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Apostila - Dano Ambiental

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INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO 
FACULDADE DE DIREITO DE BAURU 
NUCLEO DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O DANO AMBIENTAL E SUA REPARAÇÃO 
 
Prof. Msc. Danny Monteiro da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APOSTILA DE CURSO 
 
 
 
 
 
 
 
BAURU/SP 
2004 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
 
 p. 
SIGLAS 2 
 
I – A SOCIEDADE E O AMBIENTE 5 
 
II – O DIREITO E O AMBIENTE 13 
 
III – DANOS AMBIENTAIS 17 
 
IV – REPARAÇÃO DOS DANOS AMBIENTAIS 28 
 
V – ESTRUTURAS JURÍDICAS PARA IMPUTAÇÃO DA OBRIGAÇÃO DE 
REPARAR OS DANOS AMBIENTAIS 
 
34 
 
VI – INSTRUMENTOS JURÍDICOS AUXILIARES À REPRAÇÃO DOS DANOS 
AMBIENTAIS 
 
44 
 
ANEXO I 49 
 
ANEXO II 50 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 51 
 
 
 
 
 
 
 
 
 1 
 
 
SIGLAS 
 
 
AG/ONU Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas 
AIEA Agência Internacional de Energia Atômica 
Ap. Apelação 
BGB Bürgerliches Gesetzbuch (Código Civil da República Federal da Alemanha) 
CAM Convenções Multilaterais Ambientais 
CC Código Civil 
CDI/ONU Comissão de Direito Internacional da Organização das Nações Unidas 
CENUPE Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa 
CERCLA Comprehensive Environmental Response, Compensation and Liability Act. 
CETESB Companhia Estadual de Saneamento Ambiental 
CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear 
CF Constituição Federal da República Federativa do Brasil 
CFC Clorofluorcarbono 
CFR Code of Federal Regulations 
CITES Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna 
Selvagem em Perigo de Extinção (Convention on International Trade in 
Endangered Species) 
CIJ Corte Internacional de Justiça 
Civ. Civil 
CLC Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil por Danos Causados 
por Poluição por Óleo (Civil Liability Convention) 
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente 
COTANCE Confederation of National Associations of Tanners and Dressers 
CRAMRA Convenção sobre o Regime Jurídico das Atividades Relativas aos Recursos 
Minerais da Antártica 
CRISTAL Contract Regarding an Interim Supplement to Tanker Liability for Oil 
Pollution 
CSMP-SP Conselho Superior da Magistratura Paulista 
CWA Clear Water Act. 
DDT Diclorodifeniltricloroetano 
DES Direitos Especiais de Saque (Fundo Monetário Internacional) 
Des. Desembargador 
DJU Diário de Justiça da União 
DORJ Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro 
DOSP Diário Oficial do Estado de São Paulo 
DPVAT Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores 
de Vias Terrestres 
ECO-92 Conferencia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento 
 2 
 
EELR European Environmental Law Review 
EIA Estudo de Impacto Ambiental 
EPA Environmental Protection Agency 
EUA Estados Unidos da América 
EUROCHAMBER The Association of European Chambers of Commerce and Industry 
FDDD Fundo de Defesa dos Direitos Difusos 
FLORAN Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis 
FMI Fundo Monetário Internacional 
FNMA Fundo Nacional do Meio Ambiente 
FWPCA Federal Water Pollution Control Act. 
HNS Hazardous and Noxious Substances (Convenção sobre Transporte por Mar 
de Substâncias Tóxicas) 
HNSFund Hazardous and Noxious Substances Fund 
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis 
IDI Institute de Droit International 
ILA International Law Association 
ILC International Law Commission 
IOPCFund International Oil Pollution Compensation Fund 
IRB Instituto de Resseguros do Brasil 
ITOPF International Tanker Oil Pollution Federation 
j. Julgado em 
JTJ-LEX Repertório de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, 
Ed. Lex. 
LBA Lei de Bases do Ambiente de Portugal 
MARPOL Maritime Pollution Convention 
NASA National Aeronautics and Space Administration 
NCC Nuclear Carriage Convention 
NIMBY Not in my backyard 
OCDE Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico 
OGM Organismo Geneticamente Modificado 
OMC Organização Mundial do Comércio 
OMI Organização Marítima Internacional 
ONG Organização não-governamental 
ONU Organização das Nações Unidas 
OPA Oil Pollution Act 
OPOL Oil Pollution Liability Agreement 
PENUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente 
PERM Pool espanhol de seguros para riscos ambientais 
PLATO Liability Agreement Among Tanker Owners 
PLI Pollution Liability Insurance 
Rel. Relator 
RESP Recurso Especial 
RIMA Relatório de Impacto Ambiental 
RJ Repertorio Aranzadi de Jurisprudência 
RSTJ Repertorio de Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça 
RT Repertorio de Jurisprudência Revista dos Tribunais 
SARA Superfund Amendment and Reauthorization Act. 
 3 
 
SINUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação 
STF Supremo Tribunal Federal 
STJ Superior Tribunal de Justiça 
SUSEP Superintendência de Seguros Privados 
TCDD Tetra-cloro-benzo-paradioxina 
TJPR Tribunal de Justiça do Estado do Paraná 
TJRJ Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro 
TJRS Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 
TJSP Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo 
TOVALOP Tanker Owners Voluntary Agreement Concerning Liability for Oil Pollution 
TRF Tribunal Regional Federal 
TS Tribunal Supremo Espanhol 
UE União Européia 
URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas 
v.u. Votação unânime 
VET Valor Total Econômico 
WWF World Wide Fund for Nature 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4 
 
I 
 
 
A SOCIEDADE E O AMBIENTE 
 
 
 
 
Por ser o direito uma ciência eminentemente social qualquer estudo jurídico sobre um 
determinado assunto pressupõe um conhecimento sociológico mínimo. 
 
Daí porque, ao abordar juridicamente o dano ambiental e a sua reparação, torna-se 
imprescindível esse primeiro tópico introdutório, no qual se aborda as relações entre a 
sociedade e o meio ambiente. 
 
O objetivo desse estudo introdutório é verificar como se deu a institucionalização das 
questões ambientais no contexto social da modernidade, mostrando a evolução do 
pensamento ambiental ou ecológico. 
 
• Abordagem sócio-histórica: 
 
- Transição do período medieval para a modernidade: 
 
- Idade Média 
Característica principal: predomínio da teologia cristã: Gênese Bíblica: a 
natureza foi criada por Deus para servir o homem, mas ainda dominava o 
homem (maiores temores humanos: cataclismos, fenômenos metereológicos, 
geológicos, etc.). 
 
- Idade Moderna 
Transição: queda da influência da teologia cristã (pela reforma teocentrismo 
sede lugar para o antropocentrismo inspirado nos valores humanistas do 
renascimento e do iluminismo), ascensão da burguesia, revoluções liberais, 
surgimento da ciência moderna, revolução industrial, etc. 
Características principais: 
a) Afastamento entre o homem e a natureza: o ser humano passa a se 
comportar como senhor da natureza → o que importa é dominar a 
natureza, extraindo dela toda utilidade possível (surgimento do 
utilitarismo). 
b) Surgimento da tecnociência (método cientifico cartesiano e revolução 
industrial e tecnológica): aprofundamento acelerado do distanciamento 
entre homem e natureza, tendo por objetivos principais o progresso e o 
 5 
 
desenvolvimento, tidos como única forma de assegurar bem-estar social 
e qualidade de vida → resultado: crise ecológica atual. 
c) Meio ambiente (natureza): considerado res extensa (coisa vasta, infinita) 
apta a ser apropriada em benefício dos indivíduos. 
d) Predomínio de uma visão fragmentada da natureza incentivada pelo 
método cientifico moderno que coloca o ser humano fora da natureza e 
que ignora os processos e inter-relações existentes entre um e outro 
(noção de interdependência) → concentração apenas nas coisas e 
fenômenos (fragmentação do todo). 
e) RESULTADO: crise ecológica.OBS: A Crise ecológica é apenas uma das faces da atual crise da modernidade (crise 
social). 
 Superação da crise demanda: reflexão social sobre os problemas com vistas à busca 
de soluções e mudança nos comportamentos e na compreensão social do ambiente e 
das relações que ele mantém com o ser humano. 
 
• Teoria social da modernidade: 
 
A doutrina sociológica mais atual reconhece que o período atual é um período de crise, um 
período de transição da sociedade industrial capitalista e até mesmo da própria 
modernidade para algo que ainda esta por vir, mas que já mostra seus sinais. Os 
sociólogos ainda não chegaram a um consenso quanto à definição sociológica que melhor 
explica a sociedade atual, justamente por ser uma sociedade muito mais complexa do que 
a sociedade industrial descrita por Karl Marx (sociedade industrial de classes: proletariado 
x capitalista ou burguesia), mas visualizam mudanças nos padrões tradicionais da 
sociedade moderna1. 
 
• Ciência, sociedade e meio ambiente: 
 
A sociedade moderna assentou seus padrões e estruturas de organização sobre as 
premissas, nem sempre verdadeiras, estabelecidas pela racionalidade científica moderna 
(método científico analítico cartesiano – reducionista, mecanicista e utilitarista). Tal 
comportamento contribuiu para a crise atual. 
 
 
1 Cada autor se apega a um dos muitos diferenciais existentes nessa sociedade emergente. BAULMAN se apega à 
falta de estabilidade nos padrões de organização social e a partir daí qualifica a sociedade atual como sendo uma 
sociedade líquida; CASTELS se apega às alterações introduzidas no convívio social pelo avanço das tecnologias da 
informação e daí a qualifica como sendo a sociedade em rede; BECK, visualizando os riscos a que essa sociedade 
está exposta, a chama de sociedade de risco; SANTOS, GUIDDENS, LASH e o próprio BECK constatam que a 
sociedade tem consciência das alterações e dos perigos a que está exposta em razão dos padrões de comportamento 
que adotou durante a modernidade e, assim, constatam que essa sociedade compreende a necessidade de mudanças, 
caso queira se perpetuar e, a partir dessas premissas, esses autores preferem qualificá-la como uma sociedade 
reflexiva. 
 6 
 
Diante disso, tem-se que a crise atual coincide com a crise da racionalidade científica da 
modernidade e sua superação pressupõe um novo paradigma científico. 
 
A) O paradigma científico cartesiano: 
 
Características da racionalidade científica que predominou na modernidade (paradigma 
cartesiano): 
 
- Inspirada nas descobertas científicas dos séculos XVII e seguintes: Newton, 
Galileu, Bacon e Descartes, que idealizou o método científico cartesiano (O 
discurso do método, 1637); 
- Busca afastar-se dos dogmatismos da Idade Média e assim passa a ignorar 
outras formas de conhecimento (como o popular, social = conhecimento 
vulgar) – verdades são apenas os fatos cientificamente demonstrados com 
aplicação do método racional; 
- Separação entre ser humano e natureza (o ser humano já não faz parte da 
natureza, está acima dela, é seu senhor e deve dominá-la para dela extrair 
toda espécie de benefício possível). A natureza passava a ser esmiuçada, 
delineada e aprimorada pela ciência e estaria destinada sempre a servir e 
satisfazer as vontades e caprichos humanos na consecução e realização de 
um desejado estado de bem-estar social. 
- As idéias que fundamentam a observação e a experimentação científica são 
idéias claras e simples que permitem um conhecimento mais profundo e 
rigoroso da natureza. Essas idéias são sempre demonstradas e expressas 
matematicamente. 
- Para essa racionalidade conhecer significa quantificar. O rigor científico se 
afirma pelo rigor das medições. As qualidades intrínsecas dos objetos são 
desqualificadas e em seu lugar passam a imperar as quantidades, em que 
eventualmente se podem traduzir; nesse contexto, o que não é quantificável, 
é cientificamente irrelevante; 
- O método científico se assenta na redução da complexidade (reducionismo). 
O mundo é por demais complicado para que a mente humana possa 
compreendê-lo. Em virtude desse fato, para conhecê-lo, torna-se necessário 
dividir e classificar o objeto de análise, para depois poder determinar 
relações sistemáticas entre o que se separou; 
- É um conhecimento causal que aspira à formulação de leis, à luz de 
regularidades observadas, com vista a prever o comportamento futuro dos 
fenômenos. Trata-se de uma ciência voltada para a construção das “leis 
universais da natureza”. Esse conhecimento baseado em leis tem como 
pressuposto a idéia de ordem e de estabilidade do universo, a idéia de que o 
passado se repete no futuro; 
- privilegia o “como funciona” das coisas, em detrimento do “porque 
funciona” e “para que funciona”; 
 7 
 
- De acordo com a Mecânica teorizada por Newton, o mundo da matéria é 
uma máquina, cujas operações podem ser determinadas exatamente através 
da formulação de leis físicas e matemáticas: mecanicismo; 
- forma de conhecimento, que se pretende utilitário e funcional, reconhecido 
menos pela capacidade de compreender o mundo real do que pela 
capacidade de dominar e transformar. 
 
Crise da racionalidade científica moderna → a própria ciência demonstrou que algumas 
premissas estabelecidas por essa racionalidade não eram verdadeiras. 
 
- Einstein: demonstrou que não simultaneidade total, apenas relativa (teoria da 
relatividade); 
- Heisemberg e Bohr: demonstraram que não há precisão absoluta, pois há 
interferência do observador no objeto observado; 
- Godel: nem sempre há rigor nas fórmulas matemáticas utilizadas para 
construir as leis da natureza que fundamentam todo o pensamento 
cartesiano; 
- Prigogine: demonstrou que tudo no universo tende a um equilíbrio dinâmico 
e que esse equilíbrio é mantido mediante complexos sistemas de auto-
regulação e auto-organização, que se valem de processos de 
interdependência para se efetivarem. Tudo está interligado, portanto, cada 
elemento da rede está sujeito à influência direta dos demais elementos2. 
 
A crise da racionalidade científica leva à substituição do método científico, inspirado no 
paradigma cartesiano pela ciência das totalidades, inspirada no paradigma sistêmico 
(ecológico, processual, holístico) visualizado mais claramente a partir das descobertas de 
Prigogine. 
 
B) O paradigma científico sistêmico: 
 
Características do novo paradigma cientifico: paradigma sistêmico: 
 
- Deixa de se concentrar nas partes ou nos fenômenos isolados como fazia o 
método analítico cartesiano (afasta-se do reducionismo) e passa a se 
concentrar nas interações, inter-relações e nos processos, reconhecendo a 
interdependência entre os fatos e os fenômenos, até então ignorada pela 
racionalidade cartesiana. 
- O universo passa a ser compreendido como um todo integrado, uma rede 
interligada onde cada elemento influencia e é influenciado pelos demais: 
 
2 Os três primeiros demonstraram as falhas do método cartesiano, enquanto o último, corrigindo as falhas, apontou 
para uma nova direção, uma nova forma de compreensão cientifica. 
 8 
 
idéia de dinamismo incessante e renovador, já que “a natureza não se repete” 
(afasta-se do mecanicismo). 
- Essa nova visão colabora para que o ser humano reconheça que não está 
acima ou fora da natureza, pelo contrário, ele integra a natureza (prega o 
retorno do ser humano à natureza) e se relaciona de forma interdependente 
com ela; 
- Noção de interdependência: a humanidade depende do meio em que se 
insere, do mesmo modo que o meio (ambiente) depende dos 
comportamentos humanos para manter-se íntegro; 
- Predomina o “por que funciona?” e o “para que funciona?” e não só o 
“como funciona?”. 
 
B.1) Expressão teórica doparadigma sistêmico: Hipótese Gaia, elaborada por James 
Lovelocke na década de 1960. (Gaia → Deusa Grega da Terra). 
 
Principais aspectos da teoria de Lovelocke: 
- Planeta Terra é visto como um imenso ser vivo – verdadeiro sistema aberto 
auto-regulador, ou seja, busca o equilíbrio dinâmico, onde as variáveis 
flutuam dentro de determinados limites mínimos e máximos, além dos quais 
a vida seria impossível. 
- Gaia tem, portanto, a capacidade de permanecer em condições compatíveis 
com a perpetuação do conjunto de referência e, assim, garantir a 
continuidade da vida na biosfera. 
- Enquanto sistema, Gaia, ou seja, o Planeta Terra, sofre constante influência 
e pressão dos fatores e elementos que a compõem (aí incluídas as sociedades 
humanas) e dependendo dessa influência ou pressão ela poderá, visando se 
re-equilibrar, sofrer adaptações sistêmicas que podem inviabilizar a 
continuidade da vida na Terra. 
- Essa teoria inspira o surgimento dos movimentos sociais ecológicos na 
década de 1960, que em sua grande maioria se fundamentam nos ideais da 
deep ecology ou ecologia profunda. 
 
• A crise ecológica: 
 
Das idéias propostas pela Hipótese Gaia emergiu a compreensão de que atualmente se 
vive sobre a crise ecológica. Isto porque nos últimos séculos os comportamentos humanos 
se pautaram mais pela insensatez do que pela prudência. 
 
A crise ecológica corresponde à apropriação e ao uso irracional do ambiente, que provoca 
o esgotamento e escassez dos recursos naturais e diminuição nos padrões de bem-estar e 
qualidade de vida. 
 
 9 
 
A constatação da crise ecológica se dá com publicação do Relatório Brundtland (livro 
editado pela PNUMA/ONU como título “Nosso futuro comum”), que foi documento 
preparatório para a realização da Convenção das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e 
Desenvolvimento (Rio de Janeiro, 1992). 
 
O relatório concluiu que seria necessária uma mudança urgente no comportamento 
humano, sob pena de se interferir de forma determinante no equilíbrio sistêmico do 
planeta o que poderia acarretar a extinção da humanidade (auto-extermínio), pois os 
comportamentos insensatos criaram riscos ecológicos que podem desembocar em 
catástrofes apocalípticas (aquecimento global, poluição generalizada do ar e da água, 
esgotamento dos solos, diminuição da biodiversidade, etc.). 
 
Constatação de que, pelo menos sob a ótica ecológica, a sociedade atual configura-se 
como uma sociedade de risco. 
 
• A sociedade de risco 
 
Teorizada por Ulrich Beck 
 
Diferença entre perigos e riscos. Os perigos têm causas naturais enquanto os riscos têm 
causa humanas 
 
Característica: período da história humana marcado pela criação exponencial e 
generalizada de riscos, especialmente no âmbito ambiental. Ela denota 
também a falibilidade da racionalidade científica tradicional (cartesiana). 
 
A sociedade de risco ainda é uma sociedade industrial, mas está além da descrição 
tradicional de Marx. 
 
Principais diferenças entre a sociedade industrial tradicional 
 e a sociedade industrial de risco 
Sociedade Industrial Tradicional 
(Karl Marx) 
Sociedade Industrial de Risco 
(Ulrich Beck) 
1 – Estruturada em classes sociais. 1 – Extrapola a noção de classe (efeito 
bulmerang). 
2 – Preocupação: distribuição não só dos 
“goods”, mas também dos “bads”. 
2 – Preocupação: distribuição dos 
“goods”. 
3 – Predominância dos perigos naturais. 3 – Predominância dos riscos de ordem 
tecnológica (humanamente criados). 
 
Riscos atuais: risco das alterações climáticas, da catástrofe nuclear, dos efeitos da 
alteração genética dos organismos, além dos riscos que ainda são socialmente ignorados. 
 
 10 
 
Principal característica da sociedade de risco para o presente estudo: nela ocorre a inserção 
da variável ambiental no rol das grandes preocupações sociais, mesmo que de forma lenta 
e gradual. 
 
OBS: a sociedade de risco é uma sociedade eminentemente reflexiva, já que diante dos 
riscos a sociedade se modifica e se reinventa (lado positivo do reconhecimento social dos 
riscos) para enfrentar a nova realidade e evitar o surgimento de novos riscos (precaução e 
prevenção). Esse aspecto da teoria é alvo de críticas (SANTOS, B e DI GIORGI). 
 
Influência do reconhecimento social dos riscos: 
 
- Crescimento exponencial dos conflitos no interior dessa sociedade. Ex: 
setores poluidores e os setores prejudicados pela poluição. 
- Influências na esfera pública: surgimento do Estado-previdência: 
indenização, seguros e garantias; 
- Influências na esfera privada: setor de seguros torna-se um big business. 
 
Uma característica marcante da sociedade de riscos: o reconhecimento social dos riscos 
continua na dependência dos experts (especialistas) da ciência e, portanto, sujeito à 
falibilidade, vaidade e desejos humanos, bem como aos juízos pessoais desses 
profissionais. 
 
Síntese das características da sociedade de risco: 
 
Beck sintetiza as características e peculiaridades da sociedade de risco em três conceitos: 
 
A) Irresponsabilidade organizada: a tentativa das forças políticas e econômicas 
atuantes no interior da sociedade de encobrir a existência, a origem e as 
conseqüências dos riscos, com intuito de (I) eximir toda culpa e responsabilidade 
(atribuir tudo ao acaso) (II) limitar, controlar, desviar eventuais protestos oriundos 
do reconhecimento social dos riscos (para tais forças é mais importante aceitar e 
correr os riscos). 
 
B) Estado de Segurança Industrial: manifestado na produção da segurança como 
fenômeno sociológico com os quais a sociedade trata os perigos que ela mesma 
criou. Decorre da constatação de que os institutos tradicionais da sociedade 
meramente industrial (especialmente o aparato normativo e o sistema de 
responsabilidades) já são capazes de lidar com os riscos atuais, demandando novos 
instrumentos (seguros, fundos pra reparação de danos, etc). 
 
C) Explosividade social dos perigos: manifestada na debilidade da aparência de 
tranqüilidade e normalidade que acarreta a neurose da insegurança. Decorre do 
crescente reconhecimento de que o aparato institucional é incapaz de lidar com os 
 11 
 
riscos, perigos e suas conseqüências. Crescimento dos conflitos entre diversos 
setores dessa sociedade. 
 
 Nessa sociedade predominam especialmente os riscos ambientais. 
 
• Síntese da evolução da compreensão social do ambiente no decorrer da modernidade: 
 
A) Antropocentrismo-utilitarista: 
 Ser humano se coloca num patamar superior à natureza e adota uma postura onde é o 
centro de suas próprias preocupações: valoriza apenas a capacidade de uso humano dos 
recursos naturais; 
 
B)Deep ecology ou ecologia profunda: 
 Influência da construção científica da Hipótese Gaia, que inspirou o surgimento dos 
movimentos ambientalistas. Adoção do biocentrismo; reconhecimento da 
interdependência existente entre todos os elementos que integram o meio, inclusive o ser 
humano; valorização da capacidade de auto-regulação, capacidade de auto-regeneração e 
capacidade funcional ecológica dos elementos ambientais. Sacralização da natureza: o 
todo é mais importante que os elementos que o compõem. Críticas ao radicalismo: atribui 
direitos à natureza, imponíveis ao ser humano, podendo gerar o sacrifício do bem dos 
indivíduos. 
 
C) Antropocentrismo alargado: 
 Síntese (fusão) das compreensões anteriores. Proteção da natureza é interesse 
humano; não só em termos de utilidade econômica, mas também em razão do bem-estar e 
da qualidade de vida que pode proporcionar. Não se atribuem direitos à Natureza, mas 
deveres ao ser humano. Considera a globalidade dos fatores relacionados com o meio 
ambiente, desde a capacidade de aproveitamento humano dos recursos ambientais até a 
capacidade funcional ecológica desenpenhada pelos elementos da natureza.12 
 
II 
 
 
O DIREITO E O AMBIENTE 
 
 
 
 
• Função primordial do Direito: ordenar as relações sociais → com leis e sanções 
organizar a sociedade, proporcionando a segurança indispensável para o convívio 
social harmonioso. 
 
• Direito Ambiental: ramo revolucionário → função ordenar não só as relações entre os 
indivíduos do corpo social, mas também entre os indivíduos que compõem o corpo 
social e o meio ambiente. 
 
• Surgimento do Direito Ambiental na sociedade de risco: 
 
- Sociedade de risco: aumento exponencial dos riscos, possibilidade de dano 
irreversível e de auto-extermínio e sensação de insegurança 
social. 
 
→ Influências em todos os ramos da ciência, inclusive na ciência jurídica. 
 Direito passa ter a função de gerir/administrar a produção de riscos → o 
que implica medidas de prevenção e precaução → impõe a prudência nos 
comportamentos e ações humanas como forma de garantir o convívio 
harmonioso para as gerações presente e futuras. 
 
- Direito Ambiental → resposta social às contradições ecológicas e às contingências 
da época contemporânea (modernidade). 
 
→ Tendo em vista que a principal característica da sociedade de risco é a 
inserção da variável ambiental no rol das grandes preocupações sociais 
(fenômeno recente: aproximadamente 4 décadas). 
 
➘ Marca: a doutrina considera o ponto inicial do Direito Ambiental em 
1972 – Convenção das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente Humano, 
realizada em Estocolmo (Suécia) em 1972. 
 
➘ Objetivo do Direito Ambiental: ordenar as relações sócio-ambientais em 
benefício do próprio ser humano (antropocentrismo alargado). 
 
 13 
 
➘ Para cumprir tais objetivos toma o ambiente como bem jurídico de 
caráter universal (coletivo/difuso) e institui o direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado como direito fundamental da humanidade, 
relacionado diretamente a outros direitos fundamentais de alta relevância, 
tais como o direito à vida, à saúde, à integridade física, etc. 
 
• O meio ambiente como bem jurídico: 
 
Bem jurídico com determinadas capacidades e funções próprias: 
- capacidade de uso humano; 
- capacidade funcional ecológica (manutenção do equilíbrio sistêmico); 
Îque incluí: - capacidade de auto-regulação; 
 - capacidade de auto-regeneração; 
 
 Proteção jurídica ambiental para ser completa deve contemplar todos os itens acima 
enumerados (conceito de meio ambiente enquanto bem jurídico deve ser globalizante 
→ abrangente). 
 
 Conceito jurídico de meio ambiente: o conjunto que comporta toda a natureza original 
ou artificial, bem como os bens culturais (paisagens, patrimônio histórico-cultural) 
correlatos. O conceito contempla, portanto, todos os elementos aptos a proporcionar 
bem-estar e qualidade de vida para o conjunto da humanidade. 
 
 O conceito de ambiente deve contemplar não só os bens ambientais em si, mas também 
todas as interações e inter-relações entre os elementos que compõe (abordagem 
sistêmica → noção de rede de interdependência → “teia da vida”). 
 
 Isto porque o ambiente é considerado um todo unitário e incorpóreo. 
 
 Assim, o meio ambiente é juridicamente considerado como “macrobem jurídico”: 
- é distinto dos bens corpóreos que o compõe; 
- é um bem inapropriável, indisponível e indivisível; 
- que apresenta titularidade difusa, a qual se projeta para o futuro e atenta para a 
qualidade de vida de toda a coletividade, aí incluídas as gerações vindouras. 
Ao lado do macrobem tem-se o “microbem ambiental” → estes sim, são os elementos 
ambientais individualmente considerados. A princípio, os microbens são apropriáveis, 
mas não com exclusividade, já que essa parte diminuta compõe o todo, implicando 
responsabilidades para o proprietário que deverá sempre atentar para a função sócio-
ambiental de sua propriedade. 
 
• O meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental da 
humanidade 
 
 14 
 
Qualificação do meio ambiente como direito fundamental fenômeno recente. 
 
Principais texto jurídicos que contemplam tal assertiva: 
 
- Princípio 1° da Declaração sobre meio ambiente humano, firmada em 
Estocolmo/1972. 
- Brasil: art. 225 da Constituição Federal; 
- Outras constituições recentes trazem disposições semelhantes: Portugal, Espanha, 
Chile, Argentina. 
- Convenção de Aarhus (Dinamarca/2000) → “Convenção internacional sobre acesso 
à informação, participação pública e acesso à justiça em questões ambientais” → 
Adotada por 35 países e a União Européia. 
 
A inserção do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado parte do 
pressuposto de que há uma intrínseca desse direito com o exercício de outros direitos 
reconhecidamente fundamentais, tais como o direito à vida, à saúde. 
 
Enquanto direito fundamental apresenta titularidade coletiva/difusa 
 
• Fundamentos para uma ciência jurídica do meio ambiente 
 
Aspectos relevantes: - considerar o caráter intergeracional da proteção do meio ambiente; 
- objetivo manutenção e conservação, o que implica precaução e 
prevenção; 
- como todo sistema normativo funda sua efetividade na 
responsabilidade e na possibilidade de sanção. 
 
Por suas próprias características e objetivos o Direito Ambiental, apesar de também se 
pautar pela legislação pertinente e pela responsabilidade jurídica decorrente de eventuais 
afrontas a essa legislação, assenta-se numa responsabilidade diferenciada. Uma 
responsabilidade nova: ética e alargada. 
 
- ética: coloca o ser humano como guardião da natureza e das 
gerações futuras; 
 
- alargada: volta-se para o futuro (não para o passado como a 
responsabilidade tradicional). Essa responsabilidade não procura 
os culpados pelas ações passadas. Ela antecipa a definição das 
pessoas solidariamente envolvidas, antecipando também, desse 
modo, a imputação das obrigações decorrentes de suas 
atividades. 
 
 15 
 
Essa responsabilidade se alicerça em princípio de Direito Ambiental internacionalmente 
reconhecidos. 
 
• Princípio essenciais para a tutela jurídica do meio ambiente 
 
Vários princípios: - nascem nas declarações internacionais sobre meio ambiente 
(principalmente Estocolmo/72 e Rio de Janeiro/92), já que 
decorrem de textos/instrumentos denominados soft law pelo 
Direito Internacional. 
- em razão desse fato têm carga normativa pequena. Aliás, não são 
coercitivos enquanto não expressos em Tratados Internacionais 
(hard law) ou na legislação interna dos Estados; 
- virtudes: orientam as legislações e se incorporam nela 
gradualmente. “A soft law de hoje pode ser a hard law de 
amanhã”. 
- mesmo se integrando a documentos jurídicos de maior carga 
coercitiva sua eficácia dependerá sempre da impregnação social 
de seu conteúdo normativo (Teoria da ação comunicativa de 
Habermas). 
 
Alguns desses princípios são essenciais: 
1) custódia coletiva (criação doutrinária recente – ainda não expresso em textos 
jurídicos, mas mostra-se como mera decorrência lógica da abordagem científica 
feita sob auspícios do paradigma sistêmico ou ecológico); 
2) Princípio da cooperação: expressão limitada da custódia coletiva; 
3) Princípio da precaução: quando não se conhece os possíveis efeitos de 
determinado ato deve-se agir com cautela; 
4) Princípio da prevenção: quando se conhece alguns efeitos nefastos decorrentes 
de determinada atividade deve-se procurar a todo custo neutralizá-los ou evitá-
los; 
5) Princípio da responsabilidade ambiental; 
6) Princípio do poluidor-pagador (expressão material – econômica – do princípio 
da responsabilidade ambiental)3. 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 Para maiores detalhes sobre os Princípio de Direito Ambiental consultar: MACHADO, Paulo Affonso Leme. 
Princípios de direito ambiental internacional e a políticaambiental brasileira. Revista de Informação Legislativa. 
Ano 30, n. 118, p. 207-218, abr./jun. 1993. 
 16 
 
III 
 
 
 
DANOS AMBIENTAIS 
 
 
• Dano Ambiental → o ideal é sempre evitá-lo, priorizando a precaução e a prevenção. 
 
• Construção do conceito jurídico de dano ambiental: 
 
Teoria do interesse: dano é toda lesão a interesse (juridicamente) protegido. 
Teoria dos fatos jurídicos: só serão considerados juridicamente relevantes os 
acontecimentos considerados relevantes segundo a 
ideologia e a ética dominante num determinado 
período histórico. 
 
DANO (AMBIENTAL): lesão a um interesse juridicamente protegido, desde que essa 
lesão seja jurídica e socialmente relevante para o 
paradigma predominante num determinado período 
histórico. 
 
DANO AMBIENTAL → o direito protege o meio ambiente (ex. art. 225 da CF). 
Apesar disso, nem toda alteração (prejudicial) ao 
ambiente do ponto de vista ecológico será considerado 
um dano jurídico (tolerância social à certas alterações). 
 
• O dano ambiental: construção social de um conceito jurídico. 
 
- Dano Ambiental: 
 
1 – Recai diretamente sobre os elementos que compõem o ambiente ou sobre as inter-
relações existentes entre tais elementos; 
2 – Pode, ainda, atingir bens, direitos ou interesses individuais. 
 
- A definição do dano ambiental varia de acordo com a inserção social do meio 
ambiente: 
1 - Nos ordenamentos jurídicos que consideram o ambiente como 
bem autônomo de caráter coletivo o conceito de dano ambiental 
será mais abrangente e poderá ser configurado como dano 
inclusive aquela lesão que não afete interesses individuais (é o 
caso do direito brasileiro, que adota as premissas do 
antropocentrismo alargado); 
 17 
 
2 – Nos ordenamentos onde o conceito de ambiente é mais restrito, 
relacionando-se mais diretamente com o ser humano, o conceito 
será mais restrito, ou seja, só haverá dano se algum indivíduo 
sofrer um prejuízo em seu patrimônio ou em sua integridade física 
ou moral em decorrência de uma lesão ao meio ambiente (é o caso 
do direito alemão, que adota as premissas do antropocentrismo 
puro – ou utilitarista). 
 
- A definição de “meio ambiente” e a conseqüente compreensão do que poderá ser 
considerado um “dano ambiental” está sob constante influência do contexto social 
em que se insere e sofre influência dos 4 axiomas fundamentais da modernidade 
identificados por Boaventura de Souza Santos: 
 
1 – Hegemonia da racionalidade científica (tecnociência); 
2 – O papel da propriedade privada e do uso proprietário (limitação versus 
ilimitação – individualismo); 
3 – O papel do Estado e as políticas governamentais; 
4 – Crença no progresso como única solução para os problemas globais. 
 
- Mais recentemente agrega-se a esse rol um quinto elemento: a sensibilidade 
humana em relação à natureza. 
 
1 – A hegemonia da racionalidade científica: a racionalidade científica toma a natureza 
como objeto de investigação humana, com intuito de conseguir extrair dela o 
máximo de utilidade e benefício para o ser humano. Trouxe benefícios, mas 
contribuiu para a crise ecológica. Apesar de suas contradições, essa racionalidade 
continua sendo considerada a única fonte segura para determinar, em tempos de 
crise ecológica, o que pode ser considerado ou não um distúrbio ambiental; 
2 – Propriedade privada e uso proprietário: (i) estimula o individualismo e estende-se 
sobre tudo (a princípio, tudo pode ser apropriado); (ii) durante muito tempo o 
proprietário tudo podia em sua propriedade em detrimento dos efeitos sociais de 
suas condutas (limitações são recentes = função sócio-ambiental da propriedade); 
3 – Estado moderno: seja liberal ou providência (welfare-state) → contribui para a 
crise ecológica de acordo com as políticas governamentais adotadas (políticas de 
pleno emprego, de moradia, de expansão comercial, etc, por exemplo, contribuem 
para aumentar a pressão sobre os recursos naturais). Por outro lado, o Estado 
moderno (ressalvado o socialista) sempre foi o grande garante do direito de 
propriedade, além de ser também proprietário e empreendedor → esse Estado 
vive o dilema de uma contradição: deve proteger e estimular a proteção do meio 
ambiente ao mesmo tempo em que tem cumprir outras tarefas de cunho social e 
econômico e assim torna-se fonte e destinatário da legislação ambiental que 
muitas vezes deixa de cumprir (mau exemplo); 
 18 
 
4 – Progresso: a sociedade moderna inspirada pela racionalidade científica e pelos 
ideais liberais adotou o progresso, baseado no aprimoramento da 
produção/consumo e no desenvolvimento econômico como solução para todos os 
seus problemas, ignorando outros fatores indispensáveis para o bem-estar social e 
para qualidade de vida dos indivíduos; 
5 – Sensibilidade humana em relação ao meio ambiente: fenômeno recente (surgiu 
aproximadamente na década de 1960); materializa-se na acentuação da 
preocupação social com o ambiente. É um fator cultural, portanto, variável de um 
lugar para o outro (não é homogêneo), até porque em todos os lugares há uma 
tolerância social para algumas lesão ambientais (do ponto vista ecológico) e esse 
grau de tolerância varia de comunidade para comunidade, de acordo com os 
valores culturais de cada uma. 
 
- A diversidade de interferências influencia e prejudica a construção de um conceito 
único (universal) para o dano ambiental. O conceito de dano ambiental trata-se de 
um conceito inacabado, em constante construção. 
 
• A delimitação jurídica do conceito de dano ambiental 
 
- Inicialmente eram considerados danos ambientais apenas aqueles danos às pessoas 
ou coisas causados por interferência no meio ambiente (doutrina francesa). 
 
- Evolução: o dano ao meio ambiente passou a abranger também o dano ao meio 
ambiente em si considerado, enquanto bem público (de uso comum do povo) afeto 
a interesses difusos. 
 
• Amplitude do conceito de dano ambiental 
 
- Deve englobar a totalidade de bens interesses que se pretende proteger dessa 
categoria de lesão. 
- Pode ser: autônomo ou reflexo. 
 
• Dano ambiental autônomo: aquele desvinculado de prejuízo pessoal, individual e 
privado (diferentemente de como o dano é tradicionalmente concebido). Decorre do 
caráter público do bem ambiental. 
Deve ser reparado independentemente dos danos individuais → essa reparação decorre 
da necessidade de se preservar a qualidade do ambiente. 
Pode ser: dano ecológico puro; 
 dano ao meio ambiente artificial ou culturalmente concebido. 
 
- Dano ecológico puro: 
 
Dois critérios para sua definição: 
 19 
 
 
- naturalístico: afeta os recursos bióticos e abióticos existentes na natureza e 
as interações existentes entre eles; 
 
- operativo: tudo o que não é dano individual causado por meio do ambiente. 
 
 Obs: para a doutrina (SENDIM) o mais adequado é conjugar os dois critérios. 
 
 Não recai sobre os bens culturais, já que a proteção tem fundamentos diferentes. 
 
No dano ecológico puro visa-se proteger a capacidade funcional ecológica e de 
aproveitamento humano dos recursos naturais. 
No dano aos elementos humanos do meio ambiente objetiva-se a proteção da 
qualidade de vida e do bem-estar do ser humano (não tem caráter ecológico). 
 
- Dano ao meio ambiente artificial ou culturalmente concebidos: 
 
São os danos aos elementos ambientais humanos (paisagens, patrimônio histórico, 
turístico, cultural, etc). 
 
Objetivo da tutela: resguardar valores humanos relacionados a estes bens: qualidade 
de vida e bem estar. 
 
Decorre do caráter unitário/integrado do meio ambiente. 
 
Obs: o caráter público do dano ambiental não implica, necessariamente, na titularidade 
estatal para a proteção do meio ambiente (o ideal é a titularidade coletiva). 
 
• Dano ambiental reflexo (dano individual ambientalou dano ambiental em ricochete): 
tem caráter pessoal, individual e privado, já que afeta interesses pessoais e patrimoniais 
dos indivíduos como conseqüência de uma lesão ambiental. 
 
É preciso considerar, entretanto, a existência de lesões que afetem o meio o ambiente 
sem afetar interesses privados. 
 
Trata-se de um dano conectado com o meio ambiente, mas é, na verdade, um dano 
individual tradicional. Nele o meio ambiente é mero percurso causal do dano 
(enquanto que no dano ambiental autônomo o meio ambiente é o objeto do dano). 
 
• Extensão da lesão decorrente do dano ambiental: 
 
Determinar em que medida essa categoria de dano atinge os interesses juridicamente 
tutelados (determinar a extensão dos prejuízos sofridos). 
 20 
 
 
A extensão do dano compreende 2 dimensões: 
1 – aspecto material da lesão; 
2 – aspecto imaterial (moral ou extrapatrimonial) da lesão. 
 
- Dano ambiental material: 
 
Atinge: o patrimônio natural, os componentes ambientais humanos e os interesses 
pessoais e patrimoniais dos indivíduos. 
 
- Dano ambiental imaterial: 
 
- Diz respeito à sensação de dor experimentada ou conceito equivalente; 
- Engloba todo prejuízo de ordem imaterial ou extrapatrimonial (afeta valores de 
ordem espiritual, ideal ou moral); 
- Extrapola a concepção meramente econômica da lesão; 
- Atinge interesses imateriais individuais e sociais ou coletivos (afeta valores 
sociais de ordem ética e cultural); 
- Quanto aos valores sociais atingidos, corresponde ao novíssimo conceito de dano 
moral social, elaborado pela doutrina (brasileira, inclusive) e já acolhido em 
diversos precedentes jurisprudenciais e pela legislação brasileira (ver art. 1º LACP 
– Lei da Ação Civil Pública – Lei Federal n° 7.347/85); 
- Objetiva, sobretudo, proteger o direito fundamental ao meio ambiente sadio e 
equilibrado; 
- Sua demonstração costuma ser presumida de acordo com a gravidade da lesão 
(isto porque às vezes concreta desse tipo de lesão). Responsabilidade geralmente 
arbitrada; 
- Reconhecido também na jurisprudência Argentina e no Direito Internacional no 
caso da Sandóz na região da Basiléia Suíça. 
- O dano ambiental imaterial de caráter social (coletivo) pode ser: 
 
1 – Danos sociais vinculados ao meio ambiente: 
- corresponde à privação pela não fruição coletiva regular do meio 
ambiente degradado; 
- diferente dos lucros cessantes, que se inserem na dimensão material 
da lesão de caráter individual; 
- previsto na legislação dos EUA, no Brasil não há previsão legal e 
sequer precedente jurisprudencial, mas a doutrina é favorável. 
 
2 – Lesão ao valor intrínseco do ambiente: 
- corresponde ao valor de existência ou valor moral/ético do ambiente; 
- vincula-se à necessidade de proteção do meio ambiente → tendo em 
conta que o meio ambiente equilibrado é indispensável para 
 21 
 
manutenção dos níveis ótimos para a manutenção da vida (com 
qualidade, dignidade e bem-estar); 
- as pessoas atribuem naturalmente um valor de existência aos 
elementos ambientais pela sua mera existência (inclusive pagariam 
para a conservação de determinados bens ambientais); 
- decorre da irreversibilidade ecológica do dano, já que a natureza não 
se repete, sendo que o mesmo o patrimônio cultural restaurado - o 
bem recuperado não é mais o mesmo, é apenas semelhante; 
- desprezar o valor intrínseco é negar proteção aos elementos 
ambientais mais afastados do acesso humano (talvez 
desconhecidos), além de se continuar incidindo na confusão 
moderna entre “valor” e “riqueza” (Ver Renato C. Cordeiro); 
- No Brasil não há legislação e nem jurisprudência a respeito, mas a 
doutrina é favorável; 
- No direito comparado: há previsão expressa na legislação dos EUA e 
reconhecimento jurisprudencial no Poder Legislativo da Costa Rica 
(protetorado estadunidense) – caso Commonwealth of Puerto Rico 
vs. SS Zoecollotroni4; 
 
 
• Características especiais do dano ambiental reparável: 
 
- O dano ambiental foge da visão clássica (tradicional) de dano; 
 
 De acordo com a compreensão tradicional do dano, todo dano deve cumprir certos 
requisitos ou apresentar certas características para que possa surgir a 
responsabilidade e a imputação da obrigação de reparar. Tais características são: 
 
 
 
- dever ser um dano certo; 
 - que afete um vítima concreta (pessoa identificável); 
 - e alguns autores acrescentam que deve ser um dano direto. 
 
De fato, o dano individual ambiental (dano ambiental reflexo) cumpre tais 
requisitos, mas em se tratando de dano ambiental autônomo nunca haverá 
pessoalidade e às vezes também não haverá o requisito da certeza. 
 
Além dessas peculiaridades, o dano ambiental, em razão de suas próprias 
peculiaridades, exige muitas vezes para sua configuração a existência de outros 
 
4 Como refere SENDIM (1998, P. 191), “na espécie tratava-se da indenização dos danos provocados por um derrame 
de crude à fauna e à flora numa floresta de mangrove desabitada e com grande interesse ecológico. O Tribunal do 
First Circuit of Appeals notou – citando o § 311 do FWPCA – que na impossibilidade (técnica ou devida a 
desproporcionalidade) de recuperação in situ do recurso atingido, a indenização poderia consistir na aquisição de 
terrenos destinados a parques públicos ou na reflorestação de uma zona semelhante à atingida”. 
 22 
 
aspectos: anormalidade (noção de tolerância social a determinadas lesões 
ecológicas), periodicidade (especialmente no caso de danos progressivos) e 
gravidade do prejuízos (também relacionada à tolerância social a determinadas 
lesões). 
 
- Dano incerto: quanto à pessoalidade e quanto às próprias lesões decorrentes desse 
dano; 
 
Existem sérias dificuldades quanto à prova de existência de uma infinidade de 
lesões ambientais: dificuldades de várias ordens, especialmente em razão do caráter 
difuso das fontes poluidoras ou degradantes e dos efeitos de sinergia e cumulativos; 
 
A certeza do dano depende de diversos fatores, tais como vigência de normas 
jurídicas que o definam, peritagens científicas e tecnológicas que o atestem e 
também dos avanços das ciências. 
 
Com relação ao dano ambiental a certeza será sempre relativa e dependerá da 
valoração probatória. 
 
- Relevância social e tolerância ao dano ambiental: 
 
Toda atividade humana é maio ou menos poluente do ponto de vista ecológico. 
Assim, nem toda alteração ecológica resultante dessas atividades pode ser 
considerada dano ambiental, sob pena de se engessar a humanidade. 
 
O dano ambiental só existirá se das alterações ecológicas resultarem conseqüência 
ou efeitos relevantes para a ordem social. 
 
Problema: como determinar o grau ou nível de tolerância: 
- As catástrofes ambientais são facilmente identificadas, mas representam 
a menor parcela dos danos ambientais que podem ocorrer; os danos 
menos espetaculares são mais freqüentes e muitas vezes passam 
despercebidos; 
 
Aspectos relacionados com a determinação da relevância social da lesão: 
 
1 – Gravidade: será grave quando resultar na transposição do limite de absorção 
inerente aos seres humanos e ao meio natural; 
2 – Anormalidade: quando resultar em perda da capacidade funcional ecológica 
e/ou da capacidade de aproveitamento humano do elemento ambiental 
danificado: alteração física ou química; 
3 – Periodicidade: quando persistir por tempo suficiente para a produção da lesão 
(mais relacionado ao dano progressivo, decorrente dos efeitos de sinergia ou 
 23 
 
cumulativos de substâncias que a princípio seriam inócuas para o meio ou para 
os seres humanos). 
 
Obs: muitas alterações ecológicas que potencializam o uso humano do meio 
ambiente não são consideradas dano, outros impactos são típicos da vida em 
sociedade. 
 
Geralmente: 
- Danoindividual: anormalidade de manifesta quando ultrapassa os 
meros incômodos e passam a prejudicar as pessoas; 
- Dano autônomo: deverá respeitar padrões (estabelecidos 
normativamente) de emissão. Assim, a emissão dentro dos padrões 
definidos seria mero incomodo inerente à vida em sociedade; 
 
Observações quanto à fixação de padrões de emissão de poluentes: 
- O estabelecimento de padrões obedece a critérios sócio-jurídicos baseados em premissas 
técnicas e científicas. 
- No Brasil a emissão mesmo dentro dos padrões também pode causar danos reparáveis 
No Brasil o cumprimento do licenciamento e dos padrões de emissão não excluí a 
responsabilidade em caso de dano. 
- A adoção de padrões também é característica da legislação dos EUA, da Espanha e da 
Itália, além do Brasil. 
- Em algumas legislações o mero desrespeito aos padrões implica em penalidades para os 
infratores, mas se os padrões forem cumpridos e ocorrer dano, tal fato pode excluir a 
responsabilidade, como é o caso da Espanha. 
- Outras legislações exigem além do desrespeito aos padrões à ocorrência concreta do 
dano para impor qualquer responsabilidade (Direito Ambiental Alemão) 
- A fixação de padrões não resolve todos os problemas: muitas vezes os efeitos de sinergia 
não considerados. 
 
- Impessoalidade do dano ambiental 
 
É tipicamente um dano difuso: diversos afetados e diversos causadores (muitas 
vezes é um dano anônimo, no qual não há como se exigir a pessoalidade, seja ela 
passiva seja ativa, sob pena de se inviabilizar a reparação). 
 
• Hipóteses ou fatores especiais do dano ambiental 
 
Trata-se de um dano afeto a fatores espaciais e temporais. 
 
 
 
 
 24 
 
- O dano ambiental no espaço: 
 
Trata-se de uma categoria de dano que não respeita fronteiras e repartições de 
competência humanamente estabelecidas. Não tem limites espaciais quanto aos seus 
efeitos. 
Trata-se do dano ambiental transfornteiriço (ex. danos às águas de um rio 
internacional, onde a fonte de dano fica num Estado e os efeitos degradantes se dão em 
outro) do dano ambiental extrateritorial (ex. quando os efeitos do dano se dão em 
áreas que não estão sob a soberania de nenhuma Estado, como o alto-mar ou a 
Antártica). Essa categoria de dano ambiental é regulada pelas normas de Direito 
Internacional. 
 
- O dano ambiental no tempo: 
 
Os danos tradicionais geralmente decorrem de um acontecimento único ocorrido num 
momento determinado. Já o dano ambiental pode ser (e geralmente é) gradativo, ou 
seja, se prolonga no tempo, seja com relação as suas causas seja com relação aos seus 
efeitos. 
Tal aspecto impõe algumas dificuldades com relação à demonstração do nexo causal 
para imputação da obrigação de reparar os danos, na identificação do responsável e 
também para a imputação da obrigação de reparar. 
 
Relaciona-se com o passado e com futuro. 
 
˜Futuro: relativo aos efeitos do dano. 
 
Impõe a perspectiva de uma responsabilização sem dano efetivo e concreto, onde 
não há possibilidade de indenização, mas a imposição de uma obrigação de cessar 
ou adequar determinada atividade potencialmente danosa (previsão legal nos 
ordenamentos dos EUA, Portugal, Alemanha, Brasil). 
 
O dano ambiental futuro é um prolongamento inevitável de uma conduta atual, nele 
há alta probabilidade científica de que o dano irá se manifestar. Pode ser: 
 
1 – Danos progressivos: advém dos efeitos de sinergia ou cumulativos decorrentes 
de vários agentes ou substâncias. É impossível determinar com exatidão quem deu 
causa (ex. mudança climática); 
 
2 – Danos potenciais: refere-se ao risco de dano. Liga-se às possibilidades e 
probabilidades (rompe com os pressupostos tradicionais do dano: certeza, 
atualidade, etc.). Seu reconhecimento parte da constatação de que certas atividades 
arriscadas, mais cedo ou mais tarde, desemboca em danos, caso não sejam 
corrigidas ou adequadas a tempo. Liga-se às noções de precaução e prevenção. Está 
 25 
 
previsto na legislação dos EUA e existem precedentes na jurisprudência da Espanha 
e da Argentina, bem como Convenção Lugano (Convenção européia sobre 
responsabilidade por danos ao meio ambiente). No Brasil não há previsão legal e 
nem manifestação jurisprudencial a respeito. 
 
˜Passado: relaciona-se às causas do dano. 
 
Seu reconhecimento objetiva a internalização das externalidades negativas geradas 
no passado → vulgo passivo ambiental (ex. solo poluído no passado). 
 
Danos causados no passado → efeitos progressivos → que se manifestam na 
atualidade. 
 
Seu reconhecimento implica em dificuldades relacionadas com o instituo da 
prescrição5, da irretroatividade da lei6 e com a identificação da fonte poluidora (que 
pode não existir mais ou, existindo, não ter como arcar com a reparação). 
 
OBS: o caráter progressivo dessa categoria de dano causado no passado, mas que 
ainda apresenta efeitos atuais, demanda soluções rápidas e adequadas, já que tais 
danos, em razão da própria progressividade que lhes é peculiar, tendem a se agravar 
no tempo. 
Solução: CETESB → identificação e recuperação das áreas degradadas: solução 
norte-americana – Superfund. 
 
O dano passado pode ser: 
 
1 – Dano histórico: causado no passado, na ausência de leis ambientais ou sobre 
leis menos rígidas. Primeiro passo para solução do problema dos danos históricos é 
identificação das áreas afetadas para depois buscar a melhor forma de reparação. 
Nesses danos a causa é passada, mas os efeitos são atuais, não cessam. A princípio 
estariam cobertos pela prescrição e pela irretroatividade das normas. 
 
2 – Danos acumulados ou crônicos: denotam uma capacidade de persistência e 
agravamento. Divide-se em: 
Danos permanentes: atividade única com efeitos ao longo do tempo sem 
possibilidade de solução com as técnicas atuais (crônico). 
 
5 José Rubens Morato Leite argumenta que a prescrição é instituto jurídico de Direito Privado que não se adapta ao 
caráter público do meio ambiente, assim, sua aplicação em caso de danos ambientais autônomos deveria ser vista com 
ressalvas. 
6 Especialmente porque a maioria da legislação mais antiga previa uma responsabilidade civil subjetiva (baseada na 
culpa) que prejudica a efetiva reparação do dano ambiental. O tempo decorrido entre o efeito e causa da lesão não 
permite demonstra a culpa de maneira exata e concreta, dificultando a imputação da responsabilidade. 
 26 
 
Danos progressivos: é causado continuamente e seus efeitos tendem a se agravar 
continuamente. 
 
Observações: 
- Com relação aos danos passados alguns autores defendem aplicação da analogia 
com o direito penal, em que vige o princípio da estrita legalidade e admite a 
aplicação da lei nova aos crimes permanentes, especialmente quando a ação é 
continuada7. 
- Em verdade a reparação dos danos passados dificilmente se deixa tutelar pela 
responsabilidade civil tradicional. Demandam novos instrumentos e mecanismos 
jurídicos, tais como os fundos de compensação ecológica. 
 
• Comparação sumária entre as diversas categorias de dano ambiental: 
 
- Danos reflexos (individuais) idêntico ao dano tradicionalmente concebido pela 
ciência jurídica. 
- Danos autônomos representam inovação. Demanda novas formas de tutela para 
reparação, já que os instrumentos jurídicos tradicionais são insuficientes diante de 
suas peculiaridades próprias. 
- Aspectos espaciais e temporais dos danos ambientais também demandam 
adaptações nas estruturas jurídicas de imputação da obrigação da reparar os danos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 A respeito dos crimes permanentes, FRAGOSO (1986, p. 108) assinala que “nos crimes permanente a ação se 
protrai, com a permanência do resultado antijurídico. Neste caso, aplica-se a lei nova, pois sob seuimpério continuou 
sendo praticada a ação. A solução é mesma para o crime continuado e para o crime habitual. Em nenhum caso, 
porém, serão considerados os atos praticados na vigência da lei anterior”. 
 27 
 
IV 
 
 
 
 
REPARAÇÃO DOS DANOS AMBIENTAIS 
 
 
 
Objetivo: restituição integral (ou o mais próximo possível disso), uma vez que os 
objetivos da tutela ambiental são a manutenção e a conservação da qualidade do meio 
ambiente. 
 
A experiência demonstra que mesmo quando se prioriza a precaução e a prevenção o 
dano ambiental pode ocorrer. Daí a importância de saber como lidar com ele quando 
ele se concretizar. 
 
A dificuldade da reparação dessa categoria reside no fato de que o bem lesado nunca 
será verdadeiramente restabelecido, do ponto de vista ecológico (mas também no 
aspecto cultural). 
 
Essa dificuldade (inviabilidade de alcançar o objetivo almejado) não exclui a 
reparabilidade do dano (sob pena de esvaziar o conteúdo jurídico-sancionatório das 
normas ambientais). 
 
A reparação é a materialização do princípio do poluidor-pagador e deve ser o mais 
integral possível, independentemente de seu valor econômico (se o lucro não é 
limitado, a responsabilidade pela reparação também não deve ser). Além disso a 
reparação é o principal efeito da responsabilidade civil. 
 
Reparação deve ser total → integral: deve contemplar todos os aspectos relacionados 
ao dano, sejam eles materiais ou imateriais (cada dimensão do dano terá sua forma 
mais apta de reparação), contemplando ainda aspectos repressivos e preventivos. 
 
A prioridade do sistema de reparação é o retorno ao status quo ante ao dano ambiental. 
 
 
• Formas de reparação do dano ambiental: 
 
- Reparação do dano ambiental material: 
 
 
A reparação do dano ambiental material pode ser: 
 28 
 
 
1 – Restauração natural; 
2 – Indenização econômica. 
 
1 – Restauração natural: 
 
É opção fundamental do sistema de reparação de danos ambientais. Tal fato é um 
consenso nos diversos ordenamentos jurídicos de tutela ambiental [Brasil (art. 225 
da CF e art. 14, I da Lei nº 6.938/81), EUA, Portugal, Espanha, Itália, Alemanha e 
em diversas convenções e tratados internacionais]. Isto porque na tutela jurídica do 
meio ambiente a conservação está sempre em primeiro lugar enquanto a 
compensação das vítimas fica num segundo plano. 
 
O sistema de reparação do dano ambiental não admite transação entre o responsável 
e as vítimas, pois se tratando de um dano público, impõe a prevalência do princípio 
da restauração natural, mais apto para satisfazer o interesse público tutelado. 
Mesmo porque existe uma série de dificuldades que impossibilitam a avaliação 
econômica exata do valor de um bem ou elemento ambiental, especialmente quanto 
à determinação do valor de sua capacidade funcional ecológica (considerada 
inestimável). 
 
Em se tratando de restauração natural o princípio da reparação integral pode ser 
aplicado de forma relativa, sofrendo, em alguns casos, certas limitações pela 
aplicação do princípio da proporcionalidade (entre o dano e a reparação) e tendo em 
vista a própria dinâmica do meio ambiente, bem como sua capacidade de auto-
regeneração. 
 
Pelo princípio da proporcionalidade busca-se verificar as possibilidades jurídicas do 
caso concreto, mediante elaboração de projeto prévio de reparação (de caráter 
interdisciplinar) contendo a identificação das alternativas, a escolha da melhor 
alternativa e a identificação dos limites da restauração natural. 
 
Assim, estabelece-se um proporcionalidade entre: 
adequação / necessidade / proporcionalidade em sentido estrito (custo) 
Decorre daí que: 
- entre duas alternativas: a menos custosa (relação custo/benefício); 
No entanto, a limitação nunca será o valor da avaliação do bem ambiental lesado. 
No Brasil não existem limitações formais para a reparação. 
 
A restauração natural divide-se em duas formas: 
 
1.1 – restauração ecológica ou recuperação in natura; 
 1.2 – compensação ecológica. 
 29 
 
 
1.1 – Restauração ecológica ou recuperação in natura: 
- É a forma mais completa de reparação (reintegra o meio ambiente), 
recuperando todas as suas funções e capacidades; 
- Consiste numa obrigação de fazer (atividade é recompor o ambiente ou cessar 
o exercício de alguma atividade lesiva); 
- Previsão normativa: Brasil, Portugal, EUA, Alemanha, Convenção Lugano, 
etc. 
- Em determinados casos pode não se mostrar como a melhor forma de 
reparação, em razão da própria dinâmica do meio ambiente. 
 
1.2 – Compensação ecológica: 
- Quando não for viável (economicamente) ou for desnecessária a restauração 
ecológica integral; 
- Corresponde não à reintegração, mas a substituição do bem ou elemento 
lesionado por outro equivalente, com intuito de buscar uma situação ao menos 
semelhante àquela anterior ao dano; 
- Surgiu do reconhecimento jurisprudencial: EUA, Brasil, Portugal e Porto 
Rico. 
- Previsão normativa: EUA, Convenção Lugano, Portugal, Suíça, Brasil (Lei 
9.985/2000 - SNUC) e também no Projeto de Código Ambiental Alemão. 
- Seus fundamentos, enquanto forma de reparação do dano ambiental, decorrem 
do caráter global e unitário (sistêmico) do meio ambiente. Pressupõe-se que o 
dano a uma parte consiste num dano ao todo e recuperação ou melhore de uma 
parte acarreta melhoria global da totalidade. Baseia-se na idéia de equivalência: 
considerar todas as funções e capacidades do meio ambiente. 
- Pode ser: qualitativa (recupera apenas determinadas capacidades e funções) e 
quantitativamente proporcional (todas as capacidades e funções, mas 
parcialmente). 
 
2 – Indenização e compensação econômica: 
 
Sempre a última alternativa ou hipótese (caráter residual), especialmente em razão 
da dificuldade de se atribuir valor econômico aos bens ou elementos ambientais. Só 
se aplica na impossibilidade da restauração natural. 
 
Obs: no Brasil o valor da indenização é revertido para o Fundo de Defesa dos 
Direitos Difusos (art. 13 da Lei Ação Civil Pública, Lei n° 7347/85). 
 
 
 
 
 
 30 
 
- Avaliação econômica da lesão ambiental: 
 
Apesar das dificuldades a ciência econômica desenvolveu alguns métodos para 
avaliar os bens ou elementos ambientais, bem como as lesões que eventualmente 
venham a recair sobre eles. 
 
Importância do cálculo: 
 
ƒ Analisar a proporcionalidade das medidas de restauração; 
ƒ Compensar os usos humanos afetados pelo dano; 
ƒ Permitir a compensação pecuniária quando inviável a reparação 
natural. 
 
Existem diversas metodologias: Qual a mais adequada? 
 
 estão 
 meio 
 
8
f
a
M
 
 
- Nenhuma é exata, ou seja, todas oferecem resultados aproximados, já que
sujeitas a distorções, pois se fundamentam em aspectos hipotéticos. 
- As avaliações econômicas consideram sobretudo as utilidades humanas do
ambiente lesado, ignorando as capacidades e funções ecológicas. 
- Para uma avaliação mais rigorosa impõe-se saber o status ex ante e ex post do local 
afetado. 
- Métodos de avaliação: 
 
Fórmula genérica criada pela economia ambiental: 
 
 
 
 
 
 
 valor valor valor valor 
econômico = de + de + de 
total (VET) USO OPÇÃO EXISTÊNCIA
Onde: 
 
O valor de uso é aquele atribuído ao meio ambiente pelas pessoas que fazem uso 
efetivo e atual dos recursos ambientais; Pode ser direto (o meio é o fornecedor direito 
dos recursos) ou indireto (quando o meio é o receptor de rejeitos ou emissões). 
 
O valor de opção, também chamado valor de uso futuro8, por sua vez, relaciona-se 
com o risco da perda dos benefícios que o ambiente proporciona às gerações atual ou 
futura; 
 
 Aqui reside o primeiro fator que impossibilita o cálculo exato do valor total dos bens ambientais, pois o valor de uso 
uturo será sempre calculado com base em valores atuais, jáque é impossível prever o valor de uso que será atribuído 
 um bem ambiental pelas gerações futuras e mesmo pela geração atual, daqui a alguns poucos anos. Nesse sentido, 
ONTIBELLER-FILHO, 2001, p. 104. 
31 
 
O valor de existência é um valor intrínseco presente na natureza, independentemente 
de sua relação com os seres humanos não sendo associado a nenhum uso atual nem 
futuro; 
 
 Dificuldade: estimar corretamente os três componentes do VET. 
 
- Métodos de avaliação dos componentes do VET: 
 
 Temos metodologias: 
 
 1 – Diretas: 
 - Avaliação contingente: pesquisa num mercado hipotético para saber as preferências 
individual dos consumidores. Quanto eles pagariam por 
determinado bem ambiental ou quanto estariam dispostos a 
pagar para conservá-lo. 
 
 2 – Indiretas: 
 - Diferencial de produtividade: retira-se um elemento ambiental do processo 
produtivo de algum produto para ver a diferença no preço 
final do mesmo; 
 - Preço hedônico: relacionado com a propriedade (qualidade ambiental de um 
determinado lugar); 
 - Custo de deslocamento: (custo de viajem para dispor de um determinado bem 
ambiental); 
 - Custo/benefícios: para os afetados (semelhante à avaliação contingente, só que 
restrita aos afetados pelo dano); 
- Tarifação: tabela de tarifas estabelecida normativamente; 
 
Apesar da inexatidão dos resultados obtidos as metodologias de cálculo arroladas 
acima dotam os envolvidos de mecanismos aptos a apurar, ao menos 
aproximadamente, os valores atribuíveis à aos efeitos da lesão e/ou aos bens 
ambientais danificados. 
 
- Reparação do dano ambiental imaterial: 
 
Também decorre do princípio da reparação integral 
 
Obedece ao mesmo sistema empregado para reparação do dano material: 
 Î restauração in natura > compensação ecológica > indenização. 
 
Envolve: danos extrapatrimoniais individuais e coletivos (sociais). 
 
 32 
 
1) danos morais coletivos: relacionados ao direito fundamental a um meio 
ambiente equilibrado e sadio; 
2) danos sociais vinculados ao meio ambiente: perda relativa à não fruição 
adequada (normal) do ambiente lesionado; 
3) dano ao valor intrínseco do meio ambiente: dano ao valor de existência do 
bem ambiental. 
 
- Nos dois primeiros casos → indenizar a perda do valor de uso e do valor de opção 
(lembrar da dificuldade de avaliação). Melhor forma: recomposição ao status quo 
ante do bem danificado acrescida de uma indenização relativa ao tempo necessário 
para a recuperação da lesão, período em que não houve a fruição do bem e do 
direito fundamental relacionado a ele. Na impossibilidade de recomposição ao 
status quo ante apenas indenização (em caráter subsidiário) → previsão formal no 
ordenamento jurídico Alemão, na Diretiva da Comunidade Européia sobre 
Responsabilidade Ambiental, no ordenamento jurídico dos EUA. 
O valor das indenizações geralmente é arbitrado. 
 
- Com relação ao dano ao valor intrínseco: 
Trata-se de um aspecto do bem ambiental que se encontra totalmente fora do mercado: 
não presta utilidade direta ao ser humano, sendo, por esse motivo, muito mais difícil de 
ser avaliado. 
A solução mais adequada para reparação desse aspecto imaterial do dano: compensar a 
sociedade pela perda do valor intrínseco → compensação ecológica, consistente em 
melhorar a qualidade global do meio ambiente como um todo. 
Jurisprudência: - direito comparado → United States vs. Board of Trustee of Florida 
Community College. 
 - direito brasileiro → MP/SC vs. Habitasul (Florianópolis: Jurerê 
Internacional). 
 
No Brasil: não há óbices para acumulação de condenações: natureza jurídica 
diferentes. Possibilidade de cumulação em casos de danos de grandes magnitudes. 
Existem precedentes jurisprudências: cumulação obrigação de pagar e fazer: TJRS e 
TJPR. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 33 
 
V 
 
 
 
 
ESTRUTURAS JURÍDICAS PARA IMPUTAÇÃO DA OBRIGAÇÃO 
DE REPARAR OS DANOS AMBIENTAIS 
 
 
 
 
 
O sistema jurídico para imputação da obrigação de reparar os danos ambientais trata-se 
do resultado de um processo de adaptação por que passaram as estruturas jurídicas de 
imputação de obrigação de reparação tradicionalmente vinculadas ao direito civil e ao 
direito internacional público. 
 
No direito civil adaptaram-se os seguintes institutos jurídicos: sistema de proteção dos 
direitos de vizinhança, sistema de proteção dos direitos inerentes à personalidade e o 
sistema de responsabilidade civil. 
 
No direito internacional adaptou-se a responsabilidade internacional. 
 
Direitos de vizinhança: • 
 
- Instrumento muito antigo (desde a antigüidade, já estava presente no direito 
romano); 
 
- Consiste em limitações aos direitos dos proprietários sobre a propriedade, cujo 
objetivo é evitar que as propriedades se aniquilem → torna possível a convivência 
social; 
 
- Regula as relações entre proprietários/possuidores vizinhos para evitar que 
utilização da propriedade por seu proprietário não acarreta danos aos demais 
proprietários; 
 
- É uma forma apta para lidar, sobretudo, com o dano individual ambiental (dano 
ambiental reflexo que recai sobre os microbens ambientais), mas acaba protegendo 
também, mesmo que de forma indireta, o macrobem ambiental de caráter coletivo; 
 
- Está previsto expressamente no Código Civil brasileiro (e em outros tais como o 
alemão, o português, etc.); 
 34 
 
- Permite ao proprietário/possuidor exigir que o vizinho cesse uma atividade que seja 
danosa à sua propriedade/posse e às pessoas que nela habitam ou permaneçam; 
 
- Noção de tolerância: são tolerados os meros incômodos inerentes ao convívio 
social. Os limites de tolerância coincidem com os limites do abuso de direito; 
 
- Adaptações no instituto: alargamento nos conceitos de emissão e de vizinho; 
 
- Principal característica: desde o direito romano não demanda a comprovação da 
culpa (funda-se numa responsabilidade objetiva → baseada na conduta do agente e 
não em sua culpabilidade); 
 
- Entre os danos ambientais tutelados pelo direito de vizinhança destacam-se: ruídos 
excessivos, trepidações, mal cheiros, odores, emissão de gases ou qualquer forma 
de energia, etc. 
 
- Pontos positivos: abre as portas do Judiciário aos indivíduos (proprietário ou 
possuidores) colaborando para o aprofundamento da cidadania ambiental, mesmo 
que estrita e indireta. 
 
- Pontos negativos: caráter preventivo reduzido; só serve ao proprietário/possuidor 
(ignora os aspetos coletivos e sociais que relacionam a propriedade privada ao meio 
ambiente → função sócio-ambiental da propriedade). Geralmente protege apenas as 
utilidades humanas vinculadas ao meio ambiente e não o meio ambiente em si 
(especialmente sua capacidade funcional ecológica). Geralmente também não serve 
como instrumento de proteção dos elementos ambientais humanos (patrimônio 
cultural, histórico, turístico (paisagens), etc.); 
 
- Em síntese: colabora para o sistema de tutela ambiental e de imputação da 
obrigação de reparar os danos ambientais. 
 
 
Direitos inerentes à personalidade • 
 
- Os direitos subjetivos (pessoais) dos indivíduos podem ser de dois tipos: 
 
1 – Destacáveis da pessoa de seu titular: propriedade, crédito, etc. 
2 – Não destacáveis da pessoa de seu titular: direito à vida, à saúde, à 
integridade física, à liberdade, ao próprio corpo, ao nome, etc. 
 
 Os não destacáveis estão ligados à pessoa de forma perpétua e permanente. 
São inalienáveis, intransmissíveis, imprescritíveis e irrenunciáveis. 
 
 35 
 
- São direitos mais recentes, mas também são anteriores à constatação social da crise 
ecológica. Foram previstos inicialmente nas Declarações de Direitos Humanos 
oriundas das Revoluções Liberais do século XVIII e estão expressos na Declaração 
das Nações Unidas sobre Direitos Humanos, adotadaem 1948. 
Trata-se de uma construção doutrinária incorporada pelos Estados em seus 
ordenamentos jurídicos somente a partir do final do século XIX (Código Civil 
Português, Alemão e Suíço foram pioneiros). No Brasil somente passaram a constar 
expressamente na legislação com o advento do Código Civil de 2002 (O CC de 
1916 era omisso, apesar da doutrina nacional reconhecer tais direitos de forma 
unânime). 
 
- Fundamento para tutela ambiental Inovação surgida na jurisprudência do Tribunal 
Supremo Italiano que reconheceu que “o direito a salubridade ambiental é 
indispensável para a saúde e para uma vida humana digna, bem como para o 
desenvolvimento da personalidade humana”. 
 
- Limitações a sua utilização: protege apenas as utilidades humanas vinculadas ao 
meio ambiente e não o meio ambiente em si (especialmente sua capacidade 
funcional ecológica). Também não serve como instrumento de proteção dos 
elementos ambientais humanos (patrimônio cultural, histórico, turístico (paisagens), 
etc.). 
 
- No entanto, não como negar que seu reconhecimento colabora para a tutela do meio 
ambiente, já que possibilita a ação individual irrestrita, ajudando a desenvolver e 
aprofundar a cidadania ambiental (ação individual – subjetiva). 
 
 
Responsabilidade civil: • 
 
- Objetivos: compensar o prejuízo sofrido pela vítima. Baseia-se num princípio 
(geral de direito) de justiça distributiva. 
 
- Evolução: da vingança privada à responsabilidade legal; Atualmente predominam 
duas categorias de responsabilidade: 
 
1 – responsabilidade subjetiva: funda-se na culpa do agente; 
2 – responsabilidade objetiva: funda-se no risco da atividade do agente. 
 
- Responsabilidade ambiental como expressão do princípio poluidor-pagador: 
 
A responsabilidade no Direito Ambiental não busca apenas indenizar a 
vítima, mas, sobretudo, adequar as atividades humanas potencialmente 
poluídoras às necessidades de preservação e conservação ambiental; 
 36 
 
No Direito Ambiental a responsabilidade tem como intuito incluir o custo da 
degradação ambiental nas contas do processo de produção/consumo. Essa 
responsabilidade surge, então, como um instrumento apto a corrigir 
distorções no sistema de produção/consumo e no mercado, os quais tendem a 
ignorar os custos da degradação (objetivo aumentar a mais-valia = lucro); 
 
A responsabilidade ambiental tem duas virtudes: 
 
1 – incentivar a preservação: desenvolvimento de tecnologias limpas; 
2 – estimular a precaução e a prevenção: diminuir e gerenciar os riscos. 
 
Î Para atingir esses objetivos essa responsabilidade precisa, 
necessariamente, ser mais estrita = objetiva, ou seja, deve ser uma 
responsabilidade fundada no risco, a qual considera apenas a 
conduta do agente e não sua culpabilidade. 
 
- Responsabilidade objetiva na tutela do dano ambiental: 
 
ƒ Responsabilidade objetiva: tutela primeiro o risco e depois o dano. 
Seu objetivo é, sobretudo, evitar o surgimento do risco inerentes 
ao período atual (sociedade de risco → riscos in controláveis da 
era tecnológica industrial); 
ƒ Fundamento: quem se beneficia de atividades potencialmente 
arriscadas para a sociedade deve arcar com os ônus sociais dessa 
atividade; 
ƒ A responsabilidade objetiva se adapta melhor às peculiaridades do 
dano ambiental (incerteza, impessoalidade, etc.), o qual demanda 
mecanismos de imputação que não dependam da demonstração 
inequívoca da culpa (sempre muito difícil de ser demonstrada 
nessa categoria de danos); 
ƒ A responsabilidade objetiva já incide sobre atividades 
potencialmente perigosas há muito tempo; 
ƒ Entretanto, existem modelos mais ou menos rígidos de 
responsabilidade objetiva. Os mais rígidos não consideram a 
periculosidade da atividade, mas sim a importância do bem 
tutelado (no caso o meio ambiente). No Brasil a responsabilidade 
objetiva em matéria ambiental fundamenta-se na importância do 
bem tutelado (Art. 225 CF e art. 14, I, Lei nº 6.938/81). 
ƒ Os modelos de responsabilidade objetiva diferenciam-se pela 
amplitude de seu alcance, determinado pelas limitações que os 
ordenamentos jurídicos adotam. Podem ser limitações de âmbito 
material, temporal e de acordo com a teoria do risco adotada como 
fundamento [já que a teoria (risco integral ou risco criado) 
 37 
 
influencia de forma determinante as para a demonstração do nexo 
causal, que poderão mais ou menos rígidas], bem como pela 
adoção ou não de determinadas causas excludentes da 
responsabilidade. 
 
 
- Limitações da responsabilidade objetiva: 
 
ƒ Limites decorrentes da teoria do risco adotada e de seus reflexos na prova do nexo 
causal: 
 
- Duas teorias: risco criado (mais limitada) e risco integral (mais ampla); 
 
- Teoria do risco integral (sem restrições): 
 
- Baseia-se na ”conditio sine quo nom” e num princípio de solidariedade, 
que impõe a equivalência solidária das condições; 
- Qualquer conduta que possa ser considerada causa será reputada condição 
do evento, determinando que todas as condições respondam igualmente pela 
reparação total da lesão; 
- Não se discute entre causas primárias/secundárias ou concausas → todas 
são consideradas causas; 
- É de certo modo injusta, mas apresenta, indiscutivelmente, maior 
efetividade prática quando se trata de dano ambiental, já que com a 
utilização dessa teoria fica mais fácil demonstrar o nexo causal, 
imprescindível para determinação do responsável; 
 
 
- Teoria do risco criado: 
 
- Apenas as condutas que potencialmente podem ter desencadeado o 
resultado danoso; 
- Baseia-se na teoria da “causalidade adequada” → que entre diversas causas 
busca aquela(s) mais adequada(s) para terem produzido o dano; 
- Cada causa responde de acordo com a sua parcela de participação no 
resultado danoso; 
- Estabelece diferenças entre concausas e causas primária/secundária; 
- De certo modo, é mais justa, entretanto, em se tratando de danos 
ambientais apresenta menor efetividade prática (a discussão sobre quais as 
causas determinantes pode se estender indefinidamente no tempo sem que 
descubra a causa mais adequada, especialmente nos casos de poluição 
difusa); 
 
 38 
 
No Brasil não há uma definição quanto à teoria adotada para fundamentar a 
responsabilidade objetiva. A doutrina adota a teoria do risco integral. A 
jurisprudenciais ainda é oscilante, sendo possível encontrar julgados onde se adotou as 
duas teorias, apesar de existir uma tendência maior para a teoria do risco criado. 
 
Na jurisprudência do direito comparado predomina a teoria do risco criado → 
Espanha, Alemanha, Itália e Portugal. 
 
Nos Estados Unidos o legislador criou um sistema denominado “responsabilidade 
legal”, onde a lei determina o responsável de forma específica (canalização da 
responsabilidade). No Brasil esse sistema é utilizado em algumas hipóteses, tal como 
no caso das pilhas e baterias, dos pneus, das embalagens de agrotóxicos e do operador 
de instalações ou depósitos de lixo radiativo. Esse sistema evita discussões acerca do 
nexo de causalidade. Trata-se de situações de responsabilidade agravada. 
 
A doutrina brasileira defende adoção de um regime misto, baseado no bom senso: 
aplica-se primeiro a teoria do risco criado com a causalidade adequada; se não for 
possível demonstrar o nexo causal, aplica-se o a teoria do risco fundada nas conditios 
sine quo nom e na equivalência solidária das condições; 
 
Além disso, existem outros instrumentos aptos para facilitar a demonstração do nexo 
de causalidade, tais como a realização prévia do inquérito civil na ação civil pública 
(caso específico do Brasil) e a inversão do ônus da prova. 
 
 
ƒ Limites de âmbito material para aplicação da responsabilidade objetiva: 
 
Define-se por dois critérios: 
1 – aplica-se a todos os danos ambientais (caso do Brasil: Art. 225 CF e Art. 14,

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