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Ciência política plano 06 2017.2

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CIÊNCIA POLÍTICA – 2017.2 
PROFESSOR ME. LUIZ FELIPE PINHEIRO NETO 
 
Ponto V. POVOS: TRAÇOS CARACTERÍSTICOS E DISTINTIVOS 
 
1. População; 
2. Nação; 
3. Nacionalidade e cidadania; 
4. Povo. 
 
1. POPULAÇÃO 
 Para alguns, o elemento formador do Estado não é o povo, mas a população, 
enquanto substância humana. 
 Contudo, são conceitos que não devem ser misturados/confundidos. 
 População seria um conceito mais amplo, meramente quantitativo, 
envolvendo questões numéricas, econômicas e demográficas, que envolveria 
inclusive estrangeiros passageiros ou residentes, não há necessariamente 
vínculo jurídico. 
 População é o conjunto de pessoas que habitam um espaço geográfico. 
 Essa expressão não tem sentido jurídico e não pode ser usada como 
sinônima de povo. 
 
 Lênio Streck: “Como elemento pessoal constitutivo do Estado, há que se ter 
presente a distinção entre população, que diz respeito a todos os que habitam o 
território, ou seja, engloba todas as pessoas, mesmo que temporariamente 
permaneçam em seu território, sem nada a dizer a respeito dos vínculos com o 
Estado, pois se apresenta como um conceito demográfico-matemático, e povo, 
que realça o aspecto jurídico do grupo vinculado a uma determinada ordem 
normativa, mostrando-se como um conceito jurídico-constitucional.” 
 
 
2. NAÇÃO 
 Há doutrinadores (Maluf, Bonavides, Acquaviva...) que entendem que nem 
povo, nem população, o elemento formador do Estado é a nação, a identidade 
nacional/unidade étnica. 
 (Maluf destaca que o elemento formador do Estado não é apenas a população, 
mas a população nacionalizada, homogeneizada). 
 Maluf: “A base humana do Estado há de ser, em regra, uma unidade étnico-
social que, embora integrada por tipos raciais diversos, vai se formando como 
uma unidade política através de um lento processo de estratificação, de fusão 
dos elementos no cadinho da convivência social” 
 
 Maluf destaca a instabilidade e imperfeição dos Estados criados arbitrariamente, 
com grupos heterogêneos (Estados plurinacionais ou não-nacionais). 
 Maluf: “A nação pode perfeitamente existir sem Estado (...) e pode dividir-se 
em vários Estados” 
 Nações sem reconhecimento enquanto Estado independente: 
 Curdos em países como o Irã, Síria e Iraque. 
 Catalães e Bascos na Espanha. 
 Caxemires na Rússia 
 
 O termo “Nação” refere-se a uma coletividade real que se sente unida pela 
origem comum, pelos laços linguísticos, culturais ou espirituais, por 
interesses, ideais e aspirações comuns. 
 O conceito de nação está ligado a uma identidade, sobretudo cultural, e não a 
espaços físicos (população) ou vínculo jurídico (povo). 
 Acquaviva: “A nação é, pois, uma realidade eminentemente sociológica, que se 
forma com o passar do tempo, até que se sedimento aquele espírito nacional 
oriundo das tradições e costumes comuns.” 
 Para Mancini, uma nação é formada por fatores naturais (território, unidade 
étnica, idioma comum), históricos (tradições, costumes, religião e leis) e 
psicológicos (aspirações comuns, consciência natural, etc...) 
 Para Lênio Streck, a nação é um conceito psicossocioantropológico, possuindo 
cartacteres de identidade referentes a origem, interesses, credos e aspirações. 
 
 Dias: Estado e nação respondem a necessidades básicas diferentes. A nação 
satisfaz a necessidade de pertencer a uma comunidade ampla para afirmar a 
identidade. O Estado atende às necessidades de segurança e ordem. 
 Para Said Maluf: “A nação é uma realidade sociológica; o Estado, uma 
realidade jurídica. O conceito de nação é essencialmente de ordem subjetiva, 
enquanto o conceito de Estado é necessariamente objetivo.” 
 Dias: do ponto de vista sociológico, Nação é a denominação de um povo ao se 
fixar numa determinada área geográfica e adquirir certo grau de organização 
político-administrativa, mantendo-se unido por uma história e cultura comuns e 
pela consciência de que constituem uma unidade cultural. 
 Porém, do ponto de vista político, não há necessidade de identificação étnica 
para constituição de uma nação e acaba sendo utilizado, este conceito, para 
sobrepor-se à nação vista sociologicamente. 
 
 Em que se respeite tais doutrinadores, há também se deve buscar evitar a 
confusão entre povo e nação e demonstrar porque POVO é o elemento humano 
do Estado. 
 
3. NACIONALIDADE E CIDADANIA 
 Nacionalidade é, juridicamente, o vinculo que une cada indivíduo com um 
Estado determinado, mas que não fundamenta direitos civis (só políticos), 
devendo, neste ponto, se diferenciar da cidadania, que faz referência à 
condição de membro ativo do Estado (titularidade dos direitos políticos – 
direito ao sufrágio, principalmente). 
 
 Enquanto o cidadão é sempre nacional, o nacional pode não ser cidadão. 
 Modos de aquisição de nacionalidade: originários (podendo, por sua vez, ser jus 
sanguinis ou jus solis – vigente no Brasil) e derivados (por opção, por 
matrimônio e por naturalização). 
 
 A nacionalidade, do ponto de vista jurídico, pode ser obtida de modo originário 
(nacional nato) ou adquirido por ato voluntário, de modo secundário 
(nacionalidade adquirida/naturalização) – vide art. 12, da Constituição Federal 
de 1988. 
 Observe-se que o nacional não tem automaticamente poderes políticos (ativos ou 
passivos) – Os requisitos estão no art. 14, CF. 
 
 “Cidadão” é o “nacional” (componente do povo pelo vínculo jurídico-político da 
nacionalidade com o Estado) que esteja no pleno gozo dos seus direitos 
políticos. Não são considerados cidadãos os estrangeiros, apátridas... 
 A cidadania é uma condição que pressupõe uma relação democrática entre o 
indivíduo e o poder, condição esta que torna o indivíduo um portador de direitos 
e obrigações. 
 
 A cidadania necessita de instituições que possibilitem aos indivíduos participar 
ativamente do exercício do poder – necessita de uma Constituição democrática. 
 
 
4. POVO 
 Povo é o conjunto de indivíduos que se uniram para constituir o Estado, 
estabelecendo um vínculo jurídico de caráter permanente, o qual se 
denomina “nacionalidade” 
 É o elemento humano do Estado – o reconhecimento de um Estado enquanto 
Estado Democrático de Direito passa pelo respeito à vontade deste elemento. 
 
 Povo é o conceito jurídico-político, que trata de pessoas submetidas ao Estado e 
ligadas a este por meio da cidadania. 
 Hans Kelsen: “a noção de povo não se refere às qualidades físicas ou psíquicas 
dos homens. O povo, como objeto de estudo da Teoria Geral do Estado, é 
entidade puramente normativa.” 
 Jellinek: os indivíduos, enquanto objetos do poder de Estado, são sujeitos de 
deveres; enquanto membros do Estado, pelo contrário, são sujeitos de direito 
(Dias) – o povo é o sujeito titular do poder que será dado ao Estado. 
 José Afonso da Silva: povo “é o vínculo jurídico-político de direito público 
interno, que faz da pessoa um dos elementos componentes da dimensão 
pessoal.” 
 Lênio Streck: “De observar, como lembra Comparato na apresentação da obra 
Quem é o povo, de Fiedrich Muller, que a primeira utilização consequente do 
conceito de povo como titular da soberania democrática, nos tempos modernos, 
aparece nos Estados Unidos, onde, na Declaração de 1776, era atribuído ao povo 
um papel preeminente na constitucionalização do país.” 
 
 Dallari: “Deve-se compreender como povo o conjunto dos indivíduos que, 
através de um momento jurídico, se unem para constituir o Estado, 
estabelecendo com este um vínculo jurídico de caráter permanente, 
participando da formação da vontade do Estado e do exercício do podersoberano” 
 Dallari: “Se examinarmos as conseqüências do reconhecimento do vínculo 
jurídico entre o Estado e os membros do povo, veremos que se põe para 
o Estado a exigência de três atitudes: 
 Exigência de atitudes negativas, pois a subordinação dos 
indivíduos é disciplinada pelo direito, impedindo o Estado de ir 
além de certos limites; 
 Exigência de atitudes positivas, uma vez que o Estado é 
obrigado a agir para proteger e favorecer o indivíduo; 
 Exigência de atitudes de reconhecimento, pois em certas 
circunstâncias há indivíduos que agem no interesse do Estado e 
este é obrigado a reconhecê-los como órgãos seus. É isto 
que corresponde a reconhecer a alguém a condição de 
cidadão ativo, como se dá, por exemplo, com o eleitor ou o 
jurado.” 
 
Pode-se, então, observar que um aglomerado humano é a população; que 
quando a população cria vínculos se tornará uma nação e quando esta nação se 
organiza política e juridicamente, possibilitando atuação ativa dos indivíduos no 
Estado, passa a ser um povo, elemento fundamental do Estado. 
 
 
 
 
Próximo Ponto: 
VII – A SOBERANIA COMO ELEMENTO ESSENCIAL: TRAÇOS 
CARACTERÍSTICOS E DISTINTIVOS 
Este material não substitui a doutrina, sendo mero fichamento orientador do conteúdo 
ministrado em sala de aula. 
O aluno deverá pautar seus estudos pela leitura da doutrina, jurisprudência e legislação. 
Referências principais (não se excluindo a utilização de outros doutrinadores, inclusive 
externos ao direito): 
 ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Teoria Geral do Estado; 
 BOBBIO, Noberto. Teoria Geral da Política; 
 BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 
 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado; 
 KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado; 
 MALUF, Saihd. Teoria geral do Estado; 
 REALE, Miguel. Teoria Geral do Direito e do Estado. 
 STRECK, Lênio Luiz e MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência Política e 
Teoria Geral do Estado. 
 WOLKMER, dentre outros.

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