	
	
	Arts. 1º e 2º
	Vigência das normas
	
	
	Art. 3º
	Obrigatoriedade das normas
	
	
	Art. 4º
	Integração da norma
	
	
	Art. 5º
	Interpretação da norma
	
	
	Art. 6º
	Aplicação da norma no tempo
	
	
	Arts. 7º a 19
	Aplicação da norma no espaço
	
	
A LINDB – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro aplica-se na orientação de todas as normas do ordenamento jurídico brasileiro, seja no âmbito Privado ou Público, inclusive no Direito In-ternacional.1.12.2. Prazos para Vigência de Lei
Os prazos para vigência de uma lei são em regra contados a partir da sua publicação oficial.
Ao lapso temporal entre a publicação e a vigência de uma lei cha-mamos de vacatio legis. A vacatio legis é o prazo razoável para que nin-guém alegue a ignorância da lei. Durante a vacatio, a lei existe mas não é obrigatória, contudo para garantir o seu texto integral, será considerada vigente retroativamente desde o dia da sua publicação, após exaurido o lapso da vacatio, conforme esclarece o Art. 8º, § 1º da LC n. 95/98.
O prazo para vigência de uma lei no Brasil é de quarenta e cinco dias após sua publicação oficial. Admitindo exceção, quando o próprio texto de lei expressar disposição contrária. Contudo para vigorar no es-trangeiro, se aceita a lei, o prazo é de noventa dias a partir da publicação oficial.
Toda legislação antes de entrar em vigor passa por um processo, que envolve cinco fases: a) a elaboração; b) a promulgação; c) a publica-ção; d) a vacatio legis; e e) a vigência.
Se vier a ocorrer nova publicação da lei, desde que ainda não te-nha entrado em vigor e mesmo que exclusivamente para correção de meros erros materiais, sua obrigatoriedade ficará condicionada a novo período de vacatio, a contar da última publicação. Se a lei corrigida já
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estava em vigor, será considerada a versão corrigida e última como lei nova (LINDB, Art. 1º, § 4º).
1.12.3. A Revogação da Lei
Não se tratando de lei temporária, a vigência de uma lei permane-ce até que outra a modifique ou revogue, este é o princípio da conti-nuidade das leis.
1.12.4. A Vigência Temporária da Lei
Examinando o Art. 2º, caput, da LINDB é possível verificar que existem dois tipos de leis, as leis de vigência permanente e as leis de vi-gência temporária. Em regra, todas as leis são de vigência permanente. No entanto, serão de vigência temporária quando expressamente delas constar: a) prazo de duração; b) condição resolutiva; ou c) se é alcançada sua finalidade. Nestes casos ocorre a caducidade da norma, quando a circunstância torna a norma sem eficácia.
1.12.5. Da Extensão da Revogação da Lei
A revogação da lei se divide em duas classes, a primeira refere-se à sua extensão e a segunda quanto à forma de execução.
A revogação quanto à I) extensão, pode ser: a) total ou b) parcial. A revogação total, também denominada por ab-rogação, configu-ra-se quando o texto da lei nova sepulta por completo a vigência do
texto anterior, sem qualquer ressalva.
A revogação parcial, também chamada de derrogação, afeta apenas parcialmente a norma anterior, permitindo que ainda vigore parte do texto legal.
Além das duas situações acima, em que temos a perda de eficácia da norma jurídica, cumpre salientar também que o Supremo Tribunal Fe-deral pode afastar vigência das leis que julgar inconstitucionais quando suspensas pelo Senado Federal através do controle difuso de constitu-cionalidade (art. 52 da CF).
Direito Civil
VOCABULÁRIO
revogar: é retirar a eficácia da lei anterior. A lei nova, em re-gra, revoga a lei velha.
ATENÇÃO
A lei temporária, em regra, trará expressamente em seu texto o prazo da sua duração ou da vi-gência integral.
ATENÇÃO
LINDB:
– Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vi-gor até que outra a modifique ou revogue.
– Art. 2º – § 1º – A lei posterior revoga a anterior quando expres-samente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
– Art. 2º – § 2º – A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
– Art. 4º – Quando a lei for omis-sa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
– Art. 5º – Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.
– Art. 2º, § 3º – Salvo disposi-ção em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revo-gadora perdido a vigência.
– Art. 3º – Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.
39
VOCABULÁRIO
antinomia: trata-se de confl i-to de normas. Ocorre quando duas ou mais normas dispõem da mesma matéria. Segundo Maria Helena Diniz, a antinomia pode ser real ou aparente.
lex derogat legi priori: do la-tim, lei posterior revoga a lei anterior.
1.12.6. Da Forma de Revogação da Lei
Quanto à classe de revogação pela forma de II) execução, pode ser: a) expressa ou b) tácita.
A revogação será expressa quando a lei nova descrever de modo expresso que revoga a lei anterior, é o que diz a primeira parte do § 1º do Art. 2º da LINDB.
A revogação de forma tácita exige um maior esforço interpretativo do aplicador da norma, pois a situação pode apresentar uma antino-mia, ou seja, um conflito de normas (antiga e nova), obrigando-o a adotar certos critérios para a sua solução, como explica Maria Helena Diniz (DINIZ, Conflito de normas. 2009):
critério cronológico – lex derogat legi priori
critério hierárquico – lex superior derogat legi inferior, e
critério especial – lex specialis derogat legi generali.
Critério cronológico, lex derogat legi priori, é aplicável quando a lei nova for incompatível com a lei anterior ou regule de modo integral a mesma matéria, como se pode notar da segunda parte do § 1º do Art. 2º da LINDB.
Critério hierárquico, lex superior derogat legi inferiori, prevê a possibilidade de revogação tácita, quando uma lei hierarquicamente in-ferior cuidar de matéria dita por uma lei de maior grau hierárquico. Por exemplo: A Constituição Federal revogou de forma tácita diversas disposições legais de leis infraconstitucionais.
Critério Especial – O critério da especialidade ou critério espe-cial, lex specialis derogat legi generali, prevê que a lei especial prevalece sobre a lei geral, revogando-a. Contudo se a lei nova estabelecer dispo-sições gerais ou especiais, a par das já existentes, não revoga, nem mo-difica a lei anterior. Isto quer dizer que, se a lei nova nada disser sobre a conservação do conteúdo existente em lei anterior, e com aquele texto anterior vier a conflitar sua matéria, poderá ser revogada tacitamente, pela lei especial, ainda que mais velha (critério da especialidade). A co-existência de normas tratando do mesmo assunto é possível, desde que não exista entre elas incompatibilidade. Quando esta surgir, competirá ao aplicador da norma aplicar os critérios para afastar a antinomia.
1.12.7. As Antinomias
Os conflitos de normas, que recebem o nome de antinomias, pos-suem então três critérios para sua solução, conforme já estudamos no que era tratado quanto à revogação tácita da norma. Os critérios cro-nológico, hierárquico e especial obedecem a mesma lógica já exposta. A antinomia aparente é um conflito que se resolve pelos critérios de modo simples, não trazendo maiores dificuldades. Enquanto a antinomia real não se resolve tão somente pela aplicação dos critérios, sendo necessário aplicar a técnica de integração para lacunas da lei. A antinomia será de
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primeiro grau, quando um critério for suficiente à resolução do conflito e de segundo grau quando envolver mais outro.
1.12.8. A Repristinação da Lei
A repristinação da lei é o fenômeno que permitiria devolver o esta-do anterior de vigência de uma lei já revogada. Embora nosso ordena-mento não permita que uma lei revogada restaure sua vigência, se a lei nova fizer expressa menção à lei revogada (note o art. 2º, § 3º, o qual diz "salvo o contrário...") para que o efeito repristinatório se aplique, isto será possível.
1.12.9. A Obrigatoriedade das Normas
A vacatio legis, que se inicia com o período de publicação de uma lei, após seu longo trâmite legislativo, tem a função de dar amplo conhe-cimento da lei, sendo que a partir de sua vigência a lei opera erga omnes Como se percebe, não se pode alegarignorância da lei, pois ela possui eficácia global, pelo princípio da obrigatoriedade. Entretanto, de acordo com Rene Gustavo Nicolau, quando excepcionalmente em casos nos quais a ignorância ou errônea compreensão da lei ocorrer, poderá a pena deixar de ser aplicada, nos moldes do que dispõe o Art. 8º do DL n. 3.688/41 (Lei das Contravenções Penais). Exemplo: emissão de fumaça
que impede o motorista de ver a placa de trânsito ou semáforo.
1.12.10. Da Integração da Norma Jurídica
Conforme pudemos observar, o sistema jurídico para solução dos conflitos judiciais privados é misto sendo, portanto, possível o uso das técnicas legislativas de integração da norma jurídica. Estudamos a apli-cação das cláusulas gerais e dos conceitos jurídicos indeterminados, além da influência dos princípios constitucionais (princípio da dignidade da pessoa humana, princípio da solidariedade e princípio da isonomia), da função social e dos princípios norteadores do Código Civil (eticidade, socialidade e operabilidade), para auxílio do magistrado na decisão do caso concreto.
Nosso ordenamento jurídico não permite ao juiz invocar a cláusula non liquet, deste modo, está o magistrado obrigado a julgar todos os pedidos que receber, ainda que não exista norma jurídica que discipli-ne a matéria. Caso não exista norma (lacuna) ou persistindo dúvida, o sistema se abre para que o aplicador lance mãos das técnicas de integra-ção da norma, até que, após ponderar, decida, julgando o caso concreto. Desse modo, o juiz cria através de seu julgamento a norma para aquele caso, colmatando a lacuna, afastando o conflito, e a coisa julgada, quan-do emergir, fecha o sistema em relação àquela disputa específica.
A atividade de interpretação das normas jurídicas se destina a for-necer ao juiz subsídios para auxiliá-lo no julgamento da causa, mesmo quando estiver diante de uma lacuna da lei ou de um conflito de normas.
Direito Civil
VOCABULÁRIO
Non liquet, do latim, não está claro. A cláusula non liquet era muito comum no período do Estado Liberal, em que se acreditava que o ordenamen-to jurídico se resumia no direito positivado. Era invocado pelos juízes de tribunais para que es-tes pudessem deixar de julgar quando um caso trouxesse questões obscuras ou sem disci-plina clara na lei. Esta cláusula foi afastada do ordenamento brasileiro.
4
A PERSONALIDADE JURÍDICA
Ao desempenho deste papel na sociedade, que permite à pessoa humana ser sujeito de direitos e obrigações ou deveres, chamamos de personalidade civil ou jurídica.
A personalidade civil ou jurídica é a aptidão genérica para ser su-jeito de direitos e deveres, aptidão esta que poderá ser exercida a partir do seu nascimento com vida2 e dura até a sua morte. O simples fato de nascer, constatado pela oxigenação de seus pulmões, é suficiente a lhe garantir a personalidade jurídica. Contudo, ainda que não nascido, mas concebido, vivo e aguardando nascimento no ventre materno, garan-te-lhe o Estado a proteção da personalidade jurídica, pela qualidade de nascituro, ser humano concepto.
A existência de vida humana, ainda que em estado uterino, é o fato jurídico que torna o ser apto a ser considerado sujeito de direitos e obri-gações na ordem civil. Tal aptidão da pessoa natural abre condições para que se estabeleçam as relações jurídicas com outros seres semelhantes a si mesmo (sociedade).
A NATUREZA JURÍDICA DO NASCITURO
O nascituro é o ser já concebido, aquele que está por nascer. Nas-cituro é o ser humano em estágio fetal que se mantém vivo e ligado à sua mãe, aguardando que ela lhe dê à luz. A potencialidade do seu nas-cimento com vida deve ser certa, fato que pode ser constatado através de exames médicos. Não se deve confundir com nascituro, o natimorto, pois enquanto o primeiro permanece vivo com a expectativa de vida
Código Civil, Art. 1º – Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.
Código Civil, Art. 2º – A personalidade civil da pessoa começa do nascimen-to com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
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fora do útero, este último já se acha morto, embora ainda ligado ao útero materno. O natimorto não tem expectativa de deixar o útero materno com vida, pois o óbito ocorre durante o seu período gestacional.
Descreve claramente o Art. 2º do Código Civil que: “A personalida-de civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.”
Como se pode notar pela nossa atual lei civil, a condição de nas-cituro é que marca o início à aquisição da personalidade civil ou jurí-dica das pessoas naturais, mas o fato da concepção também é relevante ao direito. Pois em torno destas peculiaridades, que tornam complexa a resolução da questão quanto à personalidade jurídica do nascituro, a doutrina desenvolveu algumas teorias, das quais aqui descreveremos as três mais recorrentes:
a)	TEORIA NATALISTA OU NATIVISTA
A teoria natalista ou nativista defende que o ser humano adquire personalidade civil ou jurídica somente a partir do seu nascimento com vida, antes disto o que se tem é mera expectativa de direito. Esta teo-ria está incorporada ao Direito Civil brasileiro desde o Código Civil de 1916, na ocasião defendida por Silvio Rodrigues, Caio Mario da Silva Pe-reira, Vicente Ráo e Eduardo Espínola. Para os natalistas o feto enquanto não nascido é apenas uma extensão do corpo de sua mãe.
Esta teoria também foi adotada em parte pelo Supremo Tribunal Federal, ao julgar o emblemático caso das células-tronco embrionárias. Quando do julgamento da Ação Declaratória de Inconstitucionalidade n. 3.5103, o então Ministro Ayres Brito consignou que a Constituição Federal de 1988 se refere sempre a dignidade da pessoa humana e aos direitos da pessoa humana, bem como aos direitos e garantias individu-ais. No entendimento do Excelentíssimo Ministro, ao lidar com referidas terminologias o Legislador Constituinte teria deixado claro se tratar de direitos do indivíduo-pessoa; deste modo, não haveria dúvidas de que a intenção era proteger um estágio da vida humana, mas a vida que já é própria de uma pessoa concreta, ou seja, de um indivíduo já persona-lizado. Tal expectativa, segundo o Ministro Ayres Brito, não se aplicaria aos embriões excedentários (dos quais seriam colhidas as células-tronco para fins de pesquisa), pois ainda não chegaram a ser inseminados no útero materno. Concluiu assim o STF que somente se poderia consi-derar pessoa humana aquele ser humano concepto, alimentado e vivo intrauterinamente. Com este entendimento, o STF afastou o entendi-mento narrado pela teoria concepcionista.
Como se pode observar, para os natalistas ou nativistas, a lei apenas protege os direitos que o nascituro adquirirá quando nascer com vida,
3. BRASIL, STF. Adin n. 3510. Disponível em <http://www.stf.jus.br/portal/ge-ral/verPdfPaginado.asp?id=611723&tipo=AC&descricao=Inteiro%20Teor%20 ADI%20/%203510>. Acesso em 30 mar 2015.
Direito Civil
COMENTÁRIO
Conforme Maria Helena Diniz, no direito civil francês e holandês não basta o nascimento com vida; é necessário que o recém--nascido seja viável, isto é, apto para a vida. O direito espanhol exige que o recém-nascido deve ter a forma humana e viver pelo menos 24 horas, para que possa adquirir a personalidade. No direi-to português, se condicionava à vida à figura humana. No argen-tino e húngaro, a concepção já dá origem à personalidade. No direito civil brasileiro, afastaram-se todas estas hipóteses para evitar dúvidas, condicionando ao nasci-mento com vida (DINIZ, Maria He-lena. Curso de Direito Civil Brasilei-ro, Teoria Geral do Direito, 1º Vol. 22ª Ed. Saraiva, p. 191-192).
CURIOSIDADE
Células-
-tronco são células com capacidade de regene-ração, ca-
pazes de originar tipos especia-lizados de células, que formam diferentes tecidos do corpo hu-mano. As células-tronco embrio-nárias são as células-tronco dos embriões que excedem (embri-ões excedentários) às tentativasde inseminação artificial. O STF foi confrontado a decidir se permitia ou não o uso das células-tronco embrionárias dos embriões fecun-dados que se encontravam con-gelados em laboratórios. A Lei de Biossegurança estava em ques-tão, para se saber se haveria vida humana digna de proteção na-queles embriões, ou se poderiam ser utilizados para a pesquisa.
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ATENÇÃO
I JORNADA DE DIREITO CIVIL Enunciado n. 1
Art. 2.º: a proteção que o Có-digo defere ao nascituro alcan-ça o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura.
sendo estes descritos de modo restrito (direito à vida, direito à herança, posse).
b) TEORIA CONCEPCIONISTA
Para os concepcionistas, é possível o ser humano adquirir a per-sonalidade civil ou jurídica desde a concepção, ou seja, antes de nascer. A lei ressalva em seu benefício alguns direitos patrimoniais originados de herança, doação ou legados, os quais ficarão condicionados ao seu nascimento com vida. Ao contrário do que presume a teoria da perso-nalidade condicional.
Existem diversas situações que demonstram conceder direitos da personalidade ao nascituro enquanto concepto, os quais passaremos a elencar alguns: 1) o direito ao reconhecimento de paternidade4; 2) o di-reito à curatela5; 3) ser donatário6; 4) ter o direito à herança7; 5) direito à vocação hereditária por indicação em testamento (prole eventual)8;6) direito à indenização9; 7) direito aos alimentos10; 8) proteção criminal quanto à vida, entre outros11.
São inúmeros os casos concretos através dos quais podemos no-tar que o posicionamento da lei e da jurisprudência dão o sentido de que o nascituro tem o direito da personalidade jurídica ou civil reco-
Código Civil, Art. 1.609 – O reconhecimento dos filhos havidos fora do casa-mento é irrevogável e será feito: I – no registro do nascimento; II – por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório; III – por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; IV – por manifestação direta e expres-sa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém. Parágrafo único. O reconhecimento pode pre-ceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes.
Código Civil, Art. 1.779 – Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando grávida a mulher, e não tendo o poder familiar.
Código Civil, Art. 542 – A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal.
Código Civil, Art. 1.798 – Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.
Código Civil, Art. 1.799 – Na sucessão testamentária podem ainda ser cha-mados a suceder: I – os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão;
CONJUR. STJ concede indenização para nascituro por danos morais. Dis-ponível em <http://www.conjur.com.br/2008-jun-19/stj_concede_indeniza-cao_nascituro_danos_morais>. Acesso em 31 mar 2015.
Lei de Alimentos Gravídicos. Lei n. 11.804/2008, Art. 6.º – Convencido da existência de indícios da paternidade, o juiz fixará alimentos gravídicos que perdurarão até o nascimento da criança, sopesando as necessidades da parte autora e as possibilidades da parte ré. Parágrafo único. Após o nascimento com vida, os alimentos gravídicos ficam convertidos em pensão alimentícia em favor do menor até que uma das partes solicite a sua revisão.
Código Penal, Art. 124 – Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
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Direito Civil
nhecido pelo simples fato de ter sido concebido. E ainda que não fos-se nascituro, se estivesse morto no útero materno (natimorto), ainda assim possuiria o resguardo de alguns direitos da personalidade (nome, imagem e sepultura).
c)	TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL
Embora concorde que a personalidade jurídica do nascituro se ini-cie a partir da concepção, a teoria da personalidade condicional, conhe-cida como teoria mista, apresentada pela jurista Maria Helena Diniz, entende que a personalidade do nascituro assume uma condição sus-pensiva. Tal condição suspensiva ficaria condicionada ao nascimento com vida do nascituro para sua implementação, e, nascendo este com vida, retroagiriam os efeitos da personalidade jurídica desde a concep-ção. Para esta teoria, o nascituro é uma “pessoa condicional”, e por este motivo a lei lhe garante expectativas de direitos, que dependem do seu nascimento com vida para que se convalidem.
Deste modo, os direitos patrimoniais do nascituro na teoria da per-sonalidade condicional devem ficar resguardados por seu curador até o seu nascimento com vida, enquanto os direitos da personalidade são tutelados desde a concepção.
Concluído o estudo quanto à natureza jurídica e as teorias da per-sonalidade do nascituro, observamos que se torna sujeito de direitos e deveres a pessoa natural, que é o ser humano que nasce com vida ou enquanto concepto for representado.
2.3.1. A Capacidade Civil e suas Classificações
Para que o sujeito de direitos possa exercer os poderes inerentes à personalidade jurídica ou civil, necessita do que o direito chama de ca-pacidade civil. Chamamos de capacidade civil, ou capacidade jurídica, a medida ou proporção do exercício da personalidade jurídica de cada pessoa, que pode ser classificada em: a) capacidade de direito; b) capaci-dade de fato; c) capacidade plena; ou d) capacidade limitada.
Capacidade de direito é a capacidade que todas as pessoas pos-suem, não sendo necessário o implemento de nenhuma condição para aquisição ou gozo de direitos, basta nascer com vida para possuir capa-cidade de direito;
Capacidade de fato exige uma aptidão descrita na lei, é aquela que se adquire quando atingida a maioridade civil, aos dezoito anos de idade completos, ou por escritura de emancipação, passando a poder exercer por si mesmo todos os atos da vida civil;
Capacidade plena se identifica presente quando a pessoa possui tanto a capacidade de direito quanto a de fato ao mesmo tempo;
Capacidade limitada se dá quando uma pessoa possui a capa-cidade de direito, mas não possui a capacidade de fato.
Como podemos notar, a capacidade civil está ligada à personalidade jurídica e garante à pessoa o exercício de direitos e obrigações na ordem
51
civil. Contudo, sua ausência também provoca efeitos no ordenamento jurídico, configurando restrições ao exercício de tais poderes, sendo ne-cessário identificarmos suas hipóteses de incidência.
	2.4
	A INCAPACIDADE. AS RESTRIÇÕES DE
	
	DIREITO
A incapacidade nada mais é do que a restrição ao exercício dos direitos e obrigações da pessoa, e pode ser classificada em: a) absoluta ou b) relativa.
Incapacidade absoluta: A prática de um ato por pessoa abso-
lutamente incapaz acarreta a sua nulidade12, pois se trata de proibição total. Desse modo, para que o absolutamente incapaz possa praticar algum ato civil, ele deverá ser representado por outra pessoa capaz. São absolutamente incapazes aqueles descritos no Art. 3.º do Código Civil.
Incapacidade relativa – A lei permite aos relativamente capa-
zes13 que pratiquem os atos da vida civil, desde que assistidos; se pra-ticarem atos sozinhos, o ato será anulável. São relativamente incapazes aqueles elencados no Art. 4.º do Código Civil.
	2.5
	O SUPRIMENTO E A CESSAÇÃO DA
	
	INCAPACIDADE CIVIL
	
	
2.5.1. Cessação da Incapacidade Civil
A incapacidade civil cessará de modo natural quando a pessoa adquirir a maioridade civil, completando dezoito anos14, a partir de quando exercerá a capacidade civil de fato e de direito (capacidade civil plena).
Código Civil, Art. 3.º – São absolutamente incapazes de exercer pessoal-mente os atos da vida civil: I – os menores de dezesseis anos; II – os que, por en-fermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimentopara a prática desses atos; III – os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
Código Civil, Art. 4.º – São incapazes, relativamente a certos atos, ou à ma-neira de os exercer: I – os maiores de dezesseis anos e menores de dezoito anos; II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III – os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV – os pródigos. Parágrafo único – A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.
Código Civil, Art. 5.º – A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
52
Direito Civil
2.5.2. Suprimento da Incapacidade Civil
O suprimento da incapacidade civil ocorrerá por meio da emanci-pação, sendo que existem três formas de emancipar a capacidade civil da pessoa natural: a) Emancipação voluntária; b) Emancipação judicial; e c) Emancipação legal.
A) EMANCIPAÇÃO VOLUNTÁRIA
Esta emancipação ocorre quando os pais, por ato voluntário, reco-nhecem que o filho adquiriu maturidade suficiente para zelar por sua pessoa e suas posses, seus bens, não necessitando mais da proteção pelo Estado na qualidade de incapaz. Esta espécie de emancipação exige que os pais sejam titulares do poder familiar e é ato unilateral de cada um deles, lavrado obrigatoriamente por escritura pública, produzindo efei-tos apenas após o registro15. Se um dos pais discordar, deverá se buscar a outorga daquele que se nega por suprimento judicial16.
B) EMANCIPAÇÃO JUDICIAL
Quando completados dezesseis anos, torna-se possível a emancipa-ção da pessoa natural, desde que ouvido o tutor em favor do tutelado17. Também condicionada a escritura pública e registro para produzir efei-tos (CC, Art. 9º, II).
C) EMANCIPAÇÃO LEGAL
A lei descreve determinados fatos em a pessoa natural supre sua in-capacidade civil: a) casamento; b) exercício de emprego público efetivo; c) colação de grau em curso de ensino superior; e d) abertura de estabe-lecimento civil ou comercial ou relação de emprego, desde que possua economia própria. Independe de escritura pública e registro, surtindo efeitos a partir do dia do fato jurídico.
2.5.3. Extinção da Personalidade Jurídica
Extingue-se a personalidade jurídica da pessoa natural quando esta vier a morrer. A morte da pessoa natural pode ser real ou presumida.
Código Civil, Art. 9º – Serão registrados em registro público: I – os nasci-mentos, casamentos e óbitos; II– a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz;
Código Civil, Art. 1.631 – Durante o casamento e a união estável, compete o poder familiar aos pais; na falta ou impedimento de um deles, o outro o exercerá com exclusividade. Parágrafo único. Divergindo os pais quanto ao exercício do poder familiar, é assegurado a qualquer deles recorrer ao juiz para solução do desacordo.
Código Civil, Art. 5º – A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independente-mente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
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VOCABULÁRIO
morte cerebral ou encefálica: quando por laudo médico, atesta-se que a atividade neu-ral da pessoa não possui mais condições de reagir.
A morte real ocorre quando cessam as atividades cardíacas ou res-piratórias da pessoa, ou quando se dá a morte cerebral ou encefálica.
A personalidade jurídica da pessoa natural também se extingue quando ocorre a morte presumida, a qual estudaremos logo à frente, após o instituto da ausência.
	2.6
	O NOME CIVIL, O ESTADO CIVIL E O
	
	DOMICÍLIO CIVIL
	
	
Os Modos de Individualização da Pessoa
Natural
Para que o sujeito de direitos e deveres seja identificável, torna-se imprescindível que exista segurança quanto aos modos pelos quais ele poderá ser encontrando na sociedade. Os principais elementos de indi-vidualização da pessoa natural são: a) o nome civil; b) o estado civil; e c) o domicílio civil.
2.6.2. O Nome Civil
Conforme já estudamos, o homem é um ser gregário, e por ne-cessitar viver em sociedade torna-se imprescindível que seja possível a individualização para identificar a cada pessoa como titular de direitos e deveres na sociedade. Os elementos fundamentais de individualização do homem civil, são o nome, o estado civil e o domicílio.
Toda pessoa natural tem direito à identidade civil, e o nome civil ocupa o relevante papel de tornar cada pessoa um ser único, inte-grando ao nome civil sua personalidade pessoal, que permanece viva durante toda sua existência, e, após a morte, indicando suas origens e família. O nome civil é um direito da personalidade da pessoa natural.
2.6.3. A Classifi cação do Nome Civil
A identidade civil, segundo Silmara Juny Chinellato, logo se per-cebe pelo nome civil da pessoa natural, e se divide ou se classifica em: pessoal, familiar e profissional, sendo que no âmbito pessoal o nome civil tem grande relevância, pois é considerado entre os povos mais pri-mitivos como sendo um direito natural. O nome civil é composto por duas partes, sendo mencionado pelo Código Civil (Código Civil, Lei n. 10.406/2002) em “prenome” e “sobrenome”18.
O direito ao nome é o primeiro da personalidade e tem garantia constitucional. A República Federativa garante aos nascidos no Brasil o
18. Código Civil, Art. 16 – Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendi-dos o prenome e o sobrenome.
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Direito Civil
nome como identidade civil, isentando de custo o seu registro de nasci-mento, obrigando os familiares a efetuarem esse documento.
Antes de concluirmos de modo visual a classificação sugerida por Silmara Juny Chinellato, conforme descrito acima (pessoal, familiar e profissional) vamos estudar a composição do nome como meio de iden-tidade civil da pessoa natural.
2.6.4. A Composição do Nome Civil
A identificação civil possui como principal finalidade dar seguran-ça jurídica à sociedade, na medida em que não deixa dúvidas quanto à pessoa natural, facilitando desse modo ao Estado punir os autores de crimes, bem como aos terceiros interessados (credores), promoverem ações judiciais para tutelar e salvaguardar os seus interesses.
O nome civil é regido pelo princípio da imutabilidade, o que im-plica concluir de modo geral que o sistema jurídico não admite requeri-mentos de mudança do nome, sem uma justificativa legal plausível, em casos excepcionais, como veremos neste estudo.
A composição do nome obedece, portanto, a um padrão preestabe-lecido no direito civil. É composto de duas partes distintas: o prenome e o sobrenome.
O prenome ou nome próprio é o primeiro nome que a pessoa pos-sui, aquele que é dado ao nascer por escolha dos seus pais. Por exemplo: José da Silva, prenome: José. O prenome pode ser simples ou composto; no exemplo referido o prenome é simples, pois só existe uma palavra para indicar o prenome; quando houver mais de uma palavra, teremos o prenome composto. Por exemplo: José Carlos da Silva, prenome: José Carlos.
É importante frisar que na escolha do nome pelos pais, a Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/73) proíbe que se utilizem de nomes pejorativos, vexatórios ou ridículos19.
Sobrenome, cognome ou patronímico transmitido na identificação do parentesco José da Silva, sobrenome: da Silva.
é o apelido de família, sucessório. Por exemplo:
Além destes nomes, temos ainda outros que auxiliam a composição do nome e maior certeza na identidade civil, são eles o agnome e o nome
vocatório.
19. Lei n. 6.015/73, Art. 55. Quando o declarante não indicar o nome comple-to, o oficial lançará adiante do prenome escolhido o nome do pai, e, na falta, o da mãe, se forem conhecidos e não o impedir a condiçãode ilegitimidade, salvo reconhecimento no ato. Parágrafo único. Os oficiais do registro civil não registrarão prenomes suscetíveis de expor ao ridículo seus portadores. Quan-do os pais não se conformarem com a recusa do oficial, este submeterá por es-crito o caso, independente da cobrança de quaisquer emolumentos, à decisão do Juiz competente.
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JURISPRUDÊNCIA
Boletim Informativo n. 245 do STJ
TERCEIRA TURMA
RETIFICAÇÃO. REGISTRO CIVIL.
A jurisprudência deste Supe-rior Tribunal autoriza a alteração do nome civil quando o nome que a pessoa deseja adotar é aquele pelo qual ela é conhecida no seu meio social ou quando a pessoa quer acrescer ou excluir sobre-nome de genitores ou padrastos.
Na espécie, o recorrente não é conhecido no meio social pelo prenome que pretende acrescer. Ademais, o Tribunal a quo reco-nheceu, com base nas provas, que o recorrente não se expõe a circunstâncias vexatórias e de constrangimento em razão de ho-mônimos existentes. Assim a Turma não conheceu do recurso. Prece-dentes citados: REsp 538.187-RJ,
DJ	21/2/2005;	REsp	146.558-PR,
DJ 24/2/2003; REsp 213.682-GO,
DJ	2/12/2002;	REsp	284.300-SP,
DJ 9/4/2001, e REsp 66.643-SP, DJ
9/12/1997. REsp 647.296-MT, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em
3/5/2005.
O agnome serve para diferenciar os membros da mesma família que possuam o mesmo nome; eles são inseridos ao final da composição nominal sob a referência de: Filho, Júnior, Neto, Sobrinho, ou ainda por números ordinais: Primeiro, Segundo, Terceiro, etc. Por exemplo: José da Silva Júnior, agnome: Júnior.
O nome vocatório ou profissional é a abreviação do nome com-pleto da pessoa, que visa facilitar a identificação. Por exemplo: Marco Aurélio Mendes de Farias Mello, vocatório: Marco Aurélio (Ministro do STF). Não se deve confundir o nome vocatório ou profissional com alcunha ou apelido, estes últimos são conhecidos como variações de cognome, que são formas pejorativas ou afetivas de se identificar uma pessoa.
2.6.5. Da Alteração do Nome Civil
A regra geral que subsiste quanto à alteração do nome civil, como vimos, baseia-se no princípio da imutabilidade do nome civil. Contudo, este princípio não é absoluto. A possibilidade de alteração do nome ci-vil mostra-se viável quando demonstrado de modo claro e específico o motivo que fundamenta o pedido. De acordo com a orientação do Supe-rior Tribunal de Justiça, a motivação para alteração do nome é legítima quando a pessoa: a) deseja acrescer ou excluir sobrenome de genitores ou padrastos; b) é conhecida no meio social por outro prenome, o qual pretende acrescer, ou c) provar que esteja sofrendo constrangimentos ou situações ridicularizantes por homônimo depreciativo . Em tais hi-pótese, a lei autoriza a modificação do nome civil, o que quanto à forma pode se dar pela via administrativa ou judicial.
Observamos, então, que apenas nos casos excepcionais, como estu-daremos adiante, a jurisprudência prefere sempre que ocorra o acrésci-mo de um prenome ou sobrenome, mantendo-se os demais existentes, raríssimas vezes excluindo, e substituindo quando necessário. Em todas as situações, após demonstrada a efetiva motivação necessária no âmbi-to administrativo ou judicial.
2.6.6. Da Modificação Administrativa
A Lei de Registros Públicos identifica algumas situações nas quais é possível iniciar administrativamente o pedido de alteração do nome pelo próprio interessado ou procurador por meio de requisição direta ao Oficial do Cartório do Registro Civil onde foi registrado o seu nasci-mento, independentemente do pagamento de selos e taxas.
a) Maioridade civil – Ao completar os dezoito anos (maioridade civil) e até o último dia antes de completar dezenove é possível a pes-soa natural requerer a alteração do seu nome diretamente ao Oficial do Cartório do Registro Civil. Esta é a única possibilidade imotivada de alteração do nome civil. O pedido administrativo poderá ser atendido desde que não prejudique os apelidos da família, como descreve a Lei
56
Direito Civil
de Registros Públicos20. Nesta oportunidade o interessado pode pedir a inclusão ou a exclusão do nome de genitores ou padrastos.
Interessante decisão do Superior Tribunal de Justiça, sobre a refe-rida questão, flexibilizou o princípio da imutabilidade do nome civil, permitindo a um filho abandonado por seu pai, adotar o sobrenome da avó que o criou desde a infância. O Tribunal de Justiça de São Paulo ha-via negado o pedido com base no artigo 56 da Lei de Registros Públicos, entendendo que haveria prejuízo ao apelido de família paterno. Entre-tanto, a decisão foi reformada pelo STJ, pois não haveria modificação na sua filiação, tão somente seria alterado o seu nome civil, além de evitar o constante sofrimento de recordar angústias vividas na infância toda vez que mencionar seu nome civil.
b) Erros aparentes de grafia – Desde que visivelmente tenha ocor-rido um erro na posição das letras do nome, ou a inserção ou escrita er-
20. Lei n. 6.015/73, Art. 56 – O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil, poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde que não prejudique os apelidos da família, averbando-se a altera-ção que será publicada na imprensa.
COMENTÁRIO
Filho abandonado poderá trocar sobrenome do pai pelo da avó que o criou.
No recurso julgado pela Terceira Turma, o rapaz sustentou que a decisão violou o artigo 56 da Lei 6.015/73, já que estariam presentes todos os requisitos legais exigidos para a alteração do nome no pri-meiro ano após ele ter atingido a maioridade civil. Argumentou, ainda, que não pediu a modificação da sua paternidade no registro de nascimento, mas somente a exclusão do sobrenome do genitor, com quem não desenvolveu nenhum vínculo afetivo.
Posição flexível
Citando vários precedentes, o ministro relator, Paulo de Tarso Sanseverino, ressaltou que o STJ tem sido mais flexível em relação à imutabilidade do nome civil em razão do próprio papel que o nome de-sempenha na formação e consolidação da personalidade.
Para o relator, considerando que o nome é elemento da personalidade, identificador e individu-alizador da pessoa na sociedade e no âmbito familiar, a pretensão do recorrente está perfeitamente justificada nos autos, pois, abandonado pelo pai desde criança, foi criado exclusivamente pela mãe e pela avó materna.
“Ademais, o direito da pessoa de portar um nome que não lhe remeta às angústias decorrentes do abandono paterno e, especialmente, corresponda à sua realidade familiar, parece sobrepor-se ao interesse público de imutabilidade do nome, já excepcionado pela própria Lei de Registros Públicos” – ressaltou o ministro em seu voto.
Ao acolher o pedido de retificação, Sanseverino enfatizou que a supressão do sobrenome paterno não altera a filiação, já que o nome do pai permanecerá na certidão de nascimento. A decisão foi unânime.
Número do recurso omitido por segredo de Justiça.
Fonte: STJ. Filho abandonado poderá trocar sobrenome do pai pelo da avó que o criou. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/noticias/noticias/Filho-abandonado-poderá-trocar-so-brenome-do-pai-pelo-da-avó-que-o-criou>. Acesso em 20 mar. 2015.
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CURIOSIDADE
CASO ANTERIOR À MODIFICAÇÂO
DA LEI DE REGISTROS PÚBLICOS
Em meados de 1995 e 1996, uma propaganda veiculada em todo o Brasil pelo Ministério da
Saúde na televisão em combate à AIDS, popularizou o nome de Bráulio.
A LRP ainda não tinha sido modifi cada pela Lei n. 9.807/99, obrigando o interessado na modi-fi cação do nome ir à Justiça.
O jornalista Bráulio de S., foi aos tribunais e obteve a modifi ca-
ção do nome para Cláudio Lira, em virtude da popularização na-cional do seu nome, que o colo-cou em situação constrangedora, vexatória, expondo-o ao ridículo. (JTJ – Lex 204/136, Rel. Osvaldo
Caron)
rônea (troca do L pelo R, por exemplo: Cráudia, quando o correto seria Cláudia), inversão ou outros erros aparentesno nome civil, é possível a requisição administrativa de sua correção. A Lei de Registros Públicos requer apenas que seja possível a imediata constatação do erro na grafia do nome para ser possível o pedido21, o qual será corrigido pelo Oficial do Cartório de ofício, após manifestação do Ministério Público pelo rito sumaríssimo.
2.6.7. Da Modificação Judicial
Nomes ridículos, exóticos ou vexatórios – Como já mencio-nado nesta obra, a Lei de Registros Públicos proíbe aos pais escolherem para seus filhos nomes ridículos, vexatórios, que os exponham ao ri-dículo (LRP, Art. 55, parágrafo único). Contudo, caso tenham surgido nomes atribuídos à pessoa, que a exponha a tais circunstâncias, poderá ela requerer a alteração, demonstrada a motivação pela via judicial.
Vítimas, réus delatores ou testemunhas de crimes – Admite--se a mudança do nome em proteção às testemunhas (conforme disposi-
ções da Lei de Proteção às Testemunhas)22, às vítimas ou aos réus delatores que colaborem com a Justiça no esclarecimento de atos criminosos, sem-pre que presente a coação ou ameaça (LRP, Art. 58, parágrafo único)23.
Uso prolongado – O uso prolongado e constante de nome di-verso que conste do registro de nascimento também justifica a altera-
ção24, pois, o “prenome imutável é aquele que foi posto em uso, embora não conste do registro” (STJ, REsp 146.558/PR).
Lei n. 6.015/73, Art. 110 – Os erros que não exijam qualquer indagação para a constatação imediata de necessidade de sua correção poderão ser corrigidos de ofício pelo oficial de registro no próprio cartório onde se encontrar o assenta-mento, mediante petição assinada pelo interessado, representante legal ou pro-curador, independentemente de pagamento de selos e taxas, após manifestação conclusiva do Ministério Público.
Lei n. 9.807/99, Art. 9º – Em casos excepcionais e considerando as carac-terísticas e gravidade da coação ou ameaça, poderá o conselho deliberativo en-caminhar requerimento da pessoa protegida ao juiz competente para registros públicos objetivando a alteração do nome completo. § 1º – A alteração de nome completo poderá estender-se às pessoas mencionadas no § 1º do Art. 2º desta Lei, inclusive aos filhos menores, e será precedida das providências necessárias ao resguardo de direito de terceiros.
Lei n. 6.015/73, Art. 58 – O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios. Parágrafo único – A substi-tuição do prenome será ainda admitida em razão de fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime, por determinação, em sen-tença de juiz competente, ouvido o Ministério Público.
Lei n. 6.015/73, Art. 57 – A alteração posterior de nome, somente por ex-ceção e motivadamente, após audiência do Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela imprensa, ressalvada a hipótese do art. 110 desta Lei.
58
Alcunha ou apelido – Na mesma compreensão, pelo uso pro-
longado do nome, constante e habitual, a Lei25 permite a alteração do nome civil, para inclusão do apelido ou alcunha. Obviamente que a agregação da alcunha atinge apenas o prenome, ampliando-o. Exemplo: Maria da Graça Xuxa Meneghel, alcunha inserida: Xuxa.
Inclusão do sobrenome de ascendente – Estudamos ser possí-vel a inclusão do nome do ascendente quando o interessado requer, ad-ministrativamente, dentro de um ano de quando adquire a maioridade civil. Entretanto, poderá ainda requer a alteração judicial do sobrenome, quando superado aquele prazo, pugnando pela inserção do sobrenome do ascendente, mesmo que este sobrenome não tenha sido usado por uma ou mais gerações. E após inserto o sobrenome do pai, poderá ainda requer a inserção do sobrenome da mãe .
Inclusão de sobrenome do padrasto ou madrasta – No mesmo sentido, é possível a inserção do sobrenome do padrasto ou da madrasta desde que estes concordem26.
Homonímia – O simples fato de possuir um nome muito co-mum ou popular não é sozinho motivação suficiente ao ensejo de alte-ração do nome civil. Se a intenção de afastar a homonímia for apenas evitar equívoco ou confusão da pessoa, antes de ingressar com o pedido para alteração do nome, deve estudar primeiro a possibilidade de afas-tá-la pelo acréscimo do sobrenome de seus ascendentes, sob pena de ver indeferido seu pedido. Há que demonstrar o interessado, para que justifique seu pedido de alteração judicial, os prejuízos e as humilhações sofridas, os constrangimentos caso permaneça a homonímia. Por isto, a chamamos de homonímia depreciativa, pois a homonímia para justifi-car a mudança do nome deve depreciar a pessoa quando pronunciado o seu nome. Desse modo, só se entende possível o pedido de alteração do prenome por homonímia quando demonstrado de modo cabal que a tal homonímia está lhe causando problemas sociais (REsp n. 647.296/MT).
Alteração do prenome do adotado – É facultado aos pais da criança adotada requererem judicialmente a alteração do prenome do adotando, por disposição do Estatuto da Criança e do Adolescente27.
Lei n. 6.015/73, Art. 58 – O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos e notórios.
Lei de Registros Públicos, Art. 57, § 8º – O enteado ou enteada, havendo motivo ponderável e na forma dos §§ 2º e 7º deste artigo, poderá requerer ao juiz competente que, no registro de nascimento, seja averbado o nome da famí-lia de seu padrasto ou de sua madrasta, desde que haja expressa concordância destes, sem prejuízo de seus apelidos de família.
Estatuto da Criança e do Adolescente, Art. 47 – O vínculo da adoção cons-titui-se por sentença judicial, que deverá ser inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão; § 5º – A sentença conferirá ao ado-tado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificação do prenome.
Direito Civil
JURISPRUDÊNCIA
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
NOME - Acréscimo de sobre-nome materno omitido no assento de nascimento, após o nome do pai - Admissibilidade por não en-contrar qualquer vedação legal (TJMG) RT 775/345.
VOCABULÁRIO
homonímia: Qualidade do que
é homônimo. Ou seja, nome idêntico a outro.
JURISPRUDÊNCIA
Boletim Informativo n. 245 do Su-perior Tribunal de Justiça
RETIFICAÇÃO. REGISTRO CIVIL.
A jurisprudência deste Supe-rior Tribunal autoriza a alteração do nome civil quando o nome que a pessoa deseja adotar é aquele pelo qual ela é conheci-da no seu meio social ou quan-do a pessoa quer acrescer ou excluir sobrenome de genitores ou padrastos. Na espécie, o re-corrente não é conhecido no meio social pelo prenome que pretende acrescer. Ademais, o Tribunal a quo reconheceu, com base nas provas, que o recorren-te não se expõe a circunstâncias vexatórias e de constrangimento em razão de homônimos existen-tes. Assim a Turma não conheceu do recurso. Precedentes citados:
REsp	538.187-RJ,	DJ	21/2/2005;
REsp 146.558-PR, DJ 24/2/2003; REsp 213.682-GO, DJ 2/12/2002;
REsp 284.300-SP, DJ 9/4/2001, e REsp 66.643-SP, DJ 9/12/1997. REsp 647.296-MT, Rel. Min. Nancy Andri-ghi, julgado em 3/5/2005.
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COMENTÁRIO
I JORNADA DE DIREITO CIVIL
ENUNCIADO 99
“O Art. 1.525, § 2º, do Códi-go Civil não é norma destinada apenas às pessoas casadas, mas também aos casais que vivem em companheirismo, nos termos do Art. 226, caput e §§ 3º e 7º, e não revogou o disposto na Lei nº
9.263/96.”
A Lei n. 9.263/96 se refere ao planejamento familiar, aplicável tanto aos casados quanto aos companheiros, em atenção ao
Art. 226, § 7º, da Constituição Fe-deral de 1988.
Tradução de nome estrangeiro – É admitida a alteração do prenome estrangeiro traduzindo-o para o português com a finalida-de de tornar mais clara e precisa sua identidade civil no Brasil (Lei n.
6.815/80 – Estatuto do Estrangeiro)28. Havendo erros materiais, poderão ser corrigidos de ofício (EE, Art. 43,

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