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Fundamentos das ciências sociais

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Diversidade cultural e globalização. 
A emergência do multiculturalismo
Prof. Dr. Rogério Britto
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O mito é um discurso fundante de uma sociedade, possibilita a organização do modo de vida dos seus membros através da cultura. 
Todas as pessoas que participam da sociedade possuem uma identidade cultural, e esta é construída através do processo de socialização vivenciado nas diversas instituições sociais.
É um processo de vivências sociais tecidas através do compartilhamento de patrimônios simbólicos e históricos, pelos quais nos sentimos pertencentes a um grupo ou a uma cultura específica. 
No processo de desenvolvimento psicossocial, cada indivíduo é socializado para interiorizar sua cultura, um caminho a trilhar.
A cultura modela o indivíduo e é modelada por ele, conferindo-lhe uma identidade.
É através da cultura que o ser humano aprende técnicas para dominar e controlar a natureza.
Formação da Identidade Cultural
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Formação do Indivíduo
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Os valores sociais são ideias abstratas, definem o que deve ser considerado verdadeiro e correto em uma cultura. Eles buscam conferir sentido e direcionar as práticas sociais.
As normas sociais promovem a incorporação dos valores e da cultura através das regras de comportamento.
Nossas práticas sociais (comportamentos e hábitos) são fundamentados em normas culturais; a fala, o movimento, os gestos são influenciados por fatores culturais. 
Os valores e as normas sociais de um povo mudam através do tempo, com as novas práticas sociais desenvolvidas por homens e mulheres, criam-se “mentalidades novas”. 
Valores e Normas na Formação da Identidade Cultural
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Os valores e as normas sociais variam entre povos e culturas.
Todos os sociólogos, linguistas e antropólogos, a par de suas diferentes posições político-ideológicas, são unânimes em concordar que a característica marcante de nossa cultura é a riqueza de sua diversidade, resultado de nosso processo histórico-social e das dimensões continentais de nossa territorialidade.
Nesse sentido, o mais correto seria falarmos em “culturas brasileiras”, ao invés de “cultura brasileira”, dada a pluralidade étnica que contribuiu para sua formação. 
Apesar da influência marcante da cultura de matriz europeia por força da colonização, a cultura tida como dominante não conseguiu, de todo, apagar as culturas indígena e africana. 
Diversidade Cultural
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	A desigualdade social é uma diferença de outra natureza: é produzida na relação de dominação e exploração socioeconômica e política. Quando se propõe o conhecimento e a valorização da pluralidade cultural brasileira, não se pretende deixar de lado essa questão. Ao contrário, principalmente no que se refere à discriminação, é impossível compreendê-la sem recorrer ao contexto socioeconômico em que acontece e à estrutura autoritária que marca a sociedade. 
	As produções culturais não ocorrem “fora” de relações de poder: são constituídas e marcadas por ele, envolvendo um permanente processo de reformulação e resistência. Ambas, desigualdade social e discriminação, articulam-se no que se convencionou denominar “exclusão social”: impossibilidade de acesso aos bens materiais e culturais produzidos pela sociedade e de participação na gestão coletiva do espaço público — pressuposto da democracia.
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	O atual processo de globalização, impulsionado pelas novas tecnologias de comunicação e informação, está interligando o mundo, estruturando a construção de uma sociedade multiétnica, e consequentemente confrontando diferentes ideologias, culturas e conceitos. 
	A ideia de "compressão do tempo-espaço", analisada por David Harvey explica as mutações que levaram o mundo a uma nova comunicação global ao alterar a nossa percepção de tempo-espaço (trazendo o distante para perto, e ao mesmo tempo nos levando para o distante), alterou a nossa relação com o "Outro", ampliando extraordinariamente nossas possibilidades de contato com modos diferentes de vidas.
MULTICULTURALISMO
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	Ora, sendo o processo de globalização uma dialética entre o local e o global, concordo então com Antony Giddens que "este é um mundo em que o "Outro" não pode mais ser tratado como inerte", colocando-se como uma exigência de um contexto de globalizações a compreensão da alteridade. O não reconhecimento do "Outro" como ser humano pleno, com os mesmos direitos que os nossos, tem dado muito espaço para a xenofobia e o racismo, as guerras étnicas, a segregação e a discriminação baseadas na raça, na idade, na etnia, nas questões sexuais, de gênero ou na classe social, resultando isto em altos graus de violência.
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	Em um contexto de "relações sociais intensificadas", o multiculturalismo é a nova cultura do espaço global, uma cultura dinâmica que se refaz com e através dos fluxos globalizantes, modificando e reconstruindo as interações e colocando como desafio a conciliação de uma diversidade de costumes, concepções e valores, sem o perigo de se excluir as formas diferentes de se manifestar.
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	De um lado, destacamos um multiculturalismo de cunho conservador, que busca a conciliação das diferenças com base no mito da harmonia. Esta construção ideológica nega que as relações entre as comunidades são marcadas por antagonismos e conflitos, reiterando os estereótipos e estigmas que recaem sobre as chamadas "minorias" (que as vezes tornam-se maiorias), e coloca-nos frente a uma concepção estática de cultura. 
	De outro lado, destacamos o multiculturalismo crítico, o qual tendo por base a política cultural da diferença, questiona o monoculturalismo, evidencia as contradições socioculturais fazendo vir à tona as diferenças e as ausências de muitas vozes que foram caladas pelas metanarrativas da modernidade. Ao rejeitar todo o preconceito ou hierarquia, este multiculturalismo baseia-se no respeito ao ponto de vista, às interpretações e atitudes do Outro, constituindo-se numa fonte de possibilidades de transformação e de criação cultural. 
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	Embora os ”microgrupos” hoje tenham maior expressão, liberdade e possibilidades de se manifestar, o paradigma da hegemonia continua sendo o homem branco, rico e heterossexual, os que estão fora deste paradigma ainda são considerados "minorias", enfrentando discriminações, ou no máximo sendo tolerados. Aprender a conviver significa respeito e abertura para relações com jogos de linguagem que representam uma heterogeneidade muito grande de elementos sociais, políticos e culturais. O "aprender a conviver" diz respeito portanto a habilidade pessoal de permitir a aproximação e não o afastamento do Outro, através do interesse, da escuta, do diálogo, da empatia por formas alternativas de vida, etc., tendo sempre por base que o envolvimento com a diferença tornou-se um pré-requisito da vida democrática no mundo globalizado.
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