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Imagine ser desprezado pela sociedade por não estar de acordo com os padrões tidos como 
exemplo de comportamento e de sucesso… Parece coisa do passado, mas essa é só uma das 
questões sociais que a série Black Mirror, uma das mais famosas da Netflix, traz à tona. Só que 
neste caso, a tecnologia digital é a ferramenta principal entre as relações humanas, aflorando 
sentimentos de rejeição, baixa autoestima ou prepotência. 
Neste meu primeiro artigo para O Futuro das Coisas, convido você a refletir sobre como a 
tecnologia está se infiltrando em nosso cotidiano e moldando nosso relacionamento com as pessoas 
sem que a gente perceba ou se importe tanto e sobre a possibilidade de ela vir a ser uma 
ferramenta de avaliação e pontuação global das suas qualificações e da sua reputação. 
Afinal, se a tecnologia é uma de nossas ferramentas de expressão e de relacionamento social 
a pergunta que me faço é: será que estamos preparados para conviver com tanta tecnologia? 
Não é que a tecnologia seja “a vilã”. Talvez o maior problema seja a humanidade 
mesmo. 
A série foi o estopim para eu olhar para essa questão com mais urgência. Acredite, não é 
mais ficção. O jogo virou. Black Mirror não é sobre o futuro. É sobre como iremos lidar com nossas 
questões individuais – que sempre existiram e sempre vão existir – utilizando as tecnologias do 
momento. 
E por que isso te interessa? 
Porque ou a gente aprende a lidar melhor com a tecnologia no dia a dia ou corremos o risco 
de nos tornarmos como muitos dos personagens da série: alienados e dependentes de uma vida 
em que a tecnologia é a ferramenta principal para se alcançar o sucesso e se relacionar com 
os amigos, familiares, companheiros, trabalho. Opa! Algo lhe soou…real? 
Isso é um sinal. 
Segundo William Power, autor do livro “O Blackberry de Hamlet” (Ed. Alaúde) já não dá mais 
para ignorar a importância de tomar consciência do nosso envolvimento com a tecnologia. Não 
apenas para usufruir e perceber aquilo que está a sua disposição, mas quais têm sido as 
consequências do seu uso. Basta percorrer o Instagram de muitos especialistas e ver dicas de ouro 
do século XXI: “Quanto mais conectado melhor”. 
Independente do que seja excesso em uma era em que tudo é digital, a grande questão é 
sobre como lidar com as novidades tecnológicas que chegam diariamente e procurar entender a sua 
real utilidade. 
Não dizem que a Internet é um mundo sem limites? Pois bem, nesse universo é bem capaz 
de você não saber o porquê de estar fazendo o que está fazendo. 
No artigo Por que a série Black Mirror é pertubadora, há uma relação entre a série com o 
momento atual mostrando o quanto a tecnologia pode potencializar nossas neuroses humanas. Para 
equilibrar essa fusão, a melhor forma é experimentar sem medo e, indo mais além, observar como 
reagiremos a ela. 
Sem essa análise, autoconhecimento e consciência de que quem manda é você, qualquer 
nova tecnologia poderá ser perturbadora. 
Um dos episódios em Black Mirror mais polêmicos e que gerou muitas discussões é o Queda 
Livre (Nosedive, em inglês). Nele, sua vida é avaliada de acordo com o que você publica na rede. A 
sociedade é quem dá a nota. Quanto maior sua nota, mais socialmente você é aceito, melhor o carro 
que você pode alugar, maior o acesso aos condomínios de luxo e, quem diria, participar (ou não) do 
casamento de uma amiga de infância. Essa pontuação se dá via redes sociais e sua exposição 
nelas. Coisas que fazemos muito bem, obrigada. 
A grande questão é quando você passa a viver simplesmente para isso – seja na sua vida 
pessoal seja no seu trabalho. Afinal, você está sendo avaliado. 
Se hoje o fato de estar conectado, expor o seu melhor, significa ter uma vida bem sucedida, 
então o episódio Queda Livre já não é mais sobre o futuro, é sobre o presente. 
Muito provavelmente você já usou Uber ou outros serviços de transporte privado 
como 99Taxis ou Blá Blá Car e, se não usa, provavelmente já ouviu falar. A rotina é a seguinte: 
Você solicita um carro, o motorista chega. Simpático e agradável (na maioria das vezes) ele ou ela 
devem agir assim, pois além de estarem em busca de prestar um bom serviço, é preciso uma boa 
avaliação pública. Sentimo-nos mais seguros, com um melhor atendimento. Ah, só não se esqueça 
de você ser gente boa também, até porque, ao final da corrida, ele também vai te avaliar. Um 
sistema justo, eu diria. Agradecemos a tecnologia. Mas, o que está além disso? Consegue 
enxergar? 
Outro dia, conversando com um motorista do Uber, comentei que iria escrever um artigo 
sobre o episódio citado nesse texto (ele não conhecia a série), até que cogitei a possibilidade de um 
dia sermos avaliados para tudo. Veio a resposta: “Ah, mas isso já está acontecendo! Fui me 
cadastrar no 99Taxis, e na hora de me candidatar, se eu tivesse avaliação abaixo de 4.5 pontos no 
UBER, eu não poderia trabalhar”. 
Se os futuristas me permitirem palpitar, acredito que em um futuro muito breve, mais e mais 
empresas passarão a adotar os sistemas globais de pontuação como critério de seleção de 
candidatos – em qualquer emprego. Isso é muito positivo no âmbito de serviços ao público, afinal 
quem usa avalia, certo? Agora, imagine no seu próximo emprego, a empresa checar a avaliação do 
seu trabalho baseado no que seus colegas de trabalho acham de você, ao invés de pedir a 
recomendação apenas para seu ex-chefe? Aí te pergunto: Você está preparado para ser avaliado 
de forma tão ampla? Será que estamos prontos para entender como tudo isso funcionará? 
Nem todos estão. E digo o porquê. Uma vez que utilizei o Uber Pool – no qual você 
compartilha a sua rota com outros passageiros – ao chegar ao local para pegar a segunda 
passageira, ela estava parada em uma via expressa exclusiva para ônibus. Consciente das regras 
de trânsito, o motorista parou a uns 200 metros à frente da moça. 
Foi aí que começou a confusão. A reação da passageira mostrava que ela achou um A-B-S-
U-R-D-O ele não parar onde ela estava. Após xingamentos e bate-boca, ela cancelou a viagem. 
Fomos embora. O que pensei? Ainda não estamos prontos, ou melhor, ela não está. O fato de usar 
um aplicativo que te dá o poder de avaliar o próximo não significa que o outro deve fazer o que o seu 
umbigo mandar. Me senti na obrigação de avaliar o motorista com 5 estrelas (até porque ele me 
atendeu muito bem) e ainda fazer um ótimo comentário – com receio de „a louca‟ o prejudicar de 
alguma forma. 
 Agora se choque com esse segundo exemplo. Um rapaz, dessa vez no BLÁ BLÁ CAR me 
contou que utilizou o app para uma viagem entre a capital paulista e o interior. Sua avaliação da 
viagem tinha sido ÓTIMA. Até aí tudo perfeito. Mas, não para o caronista. 
Como assim? 
Quando o rapaz foi solicitar uma nova carona para este mesmo motorista, a solicitação foi 
recusada. Sem entender, o passageiro entrou em contato perguntando o porquê da recusa. A 
resposta: “Porque você marcou a última viagem como ÓTIMA… você não gostou foi? Eu sempre 
recebo EXCELENTE… agora você me fez cair de avaliação”. 
Oi? 
Não, não é trecho de filme que exagera na dose, é realidade. 
No serviço 99Taxis, se o motorista tem avaliação abaixo de 4.0, aparece uma mensagem 
pedindo para você relatar se algo ocorreu. Por um lado, existe uma preocupação das empresas em 
assegurar um ótimo serviço para seus clientes, por outro, há a pressão de uma avaliação cada vez 
melhor – e aí voltamos à discussão do episódio Queda Livre, em busca do comportamento social 
perfeito. 
Logo, temos mais duas questões a refletir. 
Se a tecnologia já permite a governos e empresas controlar tudo o que fazemos, agora a 
sociedade irá nos avaliar se somos bons naquilo que fazemos. Por isso, precisamos repensar e 
começar a reaprender a usá-la urgente. Veja o caso desse experimento que mostra que o Facebook 
já sabe tudo sobre você ou mesmo o filme NERVE, de2016. Sucesso entre os jovens, o filme mostra 
como o público e a tecnologia podem assumir o controle de sua vida, se você permitir. 
Como disse o jovem visionário Aaron Swartz, em 2012, em uma de suas últimas entrevistas. 
“A Internet criou toda essa liberdade e tudo vai ser maravilhoso. Ou tudo está horrível. A Internet 
criou ferramentas para regular, espiar e controlar o que dizemos. E as duas perspectivas são 
verdadeiras, cabe a nós decidir qual delas prevalecerá, porque as duas estão disponíveis e sempre 
estarão”. Para quem quiser ver o documentário sobre a história dele, clique aqui para assistir no 
Netflix. 
Os filmes e séries estão aí para vermos como tudo pode acontecer. Mais que entretenimento, 
alguns abordam o futuro de forma real e nos dão a oportunidade de visualizar COMO iremos 
querer usar a próxima novidade, porque amanhã ela estará aí, fazendo parte da nossa vida. 
Portanto, lembre-se: não é para fugir, ignorar ou consumir as novas tecnologias sem pensar. 
É aprender a usar. É saber que você (ainda) não está pronto, mas pode estar, se quiser. 
 
Adaptado de: http://ofuturodascoisas.com/tecnologia-nos-ainda-nao-estamos-preparados/. Acesso em fev. de 2017.

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