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1. Não se pode dizer com correção: Mesmo que o enunciatário recuse o pressuposto, o discurso pode prosseguir e cria-se uma situação polêmica. O pressuposto não é objeto de discussão. Ao pressupor um conteúdo, o enunciador determina sua aceitação como condição de manutenção do "diálogo", atingindo, portanto, o direito de fala do enunciatário e estabelecendo os limites do que pode ou não ser dito para que o discurso continue. O conteúdo pressuposto garante ao discurso a coerência, assegura-lhe redundância, enquanto o progresso discursivo se faz no nível do conteúdo posto. Pode-se discutir, negar, não aceitar o posto, o conteúdo explicitado, mas não o pressuposto, pois equivale a desqualificar o enunciador e a impedir o prosseguimento do discurso. 2. CATAR FEIJÃO Catar feijão se limita com escrever: jogam-se os grãos na água do alguidar e as palavras na da folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar. Certo, toda palavra boiará no papel, água congelada, por chumbo seu verbo: pois para catar esse feijão, soprar nele, e jogar fora o leve e oco, palha e eco. (...) NETO, João Cabral de Melo. A educação pela pedra e depois. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. Após a leitura do fragmento do poema Catar feijão de João Cabral de Melo, assinale a única interpretação INACEITÁVEL em relação ao texto lido. É possível considerar que boiará no papel está sendo empregado como sendo uma alusão ao fato de que, ao serem escritas num papel, as palavras não mais poderão, em princípio, ser retiradas dali, a não ser por um princípio de seleção consciente por parte do poeta. Ou seja, enquanto os grãos indesejáveis boiam visivelmente, as palavras supérfluas ou desnecessárias precisam ser sentidas como tal e eliminadas do texto. Levando-se em conta nosso conhecimento de mundo, boiar quer dizer flutuar/nadar, e apenas um leitor atento perceberia que boiar está sendo empregado, no quarto verso, como uma metáfora, uma vez que palavras não podem boiar, a não ser no nível figurativo. O poeta fez uma comparação: os grãos boiam na água, e as palavras boiam no papel. No poema Catar feijão, passamos a refletir sobre a força que as palavras exercem sobre nossos pensamentos, emoções, enfim, sobre nossas vidas. Daí, a escolha das palavras não ser fruto apenas de inspiração, mas sim de um árduo trabalho. Contudo não há a comparação metafórica catar feijão e escrever como intenção primeira para ressaltar as semelhanças e diferenças entre essas duas ações. No poema de João Cabral, o poeta utilizou-se da linguagem conotativa, ou seja, a metafórica, aquela empregada no sentido figurado da língua, ao aproximar, e depois limitar, duas ações bastante corriqueiras na vida de muitas pessoas, que são catar feijão e escrever . Observa-se que o poema Catar feijão apresenta a função metalinguística da linguagem, pois nele o eu lírico reflete sobre o ato de escrever, para ressaltar as semelhanças e diferenças entre essas duas ações. 3. (ENADE, 2011) Leia o texto que segue: Retrato de uma princesa desconhecida Para que ela tivesse um pescoço tão fino Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos Para que a sua espinha fosse tão direita E ela usasse a cabeça tão erguida Com uma tão simples claridade sobre a testa Foram necessárias sucessivas gerações de escravos De corpo dobrado e grossas mãos pacientes Servindo sucessivas gerações de príncipes Ainda um pouco toscos e grosseiros Ávidos cruéis e fraudulentos Foi um imenso desperdiçar de gente Para que ela fosse aquela perfeição Solitária exilada sem destino ANDRESEN, S. M. B. Dual. Lisboa: Caminho, 2004. p. 73. No poema, a autora sugere que: O exílio e a solidão são os responsáveis pela manutenção do corpo esbelto da princesa. Os príncipes generosos cultivavam a beleza da princesa. A beleza da princesa é desperdiçada pela miscigenação racial. O trabalho compulsório de escravos proporcionou privilégios aos príncipes. As príncipes e as princesas são naturalmente belos. 4. Retrato Cecília Meireles Eu não tinha este rosto de hoje, Assim calmo, assim triste, assim magro, Nem estes olhos tão vazios, Nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, Tão paradas e frias e mortas; Eu não tinha este coração Que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, Tão simples, tão certa, tão fácil: ¿ Em que espelho ficou perdida A minha face? Na leitura do poema Retrato, de Cecília Meireles podemos extrair o seguinte tema: A recordação de uma época de juventude. A revolta diante do espelho. A consciência súbita sobre o envelhecimento. A decepção por encontrar-se já fragilizada. A falta de alternativa em face ao envelhecimento.
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