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Aula 1: Psicologia e Subjetividade: o significado da interação social na estruturação do psiquismo. Desenvolvimento Humano e Social Psicologia Profª. Denise M. F. Romero Aula 2: A construção da identidade pessoal e profissional: mesmice ou metamorfose? Universidade Anhembi Morumbi Psicologia e Subjetividade: o significado da interação social na estruturação do psiquismo.� Apresentar alguns dos principais conceitos da Psicologia, destacando-se de que maneira se desenvolve o psiquismo a partir da inserção social do indivíduo. Os textos de referência enfocam a preparação que o indivíduo recebe para se inserir na sociedade de modo geral e no contexto profissional especificamente. Destacam-se os processos de socialização e o conceito “identidade” (pessoal e profissional). Introdução Aula 1: Psicologia e Subjetividade: o significado da interação social na estruturação do psiquismo. Universidade Anhembi Morumbi Psicologia e Subjetividade: o significado da interação social na estruturação do psiquismo.� Psicologia e Subjetividade: O significado da interação social na estruturação do Psiquismo Uma questão muito importante que deve nortear o estudo do comportamento humano é a análise dos fatores que determinam o modo de ser e de agir das pessoas. Ao se buscar identificar os determinantes da conduta de um indivíduo, devemos observar a interação entre três aspectos: • a constituição biológica, que influencia nas manifestações do temperamento; • os aspectos psicológicos propriamente ditos, que se revelam mediante a estrutura- ção da sua personalidade; dos recursos cognitivos que utiliza para compreender e solucionar problemas; • os aspectos sociais, que se referem às condições históricas, sócio-econômicas e culturais que também condicionam a maneira como a pessoa interpreta o contexto em que vive. Além desses elementos, é importante reconhecer de que maneira nos tornamos sociais e quais são as transformações que sofremos na medida em que integramos os diferentes grupos aos quais pertencemos. A apreensão do mundo inicia-se por meio da linguagem; esta envolve os processos de codificação (atribuição de significados específicos) e decodificação (interpretação do conteúdo que desejamos comunicar). A comunicação não se limita ao código verbal, uma vez que também utilizamos a expressão corporal, os desenhos e sinais para estabelecer contato com os demais. Além disso, o desenvolvimento lingüístico permite que as pessoas compartilhem suas experiências, ampliando seu conhecimento a respeito do mundo e aumentando as possibilidades de intervirem neste mundo. Universidade Anhembi Morumbi Psicologia e Subjetividade: o significado da interação social na estruturação do psiquismo.� A comunicação é também um dos pré-requisitos para o desenvolvimento da inteligência e uma das maneiras de transmitir o que pensamos. Segundo Moreira (1994) as palavras são representações simbólicas de idéias concretas e abstratas; conforme o indivíduo se desenvolve, interpreta de forma diferente o sistema lingüístico da sua comunidade. Concluímos, portanto, que a linguagem é um dos elementos imprescindíveis para que possamos interagir com os demais, sofrendo e exercendo influência mutuamente sobre as pessoas com as quais convivemos. A inserção em diferentes grupos sociais irá contribuir também para que desenvolvamos outras habilidades e nos tornemos cada vez mais capazes de participar desses grupos. Destacam-se novos agentes socializadores: a educação formal e o trabalho. A formação acadêmica é um dos agentes socializadores mais valorizados pelos grupos sociais; é a responsável pela complementação do processo educativo fornecido pela família e também deve preparar a pessoa para o mercado de trabalho. Espera-se que o indivíduo seja capaz de conviver com os demais de maneira adequada e também que possa revelar sua capacidade de aprender e tornar-se um membro socialmente produ- tivo. No ambiente escolar desenvolvemos nossa individualidade e nossa capacidade de competir; somos avaliados por critérios previamente definidos e, caso não possamos atingir o que é esperado, podemos ser segregados do convívio com os demais. A vivên- cia acadêmica influencia também nossa percepção social. Segundo Bock (Bock et all. 1988, p.110) “percebemos não só a presença do outro, mas o conjunto de características que ele apresenta e que nos possibilita ter uma impressão dele”. Deste processo depende o desenvolvimento da nossa auto-estima e auto-confiança e tal condição poderá facilitar ou dificultar o aprimoramento das nossas potencialidades. O trabalho é um outro agente socializador importante para a integração social do indi- víduo. Exercer uma profissão possibilita a sobrevivência, o desenvolvimento da capaci- dade de gerir a própria vida e a possibilidade de participar efetivamente da sociedade Universidade Anhembi Morumbi Psicologia e Subjetividade: o significado da interação social na estruturação do psiquismo.� em que vivemos. É importante destacar que as transformações sociais têm exigido dos profissionais não só um amplo conhecimento técnico da atividade que irão exercer, como também a aquisição de habilidades de relacionamento humano, que os tornem capazes de avaliar adequadamente a realidade na qual irão atuar, projetando ações que visem a promoção da dignidade humana. Podemos constatar, portanto, que nossa preparação para integrar diferentes grupos sociais ocorre ao longo de toda a nossa vida, por meio de diferentes agentes sociali- zadores, que irão desenvolver diversos aspectos do nosso comportamento, ampliando nossas possibilidades de participação efetiva nos diferentes contextos nos quais estamos inseridos. Contudo, como se constitui a base de nossa subjetividade, que irá alicerçar todas estas competências? Para que possamos responder esta questão, é importante que iniciemos uma reflexão a respeito do nosso processo de socialização. A constituição da subjetividade a partir dos processos de socialização O primeiro grupo social do qual fazemos parte é nossa família (biológica ou não). A total dependência (física e emocional) que possuímos em relação aos adultos que nos assistem (o que implica, inclusive, em nossa sobrevivência nos primeiros anos de vida), contribuirá para que se estabeleça entre nós uma relação afetiva peculiar e que irá exer- cer uma influência decisiva no nosso psiquismo e na noção que iremos desenvolver, pos- teriormente, acerca do que significa “viver neste mundo”. Mediante esse primeiro contato humano, terá início nosso processo de socialização primária. Universidade Anhembi Morumbi Psicologia e Subjetividade: o significado da interação social na estruturação do psiquismo.� O vínculo emocional que irá estabelecer-se entre pais e filhos (ou quem acolher a criança como filho) é intenso e imposto, uma vez que não é possível para a criança, nes- ta idade, “escolher” seus tutores. Este relacionamento afetivo contribuirá para a estruturação da base do caráter do indivíduo; caberá a esses adultos instruir a criança em relação aos comportamentos considerados adequados ou não pelo grupo social em que vivem. A criança, por sua vez, irá assimilar ou não essas normas, dependendo do significado emocional que o adulto atribuir a cada comportamento que ela emitir. Por outro lado, para que a criança também possa manifestar suas necessidades, fazen- do-se entender por parte dos adultos de modo adequado, é imprescindível que ela se identifique com os responsáveis por seus cuidados básicos, que os imite e os adote como “modelos” de conduta. Dessa forma, pela linguagem e pela aprendizagem dos hábitos sociais desejáveis,ela estará sendo preparada, gradativamente, para conviver com as outras pessoas e reconhecer o contexto em que vive, como uma “realidade objetiva” satisfatória e indispensável para seu desenvolvimento. Principalmente nesses primeiros anos de vida, é muito importante que haja estabilidade e certa previsibilidade do que pode ocorrer, para que a criança possa sentir-se minimamente segura e confiante. Os adultos que cuidam da criança nesses primórdios do seu desenvolvimento, tornam- se para ela os “outros significativos” (Berger e Luckmann,1985), ou seja, as pessoas mais importantes de suas vidas. A influência que o outro significativo exercerá na subjetivi- dade do indivíduo é marcante e duradoura; graças a esse primeiro convívio, aprende- remos a viver em sociedade e, posteriormente, também seremos os responsáveis pela transmissão dos costumes e sentimentos aprendidos nesta fase, para as gerações poste- riores. Além disso, a maneira como os outros significativos vêem o mundo é interiorizada pela criança como a única forma correta de se interpretar a realidade. Universidade Anhembi Morumbi Psicologia e Subjetividade: o significado da interação social na estruturação do psiquismo.� Em função do relacionamento afetivo que ela estabeleceu com esse(s) adulto(s), tornar- se-á capaz de compreender seus semelhantes e apreender o mundo como uma reali- dade social que possui um significado especial: graças a esse processo tornamo-nos capazes de compreender o outro e o seu mundo, que é reconhecido como nosso mundo também. Portanto, é em função do processo de socialização primária que se desenvol- vem os princípios essenciais para o convívio social. Por outro lado, o processo de socialização não se esgota na socialização primária; na medida em que ingressarmos em novos grupos de referência, desenvolveremos diferen- tes aspectos de nossa subjetividade e poderemos participar de forma mais ativa na cons- trução do cenário social em que viveremos. Sendo assim, a socialização secundária po- derá ser identificada em cada novo grupo em que ingressamos e ocorrerá até o último dia de nossas vidas. O relacionamento afetivo é menos intenso do que na socialização primária e estabeleceremos vínculos com os “outros generalizados”, que serão abstra- ções de papéis e atitudes dos outros significativos. A ausência de uma ligação emocional tão intensa como ocorre na socialização primária, permitirá que a pessoa questione a validade das normas que lhe serão transmitidas pela socialização secundária. Esta etapa incentivará o indivíduo a realizar suas escolhas e tal aspecto será importante para que ele possa conquistar sua autonomia. Vemos, portanto, que os processos de socialização podem ser libertadores, quando permitirem que a pessoa concilie o respeito às regras e a sua espontaneidade. Porém, alcançar essa meta não é uma tarefa fácil, uma vez que a própria sociedade possui meca- nismos específicos que visam a conservação da realidade objetiva. São eles: o processo de legitimação e a estruturação do universo simbólico (Berger e Luckmann, 1985). Pelo processo de legitimação, tornaremos previsíveis (e desejáveis) alguns compor- tamentos, que serão transmitidos às gerações posteriores, por meio do processo de Universidade Anhembi Morumbi Psicologia e Subjetividade: o significado da interação social na estruturação do psiquismo.� socialização. Aqueles que não se conduzirem segundo essas determinações, estarão sujeitos à aplicação de penalidades, de maior ou menor gravidade. Este aspecto estará intimamente relacionado com a formação do caráter, pois orientará os princípios que deveremos adotar para agir do modo correto; a transmissão desses valores terá inicio na família, com um forte apelo emocional para que os adotemos como nossos também. O processo de legitimação organizará a vida em grupo; porém, deverá adequar-se às transformações sociais, para que o convívio entre as pessoas promova de fato sua autonomia e bem estar. Já a organização do universo simbólico refere-se a um outro nível de normalização do comportamento: serão proposições teóricas rudimentares (provérbios, lendas, histórias populares, crendices etc.) que visarão explicar fatos do cotidiano que não são esclareci- dos de forma “convincente” pela ciência. Os universos simbólicos são produtos sociais e possuem uma história; exerceram uma grande influência na apreensão subjetiva de nossa biografia e também contribuirão para ordenar nossa história. Estas normas atua- rão ao nível do inconsciente e também serão transmitidas pelo convívio familiar. Graças ao universo simbólico aprenderemos a guiar nosso comportamento por princípios éticos e afetivos e tal aspecto poderá auxiliar muito para que desenvolvamos nossa sensibilida- de em relação a nossos semelhantes. Em razão do apelo afetivo implícito no universo simbólico, quando surgirem versões divergentes dos valores e crenças sociais adotados, poderão ocorrer atos de repressão em relação às novas idéias. Da mesma forma que o processo de legitimação, o univer- so simbólico possui uma função importante para a estruturação das relações humanas; porém, devemos estar atentos para que não nos tornemos dogmáticos, acríticos, com- prometendo nossa capacidade reflexiva e as reais possibilidades de alcançarmos nossa emancipação enquanto gênero humano. Universidade Anhembi Morumbi A construção da identidade pessoal e profissional: mesmice ou metamorfose?� Ao se lidar com o conceito “identidade” deparamo-nos com algumas dificuldades. O processo de constituição da identidade parece algo natural, que ocorre independente da vontade e ação do indivíduo. Para algumas pessoas parece que a vida irá conduzi- las por caminhos previamente traçados e não poderão fazer nada para modificar esse fato. Porém, quando observamos alguns aspectos teóricos na Psicologia a respeito deste assunto, podemos identificar que a identidade pode (e deve) se transformar ao longo da vida. Mesmo diante das condições mais adversas, há possibilidades de escolha e superação. São estes aspectos que este texto pretende abordar, na esperança de auxiliar o leitor a visualizar na sua própria história, as oportunidades de transformação e autonomia. Introdução Aula 2: A construção da identidade pessoal e profissional: mesmice ou metamorfose? Universidade Anhembi Morumbi A construção da identidade pessoal e profissional: mesmice ou metamorfose?� A construção da identidade pessoal e profissional: mesmice ou metamorfose? Provavelmente, em alguns momentos da nossa vida, já experimentamos uma “crise de identidade”. Quando isto acontece, parece que não sabemos direito quem somos de fato; o que queremos da vida e o que devemos fazer para retomar o curso da nossa existência, talvez de um modo mais gratificante e seguro. Por que será que isto acon- tece? Será que todas as pessoas passarão por isto? Como devemos agir, para que a angústia que esta situação promove, possa dissipar-se o mais rápido possível? Estas indagações são muito mais comuns do que se imagina. Em todos os setores da vida social podemos identificar pessoas que vivem este momento, de modo mais ou me- nos duradouro: encarando a crise como um pesadelo ou como um estímulo para o seu crescimento e amadurecimento pessoais. Diversas abordagens teóricas da Psicologia procuram analisar como se constitui nossa identidade: algumas enfatizam os processos biológicos e os determinismos da perso- nalidade, como fatores que condicionam a maneira como o indivíduo irá comportar-se socialmente; já as correntes psicossociais destacam que a construção da identidade de- pende da intersecção que se estabelece, de modo contínuo, entreas peculiaridades do indivíduo e as demandas do meio em que ele vive. Segundo Ciampa (1993) a construção da identidade de uma pessoa ou grupo, depen- de de um processo histórico, multideterminado e passível de transformações.Para que possamos analisar melhor esses aspectos que contribuem para a construção de nossa identidade, inicialmente iremos comentar a maneira como este autor define o conceito de identidade pressuposta. Universidade Anhembi Morumbi A construção da identidade pessoal e profissional: mesmice ou metamorfose?� Até mesmo antes de nascer, já possuíamos uma identidade; nossos pais poderão ter planejado nossa vinda (ou não); talvez desejassem ter tido um menino ou uma menina (sonho que nem sempre irão realizar, por mais que tentem). Havia também uma grande expectativa em relação a como seria nossa aparência, nosso caráter, nosso tempera- mento, nossa capacidade de aprender. Imaginavam se teríamos chances de obter suces- so profissional, se seríamos felizes em nossos relacionamentos afetivos, enfim, os pais elaboraram uma série infindável de planos e projetos de vida (que poderiam coincidir ou não com o que iríamos desejar de fato para nossas vidas). Podemos concluir, portanto, que nossa família (ou quem nos acolher como tal) irá ideali- zar alguns aspectos muito importantes de nossa vida e esses elementos irão condicionar a imagem que construiremos a respeito de nós mesmos e do mundo em que vivemos. Este grupo irá atribuir-nos um nome; este poderá ser original (às vezes, causando-nos até constrangimento em função disso!) ou poderá ser um símbolo da continuidade da família (aqueles identificados como júnior, neto, filho etc); há ainda aqueles pais que compõem o nome do filho, a partir da junção do prefixo do nome de cada um deles (o que poderia representar uma concretização da cumplicidade de ambos em assumir plenamente a responsabilidade social que lhes cabe diante do filho). Além disso, nosso nome também revelará alguns dados importantes sobre o lugar que ocuparemos na sociedade. Por exemplo: como será que se desenvolve a identidade de uma pessoa que foi abandonada pelos pais e nunca foi adotada? Como será viver sem saber ao certo, qual é nossa data de nascimento? Como nascemos? Como foram nos- sos primeiros meses de vida? Nossas relações de parentesco também são informações importantes para a construção de nossa identidade. Como a sociedade vê nossos pais? Será que essas pessoas po- derão contribuir de fato para que nos tornemos “pessoas de bem?” Será que elas irão Universidade Anhembi Morumbi A construção da identidade pessoal e profissional: mesmice ou metamorfose?� atender adequadamente todas as nossas necessidades? Contaremos com boas condi- ções de saúde? Caso isto não ocorra (devido a causas pré-natais ou adquiridas), que tipo de seqüela poderá ocorrer em relação ao desenvolvimento de nossa personalidade? Qual será nossa opção sexual? Poderemos assegurar que esta será imutável, até o fim de nossa vida? Percebemos, portanto, que desenvolvemos uma identidade pressuposta, mediante a qual nos atribuem uma série de características (físicas, psicológicas e sociais), desejáveis ou não, que assumiremos como elementos que nos representam ou não. Com o passar do tempo, temos a impressão que todos esses aspectos que nos foram atribuídos, são naturais, dados; são pré-determinados e imutáveis. Se a pessoa aceitar passivamente todas estas predicações e limitar-se a apenas a reproduzi-las no seu com- portamento, irá acomodar-se à mesmice. Tal condição tornará sua vida previsível, sem a chance de escolha, limitando significativamente suas possibilidades de desenvolvimento e auto-realização. Para que possamos aprofundar nossa reflexão a respeito do processo de construção de nossa identidade, cabe uma observação atenta a respeito dos papéis sociais e da impor- tância dos mesmos no nosso desenvolvimento psicossocial. Pelo convívio familiar, estru- turam-se os papéis sociais que irão orientar nossa identificação e auto-reconhecimento; na medida em que adotamos certas condutas sociais, torna-se possível atender algumas expectativas de comportamento, que são definidas a priori pela sociedade em que esta- mos inseridos. Existem duas modalidades de papéis sociais: o prescrito e o desempenha- do (Bock et all.,1988). Os papéis sociais prescritos definem, antecipadamente, como a pessoa deve agir, ser e pensar; nesse aspecto é importante assinalar que dificilmente podemos atender a todas Universidade Anhembi Morumbi A construção da identidade pessoal e profissional: mesmice ou metamorfose?� as expectativas sociais que definem como devemos comportar-nos (até porque as rela- ções humanas sofrem continuamente os efeitos da transição histórica, socioeconômica e cultural, modificando as concepções das pessoas a respeito de si mesmas e do meio em que vivem). Já o papel desempenhado refere-se à maneira como agimos realmente, que pode estar de acordo ou não com o papel prescrito. Caberá a cada um de nós avaliar em que medida desejamos de fato adotar passivamente essas expectativas sociais pré-definidas a nosso respeito, ou até que ponto podemos conduzir-nos conforme aquilo que acredita- mos e valorizamos realmente. Os papéis sociais permitem também que compreendamos melhor nossa situação social, pois “são referências para a nossa percepção do outro, ao mesmo tempo em que são referências para nosso próprio comportamento (Bock et all.,1988, p. 114)”. Portanto, ao se considerar a influência que o contexto familiar exerce na estruturação da identidade pressuposta do indivíduo, é importante que os pais reconheçam a transi- toriedade dos papéis sociais prescritos (uma vez que os valores sociais se modificam ao longo do tempo), para o pleno desenvolvimento emocional da criança : incentivar sua dependência ou abandoná-la à própria sorte poderá acarretar sérios prejuízos para seu equilíbrio psicológico. A imaturidade emocional do indivíduo e seu sentimento de inse- gurança e desconfiança em relação aos demais, poderá incentivá-lo ao isolamento ou à adoção de condutas anti-sociais. Percebemos, desse modo, que há um movimento constante de conciliação entre as expectativas que são projetadas em relação ao indivíduo e suas peculiaridades de per- Universidade Anhembi Morumbi A construção da identidade pessoal e profissional: mesmice ou metamorfose?� sonalidade e projetos de vida. Em alguns momentos, poderá ocorrer uma sincronicidade entre esses aspectos; em outras ocasiões, poderão surgir conflitos, pois o que se espera da pessoa não é exatamente o que ela deseja de fato. Diante deste impasse, a pessoa pode abdicar de seu direito de escolha e atender apenas o que se espera dela. Seria como se ela dissesse: “Muito bem: se é isto que as outras pessoas esperam de mim, assim será !” Quando a pessoa adota apenas esta postura, acaba eximindo-se de sua responsabilidade diante da própria vida; seu destino já esta- ria totalmente traçado; restar-lhe-ia, apenas segui-lo (como se isso fosse totalmente pos- sível; como se ela pudesse garantir que será sempre a mesma pessoa, com as mesmas necessidades; como se o meio em que ela vive se mantivesse sempre o mesmo!).Essa conduta conformista acaba por resultar numa reposição constante de nossa identidade pressuposta, ou seja, numa confirmação passiva do que as pessoas esperam a nosso respeito; transformamo-nos, deste modo, numa identidade-mito, que se cristaliza; que nos obriga a agir apenas de acordo com o que os outros definem a nosso respeito. Per- de-se nossa autonomia e limitam-se nossas possibilidades de obter prazer na vida. Pode ser até que a própria pessoa deseje adotar como suas algumas dessascaracterísticas que lhe são atribuídas; porém, é imprescindível que ela tenha a oportunidade de refletir sobre isso e escolher se é assim que ela deseja viver de fato. Ao agir desse modo, esta- rá empregando sua consciência reflexiva e poderá realizar o que deseja, sem se anular totalmente ou mostrar-se uma pessoa desajustada para o convívio social. Esta não é uma tarefa fácil; também não quer dizer que a pessoa deva viver apenas do jeito que ela bem entender, sem prestar contas a ninguém. A necessidade de estar cons- tantemente participando de algum grupo, certamente fará com que o indivíduo procure adequar-se a algumas das expectativas que os demais possuem a seu respeito; porém é imprescindível que a pessoa reflita sobre o que deseja e faça as escolhas que atendam Universidade Anhembi Morumbi A construção da identidade pessoal e profissional: mesmice ou metamorfose?� suas necessidades. Esta será a chance de desenvolver sua mesmeidade; ou seja, a con- jugação de suas aspirações, desejos, peculiaridades, com as determinações do meio em que vive. Ao concretizar-se esta maneira de encarar a própria vida, abrem-se novas possibilidades para que as pessoas conquistem o que desejam; se aprimorem enquanto seres huma- nos e usufruam de tudo aquilo que julguem interessante para seu crescimento pessoal. Haverá sempre a possibilidade de uma transformação da diversidade, da metamorfose. Viver em grupo poderá representar uma oportunidade única de nos descobrirmos a nós mesmos e nos enriquecermos, graças ao convívio com as particularidades e diversida- des de nossos semelhantes. Contudo, isto não ocorrerá do dia para a noite e da mesma maneira para todas as pessoas: esta reflexão irá solicitar delas, uma revisão dos concei- tos que possuem a respeito de si mesmas e dos demais; uma reformulação dos próprios objetivos de vida e uma avaliação sobre o compromisso social que lhes cabe, enquanto integrantes dos diferentes grupos dos quais fazem parte. Para concluir, iremos destacar de que maneira Ciampa analisa a questão da identidade do homem moderno (1993, p.73): “... a cisão entre o indivíduo e a sociedade faz com que cada indivíduo não reconheça o outro como ser humano e, conseqüentemente, não se reconheça a si próprio como humano...”. Desse modo, a cada um de nós caberá assu- mir um autêntico compromisso diante de nossa própria vida, sem perder de vista nossa responsabilidade e nosso comprometimento ético diante de nossos semelhantes. Universidade Anhembi Morumbi A construção da identidade pessoal e profissional: mesmice ou metamorfose?� A constituição da identidade profissional: aspectos importantes para a auto-realização do indivíduo A inserção do indivíduo no processo produtivo ocorrerá ao longo da vida, por etapas sucessivas de amadurecimento da escolha vocacional. Diversos autores na Psicologia analisam este processo, revelando de que modo escolhemos nossa profissão e qual é a importância deste processo na estruturação de nossa vida pessoal e ocupacional. Considerando-se que a atividade profissional é um aspecto muito importante para o bom ajustamento psíquico do indivíduo, iniciaremos uma breve reflexão a respeito das etapas da escolha vocacional e de que maneira este processo influencia no contexto global da vida da pessoa. A questão do desenvolvimento vocacional O processo de desenvolvimento humano é contínuo e envolve a transformação biológi- ca, cognitiva, afetiva e social do indivíduo. O desenvolvimento vocacional é paralelo ao desenvolvimento global e requer o amadurecimento da auto-imagem do indivíduo; esta se refere ao conjunto de percepções que a pessoa elabora a respeito de si mesma e do mundo em que vive. Esta auto-imagem pode ser nítida, objetiva ou nebulosa, indistinta. Para estruturá-la a pessoa levará em consideração suas aptidões (inclusive intelectuais), suas necessidades básicas, valores, preferências e potencialidades. O conjunto destas características irá condicionar o seu desenvolvimento vocacional; e por meio deste a pes- soa elaborará um sentido e um sentimento específico em relação à sua profissão. Neste processo a pessoa irá ponderar também sobre o panorama das profissões que lhe inte- ressam e as etapas que deverá cumprir para a concretização de sua escolha. A escolha da carreira implicará também não só na definição do que fazer, mas também no tipo de Universidade Anhembi Morumbi A construção da identidade pessoal e profissional: mesmice ou metamorfose?10 pessoa que nos tornaremos pelo fato de exercer uma determinada atividade profissional. Portanto, para que o desenvolvimento vocacional ocorra de modo satisfatório, torna-se necessário que a pessoa clarifique quais são seus valores, suas necessidades básicas, os seus objetivos e os projetos de vida que deseja desenvolver. Antes de prosseguirmos, vale uma distinção entre o desenvolvimento vocacional e o crescimento vocacional. O desenvolvimento vocacional requer um amadurecimento pes- soal que possibilite ao indivíduo escolher uma profissão, baseando-se nas impressões que construiu a respeito de si mesmo e do contexto em que vive. Já o comportamento vocacional refere-se às ações concretas realizadas pelo indivíduo ao longo da vida para inserir-se nesse contexto e desenvolver seu perfil ocupacional. Alguns aspectos serão decisivos neste processo, tais como: • O desenvolvimento do auto-conceito do indivíduo, identificando suas potencialida- des e limitações. • A constituição da identidade pessoal, que irá revelar quais são as características que definem quem esta pessoa é. • A auto percepção da identidade, que se refere à consciência que a pessoa possui a respeito de si mesma, como ela se vê. • A identificação dos atributos pessoais que irão direcionar o desempenho do indiví- duo e os recursos que deverá desenvolver para concretizar seus objetivos. Além destes elementos, devemos levar em consideração também a dinâmica de perso- nalidade do indivíduo e o fatores situacionais que irão condicionar as ações concretas da pessoa para alcançar suas metas. Serão analisados neste contexto: os valores cultu- rais; o “status” familiar; as informações sobre as taxas de empregabilidade e desempre- go; a questão da instabilidade no mercado de trabalho, dentre outros. Universidade Anhembi Morumbi A construção da identidade pessoal e profissional: mesmice ou metamorfose?11 Ao longo deste processo, podemos observar o nível de maturidade ocupacional que a pessoa vai adquirindo ao longo da vida. É importante considerar o ajustamento vocacio- nal que a pessoa obteve e tal aspecto pode também ser avaliado pelo nível de auto- realização que ela identifica ao exercer determinada atividade profissional; serão consi- deradas também sua trajetória pessoal e o repertório comportamental que desenvolveu na constituição de sua carreira ocupacional. Para que este processo ocorra de modo adequado, é importante que a pessoa possua um conhecimento realista sobre si mesma e sobre a realidade externa; é necessário que esteja ciente da necessidade de escolher e pronta para decidir-se sobre uma atividade, A consistência das suas preferências ocupacionais poderá facilitar sua tomada de decisão e espera-se que o indivíduo seja capaz de delinear uma carreira a partir desta escolha. Outro aspecto que deve ser contemplado é a visão realista acerca dos recursos neces- sários para a sua economia ao longo de sua preparação acadêmica para o exercício de uma atividade profissional. Constatamos, deste modo, que a identidade profissional requer que a pessoa possua uma visão mais ou menos realista sobre si mesma e possa projetar como pretende de- senvolver seu papel profissional. A partir destes dados,podemos observar que há uma íntima relação entre a identidade pessoal e a identidade profissional: dependendo do percurso de desenvolvimento pessoal que o indivíduo tenha elaborado, pode ser mais ou menos difícil selecionar uma atividade e desenvolver seu comportamento vocacional de modo a definir adequadamente seus objetivos e concretizá-los de modo gratificante. Para que possamos compreender melhor como ocorre o desenvolvimento vocacional de uma pessoa, relataremos as principais etapas deste processo, destacando os reflexos que este amadurecimento produz no contexto de vida do indivíduo. Universidade Anhembi Morumbi A construção da identidade pessoal e profissional: mesmice ou metamorfose?1� De acordo com Super (Mello, 2002), vivenciamos quatro estágios para o amadure- cimento de nosso comportamento vocacional. O primeiro estágio ocorre na primeira infância até os 14 anos e é classificado como estágio de crescimento. Nesta etapa pre- dominam as escolhas fantasiosas, baseadas na identificação da criança com os perso- nagens que ela admira; as “profissões” escolhidas visam satisfazer suas necessidades orgânicas e afetivas. No final deste estágio observa-se o empenho do adolescente em obter maiores informações a respeito das atividades que lhe interessam, além do apro- fundamento da auto-análise e da experimentação de papéis sociais que o jovem consi- dera pertinentes às profissões que chamam sua atenção. O segundo estágio é classificado como exploratório; neste predomina a auto-reflexão e a experimentação de papéis sociais e ocupacionais. O jovem buscará maior autonomia e desprendimento da família e tal aspecto também irá direcioná-lo a buscar na esco- lha profissional uma concretização de sua necessidade de independência. A partir dos 15 anos, a pessoa procurará conciliar seus interesses e aptidões com as atividades que existem no mercado de trabalho. Entre os 18 e 21 anos a realidade é avaliada de modo mais adequado e já podem ter início algumas experiências profissionais concretas (me- diante estágios, ingresso no mercado de trabalho formal ou informal) o que certamente irá contribuir para uma identificação mais condizente dos interesses vocacionais. Entre os 22 e 24 anos o indivíduo buscará exercer efetivamente uma atividade profissional a partir da experiência acumulada no mercado ou da preparação acadêmica que buscou para obter uma formação. O terceiro estágio é definido como a fase de estabelecimento. A partir dos 25 anos a pessoa poderá vivenciar algumas mudanças em relação à sua atividade profissional, buscando adequar seu trabalho às suas necessidades pessoais e à sua realidade objeti- va. No período de estabilização, que ocorre entre 30 e 45 anos de idade, o foco será a manutenção da segurança profissional; o indivíduo precisará estar atento para as de- Universidade Anhembi Morumbi A construção da identidade pessoal e profissional: mesmice ou metamorfose?1� mandas do mercado e procurará o aprimoramento necessário para manter sua empre- gabilidade. Em função destas características este período costuma ser o mais criativo no percurso profissional do indivíduo. O quarto estágio é classificado como a fase de manutenção e este período transcorre entre os 45 e 65 anos de idade; nesta etapa o principal desafio será manter-se ativo, útil, necessário. É um período em que o indivíduo procurará manter algum tipo de ativi- dade e este aspecto será muito importante, inclusive, para sua auto-estima. Inicia-se neste estágio também o período de declínio: modificam-se as condições físicas e tal aspecto obrigará a pessoa a redirecionar sua atividade, em respeito às suas limita- ções biológicas. Este aspecto deve ser considerado pelas empresas e devem oferecer-se ao indivíduo condições psicossociais adequadas para que a pessoa enfrente essas mudanças de modo construtivo, prevenindo-se maiores riscos para a saúde mental do funcionário. Encerrando o quarto estágio ocorre o período de desaceleração (que se revela entre os 65, 70 anos de idade): o ritmo de trabalho diminui e altera-se a estrutura das ativi- dades, podendo, inclusive, reduzir a carga horária de trabalho, modificando-se o tipo de atividade que a pessoa realiza para adequá-la às condições e às peculiaridades do indivíduo. Finalmente, no período da aposentadoria, destaca-se a maneira como a pessoa irá lidar com o encerramento de suas atividades profissionais. É importante observar o significa- do que o indivíduo atribui a este estágio: para algumas pessoas, é um momento de se dedicar mais ao lazer e ao convívio social; para outras pessoas, sobrevêm o sentimento de inutilidade, a depressão e a desvalia. O contexto objetivo da vida também deve ser avaliado, considerando-se as condições sócio-econômicas, o estado de saúde e as pos- sibilidades efetivas de que esta pessoa dispõe para usufruir uma boa qualidade de vida. Universidade Anhembi Morumbi A construção da identidade pessoal e profissional: mesmice ou metamorfose?1� Constatamos, portanto, que a identidade profissional representa um aspecto muito im- portante no contexto de vida geral do indivíduo, compondo a auto-imagem da pessoa e dando-lhe a ela a oportunidade de contribuir efetivamente para o bem estar de todos. É importante oferecer às pessoas os melhores recursos possíveis, para que a transição em cada uma destas etapas lhes permita construir uma trajetória de vida gratificante. Bibliografia BOCK, A. M. B.; FURTADO, O., TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estu- do de psicologia. São Paulo: Saraiva, 1988. CIAMPA, A. da C. A história do Severino e a estória da Severina: um ensaio de psicologia social. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. JACQUES, M. G. C. Relações Sociais e Ética. Porto Alegre: ABRAPSO, 1995. LANE, S. T. M. Psicologia Social: o homem em movimento. 11. ed. São Paulo: Brasilien- se, 1993. MELLO, F. A. F. O desafio da escolha profissional. Campinas: Papirus, 2002. SPINK, M. J. P. A cidadania em construção: uma reflexão transdisciplinar. São Paulo: Cortez, 1994. Leituras Sugeridas O que é escolha profissional. Dulce Helena Soares Editora Brasiliense Universidade Anhembi Morumbi A construção da identidade pessoal e profissional: mesmice ou metamorfose?1� Psicologia Social O homem em movimento Silvia T.M. Lane; Wanderley Codo (orgs.) 11.a. edição. Editora Brasiliense1993. Site Recomendado Associação Brasileira de Orientação Profissional ABOP (www.abopbrasil.org.br). Filmografia O Show de Trumann, de Peter Weir, Estados Unidos. Este filme aborda a constituição da identidade pessoal. Universidade Anhembi Morumbi Psicologia e Subjetividade: o significado da interação social na estruturação do psiquismo.� Bibliografia BERGER, P. e LUCKMANN, T. A construção social da realidade: tratado de Sociolo- gia do Conhecimento - tradução Floriano de Souza Fernandes. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 1985. BOCK, A. M. B.; FURTADO, O., TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estu- do de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1988. MOREIRA, P. R. Psicologia da educação: interação e identidade. São Paulo: FTD, 1994. Leituras recomendadas O que é Psicologia Social Silvia T. Mauer Lane 16ª. Edição. Editora Brasiliense Vivendo em família: relações de afeto e conflito. Maria Luiza Dias São Paulo. Editora Moderna 1992 (Coleção polêmica) Sites recomendados ABRAPSO – Associação Brasileira de Psicologia Social (www.abrapso.org.br). Universidade Anhembi Morumbi Psicologia e Subjetividade: o significado da interação social na estruturação do psiquismo.10 Filmografia Pai Patrão, de Paolo Taviani e Vittorio Taviani, Itália e Caráter, de Mike van Diem,Holan- da. Estes dois filmes abordam a importância da autoridade paterna e os problemas que ocorrem quando não se enfatizam as relações amorosas no contexto familiar. Kramer versus Kramer, de Robert Benton, Estados Unidos. Este filme discute os papéis sociais atribuídos ao pai e à mãe e discute a importância de cada um deles para a es- truturação psicológica da criança. Crianças Invisíveis, de Chiara Tilesi, Stefano Veneruso, Maria Grazia Cucinotta e Gaeta- no Daniele, Itália. Este filme aborda as condições de vida, familiar e social, de crianças em diferentes países. Este documento é de uso exclusivo da Universidade Anhembi Morumbi, está protegido pelas leis de Direito Autoral e não deve ser copiado, divulgado ou utilizado para outros fins que não os pretendidos pelo autor ou por ele expressamente autorizados. 0003_(1_1) 0003_(1_2)
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