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OS AFRO DESCENTES E AS POLÍTICAS DE INCLUSÃO

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65
OS AFRO-DESCENTES E AS POLÍTICAS DE INCLUSÃO 
NO BRASIL: A MARCHA ZUMBI DOS PALMARES E A 
LEI 10639/03 
 
 Paulo César Duarte1 
RESUMO: O objetivo é buscar um diagnóstico sobre a questão do preconceito racial 
no Brasil, as ações do movimento negro e as políticas públicas de valorização dos 
africanos e afro-descentes promovidas na esfera governamental. A questão central do 
trabalho é verificar as políticas públicas de inclusão do negro na sociedade brasileira 
contemporânea em especial, a partir da apresentação do documento da Marcha Zumbi 
dos Palmares em 1995 e da Lei 10.639/03 que observa a necessidade da inclusão dos 
estudos sobre cultura no ensino básico brasileiro. Verifica-se que esses são os 
principais instrumentos mobilizadores do debate e das mudanças em relação ao racismo 
no Brasil. 
Palavras - Chave: Cultura africana e Afro-Brasileira; Marcha Zumbi de Palmares; Lei 
10.639/03 
ABSTRACT: The objective is to search one diagnosiss on the question of the racial 
preconception in Brazil, the actions of the black movement and the politics you publish 
of valuation of the Africans and afro-descents promoted in the governmental sphere. 
The central question of the work is to verify the politics publishes of inclusion of the 
black in the Brazilian society contemporary in special, from the presentation of the 
document of Marcha I buzzed of the Palmares in 1995 and Law 10,639/03 that it 
observes the necessity of the inclusion of the studies on culture in Brazilian basic 
education. It is verified that these are the main instruments of the debate and the 
changes in relation to racism in Brazil 
 Key Words: African culture and Afro-Brazilian; It marches I buzzed of Palmares; Law 
10.639/03 
 
 
 
 
 
 
 
1
 Mestre em História pela PUCRS. Professor da Faculdade de Ampére - FAMPER. 
 66
1. INTRODUÇÃO 
A luta dos negros pela liberdade percorre todo o período escravocrata, sendo usado 
para isso diferentes estrategias. A fuga de negros para os quilombos descritas por Mário 
Maestri como “Fugas para Fora” foi uma das estratégias. Segundo Marco Mello, com o 
surgimento de espaços urbanos começou a existir também as “Fugas para Dentro” onde 
os negros viviam de forma crandestina nesses centros urbanos. 
Os negros forros se organizavam em irmandades religiosas, grupos 
carnavalescos entre outros, onde mantinham seus padrões culturais, desenvolviam suas 
práticas religiosas e trabalhavam na luta pela libertação de negros escravos através de 
manifestações públicas e arrecadação de verbas para compra de auforria. Nas regiões 
periféricas das cidades, negros fugitivos que viviam em sua maioria como quitandeiros 
ou fazendo pequenos serviços, durante a noite ganhavam guarita de negros libertos, 
criando assim laços de solidariendade, muito presentes na cultura e religiosidade afro-
brasileira. 
As resistências individuais estão cada vez mais presentes nos estudos sobre 
negros livres e escravos, essas aconteciam em forma de suícidio do negro, 
envenenamento do senhor, roubo, ou fugas isoladas, sempre em busca da liberdade. 
A questão negra no Brasil não resolveu-se com o fim da escravidão, tanto os 
problemas sociais enfrentados devido a cor, como o tratamento preconceituoso por parte 
do Estado brasileiro se manterá durante todo o período republicano. Desde a ocupação 
do espaço urbano até mesmo as questões de justiça durante a Primeira Republica e a 
Republica Nova, a questão racial foi decisiva para os individuos afro-descendentes, 
sempre vistos como elementos “perigosos”. 
O objetivo desse artigo é verificar as políticas públicas de inclusão do negro na 
sociedade brasileira contemporânea, em especial, as desenvolvidas após a Marcha 
Zumbi dos Palmares em 1995 e a Lei 10.639/03 que observa a necessidade da inclusão 
 67
dos estudos sobre Cultura e História africana e afro-brasileira no ensino básico 
brasileiro.2 
O recorte feito para o presente artigo busca trazer ao conhecimento do público 
dois documentos importantes na promoção de políticas afirmativas sobre a negritude no 
Brasil. O primeiro documento a Marcha Zumbi de Palmares, o segundo, as Diretrizes 
Curriculares Nacionais que versa sob a Lei 10.639/03. 
A historiografia recente a partir dos anos de 1980 influenciadas por correntes 
culturalistas e próxima a outras áreas do conhecimento, tais como, a sociolingüística, a 
antropologia e a psicologia, vem realizando estudos e pesquisas sobre a questão da 
escravidão e do negro no Brasil, dando evidência ao elemento humano e suas relações 
sócio culturais. O artigo ora apresentado, reflexo do curso de extensão denominado “A 
lei 10.639/03 e a inclusão da cultura afro-brasileira nos currículos do ensino básico”, 
caminha por esse trajeto teórico metodológico traçado pela Nova História Cultural. 
 
O artigo busca tornar público o conteúdo dos documentos que deram origem a 
um debate fértil e incandescente na sociedade brasileira em relação à cultura africana e 
afro-brasileira e a inclusão social desse grupo étnico. Isso ocorreu mediante a 
mobilização do movimento negro, a crítica ao “mito” da democracia racial e o 
diagnóstico da realidade dos afros - descendentes na sociedade brasileira 
contemporânea. 
 
2. A MARCHA ZUMBI DOS PALMARES 
 
A marcha Zumbi dos Palmares ocorreu no ano de 1995 e foi fundamental para 
a elaboração por parte dos governos – Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula 
da Silva - de uma política afirmativa em relação à questão racial no Brasil. A partir da 
Marcha Zumbi dos Palmares as questões étnico-raciais brasileiras entraram em pauta 
em diferentes níveis governamentais e sociais. 
 
 
2
 O Artigo tem como base o Curso de Extensão “Cultura e identidade: a lei 10639/03 e a inclusão da 
cultura afro-brasileira nos currículos de ensino básico” ministrado pelo autor e promovido pela Faculdade 
de Ampére -FAMPER – no primeiro semestre de 2008. 
 68
Nesse sentido, a apresentação do conteúdo do documento da Marcha, 
produzido por diferentes movimentos sociais de caráter sindical, racial e de gênero, 
pode evidenciar as reivindicações oriundas da sociedade civil organizada em torno 
dessa questão. A mobilização de diferentes setores do movimento social já demonstra 
que para o movimento negro a questão social, racial e de gênero fazem parte de um 
mesmo processo de exclusão do grupo étnico caracterizado como afro-brasileiro. 
 
Para os organizadores a Marcha é um ato de indignação e protesto contra as 
condições subumanas que vivem os negros no país em função da exclusão e 
discriminação racial. O conteúdo do documento também denuncia o Mito da 
Democracia Racial amplamente difundido em diferentes momentos da História do 
Brasil. A partir do documento fica claro que a luta do movimento negro tem três 
expressões: contra a exploração, o racismo e a opressão de gênero. 
 
2.1 DIAGNOSTICO DA QUESTÃO RACIAL APRESENTADO PELO 
DOCUMENTO DA MARCHA ZUMBI DE PALMARES 
 
A Constituição de 1988 reconheceu a pluralidade étnica e cultural do povo 
brasileiro e promoveu a criminalização do fenômeno discriminatório. O Direito 
Internacional criminaliza todas as formas de discriminação racial, através da Convenção 
111 da Organização Mundial do Trabalho (OMT). 
 
Em termos dos entes federativos brasileiros (Estados e Municípios) começam 
a surgir os primeiros órgãos governamentais que produzem políticas públicas contra a 
discriminação racial e a preservação da cultura negra. Entre eles, Conselho de 
Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo e a 
Fundação Cultural Palmares. Além das delegacias especializadas em crimes raciais, nas 
cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.No entanto, segundo o documento da Marcha, os organismos de 
regulamentação, são ineficientes devido à inexistência de instrumentos jurídicos 
eficientes no combate do racismo. 
Pelo diagnóstico apresentado, em pesquisa que circulou através da Folha de 
São Paulo, apenas 10% dos entrevistados brancos se diziam racistas, mas 87% dos 
 69
entrevistados caíram em contradições desvelando práticas discriminatórias nas relações 
cotidianas. 
 
Outra questão denunciada nesse documento, e comprovada através de dados 
estatísticos, está relacionada à tripla discriminação sobre a mulher negra: mulher, negra 
e trabalhadora pobre. 
 
A escola, como se pode constata em diferentes clássicos sobre a questão 
educacional é um espaço de reprodução das contradições sociais, sendo assim, é um 
espaço privilegiado de aprendizado do racismo. Conteúdos eurocêntricos do currículo 
escolar, programas educativos, manuais escolares-, e posturas diferenciadas dos 
professores diante de crianças negras e brancas. 
 
O Censo 1990 aponta que 18% da população brasileira é analfabeta, subindo 
esse índice para 30% na população negra. Dos estudantes do ensino médio que migram 
para o ensino superior, 4,2% são brancos e apenas 1,4% negros. Na primeira serie do 
fundamental 59% das crianças negras obtinham aprovação contra 71,4% dos brancos. 
 
Os diagnósticos em relação ao mercado de trabalho também são bastante 
desanimadores, em 1990 dos brasileiros com carteira assinada 58% eram brancos e 41% 
negros. De cada 100% de pessoas que vivem de salário mínimo 79% são negros. 
 
Ainda segundo o documento, os postos de trabalho que implicam contato com 
o público são vedados aos negros – critérios discriminatórios tipo boa aparência são 
barreiras para esse grupo étnico terem essas ocupações. 
 
Nos serviços públicos os negros em geral estão na base, com serviços manuais 
que não possibilitam ascensão social. Em relação ao trabalho infantil constata-se que 
14% das crianças brancas entre 10 e 14 anos estão no mercado de trabalho, subindo para 
20% quando negras. O rendimento médio dos brancos soma 5,3, salários mínimos, 
enquanto dos negros 2,5 salários mínimos. 
 
Com relação à expectativa de vida desde 1940, a dos brancos têm 7,5 anos a 
mais que a dos negros. Em 1980 de cada 1000 crianças negras que nasciam 105 
 70
morriam antes de completar um ano, para crianças brancas era de 77. A incidência de 
perdas fetais entre mulheres negras é de 17% contra 10% para mulheres brancas. 15% 
das mulheres negras são histerectomizadas contra 3,6% de mulheres brancas. 
 
A violência contra os negros também é maior que a violência praticada contra 
os brancos. De acordo com o documento, de 1970 até 1992, a polícia de São Paulo 
matou cerca de 8000 pessoas, das 4.170 identificadas, 51% eram negras. Das 2000 
pessoas mortas pela polícia em São Paulo, entre 1981 e 1989, duas em cada três eram 
negras. Em 1988 3,9% da população branca sofreu agressão policial, contra 10,7% de 
negro. 
Para os anos de 1984 até 1989, segundo o documento apresentado pela 
Marcha, foram registrados no IML dos estados 1397 assassinatos de menores de 18 
anos destes 87% do sexo masculino, 36% sem informação de cor, 51% negros e 12% 
brancos. 
Como apresentado acima, as leis anti-raciais são bastante brandas, a mais 
importante delas, a Lei 7.716/89, não prevê grande número de situações discriminatórias 
no cotidiano. Em 1993 das 48 queixas feitas em São Paulo, 41 foram caracterizadas 
como injúria e 7 como racismo. No judiciário paulista negros e brancos recebem penas 
diferentes para mesmos crimes; em processos de roubos qualificados 68% dos réus 
negros e 59% dos brancos foram condenados. 
 
2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS VALORATIVAS DE SUPERAÇÃO DO RACISMO 
 
Após apresentação detalhada do diagnóstico sobre a exclusão e opressão racial 
no país, o documento apresenta propostas que visam à diminuição das práticas racistas 
no Brasil, seja pelos órgãos governamentais seja pela sociedade civil. Através da 
garantia da escola pública, gratuita e de boa qualidade, da eliminação da discriminação 
racial no ensino. Monitoria nos livros didáticos e manuais escolares. Treinamento e 
aperfeiçoamento permanente de professores para trabalhar com a diversidade étnica. 
Políticas de acesso a negros em cursos profissionalizantes, á universidade e às áreas 
tecnológicas de ponta. 
Exige também, a garantia aos negros e negras, a sexualidade segura e 
saudável, por intermédio do direito de controle reprodutivo e programas de atenção à 
gravidez, ao parto e as doenças sexualmente transmissíveis. Continuação de programas 
 71
de DST/AIDS. Boletins epidemiológicos do Ministério e Secretarias de Saúde, sobre o 
impacto das condições sociais de desigualdade com relação às condições gerais de 
saúde pública. Garantia ao direito de saúde íntegra da mulher. 
 
Busca incluir no Plano Nacional de Direitos Humanos, regras que defina e 
puna a intolerância étnico-religiosa, assim como os preconceitos aos cultos de origem 
africana, de modo a garantir os preceitos constitucionais de livre exercício religioso. 
Deseja que se estabeleçam leis e mecanismos que obrigam a devolução de instrumentos 
sagrados de origem africana apreendidos durante o Império e períodos repressivos da 
República, expostos em museus da Policia Militar em diversos Estados brasileiros. 
 
Esse documento/diagnóstico foi feito pelo Movimento Negro associado a 
outros movimentos sociais, tais como, as centrais sindicais – CUT e Força Sindical - e 
apresentado ao Presidente Fernando Henrique Cardoso, 20 de Novembro de 1995, como 
o documento da Marcha Zumbi de Palmares contra o racismo, pela cidadania e pela 
vida. 
 
3. DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO DAS 
RELAÇÕES ÉTNICAS - RACIAIS E A LEI 10.639/03 
 
Nos últimos anos observa-se um fenômeno novo na História do Brasil, 
sistematicamente diferentes governos de matrizes ideológicas antagônicas, vem 
desenvolvendo ações afirmativas em relação às políticas anti-racistas no Brasil. Em 
2003 o Governo Federal dá mais um passo importante nesse sentido, aprovando a Lei 
10.639/03 que obriga o ensino da cultura africana e afro-brasileira na educação básica. 
O capítulo a seguir faz uma apresentação do conteúdo contido nessa lei. 
 
A questão racial na educação atualmente, apesar da universalização do 
ensino básico e a obrigatoriedade do ensino para crianças de até 14 anos, temos ainda 
muitas diferenças de acessibilidade e manutenção de crianças negras e brancas no 
ensino básico brasileiro. Segundo dados apresentados pela Lei 10.639/03 as pessoas 
negras no Brasil, estudam 4,2 anos, contra 6,2 dos brancos. Na faixa de 14 e 15 anos há 
um total de 12% a mais de negros analfabetos em relação a brancos. Cerca de 15% das 
 72
crianças brancas de 10 a 14 anos de idade estão no mercado de trabalho, contra 40% de 
pessoas negras. 
 
O relatório do governo que embasa e antecede a Lei, busca oferecer uma 
resposta na área de educação, no sentido de políticas de ações afirmativas, de políticas 
de reparações e de reconhecimento e valorização da história cultural e da identidade 
afro-brasileira. 
 
As medidas buscam ressarcir os descendentes de africanos negros, dos 
danos psicológicos, materiais, sociais, políticos e educacionais sofridos sobre o regime 
escravista. Bem como de políticas explicitas de branqueamento da população, políticas 
de privilégios de elites brancas pós-abolição. Por fim, combater o racismo e todo o tipo 
de discriminação na sociedade e na escola. 
 
Segundo o relatório, deve - se garantir à população negra o ingresso, a 
permanência e o sucesso na educação escolar, a valorização do patrimônio histórico 
afro-brasileiro, e as condições para manter estudos continuados, tornando o afro-
descente cidadão responsável e participante,apto a desempenhar funções com 
qualificação profissional. 
 
Outro elemento do relatório é desconstruir o Mito da Democracia Racial 
na sociedade brasileira: mito que difunde a crença de que os negros não atingem os 
mesmos patamares que os não negros, por falta de competência ou de interesse, 
desconsiderando as desigualdades seculares que a estrutura social hierárquica criou para 
os negros no país. 
 
Essa evidência requer reconhecer a adoção de políticas educacionais e 
estratégias pedagógicas de valorização da diversidade, nos diferentes níveis de ensino. 
Reconhecer, respeitar e divulgar os processos históricos de resistência pelos africanos 
escravizados no Brasil e por seus descendentes, nas formas individuais e coletivas. 
 
De acordo com a Lei 10639/03, deve-se reconhecer e exigir que se 
questionem as relações étnico-raciais baseadas em preconceitos que desqualificam os 
negros. Reconhecer e respeitar as pessoas negras, sua descendência africana e sua 
 73
história. Por fim, tantas formas de desqualificação como, por exemplo: apelidos 
depreciativos, brincadeiras, piadas que sugere incapacidade, ridicularização dos seus 
traços físicos, textura dos cabelos, fazendo pouco da religiosidade africana. 
 
O reconhecimento e a valorização da identidade, da cultura e da história 
dos negros brasileiros dependem necessariamente das condições físicas, materiais, 
intelectuais e afetivas – reeducação das relações entre brancos e negros, designadas 
como relações étnicas-raciais. 
 
O termo Raça, segundo o Relatório anexo a Lei, é utilizado com 
freqüência nas relações sociais brasileiras, para informar como determinadas 
características físicas, cor de pele, tipo de cabelo, entre outras, influenciam e interferem 
e, até mesmo determinam o destino e o lugar social dos sujeitos no interior da sociedade 
brasileira. 
O termo Étnico serve para marcar que as relações tensas devido às 
diferenças na cor da pele e traços fisionômicos são também devidas à raiz cultura 
plantada na ancestralidade africana, que difere em visão de mundo, valores e princípios 
das origens indígena, européia e asiática. 
 
Portanto, segundo o relatório sobre as Diretrizes de Base da Educação 
Nacional, no Brasil, coexiste de maneira tensa, a cultura e o padrão estético negro 
africano e um padrão estético e cultura branco europeu. Sendo hegemônico o padrão 
estético que valoriza brancura e raízes culturais européias em relação a raízes indígena, 
africana e asiática. 
 
Segundo os elaboradores da Lei, se não é fácil ser descentes de seres 
humanos escravizados e forçados à condição de objetos utilitários ou semoventes, 
também é difícil descobrir-se descendente de escravizadores, temer, embora 
veladamente, revanche dos que, por cinco séculos, tem sido desprezados e massacrados. 
 
Para reeducar as relações étnico-raciais, no Brasil, é necessário fazer 
emergência às dores e os medos que têm sido gerados. É preciso entender que os 
sucessos de uns tem o preço da marginalização e da desigualdade imposta a outros. 
Então é decidir a sociedade que queremos construir daqui pra frente. 
 74
 
Assim sendo, a educação étnico-racial impõe aprendizagens entre 
brancos e negros, trocas de conhecimentos, quebra de desconfianças, projetos conjuntos 
para construção de uma sociedade justa, igual equânime. 
 
Sobre isso o relatório verifica alguns equívocos educacionais. Um 
primeiro equivoco é pensarmos se deve ou não designar alunos de pretos ou negros. É 
necessário entender que ser negro é uma opção política. O termo negro foi usado 
pejorativamente para seus senhores tratarem seus escravos, nesse sentido, é usado de 
forma pejorativo até hoje. Através do movimento negro esse termo ganhou um sentido 
político positivo. 
 
Outro equivoco é que os negros se discriminam entre si e que são racistas 
também. O mito do branqueamento também criou nos negros um sentimento de 
branqueamento. O racismo marcou negativamente na subjetividade de negros e brancos. 
 
A discussão sobre a questão negra é papel do movimento social e não da 
escola, essa deve se posicionar politicamente contra toda e qualquer forma de 
discriminação. Afirmar que o racismo, o mito da democracia racial e a ideologia do 
branqueamento só descriminaram negros. É papel do educador superar o racismo e a 
discriminação. 
 
Portanto, pedagogias de combate ao racismo e a discriminação 
elaboradas com o objetivo de educação das relações étnicos - raciais positivas têm como 
objetivo fortalecer entre negros e despertar entre brancos a consciência negra. 
 
4. CONCLUSÕES 
 
Pode-se dizer que é necessária na questão dos afro-descentes no Brasil a 
superação da idéia de raça. Se antes as diferenças de raça eram atribuídas a 
determinações biológicas que faziam que os diferentes tipos humanos fossem 
considerados mais ou menos desenvolvidos, hoje em dia, com o conhecimento 
produzido pela genética está provado que as raças não existem do ponto de vista 
genético. Portanto, só tem uma raça, a humana. 
 75
 
A cor da pele é resultado da adaptação das populações aos diferentes 
níveis de radiação ultravioleta existente nos diferentes continentes. Ela é determinada 
pelo tipo e pela quantidade de um pigmento chamado melanina. Sua variação é 
controlada por 4 ou 6 genes, num universo de 35 mil que compõem os organismos 
humanos. A melanina é uma proteína que confere pigmentação à pele, aos olhos e aos 
cabelos dos mamíferos. 
 
A idéia de raça, que remete à aparência física e à região de origem, está 
na base do preconceito, que pode tanto se referir a uma marca, como a cor da pele, 
quanto a uma origem, como o continente africano. No Brasil o preconceito em relação à 
marca, ou seja, a cor da pele é mais evidente, ao passo que nos Estados Unidos é o 
preconceito de origem que predomina, uma vez que os descendentes de negros que têm 
aparência de brancos são considerados negros. 
 
O caminho da igualdade depende da compreensão, como se viu nesse 
trabalho, que o preconceito com negros e mestiços se construiu no nosso passado, no 
qual africanos eram considerados primitivos e sem capacidade de evoluírem como ao 
nível das sociedades européias. 
 
Depois da escravidão as elites brancas pensaram em riscar da nossa 
história os traços africanos no processo de branqueamento. O branqueamento não 
aconteceu, caminhamos de fato para uma sociedade de cor morena e cultura 
miscigenada. 
 
A noção de raça cedeu lugar à noção de cultura. A idéia de cultura como 
erudição, cedeu lugar à cultura como valores construídos, transmitidos, compreendidos, 
aceitos e modificados, por civilizações, grupos sociais, comunidades e indivíduos. Essas 
modificações vão ocorrendo de geração para geração. 
O sentimento de inferioridade deu lugar ao orgulho negro, que será um 
dos pilares da construção de um novo lugar do afro-brasileiro no conjunto da sociedade. 
Isso, porém, não é o suficiente. Medidas legais têm de ser tomadas, como por exemplo, 
a inclusão da História da África nos currículos escolares. 
 
 76
Ao percebemos o valor da contribuição africana, teremos mais 
orgulhosos do que somos: povo mestiço, no qual a convivência dos diferentes criou a 
originalidade que nos caracteriza e que nos faz admirados pelos povos que só agora 
passam a lidar com a intensificação da mestiçagem. 
 
5. BIBLIOGRAFIA 
 
5.1 LIVROS IMPRESSOS 
 
MAESTRI, Mario. O escravo gaúcho. Resistência e trabalho. São Paulo: Brasiliense, 
1984. 
 
MELLO, Marco Antonio Lírio de. Reviras, batuques e carnavais. A Cultura de 
resistência dos escravos em Pelotas: Editora Universitária, 1994. 
 
5.2 BIBLIOGRAFIA DE DOCUMENTOS ELETRÔNICOS 
 
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS para a Educação das Relações 
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.Disponível em: < http://www.acaoeducativa.org.br/downloads/04diretrizes.pdf> 
Acesso: 10 de abril de 2008. 
 
MARCHA ZUMBI DOS PALMARES, contra o racismo, pela cidadania e pela vida. 
Disponívelem<http://www.leliagonzalez.org.br/material/Marcha_Zumbi_1995_divulgac
aoUNEGRO-RS.pdf> Acesso: 13 de abril de 2008.

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