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Leonardo Pauperio - O Estado de Max Weber como dominação social (2014.05.09)

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O Estado racional de Max Weber
como dominação social institucionalizada
Leonardo Tocchetto Pauperio
Professor da Faculdade de Direito da UFBA
Juiz Federal na Bahia
1. Introdução. 2. O Estado em Weber. 3. O Estado e os cidadãos – organização e tensão. 4. Uma discussão atual.
1. Introdução
O Estado não é um tipo ideal, senão um ente histórico. A teoria geral do Estado na atualidade parece já ter superado antigas concepções formal-reducionistas e reconhecido a necessária variabilidade das manifestações organizacional-políticas na história. Tal não se deu, entretanto, sem a contribuição de Max Weber. Este breve estudo pretende apresentar e analisar a concepção de Estado formulada por Max Weber (1864-1920) na obra Economia e sociedade, uma póstuma compilação de escritos produzidos entre 1911 e 1913. 
2. O Estado em Weber
O que incumbe a uma organização política num dado modelo histórico não serve, por si só, para defini-la, pois não há quase nenhuma tarefa que alguma associação política, em algum momento, não tivesse tomado em suas mãos, assim como não há nenhuma da qual se poderia dizer que tivesse lhe sido própria, em todos os momentos e exclusivamente.
A inafastável variabilidade que permeia o conceito histórico de Estado não foi ignorada por Weber, que se valeu do monopólio da força como o seu principal elemento caracterizador, ao afirmar que “somente se pode, afinal, definir sociologicamente o Estado moderno por um meio específico que lhe é próprio, como também a toda associação política: o da coação física” (Weber, 2004, p. 525).
Weber diz que se “existissem apenas complexos sociais que desconhecessem o meio de coação, teria sido dispensado o conceito de ‘Estado’, produzindo-se “aquilo a que caberia o nome de anarquia”, concluindo que “evidentemente, a coação não é o meio normal ou o único do Estado – não se cogita disso -, mas é seu meio específico” (op. cit., p. 525).
Marx e Weber são apontados como as origens intelectuais das teorias sociológicas do conflito, que vêem os todos sociais a partir de suas tensões e contradições (cf. TURNER, 2000, p. 21). Orientado por tais premissas, Weber é sobretudo um sociólogo em sua concepção de Estado. Na sua sociologia compreensiva, dispensa alguns elementos já bastante sedimentados àquela época na doutrina da ciência política – soberania e nação – para dizer, à sua época, que
“hoje, o Estado é aquela comunidade humana que, dentro de determinado território – este, o ‘território’, faz parte da qualidade característica -, reclama para si (com êxito) o monopólio da coação física legítima, pois o específico da atualidade é que a todas as demais associações ou pessoas individuais somente se atribui o direito de exercer coação física na medida em que o Estado o permita. Este é considerado a única fonte do ‘direito’ de exercer coação.” (op. cit., p. 525-526)
Note-se que o exercício do monopólio da coação física legítima representa, na visão weberiana, o grande elemento viabilizador da entidade estatal, haja vista esta representar a institucionalização de uma relação de dominação entre grupos sociais. A coação física é, assim, o instrumento utilizado pelo grupo de dominação sobre o grupo dominado.
“O Estado, do mesmo modo que as associações políticas historicamente precedentes, é uma relação de dominação de homens sobre homens, apoiada no meio da coação legítima (quer dizer, considerada legítima). Para que ele subsista, as pessoas dominadas têm que se submeter à autoridade invocada pelas que dominam no momento dado. Quando e por que fazem isto, somente podemos compreender conhecendo os fundamentos justificativos internos e os meios externos nos quais se apóia a dominação.” (op. cit., p. 526)
A ideia de dominação torna-se, assim, central no pensamento de Weber, que a define como a probabilidade de encontrar obediência para ordens específicas (ou todas) dentro de determinado grupo de pessoas. E a dominação somente torna-se possível a partir da existência de um elemento de justificação interna, que legitima essa dominação. Esse elemento de adesão ao projeto social apresenta-se, segundo Weber, a partir de três modalidades distintas:
dominação tradicional: é a autoridade do eterno ontem, do costume sagrado por validade imemorável e pela disposição habitual de respeitá-lo, tal como a exercitam o patriarca e o príncipe patrimonial de antigamente. É a dominação baseada na “crença cotidiana na santidade das tradições vigentes desde sempre e na legitimidade daqueles que, em virtude dessas tradições, representam a autoridade” (op. cit., p. 141);
dominação carismática: a autoridade do dom de graça pessoal, extracotidiano (carisma). É a entrega pessoal e a confiança pessoal em revelações, heroísmo ou outras qualidades de líder de um indivíduo, tal como a exercem o profeta, o príncipe guerreiro eleito ou o soberano plebiscitário, o grande demagogo e o chefe de um partido político. É “baseada na veneração extracotidiana da santidade, do poder heróico ou do caráter exemplar de uma pessoa e das ordens por esta reveladas ou criadas” (op. cit., p. 141);
legalidade (dominação legal): a crença na validade de estatutos legais e da “competência” objetiva, fundamentada em regras racionalmente criadas, isto é, em virtude da disposição de obediência ao cumprimento de deveres fixados nos estatutos. É a dominação exercida pelo moderno servidor público e todos aqueles portadores de poder que com ele se parecem neste aspecto. É “baseada na crença na legitimidade das ordens estatuídas e do direito de mando daqueles que, em virtude dessas ordens, estão nomeados para exercer a dominação” (op. cit., p. 141).
Mas Weber não limita o Estado somente a essa associação de dominação institucional detentora do monopólio da coação física legítima num território determinado. Reconhece, também, a imprescindibilidade da disposição sobre bens concretos eventualmente necessários para a aplicação da coação física: o quadro administrativo pessoal e os recursos administrativos materiais. 
Diz Weber que o quadro administrativo pessoal representa “a forma de manifestação externa da organização de dominação política, bem como a de qualquer outro empreendimento” (op. cit., p. 526), e não está ligado à obediência ao detentor do poder, ou àquela ideia de legitimidade oriunda das justificações internas, mas sim por dois meios que apelam ao interesse pessoal: recompensa material e honra social.
Quanto aos recursos administrativos materiais, Weber discorre:
“Para a manutenção de toda dominação baseada em coação, precisa-se, além disso, de certos bens materiais externos, do mesmo modo que numa empresa econômica. Todas as ordens estatais podem ser classificadas segundo se fundamentem no princípio de que aquele quadro de pessoas – funcionários ou outro tipo de pessoas com cuja obediência precisa poder contar o detentor do poder – são proprietários dos meios administrativos, consistam estes em dinheiro, prédios, material bélico, carros, cavalos ou outras coisas quaisquer, ou então no princípio de que o quadro administrativo está ‘separado’ dos meios administrativos, no mesmo sentido que atualmente o funcionário e o proletário na empresa capitalista estão ‘separados’ dos meios de produção materiais. Isto é, se o detentor do poder tem a administração em suas próprias mãos, organizando-a e exercendo-a mediante servidores pessoais, funcionários contratados ou favoritos e homens de confiança pessoais que não são proprietários (ou seja, donos por direito próprio) dos meios materiais do empreendimento, mas estão submetidos à direção do senhor, ou se acontece o contrário. A diferença atravessa todas as organizações administrativas do passado.
Uma associação política, em que os meios administrativos materiais se encontram integral ou parcialmente no poder próprio do quadro administrativo dependente, é uma associação organizada ‘estamentalmente’. Na associação feudal, por exemplo, o vassalo pagava de seu própriobolso a administração e a jurisdição do distrito que constituía seu feudo, além de equipar-se e abastecer-se para a guerra; seus subvassalos faziam o mesmo. Isto tinha conseqüências consideráveis para a posição de poder do senhor, que somente descansava sobre o vínculo pessoal de fidelidade e sobre o fato de que a posse do feudo e a honra social do vassalo derivavam do senhor sua ‘legitimidade’.” (op. cit., p. 527-528)
E a gênese do Estado moderno, para Weber, está justamente no processo de inversão iniciado pelos monarcas europeus, que durante a Idade Média tinham permanecido enfraquecidos em sua autoridade central diante da intensa descentralização política ocasionada, sobremaneira, pela pressão exercida pelas invasões “bárbaras”�. Inversão na titularidade do exercício do poder administrativo cuja desconcentração contextualizou o pluralismo jurídico existente durante a época feudal.
“Por toda parte inicia-se o desenvolvimento do Estado moderno, pela tentativa de desapropriação, por parte do príncipe, dos portadores ‘particulares’ de poder administrativo que existem ao seu lado, isto é, daqueles proprietários de recursos administrativos, bélicos e financeiros e de bens politicamente aproveitáveis de todos os tipos. Todo o processo constitui um paralelo perfeito ao desenvolvimento da empresa capitalista, mediante a desapropriação gradativa dos produtores autônomos. No fim vemos que no Estado moderno de fato há a concentração em um ponto supremo da disposição sobre todos os recursos da organização política, que mais nenhum funcionário é proprietário pessoal do dinheiro que desembolsa ou dos prédios, das reservas, dos instrumentos ou da maquinaria bélica de que dispõe. No ‘Estado’ atual, está, portanto, completamente realizada – e isto é essencial para o conceito – a ‘separação’ entre o quadro administrativo, os funcionários e trabalhadores administrativos, e os meios materiais da organização.” (op. cit., p. 528-529) (grifos nossos)
E conclui Weber, numa constatação que considera puramente conceitual, dizendo que
“o estado moderno é uma associação de dominação institucional, que dentro de determinado território pretendeu com êxito monopolizar a coação física legítima como meio da dominação e reuniu para este fim, nas mãos de seus dirigentes, os meios materiais de organização, depois de desapropriar todos os funcionários estamentais autônomos que antes dispunham, por direito próprio, destes meios e de colocar-se, ele próprio, em seu lugar, representado por seus dirigentes supremos.” (op. cit., p. 529)
3. O Estado e os cidadãos – organização e tensão
O Estado é uma entidade histórica. Não representa um conceito abstrato comum; pelo contrário, varia no espaço e no tempo. Da polis grega até as formas contemporâneas de Estado, a humanidade experimentou diversificados modelos de organização social e política, tendo variado sobremaneira as razões de justificação de sua existência.
Os conflitos lhes são inerentes. Ao subordinar e conformar indivíduos distintos em ideologias e anseios, enfrenta resistências no estabelecimento de um equilíbrio na comunidade. 
As origens mais remotas do Estado residem na reunião de indivíduos para decidir coletivamente acerca de interesses comuns, assim como para guerrear ou celebrar divindades conjuntamente. Foi assim na Grécia e Roma antigas, primeiras formas de organização política de nossa tradição sócio-cultural:
“A religião doméstica proibia que duas famílias se misturassem e se confundissem. Mas era possível que muitas famílias, sem abrir mão da sua religião particular, se unissem, pelo menos para celebrar outro culto que lhes fosse comum. E foi o que aconteceu. Certo número de famílias formou um grupo que a língua grega chamou de fratria, e a latina, de cúria. Existiria entre estas famílias de um mesmo grupo algum vínculo de nascimento? Não podemos afirmá-lo. O certo é que essa nova associação não se realizou sem alguma expansão da idéia religiosa. Ao se unirem, essas famílias logo conceberam uma divindade superior à de seus deuses domésticos que, por ser comum a todos, velava por todo o grupo. Erigiram-lhe altar, acenderam o fogo sagrado e instituíram-lhe o culto.
(...)
Cada fratria ou cúria tinha seu chefe, curião ou fratriarca, cuja principal função era a de presidir aos sacrifícios. Talvez, nos primórdios, suas atribuições tivessem sido mais amplas. A fratria tinha as suas assembléias, as suas deliberações, e podia promulgar decretos. Na fratria, como na família, havia um deus, um culto, um sacerdote, uma justiça e um governo. Era uma pequena sociedade modelada exatamente sobre a família.
A associação continuou naturalmente a crescer, sempre segundo o mesmo modelo. Diversas cúrias ou fratrias se agruparam, formando a tribo.
(...)
A tribo, como a fratria, tinha assembléias e promulgava decretos a que todos os seus membros deviam se submeter. Tinha tribunal e jurisdição sobre os seus membros. Tinha um chefe, tribunus, phylobasileus. Pelo que chegou até nós da instituição da tribo, vemos que esta foi constituída, originariamente, como sociedade independente, como se não houvesse acima dela poder algum.
(...)
A tribo, como a família e a fratria, constituía-se em corpo independente, com culto especial de onde se excluía o estrangeiro. Uma vez formada, nenhuma família podia nela ser admitida. Duas tribos de modo algum podiam fundir-se em uma, pois a religião a isso se opunha. Mas, assim como várias fratrias estavam reunidas em uma tribo, diversas tribos puderam associar-se, sob a condição de o culto de cada uma ser respeitado. No dia em que se firmou essa aliança nasceu a cidade.” (COULANGES, 2005, p. 128-138) (grifei)
O processo de organização coletiva, de que é exemplo a formação da polis grega, origina uma dupla opressão: (1) no plano sociológico, a das forças dominantes num dado momento histórico (detentoras do poder ideológico, do poder econômico, de maioria numérica, etc.) sobre as minorias dominadas (ideológicas, econômicas, numéricas); (2) no plano político, a do poder institucionalizado sobre cada um dos indivíduos da comunidade.
O Estado como institucionalização da opressão de forças dominantes foi um traço marcante do pensamento de Weber, que identificou a primeira face da opressão apontada - no plano sociológico – como a principal ratio do ente estatal. Não se limita à dominação do poder econômico, muito embora o regime de mercado característico da era contemporânea alce tal potencialidade ao topo da escala de dominação.
A regra da maioria constitui igualmente uma potencialidade de peso no cenário atual. É que o regime democrático se utiliza da regra one vote, one man, o que só não resolve a definição política em favor da classe numericamente majoritária pela forte presença dos meios de comunicação a influenciar a formação da “vontade coletiva” e pelo usual desvirtuamento do sistema representativo a partir da consolidação de atores como os políticos profissionais e das práticas coronelista e de compra de votos.
A opressão política, por sua vez, envolve uma dupla tensão relativamente à liberdade e ao patrimônio dos indivíduos. A tensão relativa à liberdade ocorre no embate entre a liberdade individual preservada e a parcela cedida à organização política da comunidade. Todos declinam de parcelas de auto-regulação em prol do bem comum representado pela organização social, mas os limites dessa restrição à liberdade – teoricamente consentida no plano individual - oscilam numa zona nebulosa influenciada por razões variadas.
A tensão relativa ao patrimônio, por sua vez, relaciona-se com a qualificação do Estado contemporâneo como agente oficial responsável pela satisfação de necessidades coletivas. Um patrimônio comum é gerido pelo ente central organizado para o atendimento de contingências eleitas pela comunidade como próprias de atendimento por um ente central.
Nesse contexto, imprescindível a formação pelo Estado pós-moderno da poupança pública, entendida esta como o fundo financeiroformado a partir de contribuições instituídas para financiar a política de integração social em determinada comunidade. Isso só é possível a partir de uma restrição ao patrimônio dos membros da comunidade, tendo em vista que o Estado só pode atender às necessidades sociais a partir da utilização de recursos.
Tais recursos são buscados junto à própria coletividade, o que ocorre com a expropriação do patrimônio privado, normalmente através da tributação. E o caráter compulsório dessa contribuição vai caracterizar a obrigatoriedade da adesão ao projeto social financiado pela poupança pública.
4. Uma discussão atual
A discussão sobre a utilidade do Direito como instrumento de dominação de classes sociais continua atual na ciência política contemporânea. As desvirtudes operadas nos modelos democráticos vigentes trazem à tona possíveis causas das mazelas que atingem as camadas desprivilegiadas da humanidade. A escassez de recursos do Estado para os pobres seria causa ou conseqüência das imperfeições políticas?
Hoje a discussão concentra-se, também, nas (im)possibilidades de conciliação entre a exagerada regulação estatal e a liberdade individual de cada um dos membros a ela submetidos, donde decorrem novas propostas de modelos organizacionais – além dos superados modelos históricos do Estado liberal e do Estado social - que procurem ampliar a capacidade de auto-regulação dos indivíduos a partir de um debate democrático amplo, a possibilitar interações sociais num espaço público receptivo à participação dos diferentes grupos sociais.
“No paradigma procedimentalista do direito, a esfera pública é tida como a ante-sala do complexo parlamentar e como a periferia que inclui o centro político, no qual se originam os impulsos: ela exerce influência sobre o estoque de argumentos normativos, porém sem a intenção de conquistar partes do sistema político. Através dos canais de eleições gerais e de formas de participação específicas, as diferentes formas de opinião pública convertem-se em poder comunicativo, o qual exerce um duplo efeito: a) de autorização sobre o legislador, e b) de legitimação sobre a administração reguladora; ao passo que a crítica do direito, mobilizada publicamente, impõe obrigações de fundamentação mais rigorosas a uma justiça engajada no desenvolvimento do direito.” (Habermas, 2003, p. 186-187)
Assim, o legado doutrinário de Weber acerca do Estado, onde predomina a ideia instrumental de dominação de classes, deve ser entendido na realidade de tempos já passados em quase um século e dentro da perspectiva sociológica que o orientou, servindo à ciência política atual como parâmetro histórico valioso na percepção dos modelos vigentes à época e como advertência para a possibilidade de utilização do direito em finalidades políticas desconexas com o objetivo democrático. Após quase 100 anos, nada mais atual.
Referências
HABERMAS, Jürgen. O discurso filosófico da modernidade: doze lições. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
______. DIREITO DE DEMOCRACIA – Entre facticidade e validade. 2. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003a. 2 v.
MIRANDA, Jorge. Teoria do Estado e da Constituição. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
TURNER, Jonathan H.. Sociologia - Conceito e Aplicações. São Paulo: Makron Books, 2000.
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. 1. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004.
� Esse processo de criação dos Estados europeus também é analisado por JORGE MIRANDA, que o visualiza na realização constante de esforços dos reis, em virtude da situação política existente à época, para se libertarem dos vínculos internos e externos ao desenvolvimento da plenitude do seu poder: “a) Internamente, no sentido da centralização do poder, ou seja, da reintegração das faculdades jurisdicionais (e outras) dispersas pelos senhores feudais e da extinção das imunidades e dos privilégios atribuídos a estratos sociais ou a comunidades locais; b) Externamente, no sentido da emancipação política (mais tarde, com a Reforma numa grande zona da Europa, separação político-religiosa) em relação ao Papa e ao Imperador. Este processo possui natureza jurídica. Os princípios jurídicos fornecem razões, indicam meios e facilitam a sua realização. Exemplifica-se aqui como o Direito não se reduz a um quadro condicionado, é sobretudo um elemento condicionador da evolução social e política” (2002, p. 37). E ao final os reis atingem seus objetivos. “Depois da organização política medieval – uma série de poderes ou autoridades, cada qual com ampla jurisdição, verticalmente dispostos – vai ressurgir a noção de Estado, na plena acepção. Pois o poder concentra-se no Rei e toda a autoridade pública passa a emanar dele; ele atinge todos os indivíduos – por serem súbditos do mesmo Rei; o território adquire limites precisos e a todas as parcelas o governo central faz chegar a sua lei. Também, mais do que em qualquer outra época ou civilização, essa concentração acompanha-se de uma crescente institucionalização, determinada pelo próprio alargamento, da comunidade política e pelo reforço do aparelho de poder, bem como pelas transformações intelectuais que, entretanto, ocorrem. E com o constitucionalismo todo o Estado ficará envolvido por regras e processos jurídicos estritos” (MIRANDA, op. cit., p. 32).

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