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INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DE RIO VERDE – IESRIVER
CURSO DE DIREITO
ISIS MARCIA DIAS DE MORAES
O DIREITO CONSTITUCIONAL AO MÍNIMO EXISTENCIAL NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EM FACE À RESERVA DO POSSÍVEL
RIO VERDE – GOIÁS
2017
ISIS MARCIA DIAS DE MORAES
O DIREITO CONSTITUCIONAL AO MÍNIMO EXISTENCIAL NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EM FACE À RESERVA DO POSSÍVEL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Objetivo de Rio Verde/GO, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Direito. 
Professor(a) Orientador(a): Virgínia Gonçalves Mota.
RIO VERDE – GOIÁS
2017
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
2.1 AS DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
2.2 O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E O DIREITO À VIDA
2.3 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS
3. OS PODERES DE ESTADO
3.2 DISTRIBUIÇÃO DE FUNÇÕES 
3.2 MÉTODO DE FREIOS E CONTRAPESOS
4. A IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS
5. A RESERVA DO POSSÍVEL COMO OBSTÁCULO À EFETIVAÇÃO DO MÍNIMO EXISTENCIAL 
5.1 POSICIONAMENTO DOUTRINÁRIO
5.2 ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL 
5.3 O JUDICIÁRIO COMO GARANTIDOR DA EFETIVIDADE DOS DIREITOS SOCIAIS 
6. CONCLUSÃO 
7. REFERÊNCIAS						
RESUMO
O presente trabalho buscou evidenciar o embate existente entre os direitos fundamentais sociais assegurados a toda e qualquer pessoa humana, consagrados pela Constituição Federal de 1988 e pelos tribunais superiores em face do instituto da reserva do possível, teoria pela qual o Estado está vinculado a uma reserva monetária para a implementação de políticas públicas, mediante a utilização das seguintes metodologias de pesquisa: artigos científicos, jurisprudências, consultas à legislação brasileira e doutrinas, verificando-se a relevância do presente tema em razão de ser uma situação enfrentada pela maioria dos brasileiros, com alta recorrência, diariamente exposta nas mídias existentes, concluindo-se que aquela teoria limita os direitos sociais, infringindo frontalmente os princípios da dignidade da pessoa humana e o direito à vida, pois a função do Estado de Direito, é a de proporcionar o bem estar de toda a coletividade, para que os ideais democráticos e de igualdade socioeconômica sejam plenamente alcançados.
Palavras-Chave: Direitos Sociais. Efetividade. Reserva do Possível.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho buscará evidenciar o confronto existente entre a necessidade de efetivação dos direitos fundamentais sociais assegurados constitucionalmente, reputando o mínimo existencial, inerentes a toda e qualquer pessoa humana e o instituto da reserva do possível, demonstrando ao final, possíveis soluções para a problemática apresentada.
Justifica-se a abordagem da respectiva pesquisa, em razão de sua relevância social, por ser a questão da implementação de políticas públicas insuficiente ou insatisfatória por parte do Estado, afetando a maioria dos brasileiros, com alta recorrência, diariamente exposta nas mídias existentes, onde enxerga-se a omissão da atuação estatal ou sua atuação inadequada.
Ressalta-se que as metodologias utilizadas na execução do trabalho em voga serão as de revisão bibliográfica, apoiando-se em técnicas de pesquisas de artigos científicos, doutrinas, jurisprudências e consultas à legislação brasileira relacionadas ao tema. 
Inicialmente será apresentada a evolução histórica dos direitos fundamentais, dando ênfase ao princípio da dignidade da pessoa humana, ao direito à vida e aos direitos sociais, trantando na sequência dos poderes de Estado, analisando a sua distribuição funcional. 
Em seguida abordar-se-á a questão da implementação de políticas públicas sociais, para, subsequentemente avaliar a possibilidade de efetivação do mínimo existencial em face da teoria da reserva do possível, analisando o posicionamento estatal na busca de soluções plausíveis para a questão abordada, em especial, o papel do Poder Judiciário, orientando-se pelo posicionamento doutrinário e entendimento jurisprudencial atuais.
2. DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
Os gregos e romanos da Antiguidade� não conheceram os direitos individuais, apenas a liberdade política no período democrático, tendo em vista que uma pequena parcela da sociedade, considerada cidadã� participava efetivamente do governo, exercendo seu direito ao voto nas assembleias populares, porém não detinha liberdade ou igualdade civis. (AZAMBUJA, 1995)
Na Idade Média� onde observa-se a descentralização do poder político e a hegemonia dos senhores feudais e da igreja católica, destaca-se a Magna Carta de 1215, documento inglês, que assegurava determinados direitos fundamentais, representando um avanço do constitucionalismo medieval e estabelecendo proteção aos direitos individuais. Referido documento era uma carta feudal, protegendo privilégios dos barões e dos homens livres, isto é, não possuia caráter universal, abrangia apenas parcela da sociedade (SILVA, 2009).
É relevante destacar na Idade Moderna�, período correspondente à primeira fase do Estado Moderno, ou seja, do Estado Absolutista, onde o poder político já centralizado, concentrou-se nas mãos do rei, a Petição de Direitos de 1628, documento que direcionava-se ao monarca com a finalidade de requerer garantias aos governados. A Declaração de Direitos, concludentes da Revolução de 1688, excluiu o rei vigorante e nomeou outros monarcas, com autoridades restritas e limitadas às determinações deste documento, fazendo com que a monarquia apresentasse traços constitucionais (SILVA, 2009). 
De acordo com Pedro Lenza (2014), foram obervados na Idade Média e na Idade Moderna os pactos, forais e cartas de franquia, importantes documentos voltados à proteção dos direitos individuais, entretanto restritos a um grupo de indivíduos, ou seja, tais documentos não possuiam aspecto de universalidade. 
A Revolução Francesa�, que perdurou por muito anos, tendo como ponto culminante o ano de 1789, marca o início da Idade Contemporânea�. Acerca das revoluções liberais�, José Afonso da Silva (2009, p. 153 - 154) ensina: 
A primeira declaração de direitos fundamentais, em sentido moderno, foi a Declaração de Direitos do Bom Povo de Virgínia, que era uma das treze colônias inglesas da América [...]. Vê-se que, basicamente, a Declaração se preocupa com a estrutura de um governo democrático, com um sistema de limitação de poderes [...]. Contudo a Declaração de Independência de autoria de Thomas Jefferson e posterior à declaração de Virgínia, pois é de 4.7.1776, teve maior repercussão, ainda que não tivesse natureza jurídica como esta última. Nela se destaca especialmente o seguinte trecho: [...] “todos os homens foram criados iguais,foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis; que, entre estes, estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade; que. A fim de assegurara esses direitos, instituem-se entre os homens os governos, que derivam seus justos poderes do consentimentos dos governados” [...].
No que tange a Independência das Treze Colônias destaca-se a Declaração de Virgínia de 1776, documento resultante do respectivo evento, que declarava a liberdade e a independência dos homens, afirmando que o poder era decorrente do povo, que o governo deve ser constituído para o bem comum, enfatizando a ausência de benefícios privativos ou de ordem genealógica, a separação dos poderes, elegibilidade aberta aos representantes do povo etc., sendo reconhecida como a Declaração de Direitos Modernos inaugural, buscando realçar a democracia e restringir o poder. (SILVA, 2009)Registra-se também, outro documento extremamente relevante para a evolução dos direitos fundamentais, a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, de origem francesa, que universalizou os direitos, reconhecidos e garantidos pelo ente estatal, denominando-os de garantias individuais, tornando-se referência para o constitucionalismo moderno, comtemplados por todos os Estados atuais (DIAS, 2011).
Para Pedro Lenza (2014), o constitucionalismo moderno foi ainda marcado pelas Constituições Norte Americana de 1787 e Francesa de 1791, consolidando a ideologia de que os governados são os donos do poder, ideologia completamente oposta a do Estado Absolutista�. 
O Estado passou a impedir abusos e regulamentar o próprio domínio socioeconômico, ao assumir a concepção de Estado Liberal�, elevando os valores individuais e apartando a intervenção estatal, regulamentados por uma Constituição, trazendo no seu bojo os direitos individuais, atinentes à primeira dimensão dos direitos fundamentais (LENZA, 2014). 
Portanto, vizualiza-se claramente a evolução dos direitos fundamentais desde a Antiguidade, período em que não eram reconhecidos os direitos individuais, passando-se pelo Estado Absolutista, com poderes concentrados nas mãos dos monarcas, até a sua substituição pelo Estado Liberal, no qual o próprio ente estatal passou a restringir sua intervenção, reconhecendo aqueles direitos. 
2.1 EVOLUÇÃO DAS DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Conforme Pedro Lenza (2014), o termo “gerações de direitos fundamentais” foi superado pela expressão “dimensões de direitos fundamentais”, uma vez que os atuais doutrinadores entendem que uma dimensão mais recente não anula as aquisições das dimensões mais remotas, o que poderia ser interpretado de forma equivocada ao seu utilizar o vocábulo geração. 
Os direitos de primeira dimensão tiveram como característica principal a transformação do Estado Absolutista em Estado de Direito�, respeitando as liberdades individuais e afastando a intervenção estatal, o que se observou após a Revolução Francesa de 1789. As primeiras constituições escritas declararam os ideais de liberdade, nos quais o indivíduo se contrapunha ao ente estatal, destacando-se determinados documentos históricos, como as Declarações de Direitos americana e francesa (LENZA, 2014).
Os direitos de segunda geração foram impulsionados pelos resultados da Revolução Industrial�, principalmente a partir de fins do século XIX, devido às condições de trabalho da época, que culminaram na exploração do homem, o que ocasionou a pressão de movimentos sociais, sindicatos, partidos políticos, sem contar o avanço das teorias socialistas�, levando o Estado Liberal a mudar de postura, convertendo-se em Estado Social�, terceira versão do Estado Moderno. 
 Assim, no início do século XX, auge da Primeira Guerra Mundial�, as constituições� dos entes que acolheram os princípios do Estado Social, passaram a estabelecer em seus textos os direitos sociais, culturais e econômicos, os quais direcionavam-se a toda sociedade, disseminando o ideal de equidade, correspondentes aos direitos de segunda dimensão.
Os direitos de terceira geração, segundo Pedro Lenza (2014) foram caracterizados pelo avanço científico e tecnológico, verificando-se progressos no campo socioeconômico do país, bem como proteções nas áreas ambiental e consumerista, aliados aos ideais de solidariedade e fraternidade, reconhecidos como direitos transindividuais�. 
Frisa-se que já estão consolidadas na doutrina e na jurisprudência pátria, as três primeiras dimensões dos direitos fundamentais, todavia, alguns estudiosos já defendem a quarta e a quinta dimensão�.
Os direitos de quarta geração correspondem ao avanço da engenharia genética (apud BOBBIO E BONAVIDES), oficializa o Estado social, destacando-se direitos à democracia e informação, correspondendo à disseminação dos direitos fundamentais. Por fim, os direitos de quinta geração dizem respeito à paz, como “axioma da democracia participativa ou, ainda, supremo direito da humanidade”. 
Constata-se, por fim, que as dimensões dos direitos fundamentais demonstram a conquista gradativa de tais disposições declaratórias, inseridas nos textos das constituições dos Estados na contemporaneidade, limitando o poder estatal, mediante ideais de liberdade, igualdade, fraternidade, até se chegar a maior das conquistas: a democracia. 
2.2 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E O DIREITO À VIDA
A figura do Estado foi criada para que o homem convivente em sociedade pudesse ter suas necessidades atendidas e protegidas contra outros semelhantes, assim, foram estabelecidas ideias basilares, principiológicas. Entende-se por “princípio” como um início, uma direção a que todos os demais conhecimentos devam subordinar-se (AWAD, 2006). 
Neste sentido, a Constituição Federal de 1988 consagrou em seu artigo 1º, inciso III� o princípio da dignidade da pessoa humana, regulamentando que todo ser humano deve ser respeitado e dignamente considerado por seus semelhantes, além de conferir garantias de educação, habitação, dignidade, saúde, lazer etc.
Atualmente, o princípio da dignidade da pessoa humana se reveste de valor irrestrito e integral, uma vez que qualquer pessoa está propensa à referida proteção, independentemente de sua classe social, cor, condição econômica ou capacidade de autodeterminação, apresentando-se como norma constitucional de eficácia plena�.
Sobre o direito à vida, positivado no texto constitucional em seu artigo 5°, inciso XLVII�, leciona Marcelo Novelino (2016), que trata-se da inviolabilidade da vida do ser humano, tanto a sua existência física, isto é, consistindo no direito do ser humano conservar-se vivo, quanto às violações por parte do Estado e terceiros. Assim, a proibição da pena de morte é um exemplo normativo que assegura o direito à vida. 
Referido direito está vinculado à uma existência digna “no sentido de ser assegurado ao indivíduo o acesso a bens e utilidades indispensáveis para uma vida em condições minimamente dignas” (NOVELINO, 2016), de modo que o poder público assume o dever de tomar medidas que protejam a vida.
Outrossim, o princípio da dignidade da pessoa humana e o direito à vida estão intimamente interligados, eis que um demonstra-se consequência da efetivação do outro. Como elucidado, um indivíduo só gozará plenamente de seu direito à vida, na medida em que tenha acesso a bens e garantias necessárias para lhe proporcionar um mínimo existencial digno�. 
Com efeito, cabe ao Estado, mediante políticas públicas�, garantir o acesso a tais medidas em prol da igualdade social e econômica de toda a coletividade, conforme será abordado mais adiante. 
2.3 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS – FALTA FAZER CITAÇÃO (DOUTRINA DRA VIRGÍNIA)
Os direitos fundamentais sociais correspondem a direitos de segunda dimensão, consoante já salientado em passagem anterior, estando consagrados nos artigos 6º� a 11 da Constituição Federal de 1988, dentre os quais pode-se destarcar o direito à saúde, habitação, lazer, educação etc. Tais direitos buscam a igualdade entre os governados e o progresso com relação às suas condições de subsistência. 
Revelam-se de caráter prático, isto é, necessitam de atuações positivas� por parte do Estado de Direito. Denise Vargas (2010) assevera que algumas matérias são expressamente proibidas de qualquer supressão, por possibilidade de haver violação constitucional, isto é, aquelas constantes no artigo 60, §4º da Constituição Federal. Neste rol estão inclusos os direitos e garantias individuais, entretanto, por interpretação extensiva, entende-se que os direitos sociais também constituem cláusulas pétreas, o que se confirma em decisão jurisprudencial�. 
Neste sendido, depreende-se que os direitos sociais visam salvaguardar a igualdade entre os membros da coletividade, estando condicionados as escolhas e ações estatais, constitindo-se como cláusulas pétreas, em harmonia à doutrina e jurisprudência atual, já que não ocorre a restriçãode direitos, mas a sua amplitude. 
3. OS PODERES DO ESTADO
Reputando-se que a finalidade precípua do ente estatal é a de proporcionar o melhor aos governados, o Estado realiza variados serviços para alcançar o avanço e a melhoria da sociedade, como pode-se citar a garantia da ordem e defesa contra ameaças externas (AZAMBUJA, 1995).
Com a evolução da sociedade, surgiu a necessidade do ente estatal subdividir suas funções para atender a todas as demandas sociais, proporcionando o melhor a seus governados, utilizando-se de mecanismos específicos a seguir abordados para alcançar o bem comum.
3.2 DISTRIBUIÇÃO DE FUNÇÕES
Em conformidade com a doutrina de Hely Lopes Meirelles (2010, p. 61), a vontade estatal se exterioriza por meio dos poderes do Estado, aduzindo:
“Os Poderes do Estado, na clássica tripartição de Montesquieu, até hoje adotada nos Estados de Direito, são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, independentes e harmônicos entre si e com suas funções reciprocamente indelegáveis (CF, art. 2°). Esses Poderes são [...] estruturais do Estado [...], a cada um deles correspondendo uma função que lhe é atribuída com precipuidade. 
Assim, a função precípua do Poder Legislativo é a elaboração da lei (função normativa); a função precípua do Poder Executivo é a conversão da lei em ato individual e concreto (função administrativa); a função precípua do Poder Judiciário é a aplicação coativa da lei aos litigantes (função judicial). [...] O que há, portanto, não é separação de Poderes com divisão absoluta de funções, mas, sim, distribuição das três funções estatais precípuas entre órgãos independentes, mas harmônicos e coordenados no seu funcionamento, mesmo porque o poder estatal é uno e indivisível.” 
Destarte, no rigor da doutrina não há separação de poderes, o que se observa é uma distribuição de funções, quais sejam normativa, administrativa e jurisdicional, isto é, uma distribuição de competências entre os diversos órgãos do Estado.
Ademais, frisa-se que Montesquieu não usou em sua obra política� as expressões “separação de Poderes” ou “divisão de Poderes”, salientando tão somente a necessidade de equilíbrio entre os Poderes, o que em nosso ordenamento se manifesta através do Método de Freios e Contrapesos, que será analisado a frente, onde há uma fiscalização mútua de um Poder em face do outro (MEIRELLES, 2010).
Neste raciocínio, ensina Hely Lopes Meirelles (2010, p. 62):
Seus apressados seguidores é que lhe deturparam o pensamento e passaram a falar em “divisão” e “separação de Poderes”, como se estes fossem [...] incomunicáveis em todas as suas manifestações, quando, na verdade, isto não ocorre, porque o Governo é a resultante da interação dos três Poderes de Estado ---Legislativo, Executivo e Judiciário [...]. 
Logo, a Teoria da Separação dos Poderes ou melhor a distribuição de funções tem o condão de eliminar a reunião absoluta de competências nas mãos de um só indivíduo ou órgão, considerando que o poder estatal é único e indivisível, com o intuito de evitar o abuso do poder e de viabilizar a execução dessas incumbências de forma que a coletividade seja amplamente alcançada.
3.2 MÉTODO DE FREIOS E CONTRAPESOS
Destaca-se que o Método de Freios e Contrapesos foi idealizado pela necessidade de existir estabilização e efetiva igualdade entre as três funções ou entre os três poderes, ou seja, Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário, no sentido de que não é crível que uma função se submeta a outra ou que uma função reprima a outra (QUEIROZ, 2015). 
No que pertine ao instituto em análise, a distribuição dos poderes entre órgãos distintos deve ser realizada de forma que nenhum destes exceda os alcances da Constituição Federal (QUEIROZ apud NOVELINO, 2015, p.21).
Outrossim, o método de freios e contrapesos busca exatamente evitar situações como as que foram vivenciadas na época do Absolutismo, em que o poder nas mãos do monarca era irrestrito, deliberando a seu bel prazer. Insta ressaltar que a existência por si desta ferramenta demonstra imenso avanço social de maneira a respaldar o ideal democrático, tão distante das monarquias absolutistas. 
4. A IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS 
O Estado, representado por seus órgãos e agentes públicos�, atinentes ao Poder Executivo, promove medidas governamentais, isto é, realiza programas direcionados à população com finalidades específicas e por determinado período, buscando sempre o bem estar social. São as chamadas “políticas públicas” (HÖFLING apud MULLER, 1987, p. 31). 
Entende-se por políticas públicas a administração de problemas e demandas de caráter coletivo, mediante técnicas de planejamento que identifiquem as necessidades de atuação, de modo que os investimentos atinjam os objetivos desejados (DIAS, 2011).
Nesta inteligência, as políticas públicas sociais� são aquelas ações conduzidas pelo ente estatal, voltadas à garantia da igualdade e distribuição de melhorias de caráter social, como observa-se na área da educação, da saúde, da moradia, do lazer etc., impedindo ainda, qualquer forma de vantagem a grupos detentores de poder econômico e priorizando programas que beneficiem indivíduos desamparados. 
Neste contexto, o poder público, cuja finalidade precípua é proporcionar o bem comum, deve procurar a construção de uma coletividade socioeconomicamente equilibrada, possibilitando o amplo e efetivo alcance aos direitos sociais. 
5. A RESERVA DO POSSÍVEL COMO OBSTÁCULO À EFETIVAÇÃO DO MÍNIMO EXISTENCIAL 
Em que pese não haver consensualidade no que se refere ao conceito do princípio do mínimo existencial, destaca-se o posicionamento de MATSUDA, PEREIRA e SOUZA, p. 15): 
As autoras são Advogadas da União, o artigo está disponível neste site: 
www.agu.gov.br/page/download/index/id/%207306306. Não encontrei referência de que ano foi publicado, por isso coloquei só o número da página que consta a citação. 
É significativo que já se comece hoje a considerar o que constituiria um “núcleo fundamental” de direitos econômicos, sociais e culturais. Há os que, como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, argumentam que tal núcleo seria constituído pelos direitos ao trabalho, à saúde e à educação. Em recentes reuniões internacionais de peritos também se tem referido, como possíveis componentes daquele núcleo, aos chamados “direitos de subsistência” (e.g., direito à alimentação, direito à moradia, direito aos cuidados médicos e direito à educação). Os debates apenas têm início, e certamente se prolongarão no decorrer dos próximos anos neste início do novo século (apud TRINDADE, 2010, p.307). 
SUBSTITUA POR CITAÇÃO INDIRETA (MENOR) DE OUTRO AUTOR.
Pois bem, entende-se que o mínimo existencial trata de direitos assegurados constitucionalmente, garantindo condições mínimas para a sobrevivência digna de toda e qualquer pessoa humana, como verifica-se com o acesso à saúde, educação, segurança, lazer, habitação etc., que se configuram como direitos fundamentais de segunda dimensão. 
Consoante ensina Denise Vargas (2010), entende-se por direitos sociais as normas de caráter prático que buscam garantir condições mínimas de vida, como o direito à educação, saúde, trabalho e moradia, proporcionando ou ao menos buscando proporcionar uma equidade entre os governados do Estado Social de Direito. 
Portanto, estes direitos buscam garantir uma vida digna a todas as pessoas, sendo imperioso que o Estado estabeleça meios de inserir os que são considerados hipossuficientes� ao meio social, evitando a segregação e buscando sempre a igualdade e o equilíbrio socioeconômico entre todos os governados.
Neste cenário, compreende-se o instituto da reserva do possível como a forma de limitação dos direitos sociais, vez que a escassez de recursos financeiros do Estado é a principal tese apresentada para justificar o não cumprimento destes direitos. Tem-se o seguinte conceito acerca do tema em análise: 
A reserva do possível é um argumento ocasionalmenteutilizado nas respostas do Estado às demandas judiciais cujo objeto é o adimplemento de prestações previstas em normas que conferem aos cidadãos algum direito fundamental social. Objetiva adequar essas pretensões às possibilidades financeiras do Estado (MATSUDA, PEREIRA e SOUZA, p. 4).
 SUBSTITUA POR CITAÇÃO INDIRETA DE OUTRO AUTOR.
De acordo com tal entendimento, o ente estatal fica adstrito a uma reserva financeira, dependendo da referida disponibilidade para efetivamente proporcionar os direitos sociais aos hipossuficientes�. Assim, a teoria da reserva do possível poderia ser utilizada como subterfúgio por parte do poder público para justificar o seu não cumprimento.
Ocorre, que a aplicação do instituto da reserva do possível não é ultimada de forma indiscriminada, pois é imprescindível a fundamentação da negativa do poder público em atender determinada política pública ou a efetivação de determinado direito social, quando evocada (LENZA, 2014). 
Cumpre evidenciar que o mínimo existencial, decorrente dos direitos sociais e diversas vezes alvo de políticas públicas, para inúmeras famílias brasileiras é a única garantia de sobrevivência digna, de forma que esta justificativa de ausência de recursos financeiros pelo ente estatal desrespeita frontalmente os princípios basilares da jurisdição brasileira de dignidade da pessoa humana e o direito à vida�. 
Por fim, conclui-se que a escassez de recursos financeiros não pode ser aceita como elucidação crível à afronta dos direitos sociais, a não ser que tenha justificação plausível, haja vista que em muitas circunstâncias verifica-se a ausência destas reservas pela sua aplicação incorreta, em razão da deficiência de estudos para se aferir o que realmente é prioritário, no que de fato deve ser investido, sem deixar de considerar a discricionariedade� do administrador público diante das ações mais urgentes. 
INCLUIR DENTRO DO TÓPICO, NO LUGAR APROPRIADO, O PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE, E EXPLICÁ-LO EM NOTA DE RODAPÉ (EM DUAS LINHAS)!
 
5.1 POSIÇÃO DOUTRINÁRIA 
No entendimento de Nathalia Masson (2016), a teoria da reserva do possível foi designada pelo Tribunal Constitucional Federal da Alemanha no século XX, na década de 70, quando se julgava ação discutindo acerca da restrição de vagas para acesso ao ensino superior de medicina. Naquela circunstância, deliberaram sobre a impossibilidade de garantir que todos os estudantes pudessem ter acesso ao ensino superior, em razão da insuficiência de recursos financeiros. 
O precedente� foi chamado “numerus clausus”�. Foi utilizado como argumento pelos estudantes o direito de todos escolherem a profissão que almejassem, conforme preceituava o artigo 12 da Lei Fundamental alemã, decidindo o Tribunal o pleito dos estudantes era razoavelmente exigível dos indivíduos interessados para com a sociedade. 
[...] “Recusou, dessa forma, a tese de que o Estado seria obrigado a criar a quantidade suficiente de vagas nas universidades públicas, para atender a todos os candidatos. Decidiu, outrossim, que o direito à liberdade de escolha da profissão, assegurado pelo texto constitucional alemão, não abrangia o direito irrestrito do cidadão de exigir vaga para o curso que escolhesse. Não seria razoável assegurar esse direito caso isso demandasse do Estado esforços tão intensos que implicassem em prejuízo para outros programas sociais ou políticas públicas” (MATSUDA; PEREIRA E SOUZA, p. 5).
SUBSTITUIR COM A CITAÇÃO INDIRETA DE OUTRO AUTOR!
 
A principal discussão do tema estava atrelada ao princípio da razoabilidade, no que diz respeito à destinação e utilização dos recursos e não especificamente à sua insuficiência. Ainda que o Estado dispusesse integralmente de fundos orçamentários, não seria crível impor uma obrigação individual, mesmo considerando-a fundamental, que não obedecesse aos limites do razoável, de modo que outros interesses fossem afastados (MATSUDA; PEREIRA E SOUZA apud OLSEN, 2008).
Hodiernamente a teoria da reserva do possível é levantada em situações que tratam de políticas públicas para a efetivação de direitos fundamentais sociais. Em tais casos o Estado justifica o não cumprimento desses direitos ou o seu cumprimento não integral por ocasião da ausência de recursos orçamentários.
 
Denise Vargas (2010, p. 373) ensina que a concretização dos direitos sociais, incluindo-se a ideia do mínimo existencial, está limitada à cláusula da reserva do possível, isto é, o Estado está restrito a existência de recursos financeiros no que tange à execução de políticas públicas que assegurem estes direitos, além de estudos referentes à qual necessidade será atendida. 
Pedro Lenza (2014, p. 347 - 348) entende que para a utilização da teoria da Reserva do Possível deve se observar o princípio da proporcionalidade da pretensão, além de se verificar a existência de reservas financeiras para a execução de referidas políticas públicas. 
Por conseguinte, a ausência de um destes elementos, isto é, a observação do princípio da proporcionalidade ou a efetiva fundamentação acerca da negatória ao cumprimento dos direitos sociais, constitui legitimidade para a intervenção do Poder Judiciário no sentido de proporcionar o acesso a estes direitos fundamentais para àqueles que deles necessitem. 
5.3 ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL 
O Supremo Tribunal Federal (2011) tem afastado o argumento da reserva do possível, por entender que o Estado não pode se eximir da obrigação de cumprir os direitos sociais, notadamente quando a situação versar a respeito do mínimo existencial, conforme se infere pela decisão� proferida pelo Ministro Celso de Mello, adiante transcrita:
“(...) A CONTROVÉRSIA PERTINENTE À “RESERVA DO POSSÍVEL” E A INTANGIBILIDADE DO MÍNIMO EXISTENCIAL: A QUESTÃO DAS “ESCOLHAS TRÁGICAS”. - A destinação de recursos públicos, sempre tão dramaticamente escassos, faz instaurar situações de conflito, quer com a execução de políticas públicas definidas no texto constitucional, quer, também, com a própria implementação de direitos sociais assegurados pela Constituição da República, daí resultando contextos de antagonismo que impõem, ao Estado, o encargo de superá- los mediante opções por determinados valores, em detrimento de outros igualmente relevantes, compelindo, o Poder Público, em face dessa relação dilemática, causada pela insuficiência de disponibilidade financeira e orçamentária, a proceder a verdadeiras “escolhas trágicas”, em decisão governamental cujo parâmetro, fundado na dignidade da pessoa humana, deverá ter em perspectiva a intangibilidade do mínimo existencial, em ordem a conferir real efetividade às normas programáticas positivadas na própria Lei Fundamental. Magistério da doutrina. - A cláusula da reserva do possível - que não pode ser invocada, pelo Poder Público, com o propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar a implementação de políticas públicas definidas na própria Constituição - encontra insuperável limitação na garantia constitucional do mínimo existencial, que representa, no contexto de nosso ordenamento positivo, emanação direta do postulado da essencial dignidade da pessoa humana.” 
Conforme decisão em epígrafe, a reserva do possível abarca a indisponibilidade de recursos financeiros, porém não pode ser invocada pelo ente estatal na tentativa de se eximir do cumprimento dos preceitos fundamentais sociais constitucionalmente garantidos. 
Neste raciocínio, é relevante trazer a evidência, a decisão da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n° 45� da lavra do Supremo Tribunal Federal (2004), prolatada anos antes do julgado colacionado precedentemente, acerca do referido tema: 
“(...)Vê-se, pois, que os condicionamentos impostos, pela cláusula da “reserva do possível”, ao processo de concretização dos direitos de segunda geração - de implantação sempre onerosa -, traduzem-se em um binômio que compreende, de um lado, (1) a razoabilidade da pretensão individual/social deduzida em face do Poder Público e, de outro, (2) a existência de disponibilidadefinanceira do Estado para tornar efetivas as prestações positivas dele reclamadas. Desnecessário acentuar-se, considerado o encargo governamental de tornar efetiva a aplicação dos direitos econômicos, sociais e culturais, que os elementos componentes do mencionado binômio (razoabilidade da pretensão + disponibilidade financeira do Estado) devem configurar-se de modo afirmativo e em situação de cumulativa ocorrência, pois, ausente qualquer desses elementos, descaracterizar-se-á a possibilidade estatal de realização prática de tais direitos.”
 Desse modo, nota-se que o Supremo Tribunal Federal há mais de doze anos tem acolhido a possibilidade de se invocar a reserva do possível�, todavia, desde que observada a necessidade de demonstrar fundamentadamente a razoabilidade da pretensão e a disponibilidade orçamentária para atendê-la.
5.4 O JUDICIÁRIO COMO GARANTIDOR DA EFETIVIDADE DOS DIREITOS SOCIAIS 
Em conformidade com o entendimento do ministro do STF, Gilmar Ferreira Mendes (2014), o artigo 5º, inciso XXXV da Constituição federal de 1988, declara ser função essencial do Poder Judiciário defender direitos violados ou ameaçados de violação, podendo ainda dirigir as ações dos demais Poderes a fim de concretizar os direitos fundamentais elencados pelo constituinte. 
O vínculo existente entre o Poder Judiciário e os direitos fundamentais leva doutrinadores� à conclusão de que é dever da função jurisdicional, desde que provocada�, garantir a máxima efetividade destes direitos, tanto no trâmite processual, quanto em suas sentenças e acórdãos, independentemente de tratar-se de direito público, privado ou estrangeiro. 
Neste sentido, nos casos em que o Estado se eximir da aplicabilidade dos direitos sociais assegurados no texto constitucional, como exemplifica-se pelo acesso à educação, saúde, lazer, habitação etc., o Poder Judiciário tem legitimidade para a correspondente efetivação, haja vista ter como função precípua a defesa de direitos infringidos ou ameaçados.
Pedro Lenza informa que o Poder Judiciário atualmente têm prolatado diversas decisões “no sentido do controle e intervenção nas políticas públicas, especialmente em razão de inércia estatal injustificável ou da abusividade governamental” (2014, p. 1197).
De acordo com Fernanda Marinela (2017), o Supremo Tribunal Federal já declarou a possibilidade de o Poder Judiciário intervir no que tange à opção e implementação de modalidades de políticas públicas, conforme ADPF nº 45, afirmando ainda caber aos governantes avaliar os meios de probabilidade de efetivação destes direitos.
Ressalta-se que o Poder Judiciário não deve interferir nas funções dos demais poderes, a menos que exista violação certa e arbitrária pelo legislador no que diz respeito à sua função constitucional, sendo a conduta mencionada cada vez mais necessária, visando garantir o cumprimento dos direitos fundamentais sociais constitucionalmente assegurados (apud KRELL, p. 359).
Portanto, o Poder Judiciário pode intervir na efetivação dos direitos transgredidos, desde que provocado, visando a garantia dos Direitos Fundamentais Sociais, conforme julgados já mencionados anteriormente, proporcionando à coletividade uma existência digna, tendo em vista ser sua função precípua garantir a equidade socioeconômica e o bem estar social.
6. CONCLUSÃO 
O objetivo do presente trabalho foi demonstrar o direito ao mínimo existencial, constitucionalmente assegurado e efetivado mediante a implementação de políticas públicas em contraposição a teoria da reserva do possível. 
Verificou-se que referido princípio se perfaz em decorrência lógica dos direitos fundamentais sociais, classificados como direitos de segunda dimensão, possuindo o escopo de resguardar o mínimo necessário à sobrevivência digna de todo e qualquer ser humano.
Constatou-se, nesta linha de raciocínio, que tal princípio possui íntima conexão com o princípio da dignidade da pessoa humana e consequentemente com o direito à vida, observando-se que a função principal do Estado é proporcionar o bem estar da coletividade, efetivando as medidas necessárias para auxiliar os desfavorecidos, em especial, na área da saúde, educação, habitação, lazer etc., a fim de alcançar a isonomia social e econômica.
Em razão desse encargo público (munus público), desenvolveu-se em contraposição a teoria da reserva do possível, a qual declara que o poder público está adstrito a uma reserva orçamentária, o que significa que depende da existência de recursos financeiros para a concretização das políticas públicas necessárias.
A decisão da efetivação das políticas públicas é incumbência do Poder Executivo, porém, caso permaneça inerte, outro Poder de Estado pode assumir uma posição ativa, apontando-se neste norte o Poder Judiciário, que desde que provocado e considerando que é o guardião da Constituição Federal de 1988, e, por consequência dos direitos e garantias fundamentais, deve agir decidindo concretamente acerca destas questões.
Bem assim, diante desta celeuma, a doutrina e a jurisprudência posicionaram-se, os estudiosos brasileiros entendem que a reserva do possível é utilizada como justificativa do não cumprimento dos Direitos Fundamentais Sociais pelo Estado por ausência de recursos orçamentários, enquanto que os tribunais pátrios admitem a evocação de referida teoria, desde que observado o princípio da proporcionalidade e devidamente fundamentada a negatória da prestação. 
O Supremo Tribunal Federal já decidiu que a referida teoria pode ser evocada, desde que a negatória seja devidamente fundamentada. Chegou-se à conclusão de que esta teoria limita os Direitos Fundamentais Sociais, infringindo frontalmente os princípios basilares da Jurisdição Brasileira de Dignidade da Pessoa Humana e o Direito à vida.
Tendo em vista a função do Estado de Direito, a teoria analisada não merece prosperar, pois a coletividade, em especial a parcela hipossuficiente, depende das atuações positivas do Ente Estatal para que os ideais de igualdade socioeconômica de toda a nação. Não sendo atendidos tais ideais de forma satisfatória pelo ente estatal, o Poder Judiciário tem legitimidade para intervir em situações que tais direitos sejam afrontados e solucionar a questão. 
1 De 4.000 a.C até o século V (tomada do Império Romano do Ocidente pelos povos bárbaros), em 476 d.C.
� Cidadão era aquele que participava das decisões políticas, dedicando-se aos negócios públicos, como observa-se na polis grega de Atenas e na cidade de Roma.
� Século V (fim do Império Romano do Ocidente) até o século XV (1453, com o fim do Império Romano do Oriente).
� Século XV ao século XVIII (1.789, com o advento da Revolução Francesa). 
� A Revolução Francesa foi um movimento deflagrado durante o Iluminismo, com o ideal de contraposição ao Absolutismo que reinava naquele momento histórico, elegendo o povo como real titular do poder (LENZA, 2014, p.68).
� Século XVIII (1789) até os dias atuais.
� As Revoluções Liberais (Revolução Inglesa, Independência das Treze Colônias e a Revolução Francesa), cada uma com suas peculiaridades, constituíram-se como marcos históricos importantes devido às grandes mudanças socioeconômicas e políticas que foram implementadas, sendo que as duas últimas se destacaram quanto a proteção dos direitos individuais.
� O Estado Absolutista corresponde à primeira versão do Estado Moderno e o Estado Liberal corresponde à segunda versão (STRECK, 2010). 
� O Estado Liberal se contrapôs ao absolutismo, estabelecendo a liberdade sem intervenção do poder político e impondo limites a este, evitando ameaças aos direitos individuais. Observa-se ainda, a separação dos poderes e o Estado de Direito (DIAS, 2011).
� Estado de Direito é aquele cujo poder é limitado pela ordem jurídica vigente, que irá dispor desde a forma de atuação do Estado, suas funções e limitações, até às garantias e direitos dos cidadãos. Dessa forma, tanto o Estado, quanto seus indivíduos estãorestritos e submetidos ao Direito. 
�A Revolução industrial foi um conjunto de mudanças que aconteceram na Europa nos séculos XVIII a XIX. A primeira etapa da Revolução Industrial, entre 1760 a 1860, ficou limitada, primeiramente, à Inglaterra. A segunda etapa ocorreu no período de 1860 a 1900, ao contrário da primeira fase, países como Alemanha, França, Rússia e Itália também se industrializaram. 
Disponível em: <http://www.sohistoria.com.br/resumos/revolucaoindustrial.php> Acesso em: 19 de novembro de 2017.
� De acordo com Reinaldo Dias (2011), estas teorias abrangiam os direitos sociais, garantia de respeito às liberdades individuais, amparo nas áreas de saúde, educação etc.
� De acordo com Reinaldo Dias (2011, p. 223 - 224) são características do Estado Social: Intervenção do Estado na economia, que tem o objetivo de manter a renda e o emprego, através da regulação do mercado e participação do Estado na sustentação de uma economia social e prestação de serviços públicos de caráter universal, como a educação, saúde, previdência social etc., garantindo um nível mínimo de atendimento à população.
� A Primeira Guerra Mundial ocorreu entre os anos de 1914 e 1918. Uma das causas que provocou a guerra propriamente dita foi o assassinato de Francisco Ferdinando, príncipe do império austro-húngaro, enquanto fazia uma visita a Sarajevo, região da Bósnia-Herzegovina, além das disputas pelo mercado mundial e pelo revanchismo pré-existente entre França e Alemanha. Disponível em: <https://www.estudopratico.com.br/primeira-guerra-mundial-resumo/>. Acesso em: 19 de novembro de 2017.
� A Constituição do México de 1917 e a Constituição de Weimar, na Alemanha, de 1919 foram as primeiras constituições sociais, conforme leciona Pedro Lenza (2014, p. 1057).
� Os direitos transindividuais são frutos da evolução da sociedade, que exigiu do legislador proteção a bens de natureza coletiva. OLIVEIRA, Marcelo Henrique Matos. Considerações sobre os direitos transindividuais. Cognitio Juris, João Pessoa, Ano I, Número 2, agosto 2011. Disponível em <http://www.cognitiojuris.com/artigos/02/06.html>. Acesso em: 17 de novembro de 2017
� Paulo Bonavides (BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, item no 6, p. 570-572) e Marcelo Novelino (NOVELINO, Marcelo.  Direito Constitucional. 2.ed. Rev. Atual. e ampl.  São Paulo: Método, 2008, p. 229) têm entendimento neste sentido.
� Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: �I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana;
� Para Pedro Lenza (2014), normas de eficácia plena correspondem àquelas de aplicabilidade direta, integral e imediata que, no momento de início de sua vigência, são capazes de produzir todos os efeitos, independentemente de qualquer outra norma infraconstitucional de caráter integrativo.
� Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]
XLVII – não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
� Referidos bens e garantias necessárias, diz respeito ao acesso à saúde, educação, moradia etc., isto é, o mínimo que um indivíduo necessita para sobreviver dignamente. 
� É função precípua do estado garantir o bem-estar da sociedade, utilizando-se de ações positivas, as chamadas políticas públicas, para alcançar esta finalidade.
� Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
� Cita-se de exemplo os programas de moradia popular, as campanhas de combate ao uso de drogas etc.
� ADI 1946/DF (ADI 1946 / DF - Relator Min. Sydney Sanches, DJ 16.05.2003).
� MONTESQUIEU, Do Espírito das Leis. São Paulo: Edições e Publicações Brasil Editora S-A, 1960.
� Nas palavras de Hely Lopes Meirelles (...) “cada órgão público é um centro de competência governamental ou administrativa, tendo funções, cargos e agentes. Compreendemos que a existência de órgãos públicos, no Brasil, com estrutura e atribuições definidas, surge em razão da lei e não do mero capricho do governante”. MEIRELES, Hely Lopes. Direito Administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2009, p.68.
� Verifica-se a aplicação das políticas públicas sociais quando, por exemplo, o Estado fornece vacinas contra determinada enfermidade em epidemia, quando são fornecidos programas habitacionais àqueles que necessitam de moradia, quando são feitas campanhas de prevenção às drogas ou de incentivo a realização de exames, dentre uma infinidade de outras medidas.
� Considera-se hipossuficiente aquele que não dispõe dos recursos financeiros necessários para se sustentar; que não é autossuficiente.
� A título de exemplo, menciona-se o caso de um grupo de indivíduos que almeja a construção de moradias populares
� Conforme entendimento da doutrinadora Ana Carolina Lopes Olsen, Direitos Fundamentais Sociais. Efetividade frente à reserva do possível. Curitiba: Juruá, 2008; p. 190-192
� Liberdade de avaliação e decisão de um órgão do que julga mais adequado para satisfazer uma necessidade regulamentada pela lei.
� Entende-se por precedente a decisão judicial prolatada em um caso concreto que pode ser utilizada como elemento normativo norteador para o posterior julgamento de casos semelhantes.  
� Locução latina que significa "número fechado”. 
� ARE 639337 AgR/SP. AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. Relator: Min. CELSO DE MELLO. Julgamento: 23/08/2011, AGTE.: MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, AGDO.: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.
� ADPF 45 MC/DF. MEDIDA CAUTELAR EM ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. Rel. : Min. Celso de Mello. Julgamento: 29/04/2004. ARGDO: Presidente da República. ARGTE: Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB.
� Cita-se os demais julgados neste sentido: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI 13.015 /2014. INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 93 DA LEI 8.213 /91. RESERVA DO POSSÍVEL. DANO MORAL COLETIVO. Tribunal Superior do Trabalho TST - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA : AIRR 10001347820135020323
REMESSA DE OFÍCIO. AÇÃO COMINATÓRIA. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. OBRIGAÇÃO DO ESTADO. OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA RESERVA DO POSSÍVEL E DA ISONOMIA. NÃO OCORRÊNCIA. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-DF - Remessa de Ofício : RMO 20130111639603
APELAÇÃO CÍVEL. ECA. TRANSPORTE ESCOLAR. DEVER DO ESTADO. DIREITO À EDUCAÇÃO. PRINCÍPIOS DA SEPARAÇÃO DOS PODERES E DA RESERVA DO POSSÍVEL. Apelação Cível Nº 70066239237, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Pedro de Oliveira Eckert, Julgado em 12/11/2015.
� Jorge Miranda, Manual, cit., p. 284; Sarlet, A eficácia, cit., p. 331
� O princípio fundamentador desta função é o princípio da inércia, que preceitua que o Poder Judiciário apenas atuará quando provocado.

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