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Fundamentos das ciências sociais

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Prof. Dr. Rogério Britto
Fundamentos das Ciências Sociais
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O atributo das sociedade humanas não diz respeito tão somente ao fato de que são formadas por pessoas, mas ao sentimento de pertencimento a um conjunto de regras, valores e costumes.
Características da sociedade: A primeira delas defende a tese de que a sociedade é uma unidade democrática, ou seja, se diferencia por um conjunto populacional que ocupa um espaço geográfico pelas funções sociais.
A segunda é que a sociedade pode ser caracterizada pela semelhança cultural entre os membros de uma determinada coletividade, na qual os papeis sociais são definidos a partir da identidade de etnia, religião, línguas, valores, etc...
Sociedade: algumas definições
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Via de regra, a sociedade pressupõe convivência e atividades conjuntas, ordenadas ou organizadas conscientemente em que os membros de vários grupos sociais possam se aproximar e se distanciar sem que isso implique prejuízo ao pertencimento social.
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A família, a escola, o trabalho, o sistema judiciário, o Estado, etc., são exemplos de instituições que congregam os elementos essenciais da sociedade, dando-lhe sustentação e permanência.
Condicionado e controlado pelas instituições, cada membro de uma sociedade sabe como deve agir para não desestabilizar a vida comunitária. Sabe também que, se não agir da forma estabelecida, será repreendido ou punido, dependendo da falta cometida.
Assim, o processo de socialização dissemina as normas e valores gerais da sociedade e assegura a difusão de ideias que formam um conjunto homogêneo, para que a comunidade permaneça integrada e se perpetue no tempo.
O conceito de “habitus” é um saber incorporado à vida em sociedade.
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Imaginemos uma questão de Avaliação da seguinte maneira:
INDIVÍDUO x SOCIEDADE: quem tem maior poder de interferência?
a) ( ) o indivíduo influencia e transforma a sociedade;
b) ( ) a sociedade influencia e transforma o indivíduo.
* Podemos dizer que indivíduos e sociedade fazem parte da mesma trama, tecida pelas relações sociais. Não há separação entre eles. Posto desta maneira podemos dizer que indivíduo e sociedade formam uma relação que se constitui conforme reagimos às situações que enfrentamos no dia a dia.
Os Conceitos de Indivíduo e Sociedade
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Roberto da Matta diz que o Brasil é híbrido, pois é um sistema social equilibrado e dividido entre o indivíduo e a pessoa.
Brasil: sistema social equilibrado e dividido entre duas unidades sociais (indivíduo: sujeito das leis universais e modernizadoras e pessoa: sujeito das relações sociais e hierarquizantes)
Não é unitário como na Índia (renunciante) ou nos EUA (universal)
“(...) iguala em um plano e hierarquiza em outro, o que — como resultado — promove uma tremenda complexidade classificatória, um enorme sentimento de compensação e complementaridade(..)” 
INDIVÍDUO E PESSOA — Paradoxo brasileiro
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“ O universalismo é demandado em público pelo Estado Moderno, individualista e impessoal, mas o particularismo continua a imperar no plano pessoal e doméstico.” 
Da Mata, Roberto. Conta de Mentiroso, p. 160 
“É como tivéssemos duas bases através das quais pensássemos o nosso sistema. No caso das leis gerais e da repressão, seguimos sempre o código burocrático ou a vertente impessoal e universalizante, igualitária do sistema. No caso das situações concretas, daquelas que a vida nos apresenta, seguimos sempre o código da relações e da moralidade pessoal, tomando a vertente do “jeitinho”, da “malandragem” e da “solidariedade” como eixo de ação. 
INDIVÍDUO E PESSOA
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A polarização que se estabelece entre a natureza da pessoa singular, que chamamos de indivíduo, e a da pluralidade de pessoas, que chamamos de sociedade, tem levado as ciências sociais a estabelecerem parâmetros muitas vezes contraditórios que, por sua vez, têm alargado o extenso abismo, quando tratamos de questões relativas a interdependência entre elas.
Individualização e Sociedade
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Roberto Da Mata analisando “Casa Grande e Senzala”, de Gilberto Freyre, identificou que o Brasil fica a meio caminho: entre a hierarquia e a igualdade. Assim, no Brasil, os bacharéis mulatos associados à aristocracia rural pelo casamento ou patrocínio desempenharam um papel ambíguo no espaço público. Foram os defensores dos interesses pessoais das elites rurais, mas também participaram da edificação do aparato legal: o universo impessoal das leis. A campanha pela abolição e a proclamação da República seriam exemplos concretos da atuação dos bacharéis mulatos no espaço público. Os bacharéis mulatos de Freyre foram os “meio-indivíduos” e os “meio-pessoas” conforme os interesses sociais.
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O espaço público como o local da existência de indivíduos mais ou menos autônomos, capazes de formar a sua própria opinião. O Estado, como espaço público, deve ser o local da ação racional, não tendo lugar para o pessoal. 
No Brasil há uma invasão do privado sobre o público e é neste momento de invasão do nível pessoal, familiar (patriarcal) sobre o Estado (impessoal) que se constitui o grande paradoxo da formação do Estado Brasileiro “Moderno”.
No âmbito da sociedade encontramos...
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“Enquanto as classes dominantes nutrem uma perspectiva individualista, sendo responsáveis pelo arcabouço jurídico, político e institucional da sociedade, na prática elas viveriam como pessoas, na medida em que, pela mobilização dos seus respectivos capitais de relações sociais, o sistema de leis impessoais e universalizantes não se lhes aplicaria em sua totalidade. Por outro lado, as “classes populares”, que não dispõem de instrumentos para participar da produção do aparato jurídico, político e institucional, entretêm uma visão mais hierárquica e complementar do mundo e vivem, na prática, como indivíduos, pois sobre elas incidem toda força da lei, quando (...) não podem articular nenhum capital social” 
Lívia Barbosa, “O Brasil pelo avesso: Carnavais, malandros e heróis e as interpretações da sociedade brasileira”. In: O Brasil não é para principiantes. Carnavais, malandros e heróis 20 anos depois.
A SOCIEDADE BRASILEIRA NÃO É HOMEOGÊNEA EM RELAÇÃO À INTERPRETAÇÃO DA CATEGORIA INDIVÍDUO
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Alexis de Tocqueville, em “Democracia na América”, diz que “os costumes e praxes estabelecidos pela primeira classe da sociedade servem de modelo a todas as outras que estabelecem seus códigos próprios, a que todos os seus membros são obrigados a obedecer. Assim, as regras de polidez formam um complexo sistema de legislação, difícil de ser dominado perfeitamente, mas do qual é perigoso para qualquer um desviar-se; por isso, os homens estão constantemente expostos a infligir ou receber, involuntariamente, afrontas amargas. Em outras palavras, as normas são criadas por um grupo de pessoas, mas devem ser seguidas por todos.
Quando não isso acontece, indivíduos e pessoas se perdem em espaços socialmente determinados, gerando jeitinho, favor, interesses e “cordialidades”.
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