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mudança da prática médica

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A profissão médica e as mudanças da prática profissional
Os efeitos positivos advindos da revolução científica do século XX, transformaram definitivamente a atividade médica em uma prática tecnicamente segura amparada em um sólido conhecimento científico.. Foi possível assim que o pensamento e o ato médico se fundissem numa "complexa combinação de empirismo, experiência quotidiana e raciocínio clínico. A consulta, a anamnese e a analise clínica passaram a ser a conduta?padrão de um "bom médico ", dando?lhe poder, prestigio e crédito junto ao paciente. Esse poder assume também feições econômicas. Em quase todo o mundo ocidental, em especial nos países desenvolvidos, a atividade médica é uma das atividades mais rendosas entre os profissionais "white-collars' (Machado (coord.), 1997:25 26). No entanto, esses avanços científicos e o acentuado uso de tecnologia de ponta na medicina têm gerado um acalorado debate sobre seus efeitos no saber e na prática médica.
Uma conseqüência esperada neste processo tem sido a crescente divisão do trabalho especializando tarefas, funções e atos profissionais. A medicina é um caso exemplar desse fenômeno da especialização. O recente estudo realizado no Brasil sobre os médicos, mostra o quanto o processo de especialização médica é uma categoria sociológico chave para se entender a dinâmica do mercado de trabalho médico. O mercado de trabalho médico está praticamente todo segmentado em serviços especializados. Desta forma, estes profissionais acabam se adequando à essa realidade imposta pelos tempos da modernidade. O recente
estudo publicado mostra esta realidade. Notamos um predomínio que se baseiam na relação médico?paciente, ou seja, as 'Cognitivas' (35,9%), as quais englobam 23 especialidades 81 com um contingente de quase oitenta mil médicos. Numa segunda ordem de importância, encontram?se as 'Intermediárias' (29,7%), que englobam 19 especialidades. Em seguida, estão as especialidades denominadas ' Técnico?Cirúrgicas e de Habilidades' com dez especialidades, somando pouco mais de 23 mil médicos. Por último, estão as especialidades ' Tecnológicas e Burocráticas' que, apesar de aglutinar 12 especialidades, somam pouco mais de 12mil médicos (Machado (coord.), 1997:29).
A pesquisa mostra ademais, que o mercado de trabalho médico não está constituído somente dessas especialidades acima citadas (reconhecidas como tais pelo Conselho Federal de Medicina), ao contrário, afirmam os autores"... constatamos empiricamente, por meio dos dados da pesquisa, uma variedade de serviços médicos de alta especialização, conformando?se em 'nichos 'de mercados de serviços médicos com clientela própria e recorrente. Estamos nos referindo aos médicos especialistas, por exemplo, em distúrbios do sono, em diagnósticos raros, em ultra-sonografia, cirurgia de mão, laparoscopia, ecografia, hemodinâmica , entre outros. Conclui a autora, a realidade do mercado de serviços médicos no Brasil aponta para uma expansão estou ramificação do conhecimento médico. Já é muito comum, por exemplo, a existência de algumas subespecialidades oriundas da pediatria, da radiologia, da ortopedia e traumatologia, da cirurgia plástica, da cardiologia etc., as quais constituem micromundos do processo de divisão do trabalho médico (Machado (coord.), 1997:29).
Se por um lado, as ciências médicas ampliaram o espectro de conhecimento e sua capacidade de cura, por outro, passaram a oferecer à sociedade uma medicina cada vez mais complexa e de custo bastante elevado. A saúde, bem social imprescindível aos indivíduos, tem se tornado inacessível para a população usuária de modo geral. Serviços médicos complementares, tais como radiologia sofisticada, ressonância magnética, exames laboratoriais complexos, diagnósticos cardiológicos, neurológicos etc., transformaram se em 'bens inatingíveis' ou de consumo bastante restrito. Este é um dos efeitos deletérios da moderna medicina especializada e tecnológica, ou seja, uma medicina capaz de desvendar a maioria dos problemas de saúde e incapaz de produzir e oferecer serviços de alto padrão tecnológico acessíveis à maioria da população.
81 Sobre este assunto ver Maria Helena Machado (coord), Os médicos no Brasil ? um retrato da realidade, ( 1997), capitulo 1, especialmente da página 25 a 30, onde se tem uma classificação sociológico das especialidades médicas. E o capitulo 4 que aborda a dinâmica do mercado de trabalho médico especializado.
Por outro lado, o modelo artesanal sustentado pela corporação médica, (profissional liberal), tem?se desgastado e é possível dizer, sem equívocos sociológicos, que este modelo tornou?se um anacronismo histórico (Machado, 1996), até pelo fato de que o modelo liberal de profissão também tornou?se um anacronismo. Já afirmava Mills, na década de 1970, que os Colarinhos estão se assalariando, realizando suas atividades em organizações com severa e rígida estrutura burocrática. Desta maneira, este grupo acaba experimentando uma dupla forma de exercer a atividade profissional: uma, fortemente influenciada pelo modelo liberal, tradicionalmente desenhado e difundido pela corporação; a outra estruturada pelo trabalho em organizações modernas com forte vocação racionalizadora, estruturadas como tecno?burocracias, formando assim dois mundos contrastantes um profissional e outro organizacional.
Estudiosos como (Harries?Jenkins (1970); Turner Hodge (1970), Abbott (1988), entre outros, mostram que o resultado freqüente desta nova situação de trabalho tem sido o estabelecimento de focos de resistências, conflitos e disputas de poder. Emergem também dilemas ético?profissionais entre o que é idealmente construído como prática profissional e a realidade do mundo do trabalho, imposta por lógicas gerenciais. Afirma Machado (1996:37): as mudanças ocorridas no setor saúde em geral são muitas e tem produzido alterações significativas no processo de trabalho médico. Tais mudanças estão sendo operadas em vários segmentos da área, desde o reordenamento de metas e objetivos, redistribuição da clientela, racionalização de custos até a redução da participação do Estado na prestação destes serviços. Por outro lado, o empresariamento na área é fato incontestável em quase todo o mundo, produzindo efeitos significativos na estrutura e dinâmica dos serviços prestados à população. Com a racionalidade empresarial, essas organizações atribuem à saúde um especial campo de investimento econômico-financeiro.
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A pesquisa nacional dos médicos mostra que: no Brasil este fenômeno também assume dimensões importantes. Histórica e estruturalmente, o mercado de trabalho do setor público tem se mostrado de grande relevância para os médicos brasileiros. A pesquisa mostra que 70% dos médicos tem vínculo de trabalho com tal setor, no âmbito federal, estadual ou municipal. Da mesma forma, poucos são aqueles que, na atualidade, não dependem de emprego em instituições privadas. Em ambos os casos, a institucionalização dos serviços médicos é uma realidade, e a racionalização e, conseqüentemente, a burocratização do processo de trabalho passam a ser exigência gerencial (Machado (coord.), 1997:31).
A institucionalização não deixa de fora os consultórios médicos. Contratos de prestação de serviços, papeletas para preencher, tabelamento dos serviços médicos, restrições orçamentárias impostas pelos convênios, têm provocado
sérios constrangimentos na relação médico?paciente. Nestes nichos de atuação profissional, aparentemente isentos de interferências externas os médicos enfrentam situações nas quais seus interesses e os interesses de seus pacientes são freqüentemente contrariados.
Enfim, a medicina da atualidade experimenta grandes mudanças da prática profissional, atingindo nuclearmente a autonomia de pensar e de agir dos médicos. O fenômeno da institucionalização dos serviços médicos (hospitais, ambulatórios e até mesmo os consultórios); da burocratização do processo de trabalho, através da padronização e o enquadramento normativo e burocrático de uma crescente dos procedimentos médicos,bem como da vertiginosa tecnificação da medicina, têm preocupado sociólogos de diversos países que apontam para mudanças paradigmáticas na conformação e manutenção do status que da profissão médica.
O quadro abaixo resume algumas dessas mudanças ocorridas com a profissão médica nas suas várias dimensões. Merecem destaque neste cenário três fatos: o rejuvenescimento, a urbanização e a feminilização. Primeiro, com o processo de rejuvenescimento, a profissão está experimentando um profundo movimento de "reposição geracional " de seu contingente. Observamos um percentual elevado de médicos com menos de 15 anos de formado, ou seja aqueles que têm menos de 45 anos de idade representam quase um terço de todo o contingente médico. Segundo,

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