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Módulo A Ação Penal

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Instituto Brasiliense de Direito Público
Escola de Direito de Brasília
- Ação Penal -
PROCESSO PENAL 
Prof.: Bruno Ribeiro
Módulo III 
Ação Penal
Conceito
Segundo TOURINHO FILHO, pode-se definir ação penal “como sendo o direito de pedir ao Estado (representado pelos seus juízes) a aplicação do Direito Penal objetivo. Ou o direito de pedir ao Estado-Juiz uma decisão sobre um fato penalmente relevante”.
 
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. 
Manual de Processo Penal. 9ª edição. Ed. Saraiva. 
São Paulo, 2007. p. 114.
Módulo III 
Ação Penal
Espécies
Quanto ao sujeito que a promove, a ação penal pode ser classificada como PÚBLICA ou PRIVADA.
AÇÃO PENAL PÚBLICA: é iniciada pelo “Estado-Acusação” (Ministério Público – estadual ou federal), com apresentação de uma petição inicial denominada “denúncia”. Pode ser:
		– incondicionada: é a regra (art. 24 do CPP c/c art. 100, § 1º, CP).
		– condicionada: 
		
		i) à representação do ofendido ou seu representante legal: é condição de procedibilidade e tem como prazo decadencial os 6 meses posteriores ao dia em que se descobriu a identidade do agente (art. 38 do CPP c/c art. 103, CP). Não se exige forma especial. A representação é retratável até o oferecimento da denúncia (sendo possível, portanto, a retratação da retratação, desde que dentro do prazo decadencial – art. 25 do CPP c/c art. 102, CP). A representação não obriga o MP ao oferecimento da denúncia. Se o ofendido for declarado ausente ou morrer, o direito de representação passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art. 24, § 1º, CPP);
		ii) à requisição do Ministro da Justiça: também é condição de procedibilidade, mas não tem prazo decadencial (pode o Ministro requisitar a qualquer tempo, desde que não tenha ocorrido a prescrição). É exigida nos casos de crime contra a honra do Presidente da República ou Chefe de Governo estrangeiro. Segundo a doutrina majoritária, é irretratável e, por se tratar de “requisição” obriga o MP ao oferecimento da denúncia. 
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Ação Penal
Espécies
AÇÃO PENAL PRIVADA: é iniciada pelo próprio ofendido ou seu representante legal, com apresentação de uma petição inicial denominada “queixa”. É exceção ao sistema legal, pois a regra é a ação penal ser pública (art. 30 do CPP c/c art. 100, caput, CP). Pode ser:
		i) exclusiva: é a hipótese mais comum, em que a iniciativa é do próprio ofendido ou de seu representante legal. O prazo decadencial para o seu oferecimento é de 6 meses a contar da data em que se descobriu o autor (art. 38 do CPP). Em caso de morte ou ausência declarada (judicialmente) do ofendido, o direito de ingressar com a queixa ou de prosseguir na ação passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art. 31 do CPP c/c art. 100, § 4º, CP); 
		ii) subsidiária: diz respeito à possibilidade do ofendido ou seu representante legal iniciarem a persecução penal, em casos de ação penal pública, por força da inércia do órgão ministerial. Tem assento infraconstitucional (art. 100, § 3º, CP e 29 do CPP) e constitucional (art. 5º, LIV, CRFB). O particular tem 6 meses para ingressar com a ação penal subsidiária, sob pena de decair do direito (art. 103, CP). O Ministério Público, contudo, pode oferecer a denúncia a qualquer tempo, desde que não tenha ocorrido a prescrição. Além disso, o MP nestes casos pode aditar a queixa, repudiá-la (oferecendo denúncia substitutiva), bem como intervir em todos os termos do processo, inclusive recorrendo. E, em havendo negligência do particular, deve retomar a ação como parte principal (art. 29, CPP). 
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Ação Penal
Espécies
Alguns doutrinadores citam, ainda, a existência da ação penal privada personalíssima, naquelas hipóteses em que somente o ofendido poderia movê-la (na ação penal privada exclusiva, estando impossibilitado o ofendido, pode propô-la o seu representante legal; na falta do ofendido - ausência ou morte -, podem propô-la o cônjuge, os ascendentes, os descendentes ou os irmãos. 
Segundo CAPEZ, “há entre nós apenas um caso dessa espécie de ação penal: crime de induzimento a erro essencial ou ocultação de impedimento, previsto no Código Penal, no Capítulo ‘Dos Crimes contra o Casamento’, art. 236, parágrafo único. O crime de adultério (antigo art. 240, CP), atualmente revogado pela Lei nº 11.106/2005, também estava sujeito a essa espécie de ação penal” (CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 14ª edição. Ed. Saraiva. São Paulo, 2007. p. 140).
Segundo GONÇALVES, neste caso “a ação penal só pode ser intentada pela vítima. Se esta for menor de idade, deve-se aguardar que complete 18 anos para que tenha legitimidade ativa. Se for incapaz em razão de doença mental, deve-se aguardar sua eventual melhora. Em tais hipóteses, o prazo decadencial de 6 meses só ocorrerá a partir da maioridade ou da volta à capacidade mental. Neste tipo de ação privada, caso haja a morte do ofendido, antes ou depois do início da ação, não poderá haver substituição para a sua propositura ou seu prosseguimento” (Gonçalves, Victor. Direito Processual Penal Esquematizado. 4ª. ed. São Paulo: ed. Saraiva, 2015. p. 123).
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Ação Penal
Tópicos Gerais
Se o ofendido for menor de 18 anos e não tiver representante legal ou se colidirem os seus interesses, deverá o juiz nomear curador especial (art. 33, CPP).
O MP não pode desistir da ação penal, mas poderá pedir a absolvição do acusado (princípio da indisponibilidade - art. 42, CPP).
Não enseja ação penal subsidiária a atuação do MP em desconformidade com a vontade do ofendido (ex.: pedido de arquivamento, pedido de diligências, etc).
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Ação Penal
Crimes contra a Liberdade Sexual
REGRA ANTERIOR
Privada (casos em geral).
Pública Condicionada a Representação: “se a vítima ou seus pais não podem prover às despesas do processo, sem privar-se de recursos indispensáveis à manutenção própria ou da família” (art. 225, § 1º, I, CP);
Pública Incondicionada: i) “se o crime é cometido com abuso do pátrio poder, ou da qualidade de padrasto, tutor ou curador” (art. 225, § 1º, II, CP); e ii) “no crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada” (Súmula nº 608, STF).
REGRA NOVA
Segundo a lei nº 12.015/2009, a ação penal nos crimes contra a liberdade sexual é, em regra, condicionada a representação, exceto quando a vítima é menor de 18 anos ou vulnerável (menor de 14 anos, doente mental, enfermo ou que não possa resistir): 
		“Art. 225.  Nos crimes definidos nos Capítulos I (CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL - arts. 213, 215 e 216-A) e II (CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL - arts. 217-A, 218, 218-A e 218-B) deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação. 
		Parágrafo único.  Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável”
Obs.: A exceção fica por conta do crime previsto no art. 218-B (favorecimento da prostituição), em que a vítima é considerada vulnerável até 18 anos. 
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Ação Penal
Crimes de Violência Doméstica: natureza da ação penal
“Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público” (art. 16). 
O STF pacificou a questão da seguinte forma:
AÇÃO PENAL – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER – LESÃO CORPORAL – NATUREZA. 
A ação penal relativa a lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada. Considerações.
(ADI 4424, Rel.  Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, 
julgado em 09/02/2012, pub 01-08-2014) 
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Ação Penal
Crimes de Violência Doméstica: constitucionalidade
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – GÊNEROS MASCULINO E FEMININO – TRATAMENTO DIFERENCIADO. O artigo 1º da Lei nº 11.340/06 surge, sob o ângulo do tratamento diferenciado entre os gêneros – mulher e homem
–, harmônica com a Constituição Federal, no que necessária a proteção ante as peculiaridades física e moral da mulher e a cultura brasileira. 
COMPETÊNCIA – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. O artigo 33 da Lei nº 11.340/06, no que revela a conveniência de criação dos juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher, não implica usurpação da competência normativa dos estados quanto à própria organização judiciária. 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER – REGÊNCIA – LEI Nº 9.099/95 – AFASTAMENTO. O artigo 41 da Lei nº 11.340/06, a afastar, nos crimes de violência doméstica contra a mulher, a Lei nº 9.099/95, mostra-se em consonância com o disposto no § 8º do artigo 226 da Carta da República, a prever a obrigatoriedade de o Estado adotar mecanismos que coíbam a violência no âmbito das relações familiares.
(ADC 19, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, 
julgado em 09/02/2012, pub 29/04/2014)
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Ação Penal
Princípios da Ação Penal
Quanto à ação pública
obrigatoriedade, indisponibilidade e indivisibilidade
Quanto à ação privada 
conveniência, disponibilidade e indivisibilidade (“A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade” - art. 48, CPP).
Obs. I: o oferecimento da queixa exige procuração com poderes especiais (art. 44, CPP).
Obs. II: nos crimes de ação penal privada, “o perdão poderá ser aceito por procurador com poderes especiais” (art. 55, CPP).
Obs. III: conquanto disponível a ação penal privada, seu oferecimento contra um dos autores do crime obriga a imputação aos demais, sob pena de ser reconhecida a renúncia (“A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá” - art. 49, CPP).
Obs. IV: o perdão a um dos agentes a todos se estende, exceto se for recusado (“O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar” - art. 51, CPP).
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Ação Penal
Extinção da Punibilidade do Crime
Em qualquer fase do processo, pode o juiz declarar extinta a punibilidade do crime (art. 61, CPP) em face das hipóteses previstas no art. 107 do CP: 
i) morte do agente (art. 107, I, CP): a própria CF estabelece que “a pena não passará da pessoa do criminoso” (art. 5 XLV). É imprescindível a certidão de óbito para atestar o evento;
ii) Anistia (art. 107, II, CP): a anistia pode ser anterior ou posterior ao trânsito em julgado. Quando anterior, diz-se “anistia própria”; quando posterior, “anistia imprópria”. Destina-se a fatos e, não, a pessoas. Compete ao Congresso Nacional a concessão de anistia. A anistia desconstitui os efeitos penais, mas, não, os civis. Não pode ser revogada;
iii) Graça (art. 107, II, CP): é também conhecida como “indulto individual”. Trata-se de uma espécie perdão concedido pelo Presidente da República. Pode ser total ou parcial. Quando total, extingue a punibilidade; quando parcial, recebe a denominação de “comutação” e apenas diminui ou substitui a pena aplicada. É sempre posterior ao trânsito em julgado. A graça diz respeito sempre a um condenado em especial;
iv) Indulto (art. 107, II, CP): é também conhecido como “indulto coletivo”. Trata-se de uma espécie perdão concedido pelo Presidente da República. Pode ser total ou parcial. Quando total, extingue a punibilidade; quando parcial, recebe a denominação de “comutação” e apenas diminui ou substitui a pena aplicada. É sempre posterior ao trânsito em julgado. O indulto coletivo diz respeito sempre a um grupo de condenados.
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Ação Penal
Extinção da Punibilidade do Crime
v) abolitio criminis (art. 107, III, CP): nesta hipótese ocorre a própria descriminalização da conduta, apagando os efeitos penais da condenação (art. 2º, CP);
vi) Decadência (art. 107, IV, CP): diz respeito à perda do direito de se ingressar com a ação penal privada ou de representar nos casos de ação penal pública condicionada. Tal prazo é de seis meses (art. 100, § 3º, CP). 
vii) Perempção (art. 107, IV, CP): trata-se de sanção processual ante a inércia do particular. É instituto exclusivo da ação penal privada. Ocorre nas seguintes hipóteses (art. 60, CPP): a) deixar o querelante de promover o andamento do processo por mais de 30 dias, após intimado para tanto; b) se, falecendo o querelante ou ficando incapaz, não se proceder à sua substituição no prazo de 60 dias; c) se o querelante não comparecer injustificadamente a qualquer ato processual; d) se o querelante deixar de formular pedido de condenação nas alegações finais; e e) se o querelante for pessoa jurídica e esta se extinguir não deixando sucessor. 
viii) Renúncia e perdão (art. 107, V, CP): a renúncia é a desistência da propositura da ação penal privada (art. 104, CP); o perdão é a desistência no prosseguimento da ação penal (art. 105, CP). Características: a) momento processual: renúncia (antes da propositura); perdão (após a propositura); b) forma: expressa ou tácita (ambos os casos); c) natureza do ato: renúncia (unilateral); perdão (bilateral – art. 106, III, CP). Somente ocorrem na ação penal privada.
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Ação Penal
Extinção da Punibilidade do Crime
ix) Retratação (art. 107, VI, CP): é o ato pelo qual o agente do crime volta atrás em sua atitude criminosa. Pode ocorrer em duas hipóteses: a) nos crimes de calúnia e difamação (art. 143, CP); e b) nos crimes de falso testemunho ou falsa perícia (art. 342, § 2º, CP). Em qualquer hipótese, somente se admite a retratação até a sentença. No segundo caso, entretanto, a retratação deve ocorrer nos autos do processo em que se prestou o falso testemunho ou a falsa perícia.
x) Perdão judicial (art. 107, IX, CP): é o instituto pelo qual o juiz deixa de aplicar uma pena ao sujeito culpado, uma vez preenchidos certos requisitos. Segundo o STJ, a sentença que o concede é meramente declaratória de extinção da punibilidade, não gerando qualquer efeito condenatório (Súmula 18). Deve estar expressamente prevista esta possibilidade (ex.: art. 121, § 5º, CP). 
xi) Prescrição (art. 107, IV, c/c art. 109 do CP).
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Ação Penal
Prazos para Oferecimento da Peça Acusatória
Na ação penal pública: i) se o acusado está preso: 05 dias;
	 ii) se o acusado está solto: 15 dias. 
Na ação penal privada: 06 meses contados do dia em que se descobriu o autor da infração (art. 38, CPP).
Se o ofendido é menor de 18 anos, há dois prazos decadenciais, só correndo o prazo contra o respectivo representante legal (“Os direitos de queixa e de representação podem ser exercidos, independentemente, pelo ofendido ou por seu representante legal” (Súmula nº 594, STF).
NUCCI esclarece que “se o prazo de decadência iniciou-se e terminou quando a vítima tinha menos de 18 anos, não sendo legitimada a agir, mas somente o seu representante, que ficou inerte, há que se computar o seu prazo integral de seis meses, a contar da data que atingir a capacidade processual penal. Isto porque os prazos são independentes: um para o representante e outro para o menos ofendido. Assim, ao completar 18 anos, tem reavivado o prazo decadencial finalizado para o seu representante” (NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 3ª edição. Ed. RT. São Paulo, 2007. p. 186).
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Ação Penal
Das Condições da Ação Penal
Em regra, os autores sempre identificaram as seguintes condições da ação no processo penal: i) legitimidade; ii) possibilidade jurídica do pedido; e iii) interesse de agir. 
Alguns autores e a jurisprudência também acrescentavam ao rol das condições da ação a “justa causa”. A Lei nº 11.719/2008 que, dentre outros dispositivos, revogou o art. 43 do CPP, prevê a seguinte redação para o art. 395 do CPP:
“A denúncia ou queixa será rejeitada quando: I - for manifestamente inepta; II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; III -
faltar justa causa para o exercício da ação penal”. 
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Ação Penal
Das Condições da Ação Penal
Com relação à INÉPCIA da petição inicial (denúncia ou queixa), deve o juiz rejeitá-la quando o autor não cumprir as disposições do art. 41 do CPP: a denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
Com relação aos PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS, a doutrina, em regra, os subdivide em:
		i) “pressupostos de existência do processo” (juiz investido de jurisdição, petição inicial e partes); e
		ii) “pressupostos de validade ou desenvolvimento regular do processo” (competência, imparcialidade/ausência de suspeição, ausência de litispendência/coisa julgada, capacidade postulatória na ação penal privada, capacidade processual/legitimatio ad processum, citação válida, etc). 
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Ação Penal
Das Condições da Ação Penal
Com relação às CONDIÇÕES PARA O EXERCÍCIO DA AÇÃO, podemos classificá-las em:
		i) “condições gerais da ação”, quais sejam: i) legitimidade; ii) possibilidade jurídica do pedido; e iii) interesse de agir.
		ii) “condições específicas da ação” ou “condições de procedibilidade”.
TOURINHO FILHO exemplifica algumas hipóteses de condições específicas: a) representação do ofendido (ex.: art. 147, § único, CP), b) requisição do Ministro da Justiça (ex.: art. 145, § único, CP), c) entrada do agente no território nacional (ex.: art. 7º, § 2º, “a”, CP), d) trânsito em julgado da sentença civil (ex.: art. 236, § único, CP), e) autorização da Assembléia Legislativa respectiva (a LO do DF, por exemplo, dispõe que compete privativamente à Câmara Legislativa “autorizar, por dois terços dos seus membros, a instauração de processo contra o Governador, o Vice-Governador e os Secretários de Estado” - art. 60, inciso XXIII), f) autorização da Câmara dos Deputados (a CF, por exemplo, dispõe que compete privativamente à Câmara dos Deputados “autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado” – art. 51, I), g) surgimento de novas provas (art. 409, § único, CPP c/c Súmula nº 524, STF), h) exame pericial (ex.: art. 525, CPP). PACELLI menciona, ainda, a sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou homologa a recuperação extra-judicial nos crimes falimentares (art. 180, Lei nº 11.101/05).
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Ação Penal
Das Condições da Ação Penal
Com relação à JUSTA CAUSA, alguns doutrinadores entendem consistir em uma “quarta condição geral da ação”, consistente em um lastro probatório mínimo a embasar a petição inicial, enquanto outros a classificam, simplesmente, como uma síntese das demais condições gerais da ação. A jurisprudência, embora não entre no mérito da questão, sempre a teve como imprescindível ao ajuizamento da ação ou mesmo à instauração do inquérito policial.
“HABEAS CORPUS. CRIME DE RESPONSABILIDADE ATRIBUÍDO A PREFEITO. ART. 1º, XIV, DO DL 201/67. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. ORDEM CONCEDIDA. 1. O trancamento de ação penal, pela via estreita do habeas corpus, conforme pacífico magistério jurisprudencial, somente é possível quando, pela mera exposição dos fatos narrados na peça acusatória, verifica-se que há imputação de fato penalmente atípico ou que não existe nenhum elemento indiciário demonstrativo da autoria do delito imputado ao paciente ou, ainda, quando extinta encontra-se a punibilidade. 2. Inexistente o dolo, elemento subjetivo do tipo penal inscrito no art. 1º, inciso XIV, do Decreto-lei 201/67, resulta atípica a conduta imputada ao paciente. 3. Ordem concedida para determinar o trancamento da ação penal originária 36608/2005” 
(HC 64.478/MT, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, 5ª TURMA, DJe 12.05.2008).
“Hipótese em que o paciente, advogado, deixou de praticar ato processual que lhe competia, mesmo depois de intimado a fazê-lo por diversas vezes, tendo sido, por isso, requisitado pelo Juiz da causa a instauração de inquérito policial para averiguar a prática do crime de patrocínio infiel. Juntou-se ao habeas corpus prova que permitiu concluir de plano que o prejuízo foi evitado com a realização do ato que cabia ao advogado. 2. Provado de plano a inexistência de prejuízo para a parte patrocinada pelo advogado desidioso, afasta-se de imediato o crime de patrocínio infiel, não havendo razões para o prosseguimento do inquérito policial, que deverá ser trancado por atipicidade de conduta. 3. Ordem concedida para trancar o inquérito policial. Tornados sem efeitos todos os ofícios encaminhados às diferentes instituições. Estendido os efeitos do julgado ao co-réu José Francisco da Silva” 
(HC 104.007/MS, Rel. Min. JANE SILVA, 6ª TURMA, DJe 09.06.2008).
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Recebimento da Peça Acusatória
Fundamentação: em regra, entende o STF que o recebimento da denúncia prescinde de fundamentação. 
“I. STF: Habeas corpus: competência originária. (...). II. Denúncia: recebimento: assente a jurisprudência do STF em que, regra geral - da qual o caso não constitui exceção -, "o despacho que recebe a denúncia ou a queixa, embora tenha também conteúdo decisório, não se encarta no conceito de "decisão", como previsto no art. 93, IX, da Constituição, não sendo exigida a sua fundamentação - art. 394 do C.P.P; a fundamentação é exigida, apenas, quando o juiz rejeita a denúncia ou a queixa - art. 516 do C.P.P., aliás, único caso em que cabe recurso - art. 581, do C.P.P." (v.g. HHCC 72.286, 2ª T., Maurício Corrêa, DJ 16.2.96; 70.763, 1ª T., Celso de Mello, DJ 23.9.94). III. (...)” 
(HC 86.248/MT,Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, DJ 02-12-2005).
“RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. INTEMPESTIVIDADE NÃO VERIFICADA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. RECEBIMENTO DA ACUSAÇÃO. FUNDAMENTAÇÃO. DESNECESSIDADE. PRECEDENTES. INÉPCIA DA DENÚNCIA. IMPUTAÇÃO QUE PERMITE O EXERCÍCIO DA AMPLA DEFESA. ORDEM DENEGADA. O que deve ser considerado na aferição da tempestividade do recurso é a data de envio do fax. Os originais podem ser protocolados até cinco dias depois do término do prazo para recorrer (art. 2º da Lei 9.800/1999). À luz da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o despacho de recebimento da denúncia não se enquadra no conceito de decisão contido no art. 93, IX, CRFB, sendo-lhe dispensada a fundamentação. Estão devidamente descritos os fatos, em todas as suas circunstâncias, e o tempo do crime. A denúncia indicou o montante supostamente desviado e a origem do suposto desvio, apontando os laudos contábeis que devem ser considerados como prova. A acusação também individualizou os valores que teriam sido ilegalmente percebidos pelos denunciados, com base em laudos técnicos, do modo que não procede a alegação de cerceamento de defesa. Denúncia que permite o exercício da ampla defesa pelos recorrentes. Ordem denegada” 
(RHC 87.005/RJ, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA, 2ª Turma, DJ 18-08-2006).
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Recebimento da Peça Acusatória
Recorribilidade: a decisão que recebe a denúncia é irrecorrível (em tese, cabe habeas corpus); da decisão que rejeita a denúncia, cabe recurso em sentido estrito (art. 581, inciso I, CPP).
Em regra, se o Tribunal der provimento ao recurso em sentido estrito, esta decisão equivale, desde já, ao recebimento da denúncia (“Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela” - Súmula nº 709, STF).

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