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VISÕES DO HUMANO - A FILOSOFIA MEDIEVAL ENTRE A FÉ E A RAZÃO

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Prévia do material em texto

Antropologia 
Filosófica
Visões do humano: A filosofia medieval, entre a fé e a razão
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Isacir Heleno Andreoni Júnior 
Revisão Textual:
Profa. Esp.Vera Lídia de Sá Cicarone
5
•	Introdução
•	Surgimento e contexto da filosofia cristã
•	Agostinho de Hipona
•	Tomás de Aquino
Para um bom aproveitamento de seus estudos é importante seguir algumas recomendações.
Em relação ao conteúdo da unidade: Investigar a visão do humano, no pensamento 
filosófico do período medieval, a partir da tensão entre a fé cristã (dominante, neste período), 
e a racionalidade herdada da Antiguidade grega.
Isso será feito por meio do estudo da obra de dois pensadores, fundamentais neste contexto: 
Agostinho de Hipona, e de Tomás de Aquino. Como veremos, o primeiro procurou fazer de 
sua obra uma conciliação entre a filosofia platônica e a cristandade; enquanto o segundo 
procurou fazer o mesmo entre esta última e a obra de Aristóteles.
Em relação às estratégias de aprendizagem: Nossa recomendação a você estudante 
é dividir seus estudos em etapas: primeiro, faça uma leitura atenta do texto, neste momento 
não é tão importante fazer marcações, busque uma compreensão de conjunto. No segundo 
momento, retorne ao texto, mas, desta vez, você já conhece o final da história, não é mesmo? 
Então, ao retornar você o fará com um olhar de investigador(a); busque pelos pontos principais: 
quem são os personagens mais relevantes dessa “história”? Que ideias cada um deles defendia? 
Por quê? Outras questões são colocadas ao longo do texto para sua reflexão? Quais são elas? 
E, finalmente, é sempre bom estar atendo ao vocabulário, não somente aquele já indicado no 
texto, mas, além disso, sempre procure o significado das palavras quando surgir alguma dúvida. 
Investigar de que maneira o pensamento filosófico procurou se 
estruturar, no período medieval, entre a fé cristã (dominante, 
neste período) e a racionalidade herdada da Antiguidade grega.
Isso será feito por meio do estudo da obra de dois pensadores 
fundamentais neste contexto: Agostinho de Hipona e de Tomás 
de Aquino. Como veremos, o primeiro procurou fazer de sua 
obra uma conciliação entre a filosofia platônica e a cristandade 
e o segundo procurou fazer o mesmo entre esta última e a obra 
de Aristóteles.
Visões do humano: A filosofia 
medieval, entre a fé e a razão
6
Unidade: Visões do humano: A filosofia medieval, entre a fé e a razão
Contextualização
O link abaixo é um vídeo de contextualização para a aproximação ao pensamento de Santo 
Agostinho e São Tomás de Aquino, contém alguns elementos históricos e alguns de seus conceitos 
principais, além do comentário da articulação do pensamento de ambos e da educação. Utilize-o 
para preparar-se para a discussão desta unidade. 
 
 Explore
https://www.youtube.com/watch?v=DtOAG-a8ies
7
Introdução
Os diferentes povos da antiguidade sempre procuraram dar explicações aos fenômenos naturais. 
“Qual a origem do mundo?” “Como a natureza funciona?” “Como nascemos e por que 
morremos?” Todos esses eram questionamentos que encontravam, no pensamento mítico, 
as respostas para os aspectos essenciais da realidade de povos como os chineses, indianos, 
egípcios etc. 
Em vez de obras de um único autor, as narrativas míticas são produtos da tradição cultural 
de um povo e, em geral, a sua origem é indeterminada. Como herança, o mito é basicamente 
transmitido pela oralidade. O pensamento mítico pressupõe adesão e aceitação dos indivíduos 
e, na verdade, une as suas experiências com o real. Ou seja, o mito não precisa ser justificado, 
não precisa de fundamentações, nem mesmo se sujeita ao questionamento, à crítica ou à 
correção. O mito não é passível de ser negado. É incontestável. E não se discute o mito, uma 
vez que a pessoa que faz parte de uma determinada cultura tem por “lei natural” aceitar o 
mito como visão de mundo, ao passo que, para a pessoa que não pertence a essa cultura, o 
mito não tem significado.
Para explicar a realidade, o pensamento mítico apela ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado 
e à magia. Tudo que acontece ao homem tem origem divina, misteriosa. O mundo é governado 
por uma realidade exterior ao mundo humano e natural. 
Fonte: Thinkstock / Getty Images
Porém, houve um contexto histórico, geográfico, político em cujo âmbito a explicação mítica 
já não se mostrava tão satisfatória. Buscava-se explicar o mundo e o homem de uma outra 
forma. Esse contexto era o das cidades-estados. Também, com o aparecimento das moedas, 
das trocas comerciais, da intensa atividade política etc., os indivíduos passaram a se preocupar 
com a realidade mais concreta, com as condições básicas para o nascimento de um novo tipo 
de pensamento, o filosófico. Foram os gregos, com a filosofia, que abriram um novo caminho 
- na relação do homem consigo, com o mundo – diferente do mítico. Entretanto, isso não 
significou o desaparecimento definitivo do mito, mas um enfraquecimento do papel da religião 
na sociedade clássica. 
8
Unidade: Visões do humano: A filosofia medieval, entre a fé e a razão
Para os primeiros filósofos, a explicação do mundo natural estaria no próprio mundo e não 
fora dele. Com os primeiros filósofos, a resposta para todas as questões que movem o homem 
passou a ser buscada não em domínios outros, em forças sobrenaturais, míticas, mas na própria 
natureza, no próprio mundo. A natureza assumiu, assim, papel importante nos primórdios do 
pensamento filosófico. 
Mas, se, por um lado, tais filósofos, ao se voltarem para a própria natureza, para o próprio 
mundo, abriram novas frentes de investigação e de conhecimento, eles ainda não chegaram a 
investigar, no âmbito dessa natureza, desse mundo, o lugar do homem. Para eles, corpo e alma 
uniam-se em um único elemento, e este era a própria Physis. No pensamento cosmológico, 
característico dessas filosofias (como vimos em unidades anteriores), não havia uma distinção 
fundamental entre todos os elementos que compunham a Natureza. Sendo assim, também o 
homem era apenas uma expressão desta.
Apenas com a filosofia socrático-platônica é que o pensamento passou a se concentrar no 
próprio homem, em sua natureza específica, na procura por sua essência. Foi aí que uma 
antropologia filosófica se esboçou e que a relação entre alma e corpo, por exemplo, passou a 
ser estabelecida. 
Diferente dos primeiros filósofos, Platão não pensava que alma e corpo se confundiam, 
unidos na própria natureza, mas, sim, que eram essencialmente distintos, não havendo unidade 
entre eles, mas uma oposição constante. É partindo dessa convicção que o filósofo dividiu o 
mundo em dois: o mundo sensível e o mundo inteligível. O primeiro, como sabemos, era o 
mundo das coisas materiais, um mundo das aparências, das sombras, enquanto o verdadeiro 
mundo seria o da pura luz, da verdade, o mundo das ideias infinitas, eternas e imutáveis. Assim, 
a alma eterna estaria aprisionada no corpo e lutaria para regressar ao mundo das luzes, para 
conhecer, para, enfim, chegar à verdade. 
Contudo, como vimos na unidade anterior, essa teoria platônica das ideias foi refutada por 
Aristóteles, o qual afirmava que, apesar de o homem ser, sim, um composto de alma e corpo, 
tal composição não se daria como uma contradição e um aprisionamento de um no outro, mas, 
sim, como a união que forma uma única realidade, um só mundo passível de ser experimentado, 
conhecido, pelo sensível e pela razão. A essência que confere o tom divino ao homem, a alma, 
seria, segundo Aristóteles, algo que se inscreve na própria ordem do real, entendido não como 
uma imaterialidade, um mundo além do sensível (como o queria Platão).
É verdade que, com os esses dois grandes pensadores gregos, a reflexão sobre o homem 
no mundo atingiu um dos pontos mais altos de todo o pensamentofilosófico. Entretanto, para 
esses filósofos, ainda faltava dar uma solução para o problema da origem e do sentido da 
existência humana. Dizer o que o homem é, qual é a sua essência, foi, sem dúvida, um grande 
passo na história do pensamento. Contudo, faltava dizer de onde ele veio e qual o sentido de 
sua existência. Essa problemática encontrará respaldo no pensamento do mundo medieval, do 
século VII ao século XIV, dominado pela teologia e por uma filosofia fortemente cristã.
9
Quando o cristianismo surgiu, era mais uma entre várias religiões orientais, mas havia uma 
proposta que o diferenciava tanto do judaísmo (a sua origem) quanto de outras religiões antigas: 
a tarefa da evangelização. O cristianismo nascia para ser uma religião universal; era dever dos 
cristãos espalhar para o mundo inteiro a “boa nova”.
Assim, precisando convencer os filósofos gregos e os imperadores romanos, coube aos 
padres da Igreja católica o desafio de mostrar-lhes a superioridade da verdade cristã sobre a 
tradição filosófica. Somente com essa conciliação entre o pensamento filosófico dos gregos e o 
cristianismo seria possível converter os pagãos. Filosoficamente, o cristianismo encontrou seus 
primórdios nas epístolas de São Paulo e no evangelho de São João, e desenvolveu-se em um 
período que compreendeu o século I até século VII, ficando conhecido como filosofia patrística 
(conhecimento produzido pelos padres). Os primeiros intelectuais cristãos foram São Paulo, São 
João, Santo Ambrósio, Santo Eusébio e Santo Agostinho. 
Antônio Parreiras (1860-1937)/ Wikimedia Commons
Os primeiros pensamentos dessa filosofia procuraram fundamentar a explicação do mundo 
a partir das ideias de criação do mundo, do pecado original, da existência de Deus, do juízo 
final e da ressurreição dos mortos, temas antes nem cogitados pelos filósofos gregos. Mas, para 
que as ideias cristãs fossem aceitas, precisavam ser aceitas como verdades reveladas por Deus, 
fosse por meio da Bíblia ou dos santos. Logo, assumiram a conotação de dogmas, decretos 
divinos que são inquestionáveis. Foi nesse momento que nasceu a distinção entre verdades 
reveladas e verdades humanas: a primeira distinguindo-se da segunda por introduzir a noção 
de conhecimento recebido por uma graça divina. E, a partir dessa distinção, estabeleceu-se o 
debate, que atravessou toda a Idade Média, entre fé e razão. 
Surgimento e contexto da filosofia cristã
10
Unidade: Visões do humano: A filosofia medieval, entre a fé e a razão
Consagrada como religião da salvação - cujo interesse 
maior se encontrava, portanto, na moral, na medida 
em que visava a garantir que os preceitos deixados 
por Jesus fossem praticados e não à produção de uma 
teoria da realidade - o cristianismo não precisava de 
uma filosofia, segundo alguns autores. O fato de os 
pensadores cristãos dedicarem uma maior atenção à 
fé, à crença e à revelação do que à razão teórica, ao 
conhecimento intelectual e à reflexão impulsionava os 
críticos a desacreditarem de uma filosofia cristã. 
Assim, na tentativa de responder a tais críticas e 
visando a adquirir um estatuto propriamente filosófico, 
a filosofia medieval (do século VIII ao século XIV) foi 
buscar em Platão e Aristóteles argumentos racionais 
para explicar a existência de Deus e do homem. A partir da reelaboração da filosofia clássica 
grega, adequando-a às ideias do cristianismo, o pensamento medieval cristão passou a perseguir 
alguns objetivos, tais como:
1 - Provar a existência de Deus e os atributos e predicados de sua essência;
2 - Provar que o mundo é produto da vontade divina e é governado pela providência divina; 
3 - Provar que, embora Deus seja imaterial e infinito, sua ação pode ter efeitos materiais 
e finitos, como a própria criação do mundo e do homem;
4 - Provar que a alma humana existe e é imortal;
5 - Provar que não há contradição entre a liberdade humana e a onisciência-
onipotência de Deus;
6 - Provar que o ser criador é diferente do ser criatura (as coisas do mundo, inclusive 
o homem);
7 - Provar que fé e razão não são contraditórias.
Mas, se, por um lado, a filosofia cristã medieval precisava se voltar para a filosofia clássica 
e fazer dela uma reinterpretação, por outro, muitas das ideias defendidas pelos pensadores 
gregos não podiam ser aceitas pelo cristianismo. Isso porque, em muitos aspectos, o 
cristianismo medieval partia de pressupostos incompatíveis com os fundamentos da visão 
de mundo antiga, clássica. Por exemplo: enquanto, para os gregos, o mundo (sensível e 
inteligível) era eterno e, portanto, sem um começo e um fim temporais, para os cristãos, o 
mundo foi criado por Deus a partir do nada e terminará no dia do juízo final. Outro ponto de 
discordância entre o pensamento clássico e o pensamento medieval encontra-se na relação 
alma-corpo: para os gregos, o homem seria um ser natural dotado de corpo e alma; ambos, 
portanto, pertenceriam ao domínio da natureza, sendo que a alma é que possuiria o intelecto 
ou a razão; já, para os cristãos, o homem é um ser natural apenas no que diz respeito ao corpo, 
pois a alma, infinita, imortal, diz respeito ao sobrenatural.
"O último julgamento", Michelangelo (1537)
11
Sobre a liberdade do homem eles também divergiam. Para os filósofos gregos, a liberdade 
humana seria uma forma de ação que implicaria em uma capacidade da nossa razão em escolher 
o que é bom ou ruim, justo ou injusto. E os pensadores do cristianismo viam o homem também 
como um ser livre, no entanto a sua capacidade de escolher seria uma ação moral determinada 
pela fé e pela revelação.
Quanto ao conhecimento, os gregos acreditavam que este era uma atividade do intelecto, 
enquanto, para os cristãos medievais, a razão era algo limitado. Por meio dela o homem seria 
incapaz de alcançar a verdade, pois, sozinha, ela não possibilitaria esse acesso ao conhecimento. 
Para tanto, seria necessário recorrer à fé e à revelação.
Fonte: “A criação de Adão”, Michelangelo (1510)
Nesse sentido, podemos perceber que, para os filósofos do cristianismo, o maior desafio 
era conseguir reunir as verdades da razão e as verdades da fé, isto é, unir novamente aquilo 
que a filosofia tinha separado quando do seu nascimento: a razão e o mito. De que maneira 
dois dos mais importantes pensadores cristãos medievais realizaram essa conciliação, é o que 
veremos a seguir.
Conhecido como o fundador da filosofia medieval e cristã, Agostinho de Hipona (que depois 
passará a ser Santo Agostinho) fazia severas críticas a toda a filosofia anterior ao advento de 
Cristo. O maior erro dos filósofos clássicos, acreditava ele, estava em colocar a razão como 
o elemento determinante da natureza humana. Segundo Agostinho, a razão sozinha não era 
capaz de nos oferecer o caminho do esclarecimento, das luzes, da verdade e da sabedoria. Não 
estaria na razão a chave para as verdades do mundo, afirmava o filósofo cristão. 
Agostinho de Hipona
12
Unidade: Visões do humano: A filosofia medieval, entre a fé e a razão
Isso porque a razão estaria envolta em uma 
obscuridade, um mistério, algo maior que só a 
revelação cristã seria capaz de solucionar. Nesse 
sentido, as verdades do mundo não seriam alcançadas 
diretamente pelo intelecto humano, mas reveladas 
por Deus ao homem. Desse modo, o conhecimento 
passava a ser resultado da graça divina. 
Contrariando os pressupostos da filosofia grega que 
tinham a razão como o mais alto privilégio do homem, 
objeto de seu orgulho, o pensamento medieval via, na 
razão, o disfarce do perigo e da tentação. Portanto, em 
vez de um privilégio do ser humano, o pensamento 
racional converteu-se em humilhação e ameaça.
Apesar disso, os pensadores cristãos teriam que 
se render à razão, em alguma medida, se quisessem 
incorporar ao cristianismo o “rótulo” de filosofia em 
vez de permanecer no domínio apenas da religião. Eassim o fizeram. Mas não se tratou de uma rendição 
propriamente dita. O que os padres da Igreja procuraram 
demonstrar é que não havia incompatibilidade em unir 
fé e razão e, mesmo que houvesse, a razão sempre 
estaria subordinada à fé assim como o conhecimento 
intelectual, à revelação divina. 
Essa aproximação da razão foi a única saída que o cristianismo encontrou para explicar 
temas caros à sua filosofia, como a existência de Deus e a criação do mundo e do homem. 
Nesse processo estava implícita a atividade de evangelização, uma tarefa que os cristãos deviam 
cumprir (e ainda cumprem) dentro de uma religião que se pretende universal. 
É importante ressaltar que os primeiros pensadores cristãos fizeram uma leitura seletiva da 
filosofia grega, em especial de Platão e Aristóteles, como veremos. E essa seleção, obviamente, 
deixou de lado tudo aquilo que eles consideravam incompatível com o cristianismo como religião 
revelada. Isto é, qualquer incorporação de doutrinas ou conceitos filosóficos estava diretamente 
relacionada aos ensinamentos religiosos e deveria, portando, adequar-se a eles. 
Inicialmente, os filósofos cristãos recorreram aos pensamentos de Platão, depois de algumas 
adaptações, é claro. Foi Santo Agostinho que, ao retomar o dualismo platônico entre o mundo 
espiritual (mundo das ideias) e o mundo material (mundo sensível), fez do “mundo das ideias” 
o “mundo das ideias divinas”. Por conseguinte, se, em Platão, temos uma teoria das ideias, a 
interpretação agostiniana deste produz uma teoria da iluminação. 
Santo Agostinho foi o principal nome da filosofia patrística e conheceu o pensamento de 
Platão por meio dos intérpretes da escola de Alexandria e de traduções latinas. Na verdade, 
Agostinho foi influenciado não propriamente pelo platonismo, mas pelo neoplatonismo, um 
movimento de retomada da filosofia de Platão, mas com um conteúdo espiritualista e místico. 
Para os neoplatônicos, três realidades distintas se configuravam: o mundo sensível dos corpos 
(da matéria), o mundo inteligível das puras formas imateriais (as ideias, os conceitos) e, acima 
desses dois, uma realidade suprema, inatingível pelo intelecto humano.
Fonte: Heiliger Augustinus, Simone Martini (1320-1325)
13
Um exemplo de como se deu essa reelaboração 
do pensamento platônico nos moldes do cristianismo 
pode ser ilustrado por uma atitude filosófica típica 
dos gregos. Platão indagava o seguinte: O que é a 
virtude? A virtude pode ser ensinada? Diante desse 
impasse, Platão era contundente ao afirmar que a 
virtude não poderia ser ensinada, uma vez que já 
a trazemos conosco. Portanto, para o pensador 
grego, nenhum ser divino ou mestre seria capaz de 
introduzir este ou outro valor em nossa alma, uma 
vez que se tratava de uma característica da natureza 
humana ser virtuoso. Desse ponto de vista, era papel 
do filósofo não ensinar, mas despertar essa virtude 
essencialmente presente, mas adormecida, na alma 
de todos os homens. 
 Santo Agostinho deu uma nova leitura a essa 
situação. Para ele, o conhecimento humano não 
se daria somente pela apreensão sensível ou pela 
experiência concreta com o mundo, mas necessitaria 
de um elemento deflagrador para o próprio processo de conhecer: o ser divino. O que Agostinho 
afirmava era que o homem recebia de Deus o conhecimento das verdades eternas, isto é, a razão 
seria realmente algo intrinsecamente humano, como Platão afirmava, mas seria o ser divino que 
a iluminaria. Em outros termos, a força do pensamento humano residiria no sobrenatural, no 
místico. Até mesmo o pensar correto, no sentido de fazer boas escolhas no campo dos valores 
morais, seria resultado da graça divina.
Segundo a doutrina agostiniana da iluminação, não seria o homem, limitado ao uso de sua 
própria razão, capaz de chegar à verdade, mas esta seria nele ativada por intermédio da força 
divina. Para Agostinho, embora o homem, enquanto criatura divina, trouxesse, necessariamente, 
em seu interior, as verdades eternas, estas seriam ativadas não pelo próprio homem, mas por 
meio da irradiação da luz divina, a qual atuaria imediatamente sobre o Intelecto humano, 
deixando-o apto para o conhecimento das verdades eternas. 
Essa tese de que o homem é, por essência, um ser iluminado também nos conduz, dentro do 
pensamento agostiniano, à ideia de que o refúgio da verdade estaria no nosso interior, pois 
bastaria olharmos para o nosso interior para descobrirmos a verdade. É esse o significado da 
célebre frase de Agostinho: “No homem interior habita a verdade”. Assim, a interioridade seria 
aquela dotada da capacidade de entender a verdade pela iluminação divina. É no interior do 
homem que reside o ponto de partida para o conhecimento, porém, para que este se deflagre, 
Fonte: Thinkstock / Getty Images
“Quem nos mostrará o Bem? Ouçam a nossa resposta: está gravada 
dentro de nós a luz do vosso rosto, Senhor. Nós não somos a luz que 
ilumina a todo homem, mas somos iluminados por Vós. Para que 
sejamos luz em Vós, nós, os que fomos outrora trevas.”
(Santo Agostinho, Confissões)
14
Unidade: Visões do humano: A filosofia medieval, entre a fé e a razão
aconteça, é necessário um “primeiro motor”, um princípio de tudo: Deus. Com esse argumento, 
Santo Agostinho procurava abrir espaço para que a fé adentrasse o território filosófico.
Devido à grande originalidade de sua obra, seus pensamentos influenciaram definitivamente 
os rumos do pensamento medieval, sobretudo em seus primeiros séculos. Mas foi em torno dos 
séculos XI e XII, já no contexto da filosofia tomista1 , que surgiu uma filosofia particular da Idade 
Média: a escolástica. O termo deriva do fato de que, nesse período, os filósofos começaram 
a se vincular a uma ou outra “escola” de pensamento e de ensino. Pela primeira vez, escolas 
foram formadas nos mosteiros e catedrais com o objetivo de formar o clero.
Assim, se pretendemos entender o grande desenvolvimento do pensamento escolástico, 
principalmente do ponto de vista filosófico, é necessário atentarmos para dois fatores 
imprescindíveis que marcaram o século XIII. Primeiro, o surgimento das universidades e, depois, 
a criação das ordens religiosas dos franciscanos e dominicanos. São Tomás de Aquino, por 
exemplo, não era apenas um frade dominicano, mas também tinha a sua vida profundamente 
ligada às universidades da época.
Se a filosofia de Platão, interpretada por Agostinho, 
era considerada, entre os padres, a mais adaptável 
aos ideais cristãos - tanto que, durante muito tempo, 
influenciou e predominou no pensamento medieval -, 
as ideias de Aristóteles eram vistas com desconfiança, 
por serem incompatíveis em alguns pontos cruciais 
com a revelação cristã. Segundo os autores cristãos, 
a visão aristotélica de que o homem era composto 
de matéria e forma, não diferindo, portanto, de 
todos os outros seres da natureza (animais, plantas), 
contradizia a ideia cristã de que é possível salvar a 
espiritualidade e a imortalidade da alma.
Tomás de Aquino
Se foi a partir da releitura agostiniana que Platão encontrou um novo lugar na história da 
filosofia, com papel crucial no pensamento cristão medieval, o mesmo ocorreu com relação 
a Aristóteles, a partir da interpretação que dele foi feita pelo frade dominicano Tomás de 
Aquino. Foi Tomás de Aquino (Santo Tomás de Aquino) quem procurou encontrar um 
equilíbrio entre o cristianismo e o pensamento filosófico de Aristóteles, abrindo uma nova 
alternativa para o desenvolvimento da filosofia cristã. O resultado é o que ficou conhecido 
como filosofia aristotélica tomista. 
Para Santo Tomás, assim como em Aristóteles, o homem deveria ser interpretado como 
um composto de alma e corpo, mas, nesse composto, a alma seria aquela que possuiria o ser 
1 Tomista: o termo se refere à filosofia de São Tomás de Aquino, como veremos.
Fonte: chiesaveritacristiana.com
15
diretamente.Entretanto, mesmo a alma tendo um papel fundamental no ato de ser do homem, 
ele concebia, ao contrário de Aristóteles, que a morte do corpo não implicava morte da alma. 
Vemos, portanto, que, se, por um lado, Tomás de Aquino buscou, em Aristóteles, a ideia de um 
composto corpo-alma, por outro lado, foi em Platão que ele encontrou a definição dessa alma 
como algo imortal. 
Ao persistir na imortalidade da alma, o pensamento tomista defendia alguns pressupostos, 
tais como: 
1 - O homem é composto de matéria e espírito, o que nos leva a acreditar que não há hiato 
entre os dois mundos ou que não é possível separar a matéria (corpo) do espírito (alma) 
– algo que, segundo a filosofia platônica, acontece. Assim, trata-se de um processo 
mútuo: enquanto, no homem, a matéria se espiritualiza, é na matéria que o espírito se 
materializa; 
2 - Desse ponto de vista, corpo e alma, no homem, formam uma unidade substancial tão 
íntima e profunda que não é possível pensarmos que possam existir separados; 
3 - No entanto, mesmo que a alma seja a forma substancial do corpo (ou seja, a sua 
essência), isso não significa que a alma seja matéria; pelo contrário, a alma assume 
um perfil espiritual, portanto, imortal. 
Depois dessa reelaboração dos pensamentos aristotélicos por Santo Tomás de Aquino, 
Aristóteles passou a ser uma influência marcante na filosofia cristã, encontrando respaldo entre 
os padres dominicanos e, mais tarde, entre os jesuítas.
 
Fonte: Fra Angelico (1340-1345)
16
Unidade: Visões do humano: A filosofia medieval, entre a fé e a razão
Material Complementar
A bibliografia complementar irá ajudá-lo(a) no aprofundamento dos seus estudos.
Sugerimos iniciar sua pesquisa de aprofundamento a partir dos “manuais mais gerais” e 
depois dedicar sua leitura aos textos específicos dos autores estudados na unidade. 
Por exemplo, recomendamos começar pelo livro Filosofando e depois ir para as demais obras. 
Importante também, é recorrer a um bom vocabulário de filosófico. Também sugerimos para 
captar “a atmosfera intelectual” medieval a leitura do romance O nome da Rosa de Umberto 
Eco e/ou o filme baseado na mesma obra. (veja o link abaixo relacionado).
Essa abordagem facilita o movimento de investigação partindo dos textos mais introdutórios 
em direção aos mais complexos. 
Bibliografia
ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: 
Moderna, 1993.
NOGARE, P. D. Humanismos e anti-humanismos: introdução à Antropologia Filosófica. 
Petrópolis: Vozes, 1994.
17
Referências
BOEHNER, P.; GILSON, E. História da filosofia cristã. Petrópolis: Vozes, 1982. 
GILSON, E. A filosofia na Idade Média. São Paulo: Martins Fontes, 1995. 
IMAGENS da Idade Média. Disponível em: <http://www.cefetsp.br/edu/eso/fausto/
imagensidademedia.html>. Acesso em: 6 jan. 2008. 
NOGARE, P. D. Humanismos e anti-humanismos: introdução à Antropologia Filosófica. 
Petrópolis: Vozes, 1994. 
PENSAMENTO Cristão. Disponível em: <http://www.mundodosfilosofos.com.br/pencristao.
htm>. Acesso em: 6 jan. 2008. 
PORTAL da história. Disponível em: <http://www.arqnet.pt/portal/directorio/ih_imedia.
html>. Acesso em: 6 jan. 2008. 
STORCK, A. Filosofia medieval. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. 
18
Unidade: Visões do humano: A filosofia medieval, entre a fé e a razão
Anotações
www.cruzeirodosulvirtual.com.br
Campus Liberdade
Rua Galvão Bueno, 868
CEP 01506-000
São Paulo SP Brasil 
Tel: (55 11) 3385-3000

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