Buscar

Direito Consumidor

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Direito Consumidor
Aula 1
Iniciamos nossa disciplina com o estudo da Constitucionalidade da Proteção e Defesa do Consumidor.
A Lei 8.078 (Código de Proteção e Defesa do Consumidor – CPDC), de 1990, é a principal lei que regula as relações de consumo. Devido a sua relevância social, o legislador constituinte lhe deu prestígio constitucional. Materializado por meio do artigo 48 do ADCT (atos das disposições constitucionais transitórias, concepção da lei), do artigo 5, XXXII (garantia de existência no ordenamento jurídico da CRFB/1988) e 170, V (relevância econômica).
Inobstante tais fundamentações, temos que estudar as normas de consumo, materializadas por meio da Lei 8.078 de 1990, que resulta em uma verdadeira hierarquia fática em leis de mesmo naipe. Pois o CPDC é, tecnicamente, uma lei ordinária. E, em havendo confronto com outra lei ordinária haverá uma supremacia do CPDC. Excetuado o princípio da especialidade (ou especificidade).
Sendo assim, gostaríamos de convidar a reconhecer a relevância dos “aspectos constitucionais consumeristas”.
O Direito do Consumidor e seu Campo de Aplicabilidade
	Na verdade, não há o que se poderia determinar um campo de incidência de forma sistematizada e específica acerca do Código de Defesa do Consumidor. Muito menos uniformidade.
São várias as opiniões que vão desde as que lhe atribuem o caráter de mera lei geral, inaplicável em áreas específicas do Direito já disciplinadas por leis especiais, passando por aquelas com um minissistema jurídico, com campo definido e delimitado. Tal como fizeram as leis de locação urbanas, registros públicos, falências, até chegar naqueles que entendem tratar-se de um novo ramo do direito – o Direito do Consumidor, com autonomia e princípios próprios. 
O que realmente existe é uma filosofia, uma diretriz de defesa do consumidor. Dada a heterogeneidade de sua aplicação, é vasta a aplicação de assuntos que se possa atribuir ao termo “consumidor. 
Sendo assim, o que se criou foi uma sobre-estrutura jurídica multidisciplinar, aplicável em toda e qualquer relação de consumo
		
	
O Código de Defesa do Consumidor é aplicável em toda a estrutura jurídica em que existem duas figuras apolares:
	CONSUMIDOR
O consumidor e sua definição legal (“...toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.”)
FORNECEDOR
A concepção de fornecedor (“...é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.”).
	Diante do gigantismo numérico e das atividades que exercem, vê-se que quase tudo é matéria de consumo. Afinal, temos mais de 204 milhões de brasileiros realizando, na mesma proporção, transações com objetivo final de consumo. 
	Origem:
	O Movimento Consumerista no Brasil não foi um fato estanque. A defesa do consumidor teve origem na Europa arrasada pela Segunda Guerra Mundial, em que o mercado consumidor estava bastante enfraquecido.
	1948- Os Estados Unidos viram, na destruição europeia, uma grande oportunidade de negócio através do Plano Marshall, que uniu os países europeus no pós-guerra. Fato este que gerou a criação, em 1948, da Organização Europeia de Cooperação Econômica (OECE), que expandiu o mercado norte-americano sobre a Europa.
	1962- Em 1962, J.F. Kennedy vislumbrou duas faces bem distintas no mercado econômico: O consumidor e o fornecedor. No mesmo ano, J.F. Kennedy, em discurso para o Congresso Americano, declamou a elaboração da “Carta de Política dos Consumidores”. Foi o primeiro documento formal que estabeleceu uma política geral voltada, exclusivamente, para o consumidor. O Texto tem sentido aberto e estabelece os direitos básicos, mas não específicos, dos consumidores.
	1968- Os Estados Unidos viram, na destruição europeia, uma grande oportunidade de negócio através do Plano Marshall, que uniu os países europeus no pós-guerra. Fato este que gerou a criação, em 1948, da Organização Europeia de Cooperação Econômica (OECE), que expandiu o mercado norte-americano sobre a Europa.
	1948- Já em 1968, fundou-se a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), unindo a OECE (europeia), EUA, Canadá, Japão, Austrália e a Nova Zelândia, com o objetivo de estabelecer uma política de consumo entre seus membros.
	1969- No ano de 1969, a OCDE criou uma comissão para política econômica, com o objetivo de organizar e promover uma política para os consumidores.
	1976- Desta comissão originou-se a “Carta do Consumidor”, em 1976. Observa-se que desde o término da Segunda Guerra Mundial até aquele momento na história houve um processo evolutivo socioeconômico que impôs uma mudança de mentalidade.
	1985- Nos idos de 1985, a ONU se reuniu em 10 de abril e elaborou a Resolução 39/248, que é o reconhecimento Universal da Carta do Consumidores de 1976, regulamentando este documento, com várias regras, com a finalidade de tutelar os direitos básicos do consumidor e deveres dos Estados.
	Finalidades: O claro objetivo do legislador constituinte, portanto, era o de que fosse implantada uma Política Nacional de Relações de Consumo, uma disciplina jurídica única e uniforme destinada a tutelar os interesses patrimoniais e morais de todos os consumidores.
E assim, na verdade, aconteceu, embora com certo atraso.
Sancionado em 12 de setembro de 1990, o Código de Defesa do Consumidor foi publicado neste mesmo dia como Lei 8078 de 11 de setembro de 1990, revelando-se, desde então, um diploma moderno, à altura das melhores e mais avançadas legislações dos países desenvolvidos.
Seus princípios e normas são de ordem pública e interesse social, vale dizer, de aplicação necessária, conforme disposto expressamente em seu primeiro artigo.
Lei 8.078/90
E tais fundamentos serão objeto de nosso estudo.
	Dispositivos constitucionais No Brasil, em que pese haver a presença de movimentos consumeristas, somente com a Constituição de 1988, a defesa do consumidor ganhou proteção positivada porque veio mencionada expressamente no art. 48 do ADCT, gerando a sua concepção. No art. 5°, inciso XXXII, ganhou o status de direito e garantia fundamental. E determinou, no art. 170, V que a defesa do consumidor é um princípio inerente a ordem econômica. Sendo tais fundamentações oriundas do Poder Constituinte Originário.
	
Assim, em setembro de 1990 foi publicada a Lei 8.078 – Código de Defesa do Consumidor, cujo objetivo é implantar uma Política Nacional de Consumo, conforme determina o art. 4° do CDC e os instrumentos para colocar essa Política Nacional em prática estão mencionados no art. 5° do mesmo diploma legal.
	Concepção: art. 48 do ADCT
CRFB/1988 – Atos das Disposições Constitucionais Transitórias:
Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor.
Temos, nesta fundamentação, a “concepção” da futura lei que regulará o “Código de Defesa do Consumidor”.
Destaca-se o fato de que a Lei 8.078 de 1990 não existia. Além disso, integra o chamado “poder constituinte originário”. Logo, a futura lei foi concebida concomitantemente no nascimento da CRFB/1988. Por isso sua relevância.
	Clique nos títulos a seguir para ler mais sobre o que diz a CF/88 sobre os direitos do consumidor:
Direito e garantia fundamental;
Princípio inerente a ordem econômica: art. 170, V CF/88.
OBS: Previsões na CRFB/1988 que tem ingerência direta nas normas de consumo:
Art. 1, III;
Art. 5° X, XXII e § 2°;
Art. 24, VIII;
Art. 30, I, II;
Art. 37, § 6°;
Art. 60, § 4°, IV;
Art. 87, Parágrafo único, II;
Art. 150, § 5° e
Art. 175, Parágrafo único, II.
Aula 2
Os princípios de proteção do consumidor a serem apresentados são diferentes princípios gerais insculpidos em outras normas. Exemplo típico desta assertiva é o entendimentodo princípio da vulnerabilidade que é ínsito (de forma exclusiva) ao consumidor, por via de consequência inaplicável a outro sujeito de direito que não o já citado (consumidor).
Analisaremos os princípios consumeristas em espécie, quais sejam, o princípio da vulnerabilidade e suas espécies, o da boa-fé e suas funções, o da transparência, da segurança e harmonia.
Pode-se conceituar o princípio jurídico como pensamento inexorável (rígido, que não cede à flexibilização, implacável) resultante das interações humanas, dentro do Direito, no qual é gerado um microssistema cujos macrossistemas deverão, para ter credibilidade e segurança, recorrer.
     
Como exemplo maior de princípio, a Constituição de 1988 contém os fundamentos valorativos aceitos pela sociedade, portanto, a CF/88 é o plano diretor do sistema jurídico brasileiro, ordenando não somente os princípios, como também, as leis e os procedimentos necessários para que todos possam ser aplicados com correção.
Sendo assim, é importante destacarmos a norma e a lei na Defesa do Consumidor.
 
Defesa do consumidor:
Norma: intimamente ligado ao principio, exteriorização positiva do principio
Lei: em tese, é a conclusão de uma ideia positivada a ser definida
 
Princípios no Código de Defesa do Consumidor
Absorvidos esses conceitos, podemos identificar no art. 4º do CDC, a existência da norma-princípio, por excelência da lei consumerista, na qual está contida a política das relações de consumo, destacando-se como princípios maiores:
 
1. Princípio Da Vulnerabilidade
 
Art, 4, (...)
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;
O princípio da vulnerabilidade é de suma importância porque estabelece a igualdade dentro da relação de consumo, coisa que antes do Código de Defesa do Consumidor não existia e o fornecedor estava sempre em posição de vantagem.
Caracterizamos o princípio da vulnerabilidade como aquele em que o consumidor está em desvantagem jurídica, decorrente de uma expressa determinação legal oriunda da L.8.078 de 1990, art. 4, I. Independentemente de sua situação social, pelo simples fato de ser consumidor, já o faz ser classificado como vulnerável.
Também não se pode esquecer que todo consumidor é vulnerável, mas nem todo consumidor é hipossuficiente. Este princípio é o resultado da “qualidade” especial do consumidor. Pois, além de lhe ser inerente, é a identificação permanente da subordinação, do desequilíbrio entre o consumidor e o fornecedor.
 É importante frisas que a vulnerabilidade pode ser:
- Técnica: é o desconhecimento técnico do bem de consumo adquirido. O fornecedor não detêm o monopólio do conhecimento. Mesmo que seja adquirido por pessoas especializada.
- Fática ou econômica: é a disparidade de forças entre o consumidor hipossuficiente e o fornecedor hipersuficiente (em regra).
- Jurídica ou cientifica: é a desproporção de fato que existe entre o fornecedor, litigado profissional. E o consumidor litigante eventual.
Além do princípio da Vulnerabilidade, os outros dois maiores são:
2. Princípio Da Harmonia Das Relações De Consumo
3. Princípio Da Repressão Eficiente De Todos Os Abusos
Veja ainda os seguintes princípios e sua importância nas relações de consumo:
Boa fé
Art. 4. (...)
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores [...]
É o regramento de conduta social de agir com lealdade e honestidade. Fazer o que é certo e na medida do prometido.
 
A relevância do tema é positivada nos seguintes fundamentos:
Constituição Federal – 5; V, X, XXII; §2
Código Civil – 112; 113; 166, VI; 167, § 2; 171; 172; 186; 187; 309; 317; 421; 422; 423; 424; 425; 478; 479; 480; 927, § único; 1201 e 1208.
Código de Processo Civil – 374, I, III e IV;
Código de Defesa do Consumidor – 1; 4, III; 39, V; 51, IV; 54; 84
Transparência
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito a sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios [...]
Não basta que o fornecedor informe ao consumidor sobre seu produto ou serviço, é necessário que tal informação seja prestada de maneira clara, possibilitando ao consumidor que adquira o bem de consumo de forma consciente.
Segurança
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito a sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:
Art. 4º [...]
V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo;
No que diz respeito à segurança, o Código não estabelece um sistema de segurança absoluta para produtos e serviços.
O que se quer é uma segurança dentro dos padrões da expectativa legítima dos consumidores.
Harmonia
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência eharmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios [...]
O princípio da harmonia (ou equidade) é um princípio de técnica de hermenêutica que deve estar presente na aplicação da lei. É a justiça diante do caso concreto.
Aula 3
 Estabelecermos como requisito de uso da Lei 8.078 de 1990 – CDC, a necessidade premente de uma relação de consumo que exige a existência de dois sujeitos: o consumidor e o fornecedor.
O primeiro integrante da relação de consumo é o consumidor. Vamos estudar como objetivo principal desta aula. Entretanto, tal situação não torna mais fácil sua caracterização, principalmente se considerarmos as alterações no decorrer do tempo (e já se vai mais de uma década desde o início da vigência da Lei 8.078 de 1990).
Já em um segundo momento, temos de definir o que vem a ser o conceito de destinatário final. Se avaliarmos o art. 2º da Lei 8.078 de 1990, verbis: Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Com a leitura, podemos identificar a ausência de um conceito do que vem a ser destinatário final, o que vem causando sérias controvérisas ao longo do tempo.
Para o tema devemos distinguir as teorias existentes. Inicalmente tivemos a teoria maximalista. Depois a teoria finalista, que perdura até os dias atuais em sede de aplicação. E, recentemente, a partir de 2010, temos a possibilidade de aplicação da chamada teoria finalista atenuada (ou mitigada ou mista).
 
Consumidor
Vamos avaliar que o conceito de consumidor é caraterizado como um elemento subjetivo da relação de consumo. Tal premissa encontra justificativa pelo fato de que o conceito detém flexibilidade em relação à doutrina e à jurisprudência.
A Lei n° 8.078, de 11 de setembro de 1990, nos possibilita a seguinte interpretação dos fundamentos pertinentes ao consumidor:
Art. 2° - Definição de consumidor e destinatário final e consumidor por equiparação de forma coletiva;
Art. 17 – Consumidor por equiparação pelas vítimas de defeito de bem de consumo;
Art. 29 – Consumidor por equiparação nas pessoas relacionadas nos capítulos V e VI.
	CONSUMIDOR PADRÃO
O consumidor padrão ou “standard” é relativamente o mais fácil de ser identificado. Sua fundamentação é o já citadoart. 2º do CDC parte, como se lê:
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Podemos refletir que esse consumidor adquire por contrato de aquisição por gênero. Seja por contrato de compra e venda (com características do art. 481 e seguintes da Lei 10.406 de 2002 – CC), seja por contratação de serviços (com características do art. 593 e seguintes da Lei 10.406 de 2002 – CC).
É aquele que adquire para satisfazer uma necessidade. Se de forma subjetiva ou profissional é discutível. Mas sempre ocorrerá a transferência de propriedade do produto ou da fruição do serviço.
	CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO
O consumidor por equiparação ou “bystandarder” tem a necessidade de maior avaliação. Suas fundamentações são os art. 2º em seu parágrafo único, o art. 17 e o 29, todos do CDC, como se lê:
Art. 2° [...]Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.
É o consumidor que não adquire, mas utiliza o produtos ou serviços, nos termos do próprio artigo 2º:
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Cremos assim que o consumidor é o que, ao utilizar um bem de consumo, sofre danos oriundos do mesmo. Principalmente, se considerarmos que nenhum produto ou serviço, desde que corretamente utilizado, pode causar danos ao consumidor. Tal premissa encontra fundamentação na primeira parte do art. 8 do CDC:
Art. 8º Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou à segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis, em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.
Logo, em plena conformidade entre justificativa e fundamentação, temos que “nenhum bem de consumo pode causar danos aos consumidores”. Seja o que tenha adquirido o bem (consumidor padrão) seja o que o utiliza (consumidor por equiparação).
	Teorias
Esse assunto remete a uma palestra proferida pelos autores do anteprojeto da Lei 8.078 de 1990.
Quando a mesa foi indagada acerca do “conceito de destinatário final” o Ministro do STJ, Antonio Heman V. Benjamin, respondeu: “não sei!” Isso causou grande comoção na plateia. Afinal, se ele não sabia o que seria de nós pobres mortais... Entretanto, no alto de toda a sua intelectualidade, logo a seguir emendou: “E o objetivo é que ninguém saiba! Pois se assim o for, tal tema não comportará evolução em sua interpretação”.
Passaram-se os anos e, à época, havia duas teorias acerca do tema (maximalista e finalista) e, desde de 2010, temos a teoria finalista atenuada (ou mista ou mitigada).
Vamos ao seu estudo!
	TEORIA MAXIMALISTA
Advém dos primórdios da aplicação da Lei 8.078 de 1990.
Para se enquadrar como consumidor, bastava adquirir o bem de consumo no mercado fornecedor para caracterizar tal relação. Independentemente da motivação, objetivo e interesse. “Comprou é consumidor!”
Basta a singela retirada do mercado de consumo para se enquadrar como consumidor.
Por este raciocínio, uma grande empresa de metalurgia, quando adquire minério para beneficiamento e posterior fabricação de metal seria considerada consumidor.
Essa ideia não perdurou por longo tempo, pois o objetivo das normas de consumo é o de proteger, art. 4, I do CDC, o “consumidor vulnerável”. E, no exemplo anterior, cremos que uma empresa de metalurgia, considerando o bem de consumo em questão (minério) não possa ser enquadrada como vulnerável, em razão, principalmente, de sua expertize em relação conhecimento técnico sobre o bem adquirido.
Desse modo, essa teoria está em descompasso com o espírito das normas de consumo.
TEORIA FINALISTA
Além de adquirir o bem de consumo, é necessário saber qual a destinação fática, efetiva, econômica, subjetiva do bem em questão.
Pois, ao empregar o mesmo ao fim a que se destina, este, de per se, não prestará para fins de enriquecer seu proprietário com a sua venda direta ou empregado como insumo principal na atividade profissional de seu proprietário.
Caso isso ocorra, o adquirente não se enquadra na principiologia da vulnerabilidade ínsita no já citado art. 4, I da principal lei que regula as relações de consumo.
Logo, a justificativa para a sua aquisição deve ser desprovida de intentos profissionais, como o seu beneficiamento da matéria prima com posterior venda. A satisfação da aquisição deve ser subjetiva.
Veja um exemplo em que temos o mesmo objeto com fins diferentes: Alguém comprou o veículo “van” com fins de transporte profissional. Não há relação de consumo em detrimento do seu objetivo profissional; Alguém comprou o veículo “van” com fins de transportar sua numerosa família em uma viagem pelo continente sul-americano. Há relação de consumo em detrimento do seu objetivo meramente pessoal. Como se pode observar muito bem, intuitos diferentes, relações diferentes.
Na eventual ocorrência de dano, o proprietário do veículo adquirido com fins profissionais deverá invocar a principal lei que regula as relações entre pessoas privadas, a Lei 10.406 de 2002 – Código Civil. Considerando o evento dano, principalmente o artigo 931.
Já na segunda hipótese, o proprietário do veículo poderá invocar a Lei 8.078 de 1990 e todos os seus benefícios.
	TEORIA FINALISTA ATENUADA (OU MISTA OU MITIGADA)
A aquisição para uso, ainda que profissional, caracterizará a relação de consumo desde que o adquirente não tenha condições de negociação com o fornecedor.
Para tanto, melhor será a apresentação da seguinte jurisprudência.
AgRg no REsp 1321083/PR, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, julgado em 09/09/2014, DJe 25/09/2014.
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. COMPRA DE AERONAVE POR EMPRESA ADMINISTRADORA DE IMÓVEIS. AQUISIÇÃO COMO DESTINATÁRIA FINAL. EXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO.
1. Controvérsia acerca da existência de relação de consumo na aquisição de aeronave por empresa administradora de imóveis.
2. Produto adquirido para atender a uma necessidade própria da pessoa jurídica, não se incorporando ao serviço prestado aos clientes.
3. Existência de relação de consumo, à luz da teoria finalista mitigada. Precedentes.
4. Agravo regimental desprovido.
Em um primeiro momento, pode parecer uma antinomia em relação à teoria finalista pura. Mas, se avaliarmos com mais atenção, a lógica da coisa é que, in casu, o avião é utilizado com fins de ser empregado no negócio de imóveis (transporte de clientes para lugares longínquos) e não o de aviação comercial.
Por consectário lógico, considerando as peculiaridades da jurisprudência, há aplicação das normas de consumo e todos os seus benefícios à favor da administradora de imóveis.
Aula 4
Continuando o nosso estudo, abordaremos o segundo integrante da relação de consumo: o fornecedor.
A previsão legal do art. 3º caput é o chamado fornecedor gênero do qual o fabricante, o construtor o importador e o comerciante são espécies. Vê-se que, por conta da responsabilidade, o CDC assim os classifica como fornecedor. Mas, quando deseja especificidade o alcunha de fabricante, produtor, comerciante etc.
Destacamos, desde já, a ideia da multiplicidade de hipóteses de enquadramento ao consideramos que no fornecimento de produtos e de serviços pode haver qualquer atividade no mercado de consumo. Formalizado ou não.
Logo, o legislador elencou hipóteses já existentes e as porvir. Um típico exemplo é o da atividade de serviços de telecomunicações. Desde a vigência do código (anos de 1990) até a presente data se aperfeiçoou de maneira impressionante.Há poucos anos sequer se cogitaria que o telefone celular existisse. Hoje, não imaginamos a humanidade sem tal equipamento.
O Fornecedor (gênero)
Fornecedores são aqueles explicitamente elencados no rol do art. 3º do CDC, e que comportam pouca ou nenhuma necessidade de amparo interpretativo. Mormente uma avaliação juriprudencial, mas em que nada se compara ao conceito de destinatário final do consumidor.
Assim prevê o art. 3º do CDC:
 
Art 3 fornecedor:
É toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
Como se lê, temos uma ampla possibilidade de enquadramento, por isso vamos pormenorizá-las.
 
Art 3 fornecedor é toda pessoa física ou jurídica
Pessoa física (ou natural) – arts. 2º c/c 6º do CC. Embora ocorra o uso expresso das palavras pessoa física, em verdade o legislador designou pessoa natural. Temos no CC, considerando os artigos 2 c/c 6 o seguinte, verbis:
 
 Art 2 personalidade civil da pessoa Começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.                   
A conclusão é que, em se tratando de aplicação das duas principais leis que regulam as relações entre pessoas privadas (Lei 10.406 de 2002 e Lei 8.078 de 1990), o ser humano deve ser alcunhado de “pessoa natural”. 
Atenção!
O equiparado, pessoa física, se deve ao tratamento técnico dispensado às normas tributárias, em que o contribuinte pessoa natural é adjetivado de pessoa física.
Tal distinção não impede a interpretação de que quando falamos em pessoa física estamos nos referindo à pessoa natural. Tal ponderação se deve ao mero enquadramento de nomenclaturas aplicáveis ao tema.
Já a pessoa jurídica encontra sua nomenclatura sem qualquer desacerto. Mas em sede de fundamentação nos utilizamos, mais uma vez, da Lei Civil Maior (Lei 10.406/02), especialmente em seus artigos 40, 43 e 44, verbis:
Título II - Das Pessoas Jurídicas
Capítulo I - Disposições Gerais
 
Art 40, 43 e 44
 
Como se lê, temos uma ampla possibilidade de enquadramento ao fornecedor como pessoa jurídica.
Um direito inerente ao consumidor diz respeito ao seu foro privilegiado, por força do art. 101, I do CDC e corroborado por vasto entendimento jurisprudencial.
Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas:
I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;
No que se lê “pode ser”, como já citado, é pacífico interpretar deve. Fato este corroborado por jurisprudência do STJ:
AgRg no CC 127626/DF, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Segunda Seção, julgado em 12/06/2013, DJe 17/06/2013.
“Em se tratando de relação de consumo, a competência é absoluta, razão pela qual pode ser conhecida até mesmo de ofício e deve ser fixada no domicílio do consumidor”.
 
Fornecedor, pessoa publica ou privada: - Entendo que pode figurar no polo passivo da ação de responsabilidade civil nas relações de consumoapenas o serviço “uti singuili”.
- Por consectário da interpretação, a contrario sensu, da forma de remuneração e sua excludentes, que será estudado mais tarde.
 
 Fornecedor, pessoa nacional ou estrangeira: - As empresas nacionais têm sua sede e eventuais agências filiais ou sucursais espalhadas em diversos
Fornecedor, pessoal natural ou estrangeira: - As empresas nacionais têm sua sede e eventuais agências filiais ou sucursais espalhadas em diversos domicílios dentro do território nacional.
- Já as empresas estrangeiras que atuam no Brasil, têm (ou deveriam ter) minimamente escritórios de representação em solo Pátrio. O que possibilitará, em termos práticos processuais, a sua citação e atos consecutivos (intimação, execução etc).
Art. 3° Fornecedor é [...] bem como os entes despersonalizados:
A expressão “entes despersonalizados” é criação doutrinária, sendo a mais usual e conhecida, entre outras.
Exemplos: entes atípicos, sujeitos de personalidade reduzida, grupos de personificação anômala.
Logo, por expressa determinação legal, são partes legítimas para figurar, processualmente, no polo passivo de uma ação.
Exemplos: Massa falida, comércio popular.
Produção, montagem, criação, construção, transformação.
Comercialização de produtos, ou prestação de serviços:
Distribuição
Importação, exportação.
Fornecedor de produtos
Trataremos da especificidade de enquadramento do fornecedor, agora com o produto.
Prevê suas fundamentações:
Art. 3 [...]
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
"Percebe-se a inteligência do legislador consumerista quando adota a nomenclatura “qualquer bem”, considerando a promulgação do CDC, temos um conceito indefinido e já avocando produtos que ainda serão criados.
Exemplos: GPS, smartphone, tablet, carro com direção elétrica etc."
Art. 3 [...]
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
Temos a necessidade de utilização da Lei 10.406/02 com fins de uma melhor conceituação do que venha a ser bens móveis e imóveis.
Bem móvel – art. 82 a 84 do CC;
Art 82: São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.
Art 83: Consideram-se móveis para os efeitos legais:
I - as energias que tenham valor econômico;
II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;
III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.
Art 84: Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum prédio.
Rotineiramente nos referimos de forma habitual como bens móveis os disponíveis aos consumidores nos termos do supra citado art. 82. Entre eles: veículos, armários, estantes, computadores, entre outros.
Casuisticamente, embora não seja normal os incisos elencados no art. 83 dificilmente serão enquadrados, faticamente, como bens móveis com destinação ao consumidor.
Em seus termos o art. 84 não merece maior sorte se avaliarmos que tais bens não são fruto de aquisição. Mas sim de reaproveitamento.
Os bens imóveis: Encontram igual previsão legal entre os arts. 79 a 81 do CC:
Seção I - Dos Bens ImóveisArt. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.
Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:
I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II - o direito à sucessão aberta.
Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:
I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local;
II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem.
Por construção doutrinária e jurisprudencial o art. 79 tem absoluta aplicação.
Por exceção, inaplica-se os artigos 80 e 81 sobre a ótica consumerista.
Art. 3 [...]
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
A materialidade de um produto encontra fundamentação nos arts. 85 e 86 do CC. Gerando a consequente corporificação/fungibilidade. São bens substituíveis.
Exemplo: celular
Bens imateriais: Art. 85 e 86 do CC detêm corporificação/infungibilidade. São insubstituíveis, obras de arte.
Tudo nos seguintes termos:
Seção III - Dos Bens Fungíveis e Consumíveis
Art. 85. São fungíveis os bens móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade.
Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.
Fornecedorde serviços
	O fornecimento de serviço tem, da mesma forma que o produto, uma visão infinita sobre o prisma do enclausuramento de sua conceituação.
O legislador adotou o mesmo expediente ao apresentar o serviço como:
“qualquer atividade fornecida no mercado de consumo”.
Inimaginável há pouco tempo a existência da internet, da telefonia, e até mesmo de viagens semiorbitais por particulares.
Logo, estas simples palavras tornaram perfeitamente adaptável à situações presentes, futuras e impensáveis. Vamos ler:
	Art. 3 [...]
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
Ultrapassado este estudo, vamos aos pormenores das demais definições na fundamentação em comento.
Muito cansativo foi o enquadramento das instituições financeiras às relações de consumo, em decorrência da inflexão das instituições financeiras. Situação esta que foi conduzida até a ADIN 2.591 de 2006, assim ementada.
Aula 5
Antes do advento do CDC, o consumidor não era considerado sujeito de direito, apenas destinatário de produtos e serviços.
Ao tratar dos direitos básicos do consumidor deve-se ter em mente que o art. 6º traz o rol de tais direitos, devendo ser destacado que esse rol não é taxativo, ou seja, a lei traz os direitos mínimos que devem assegurados aos consumidores.
A relevância do tema é tamanha que, fazendo um quadro comparativo, temos nos incisos do art. 6º um equivalente aos direitos e garantias fundamentais em nível Constitucional, que podemos alcunhar de “Direitos e Garantias Fundamentais do Consumidor”.
Os direitos básicos em espécie
Os direitos básicos do consumidor, através do art. 6º, da Lei 8.078 de 1990, expressam uma série de temas indissociáveis do consumidor e que podem (e devem) ser empregados como argumento mínimo com fins de atender as suas necessidades.
São regra de direito:
material (incisos I, II, II, IV, V e VI),
processual (VIII) e
administrativo (VII e X).
Tudo a fim de garantir aos consumidores a proteção, prevenção e reparação de danos.
Vamos estudá-los.
Vida, saúde e segurança
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
1- O primeiro direito básico prevê “a proteção à saúde e segurança”. São hipóteses de proteção do consumidor no fornecimento de produtos e serviços que, por sua natureza, podem representar uma ameaça na singela usabilidade.
2- Quando o bem de consumo (produto ou serviço) tem potencial de nocividade ou periculosidade, por exemplo: nos produtos domiciliantes (limpeza, inseticidas, sabão, álcool etc.), o fornecedor deve apresentar ao consumidor através de rótulo (encarte, folder, folheto explicativo, manual de instrução ou correlacionado) informações sobre seu uso, toxidade, composição, os possíveis prejuízos à saúde. Deve destacar seus riscos inerentes e potenciais.
3- Existem produtos ou serviços que apresentam risco inerente, por isso, a lei trata de forma mais minuciosa da vida, saúde e segurança do consumidor nos artigos 8°, 9° e 10. Com fins de evitar a venda de tais produtos/serviços. Mas, se os mesmos estão disponibilizados ao consumidor deve haver mecanismos que possam evitar danos maiores aos já existentes pela simples exposição. Com base nessas fundamentações, as empresas realizam recall de produtos
 
Seção I - Da Proteção à Saúde e Segurança
Art 8 Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.
Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto.
 
Art 9
  O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto.
Art. 10º O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança.
Lei 8.078 de 1990:
Art. 10: 
§ 1º O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários.
§ 2º Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço.
§ 3º Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito.
 
O produto/serviço não é proibido, desde que seja devidamente informado de maneira absolutamente clara, concisa e precisa. Sendo assim, sua periculosidade não é tida como defeituosa, uma vez que é inerente o grau de perigo a ser tomado por quem o adquire.
 
Produtos nocivos: cigarro, bebida alcóolica.
Produto perigoso: fogos de artifício.
Serviço perigoso: demolição de prédios
Serviço nocivo: dedetização, tratamento de piso (colocação, raspagem e envernizamento)
Educação para o consumo
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
(...)
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
Educação para o consumo
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
(...)
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
Temos nesse inciso uma série de direitos:
Teorias:
	O primeiro deles é inerente à “educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços”, que consiste em expor ao consumidor que seu uso pode causar algum tipo de dependência (física ou psicológica). O mesmo não é proibido para o consumo, mas deve sê-lo de forma “consciente”. Um exemplo interessante é o de bebidas alcoólicas. Afinal: “se beber não dirija e se dirigir não beba”.
	A “liberdade de escolha” faz com que o consumidor possa adquirir a qualidade e quantidade que deseja. Evitando, assim, entre outros, a chamada “venda casada” (prevista no art. 39, I).
		
	Já a igualdade nas contratações implica que a forma de pagamento correlacionada ao preço informado garante ao consumidor a inexistência de qualquer acréscimo. Muito comum em vendas à vista em dinheiro, com valores diferentes caso a mesma compra seja feita através de cartão de crédito.
	Informação
Art. 6º (...):
(...)
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
O direito à informação, trazido no inciso III faz abrir para o fornecedor o dever de informar e permite ao consumidor escolher seu produto ou serviço de forma consciente, é o que se chama de consentimento informado (ou esclarecido). Essa informação integrará o contrato, convergindo em um verdadeiro “pré-contrato”.
Tal tema é tratado dentro do sistema protetivo da Lei 8.078 de 1990 através dos artigos 30 e 31, com as consequências de sua desobediência no art. 35:
Seção II - Da Oferta
Art. 30
Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados,obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.
Art. 31
A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.
Parágrafo único. As informações de que trata este artigo, nos produtos refrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma indelével.
Art. 35
Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade;
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.
Publicidade
Art. 6º (...):
(...)
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
Temos nessa previsão legal a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva. Que deve ser complementada pelo art. 37 da Lei 8.078 de 1990:
 
Seção II - Da Oferta
Art. 37
É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
§ 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.
§ 2º É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.
 
Podemos entender a enganosidade como ardil, falsidade, intuito de desviar da informação verdadeira, mas, com uma conotação que se limita à “informação”. Temos, como exemplo, a publicidade de um produto ou serviço com determinado preço. No entanto, na aquisição efetiva pelo consumidor, revela adicionais excluídos da prévia comunicação. A consequência da informação publicada e não cumprida é o cumprimento forçado do que foi publicitado, nos termos do já apresentado art. 35 do CDC.
Já a publicidade abusiva é mais grave que a enganosa, pois induz o consumidor a ter, entre outros, um comportamento que pode gerar dano físico/psíquico. Tal qual como o uso desmesurado de medicamentos que prometem emagrecimento rápido e sem esforço. Outra conotação são anúncios publicitários que incitam a violência.
Práticas abusivas
Art. 6º (...):
(...)
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
Art. 39
É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
(...)
IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços; 
Um exemplificação deste tema exige a convergência entre o artigo 6, IV e o 39, IV.
Destacamos que o art. 6, IV prevê a proteção contra “práticas abusivas”. Entendemos como prática a conduta reiterada, ou não, que leva o consumidor a ter, no seu relacionamento com o fornecedor, uma desvantagem.
Convergindo ao art. 39, lemos que tal conduta é vedada (proibida). E que o rol é meramente exemplificativo. Daí a expressão “dentre outras”.
O inciso IV do art. 39 nos conduz a um grupo que ultrapassa a mera vulnerabilidade prevista no art. 4, I.
O hipervulnerável do art. 39, IV trata de consumidores que, em virtude de sua idade (criança/idoso), saúde (enfermidade incurável ou com pouca chance de cura), conhecimento (ausência de domínio sobre o objeto da contratação) ou condição social (que normalmente trata de pessoas humildes e com pouco conhecimento) a terem um comportamento de aquisição de bens de consumo que não se presta a suas necessidades.
Cláusulas abusivas
Art. 6º (...):
(...)
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
Cláusulas abusivas
Art. 6º (...):
(...)
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
Seção II - Das Cláusulas Abusivas
Art. 51
São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
(...)
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que:
I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;
II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;
III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.
 
Tal como no tema “práticas abusivas”, o direito básico do consumidor a proteção contra “cláusulas abusivas” necessita do emprego de outros artigos da mesma lei.
Os artigos acima citados nos conduz ao raciocínio de que uma cláusula contratual não pode integrar um contrato quando, v.g., restringe direitos inerentes à natureza do contrato. Pois em sendo assim, esta tem o exagero intrínseco e colocam o consumidor em desvantagem exagerada. A consequência é que tal cláusula é tipificada como abusiva e sofre a consequência de sua nulidade. Logo, jamais deveria integrar o contrato. Um exemplo é o da limitação temporal de internação em leito hospitalar, sendo, inclusive, sumulada pelo STJ:
Súmula STJ nº 302 - É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado.
Tal como no tema “práticas abusivas”, o direito básico do consumidor a proteção contra “cláusulas abusivas” necessita do emprego de outros artigos da mesma lei.
Os artigos acima citados nos conduz ao raciocínio de que uma cláusula contratual não pode integrar um contrato quando, v.g., restringe direitos inerentes à natureza do contrato. Pois em sendo assim, esta tem o exagero intrínseco e colocam o consumidor em desvantagem exagerada. A consequência é que tal cláusula é tipificada como abusiva e sofre a consequência de sua nulidade. Logo, jamais deveria integrar o contrato. Um exemplo é o da limitação temporal de internação em leito hospitalar, sendo, inclusive, sumulada pelo STJ:
Súmula STJ nº 302 - É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado.

Outros materiais