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Resumo 1 bim direito penal III Alt

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Calúnia: Prova da Verdade
Relativamente aos crimes que atingem a honra objetiva, faz-se possível o exercício da exceção da verdade, consistente possibilidade jurídica dada ao querelado de provar que o fato que imputar a outrem é verdadeiro.
De tal sorte, no crime de calúnia, provando o agente a veracidade do alegado (pelo instituto da exceção da verdade), faz-se desaparecer o elemento da calúnia, observadas, todavia, quanto à possibilidade jurídica, as exceções constantes nos incisos do § 3º do artigo 138 do Código Penal
Quais sejam:
I - Se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;
II - Se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141;
III - Se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
Por seu turno, a exceção da verdade – no crime de difamação – será admitida, excepcionalmente, na hipótese de a vítima ser funcionário público e o fato tenha a ver com o exercício de sua função, de modo que o agente provando a veracidade do alegado, afasta o crime de difamação.
Veja-se:
Art. 139, parágrafo único: a exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.
Quanto ao aspecto processual, diz oportuna a arguição da exceção da verdade na defesa prévia do querelado, como forma de questão prejudicial homogênea, sob pena de restar fulminada pela preclusão.
De maneira que, nos termos do art. 523 do Código de Processo Penal:
Quando for oferecida a exceção da verdade ou da notoriedade do fato imputado, o querelante poderá contestar a exceção no prazo de dois dias, podendo ser inquiridas as testemunhas arroladas na queixa, ou outras indicadas naquele prazo, em substituição às primeiras, ou para completar o máximo legal.
Desta feita, trata-se o instituto da exceção da verdade de ferramenta hábil para tornar justa a conduta do querelado, afastando-se a tipicidade da conduta.
Injúria: Espécies
Há que se observar, contudo, que o Código Penal trabalha com três espécies de injúria: a injúria simples, a injúria real e a injúria preconceituosa. A injúria preconceituosa é, dos crimes contra a honra da pessoa, o mais grave de todos.
Injúria simples só o fato de ofender já caracteriza o crime.
Injúria Real pode ser por violência ou vias de fato, ou caracterizada por situações aviltantes. Injúria é xingamento. A partir do momento em que se passa para o confronto físico, estamos na injúria qualificada.
Cuidado: podemos estar numa situação de lesão corporal. A diferença entre vias de fato e lesão corporal é que esta deixa marcas, enquanto aquela não.
Situações aviltantes: entre outras coisas, quando o agente encosta na vítima da injúria. Pode-se encostar pessoal-fisicamente ou atirando um objeto.
E a lesão corporal, como fica? A partir desse momento em que temos uma lesão corporal leve, a pessoa é absolvida dentro da injúria real. Mas se for uma lesão corporal grave ou gravíssima, teremos uma situação de concurso de crimes. A pessoa responderá por concurso material, não formal. ¹
Injúria preconceituosa ou discriminatória: é outra forma de injúria qualificada. Em relação à cor, etnia, origem, religiosa, raça, sexo. Há discussão na doutrina sobre origem ser “nascimento”. Não aceite isso em concursos. Se a ofensa for em relação a sexo, não encaixe dentro da injúria. Situações em que há maiores de 60, ou deficiente físico. A injúria preconceituosa é o único caso em que não se vai ao Juizado Especial Criminal. Isso é extremamente importante. Todos os crimes contra a honra vão, pois são crimes de menor potencial ofensivo. Injúria, se for preconceituosa, irá para o juizado comum, pois já tem pena cominada superior a 2 anos. Extrapola-se a competência legal do Juizado Especial Criminal.
Outro cuidado: são situações de dificílima comprovação. A injúria tem que ser proferida de uma maneira que se utilize mesmo use mesmo a questão da cor.
“Ei negão! Desce a cerva!” Não é injúria pois não há o dolo de ofender em função da cor.
“E aí veião!” Se alguém se dirige a um idoso dessa forma, ainda não há ofensa. É necessário o dolo.
Qualificação doutrinária do crime de injúria
Objetividade jurídica: honra subjetiva.
Sujeito ativo e passivo: qualquer pessoa. Atenção: vamos encontrar também, e é bem aceito, que é necessário que se magoe. E os que não têm capacidade de discernimento? Em regra, elas não podem ter a honra subjetiva afetada.
Tipo objetivo: injuriar. Animus injuriandi.
Tipo subjetivo: dolo direto e eventual. Para nenhum desses crimes existe modalidade culposa.  Tem que haver a vontade de machucar.
Ação penal: em regra, é privada. O crime é formal, ou seja, não precisa de resultado naturalístico. É comum, instantâneo, de ação livre.
Exclusão de punibilidade: dentro da injúria, temos duas possibilidades de exclusão da punibilidade: retorsão ou agressões recíprocas. 
Retorsão: sempre feita sob violenta emoção e após injusta provocação. Para entender um exemplo, lembrem-se daqueles dias que você acorda “azedo”. Qualquer pequena provocação e seu sangue já sobe. Essa seria a retorsão. Acontece muito no trânsito. Se o sujeito te provoca no transito, você em tese pode xingá-lo. É uma situação “horrorosa” mesmo, mas cuidado, claro, com outros problemas que podem derivar de uma injúria no trânsito.
Agressões recíprocas: não interessa quem começou. Para quem tiver entrado na agressão recíproca não haverá punibilidade, mas o fato de não haver pena significa que não haverá processo? Negativo. Vai ter sim um processo. 
Depois de toda a audiência de instrução e julgamento, o juiz sentencia e não aplica a pena. Costuma ser cobrada essa situação em prova: “Jocélia, esquentadinha, é provocada por Joabe, seu adversário, e logo em seguida eles iniciam uma contenda oral. Joabe responde às agressões verbais e os dois continuam discutindo com palavreados durante minutos. Neste caso, quem deverá receber pena pelo crime de injúria?” Resposta: não interessa quem começou. A partir do momento em que as agressões são recíprocas não haverá mais punibilidade.
Calúnia contra morto e Difamação contra pessoa jurídica
O morto, por não ser titular de direito, não pode ser sujeito passivo de um crime. O morto não possui personalidade jurídica. No entanto, certos delitos contra o respeito aos mortos são punidos, sendo vítimas, no caso, a família ou a coletividade.
Nas palavras do professor Rogério Sanches:
A calúnia contra os mortos também é punida (art. 138, 2º), mas, sendo a honra um atributo dos vivos, seus parentes é que serão os sujeitos passivos, interessados na preservação da sua memória. Neste caso, a queixa (art. 145 do CP) será movida pelo seu cônjuge (ou companheiro/companheira), ascendente, descendente ou irmão (arts. 30 e 31 do CPP). Para ajudar no estudo, utiliza-se o mnemônico “CADI” – Cônjuge ou Companheiro, Ascendente, Descendente ou Irmão.
Calúnia:
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
(...)
2º - É punível a calúnia contra os mortos.
Vale dizer que o assunto em estudo foi objeto de questionamento no concurso para Procurador do TC/MG, e a assertiva incorreta dizia: De acordo com o ordenamento penal vigente, o homem morto pode ser sujeito passivo de crime.
O crime de difamação prevê a imputação de fato ofensivo à reputação de alguém. Consuma-se o delito quando o fato ofensivo chega ao conhecimento de terceiros.
O Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de que é possível a pessoa jurídica ser vítima dos crimes de difamação, conforme Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 83.091/DF. Em caminho oposto, o Superior Tribunal de Justiça concluiu, em alguns julgados, que a difamação permite somente como sujeito passivo a criatura humana
O primeiro argumento é o de que pessoas jurídicas, por praticarem atos e fatos autônomos, são objeto de um conceito próprio (positivo ou negativo) independentemente de seus integrantes. É elementarque uma empresa, instituição ou órgão colegiado possa ser atingido em sua reputação e, portanto, ser vítima de um ilícito criminal, principalmente se o evento for avaliado na perspectiva sociológica (DOTTI; KNOPFHOLZ, 2008, p. 436).
O segundo argumento, partindo de uma interpretação integrativa do ordenamento jurídico, é o de que se a ordem jurídica positiva admite que as pessoas morais podem ser autores de determinadas formas de ilicitude, isto é, a sua capacidade ativa, por lógica há que se reconhecer a capacidade passiva em relação a uma imensa variedade de crimes, inclusive os que ofendem a honra objetiva, como é o caso da difamação.
O terceiro argumento parte da análise do art. 52 do Código Civil brasileiro, que consagrou a proteção dos direitos da personalidade à pessoa jurídica e, dentre os direitos da personalidade, a Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso X, previu a honra. Assim, se a pessoa jurídica pode sofrer dano moral, conforme dispõe o artigo 5º, inciso V, da Constituição da República e a Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça, inquestionavelmente ela pode ter sua honra objetiva afetada.[1: Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.][2: X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;][3: V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;][4: SÚMULA 227 - A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.]
Como último argumento, frise-se que todos os diversos esboços legislativos previam a vitimização da pessoa jurídica no crime de difamação. No anteprojeto do Código Penal de 1984, havia a previsão do delito de “ofensa à pessoa jurídica”. Em seu relatório final, o presidente Cernicchiaro anotou que “no capítulo Dos Crimes Contra a Honra, tomou-se partido em velha polêmica doutrinária, isto é, se a Pessoa Jurídica pode ser sujeito passivo do crime de difamação. Responde-se “afirmativamente”. Anos mais tarde, em 1998, novamente foi apresentado o trabalho de revisão do Anteprojeto de 1998, o qual passou a prever o delito de “ofensa à pessoa jurídica”, como tipo especial da difamação (DOTTI; KNOPFHOLZ, 2008, p. 438-439).
Por fim, a pessoa jurídica somente pode ser vítima de calúnia, quando o fato falso a ela atribuído for previsto como crime ambiental. Apesar de a Constituição Federal prever a prática de crimes contra a economia popular, ordem econômica e financeira não há que se falar em crime de calúnia neste caso, já que a responsabilidade penal é individual.
Quanto a difamação, admite-se que a pessoa jurídica seja vítima, já que dispõe de um conceito de valores diante da sociedade. Uma empresa pode ter sua reputação destruída ao ser denegrida por algum fato dito ou exposto de outra forma. Há certa concordância neste caso entre doutrinadores e juristas.
Já em relação a injúria, seria impossível admitir a pessoa jurídica como vítima de tal crime.
Crimes contra a honra e lei nº 9.099/95
Os crimes contra a honra estão sujeitos aos Juizados Especiais Criminais, ou seja, se submetem ao procedimento sumaríssimo, uma vez que constituem crimes de menor potencial ofensivo.
Mas a coisa não é tão simples assim. O § 3º, do artigo 140 do Código Penal, dispositivo legal que trata o tipo penal da injúria, traz uma espécie de injúria qualificada, mais comumente chamada pela doutrina de injúria preconceituosa. Diz respeito a injúria praticada com a utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Nesse caso a pena cominada é de um a três anos, fugindo nesse caso da competência dos Juizados Especiais, uma vez que nestes só se admitem o julgamento de contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima de dois anos, segundo o art. 61 da Lei nº 9.099/95,[5: § 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:Pena - reclusão de um a três anos e multa.][6: Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa".]
Para o jurista Rogério Greco, a aí uma dupla aplicabilidade de procedimentos. É o que pensa o doutrinador quando diz que:
"Compete, pelo menos inicialmente, ao Juizado Especial Criminal o processo e o julgamento do delito tipificado no art. 140 do Código Penal, tendo em vista que a pena máxima cominada em abstrato não ultrapassa o limite de 2 (dois) anos, nos termos do art. 61 da Lei nº 9.099/95, com a nova redação dada pela lei nº 11.313, de 28 de junho de 2006, excepcionando-se a chamado injúria preconceituosa, prevista no § 3º do art. 140 do Código Penal, cuja pena máxima cominada é de 03 (três) anos". (Rogério Greco. Código Penal Comentado. 4º ed. Editora Impetus. Niterói, RJ: 2010. pág. 329).
Sendo assim, conclui-se que pode ser usado dois procedimentos no crime de injúria. Se o crime for cometido na forma do caput do art. 140, adota-se o procedimento sumaríssimo trazido pela Lei nº 9.099/95, que instituiu os Juizados Especiais Criminais. Lado outro, se é cometida a chamada injúria preconceituosa, que se encontra no § 3º do citado artigo, o procedimento adotado deverá ser o procedimento previsto nos artigos 519 a 523 do Código de Processo Penal.
Nos demais crimes contra a honra (calúnia e difamação), resta claro que o procedimento adotado será sempre o procedimento sumaríssimo, uma vez que a pena prevista em ambos os tipos penais não ultrapassa dois anos, se enquadrando perfeitamente ao art. 61 c.c com art. 60 da Lei nº 9.099/95 que ditam o seguinte:
"Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência.
(...)
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa".
Diante do que foi exposto, fica demonstrado de uma forma sucinta, a quase total inaplicabilidade do procedimento previsto nos artigos 519 a 523 do Código de Processo Penal brasileiro. O procedimento, que genericamente se aplicará, quando o crime submetido a julgamento for um crime contra a honra é o procedimento sumaríssimo e não o procedimento especial que ainda está presente no CPP. Só se aplicará o antigo procedimento no caso excepcional de o crime pratico for a chamada injuria preconceituosa.
Dolo de dano em crime de perigo
Os crimes de perigo causam um perigo de ofensa ao bem jurídico tutelado, um perigo de dano. São tipos penais subsidiários, de forma expressa ou tácita. Quando houver dolo de causar dano ao bem jurídico tutelado, deve o sujeito responder pelo crime de dano e não pelo crime de perigo, ainda que na modalidade tentada.
Os crimes de perigo dividem-se em crimes de perigo concreto e crimes de perigo abstrato. Nos crimes de perigo abstrato, o perigo é visualizado pelo legislador ex ante, ou seja, o legislador comina uma pena à conduta pelo mero fato de considerá-la perigosa, independentemente da existência de perigo real no caso concreto. Já nos casos de perigo concreto, a análise do perigo é feita ex post, ou seja, cabe a verificação se a conduta gerou ou não um perigo de dano no caso concreto.
Geralmente os tipos penais que contêm as expressões “gerando perigo de dano”, “expondo a perigo” são tipos penais de perigo concreto, só havendo crime se houver perigo de ofensa ao bem tutelado no caso concreto.
Portanto, os crimes de perigo não exigem a efetiva produção de um dano e sim exigeapenas que a prática de uma conduta típica produza um perigo ou a lesão a um bem jurídico tutelado pelo Estado, isso significa dizer a possível ocorrência de um dano. Assim sendo, o perigo, seria entendido como probabilidade de um dano a um bem jurídico-penal.
Abandono de incapaz e exposição ou abandono de incapaz para ocultar desonra própria
Abandono de incapaz
Art. 133 - Abandonar pessoa que esta sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono.
Conforme previsto no "caput" do artigo 133 do Código Penal, caracteriza-se como incapaz qualquer pessoa que não possui condições de se defender dos riscos resultantes do abandono. Assim, abrange o tipo penal, v.g., o abandono de pessoa em estado de completa embriaguez deixada à noite às margens de rodovia de grande movimento.
A consumação do crime ocorre com o citado abandono, desde que coloque em perigo o ofendido, ainda que momentaneamente. É admissível a tentativa, independente da forma, é necessário o "dolo específico" para a caracterização do delito.
A caracterização do crime de "abandono de incapaz" deve ser procedida de extrema cautela, haja vista que pode ensejar delito diverso, caso ausente qualquer de seus elementos indispensáveis. 
Assim, v.g., não havendo o dever de assistência, o comportamento pode constituir o delito de omissão de socorro (CP, art. 135) ou, em se tratando de recém-nascido, o de abandono de recém-nascido (art. 134, CP). Ainda, se o abandono é praticado em local absolutamente deserto, pode haver o dolo eventual do homicídio. No caso do abandono moral e não físico, pode-se configurar algum dos crimes contra a assistência familiar (cp. arts. 244 - 247), dentre outras hipóteses.
São considerados incapazes:
Menores de 16 anos;
Maiores de 60 anos;
Deficientes (de qualquer tipo), salvo por algumas exceções.
Exposição ou abandono de recém-nascido
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria.
É importante distinguir os verbos “expor” e “abandonar” referidos no artigo 134 do Código Penal: “Abandonar” tem sentido de largar ou deixar de dar assistência pessoal devida ao recém-nascido, exprimindo desamparo e desprezo, já “expor”, conceitua-se como colocar em perigo, retirando a pessoa do seu lugar habitual para leva-la a ambiente hostil, desgrudando-se dela. (Nucci, p.615). Ambas a situações, podem se dá por omissão da mãe ou do pai.
Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria. é punível com detenção de 6 meses a 2 anos. E se do fato resulta lesão corporal de natureza grave a pena aumenta para detenção, de 1 a 3 anos. Se resulta a morte a pena é de detenção, de 2 a 6 anos.
Conceito de recém-nascido - entende-se por recém-nascida a criança desde o seu nascimento até o 28º dia de vida, de maneira que a partir do 29º dia de existência, a criança passa a ser chamada de lactente até que complete dois anos de idade. Bem jurídico tutelado: A vida e a saúde do recém-nascido. (Bitencourt, p.299).
Observa-se que para a configuração do crime de exposição ou abandono de recém-nascido, é imprescindível que a conduta do agente seja a de ocultar desonra própria, com o intuito de esconder a prática de ato sexual que poderá ser repudiada pela família da mulher ou do homem ou pela comunidade em que vivem, pelo fato de ter ocorrido em uma relação extraconjugal, por violar os costumes familiares ou até mesmo por desrespeitar crença religiosa.
a) Sujeito ativo
Tanto na exposição ou abandono de recém-nascido, como no abandono de incapaz, o sujeito ativo precisa de uma qualidade especial, uma vez que: 1) o agente do art. 133 (abandono de incapaz) é aquele que cuida, possui a guarda, vigilância ou autoridade sob o sujeito passivo (relação de assistência e cuidado); e 2) o agente do art. 134 (exposição ou abandono de recém-nascido) é a mãe com gravidez adulterina ou o pai adulterino (ou vítima de adultério) ou incestuoso. Assim, quanto à classificação segundo o sujeito, tais crimes são próprios.
b) Sujeito passivo
O sujeito em cada um desses crimes precisa ter uma qualidade especial. Desse modo, levando em consideração a classificação quanto ao sujeito passivo, tais delitos são crimes próprios, uma vez que: 1) no abandono de incapaz a vítima precisa não possuir capacidade de defender-se dos riscos resultantes do abandono; 2) na exposição ou abandono de recém-nascido o sujeito passivo precisa ser necessariamente o recém-nascido;
c) Consumação
Tais crimes consumam-se com a simples conduta, ou seja, são crimes formais. O resultado é o mero exaurimento, podendo servir como qualificadora no crime de abandono de incapaz e exposição ou abandono de recém-nascido e causa de aumento no crime de omissão de socorro.
d) Tentativa
A tentativa é possível no abandono de incapaz e na exposição ou abandono de recém-nascido (crime plurissubsistente), enquanto na omissão não se admite (crime unissubsistente).
e) Tipo subjetivo
Todos os crimes importam o dolo de perigo. Porém, no abandono de incapaz o dolo pode ser direto ou eventual, o que não é possível na exposição ou abandono de recém-nascido, já que este só admite o dolo direto.
f) Elemento subjetivo especial - Finalidade específica
O caput dos arts. 133 e 135 não traz o objetivo que agente tem com a conduta ali descrita. Assim, esses crimes são classificados como crimes congruentes (requerem apenas o dolo), ao contrário do art. 134, no qual o sujeito ativo tem o intuito de ocultar desonra própria com aquela conduta. Trata-se, então, neste último caso, de um crime incongruente (requer tanto o dolo quanto a finalidade específica).
g) Perigo
No abandono de incapaz e na exposição ou abandono de recém-nascido, o perigo é concreto, isto é, é necessário comprovar o risco ao bem protegido.
Exemplos: 
1) A, mulher religiosa e casada, mantém, fora do casamento, relações sexuais com vários indivíduos. B, seu marido, possui uma doença que impossibilita a reprodução de uma nova vida, e todos sabem dessa triste enfermidade de B. A, então, sentindo sintomas de gravidez, faz um exame e constata que está grávida. Após dois dias, A viaja para outra cidade com o intuito de esconder o caso, já que todos sabem que ela não pode ficar grávida de seu marido, e aquela criança advém de um relacionamento extramatrimonial. Assim, depois de ter seu filho naquela outra cidade, A volta para a sua casa, deixando seu filho ao desamparo.
Nessa situação, A cometeu o crime de abandono de recém-nascido (art. 134, CP), pois a mesma teve o dolo de abandonar e a finalidade de ocultar desonra própria.
2) A, mulher religiosa e casada, mantém, fora do casamento, relações sexuais com vários indivíduos e todos da cidade sabem disso. A, então, sentindo sintomas de gravidez, faz um exame e constata que está grávida, e toda a cidade sabe que aquela criança não é de B, marido de A. Após dois dias, A viaja para outra cidade com seu marido, e ficam lá até após o nascimento da criança. Voltando para casa, A, para poder ir ao banheiro, deixa seu filho com B, e este deixa a criança em um setor de embarque diferente do que eles estavam. B diz para A que alguém pegou o recém-nascido enquanto ele estava comprando uma água.
Nessa situação, embora seja um recém-nascido vítima da conduta, o crime praticado por B foi abandono de incapaz (art. 133), visto que ele teve o dolo de abandonar, mas não tinha a finalidade de ocultar desonra. Além disso, a vítima estava sob o seu cuidado no momento da conduta.
3) A, percebendo que B, criança de 5 anos de idade, se acha perdida no caminho fora do lugar de sua residência, não procura saber para onde B vai, deixando-a, assim, sem qualquer assistência. Além disso, A não informa para a autoridade pública que há uma garota perdida, não exercendo qualquer ato de solidariedade com a menor.
Nessa situação, A cometeu o crime de omissão de socorro (art. 135), uma vez que deixou de prestar assistência à criança extraviada.Contágio de doença venérea
Art. 131 – Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio.
Pena – Reclusão, 1 a 4 anos, e multa
Ao analisar o tipo penal, verifica-se que o agente quer praticar o ato que seja capaz de transmitir o contágio de moléstia grave de que é portador, evidenciando que nesse caso ele tem como objetivo a transmissão do mal a vítima.
Moléstia grave: Doença séria, que inspira preciosos cuidados, sob pena de causar sequelas ponderáveis ou mesmo a morte do portador segundo NUCCI.
Para Bitencourt, alguns autores sustentam que, a exemplo da hipótese do art. 130, § 1, teríamos aqui uma hipótese de tentativa de lesões corporais distinguida, excepcionalmente, em crime autônomo, mas essa ideia não é compartilhada por esse autor, pois na medida em que a ocorrência da própria lesão, isto é, ainda que o contágio se concretize, não alterará a tipificação da conduta, pois representará o simples exaurimento do crime definido no art. 131.
O perigo de contágio de moléstia grave deve ser concreto, logo, precisa ser efetivamente comprovado. Exemplos de moléstias independente de constarem no Ministério da Saúde: varíola, tuberculose, cólera, lepra, AIDS, etc. A moléstia grave pode ser transmitida de através de ato libidinoso e, desde que não seja venérea, tipificará o art. 131; se, ao contrário, for venérea, tipificará o art. 130.
SUJEITO ATIVO E PASSIVO
Ativo: pessoa contaminada por moléstia grave e contagiosa, essa é uma condição particular exigida pelo tipo penal, a falta dela poderá caracterizar crime impossível, por ineficácia absoluta do meio.
Passivo: pode ser qualquer pessoa, desde que não esteja contaminada por igual moléstia. O cônjuge e a prostituta também podem, desde que estejam presentes os elementos subjetivos (o dolo e o especial fim de agir).
OBJETOS MATERIAL E JURÍDICO
Objeto Material: pessoa que sofre o contágio ou corre o risco de contaminar-se;
Objeto Jurídico: vida e saúde.
AÇÃO TIPICA
Ação Nuclear: praticar, a transmissão pode ocorrer por meio de qualquer ato (inclusive libidinoso, desde que a moléstia grave não seja venérea), desde que capaz de produzir o contágio. A moléstia além de ser grave tem que ser contagiosa
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Se consuma com a prática do ato idônea para transmitir a moléstia, sendo indiferente a ocorrência efetiva da transmissão, que poderá ou não ocorrer. Que pode se consumar com a prática de atos libidinosos, desde que a moléstia grave não seja venérea. Afasta-se o delito se o agente não tem a intenção de transmitir a moléstia, embora o crime seja de perigo, o dolo é de dano.
Esse tipo penal admite a forma tentada. A consumação se dá com a prática do ato capaz de produzir o contágio.
CLASSIFICAÇÃO:
Crime próprio: pois demanda sujeito ativo qualificado ou especial: alguém contaminado. Formal: não exige necessariamente um resultado naturalístico; o simples ato capaz de produzir o contágio tipifica o crime.
Forma livre: pode ser cometido por qualquer meio escolhido pelo agente;
Unissubsistente ou plurissubsistente: se a condução da doença for efetivada por único ou vários atos; admite-se tentativa na forma plurissubsistente.
OBS importante: Aplicação da pena da lesão corporal grave, gravíssima ou seguida de morte.
Prossegue-se da mesma forma que o crime de perigo de contágio venéreo. Nesse caso, prevê a forma do art. 129, §§ 1 ou 2, conforme o caso, tendo em vista que o dolo é de dano. Somente a lesão simples fica absorvida por este delito (CP, art. 129, caput). Com a morte da vítima, haverá o crime preterdoloso: lesão corporal seguida de morte (CP, art. 129, § 3º). A pena é cumulativa, de um a quatro anos de reclusão e multa. A Ação penal é pública incondicionada.
CONTROVERSIA
Se o indivíduo tiver AIDS? Responde por homicídio doloso consumado.
AIDS – não é considerada doença venérea, pois a referida doença possui outras formas de transmissão que não são as vias sexuais. Desse modo, o agente ativo poderá responder por tentativa de homicídio ou homicídio consumado, de acordo com o caso concreto.
Maus tratos - castigo e tortura
O dolo presente no tipo penal de maus tratos é de expor a perigo. Seria, por exemplo, um pai tentando “ensinar uma lição” ao seu filho deixando-o trancado no quarto por um dia apenas com pão e água. Além disso, no crime de maus tratos, qualquer resultado além da mera exposição a perigo é considerado culposo. Logo, caso os maus tratos resultem em lesão corporal grave ou homicídio, haverá aumento de pena por este resultado preterdoloso. Ademais, no tocante aos sujeitos ativo e passivo, aquele precisa ser detentor de autoridade, guarda ou vigilância em relação a este. Não pode ocorrer este crime entre cônjuges, por exemplo.
Veja-se o que diz o Código Penal sobre o crime de maus tratos, litteris:
Art. 136 – Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena – detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§1º – Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão, de um a quatro anos.
§2º – Se resulta a morte:
Pena – reclusão, de quatro a doze anos.
3º – Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.
Conforme Guilherme de Souza Nucci, “expor, neste contexto, significa colocar em risco, sujeitar alguém a uma situação que inspira cuidado, sob pena de sofrer um mal”. Impende mencionar que:
“[…] é preciso destacar que tudo gira em torno da finalidade especial do agente, tratando do elemento subjetivo do tipo específico, de ter alguém sob sua autoridade, guarda ou vigilância, maltratando-a. Por isso, o tipo faz referência ao que pode ser usado para esses objetivos, mencionando a privação da alimentação ou dos cuidados indispensáveis e a sujeição a trabalho excessivo ou inadequado”.
Com efeito, o dolo presente na tortura é o de dano. A intenção não seria expor a perigo, mas sim causar o dano em si. O elemento subjetivo não é apenas maltratar, é causar dor ou sofrimento intenso com o objetivo de punir.
Não obstante, há quem opte por diferenciar ambos os delitos pela intensidade da punição. Logo, em consonância com quem defende este entendimento, a tortura-castigo seria uma modalidade mais incisiva de maus-tratos. A seu turno, o delito de tortura-castigo apenas foi tipificado com o advento da Lei nº. 9.455/97, comumente denominada Lei da Tortura, a qual preconiza que:
 Art. 1º Constitui crime de tortura:
II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Pena – reclusão, de dois a oito anos.
Por fim, a diferença da tortura para o crime de maus-tratos, do art. 136, do CP, está exatamente na intensidade do sofrimento da vítima.
Feminicídio
Feminicídio é o homicídio doloso praticado contra a mulher por “razões da condição de sexo feminino”, ou seja, desprezando, menosprezando, desconsiderando a dignidade da vítima enquanto mulher, como se as pessoas do sexo feminino tivessem menos direitos do que as do sexo masculino.
É um crime previsto no inciso VI, § 2º, do Art. 121 do CP. 
Quando cometido "contra a mulher por razões da condição de sexo feminino". O §2º-A, do art. 121, do referido código, complementa o supracitado inciso ao preceituar que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: 
I - violência doméstica e familiar (o art. 5º da Lei nº 11.340/06 enumera o que é considerado pela lei violência doméstica); 
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. O feminicídio foi incluído na legislação brasileira através da Lei nº 13.104, de2015. Muitas vezes popularmente ainda chamado de "crime passional".
Sujeito ativo
Pode ser qualquer pessoa (trata-se de crime comum).
O sujeito ativo do feminicídio normalmente é um homem, mas também pode ser mulher.
Sujeito passivo
Obrigatoriamente deve ser uma pessoa do sexo feminino (criança, adulta, idosa, desde que do sexo feminino).
Mulher que mata sua companheira homo afetiva: pode haver feminicídio se o crime foi por razões da condição de sexo feminino.
Homem que mata seu companheiro homo afetivo: não haverá feminicídio porque a vítima deve ser do sexo feminino. Esse fato continua sendo, obviamente, homicídio.
Razões de condição de sexo feminino
Para ser enquadrado neste inciso, é necessário que, além de a vítima ser mulher, fique caracterizado que o crime foi motivado ou está relacionado com o menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Ex.1: funcionário de uma empresa que mata sua colega de trabalho em virtude de ela ter conseguido a promoção em detrimento dele, já que, em sua visão, ela, por ser mulher, não estaria capacitada para a função;
Ex.2: marido que mata a mulher porque acha que ela não tem “direito” de se separar dele; 
Ex.3: companheiro que mata sua companheira porque quando ele chegou em casa o jantar não estava pronto.
Tentado ou consumado
O feminicídio pode ser tentado ou consumado.
Tipo subjetivo
O feminicídio pode ser praticado com dolo direto ou eventual.
Natureza da qualificadora
A qualificadora do feminicídio é de natureza subjetiva, ou seja, está relacionada com a esfera interna do agente (“razões de condição de sexo feminino”). Ademais, não se trata de qualificadora objetiva porque nada tem a ver com o meio ou modo de execução.
Desse modo, é possível aplicar o privilégio do § 1º ao feminicídio? É possível que exista feminicídio privilegiado?
NÃO. A jurisprudência até admite a existência de homicídio privilegiado-qualificado. No entanto, para isso, é necessário que a qualificadora seja de natureza objetiva. No caso do feminicídio, a qualificadora é subjetiva. Logo, não é possível que haja feminicídio privilegiado.
Causas de aumento de pena
A Lei n.º 13.104/2015 previu também três causas de aumento de pena exclusivas para o feminicídio. Veja:
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:
I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II – contra pessoa menor de 14 (quatorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;
III – na presença de descendente ou de ascendente da vítima.
Aumento: de 1/3 até a 1/2.
Transexual, homossexual e travesti
Vítima homossexual (sexo biológico masculino): não haverá feminicídio, considerando que o sexo físico continua sendo masculino.
Vítima travesti (sexo biológico masculino): não haverá feminicídio, considerando que o sexo físico continua sendo masculino.
Transexual que realizou cirurgia de transgenitalização (neovagina) pode ser vítima de feminicídio se já obteve a alteração do registro civil, passando a ser considerada mulher para todos os fins de direito?
NÃO. A transexual, sob o ponto de vista estritamente genético, continua sendo pessoa do sexo masculino, mesmo após a cirurgia.
Participação em suicídio
Participação em suicídio: 
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: 
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. 
Parágrafo único - A pena é duplicada: 
Aumento de pena 
I - se o crime é praticado por motivo egoístico; 
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
Suicídio é a eliminação voluntária e direta da própria vida. Nelson Hungria dizia que era imprescindível a vontade direta de o agente querer se despedir da vida. 
Suicídio não é crime. Logo, a tentativa de suicídio não induz qualquer pena ao agente. Esse dispositivo pune a participação no suicídio mediante induzimento, instigação ou auxílio. 
No passado, o suicídio já foi considerado crime, sendo que as penas eram aplicadas ao Cadáver (exposição do corpo, mutilação, privação de honras de sepultamento) ou aos bens e a família do suicida.
Sujeito ativo 
É um crime comum, não se exigindo qualidade especial do agente. 
A induz B a auxiliar C a se suicidar. C efetivamente morre. Qual o crime que foi praticado por A? B, por óbvio, pratica o crime de participação em suicídio. A é participe do crime previsto no art. 1 22 do CP. A conduta de A é acessória e a de B a principal.
Sujeito passivo
 
O sujeito passivo do crime de participação em suicídio é qualquer pessoa capaz. 
Se a vítima for um incapaz, o crime será o de homicídio e não de participação em suicídio. Isso porque a incapacidade passa a ser tratada como instrumento do crime. 
É também imprescindível que a vítima seja determinada. Logo, quando o agente induz o suicídio de pessoas indeterminadas o há crime, pois, o fato é atípico. 
Ex: banda de rock que faz música induzindo o suicídio. Se um fã que ouve a música e se suicida não há crime, pois, o fato é atípico. Isso porque suicídio não é crime, logo não se pode falar em apologia ao crime. 
Bem jurídico tutelado 
Vida e sua preservação
Tipo objetivo 
O art. 122 do CP possui três núcleos: induzir, instigar ou auxiliar (tipo misto alternado). 
Induzir: o agente faz nascer na vítima a vontade e a ideia mórbida. 
Instigar: o autor reforça a vontade mórbida que já existe. 
Auxiliar: prestar assistência material para o cometimento do crime. Ex: emprestar a corda ou dar o veneno. 
Nas duas primeiras hipóteses, tem-se o que é chamado pela doutrina de participação moral. Já na terceira há participação material no suicídio de outrem. 
Se o agente induz, auxilia e instiga a pessoa a se matar, pratica um só crime, já que se trata de um crime plurinuclear ou de ação múltipla. Assim, se praticado mais de um núcleo dentro de um mesmo contexto fático, o crime continua sendo único. O juiz é quem irá considerar a pluralidade de núcleos na fixação da pena base. 
Existe auxilio por omissão?
- a primeira corrente entende que, dizendo o tipo “prestar-lhe auxílio”, quer abranger somente as condutas comissivas, ou seja, não existe o crime por omissão (Damásio, Celso Desmanto). 
- a segunda corrente entende que é possível o auxílio por omissão, desde que o omitente tenha o dever jurídico de evitar o resultado. É a chamada omissão imprópria. É a corrente que prevalece (Manzini, Maggiori, Noronha). 
O auxílio é sempre comportamento secundário, acessório, cooperação secundária. Jamais o auxílio pode se misturar com a execução da morte. Se o auxílio passar a ser a própria execução, o crime será de homicídio e não de participação em suicídio. 
Se o agente auxilia uma pessoa a se matar e esta, quando da execução do crime, se arrepende e demonstra isso ao agente. Se este não socorrer a vítima, o crime é de homicídio, ficando absorvido o crime de participação em suicídio. 
Art. 146, § 3.º, II: 
Não se considera constrangimento ilegal a coação para se evitar o cometimento do suicídio. 
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: 
II - A coação exercida para impedir suicídio. 
Tipo subjetivo 
O crime do art. 122 é punido a título de dolo, tão somente, não ao podendo incidir a modalidade culposa. 
O dolo pode ser direto ou eventual. 
E se o pai, negligentemente, deixa veneno de rato próximo da filha que sabia ter tendência ao suicídio. Nesse caso, há duas correntes: 
- O auxílio culposo deve ser tratado como homicídio culposo. 
 
- a segunda corrente, que é a que prevalece, diz que responderá, conforme o caso, por omissão de socorro, senão fato atípico 
Consumação e tentativa
Há três correntes acerca do tema:
Doutrina clássica (Nelson Hungria) 
O crime se consumaquando o sujeito induz instiga ou auxilia. Mas a punibilidade depende da morte da vítima, onde a pena é de dois a seis anos ou da lesão grave na vítima, onde a pena é de um a três anos. Esses resultados não consumam o crime, apenas condicionam a punibilidade. Há a chamada condição objetiva de punibilidade. 
O agente induz a vítima a se matar e ela morre: art. 122 consumado, com pena de dois a seis anos e punível o crime. 
O agente induz a vítima a se matar e ela sofre lesão grave: art. 122 consumado, com pena de um a três anos, sendo punível o crime. 
O agente induz a vítima a se matar e ela não morre e não sofre lesão grave: art. 122 consumado, mas não punível
Para essa corrente, o crime não admite tentativa, sendo esta juridicamente impossível. 
Essa corrente erra porque chama de condição objetiva de punibilidade dois resultados que fazem parte do dolo do agente.
Doutrina moderna (Mirabete) 
Quando o agente induz, instiga ou auxilia alguém a se matar, não consuma o crime, apenas o executa. Somente no caso da morte ou lesão grave é que o crime se considera consumado. A consumação depende da morte ou da lesão corporal. É o resultado naturalístico necessário para a consumação. 
O agente induz a vítima a se matar e ela morre: art. 122 consumado com pena de dois a seis anos. 
O agente induz a vítima a se matar e ela sofre lesão grave: art. 122 consumado com pena de um a três anos. 
O agente induz a vítima a se matar e ela não ao morre e não sofre lesão grave: fato atípico. 
Para essa corrente, o crime não admite tentativa, sendo esta juridicamente impossível. É um crime material plurisubsistente que não admite tentativa.
Cezar Roberto Bittencourt
Quando o agente induz, instiga ou auxilia alguém a se matar, não consuma o crime, apenas o executa. A consumação depende da morte, cuja pena é de dois a seis anos. Se ocorrer lesão grave, cuja pena é de um a três anos, há tentativa.
O agente induz a vítima a se matar e ela morre: art. 122 consumado, com pena de dois a seis anos e punível o crime. 
O agente induz a vítima a se matar e ela sofre lesão grave: art. 122 tentado, com pena de um a três anos, sendo punível o crime. Diz que é uma tentativa sui generis. 
Para essa corrente, há a possibilidade de tentativa, desde que haja lesão corporal. 
Essa corrente erra porque diz que o fundamento se encontra no próprio artigo quando fala que da tentativa resulta lesão corporal. Ora, mas o suicídio não é crime, então como cabe tentativa? 
Duelo americano, roleta russa ou ambicídio:
 
Duelo americano: há duas armas, com apenas uma carregada. Em dado momento, cada um dos agentes pega uma arma e, ao mesmo tempo, atira na própria cabeça. O sobrevivente responde pelo art. 122. Se cada um atirasse na cabeça do outro o crime seria de homicídio. 
Roleta russa: há apenas uma arma e o tambor possui apenas um projétil. O agente que sobrevive responde pelo art. 122. 
Ambicídio: é o pacto de morte. Um dos agentes inicial o modo de execução (liga a torneira, por exemplo em crime de morte por afogamento). Se o agente que ligou a torneira sobrevive, praticou o art. 121, porque praticou um ato executório. 
No mesmo exemplo, quem praticou o ato executório morre e o outro agente sobrevive. Este pratica o crime do art. 122 do CP. 
Se ambos os agentes não morrerem, o que praticou atos executórios pratica tentativa de homicídio. O agente que não praticou o ato executório, responde pelo art. 122 se o outro agente sofreu lesão grave. Se não sofreu sequer lesão grave o fato é atípico.

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