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A teoria do patrimonio minimo e a dignidade da pessoa humana

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LEXMAX - rEvistA do AdvogAdo 85
PATRIMÔNIO MÍNIMO E BEM DE FAMÍLIA: O PAPEL DA JURISPRUDÊNCIA DO 
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA NA AMPLIAÇÃO DA PROTEÇÃO 
À ENTIDADE FAMILIAR
Ana Caroline Gouveia Valadares¹ 
 
RESUMO
	 O	presente	artigo	é	pautado	na	análise	contemporânea	do	direito	civil,	com	base	na	releitura	civil-constitucional	que	estabelece	
uma	visão	principiológica	dos	instrumentos	civilistas,	sobretudo,	no	que	diz	respeito	ao	direito	das	obrigações.	Neste	contexto,	a	dignidade	
da	pessoa	humana	passa	a	ser	o	norte	interpretador	das	relações	jurídicas,	com	a	estrita	observância	aos	princípios	da	boa-fé	objetiva	
e	da	função	social	do	contrato.	No	estudo,	foi	dado	enfoque	ao	instituto	do	bem	de	família	e	a	sua	impenhorabilidade	prevista	em	lei,	a	
qual	possui	profunda	relevância	na	seara	jurídica	obrigacional,	uma	vez	que	é	um	artifício	que	visa	à	proteção	da	dignidade	da	família	do	
devedor,	em	caso	de	ocorrer	a	sua	insolvência.	Nesse	sentido,	foi	analisada	a	doutrina	de	Luiz	Edson	Fachin	a	respeito	do	estatuto	jurídico	
do	patrimônio	mínimo,	corroborando	com	a	necessidade	de	existência	do	bem	de	família.	O	instituto	em	questão	foi	observado	a	partir	de	
sua	gênese	de	seu	tratamento	no	ordenamento	jurídico	brasileiro,	indo-se	da	legislação	à	aplicação	do	direito,	passando	a	estudar	a	figura	
do	Superior	Tribunal	de	Justiça	(STJ)	como	responsável	pela	uniformização	da	legislação	infraconstitucional,	com	enfoque	na	ampliação	
interpretativa	que	foi	dada	a	esse	dispositivo,	conferindo	maior	efetividade	na	proteção	à	entidade	familiar.	A	metodologia	utilizada	foi	a	
análise	doutrinaria	e,	sobretudo,	jurisprudencial.
Palavras-chave:	patrimônio	mínimo.	constitucionalização.	bem	de	família.	direito	das	obrigações.	Superior	Tribunal	de	Justiça.
ABSTRACT
	 The	present	article	is	ruled	by	the	contemporary	analisys	of	the	civil	law,	based	on	the	civil	and	constitutional	reinterpretation,	
which	estabilishes	a	principiological	vision	of	civil	instruments,	specially	on	the	subject	of	contract	law.	In	this	context,	the	dignity	of	the	
human	being	turns	out	to	be	the	interpretative	north	of	juridical	relations,	under	the	strict	observance	of	the	principles	of	objective	good	
faith	and	social	function	of	the	contract.	The	focus	of	this	survey	is	the	homestead	and	its	immunity	from	seizure,	stipulated	by	law,	which	
possesses	deep	relevance	in	juridical	contract	ambit,	once	it	 is	a	device	that	aims	protection	to	the	debtor’s	family	dignity,	 in	case	of	
insolvency.	In	this	regard,	the	analysis	of	Luiz	Edson	Fachin’s	doctrine	concerning	the	juridical	statute	of	minimum	patrimony	corroborate	
with	the	necessity	of	homestead	existence.	The	institute	in	question	have	been	observed	since	the	genesis	of	its	treatment	into	brazilian	
legal	system,	from	the	legislation	to	the	law	enforcement,	proceeding	to	study	the	figure	of	the	Superior	Court	as	responsible	for	the	stan-
dardization	of	the	infraconstitutional	legislation,	with	interpretative	expansion	approach	that	was	given	to	this	device,	providing	greater	
effectiveness	in	protecting	the	family	unit.	The	methodology	used	was	the	doctrinal	and,	mainly,	jurisprudencial	analysis.
Keywords: minimum	patrimony.	constitutionalization.	homestead.	law	of	obligations.	Supreme	Court	of	Justice.
¹Graduanda	em	Direito	pela	Universidade	Federal	da	Paraíba.	Bolsista	do	Programa	de	Monitoria	da	disciplina	Direito	Civil	I	vinculada	ao	
Departamento	de	Direito	Privado	do	CCJ/UFPB.
 
1. INTRODUÇÃO
	 Com	a	Constituição	da	República	de	1988,	consolidou-se,	efetivamente,	o	fenômeno	da	constitucionalização	do	direito	civil.	
Nessa	esteira,	 são	observadas	alterações	de	paradigmas	muito	 relevantes,	ao	passo	que	a	 introdução	de	princípios	no	ordenamento	
jurídico	 positivado	 fez	 com	que	 a	 interpretação	 e	 a	 aplicação	 do	 direito	 sofressem	mudanças	 substanciais,	 passando	 o	 princípio	 da	
dignidade	da	pessoa	humana	a	ser	o	vetor	do	sistema	jurídico	como	um	todo.
	 Neste	 contexto,	 figura	o	direito	das	obrigações,	 que	passa	 a	 ser	 norteado	pelos	princípios	 da	boa-fé	objetiva	e	da	 função	
social	do	contrato.	Há	uma	releitura	da	relação	obrigacional,	chegando	a	ser	substituída	na	doutrina	pela	ideia	de	processo	obrigacional,	
evitando	a	polarização	entre	credor	e	devedor.
	 Sobre	a	figura	do	instituto	do	bem	de	família,	repousa	a	tese	de	Fachin,	 intitulada	teoria	do	estatuto	 jurídico	do	patrimônio	
mínimo,	que	versa	sobre	a	necessidade	de	o	ordenamento	jurídico	assegurar	um	patrimônio	mínimo,	garantindo,	em	respeito	à	dignidade	
da	pessoa	humana,	o	mínimo	existencial.	Com	esse	embasamento,	o	estudo	em	apreço	visa,	então,	estudar	a	figura	do	instituto	jurídico	
da	impenhorabilidade	do	bem	de	família,	uma	vez	que	ele	constitui	uma	limitação	relevante	ao	direito	do	credor	de	ter	o	seu	crédito	
executado.	O	que	se	confronta	é	a	dignidade	da	pessoa	humana,	refletida	no	direito	à	moradia	constitucionalmente	estabelecido,	em	
detrimento	do	direito	do	particular	em	ter	o	que	lhe	é	devido.
	 Destarte,	o	que	se	pretende	é	trazer	o	fenômeno	de	valoração	das	relações	jurídicas	ao	debate	na	aplicação	do	direito,	que	
ensejou	a	ampliação	da	força	normativa	do	instituto	do	bem	de	família.	Em	meio	à	jurisprudência	do	Superior	Tribunal	de	Justiça	(STJ),	
formaram-se	entendimentos	com	esse	propósito,	os	quais	constituem	o	objetivo	deste	trabalho,	ao	serem	efetivamente	analisados.
LEXMAX - rEvistA do AdvogAdo86
2. RELEITURA DO DIREITO PRIVADO: ENFOQUE CIVIL-CONSTITUCIONAL DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
	 Nos	primórdios	do	fenômeno	da	positivação	do	direito,	com	o	Código	de	Napoleão	de	1804,	muito	se	preocupou	em	estabelecer	
a	separação	evidente	entre	o	direito	público	e	o	direito	privado.	Paulatinamente,	essa	dicotomia	veio	sendo	superada,	ao	passo	que	foram	
sendo	evidenciadas,	em	um	primeiro	momento,	interferências	de	normas	de	ordem	pública	no	âmbito	privado,	acarretando	a	chamada	
publicização	do	direito	privado.
	 No	século	XX,	os	estudos	e	a	interpretação	do	direito,	influenciados	pelo	contexto	histórico	e	pelos	acontecimentos	e	avanços	
tecnológicos	da	época,	pautaram-se	no	que	se	convencionou	chamar	de	pós-positivismo	jurídico,	ocasionando	a	guinada	interpretativa,	
à	medida	que	se	passou	a	observar	a	dogmática	jurídica	a	partir	de	valores	e	de	princípios.	
	 Desse	modo,	 surge	 uma	 nova	 concepção	 do	 direito,	 desta	 vez,	 pautado	 em	 pilares	 principiológicos,	 os	 quais	 conduzem	 a	
sistematização	jurídica	a	uma	preocupação,	cada	vez	mais,	constante	com	o	ser	humano.
	 Neste	momento,	 o	 que	 se	 evidenciou	 foi	 a	 positivação,	 nas	 constituições,	 de	 princípios	 oriundos	 do	 direito	 civil,	 os	 quais	
passaram	a	nortear	a	atividade	interpretativa	do	aplicador	do	direito	no	que	diz	respeito	à	seara	infraconstitucional,	garantindo		os	direitos	
e	garantias	fundamentais,	tendo	em	vista	também	a	sua	eficácia	horizontal,	também	são	oponíveis	no	campo	privado,	ocasionando	o	
inevitável	equilíbrio	entre	eles	e	a	autonomia	privada.
	 O	princípio	da	dignidade	da	pessoa	humana	passou	 a	 ser	o	norte	orientador	de	 todo	o	ordenamento	 jurídico.	 Por	 ser	 um	
conceito	jurídico	classificado	como	indeterminado,	o	legislador	e	o	aplicador	do	direito	receberam	o	encargo	de	alcançar	o	seu	conteúdo,	
para	proporcionar	a	sua	concretização.
	 Para	Barroso	(2010.	p.60),	o	princípio	da	dignidade	da	pessoa	humana	assumiu	dimensão	transcendental	e	normativa,	sendo	
a	Constituição	não	apenas	“o	documento	maior	do	direito	público,	mas	o	centro	de	todo	o	sistema	jurídico,	irradiando	seus	valores	e	
conferindo-lhe	unidade”.
	 Dessa	forma,	no	que	diz	respeito	especificamente	ao	campo	do	Direito	das	Obrigações,	nota-se	uma	mudança	de	paradigma	
interpretativo,	visto	que	a	releitura	da	relação	obrigacional	conforme	os	direitos	fundamentais	constitucionalmente	assegurados	é	hoje	
uma	realidade	para	os	aplicadores	do	direito.	
	 As	obrigações	passaram	a	serem	vistas	como	um	processo	obrigacional,dinâmico	e	de	deveres	recíprocos,	sem	a	existência	da	
polarização	entre	devedor	e	credor,	à	luz	do	princípio	da	boa-fé	objetiva.	Dessa	forma,	não	deve	ser	vista	mais	a	submissão	de	uma	parte	
a	outra,	uma	vez	que	a	relação	deve	ser	vista	como	bilateral,	em	que	não	há	apenas	uma	parte	detentora	de	direitos.
	 Dessa	 forma,	 pode-se	 observar	 que,	 dentro	 da	 relação	 entre	 credor	 e	 devedor,	 estão	 presentes	 obrigações	 recíprocas	 e	
interligadas,	ocasionando,	em	determinado	momento,	a	oscilação	do	polo	em	que	cada	parte	irá	figurar.	Assim,	é	observado	o	seu	caráter	
dinâmico.	Nessa	 esteira,	 caracteriza-se	 a	 obrigação	 como	um	processo	 composto	 de	 atividades	 necessárias	 à	 satisfação	 do	 crédito,	
afastando	a	estaticidade	fundada	na	polarização	entre	as	partes.
	 No	contexto	da	existência	dos	direitos	 recíprocos,	há	de	se	 ressaltar	que	deve	haver	a	observância	efetiva	do	princípio	da	
cooperação	por	ambas	as	partes.	Observa-se	uma	crise	de	cooperação	entre	credor	e	devedor,	especialmente,	ao	longo	do	século	XX.	As	
partes,	na	relação	obrigacional,	ainda	que	com	interesses	divergentes,	devem	atuar	sempre	na	perspectiva	da	eticidade.	Assim,	à	luz	da	
boa-fé	objetiva,	avulta-se	a	importância	do	instituto	do	duty to mitigate the loss²	,	com	o	propósito	de	coibir	abusos.
 O duty to mitigate	the	loss	se	trata	de	um	importante	instituto	por	meio	de	que	impõe-se,	ao	próprio	credor,	a	obrigação	de,	
sempre	que	possível,	atuar	para	mitigar	a	situação	de	prejuízo	experimentada	pelo	devedor.	No	Brasil,	já	existe,	inclusive,	ocorrência	da	
aplicação	desse	princípio	pelo	Superior	Tribunal	de	Justiça:
²Do	inglês:	dever	de	mitigar	o	prejuízo
DIREITO	 CIVIL.	 CONTRATOS.	 BOA-FÉ OBJETIVA.	 STANDARD ÉTICO-JURÍDICO.	 OBSERVÂNCIA	 PELAS	
PARTES	 CONTRATANTES.	 DEVERES	 ANEXOS.	 DUTY TO MITIGATE THE LOSS.	 DEVER	 DE	 MITIGAR	 O	
PRÓPRIO	 PREJUÍZO.	 INÉRCIA	DO	CREDOR.	AGRAVAMENTO	DO	DANO.	 INADIMPLEMENTO	CONTRATUAL.	
RECURSO	 IMPROVIDO.	 1.	 Boa-fé	 objetiva.	 Standard	 ético-jurídico.	Observância	 pelos	 contratantes	 em	 todas	 as	
fases.	 Condutas	 pautadas	 pela	 probidade,	 cooperação	 e	 lealdade.	 2.	 Relações	 obrigacionais.	Atuação	 das	 partes.	
Preservação	dos	direitos	dos	contratantes	na	consecução	dos	fins.	Impossibilidade	de	violação	aos	preceitos	éticos	
insertos	no	ordenamento	 jurídico.	3.	Preceito decorrente da boa-fé objetiva. Duty to mitigate the loss: o dever 
de mitigar o próprio prejuízo. Os contratantes devem tomar as medidas necessárias e possíveis para que o dano 
não seja agravado. A parte a que a perda aproveita não pode permanecer deliberadamente inerte diante do dano. 
Agravamento do prejuízo, em razão da inércia do credor. Infringência aos deveres de cooperação e lealdade.	4.	
Lição	da	doutrinadora	Véra	Maria	Jacob	de	Fradera.	Descuido	 com	o	dever	 de	mitigar	 o	prejuízo	 sofrido.	O	 fato	
de	 ter	deixado	o	devedor	na	posse	do	 imóvel	por	quase	7	 (sete)	anos,	sem	que	este	cumprisse	com	o	seu	dever	
contratual	(pagamento	das	prestações	relativas	ao	contrato	de	compra	e	venda),	evidencia	a	ausência	de	zelo	com	
o	patrimônio	do	credor,	com	o	consequente	agravamento	significativo	das	perdas,	uma	vez	que	a	 realização	mais	
célere	dos	atos	de	defesa	possessória	diminuiriam	a	extensão	do	dano.5.	Violação	ao	princípio	da	boa-fé	objetiva.	
Caracterização	 de	 inadimplemento	 contratual	 a	 justificar	 a	 penalidade	 imposta	 pela	Corte	 originária,	 (exclusão	 de	
um	ano	de	ressarcimento).6.	Recurso	improvido.	 (STJ	-	RECURSO	ESPECIAL	:	REsp	758518	PR	2005/0096775-4	
Relator:	Ministro	VASCO	DELLA	GIUSTINA	 (DESEMBARGADOR	CONVOCADO	DO	TJ/RS),	Data	de	Julgamento:	
17/06/2010,	T3	-	TERCEIRA	TURMA)
LEXMAX - rEvistA do AdvogAdo 87
	 Tem-se,	 pois,	 caracterizada	 a	 dinâmica	 obrigacional,	 que	 se	 afasta	 da	 polarização	 entre	 credor	 e	 devedor,	 decorrendo,	
diretamente,	da	boa-fé	objetiva,	responsável	por	estabelecer	deveres	anexos	aos	polos	contrários.	Dessa	forma,	devido	à	incidência	dos	
deveres	recíprocos,	o	que	se	tem	é	a	necessária	cooperação	entre	credor	e	devedor.
3. A TEORIA DO ESTATUTO JURÍDICO DO PATRIMÔNIO MÍNIMO E O INSTITUTO DO BEM DE FAMÍLIA
 
 Sendo	assim,	tendo	em	vista	o	processo	de	personalização	ou	de	despatrimonialização	do	direito	civil,	em	que	o	ser	humano	
passou	a	ser	alvo	central	das	preocupações	do	ordenamento	jurídico,	Fachin	elaborou	sua	tese,	intitulada	teoria	do	estatuto	jurídico	do	
patrimônio	mínimo,	que	versa	sobre	a	necessidade	de	o	ordenamento	jurídico	assegurar	um	patrimônio	mínimo,	garantindo,	em	respeito	
à	dignidade	da	pessoa	humana,	o	mínimo	existencial.
	 O	estudo	de	Fachin	possui	grande	relevância	na	disciplina	do	bem	de	família,	sendo	este	uma	explicitação	do	patrimônio	mínimo,	
estando	previsto	no	Código	Civil	e	na	Lei	8.009/90,	em	suas	vertentes	convencional	e	legal.	A	fim	de	proteger	os	direitos	inerentes	à	
personalidade,	bem	como	os	patrimoniais,	Fachin,	por	meio	da	concepção	do	estatuto	jurídico	do	patrimônio	mínimo,	busca	a	valorização	
da	pessoa	humana	no	tocante	ao	Direito	Privado,	dando	a	devida	relevância	à	dignidade	da	pessoa	humana	em	detrimento	dos	institutos	
da	propriedade	privada,	que	engloba	a	noção	de	defesa	dos	bens	inerentes	à	subsistência	pessoal	e	do	direito	creditício.	
	 A	proposta	de	repersonalização	e	despatrimonialização	do	Direito	Civil	possui	consequências	substancias	no	direito	de	família.	
As	 disposições	 da	 lei	 nº	 8.009/90,	 legislação	 específica	 acerca	 da	 impenhorabilidade	 do	 bem	 de	 família,	 bem	 como	 os	 parágrafos	
referentes	aos	objetivos	da	República	Federativa	do	Brasil,	elencados	no	artigo	3º	da	Constituição	Federal,	quais	sejam	a	construção	de	
uma	sociedade	livre,	justa	e	solidária,	no	inciso	I,	e	a	erradicação	da	pobreza	e	da	marginalização	e	a	redução	das	desigualdades	sociais,	
no	inciso	III,	demonstram	essa	preocupação	de	natureza	econômica	em	relação	à	estrutura	familiar,	a	qual	justifica	as	disposições	legais	
em	sua	proteção.
	 Entende	a	doutrina	que	o	caráter	de	valor	econômico	do	patrimônio	é	responsável	pela	compreensão	tanto	dos	seus	elementos	
ativos	quanto	passivos,	sendo	direito	patrimonialista,	em	sua	consequência,	intrínseco	a	todos	os	indivíduos.	Isso	posto,	há	a	ressalva	de	
que	a	exceção	de	que	trata	a	ausência	de	patrimônio	não	desqualifica	ninguém	de	sua	condição	de	sujeito.	
	 O	Estado,	com	o	objetivo	maior	de	concretizar	a	dignidade	humana,	mitiga	o	princípio	da	autonomia	privada.	É	preciso	ressaltar	
que	não	há	o	favorecimento	de	uma	das	partes,	pois	se	trata	da	aplicação	do	princípio	da	igualdade.	O	objetivo	não	é,	pois,	preservar	um	
determinado	padrão	de	vida	do	indivíduo,	mas	sim	proteger	parte	do	patrimônio,	caracterizada	como	o	mínimo	existencial,	com	o	intuito	
de	concretizar	a	proteção	à	dignidade	da	pessoa	humana.	
	 O	estatuto	jurídico	do	patrimônio	mínimo	demanda	a	garantia	do	mínimo	existencial,	de	forma	que	os	seus	conceitos	não	se	
misturam.	Segundo	Fachin	(2001):
	 Em	caso	de	inadimplemento,	a	responsabilidade	patrimonial	recai	sobre	o	próprio	devedor,	a	título	de	reparação	do	que	se	deve	
ao	credor,	como	é	o	entendimento	que	se	tem	sobre	o	assunto.	O	texto	do	art.	341	do	Código	Civil,	sob	a	luz	desta	teoria,	não	deve	ser	
considerado	completamente,	em	razão	de,	em	caso	de	inadimplemento	das	obrigações,	responderem	todos	os	bens	do	devedor,	o	que	
contraria	a	tutela	do	patrimônio	mínimo	do	devedor.	(FARIAS;	ROSENVALD,	2012,	p.	38)	
	 Em	conclusão,	o	estatuto	jurídico	do	patrimônio	mínimo,	se	devidamente	satisfeito	e	utilizado,	promove	o	princípio	da	dignidade	
humana,	evitando	decisões	que,	porventura,	venham	a	ceifar	o	indivíduo	do	essencial,	uma	vez	que	de	nada	adianta	a	sobrevivência,	se	
não	houver	condições	que	viabilizem	o	exercício	do	livre	arbítrio	e	o	pleno	desenvolvimento	da	personalidade. 
4. A DISCIPLINA DO BEM DE FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
	 O	 instituto	 do	 bem	 de	 família	 possui	 raízes	 no	 direito	 americano,na	 República	 do	Texas,	 notadamente	 com	 o	Homestead 
Exemption Act,	para	a	proteção	da	pequena	propriedade,	em	virtude	da	grande	crise	em	que	se	encontravam	os	Estados	Unidos,	resultando	
na	procedência	comum	de	penhoras	realizadas	pelos	credores.	Destarte,	a	influência	logo	chegou	à	França,	que	editou	a	lei	instituidora	
do bien de famille.	(AZEVEDO,	2002,	p.	28-37)
	 Em	um	breve	histórico,	o	advento	da	legislação	específica	no	Brasil	se	deu	no	contexto	dos	insucessos	dos	planos	governamentais	
da	época,	os	quais	ensejaram	uma	maior	proteção	do	devedor.	Sobre	o	assunto,	vale	transcrever	as	palavras	do	prestigiado	ex-Ministro	
de	Justiça	Saulo	Ramos	(GONÇALVES,	1998.	p.	28-30):
A	pessoa	natural,	ao	lado	de	atributos	inerentes	à	condição	humana,	inalienáveis	e	insuscetíveis	de	apropriação,	
pode	 ser	 também,	 à	 luz	 do	 Direito	 Civil	 brasileiro	 contemporâneo,	 dotada	 de	 uma	 garantia	 patrimonial	
que	 integra	 na	 sua	 esfera	 jurídica.	 Trata-se	 de	 um	 patrimônio	 mínimo	mensurado	 consoante	 parâmetros	
elementares	de	uma	vida	digna	e	do	qual	não	pode	ser	expropriada	ou	desapossada.	Por	força	desse	princípio,	
independente	de	previsão	 legislativa	específica	 instituidora	dessa	figura	 jurídica,	e,	para	além	de	mera	 im-
penhorabilidade	 como	 abonação,	 ou	 inalienabilidade	 como	 gravame,	 sustenta-se	 existir	 essa	 imunidade	
juridicamente	inata	ao	ser	humano,	superior	aos	interesses	dos	credores.	
LEXMAX - rEvistA do AdvogAdo88
Nos	últimos	meses	do	governo	Sarney,	o	processo	inflacionário	disparou,	sob	o	impacto	das	declarações	do	
Presidente	eleito	em	1989	e	 sua	 futura	Ministra	da	Fazenda,	que	ameaçavam	deixar	 a	esquerda	aturdida	
e	a	direita	estarrecida.	Juntou-se	a	nós	o	saudoso	advogado	FERRO	COSTA,	[...]	entusiasta	do	homestead	
norte-americano	[...]	era	preciso	adotar	em	defesa	da	família	brasileira,	sacrificada	pelos	planos	econômicos	
e,	 sobretudo,	 diante	 do	 desastre	 que	 se	 antevia	 no	Governo	Collor.	 Informei	 que	 já	 havia	 tratado	 do	 da	
matéria	em	projeto	enviado	ao	Congresso.	Estávamos	na	última	semana	de	mandato	do	Presidente	SARNEY,	
que	 considerou	 a	matéria	 urgente	 e	 relevante.	 Concordamos	 que	 para	 inovar	 em	 profundidade	 somente	
poderíamos	adotar	o	modelo	texano,	o	resto	seria	paliativo,	como	nos	ensinara	VICENTE	RÁO	há	mais	de	
trinta	anos.	[...]	quando	foi	decretado	o	confisco	dos	ativos	financeiros	do	povo	pensei	que	o	Governo	Collor	
iria	 retirar	a	mensagem,	mas	o	novo	Ministro	de	Justiça	 ignorava	 sua	existência.	Felizmente,	o	Congresso	
aprovou-a	sem	alterações	e	promulgada	foi	pelo	Senador	NELSON	CARNEIRO,	grande	batalhador	pelo	direito	
de	família	em	nosso	mais,	que,	emocionado,	me	transmitiu	a	notícia	por	telefone,	pedindo	que	comunicasse	a	
SARNEY.	Assim,	a	Lei	nº.	8.009,	de	29	de	março	de	1990,	nasceu	limpa.
	 Segundo	a	lição	de	Azevedo	(2003,	p.	11),	“o	bem	de	família	é	um	meio	de	garantir	um	asilo	à	família,	tomando-se	o	imóvel	onde	
ela	se	instala	domicílio	impenhorável	e	inalienável,	enquanto	forem	vivos	os	cônjuges	e	até	que	os	filhos	completem	sua	maioridade”.	
	 Como	bem	analisado	em	tópico	anterior,	quando	do	estudo	do	estatuto	 jurídico	do	patrimônio	mínimo,	o	bem	de	família	é,	
além	de	uma	forma	de	efetivar	o	direito	constitucionalmente	estabelecido	à	moradia,	um	meio	de	proteger	a	entidade	familiar,	vez	que	
concretiza	aquilo	estabelecido	por	Fachin	como	patrimônio	mínimo	necessário	para	garantir	a	dignidade	da	pessoa	humana.
	 Historicamente,	o	bem	familiar	surgiu	no	Código	Civil	de	1916,	em	sua	Parte	Geral,	em	que	havia	o	tratamento	dos	bens,	vindo	
a	possuir	posteriormente	previsões	em	outras	leis	ordinárias.	Apenas	em	1990,	foi	promulgada	a	Lei	nº	8.009/90,	destinada	a	tratar	o	
instituto	em	minúcias,	trazendo	consigo	a	figura	do	bem	de	família	obrigatório,	também	conhecido	como	legal	ou	involuntário.	A	novel	
legislação,	à	época,	imputou	ao	Estado	a	proteção	do	bem	de	família,	não	mais	dependendo	de	seus	integrantes.	No	atual	Código	de	
2002,	agora	na	Parte	Especial,	encontra-se	apenas	a	disciplina	do	bem	de	família	voluntário,	a	qual	se	encontra	na	parte	referente	ao	
direito	patrimonial.
	 A	Constituição	Federal	de	1988	introduziu,	em	seu	artigo	5º,	XXVI,	o	bem	de	família	rural,	objetivando	proteger	a	pequena	
propriedade.
	 Dessa	forma,	temos,	no	atual	patamar	do	ordenamento	jurídico	brasileiro,	dois	regimes	para	o	instituto	em	pauta,	isto	é,	o	bem	
de	família	voluntário,	também	conhecido	como	convencional,	e	o	bem	de	família	involuntário,	legal	ou	obrigatório.	Partir-se-á,	então,	para	
análise	de	ambos	os	regimentos.
	 O	bem	de	família	convencional,	cuja	disciplina	advém	do	Código	Civil,	consiste	na	proteção	voluntária	e	espontânea	da	parte	
interessada,	que	se	utiliza	do	registro	público	no	cartório	de	imóveis,	para	conferir	publicidade	que	justifique	a	impenhorabilidade	e	a	
inalienabilidade	do	bem.	A	legislação	de	2002,	à	luz	da	Carta	Cidadã	de	1988,	autoriza	a	instituição	do	bem	também	por	ato	da	esposa,	
cristalizando	a	igualdade	entre	o	homem	e	a	mulher,	preconizada	pela	Lei	Maior.	(FARIAS;	ROSENVALD,	2012,	p.	913)			
	 A	legislação	também	autoriza	que	o	bem	de	família	seja	instituído,	além	de	pelo	casal,	por	terceiro,	através	do	testamento,	e	pela	
entidade	familiar,	que	compreende,	em	seu	conceito,	a	união	estável,	a	família	monoparental,	o	solteiro.	
	 As	principais	consequências	da	instituição	do	bem	de	família	são	a	impenhorabilidade	e	a	inalienabilidade,	ambas	relativas.	O	
bem	familiar	se	torna	impenhorável	com	efeitos	relativos	às	dívidas	posteriores	à	sua	instituição	e,	se	anteriores,	apenas	das	que	dizem	
respeito	a	 tributos	e	a	despesas	de	condomínio	 referentes	ao	mesmo	prédio.	Já	a	 inalienabilidade	advém	da	destinação	do	bem	ao	
domicílio	e	ao	sustento	familiar,	sendo	sua	alienação	excepcional	e	possível	mediante	o	consentimento	dos	interessados,	com	a	oitiva	do	
Ministério	Público.	(GAGLIANO;	PAMPLONA	FILHO,	2012.	p.	411)
	 A	vertente	voluntária	 possui,	 ainda,	 expressa	 limitação	 conferida	 pelo	Código	Civil.	 Em	 seu	 artigo	 1.711,	 é	 estabelecido	 o	
limite	máximo	de	um	terço	do	patrimônio	líquido	do	instituidor	à	época	da	instituição,	objetivando-se	que	não	fiquem	todos	os	recursos	
inatingíveis,	em	caso	de	insolvência.
	 O	diploma	civil	também	cuidou	em	estabelecer	as	formas	para	a	extinção	da	proteção,	desde	que	necessária	à	manutenção	da	
família,	entre	seus	artigos	1.719	e	1.722.	Como	bem	observou	Rodrigues	(2004,	p.	154),	o	bem	de	família	voluntário	não	alcançou	grande	
sucesso,	e	pode-se	atribuir	a	isso	o	fato	de	o	Estado	ter	transferido	tamanha	responsabilidade	ao	particular.
Partindo-se	para	a	análise	do	bem	de	família	 legal,	toma-se,	como	base,	a	Lei	n°	8.009/90,	que	ampliou	a	compreensão	do	instituto,	
passando	a	resultar,	de	forma	direta,	da	lei,	e	não	mais	de	ato	volitivo	do	instituidor.	De	acordo	com	a	redação	de	seu	artigo	1º:
Art. 1º. 	O	imóvel	residencial	próprio	do	casal,	ou	da	entidade	familiar,	é	impenhorável	e	não	responderá	por	
qualquer	tipo	de	dívida	civil,	comercial,	fiscal,	previdenciária	ou	de	outra	natureza,	contraída	pelos	cônjuges	
ou	pelos	pais	ou	filhos	que	sejam	seus	proprietários	e	nele	residam,	salvo	nas	hipóteses	previstas	nesta	Lei.	
LEXMAX - rEvistA do AdvogAdo 89
	 O	parágrafo	único	do	artigo	em	questão	ainda	aduz	que	“a	impenhorabilidade	compreende	o	imóvel	sobre	o	qual	se	assentam	a	
construção,	as	plantações,	as	benfeitorias	de	qualquer	natureza	e	todos	os	equipamentos,	inclusive	os	de	uso	profissional,	ou	móveis	que	
guarnecem	a	casa,	desde	que	quitados”.
	 Vale	ressaltar,	ainda,	que	essa	proteção	não	é	absoluta.	Até	pouco	tempo,	assim	dispunha	a	lei³:	
	 Na	 esteira	 do	 alargamento	 da	 proteção	 ao	 bem	 familiar,	 neste	 ano,	 foram	 publicadas	 duas	 novas	 leis	 que	 modificaram	 a	
tradicional	disciplina	do	art.	3º	da	Lei	do	Bem	de	Família.	A	Lei	Complementar	105/2015,	que	dispõe	sobre	os	direitos	dos	empregados	
domésticos,revogou	o	inciso	I	do	art.	3º,	ao	passo	que	a	Lei	13.144	traz	nova	redação	ao	inciso	III	do	mesmo	dispositivo,	o	qual	passa	a	
dispor	que	“pelo	credor	da	pensão	alimentícia,	resguardados	os	direitos,	sobre	o	bem,	do	seu	coproprietário	que,	com	o	devedor,	integre	
união	estável	ou	conjugal,	observadas	as	hipóteses	em	que	ambos	responderão	pela	dívida”.	
	 Em	oposição	ao	que	dispõe	a	forma	voluntária	decorrente	do	Código,	a	proteção	conferida	pela	Lei	nº.	8.009/90	é	imediata,	ao	
derivar	diretamente	da	lei.	Dessa	forma,	não	há	a	necessidade	de	sua	constituição	no	Cartório	de	Registros	Públicos.
	 O	novo	regime	de	proteção	propiciou	uma	maior	concretização	da	regra	oriunda	da	Lei	Maior	de	garantia	do	domicílio	como	um	
direito	social	(CF,	art.	6º),	sendo	uma	constatação	do	patrimônio	mínimo	da	pessoa	humana.	
	 Sob	 a	 égide	 da	 Lei	 nº.	 8.009/90,	 observa-se	 que	 há	 uma	 ampliação	 no	 objeto	 da	 proteção,	 com	 a	 jurisprudência	vindo	 a	
considerar	 impenhoráveis	bens,	como	máquina	de	 lavar,	computador,	videocassete,	ar	condicionado,	televisão,	entre	outros,	os	quais	
são	necessários	para	manutenção	de	uma	vida	digna.	Expressamente,	em	seu	artigo	2°,	a	lei	exclui	apenas	os	veículos	de	transporte	e	os	
adornos	suntuosos.	
	 Ademais,	é	inegável	a	estrita	relação	entre	a	proteção	do	bem	de	família	e	a	relação	obrigacional,	uma	vez	que	a	impenhorabili-
dade	é	um	empecilho	à	satisfação	do	interesse	do	credor.	Nesse	sentido,	sucintas	são	as	palavras	de	Lôbo	(2011,	p.	398):
 Como	se	vê,	há,	no	que	tange	à	relação	obrigacional,	um	notável	conflito	de	interesses	entre	o	credor,	detentor	do	crédito,	e	
o	devedor	insolvente.	Observadas	as	circunstâncias,	impenhorabilidade	é,	então,	vista	no	direito	das	obrigações	como	uma	limitação	à	
pretensão	do	credor	de	ter	o	cumprimento	do	seu	crédito.
Art.	 3º	 A	 impenhorabilidade	 é	 oponível	 em	 qualquer	 processo	 de	 execução	 civil,	 fiscal,	
previdenciária,	trabalhista	ou	de	outra	natureza,	salvo	se	movido:	
I	-	em	razão	dos	créditos	de	trabalhadores	da	própria	residência	e	das	respectivas	contribuições	
previdenciárias;	
II	-	pelo	titular	do	crédito	decorrente	do	financiamento	destinado	à	construção	ou	à	aquisição	do	
imóvel,	no	limite	dos	créditos	e	acréscimos	constituídos	em	função	do	respectivo	contrato;	
III	-	pelo	credor	de	pensão	alimentícia;	
IV	-	para	cobrança	de	impostos,	predial	ou	territorial,	taxas	e	contribuições	devidas	em	função	do	
imóvel	familiar;	
V	-	para	execução	de	hipoteca	sobre	o	imóvel	oferecido	como	garantia	real	pelo	casal	ou	pela	
entidade	familiar;	
VI	-	por	ter	sido	adquirido	com	produto	de	crime	ou	para	execução	de	sentença	penal	condenatória	
a	ressarcimento,	indenização	ou	perdimento	de	bens.	
VII	-	por	obrigação	decorrente	de	fiança	concedida	em	contrato	de	locação.
³Lei	8.009	de	29	de	março	de	1990.
A	Constituição	incluiu	a	moradia	entre	os	direitos	sociais,	imprescindíveis	à	pessoa	humana,	no	
art.	 6º.	A	moradia	 é,	 portanto,	 direito	mais	 amplo	que	o	de	propriedade	ou	domínio	do	bem,	
oponível	ao	Estado,	à	sociedade	e	às	pessoas.	O	direito	ao	crédito	não	lhe	pode	sobrepujar.	Este	
é	o	fundamento	constitucional	geral	da	 imunização	da	moradia	à	penhora.	Mas	a	Constituição	
destacou	 situação	 que	 atribuiu	 especial	 atenção,	 ao	 determinar	 que	 “a	 pequena	 propriedade	
rural,	assim	definida	em	lei,	desde	que	trabalhada	pela	família,	não	será	objeto	de	penhora	para	
pagamentos	de	débitos	decorrentes	de	sua	atividade	produtiva”	(art.	5º,	XXVI),	supondo	que,	além	
de	unidade	produtiva,	seja	a	moradia	da	família.
LEXMAX - rEvistA do AdvogAdo90
5. A PERSPECTIVA CIVIL-CONSTITUCIONAL NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: AMPLIAÇÃO INTERPRETATIVA DO 
INSTITUTO DO BEM DE FAMÍLIA
 
 Depois	da	construção	de	um	raciocínio	 lógico-sistemático	a	 respeito	da	doutrina	civil-constitucional,	que	norteia	uma	nova	
interpretação	do	direito	das	obrigações,	pautando	uma	ampla	observância	à	dignidade	da	pessoa	humana,	foi	possível,	a	partir	da	teoria	
do	estatuto	jurídico	do	patrimônio	mínimo,	construir	a	ideia	do	instituto	do	bem	de	família	como	seu	resultado.
	 Observa-se	 que,	 na	 relação	 obrigacional,	 à	medida	 que	 o	 devedor	 se	 torna	 insolvente,	mesmo	 tendo	 o	 credor	 o	 direito	 à	
execução,	ela	não	poderá	atingir,	ressalvadas	as	restritas	hipóteses	legais,	o	patrimônio	mínimo	necessário	à	vida	digna	do	devedor,	isto	
é,	o	seu	bem	de	família	revestido	pela	capa	a	impenhorabilidade	garantida	em	lei.
	 Partindo	dos	diplomas	legais,	cabe,	então,	aos	tribunais,	diante	de	casos	concretos,	moldar	a	norma	prevista,	de	acordo	com	
as	situações	fáticas.	Ao	passo	em	que	determinadas	situações	vão-se	tornando	recorrentes,	as	cortes	têm	a	possibilidade	de	firmar	um	
entendimento,	que	poderá	se	transformar	em	um	norte	interpretador	para	os	demais	inferiores,	a	depender	da	instância,	ou	consolidar	
jurisprudência.
	 Neste	sentido,	no	estudo	em	apreço,	a	figura	do	Superior	Tribunal	de	Justiça	possui	um	papel	decisivo,	uma	vez	que	é	responsável	
pelas	matérias	de	natureza	infraconstitucional,	em	que	se	inclui	o	direito	civil.	Criada	pela	Constituição	de	1988,	a	Corte	é	responsável	
por	ser	a	guardiã	do	direito	federal,	como	também	por	uniformizar	a	interpretação	da	legislação	infraconstitucional.
	 É	notório	que	o	Tribunal	da	Cidadania	-	STJ,	desde	a	sua	instituição,	reinterpreta	o	direito	privado,	fazendo	uma	releitura	a	partir	
de	princípios	constitucionalmente	estabelecidos,	como	o	da	boa-fé	objetiva	e	o	da	função	social	do	contrato.	Dessa	forma,	a	Corte	se	
direciona	de	forma	a	garantir	a	proteção	da	dignidade	da	pessoa	humana,	principalmente,	em	lides	que	há	conflitos	estabelecidos	no	
âmbito	axiológico.
	 O	STJ	coleciona,	ao	logo	dos	anos,	julgados	que	lhe	dão	o	patamar	de	vanguardista	em	variadas	questões.	Como	bem	salientou	
o	Ministro	Luis	Felipe	Salomão	(2013,	p.	5),	“recentes	precedentes	desta	Corte	Superior	demonstram	forte	tendência	jurisprudencial	de	
alargamento	da	proteção	a	bens	jurídicos	relevantes	e	direitos	fundamentais,	gerando	maior	eficácia	aos	textos	legais”.
	 No	que	diz	respeito	ao	estudo	em	questão,	direcionado	à	problemática	do	bem	de	família,	encontram-se,	na	jurisprudência	da	
Corte,	diversos	julgados	e	entendimentos	consolidados	que	ampliam	o	conceito	do	instituto,	ensejando	o	aperfeiçoamento	também	da	
sua	doutrina.	A	relevância	da	construção	jurisprudencial	se	torna	necessária,	principalmente,	no	que	diz	respeito	às	situações	que	não	são,	
especificamente,	tratadas	pelo	dispositivo	legal,	mas	que	estão	presentes	na	realidade	fática.
	 O	objetivo	desse	Tribunal,	sem	dúvidas,	é	promover	a	aplicação	da	lei	visando	aos	seus	fins	sociais,	dando	maior	efetividade	ao	
art.	6º	da	Constituição	Federal,	que	impõe	o	direito	à	moradia	no	rol	dos	direitos	fundamentais.
	 Nessa	esteira,	é	possível	analisar	o	posicionamento	do	STJ	no	que	diz	 respeito	à	 temática	 tanto	no	conteúdo	dos	 julgados	
quanto	 nas	 suas	 súmulas	 formuladas,	 que	 são	 verbetes	 editados	 para	 exprimir	 o	 entendimento	 da	 Corte,	 seja	 ele	 pacífico,	 ou,	 ao	
menos,	majoritário.	No	caso	das	súmulas	do	STJ,	ao	contrário	da	Súmula	Vinculante	privativa	do	Supremo	Tribunal	Federal,	sua	eficácia	
não	condiciona	os	 tribunais	 inferiores	ao	seu	seguimento,	uma	vez	que	apenas	 tem	o	condão	de	ser	um	norteador,	na	 tentativa	de	
uniformização	da	aplicação	da	matéria.
	 A	respeito	do	bem	de	família,	destacam-se	os	verbetes	de	números	205,	364	e	486,	os	quais,	em	seu	texto,	definem	situações	
jurídicas	que	vislumbram	uma	efetiva	ampliação	da	entidade	familiar.
	 A	Súmula	205		dispõe	que	a	Lei	do	Bem	de	Família,	mesmo	datando	de	29	de	março	de	1990,	é	aplicada	também	à	penhora	
realizada	antes	de	sua	vigência.	Com	efeito,	anteriormente	à	sanção	da	lei,	já	existia,	no	ordenamento	jurídico	brasileiro,	a	figura	do	bem	
de	família	voluntário,	em	que	o	Estado	não	interferia,	para	protegê-lo.	O	que	entendeu	o	STJ	foi	que	a	proteção	estatal,	que	caracteriza	o	
bemde	família	legal,	poderia	retroagir,	para	efetiva	proteção.	No	mais,	o	entendimento	foi,	em	parte,	criticado	por	quem	vislumbrou	uma	
proteção	ao	devedor	insolvente.
	 O	verbete	de	número	364	,	certamente,	foi	um	dos	que	causou	maior	impacto	à	realidade	jurídica	obrigacional,	ao	passo	que	
garantiu	às	pessoas	solteiras,	separadas	e	viúvas	o	direito	de	usufruir	a	impenhorabilidade	do	bem	familiar.	Como	bem	salientou	o	Min.	
Humberto	Gomes	de	Barros,	a	Lei	nº.	8.009/90	não	visa	apenas	à	proteção	da	entidade	familiar,	e	sim	do	direito	à	moradia	destinado	à	
pessoa	humana.	(SÚMULA...)
	 Já	a	Súmula	486,	a	mais	recente	a	ser	editada	pelo	Pretório,	estabelece	que	“é	 impenhorável	o	único	 imóvel	 residencial	do	
devedor	que	esteja	locado	a	terceiros,	desde	que	a	renda	obtida	com	a	locação	seja	revertida	para	a	subsistência	ou	a	moradia	da	sua	
família”.	O	entendimento	em	questão	vai	além	do	art.	1º	da	Lei	n°.	8.009/90,	o	qual	caracteriza	como	bem	de	família	aquele	em	que	ela	
reside.	
	 A	letra	da	lei	leva	à	interpretação	de	que	apenas	o	imóvel	utilizado	para	fins	de	moradia	do	devedor	ou	de	sua	família	estaria	
protegido	pela	impenhorabilidade.	Partindo	para	uma	visão	da	finalidade	a	que	se	destina	a	intenção	da	lei,	dispensa-se	a	necessidade	
de	efetiva	moradia	da	família,	desde	que	o	imóvel	sirva	para	o	seu	sustento.	Assim,	se	a	 locação	do	bem	consista	na	fonte	de	renda	
substancial	para	a	sobrevivência	do	devedor,	ela	está	protegida	pela	incidência	da	Lei	n°.	8.009/90.
Súmula	205	do	STJ:	A	Lei	8.009/90	aplica-se	a	penhora	realizada	antes	de	sua	vigência.
Súmula	 364	 do	 STJ:	O	 conceito	 de	 impenhorabilidade	 de	 bem	 de	 família	 abrange	 também	 o	 imóvel	 pertencente	 a	 pessoas	 solteiras,	
separadas	e	viúvas.
LEXMAX - rEvistA do AdvogAdo 91
	 Desse	modo,	é	observável	que	a	 intenção	proferida	pelo	verbete	do	Tribunal	da	Cidadania	 foi	de	efetivamente	assegurar	a	
dignidade	dos	membros	da	família,	ao	passo	que	não	é	exigida	a	habitação,	pois	uma	vez	que	o	aluguel	propicia	o	sustento	familiar,	o	bem	
se	torna	protegido	pelo	instituto	da	impenhorabilidade.
	 Apesar	de	não	sumulados,	o	Superior	Tribunal	de	Justiça,	em	sede	de	recursos	especiais,	também	vem	proferindo	decisões	de	
extrema	relevância	para	o	debate	suscitado.	Nessa	esteira,	em	2005,	no	REsp	621.399	–	RS,	a	Corte	se	posicionou	à	respeito	da	impe-
nhorabilidade	de	imóvel	sede	de	pequena	empresa	familiar,	onde	residem	os	proprietários:	
 
	 A	partir	de	uma	concepção	doutrinária	e	teórica,	com	fulcro	na	teoria	de	Fachin	sobre	o	patrimônio	mínimo,	emitiu-se	uma	
decisão	que	garantiu	à	proteção	inclusive	a	uma	pessoa	jurídica,	tendo	em	vista	a	realidade	fática	de	que	se	tratava	de	uma	empresa	
nitidamente	 familiar.	Neste	ponto,	 corrobora-se	o	alinhamento	da	Corte	Cidadã	–	STJ,	 a	 fazer	o	diploma	 legislativo	cumprir	 as	 suas	
finalidades	sociais.
	 Em	linhas,	pode-se	dizer	que,	com	base	nos	seguintes	entendimentos	pretorianos	analisados,	considerados	os	mais	relevantes	
no	que	diz	respeito	à	problemática	em	questão,	o	que	se	observou,	com	a	atuação	do	Superior	Tribunal	de	Justiça,	foi	a	maximização	do	
alcance	conferido	pela	Lei	nº.	8009.	Ressalta-se,	portanto,	o	imprescindível	trabalho	da	Corte	no	que	tange	à	garantia	de	direitos	básicos	
à	cidadania.	Dessa	forma,	o	STJ	assume,	condizendo	com	a	sua	qualidade	de	Tribunal	da	Cidadania,	o	papel	de	real	efetivador	de	direitos	
fundamentais	do	cidadão,	especialmente,	no	âmbito	da	presente	temática,	o	direito	à	moradia,	estabelecido	pela	Lei	Maior	de	acordo	com	
as	suas	implicâncias	de	ordem	infraconstitucional.	
PROCESSUAL	 CIVIL.	 EMBARGOS	 DE	 TERCEIRO.	 EXECUÇÃO	 FISCAL	 MOVIDA	 EM	 FACE	
DE	 BEM	 SERVIL	 À	 RESIDÊNCIA	 DA	 FAMÍLIA.	 PRETENSÃO	 DA	 ENTIDADE	 FAMILIAR	 DE	
EXCLUSÃO	DO	BEM	DA	EXECUÇÃO	FISCAL.	 POSSIBILIDADE	JURÍDICA	 E	 LEGITIMIDADE	
PARA	O	OFERECIMENTO	DE	 EMBARGOS	DE	TERCEIRO.	É BEM DE FAMÍLIA O IMÓVEL 
PERTENCENTE À SOCIEDADE, DÊS QUE O ÚNICO SERVIL À RESIDÊNCIA DA MESMA. 
RATIO ESSENDI DA LEI Nº 8.009/90. 1. A lei deve ser aplicada tendo em vista os fins sociais a 
que ela se destina. Sob esse enfoque a impenhorabilidade do bem de família visa a preservar o 
devedor do constrangimento do despejo que o relegue ao desabrigo.	2.	Empresas	que	revelam	
diminutos	 empreendimentos	 familiares,	 onde	 seus	 integrantes	 são	 os	 próprios	 partícipes	 da	
atividade	negocial,	mitigam	o	princípio	 societas	distat	 singulis,	peculiaridade	a	 ser	aferida	cum	
granu	 salis	 pelas	 instâncias	 locais.	 3.	Aferida	 à	 saciedade	 que	 a	 família	 reside	 no	 imóvel	 sede	
de	pequena	empresa	familiar,	impõe-se	exegese	humanizada,	à	luz	do	fundamento	da	república	
voltado	à	proteção	da	dignidade	da	pessoa	humana,	por	isso	que,	expropriar	em	execução	por	
quantia	 certa	 esse	 imóvel,	 significa	 o	 mesmo	 que	 alienar	 bem	 de	 família,	 posto	 que,	 muitas	
vezes,	lex	dixit	minus	quam	voluit.	4.	In	casu,	a	família	foi	residir	no	único	imóvel	pertencente	à	
família	e	à	empresa,	a	qual,	aliás,	com	a	mesma	se	confunde,	quer	pela	sua	estrutura	quer	pela	
conotação	 familiar	que	assumem	determinadas	pessoas	 jurídicas	com	patrimônio	mínimo.	5. É 
assente em vertical sede doutrinária que “A impenhorabilidade da Lei nº 8.009/90, ainda que 
tenha como destinatários as pessoas físicas, merece ser aplicada a certas pessoas jurídicas, 
às firmas individuais, às pequenas empresas com conotação familiar, por exemplo, por haver 
identidade de patrimônios.” (FACHIN, Luiz Edson. “Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo”, 
Rio de Janeiro, Renovar, 2001, p. 154).	 6.	 Em	 conseqüência	 “(...)	 Pequenos	 empreendimen-
tos	nitidamente	familiares,	onde	os	sócios	são	integrantes	da	família	e,	muitas	vezes,	o	local	de	
funcionamento	confunde-se	com	a	própria	moradia,	DEVEM	BENEFICIAR-SE	DA	IMPENHORA-
BILIDADE	LEGAL.”	[grifo	nosso]	7. Aplicação principiológica do direito infraconstitucional à luz 
dos valores eleitos como superiores pela constituição federal que autoriza excluir da execução 
da sociedade bem a ela pertencente mas que é servil à residência como único da família, sendo 
a empresa multifamiliar.	8.	Nessas	hipóteses,	pela	causa	petendi	eleita,	os	familiares	são	terceiros	
aptos	 a	manusear	 os	 embargos	 de	 terceiro	 pelo	 título	 que	 pretendem	 desvincular,	 o	 bem	 da	
execução	movida	pela	pessoa	jurídica.	9.	Recurso	especial	provido.		(grifos nossos)
A	minuciosa	análise	doutrinária	levantada	pelo	Ministro	Luiz	Fux	impõe	a	transcrição	da	ementa	em	minúcias.	STJ	Relator:	Ministro	LUIZ	
FUX,	Data	de	Julgamento:	19/04/2005,	T1	-	PRIMEIRA	TURMA.
LEXMAX - rEvistA do AdvogAdo92
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
 Ante	a	problemática	abordada,	o	que	se	pode	depreender	é	que,	como	foi	visto,	o	fenômeno	da	constitucionalização	do	direito	
civil	culminou	em	uma	mudança	na	forma	como	deve	ser	feita	a	interpretação	jurídica,	pautada	primordialmente	pela	dignidade	da	pessoa	
humana.
	 Assim,	 com	 a	 releitura	 do	 direito	 das	 obrigações,	 teve-se	 a	 incidência	 determinante	 da	 boa-fé	 objetiva	 e	 da	 função	 social	
do	contrato	na	 relação	obrigacional,	 passando	a	 torná-la	 condizente	 com	os	princípios	norteadores,	 à	medida	que	há	a	extinção	da	
polarização	entre	credor	e	devedor.	
	 Nessa	esteira,	o	que	se	notou	foi	que	o	instituto	do	bem	de	família,	bem	observado	por	Fachin,	em	sua	teoria	sobre	o	patrimônio	
mínimo,	busca	garantir	ao	devedor	insolvente	os	meios	de	possuir	uma	vida	digna.	Objetivou-se,	pois,	salvaguardar	a	família	brasileira,	
conferindo-a	a	segurança	do	mínimo	existencial,	condizente	com	o	que	preconiza	a	Constituição	da	República.
	 Destarte,	o	bem	de	família	constitui	uma	proteção	estatal	ao	devedor,	com	interferência	importante	no	direito	do	credor,	mas,	
ao	ser	confrontado	o	direito	à	moradia	e	à	satisfação	do	crédito,	aquele	se	mostra	de	maior	relevância,	uma	vez	que	possui	natureza	
fundamental.
	 Como	foi	possível	observar,	o	Supremo	Tribunal	de	Justiça,	ao	conferir	ampliaçãointerpretativa	ao	instituto,	buscou,	assim,	a	
finalidade	precípua	da	lei	de	proteger	a	família.	Sendo	assim,	como	visto	na	jurisprudência	da	Corte,	houve	um	relevante	processo	de	
extensão	protetora	do	bem	de	família,	a	partir	da	interpretação	teleológica	da	lei,	firmando	a	sua	posição	como	Tribunal	da	Cidadania.
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LEXMAX - rEvistA do AdvogAdo 93
OS DIREITOS HUMANOS, A HIERARQUIZAÇÃO DOS TRATADOS 
INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO 
PÁTRIO E O CASO DO DEPOSITÁRIO INFIEL
RESUMO
	 Examinam-se,	 neste	 artigo,	 o	 destaque	 e	 a	 relevância	 que	 os	 direitos	 humanos	 estão	 alcançando,	 principalmente,	 com	 o	
aprimoramento	do	Direito	 Internacional	dos	Direitos	Humanos.	Através	de	uma	análise	sobre	seu	conceito,	suas	características,	suas	
classificações	e	posições	adotadas,	ao	serem	recepcionados	pelo	ordenamento	jurídico	interno,	esclarecida	fica	a	importância	que	esses	
direitos	estão	adquirindo.	Além	disso,	o	artigo	aborda	um	tópico	acerca	da	prisão	civil	do	depositário	infiel,	que	trará	à	luz	a	importância	
da	Emenda	Constitucional	nº	45	e	uma	reflexão	acerca	das	teorias	de	hierarquização	dos	tratados	internacionais	de	direitos	humanos.
Palavras-chave:	direitos	humanos.	hierarquia.	direito	internacional.	constituição	federal.	depositário	infiel.	emenda	constitucional	nº	45.
ABSTRACT
This	 article	 examines	 the	 focus	 and	 the	 relevance	 that	 human	 rights	 are	 reaching,	 especially	with	 the	 improvement	 of	 international	
human	rights	law.	Through	an	analysis	of	its	concept,	its	features,	its	classifications	and	positions	adopted	by	the	doctrine	of	the	time	it	
is	introduced	into	domestic	law,	clarifying	the	importance	that	these	rights	are	acquiring.	In	addition,	the	article	ends	with	a	discussion	
about	the	civil	prison	of	the	unfaithful	trustee,	which	will	bring	to	light	the	importance	of	Constitutional	Amendment	number	45	and	a	
reflection	about	the	hierarchy	theories	of	international	human	rights	treaties.
Keywords:	human	rights.	hierarchy.	international	law.	constitution.	unfaithful	trustee.	constitutional	amendment	no	45.
1. INTRODUÇÃO 
	 Neste	 presente	 artigo,	 discorrer-se-á	 acerca	 dos	Direitos	Humanos	 como	um	 todo,	 através	 de	 uma	 análise	 de	 seus	vários	
aspectos,	de	suas	dimensões	e	de	sua	recepção	por	nosso	ordenamento	jurídico,	assim	como	será	apresentado	o	caso	da	prisão	civil	do	
depositário	infiel,	com	sua	jurisprudência,	seus	precedentes	e	suas	consequências.
	 Inicialmente	serão	esclarecidas	a	três	possíveis	definições	que	os	Direitos	Humanos	podem	assumir	na	doutrina:	a	conceituação	
tautológica,	a	formal	e	a	finalística,	que	adota	o	objetivo	que	se	pretende	alcançar	com	tais	direitos	como	ponto	de	partida.
	Em	seguida,	serão	apresentadas	as	características	dos	direitos	fundamentais,	as	quais,	depois	de	descritas	e	esgotadas,	levarão	ao	preciso	
entendimento	da	relevância	que	atualmente	esses	direitos	alcançaram	para	a	humanidade.
	 Não	obstante,	é	feito	um	estudo	sobre	as	dimensões	desses	direitos,	que	se	dividem	em	quatro,	as	quais	estão	em	constante	
interação,	apresentando	complementariedade	uma	em	relação	à	outra,	surgindo	em	épocas	diferentes,	de	acordo	com	seus	contextos	
históricos	respectivos.
	 Apresentar-se-á	um	embate	que	é	comum	no	Direito	 Internacional,	o	qual	diz	respeito	à	soberania	dos	Estados	em	relação	
às	 normas	 contraídas	 nos	 tratados	 internacionais,	 explicando	 a	 caducidade	 do	 argumento	 do	 princípio	 da	 soberania	 e	 afirmando	 a	
necessidade	de	se	ter	um	sistema	universal	de	proteção	dos	direitos	fundamentais.
	 Serão	abordadas	as	teorias	de	hierarquização	dos	tratados	internacionais,	quando	recepcionados	pelo	Direito	interno,	tendo,	
como	enfoque,	os	tratados	de	direitos	humanos.	São	quatro	ao	todo:	a	tese	da	supraconstitucionalidade,	 isto	é,	hierarquia	superior	à	
própria	Constituição;	a	da	constitucionalidade	material;	a	da	hierarquia	supralegal,	que	é	o	status	 inferior	à	Constituição	e	superior	à	
legislação	ordinária;	a	da	hierarquia	infraconstitucional,	ou	status	de	norma	ordinária.
	 Por	fim,	analisar-se-á	a	questão	da	prisão	civil	do	depositário	infiel,	como	se	chegou	à	sua	ilicitude,	os	argumentos	que	firmaram	
a	tese	da	supralegalidade	e	o	destaque	da	Emenda	Constitucional	(EC)	nº	45	em	todo	esse	processo.
2 CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS
 No	senso	comum,	a	definição	do	que	seriam	direitos	humanos	é	variável	e	subjetiva,	algumas	possuindo	uma	ideia	de	variedade	
de	direitos	básicos,	outras	apenas	acreditando	que	seja	supérflua	tal	questão,	pois	é	bem	lógico	que	cada	ser	humano	possui	direitos.	
Na	doutrina	especializada,	 incorre-se	na	mesma	situação	de	não	se	encontrar	um	conceito	uniforme,	uma	vez	que	basta	um	simples	
exame	das	definições	existentes	para	se	certificar	de	que	a	descrição	desses	direitos	não	é	tarefa	fácil	(RAMOS,	2005).	A	conceituação	
de	Direitos	Humanos	é,	ao	mesmo	tempo,	óbvia	e	duvidosa,	dependendo	do	ponto	de	vista	que	se	adota,	ao	analisar	tais	termos.	
	 Há	três	tipos	de	definições	existentes	para	explicar	o	que	viriam	a	ser	os	direitos	humanos	(PERES	LUÑO,	1995).	O	primeiro	
Gabriela Pinto Brito de Figueiredo
LEXMAX - rEvistA do AdvogAdo94
tipo	tem,	como	característica	principal,	a	tautologia,	isto	é,	a	afirmação	lógica	e	racional	que	irrompe	no	subjetivo	humano,	logo	de	início,	
a	qual	não	aporta	elemento	novo	algum	para	a	suacaracterização.	Dessa	forma,	tem-se,	como	exemplo,	a	conceituação	de	que	direitos	
humanos	seriam	aqueles	que	correspondem	ao	homem	pelo	fato	de	ser	homem,	entretanto	é	bem	sabido	que	todos	os	direitos	têm,	
como	titulares,	o	homem	ou	suas	emanações,	tornando	tal	conceito	incompleto.
	 O	segundo	tipo	de	definição	é	aquela	reconhecida	como	formal,	que	não	visa	à	especificação	do	conteúdo	dos	direitos	humanos,	
isto	é,	de	sua	materialidade,	mas	prende-se	a	alguma	indicação	sobre	o	seu	regime	jurídico	especial.	Assim,	essa	conceituação	estabelece	
que	tais	direitos	são	os	que	pertencem,	ou	devem	pertencer	a	todos	os	homens	e	que	não	podem	deles	se	privar,	uma	vez	que	possuem	
regime	indisponível	e	sui	generis.
	 Finalmente,	existe	a	definição	que	adota,	como	ponto	de	partida,	o	objetivo	ou	o	fim	para	se	atingir	a	uma	descrição	dos	direitos	
humanos.	Dessa	forma,	esse	rol	de	direitos	seria	
	 No	mesmo	sentido,	os	direitos	humanos	são
 Ainda	mais	preciso	foi	o	conceito	de	Peres	Luño,	para	o	qual	direitos	humanos
 Nesse	diapasão,	os	direitos	humanos	são	todas	faculdades	deixadas	ao	alcance	dos	seres	humanos	para	que	estes	tenham	uma	
vida	digna	plena,	na	medida	de	suas	necessidades.
3 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS
 Para	ter	uma	melhor	compreensão	da	importância	alcançada	pelos	direitos	humanos	no	âmbito	internacional,	é	de	muita	valia	o	
estudo	das	características	desses	direitos,	que	permitirá	o	entendimento	da	consolidação	do	Direito	Internacional	dos	Direitos	Humanos,	
com	seus	muitos	tratados,	cortes	e	órgãos	assemelhados.	Não	obstante,	servirá	de	base	para	conhecimento	e	aplicação	por	parte	dos	
atuantes	na	área	de	Direito	no	Brasil,	uma	vez	que	este	é	signatário	de	dezenas	de	tratados	de	direitos	humanos,	 já	reconhecendo	a	
jurisdição	obrigatória	da	Corte	Interamericana	de	Direitos	Humanos.
	 Em	sede	preliminar,	será	examinada	a	superioridade	normativa,	que	é	possível	de	ser	compreendida	tanto	no	Direito	interno,	
quanto	no	Direito	Internacional.		No	primeiro,	as	normas	de	direitos	humanos	gozam,	em	geral,	de	status	constitucional,	sendo,	assim,	
superiores	às	demais	normas	do	ordenamento	jurídico,	justamente	o	que	se	constata	no	Brasil.	Esses	direitos	estão	protegidos	e	tutelados	
na	Constituição,	e	ainda	considerados	cláusulas	pétreas,	possuindo,	portanto,	imutabilidade.
	 No	segundo,	por	sua	vez,	essa	ideia	de	superioridade	normativa	é	nova,	pois,	nessa	instância,	é	comum	criar-se	normas	que	
sejam	frutos	de	acordos	mútuos,	ou	seja,	provindas	da	vontade	dos	Estados	e	apenas	dependentes	desta,	todavia,	
 O	jus	cogen	é	o	grupo	de	normas	que	possuem	conteúdo	essencial	para	a	humanidade,	possuindo	força	frente	a	outras	normas	
do	Direito	Internacional.	Esse	direito	imperativo,	que	assim	se	pode	chamar,	surgiu	na	doutrina	através	de	debates	contra	o	voluntarismo	
existente	na	esfera	 internacional,	 que	 inicialmente	 foi	 criticado	por	 ideias	 fundadas	no	Direito	Natural,	 que	defende	a	existência	de	
normas	estranhas	à	vontade	humana,	as	quais	existem	independentemente,	pois	surgem	concomitante	à	humanidade	e	impõem	limites	à	
liberdade	dos	Estados	em	criar	tratados.	Verdross,	jurista	alemão,	foi	um	dos	primeiros	a	defender	a	presença	de	normas	cogentes,	com	
uma	forma	abreviada	de	mencionar	os	direitos	fundamentais	da	pessoa	humana.	Esses	direitos	
são	considerados	fundamentais	porque	sem	eles	a	pessoa	humana	não	consegue	existir	ou	não	é	
capaz	de	se	desenvolver	e	de	participar	plenamente	da	vida	(DALLARI,	1998).	
faculdades	que	o	Direito	atribui	a	pessoas	e	aos	grupos	sociais,	expressão	de	suas	necessidades	
relativas	à	vida,	liberdade,	igualdade,	participação	política,	ou	social	ou	a	qualquer	outro	aspecto	
fundamental	que	afete	o	desenvolvimento	integral	das	pessoas	em	uma	comunidade	de	homens	
livres,	exigindo	respeito	ou	a	atuação	dos	demais	homens	dos	grupos	sociais	e	do	Estado,	e	com	
garantia	dos	poderes	públicos	para	restabelecer	seu	exercício	em	caso	de	violação	ou	para	realizar	
sua	prestação	(PECES-BARBA,	1987).
é	 o	 conjunto	 de	 faculdades	 e	 instituições	 que,	 em	 cada	 momento	 histórico,	 concretizam	 as	
exigências	 de	 dignidade,	 liberdade	 e	 igualdade	 humanas,	 as	 quais	 devem	 ser	 reconhecidas	
positivamente	 pelos	 ordenamentos	 jurídicos	 em	 nível	 nacional	 e	 internacional	 (PERES	 LUÑO,	
1995).
apesar	de	recente,	é	certo	que	hoje	se	discute	a	existência	de	normas	imperativas	internacionais	
(ou	normas	cogentes),	que,	por	conter	valores	fundamentais	da	sociedade	internacional,	só	podem	
ser	derrogadas	por	normas	de	igual	dignidade	(RAMOS,	2005).
LEXMAX - rEvistA do AdvogAdo 95
argumentos	diversos	do	jusnaturalismo.	A	sobrevivência	da	comunidade	internacional	começava	a	ser	transformada	no	fundamento	para	
aceitação	universal	das	normas	imperativas.
	 Como,	então,	saber	que	uma	norma	faz	parte	do	jus	cogens,	e	quem	define	que	tal	norma	é	cogente	ou	não?	Uma	característica	
dos	direitos	humanos	é	a	sua	abertura,	também	reconhecida	como	principio	da	não	tipicidade,	isto	é,	sempre	de	acordo	com	as	necessi-
dades	humanas	de	cada	período	histórico,	o	rol	desses	direitos	se	modifica,	com	a	inclusão	de	mais	alguns.	
	 Outra	característica	é	a	indivisibilidade,	que	corresponde	ao	entendimento	de	que	os	direitos	humanos	consistem	em	um	único	
bloco	não	passível	de	repartição,	pois	todos	esses	direitos	devem	ter	a	mesma	proteção	jurídica,	uma	vez	que	são	essenciais	para	uma	
vida	com	dignidade.	Portanto,	todos	os	direitos	ditos	humanos	são	jus	cogen,	já	que	não	podem	ser	divididos,	assim	como	sua	lista	não	
está	esgotada,	visto	que	possuem	a	característica	da	abertura,	e	como	é	a	comunidade	internacional	que	estabelece,	em	conjunto,	quais	
são	os	direitos	essenciais	à	humanidade,	por	via	de	consequência	lógica,	quem	define	as	normas	cogentes	também	é	a	comunidade	inter-
nacional.
	 A	quarta	característica	diz	repeito	à	universalidade,	que	se	pode	referir	a	três	distintos	planos:	o	da	titularidade,	que	remete	
os	direitos	humanos	serem	universais,	devido	aos	seus	titulares,	que	são	todos	os	seres	humanos,	sem	distinção	de	religião,	gênero,	
convicção	política,	raça	ou	nacionalidade;	o	da	temporalidade,	que	afirma	que	os	direitos	humanos	são	universais,	porque	os	homens	
os	possuem	em	qualquer	momento	histórico;	o	da	cultura,	em	que	os	direitos	humanos	são	universais,	porque	fazem	parte	de	todas	as	
culturas	humanas	(PECES-BARBA,	1999).
	 O	artigo	1.o	da	Declaração	de	Viena	diz	que	“a	natureza	universal	desses	direitos	e	liberdades	não	admite	dúvidas”,	e,	em	seu	
parágrafo	5.o,	reconhece	a	universalidade	como	característica	marcante	do	regime	jurídico	internacional	dos	direitos	humanos.	Importan-
te	notar	que	a	Declaração	Universal	dos	Direitos	Humanos	não	mencionou	a	característica	da	universalidade	em	sua	redação,	porque,	ao	
momento	de	sua	concepção,	a	Assembleia	Geral	da	ONU	contava	apenas	com	a	participação	de	58	Estados,	e	boa	parte	da	humanidade	
vivia	sob	o	jugo	colonial.
	 A	Declaração	de	Viena	admitiu,	sim,	que	particularidades	locais	de	cada	Estado,	de	cada	cultura	e	religião	devem	ser	sopesadas	
diante	de	algum	conflito	com	os	direitos	fundamentais,	mas	afirmou	que	é	obrigação	do	Estado	proteger	os	direitos	humanos,	que	são	
universais,	independentemente	de	seus	sistemas	políticos,	econômicos	e	culturais.
	 Outra	característica	dos	direitos	humanos	é	a	interdependência,	que	se	alia	ao	conceito	de	indivisibilidade.
	 Nesse	deambular,	para	se	evitar	qualquer	forma	de	conflito,	é	necessário	interpretar	os	tratados	de	direitos	humanos	em	con-
junto,	e	não	separadamente.
	 Tem-se	também	a	indisponibilidade,	como	atributo	dos	direitos	humanos,	a	qual	implica	entender	que	esses	direitos	são	irrenun-
ciáveis.	Essa	indisponibilidade	pode	ser	relacionada	a	três	fatores:	a	qualidade	especial	de	seu	titular,	como	incapazes,	crianças	e	adoles-
centes;	o	seu	objeto,	como	bens	fora	de	comercialização	e	direitos	fundamentais	da	pessoa	humana;	as	relações	jurídico-institucionais,como	o	casamento	e	a	família.
	 Tradicionalmente,	a	indisponibilidade	de	um	direito	fundamental	se	ancorava	no	respeito	pela	ordem	pública,	mas	foi	ultrapassa-
da	com	a	consagração	da	dignidade	da	pessoa	humana	no	Direito	Internacional	dos	Direitos	Humanos	e,	até	mesmo,	no	Direito	interno.	
O	fundamento	da	dignidade	da	pessoa	humana	traduz	a	impossibilidade	do	ser	humano	se	transformar	em	mero	objeto,	mesmo	que	seja	
por	sua	vontade.	Dessa	forma,	torna	os	direitos	humanos	indisponíveis,	uma	vez	que	estes	prezam	pela	dignidade	de	todos	os	indivíduos.
	 O	caráter	erga	omnes	dos	direitos	humanos	é,	da	mesma	forma,	necessário	de	se	conhecer.	Essa	qualidade	possui	duas	facetas:	
o	reconhecimento	do	interesse	de	todos	os	Estados	da	comunidade	internacional	em	ter	os	direitos	humanos	amplamente	protegidos;	a	
aplicação	geral	e	indiscriminada	das	normas	protetivas	a	todos	os	seres	humanos,	o	que	implica	que	todos	sob	a	jurisdição	de	um	Estado	
podem	invocar	tais	direitos,	sem	que	a	nacionalidade	ou	seu	estatuto	jurídico	importem,	obtendo,	assim,	acesso	às	instâncias	internacio-
nais	de	proteção	dos	direitos	humanos	(RAMOS,	2005).
	 Em	1993,	a	Declaração	da	Conferência	Mundial	de	Direitos	Humanos	de	Viena,	por	meio	de	sua	redação,	consagrou	a	crescente	
preocupação	com	a	implementação	dos	Direitos	Humanos,	tendo	em	vista	que	a	fase	legislativa	de	proteção	já	estava	sendo	ultrapassada.	
Dessa	forma,	essa	Declaração	invocou	outro	atributo	dos	direitos	humanos:	a	sua	exigibilidade.
	 A	implementação	dos	direitos	fundamentais	é	o	desafio	atual	que	se	apresenta	a	toda		comunidade	internacional.	A	Convenção	
Pela	primeira	vez	em	toda	história,	a	humanidade	da	Era	Nuclear	enfrentava	o	risco	do	desapa-
recimento,	não	de	um	Estado	ou	outro,	mas	sim	da	própria	espécie.	Além	disso,	iniciavam-se	as	
preocupações	ambientais,	também	capazes	de	ameaçar	a	sobrevivência	da	espécie,	uma	vez	que,	
como	fruto	paradoxal	da	corrida	espacial,	o	homem	descobre-se,	em	plena	década	de	70,	preso	
à	Terra	(RAMOS,	2005).
A	ampliação	acelerada	do	número	de	direitos	protegidos	fez	nascer,	por	outro	lado,	a	necessidade	
da	sistematização	dos	mesmos	em	uma	concepção	lógica	capaz	de	dar	coerência	ao	conjunto	de	
direitos	humanos	protegidos,	em	especial	nos	casos	de	colisão	aparente	e	concorrência	entre	eles	
(RAMOS,	2005).
LEXMAX - rEvistA do AdvogAdo96
Americana	exerceu	um	grande	papel	nessa	área,	pois	estabeleceu	um	verdadeiro	processo	judicial	internacional	para	aqueles	Estados	que	
violassem	suas	normas,	com	a	integração	da	Comissão	e	da	Corte	Interamericana.	As	sentenças	proferidas	pela	Corte	possuem	efeitos	
vinculantes,	com	o	propósito	de	reestabelecer	a	legalidade	internacional.
	 A	Constituição	Brasileira	de	1988	expressamente	estabelece	a	aplicação	imediata	–	outro	atributo	–	dos	direitos	humanos,	em	
seu	artigo	quinto,	parágrafo	primeiro,	isto	é,	que	as	normas	de	direitos	e	garantias	fundamentais	não	necessitam	de	outras	normas	jurídi-
cas	para	regularem	seus	conteúdos.
	 Já	no	Direito	Internacional,	essa	particularidade	depende	da	própria	redação	das	normas,	que	permitirá,	ou	não,	sua	aplicação	
imediata	pelo	Direito	interno	de	cada	país.	Isso	gera	uma	distinção	entre	as	normas	de	direitos	humanos	em	self-executing	e	not-self	
executing	rules.
	 A	Corte	Interamericana	de	Direitos	Humanos,	em	importante	parecer	consultivo,	estabeleceu	que	é	admissível	a	consulta	que	
tenha,	como	fundamento,	dúvidas	acerca	da	auto-aplicabilidade	das	normas	pertencentes	à	Convenção	Americana	de	Direitos	Humanos,	
afirmando	a	sua	competência	para	decidir	sobre	cada	questão	apresentada.
	 Dessa	forma,	esse	tema	não	pode	ser	simplesmente	debatido	na	esfera	interna	dos	Estados.	A	autoaplicabilidade	de	uma	norma	
se	sustenta	no	entendimento	de	cada	órgão	internacional	responsável	por	suas	respectivas	convenções	e	tratados.	
	 Outro	ponto	a	ser	analisado	sobre	os	Direitos	Humanos	é	o	que	se	refere	à	dimensão	objetiva	dos	mesmos.	É	necessário	en-
tender	que	esses	direitos,	além	de	conferir	posições	jurídicas	aos	indivíduos	(dimensão	subjetiva),	geram	também	regras	impositivas	de	
comportamento	para	que	se	tenha	proteção	plena	deles	(dimensão	objetiva),	que,	em	geral,	são	direcionadas	ao	Estado.
 Como	penúltimo	atributo,	tem-se	a	proibição	do	retrocesso,	que	traduz	a	ideia	de	que	não	é	permitido	regredir	na	seara	dos	
direitos	humanos.	É	vedado	aos	Estados	que	diminuam	ou	amesquinhem	a	proteção	já	alcançada	por	esses	direitos,	assim	como	não	é	
autorizado	que	novos	tratados	os	imponham	restrições	e	diminuições.
	 Finalmente,	a	última	característica	dos	direitos	humanos	é	a	sua	eficácia	horizontal,	que	é	a	aplicação	dos	direitos	fundamentais	
nas	relações	entre	particulares,	sem	a	necessária	mediação	de	uma	lei.
	 Existem	duas	modalidades	de	eficácia	 horizontal	 de	normas	de	 tratados	 internacionais	 de	direitos	humanos:	 a	primeira	 diz	
respeito	ao	reconhecimento	no	próprio	tratado	da	possível	aplicação	desses	direitos	às	relações	entre	particulares;	e	a	segunda	consiste	
em	haver	fiscalização	continua	sobre	o	cumprimento	das	obrigações	dos	Estados	em	prevenir	e	sanar	as	possíveis	violações	dos	direitos	
humanos	em	seu	território.
	 Essa	ideia	de	aplicação	horizontal	dos	direitos	humanos	se	confronta	com	a	tese	liberal,	que	afirma	serem	esses	direitos	ape-
nas	de	defesa	contra	o	Estado,	somente	possibilitando	sua	inserção	nas	relações	verticais	(indivíduo-Estado).	Consequentemente,	esse	
posicionamento	liberal	não	permite	uma	eficácia	plena	dos	direitos	fundamentais,	ignorando	a	importância	de	cada	individuo	poder,	sem	
qualquer	necessidade	de	mediação,	invocar	os	direitos	e	garantias	individuais	nas	suas	relações	privadas.
4 AS DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS
	 Inicialmente,	é	bastante	adequado	esclarecer	o	embate	que	há	sobre	os	termos	“dimensão”	e	“geração”	de	direitos	humanos.	
Aquele	vem	substituindo	este	na	doutrina,	devido	a	várias	críticas	pelo	fato	da	palavra	“geração”	acarretar	uma	ideia	temporal,	fomentan-
do,	no	raciocínio	humano,	ao	estudar	mencionado	tema,	o	entendimento	de	que	a	segunda	geração	de	direitos	ultrapassou	a	primeira,	
assim	como	a	terceira	fez	sucumbir	a	segunda.	O	que	realmente	não	acontece.	No	lugar	de	sucessão	de	direitos,	há	uma	acumulação	
(BONAVIDES,	1993).	Uma	geração	não	sucede	a	outra,	mas	com	ela	interage,	estando	em	constante	e	dinâmica	relação	(PIOVESAN,	
1998).	
	 É	importante	compreender	também	que	os	direitos	humanos,	na	modernidade	ocidental,	são	frutos	históricos	de	lutas	associa-
das	a	movimentos	burgueses	na	Europa	e	nos	Estados	Unidos,	e	não,	como	os	jusnaturalistas	defendiam,	direitos	provindos	da	própria	
natureza,	pré-existindo	ao	direito	positivo.
	 A	primeira	dimensão	de	direitos	humanos	engloba	os	chamados	direitos	de	liberdade,	que	são	aqueles	que	invocam,	majoritaria-
mente,	as	prestações	negativas	do	Estado,	com	o	intuito	de	proteger	a	esfera	da	autonomia	do	individuo.	Necessário	é	prestar	atenção	ao	
“majoritariamente”,	pois,	em	certas	situações,	exige-se	uma	posição	ativa	do	Estado,	para	que	se	garanta	a	proteção	desses	direitos.	Fazem	
parte	desse	grupo	os	direitos	civis	e	políticos.	São	produtos	das	revoluções	liberais	do	século	XVIII	na	Europa	e	nos	Estados	Unidos.
Esses	deveres	geram	a	criação	de	procedimentos	e	também	de	entes	ou	organizações	capazes	
de	assegurar,	na	vida	prática,	os	direitos	fundamentais	da	pessoa	humana.	À	dimensão	subjetiva	
dos	direitos	humanos,	soma-se	essa	dimensão	objetiva,	assim	denominada	pela	sua	característica	
organizacional	e	procedimental,	independente	de	proteções	individuais	(RAMOS,	2005).
Assim,	 toma-se	o	devido	cuidado	para	que	se	enfatize	a	questão	da	complementariedade,	 in-
terdependência	e	indivisibilidade	dos	direitos	humanos,	princípios	que	têm	sido	enfatizados	nas	
conferencias	internacionais	relativas	a	esses	direitos	(BORGES,	2014).
LEXMAX - rEvistA do AdvogAdo 97
	 Os	direitos	fundamentais	que	compõem	a	segunda	dimensão	são	resultadosdos	impactos	provocados	pelo	avanço	da	industria-
lização,	guiada	pelo	capitalismo,	no	século	XIX.	Criou-se	uma	enorme	necessidade	de	ações	positivas	do	Estado	para	que	os	indivíduos	
viessem	a	possuir	dignidade	frente	a	todas	as	situações	que	estavam	acontecendo.	O	socialismo	teve	bastante	influência	na	luta	por	esses	
direitos	de	cunho	positivo	estatal,	participando	da	cobrança	e	realização	dos	mesmos	(SARLET,	2007).	Estão	inclusos,	nesse	grupo,	os	
direitos	sociais	e	econômicos.	Eles	possuem	como	marcos	históricos	a	Constituição	Mexicana	de	1917	(que	regulou	o	direito	ao	trabalho	
e	à	previdência	social),	a	Constituição	alemã	de	Weimar	de	1919	(que	estabeleceu	os	deveres	do	Estado	perante	a	proteção	dos	direitos	
sociais)	e,	no	Direito	Internacional,	o	Tratado	de	Versailles,	que	criou	a	Organização	Internacional	do	Trabalho,	reconhecendo	os	direitos	
dos	trabalhadores	(RAMOS,	2005).
	 Já	os	direitos	da	terceira	dimensão	são	aqueles	que	possuem	como	titulares	a	comunidade	em	geral,	assim	como	grupos	menos	
determinados	de	pessoas	que	não	detêm	vínculo	jurídico	ou	fático	preciso.	São	os	chamados	direitos	difusos	ou	transindividuais.	Entre	
eles,	encontram-se	o	direito	à	paz,	o	direito	a	autodeterminação	e	o	direito	ao	meio	ambiente	equilibrado.	
	 Esses	direitos
 A	maioria	dos	autores	ainda	defende	uma	quarta	dimensão,	que	é	resultado	da	globalização	dos	direitos	humanos,	tendo	como	
integrantes	os	direitos	de	participação	democrática	(democracia	direta),	de	informação	e	direito	ao	pluralismo	(BONAVIDES,	1997).
5 SOBERANIA NACIONAL E O DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
	 A	proteção	dos	direitos	humanos	integra	o	contemporâneo	espaço	do	Direito	Internacional,	pois,	quando	se	positiva	os	direitos	
fundamentais	em	convenções	e	declarações	universais,	eles	passam	a	ser	reconhecidos	simultaneamente	para	toda	a	humanidade.	Hoje,	
temos	no	Direito	Internacional	um	estabelecido	rol	de	direitos	humanos	que	são	protegidos	através	de	mecanismos,	também	consolida-
dos,	de	supervisão	e	controle	das	ações	preventivas	ou	corretivas	de	violações	a	esses	direitos	por	parte	dos	Estados	(RAMOS,	2005).
	 Isto	posto,	não	é	mais	aceitável	as	alegações	estatais	afirmando	que	a	proteção	desses	direitos	é	de	exclusivo	domínio	seu,	e	que	
possíveis	averiguações	internacionais	da	sua	situação	interna	ofenderiam	ao	principio	da	soberania	dos	Estados.	“Com	efeito,	a	crescente	
aceitação	de	obrigações	internacionais	no	campo	de	direitos	humanos	consagrou	a	impossibilidade	de	se	alegar	competência	nacional	
exclusiva	em	tais	matérias”	(RAMOS,	2005).
	 Em	uma	forma	ainda	mais	esclarecedora:	
	 Portanto,	a	proteção	alcançada	pelos	direitos	fundamentais	no	campo	internacional	é	fruto	do	exercício	pleno	da	soberania	dos	
Estados,	que,	através	de	experiências	históricas,	perceberam	sua	impotência	na	absoluta	tutela	desses	direitos	com	apenas	seus	próprios	
mecanismos.
6 TEORIAS ACERCA DA HIERARQUIZAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS NO DIREITO INTERNO
	 A	escolha	sobre	qual	teoria	de	hierarquia	dos	tratados	de	direitos	humanos	seja	a	mais	adequada	dentro	de	cada	ordenamento	
interno	é	uma	questão	de	difícil	solução	diante	dos	fortes	argumentos	em	defesa	de	cada	uma	delas.	Há,	na	doutrina	nacional,	quatro	
posicionamentos	sobre	a	hierarquia	dos	tratados	de	direitos	humanos:	a	tese	da	supraconstitucionalidade,	isto	é,	hierarquia	superior	à	
própria	Constituição;	a	da	constitucionalidade	material;	a	da	hierarquia	supralegal,	que	é	o	status	 inferior	à	Constituição	e	superior	à	
legislação	ordinária;	a	da	hierarquia	infraconstitucional,	ou	status	de	norma	ordinária.
	 A	teoria	da	supraconstitucionalidade	atribui	aos	tratados	de	direitos	humanos	posição	superior	à	Constituição.	A	doutrina	que	a	
defende	atenta,	especialmente,	para	o	artigo	27	da	Convenção	de	Viena	sobre	o	Direito	dos	Tratados,	o	qual	dispõe	sobre	a	impossibili-
dade	de	o	Estado	invocar	regras	do	Direito	interno	para	deixar	de	cumprir	um	tratado	internacional.	Além	disso,	o	princípio	da	boa-fé,	que	
é,	no	Direito	Internacional,	acolhido	de	forma	majoritária	pelos	Estados,	orienta	o	não	descumprimento	das	normas	previstas	em	tratados	
internacionais.
são	 frutos	da	descoberta	 do	homem	vinculado	 ao	planeta	Terra,	 com	 recursos	 finitos,	 divisão	
absolutamente	desigual	de	riquezas	em	verdadeiros	círculos	viciosos	de	miséria	e	ameaças	cada	
vez	mais	concretas	à	sobrevivência	da	espécie	humana	(RAMOS,	2005).
O	 desenvolvimento	 histórico	 da	 proteção	 internacional	 dos	 direitos	 humanos	 gradualmente	
superou	 barreiras	 do	 passado:	 compreendeu-se,	 pouco	 a	 pouco,	 que	 proteção	 dos	 direitos	
básicos	da	pessoa	humana	não	se	esgota,	como	não	poderia	se	esgotar,	na	atuação	do	Estado,	
na	pretensa	e	indemonstrável	‘competência	nacional	exclusiva’	(CANÇADO	TRINDADE,	1991).
ainda	 que	 por	 sede	 argumentativa	 se	 queira	 recorrer	 aos	 padrões	 clássicos	 de	 soberania,	 é	
necessário	 ser	 destacado	 que	 mesmo	 a	 atuação	 nacional	 na	 celebração	 de	 tais	 tratados	 é	
manifestação	da	atividade	soberana	do	Estado	(CHOUKR,	2001).
LEXMAX - rEvistA do AdvogAdo98
	 “Um	Estado	pode	incorrer	em	responsabilidade	internacional	mesmo	quando	a	violação	do	Direito	Internacional	é	cometida	por	
sua	lei	básica,	ou	seja,	a	Constituição”	(MELLO,	2004).	Mello	foi	o	maior	expoente	nacional	dessa	corrente	que	defende	a	superioridade	
dos	tratados	de	direitos	humanos	em	relação	a	todas	as	normas	de	do	Direito	interno.	O	citado	mestre	entende	que	nem	mesmo	as	
emendas	constitucionais	poderiam	revogar	os	tratados	e	convenções	sobre	direitos	fundamentais	ratificados	pelo	Estado.		
	 Outro	status	das	normas	 internacionais	que	versam	sobre	direitos	humanos	é	o	constitucional.	Entre	os	doutrinadores	que	
defendem	essa	tese	estão	Flávia	Piovesan,	Valério	de	Oliveira	Mazzuoli,	e	Antônio	Augusto	Cançado	Trindade.		Em	sua	redação,	a	Cons-
tituição,	no	artigo	quinto,	parágrafo	segundo,	aceita	que	normas	internacionais	ampliem	o	rol	de	direitos	e	garantias	fundamentais,	de-
monstrando	que	a	lista	de	direitos	humanos	e	garantias	não	é	taxativo,	nem	imutável,	assim	como	diz	o	artigo	sessenta,	paragrafo	quarto,	
inciso	quarto,	da	Constituição	Federal,	mas	essa	compreensão	também	encontra	grandes	debates	na	doutrina	e	jurisprudência.	
	 Com	o	surgimento	da	Emenda	Constitucional	nº	45,	de	2004,	foram	incluídos	os	últimos	parágrafos	do	artigo	quinto.	O	pa-
rágrafo	terceiro	estabelece	que	as	normas	internacionais,	relativas	a	direitos	humanos,	para	que	assumam	status	equivalente	à	Consti-
tuição	Federal,	deveriam	ter	quórum	qualificado	de	Emenda	Constitucional,	ou	seja,	possuir	três	quintos	dos	votos,	das	duas	casas	do	
Congresso,	em	dois	turnos.	Tal	modificação	legislativa	no	artigo	5º	da	Carta	Magna	prejudicou	o	entendimento	de	status	constitucional	
quanto	a	algumas	normas	internacionais,	a	exemplo	da	Convenção	Americana	Sobre	Direitos	Humanos,	que	não	recebeu	esse	quórum	
de	qualificação.
	 A	terceira	teoria	e,	diga-se	de	início,	a	mais	aceita	atualmente	no	Brasil,	é	a	da	supralegalidade.	Essa	corrente	afirma	que	os	
tratados	internacionais	de	Direitos	Humanos	possuem	posição	hierárquica	inferior	à	Constituição,	mas	superior	às	normas	ordinárias.
	 O	Supremo	Tribunal	Federal	decidiu,	no	julgamento	do	Recurso	Extraordinário	nº	466.343,	por	votação	unânime,	atribuir	aos	
tratados	que	versassem	sobre	direitos	e	garantias	fundamentais	a	condição	de	norma	supralegal.	Dessa	forma,	o	Brasil	adota	essa	tese	
no	momento.	O	referido	julgamento	teve	uma	importância	de	grande	tamanho	para	o	Direito	brasileiro,	pois	ao	discutir	o	Tratado	de	San	
Jose	da	Costa	Rica	em	face	da	lei	ordinária	que	permitia	a	prisão	civil	do	depositário	infiel,	findou	por	conceder	uma	posição	superior	ao	
primeiro	dentro	da	hierarquia	das	normas,	possuindo,	como	consequência,	a	extinção	da	prisão	civil	por	divida	no	caso	de	depositário	
infiel	no	Brasil.	E	é	justamente	por	essa	importância,	que	há	o	próximoe	ultimo	tópico	para	um	aprofundamento	dessa	questão.
	 A	última	teoria,	chamada	de	teoria	da	legalidade,	defende	o	posicionamento	das	suso	mencionadas	normas	internacionais	lado	
a	lado	às	normas	ordinárias,	ou	seja,	na	mesma	hierarquia	que	as	normas	infraconstitucionais.	Embora,	como	visto,	a	corrente	adotada	
para	os	tratados	de	direitos	humanos	seja	a	da	supralegalidade,	em	relação	às	outras	categorias	de	tratados,	adota-se	aquela.
	 Essa	concepção	hierárquica	acarreta	problemas	para	o	Brasil,	vez	que,	em	caso	de	lei	ordinária	posterior	ao	tratado,	aquela	po-
derá	retirar	deste	todos	os	efeitos,	fazendo	com	que	o	país	descumpra	o	pacta	sunt	servanda,	que	significa	que	o	que	for	pactuado	deve	
ser	cumprido.
7 A PRISÃO CIVIL DECORRENTE DA CONDIÇÃO DE DEPOSITÁRIO INFIEL 
 
 Apesar	de	ser	uma	situação	já	pacificada,	é	de	muita	importância	sua	análise,	para	compreender	a	adoção	da	teoria	da	suprale-
galidade	para	os	tratados	internacionais	de	direitos	humanos,	assim	como	para	questionar	se	o	aludido	posicionamento	realmente	foi	o	
mais	adequado.	Afinal,	o	direito	é	uma	área	de	conhecimento	extremamente	mutável,	pois	seu	curso	se	move	paralelamente	ao	momento	
histórico	de	cada	país.
 Pois	bem,	a	prisão	civil	do	depositário	infiel	era	permitida	pelo	artigo	5.o,	em	seu	inciso	LXVII,	da	Constituição	Federal,	assim	
como	a	prisão	civil	por	inadimplemento	inescusável	do	débito	alimentar,	esta,	porém,	permanece	lícita.
	 Não	obstante	o	Brasil	ser	signatário	do	Pacto	de	San	José	da	Costa	Rica,	e	este	permitir	apenas	a	prisão	civil	por	débito	alimen-
tar,	o	Supremo	Tribunal	Brasileiro	adotou	a	postura	de	permissividade	para	a	prisão	do	depositário	infiel,	como	estabeleceu	o	Ministro	
Mauricio	Correa	no	julgamento	do	HC	75.512-7/SP:
	 Entretanto	a	Emenda	Constitucional	nº	45,	de	2004,	veio	a	mudar	o	posicionamento	do	STF	em	relação	à	matéria.	Como	já	
apontado	no	tópico	passado,	a	partir	dessa	emenda,	adotou-se	no	Brasil	a	teoria	da	supralegalidade	dos	tratados	de	direitos	humanos	e	
a	do	status	constitucional	para	aqueles	que	fossem	aprovados	no	Congresso	como	emendas.
O	depositário	 infiel	é	aquele	que	recebe	a	 incumbência	 judicial	ou	contratual	de	zelar	por	um	
bem,	mas	não	cumpre	sua	obrigação	e	deixa	de	entrega-lo	em	juízo,	de	devolvê-lo	ao	proprietário	
quando	 requisitado,	 ou	 não	 apresenta	 o	 seu	 equivalente	 em	 dinheiro	 na	 impossibilidade	 de	
cumprir	as	referidas	determinações	(GAGLIANO;	PAMPLONA	FILHO,	2014).
Os	compromissos	assumidos	pelo	Brasil	em	tratado	 internacional	de	que	seja	parte	 (paragrafo	
2.o,	do	artigo	5.o,	da	Constituição)	não	minimizam	o	conceito	de	soberania	do	Estado-Povo	na	
elaboração	de	sua	Constituição:	Por	esta	razão,	o	Pacto	de	San	José	da	Costa	Rica	(ninguém	deve	
ser	detido	por	divida:	este	princípio	não	limita	os	mandados	de	autoridade	judiciária	competente	
expedidos	em	virtude	de	inadimplemento	de	obrigação	alimentar)	deve	ser	interpretado	com	as	
limitações	impostas	pelo	artigo	5.o,	inciso	LXVII,	da	Constituição.
LEXMAX - rEvistA do AdvogAdo 99
	 Dessa	forma,	a	Convenção	Americana	de	Direitos	Humanos	ficou	no	patamar	supralegal,	pois	não	atingiu	os	votos	necessários	
para	alcançar	a	posição	de	uma	emenda	constitucional.	E	tal	configuração	hierárquica	revelou	uma	nova	ideia,	um	novo	entendimento	
entre	os	ministros,	que	reconheceram	a	superioridade	desse	tratado	em	relação	à	norma	ordinária	que	regulava	a	prisão	civil	do	deposi-
tário	infiel.
	 Dúvidas	são	levantas	acerca	da	existência	ou	não,	então,	de	uma	sanção	para	o	depositário	infiel,	visto	que	sua	prisão	foi	con-
siderada	ilícita.
	 Mas	a	solução	é	bem	simples:	a	conduta	deve	ser	rechaçada	com	a	exigência	judicial	da	obrigação	correspondente,	através	da	
tutela	especifica	da	obrigação	de	fazer.	
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
	 Através	deste	artigo	é	possível	compreender	a	relevância	dos	direitos	humanos	no	plano	nacional	e	internacional,	a	partir	de	
uma	detalhada	explicação	sobre:	seu	conceito,	que	são	vários,	dependendo	do	objeto	que	enfoca;	suas	características,	que	totalizam	
doze;	suas	dimensões,	em	que	foi	possível	discernir	a	diferença	entre	dimensão	e	geração	de	direitos	humanos,	tendo	em	vista	que	a	
última	criava	uma	ideia	de	ultrapassagem,	de	superação	de	um	grupo	de	direitos	em	relação	aos	outros,	assim	como	foi	importante	para	a	
compreensão	do	contexto	histórico	no	processo	de	aquisição	desses	direitos;	sua	problemática,	que	envolve	o	princípio	da	soberania	dos	
Estados;	sua	hierarquização	(quando	inscritos	em	tratados	internacionais)	ao	serem	recepcionados	no	Direito	interno,	que	possui	quatro	
correntes	ideológicas	com	fortes	argumentos	cada	uma.
	 Ao	final,	encontra-se	um	resumo	da	história	jurisprudencial	da	prisão	civil	do	depositário	infiel,	que	tem	o	intuito	de	expor	po-
sicionamento	que	o	STF	vem	adotando	em	relação	aos	tratados	internacionais	de	direitos	humanos,	com	destaque	para	o	julgamento	do	
HC	75.512-7/SP,	assim	como	demonstrar	o	prestígio	que	os	mesmos	estão	adquirindo	com	o	constante	crescimento	do	Direito	Interna-
cional.
	 Importante	foi	perceber	o	que	a	Emenda	Constitucional	nº	45	acarretou	na	jurisprudência	do	nosso	país,	consolidando	a	tese	
da	supralegalidade,	que	antes	sofria	uma	forte	concorrência	com	a	corrente	da	constitucionalidade	material.
	 Ainda	mais	relevante	é	saber	que	nada	é	para	sempre,	muito	menos	no	campo	do	Direito,	que	posições	novas	poderão	ser	
adotadas	de	acordo	com	as	necessidades	humanas,	que	novas	teorias	surgirão,	assim	como	novos	casos	serão	postos	à	prova,	e	novos	
direitos	serão	originados.	Cumpre,	porém,	ressaltar	o	princípio	da	proibição	ao	retrocesso,	que	é	a	única	exceção	a	essa	característica	
costumeira	do	Direito,	de	estar	modificando-se	a	todo	tempo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BORGES,	Maria	Creusa	de	Araújo.	Jus cogens, normativa internacional de proteção dos direitos humanos e o caso da prisão civil por 
dívida do depositário infiel:	estudo	analítico	a	partir	do	sistema	global	e	regional	de	proteção.	João	Pessoa,	2014.
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Paulo:	Saraiva,	1991.
CHOUKR,	Fauzi	Hassan.	A convenção americana dos direitos humanos e o direito interno brasileiro.	Bauru:	Edipro,	2001.
Assim,	a	prisão	do	depositário	 infiel	não	foi	especificamente	considerada	 inconstitucional,	pois	
sua	previsão	segue	na	Constituição	(que	é	considerada,	pelo	STF,	superior	aos	tratados),	mas	foi	
considerada	ilícita,	pela	ausência	de	norma	legal	valida	a	lhe	respaldar	(GAGLIANO;	PAMPLONA	
FILHO,	2014).
Isso	tudo	sem	prejuízo	do	enquadramento	da	conduta	em	tipo	penal	próprio,	seja	de	apropriação	
indébita,	seja	de	disposição	alheia	como	própria	(nos	termos	do	artigo	55	da	Lei	nº	10.931,	de	
2	de	agosto	de	2004,	c/c	o	artigo	171,	paragrafo	2.o,	inciso	I,	Código	Penal),	cabendo	a	devida	
notitia	criminis	a	autoridade	competente	(GAGLIANO;	PAMPLONA	FILHO,	2014).
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DALLARI,	Dalmo	de	Abreu.	Direitos humanos e cidadania.	São	Paulo:	Moderna,	1998.
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ONU.	Convenção de Viena sobre o direito dos tratados.	Viena,	1969.	Disponível	em:	<www2.mre.gov.br/dai/dtrat.html>

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