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2. Compressibilidade e adensamento 2.1 Introdução Qualquer material na natureza quando submetidos a variações de tensões se deformam por compressão, tração ou cisalhamento. Dependendo da constituição dos materiais, a resposta a estas variações de tensões varia com o tempo, podendo se dar de forma instantânea, no caso dos materiais elásticos, ou lentamente, para aqueles com comportamento plástico ou viscoso. Os solos, devido a sua estrutura multifásica (sólida, fluida e gasosa), apresenta um comportamento bastante complexo, e no que se refere à compressibilidade, o tempo é um fator muito importante, sendo relativamente grande para que a deformação total ocorra. 2.2 Deformabilidade dos materiais Figura 1 - Comportamento Tensão versus Deformação de um corpo elástico não-linear. F DX Carregamento Descarregamento O material não apresenta deformação após todo o acréscimo de força ter sido retirado F Dx Ao se aplicar uma força F sobre um material na direção do comprimento lo, este irá apresentar uma compressão igual a Dx, como mostra a Figura 2. Neste caso, podemos definir deformação específica segundo a direção da força aplicada como: O material não apresenta deformação após todo o acréscimo de força ter sido retirado, e as deformações são proporcionais as forças aplicadas. 0l x x D F (001) Figura 2 - Comportamento Tensão versus Deformação de um corpo elástico linear. Material puramente plástico Figura 3 - Deformação de um corpo puramente por atrito (plástico). F DX DX DX F O material apresenta deformação permanente após todo o acréscimo de força ter sido retirado, deformação plástica. F Dx Ao se aplicar uma força F sobre um material na direção do comprimento lo, este irá apresentar uma compressão igual a Dx, como mostra a Figura 2. Neste caso, podemos definir deformação específica segundo a direção da força aplicada como: Somente parte da deformação é recuperada após todo o acréscimo de força ter sido retirado, e as deformações elásticas são proporcionais as forças aplicadas. F DXe DXp DXe DXp DXe DXp Figura 4 - Deformação de um corpo elasto-plástico No caso dos solos, existem milhares de partículas que se deslocam uma em relação às outras, existido, evidentemente o atrito entre elas. Neste caso é fácil deduzir, pela complexidade da estrutura dos solos, que o comportamento de deformabilidade não seja nem perfeitamente elástico, nem linear. As deformações apresentadas pelos solos são, mais comumente, próximas do comportamento plástico, deformações irreversíveis. Porém, em alguns casos e dentro de um nível de tensões, o comportamento do solo pode ser estudado utilizando-se de modelos elásticos. Considere um cilindro com altura h e raio r, de um material homogêneo, isotrópico e elástico. Sobre esse cilindro é aplicada uma tensão uniaxial, σz, a qual produz compressão vertical ou axial, delta D h, e extensão radial, Dr, tal que: Eh h z z D Er r z yx D z y x Em que: x, y, z são as deformações específicas nas direções x, y e z, respectivamente; E é o módulo de Young ou de Elasticidade; e v é o coeficiente de Poisson. Considere, agora, um solo homogêneo, elástico e isótropo submetido a um aumento das tensões em três eixos ortogonais, σx, σy e σz. O solo apresenta deformações que podem ser representadas pelas equações abaixo: zyxx σσσ E ε 1 zxyy σσνσ E ε 1 xyzz σσνσ E ε 1 Da mesma forma, a deformação volumétrica v pode ser expressa por: zyxv εεε V ΔV ε y z z x y x z x y O grau de deformação produzido por um esforço, para o caso de um solo, depende, dentre outros fatores: da composição do solo; do índice de vazios do solo; do histórico de tensões do solo; e da forma de aplicação da carga. 2.3 Compressibilidade dos solos 2.3.1 Definição Compressibilidade define a relação entre força (vetor) e deslocamento (vetor) f f f d d d d d d f f f z y x z y x z y x z y x CouK RIGIDEZ (matriz) COMPRESSIBILIDADE (matriz) Problema uni-dimensional – força e deslocamentos só na direção vertical 2.3.2 Caso mais simples (simplificação) F.Cou.KF 2.3.3 Ensaio de Compressibilidade (edométrico) O quê é o Adensamento ? Adensamento ou consolidação de um solo é a redução de seu volume através do decréscimo dos vazios (índice de vazios) ao longo do tempo acompanhado da redução do teor de umidade do solo. Num solo saturado o decréscimo do seu volume corresponde a expulsão de água dos vazios. Para que serve o ensaio de adensamento ? O ensaio de Adensamento edométrico ou compressão confinada fornece de maneira direta os parâmetros de compressibilidade do solo, necessários para o cálculo de recalques (deformações devido a carregamentos verticais na superfície dos terrenos). Execução do Ensaio de Adensamento – (NBR 12007 – 1990) Em que consiste a realização do Ensaio de Adensamento Incremental? Compressão do corpo-de-prova com aplicação de incrementos de peso a cada 24 h. A NBR 12007/1990 – ABNT – prescreve, além da tensão inicial, as seguintes tensões de compressão: 10, 20, 40, 80, 160 ... Até a completa definição da reta de compressão virgem. A tensão inicial depende do tipo de solo, 5 kPa para solos resistentes e 2 kPa para solos moles A cada estágio é feito acompanhamento das leituras de deslocamento formação em intervalos de tempo pré-estabelecidos: Tempo (min) 0 0,1 0,25 0,50 1 2 4 8 15 30 60 120 240 480 1440 Leitura L0 L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 L8 L9 L10 L11 L12 L13 L14 F.C 'zz ou Lz A F 'z Paredes rígidas ANTES DEPOIS Amostra Amostra L Área(A) F Célula do Ensaio de Adensamento Edométrico Incremental Top Cap Pedra Porosa Anel Papéis - filtro Base da célula Corpo da célula Célula contendo o solo Perspectiva da Célula com o Top Cap Vista Frontal da Célula A Prensa de Adensamento Extensômetro Célula Braço de Alavanca Prensa para adensamento Tipo “Bishop” com relação 1:10- (Fonte: Laboratório de Geotecnia UFV.) simula o comportamento do solo quando ele é comprimido pela ação do peso de novas camadas que sobre ele se depositam, quando se constrói sobre ele um aterro em grandes áreas; representativo das situações em que se pode admitir que o carregamento feito na superfície, ainda que em área restrita (sapatas), provoque no solo uma deformação só de compressão, sem haver deformações laterais. Os anéis que recebem o corpo de prova tem diâmetros cerca de três vezes a altura, com o objetivo de reduzir o efeito do atrito lateral durante os carregamentos. Os diâmetros variam de 5 a 12 cm. O carregamento é feito por etapas e para cada carga aplicada registra-se a deformação a diversos intervalos de tempo, até que as deformações tenham praticamente cessado. Cessados os recalques, as cargas são elevadas, costumeiramente para o dobro do seu valor anterior, principalmente quando se ensaiam argilas saturadas. Considerando-se a altura final dos corpos de prova, pode-se representar a variação de altura ou os recalques em função das tensõesverticais atuantes. A maneira convencional de apresentar os resultados dos ensaios é a representação do índice de vazios em função da tensão aplicada Observações sobre o ensaio 0 500 1000 1500 Tensão vertical, kPa 0.4 0.5 0.6 0.7 Ín d ic e d e v a z io s 0 200 400 600 Tensão vertical, kPa 1 1.5 2 2.5 3 3.5 Ín d ic e d e v a z io s Resultado típico de compressão edométrica em areia e argila Coeficiente de compressibilidade: av = - De/Dv Coeficiente de variação volumétrica: mv = Dv / Dv Módulo de compressão volumétrica: D = Dv / Dv sendo Dv a deformação volumétrica, e Dv=-De/(1+eo) onde eo é o índice de vazios inicial do corpo de prova. Estes parâmetros relacionam-se da seguinte forma: av = (1+e0).mv e D = 1/mv Resultado típico de um ensaio de compressibilidade mm vv z 'd d Módulo de variação volumétrica 0 2 4 6 8 10 12 0 100 200 300 400 ' (kPa) v (% ) 1 mv Uma outra maneira de representar a curva de compressibilidade é: aa vv'd de Coeficiente de compressibilidade 1 av 0.9 1.0 1.1 1.2 1.3 0 100 200 300 400 ' (kPa) e 1 av Vi Vv i Vs Vs Vv f Vf Vazios Vazios Sólidos Sólidos Vol Vol LA A L Inicial vz D V VV i fi v e e e ee vv vv ii fi s i v f v i v v 11 D e1 d iv de L Área (A) Mas como o volume de sólidos Vs é constante ou e1 d iv de av'd de mv v 'd d 'd de1 'd e1 d i v Módulo de variação volumétrica e1 a m i v v Coeficiente de compressibilidade Repetindo ou Já vimos que e Portanto 2.4 Cálculo dos recalques. • Os recalques provenientes de um carregamento feito na superfície do terreno podem ser estimados pela teoria da elasticidade ou pela analogia edométrica. 2.4.1 Cálculo de recalques pela teoria da elasticidade. • A Teoria da Elasticidade pode ser utilizada para a determinação dos recalques, ela indica que os recalques na superfície de uma área carregada podem ser expressos pela equação: 1 2 E B I o onde: o é a pressão uniformemente distribuída na superfície; E e são os parâmetros do solo acima definidos; B é a largura (ou o diâmetro) da área carregada e I é um coeficiente, chamado fator de influência, que leva em conta a forma da superfície carregada e o sistema de aplicação das pressões, pois as pressões podem ser aplicadas ao terreno por meio de elementos rígidos (sapatas de concreto), ou flexíveis (aterros). • Fator de influência para cálculo de recalques. Bc Recalques de sapatas e de carregamentos flexíveis • Há duas dificuldades para a aplicação da teoria da elasticidade. A primeira se refere à grande variação dos módulos de cada solo, em função do nível de tensão aplicado (não linearidade da relação tensão-deformação), e em função do nível de confinamento do solo. Mesmo em materiais homogêneos, o módulo cresce com a profundidade, pois o confinamento cresce com a profundidade. • O segundo fator de dificuldade reside no fato de que os solos são constituídos de camadas de diferentes compressibilidades. Mesmo no caso de ser bem identificada a camada mais compressível, responsável pela maior parte do recalque, não há como aplicar a teoria da elasticidade, na sua maneira mais simples, como acima apresentado, pois a teoria se aplica a um meio uniforme. O recalque devido às deformações da camada mais fraca, o solo arenoso fino fofo, não saturado, é muito maior do que os das camadas situadas acima ou abaixo dela. A aplicação da equação com um módulo de elasticidade deste solo indicaria o recalque correspondente à deformação do solo em todo o bulbo de tensões indicado, o que não corresponderia à realidade, já que as camadas acima e abaixo são muito menos compressíveis. Exemplo de cálculo de recalque pela teoria da elasticidade Calcular o recalque imediato médio, no centro e no canto, de uma sapata retangular flexível, de 10 m x 40 m, aplicando uma tensão de 50 kPa numa camada semi-infinita de argila homogênea, saturada, com módulo de deformabilidade de 30 MPa. Solução: Considerando = 0.5 (argila saturada), tem-se: Para L/B = 40/10 = 4, interpolando da Tabela, obtém-se: Centro: I = 1,94 —» i = 24,2 mm Canto: I = 0,96 —» i = 12,0 mm Médio: I = 1,67 —» i = 20,9 mm )(.5,12)(.0125,0. 30000 5,01 .10.50 2 mmImII pppi 1 2 E B I o 2.4.2 Cálculo de recalques pela compressibilidade edométrica • Sugerem que os recalques da camada mais compressível sejam considerados como equivalentes aos de corpos de prova submetidos à compressão edométrica. • A previsão do recalque, neste caso, corresponde à aplicação de uma simples proporcionalidade: “se um certo carregamento Dv provoca um determinado recalque no corpo de prova, este carregamento provocará na camada deformável do terreno um recalque tantas vezes maior do que quanto maior a espessura da camada”. • O cálculo do recalque costuma ser expresso um função da variação do índice de vazios. As alturas, antes e depois do carregamento, podem ser expressas da seguinte maneira: H H e H e1 0 1 2 0 21 1 e H H0 em função de H1 e substituindo na expressão de H2, tem-se: H H e e 2 1 2 1 1 1 O recalque é a diferença entre H1 e H2, donde: O recalque específico, ou deformação, fica expresso por: 1 21 1 1 11 e ee H 1 21 1 1 e ee H A fórmula resultante, empregada para o cálculo dos recalques, fica sendo )e-(e )e(1 H 1 21 1 1 1 21 1 e ee H H1 e e1 são características iniciais do solo O recalque fica função só do índice de vazios correspondente à nova tensão aplicada ao solo e esta é fornecida pelo ensaio de compressão edométrica * 2.4.3 O adensamento das argilas saturadas • Os ensaios de compressão edométrica são especialmente realizados para o estudo dos recalques das argilas saturadas. o processo de deformação pode se desenvolver lentamente, em virtude do tempo necessário para que água saia dos vazios do solo, tempo este que pode ser elevado, devido à baixa permeabilidade das argilas. E este processo é denominado adensamento dos solos, e o ensaio de compressão edométrica é chamado de ensaio de adensamento. 10 100 1000 Tensão vertical, kPa 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 Ín d ic e d e v a z io s Terzaghi introduziu um índice para indicar a inclinação da reta virgem, denominado índice de compressão, e expresso pela expressão: 12 21 loglog ee CC A expressão (e1-e2) nesta equação pode ser introduzida na equação (*), obtendo-se i fH ' ' log e+1 C = 1 1C Que é a expressão para o cálculo dos recalques de argilas, quando o solo se encontra numa situação correspondente à reta virgem. Onde: H1 = espessura total da camada de solo; e1 = índice de vazios inicial do solo; i’ = tensão vertical efetiva inicial do solo; ef’ = tensão vertical efetiva final do solo, após o carregamento A tensão de pré-adensamento Tensão vertical, kPa Ín d ic e d e v az io s A B C D E F Figura - Efeito de descarregamento seguido de carregamento em ensaio edométrico de argila saturada • vm = ´ : solo nunca submetido a tensões maiores. Solo normalmente adensado; • vm > ´: O solo esteve anteriormente sujeito a tensões maiores que as atuais. Solo sobre-adensado; • vm / ´ = RSA, razão de sobre-adensamento; • vm < ´: Solo em processo de adensamento devido à carregamentos recentes. A tensão de pré-adensamento • Figura- Determinação da tensão de pré-adensamento pelo método do Prof. Casagrande. 10 100 Tensão vertical, kPa 1.8 2.3 2.8 3.3 Ín d ic e d e v a z io s vm A determinação da tensão de pré-adensamento – Método Casagrande
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