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CIÊNCIA POLÍTICA – 2017.2 PROFESSOR Me. LUIZ FELIPE PINHEIRO NETO Ponto V. A CONFIGURAÇÃO DO ESTADO MODERNO E O TERRITÓRIO COMO ELEMENTO ESSENCIAL DO ESTADO 1. O Estado moderno; 2. Contexto histórico: Paz de Vestfália; 3. Elementos do Estado Moderno: território, povo, soberania (e finalidade); 4. Território: Conceito e características; 5. Limites do Estado; 6. Território (cultural), nação e soberania. 1. O ESTADO MODERNO Estado Moderno é aquele que, pela primeira vez, mostrou-se dotado de um poder próprio soberano e independente de quaisquer outros poderes, exercido dentro das fronteiras do seu território e sob sua população, já que a ideia de soberania una e indivisível somente surgiu com o fim do feudalismo e com o início do absolutismo monárquico. Heller: “O moderno Estado soberano nasce da luta dos príncipes territoriais para a consecução do poder absoluto dentro do seu território, contra o Imperador e a Igreja, no exterior, e com os poderes feudais organizados em estamentos (modos de estar), no interior.” Dias: “O processo de implantação do Estado Moderno, com a monopolização do poder político, deveu-se a diversos outros fatores, entre os quais podemos destacar: a adoção do Direito Romano, a Reforma protestante, o papel da burguesia emergente e a transferência de lealdade dos indivíduos (da comunidade ou Igreja ao Estado).” Maluf: “O Estado é o órgão executor da soberania nacional” 2. Contexto histórico: PAZ DE VESTFÁLIA (1648) Fim do feudalismo – Guerras de religião (séculos XVI e XVII) – mistura de interesses políticos e religiosos. Guerra dos Trinta Anos (1618/1648) – Guerra política e religiosa entre Sacro Império Romano-Germânico (Habsburgos), com os países influenciados pelos Habsburgos (reinos católicos – Espanha e Áustria), e os estados protestantes/Países Baixos (e a França, mesmo católica). Tentativa da família Habsburgo de conseguir a hegemonia da Europa. Com o fim da Guerra dos Trinta Anos, foram celebrados os Tratados de Vestfália (1648) – determinação de igualdade jurídica entre os Estados e aceitação de que cada um tinha soberania, com poder centralizado nas mãos de cada governante, não devendo haver intervenção nos assuntos internos de outros Estados. Pode-se dizer que com a Paz de Vestfália, surge uma primitiva comunidade internacional – estabelecimento de regras mínimas de coexistência entre os Estados. Estabelece-se também o Estado Moderno e a percepção soberana de um ERstado nacional em relação aos demais. Noberto Bobbio: “As grandes monarquias absolutas do início da Idade Moderna se formam através de um duplo processo de unificação: 1) unificação de todas as fontes de produção jurídica na lei, como expressão da vontade do soberano (...) 2) unificação de todos os ordenamentos jurídicos superiores e inferiores ao Estado no ordenamento jurídico estatal, cuja expressão máxima é a vontade do príncipe.” 3. ELEMENTOS DO ESTADO MODERNO Território. Povo. Soberania (una e indivisível) Para alguns autores (ex: Dalmo Dallari e Acquaviva), há um quarto elemento: finalidade. Há quem divida estes elementos entre formal (soberania), materiais (povo e território) e teleológico (finalidade). Acquaviva: “As causas constitutivas do Estado são materiais, formais e final. São causas materiais do Estado o povo, ou o elemento humano, e o território, ou base física, área material ou ideal em que o Estado faz valer seu Direito positivo. Quanto às causas formais, vale dizer, aquelas que identificam o Estado quanto à sua forma jurídica ou constituição política, graças à qual um Estado não se confunde com outros – daí, a importância de conhecer o Estado por sua constituição – são a ordem jurídica e o poder político, exercido pelos governantes (...) que o encarnam em dado momento histórico. (...) o Estado tem por causa final o bem comum de todas as sociedades menores que atuam em seu território.” Estes elementos estão presentes em algumas conceituações do Estado, como a de Alexandre Groppali: “Estado é a pessoa jurídica soberana, constituída de um povo organizado sobre um território, sob o comando de um poder supremo, para fins de defesa, ordem, bem-estar social e progresso social.” Kelsen: “... o que se denomina de ‘elementos’ do Estado, a soberania, o território e o povo, não é senão a validade do ordenamento estatal em si, e âmbito da validade espacial e pessoal desse ordenamento... 4. TERRITÓRIO Queiroz Lima (apud Maluf): “O Estado moderno é rigorosamente territorial.” Paulo Bonavides apresenta quatro teorias (evolução histórica) a respeito da natureza jurídica do Estado: Teoria do território-patrimônio: Concepção medieval de que o território é patrimônio do Estado. Teoria do território-objeto: O Estado exerce um direito real de caráter público (domínio) sobre o território, ao mesmo tempo em que o cidadão exerce ao mesmo tempo um domínio útil sobre este território. Teoria do território-espaço: o poder que o Estado exerce sobre o território é um poder exercido sobre pessoas, ou seja, um poder de imperium, de comandar pessoas. Teoria do território-competência: A mais próxima do conceito atual, enxerga território como elemento determinante da validade da norma jurídica (âmbito espacial de validade da norma), é onde pode o Estado aplicar as leis que produz. Kelsen: território é a esfera físico-geográfica de validade da ordem jurídica estatal. Espaço no qual o Estado está autorizado a executar atos coercitivos. Kelsen: é graças à delimitação territorial que se torna possível a vigência simultânea de diversas ordens estatais. Acquaviva: “Por isso diziam os romanos: territorium est universitas agrorum intra fines ciusque civitatis quod abe o dictum quidam aiunt, quod magistratus eius loci intra eos fines terrendi, id est, submovendi ius habet (território é a universalidade das terras dentro dos limites de cada Estado, alguns o chamam assim porque o magistrado desse lugar tem o direito de, dentro destas terras, aterrorizar, isto é, de afugentar).” Acquaviva: “(...) pode o território ser definido como a área física ou ideal em que o Estado exerce, com exclusividade, seu poder de império ou seu direito de propriedade sobre pessoas e coisas.” Dallari: o território do Estado se constitui como elemento de delimitação do “agir” soberano do Estado – a ordem jurídica vigente, nos limites territoriais do Estado é a mais eficaz, uma vez que ela é dotada de SOBERANIA, dependendo dela a admissão, no território do Estado, de aplicação de normas jurídicas provindas do exterior. Portanto, território é a limitação espacial da soberania do Estado. Deve-se observar que o entendimento atual é que o território não é patrimônio do Estado, mas do povo, embora o Estado possa impor limitações de utilização, das mais banais às mais extremas (como pode ocorrer em Estado de Defesa ou de Sítio). Características do Território: Unidade (geográfica e, principalmente, jurídica). Impenetrabilidade: a ordem jurídica nacional tem validade exclusiva para determinado território, não se sujeitando a outras – ligado à soberania (exclusão de outras soberanias). Exceções: Tratados e convenções internacionais... 5. LIMITES DO TERRITÓRIO (caráter multidimensional do território) Maluf: “Tendo em vista o seu exato conceito de espaço de validade da ordem jurídica, podemos destrinçá-lo nos elementos que o integram: a) o solo contínuo e delimitado, ocupado pela corporação política; b) o solo insular e demais regiões separadas do solo principal; c) os rios,lagos e mares interiores; d) os golfos, baías, portos e ancoradouros; e) a parte que o direito internacional atribui a cada Estado nos rios e lagos divisórios; f) o mar territorial e a respectiva plataforma marítima; g) o subsolo; h) o espaço aéreo (supra-solo); i) os navios mercantes em alto mar; j) os navios de guerra onde quer que se encontrem; l) os edifícios das embaixadas e legações em países estrangeiros.” Abrangência do território: solo, superfície da terra, rios e lagos internos, bacias, golfos e portos, sobre as áreas compreendidas sobre as fronteiras estatais, além das águas territoriais A soberania de um país com costa litorânea, como no caso do Brasil, estende-se ao mar territorial, ao espaço aéreo sobrejacente, bem como ao seu leito e subsolo. Limites territoriais: a classificação tradicional os diferencia entre naturais e artificiais, resultado de marcação conforme linhas de latitude e longitude SUPERFÍCIE E SUBSOLO A superfície terrestre, enquanto território de um Estado, envolve tanto as terras como as águas interiores, compreendendo portos, baias, rios, riachos, lagos, lagos e mares interiores. A soberania do Estado se estende ao subsolo e todas as riquezas nele existentes, estando sua exploração condicionada à ordem jurídica estatal. ÁGUAS Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) – art. 3º. “Todo Estado tem o direito de fixar a largura do seu mar territorial até um limite que não ultrapasse 12 milhas marítimas, medidas a partir de linhas de base determinadas de conformidade com a presente Convenção.” Milha marítima (ou náutica): 1.852 metros. Lei Federal 8617/1993 – águas territoriais brasileiras. O mar territorial brasileiro compreende uma faixa de doze milhas náuticas de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar (maré baixa) do litoral continental e insular, tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente no Brasil. Além do mar territorial, há mais uma faixa de doze milhas (Zona Contígua), em que o Estado costeiro não tem soberania, mas deve fiscalizar e reprimir infrações às normas sanitárias, fiscais, de imigração e outras vigentes em seu território. Há direito dos navios estrangeiros (tanto civis quanto militares) de “passagem inocente” (passagem rápida, contínua e que não atente à soberania estatal) em tempos de paz. ESPAÇO AÉREO Espaço atmosférico que se ergue acima do território e do mar pertencentes ao Estado. Também deve ser garantido o direito ao trânsito inocente (ou passagem inocente). Contudo, o Estado tem o direito de proibir o vôo em certas áreas de seu território, por razões militares e de segurança, de concordar com o estabelecimento e exploração de rotas aéreas e proibir trânsito de aviões militares. Para além do limite da atmosfera, no espaço cósmico, não se exerce jurisdição de nenhum Estado – equivale ao espaço aéreo internacional. Contitui res communis humanitatis, sendo que o espaço sideral e os corpos celestes não podem ser objeto de apropriação. ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA (ZEE) Extensão na qual o país costeiro (como o Brasil) tem direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não-vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo, e no que se refere a outras atividades com vistas à exploração e ao aproveitamento da zona para fins econômicos. O Estado costeiro também tem jurisdição para regulamentar a investigação científica marinha. A ZEE brasileira compreende uma faixa que se estende das doze às duzentas milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial. É reconhecidos a todos os Estados o gozo, na ZEE, das liberdades de navegação e sobrevôo, bem como de outros usos do mar internacionalmente lícitos, relacionados com as referidas liberdades, tais como os ligados à operação de navios e aeronaves. PLATAFORMA CONTINENTAL Leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural de seu território terrestre, até o bordo exterior da margem continental, ou até uma distância de duzentas milhas marítimas das linhas de base, a partir das quais se mede a largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja essa distância. A CNUDM entende a plataforma continental como uma extensão submersa do território, reconhecendo a soberania do Estado costeiro para fins de exploração e aproveitamento dos recursos naturais nela existentes, não se aplicando às águas marinhas e ao espaço aéreo sobrejacente, mas apenas ao leito e ao subsolo ali existente. 6. TERRITÓRIO (cultural), NAÇÃO E SOBERANIA Território como base de identificação sóciocultural: trabalha com a noção de pertencimento e origem comum ligados a um determinado espaço geográfico, em razão de certas especificidades históricas do processo de desenvolvimento de uma sociedade. Em virtude disto, podem ocorrer conflitos armados, sociais ou mesmo internacionais, em razão do território. Said Maluf: “A nação, como realidade sociológica, pode subsistir sem território próprio, sem se constituir em Estado, como ocorreu com a nação judaica durante cerca de dois mil anos, desde a expulsão de Jerusalém até a recente partilha da Palestina. Porém, Estado sem território não é Estado.” Questão Palestina Ucrânia x Rússia Próximo Ponto: VI – POVOS: TRAÇOS CARACACTERÍSTICOS E DISTINTIVOS Este material não substitui a doutrina, sendo mero fichamento orientador do conteúdo ministrado em sala de aula. O aluno deverá pautar seus estudos pela leitura da doutrina, jurisprudência e legislação. Referências principais (não se excluindo a utilização de outros doutrinadores, inclusive externos ao direito): ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Teoria Geral do Estado; BOBBIO, Noberto. Teoria Geral da Política; BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado; KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado; MALUF, Saihd. Teoria geral do Estado; REALE, Miguel. Teoria Geral do Direito e do Estado. STRECK, Lênio Luiz e MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência Política e Teoria Geral do Estado. WOLKMER, dentre outros.
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