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Crimes contra a Inviolabilidade de Segredos, de Correspondência e Usurpação

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Filipe Augusto Pereira
CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA, DE SEGREDOS E USURPAÇÃO
Americana
2017
Filipe Augusto Pereira
CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA, DE SEGREDOS E USURPAÇÃO
Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Direito no Centro Universitário Salesiano de São Paulo.
Orientador: Prof.ª Cristiane Tranquilim Lisi
Americana
2017
SUMÁRIO
1 CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA 4
1.1 FORMAS 4
1.1.1 Violação de correspondência 4
1.1.2 Sonegação ou destruição de correspondência 6
1.1.3 Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou telefônica 7
1.1.4 Impedimento de comunicação telegráfica ou radioelétrica ou conversação 8
1.1.5 Instalação ou utilização de estação ou aparelho radioelétrico, sem observância de disposição legal 9
1.1.6 Causas de aumento de pena 9
1.1.7 Qualificadora 9
1.1.8 Correspondência comercial 9
1.2 AÇÃO PENAL 10
2 CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE SEGREDOS 11
2.1.1 Divulgação de segredo 11
2.1.2 Violação de segredo profissional 11
3 USURPAÇÃO 14
3.1 ALTERAÇÃO DE LIMITES 14
3.2 USURPAÇÃO DE ÁGUAS 15
3.3 ESBULHO POSSESSÓRIO 16
3.4 SUPRESSÃO OU ALTERAÇÃO DE MARCAS EM ANIMAIS 17 
1 CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDEDE DE CORRESPONDÊNCIA
Com base no texto da Constituição Federal, que em seu art. 5º, XII, garante a inviolabilidade do sigilo das comunicações: a) por carta; b) telegráfica; c) de transmissão de dados; d) telefônica; o Código Penal visa proteger o direito à liberdade de pensamento, de se comunicar e de se corresponder, sendo que a última hipótese é a única possibilidade de quebra de sigilo, como prevê o Texto Constitucional.[1: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 369]
Para um melhor entendimento da matéria se faz necessário compreender os conceitos que definem cada modalidade de comunicação abrangida pela legislação:
a) Comunicação por carta e telegráfica: correspondência por carta se dá por qualquer meio de comunicação escrita, enquanto que telegráfica corresponde ao telegrama;
b) Comunicação telefônica e de dados: a comunicação de dados, que é a transmissão de informações por meio de computadores com cabos telefônicos, está incluída dentro da comunicação telefônica, que por sua vez é definida como a transferência de sinais linguísticos, imagens, sons e caracteres de qualquer tipo através de aparelhos de telefone fixo ou móvel.[2: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 370]
1.1 FORMAS
Nos arts. 151 e 152, Seção III, Capítulo VI do Código Penal está contida a variedade de crimes contra a inviolabilidade de correspondência, como veremos nesta seção.
1.1.1 Violação de correspondência
Presente no art. 151, caput, do CP, acabou sendo tacitamente revogado pelo art. 40 da Lei n. 6.538/78, que aborda os crimes contra os serviços postal e de telegrama, estabelecendo pena de detenção de até 6 meses ou pagamento de até 20 dias-multa.[3: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 372]
1.1.1.1 elementos do tipo
1.1.1.1.1 ação nuclear, objeto material e elemento normativo do tipo
 No que tange à ação nuclear do tipo, trata-se do verbo “devassar”, equivalente a invadir, olhar, tomar conhecimento do conteúdo. O objeto material do crime é a própria correspondência, que deve estar fechada, conter o nome de destinatário e o endereço onde possa ser encontrado, caso contrário, não se configurará crime. Em relação ao elemento normativo, é exigido que a devassa da correspondência alheia seja indevida, ou seja, que o agente não seja autorizado para tanto, pois se houver consentimento do destinatário ou do remetente para que ele o faça, não haverá crime.[4: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 375]
1.1.1.1.2 sujeitos ativo e passivo
Falando-se do sujeito ativo, o crime é comum, isto é, pode ser cometido por qualquer pessoa, exceto o remetente e o destinatário. A subjetividade passiva desse crime é dupla, em razão de serem duas pessoas que a compõem: o destinatário e o remetente.[5: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 378]
1.1.1.2 elemento subjetivo
Somente é punível a título de dolo, que é afastado pelo erro de tipo, não havendo previsão da modalidade culposa. Portanto, se o agente abrir a correspondência pensando ser o destinatário, não estará cometendo crime.
1.1.1.3 momento consumativo
A consumação exige que o agente tenha tomado conhecimento do conteúdo da correspondência, total ou parcialmente, não bastando ter apenas a aberto.
1.1.1.4 tentativa
É admitida, ocorre quando o agente consegue abrir a correspondência, mas é impedido de tomar conhecimento de seu conteúdo por circunstâncias alheias à sua vontade.[6: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 379]
1.1.1.5 Lei dos Juizados Especiais Criminais
Por ser uma infração de menor potencial ofensivo, cabem as disposições da Lei n. 9.099/95, inclusive o seu art. 89, que estabelece que nos crimes cuja pena mínima for igual ou menor do que 1 ano, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo por 2 a 4 anos, presentes os requisitos da suspensão condicional da pena.
1.1.2 Sonegação ou destruição de correspondência
Assim como o crime anterior foi tacitamente revogado pelo art. 40 da Lei n. 6.538/78, que em seu §1º dispõe: “Incorre nas mesmas penas quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada, para sonegá-la ou destruí-la, no todo ou em parte”.
1.1.2.1 elementos do tipo
1.1.2.1.1 ação nuclear, objeto material e elemento normativo do tipo
A ação nuclear do tipo é o verbo “apossar”, que significa se apoderar da correspondência de outrem, o que pode ocorrer de várias maneiras, como o emprego de ameaça, violência ou fraudo, por exemplo. Ao contrário do crime de violação, o objeto material pode ser tanto a correspondência aberta como a fechada, sendo irrelevante o agente ter adquirido conhecimento de seu conteúdo ou não. O que se mantém é a necessidade do apossamento ser indevido (elemento normativo do tipo).[7: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 380]
1.1.2.1.1 sujeitos ativo e passivo
Vide as explicações ao caput do art. 151.
1.1.2.2 elemento subjetivo
Não existindo modalidade culposa, a lei exige, além do dolo, o fim de sonegar ou destruir a correspondência alheia. Se esse for de tomar ciência de seu conteúdo, será tentativa de violação e correspondência.
1.1.2.3 momento consumativo
Por ser crime formal, somente é necessário o empossamento da correspondência alheia, sendo mero exaurimento do crime a sonegação ou destruição da mesma.[8: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal,Vol. 2, p. 381]
1.1.2.4 tentativa
Vide explicações do crime de violação de correspondência.
1.1.2.5 Lei dos Juizados Especiais Criminais
Assim como no delito descrito no caput do art. 151, está sujeito às disposições da Lei n. 9.099/95.
1.1.3 Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou telefônica
Previsto no inciso II do § 1º do art. 151: “Na mesma pena incorre quem: II — indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas”.
1.1.3.1 elementos do tipo
1.1.3.1.1 ação nuclear, objeto material e elemento normativo do tipo
As ações nucleares são: a) divulgar - levar a conhecimento público o conteúdo da comunicação; b) utilizar - usar a comunicação obtida para alguma finalidade, que se for crime mais grave, absorverá o crime em tela; c) transmitir - que significa noticiar, dar ciência a respeito do conteúdo a outrem. O objeto material do crime é: a) comunicação telegráfica; b) comunicação radioelétrica; c) conversação telefônica. O delito em questão possui dois elementos normativos: a) quem divulga ou comunica, de forma indevida, o conteúdo da comunicação; b) quem comete abusos na utilização do conteúdo, isto é, pratica excessos não acolhidos pelo ordenamento legal.[9: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 382]
1.1.3.1.2 sujeitos ativo e passivo
Mesmas disposições dos tópicos anteriores.
1.1.3.2 elemento subjetivo
Sempre é o dolo, havendo vontade do agente de praticar uma das ações nucleares, não havendo modalidade culposa.
1.1.3.3 momento consumativo
Se faz consumado no momento em que as ações nucleares são praticadas com sucesso.
1.1.3.4 tentativa
É possível, por se tratar de crime plurissubsistente (realizado através de vários atos, como o crime sob a condição análoga à de escravo).[10: DOS SANTOS, Washington. Dicionário Jurídico Brasileiro, p. 65]
1.1.3.5 Lei dos Juizados Especiais Criminais
Também incidindo as disposições da Lei n. 9.099/95, é cabível a suspensão condicional do processo.
1.1.4 Impedimento de comunicação telegráfica ou radioelétrica ou conversação
Estabelece o inciso III do § 1º do art. 151: “Na mesma pena incorre quem ... III — impede a comunicação ou a conversação referidas no número anterior”. É punida a conduta de impedir (interromper, por obstáculo, embaraçar) por diversos meios possíveis a comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro ou conversação entre duas pessoas. Não foi revogado pela Lei n. 9.296/96, pois ela pune a conduta de interceptar (através de escuta ou grampo) a ligação telefônica.[11: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 386]
1.1.5 Instalação ou utilização de estação ou aparelho radioelétrico, sem observância de disposição legal
Contido no inciso IV do § 1º do art. 151, que foi tacitamente revogado pelo art. 70 da Lei n. 4.117/62 (Código brasileiro de telecomunicações) o qual dispõe o seguinte: “Constitui crime punível com a pena de detenção de um a dois anos, aumentada da metade se houver dano a terceiro, a instalação ou utilização de telecomunicações, sem observância do disposto nesta Lei e nos regulamentos. Parágrafo único. Precedendo ao processo penal, para os efeitos referidos neste artigo, será liminarmente procedida a busca e apreensão da estação ou aparelho ilegal”. As condutas punidas são: a) instalar - montar, sem autorização legal, estação ou aparelho radioelétrico; b) utilizar - usar estação ou aparelho radioelétrico já instalado sem autorização legal. O elemento normativo é a inobservância das disposições legais, tratando-se de crime formal, isto é, consuma-se independentemente de dano a terceiro, embora a pena seja aumentada da metade se presente.[12: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 387]
1.1.6 Causas de aumento de pena
Se há dano a outrem, as penas são aumentadas pela metade, como determina o § 2º do art. 151 do CP.
1.1.7 Qualificadora
Prevê o § 3º do art. 151: “Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.”. O abuso necessita ser feito em relação às funções inerentes do agente, não existindo qualificadora se o crime for cometido por motorista ou faxineira, por exemplo.[13: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 390]
1.1.8 Correspondência comercial
Preceituado no art. 152 do CP com a seguinte redação: “Abusar da condição de sócio ou empregado de estabelecimento comercial ou industrial para, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu conteúdo.”
1.1.8.1 elementos do tipo
1.1.8.1.1 ação nuclear e objeto material
Sendo crime de ação múltipla, a prática de mais de uma conduta configura crime único, não concurso de crimes. São elas: a) desviar - dar destino diverso à correspondência; b) sonegar - não realiza sua entrega; c) subtrair - furtar; d) suprimir - destruir; e) revelar - divulgar a terceiro estranho. O objeto material é a própria correspondência, que deve tratar de questões relativas ao estabelecimento comercial, caso contrário o crime será de violação de correspondência.[14: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 390]
1.1.8.1.2 sujeitos ativo e passivo
Sendo crime próprio, o sujeito ativo é o sócio ou empregado de estabelecimento comercial ou industrial remetente ou destinatário. O sujeito ativo é o estabelecimento comercial ou industrial remetente ou destinatário.
1.1.8.2 elemento subjetivo
É o dolo, com o agente tendo ciência do abuso de sua condição. Naõ existe forma culposa.
1.1.8.3 momento consumativo
O crime se consuma com a efetivação total ou parcial de uma das condutas mencionadas anteriormente.
1.1.8.4 tentativa
É perfeitamente admissível, devido ser crime plurissubsistente.
1.2 AÇÃO PENAL
Em todas as formas acima descritas a ação penal será publica condicionada à representação.
2 CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE SEGREDOS
O Código Penal, através de seu art. 153 cuja redação é: “Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou de correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzir dano a outrem. Pena — detenção, de um a seis meses, ou multa”, define o crime de divulgação de segredo, tutelando o direito que todo indivíduo tem de manter informações acerca de sua vida particular que, se divulgadas, podem gerar graves consequências a si ou a outras pessoas. Já o art. 154 define o crime de violação de segredo profissional mediante a redação: “Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.”, dessa vez tutelando o direito de buscar auxílio com um terceiro profissional (confidente necessário), sendo de interesse da sociedade que essas informações sejas preservadas em sigilo.
2.1 FORMAS
2.1.1 Divulgação de segredo
2.1.1.1 elementos do tipo
2.1.1.1.1 ação nuclear, objeto material e elemento normativo
A ação nuclear consiste no verbo divulgar, significando tornar público, dar ciência a outrem acerca do fato confidencial, não importando o meio usado (rádio, telefone, etc.). Em relação ao número de pessoas cientificadas, a doutrina majoritária entende que é necessário que o segredo seja divulgado para mais de uma pessoa. O objeto material é: a) conteúdo de documento particular; ou b) conteúdo de correspondência comercial. O elemento normativo do tipo é a ausência de justa causa, sendo que o ordenamento define as hipótese em que há justa causa, sendo elas: a) nos casos de delatio criminis ( ; b) quando o segredo é revelado em juízo por testemunha; c) quando o agente apresenta documento particular ou correspondência comercial para provar sua inocência em processo judicial; d) em caso de apreensão de cartas destinadas ao acusado, quando suspeitar-se que a ciênciade seu conteúdo possa esclarecer o fato; e) havendo o consentimento do ofendido para a divulgação do segredo.[15: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 393]
2.1.1.1.2 sujeitos ativo e passivo
O sujeito ativo pode ser tanto o destinatário quanto o detentor legítimo ou ilegítimo. Já o polo passivo pode ser ocupado por: a) o remetente ou autor; b) o destinatário, quando outra pessoa tiver a detenção do documento ou correspondência; ou c) qualquer outra pessoa que possa ser prejudicada com a divulgação das informações confidenciais.
2.1.1.2 elemento subjetivo
Trata-se do dolo, com o agente tendo ciência da ilegitimidade de sua conduta e da natureza confidencial do conteúdo. Não há modalidade culposa.
2.1.1.3 momento consumativo
Sendo crime formal, o crime ocorre com a efetiva divulgação do conteúdo, não sendo necessário o dano a outrem.
2.1.1.4 tentativa
É perfeitamente possível.
2.1.1.5 ação penal e Lei dos Juizados Especiais Criminais
Via de regra, trata-se de crime de ação penal pública condicionada à representação, mas, se resultar dano à Administração Pública, será incondicionada. É admissível a suspensão condicional do processo nos moldes da Lei n. 9099/95.
2.1.2 Violação de segredo profissional
2.1.2.1 elementos do tipo
2.1.2.1.1 ação nuclear, objeto material e elemento normativo do tipo
A conduta punida se trata de revelar segredo que conhece em função da atividade que exerce e que sabe pode causar dano (moral ou econômico) a outrem se assim o feito, o que pode acontecer mesmo que o agente não exerça mais a função em questão. O objeto material é o segredo, mesmo que seja sobre fato criminoso ou conhecido por várias pessoas (família, por exemplo). O elemento normativo é a revelação sem justa causa, que ocorre sempre quando um bem jurídico de maior importância precisar ser protegido, como nas previsões: a) quando para a cobrança judicial de honorários o profissional for obrigado a revelar os fatos sigilosos; b) havendo consentimento do titular do segredo; e c) quando legislação impuser o segredo.[16: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 396]
2.1.2.1.2 sujeitos ativo e passivo
É crime próprio, no qual o sujeito passivo é a pessoa que tiver ciência de informação sigilosa em razão de exercício de função (encargo recebido em virtude de lei, decisão judicial ou contrato), ministério (encargo subordinado a estado ou condição social), ofício (arte mecânica ou manual) ou profissão (exercício de ocupação de natureza intelectual e independente que necessita de habilitação do Estado). Já o sujeito passivo é qualquer pessoa que possa sofrer dano com a divulgação do segredo.[17: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 398]
2.1.2.2 elemento subjetivo
É o dolo, com o agente sabendo que não existe justificativa para a sua conduta. Não existe forma culposa.
2.1.2.3 momento consumativo
Basta que o segredo seja revelado a uma pessoa, não sendo necessária a ocorrência de dano.
2.1.2.4 tentativa
É inadmissível nos casos em que a revelação do segredo é oral, cabendo quando ela se dá por meio escrito.
2.1.2.5 ação penal e Lei dos Juizados Especiais Criminais
A ação penal é pública condicionada à representação do ofendido, cabendo a suspensão condicional da pena por ser delito de menor potencial ofensivo, nos moldes da Lei n. 9.099/95.
3 USURPAÇÃO
O Código Penal, sob o nome de usurpação, define três figuras parecidas de infrações contra a propriedade imóvel, sendo elas: a) alteração de limites; b) usurpação de águas; e c) esbulho possessório.
3.1 ALTERAÇÃO DE LIMITES
3.1.1 Bem jurídico tutelado
Protege-se o direito à inviolabilidade do patrimônio imobiliário, uma vez que o bem imóvel não pode ser roubado ou furtado, mas pode ser ocupado, invadido ou deteriorado indevidamente, prejudicando o uso, gozo e livre exercício da posse pelo proprietário. É irrelevante a natureza da posse, podendo ela ser privada ou pública, diferindo apenas na ação penal cabível.[18: BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Vol. 3, p. 376]
3.1.2 Sujeitos ativo e passivo
Os sujeitos ativo e passivo são proprietários e possuidores de imóveis, sendo que o ativo é que praticar a ação alteradora de limites imobiliários e o passivo, quem a sofre. Existe uma condição especial exigida pelo ordenamento para o sujeito ativo, que é a necessidade dele ser vizinho do sujeito passivo, sendo portanto, crime próprio. Em se tratando de condomínio pro indiviso (composse sobre todo o imóvel, marcada pela indivisão de fato e de direito) o crime é impossível pela absoluta impropriedade do objeto, a não ser que seja pro diviso (existência de divisão provisória e sujeita a posterior divisão judicial). Quanto ao sujeito passivo pode ser tanto o proprietário quanto o possuidor.[19: BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Vol. 3, p. 380]
3.1.3 Ação nuclear e objeto material
As ações tipificadas são: a) suprimir - eliminar, destruir, fazer desaparecer por completo a demarcação da linha divisória; e b) deslocar - afastar, alterar (total ou parcialmente), remover os marcos. A simples colocação de novos marcos não configura o crime. O objeto material pode ser: a) tapumes - cercas ou qualquer meio físico para separar as propriedades; b) marcos - sinais, tocos, pedras, estacas que indicam a existência de divisão; ou c) qualquer outro sinal que indique uma divisória.[20: BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Vol. 3, p. 382]
3.1.4 Elemento subjetivo
É o dolo, exigindo-se também a finalidade de se apropriar total ou parcialmente do bem alheio. Não existe forma culposa.[21: BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Vol. 3, p. 385]
3.1.5 Momento consumativo e tentativa
O delito se consuma quando uma das ações nucleares é efetivamente praticada, sendo irrelevante se o agente se apropriou ou não do bem alheio. A tentativa, apesar de divergências doutrinárias, é admitida.
3.1.6 Ação penal
É pública incondicionada, em regra, mas se não houver emprego de violência e a propriedade for privada, será condicionada à representação.
3.2 USURPAÇÃO DE ÁGUAS
3.2.1 Bem jurídico tutelado
Além da posse e propriedade imobiliárias, protege-se o direito real de uso, gozo ou exploração das águas que se encontram na propriedade e que por lá passam seguindo seu curso natural.[22: BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Vol. 3, p. 393]
3.2.2 Sujeitos ativo e passivo
O sujeito ativo poderá ser qualquer pessoa, não sendo exigida nenhuma condição especial, podendo existir o concurso de agentes. Já o sujeito passivo é quem tem a posse ou o direito de utilização das águas, podendo ser pesso física ou jurídica.
3.2.3 Ação nuclear e objeto material
As condutas penalizadas são: a) desviar - alterar o curso das águas; e b) represar - conter ou interromper o curso das águas. O objeto material é a água, pública ou privada, fluente ou encanada, concebidas como coisa imóvel.[23: BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Vol. 3, p. 395]
3.2.4 Elemento subjetivo
Dolo, também exigido o elemento subjetivo especial que é o fim de obtem proveito próprio ou para terceiro.
3.2.5 Consumação e tentativa
Também se consuma com a prática das ações nucleares, ainda que não obtenha proveito delas, pois é crime formal. Como a execução das condutas pode ser interrompida, a tentativa é perfeitamente possível.[24: BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Vol. 3, p. 399]
3.2.6 Ação penal
Mesmas disposições do caso de alteração de limites.
3.3 ESBULHO POSSESSÓRIO
3.3.1 Bem jurídico tutelado
Além da posse e propriedade, protege-se a saúde e integridade física e mental do sujeito passivo.
3.3.2 Sujeitos ativo e passivo
Sujeito ativo é qualquer um que invada terreno ou edifício alheio, enquanto que sujeito passivo é quem se encontra na posse ou propriedade dos mesmos.
3.3.3 Ação nuclear e objeto material
O verbo que define a ação é invadir, ou seja, penetrar na propriedade, exigindo-se emprego de violência física ou moral.Se o agente o fizer de maneira pacífica, não será configurado esse crime. O objeto material é o terreno ou edifício que não pertence ao agente.[25: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 502]
3.3.4 Elemento subjetivo
Novamente é o dolo, além da finalidade de praticar o esbulho possessório, isto é, colocar a vítima para fora do imóvel e ocupá-lo. Não existe previsão de forma culposa.
3.3.5 Consumação e tentativa
Sendo crime formal, o esbulha será mero exaurimento do crime, bastando a efetiva invasão. Também é admissível a forma tentada.
3.3.6 Ação penal
Mesmas disposições das outras figuras de usurpação expostas acima.
3.4 SUPRESSÃO OU ALTERAÇÃO DE MARCAS EM ANIMAIS
Estabelece o art. 162 do Código Penal: “Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de propriedade”. Pena: detenção, de 6 meses a 3 anos, e multa.
3.4.1 Bem jurídico tutelado
Posse e propriedade do semovente, em especial o gado ou rebanho, considerados bens móveis.
3.4.2 Sujeitos ativo e passivo
É crime comum, portanto qualquer pessoa pode cometê-lo. Sujeito passivo é qualquer pessoa, física ou jurídica, que seja proprietária dos animais em questão.[26: BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Vol. 3, p. 423]
3.4.3 Ação nuclear e objeto material
São duas as condutas indevidas previstas: a) suprimir - extinguir, fazer desaparecer; e b) alterar - mudar, desfigurar. O objeto material pode ser: a) marca - característico empregado, relativo à propriedade do animal, para distingui-lo de outros; ou b) sinal - todo distintivo artificial, diverso da marca.[27: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 504]
3.4.4 Elemento subjetivo
É o dolo, com o agente sabendo que o animal não o pertence, também sendo exigida um elemento subjetivo especial que é a finalidade de por dúvida sobre a propriedade dos animais.
3.4.5 Consumação e tentativa
A consumação independe de qualquer resultado, sendo necessário a simples prática das ações nucleares. É admissível a forma da tentativa.[28: BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Vol. 3, p. 431]
3.4.6 Ação penal
Mesmo sendo o patrimônio disponível, a ação é pública incondicionada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
DOS SANTOS, Washington. Dicionário Jurídico Brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.

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