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APLICAÇÕES DO CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL II NO CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA Anderson Lins de Lima [Voluntário] 1, Sani de Carvalho Rutz da Silva [Orientadora] 2 1Coordenação de Engenharia Mecânica 2Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia Campus Ponta Grossa Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Av. Monteiro Lobato S/N – km 04 – Ponta Grossa – PR - Brasil andersonlinsdelima@hotmail.com, sanirutz@gmail.com Resumo - Esse artigo objetiva mostrar algumas aplicações do cálculo diferencial e integral na Engenharia Mecânica para uma posterior elaboração de um material didático voltado para a engenharia. Situações envolvidas na prática de engenharia relacionadas à matemática abordadas durante o curso de cálculo proporcionaria uma melhora no aprendizado e uma dinâmica de aula diferenciada. Esse material tem como finalidade aumentar o interesse e aprendizado dos alunos e promover a qualidade de ensino. Palavras-chave: Aplicações; Engenharia; Material didático. Abstract - This paper objectifies to show some applications of integer and differential calculus in mechanic engineering for due to a future elaboration of a didactic material directed to engineer. Situations involved with practice of engineering related to math treated during a calculus course would provide a improvement in learning and a different class dynamic. This material is intended to raise interest and learning of students and to promote teaching quality. Keywords: Aplications; Didactic material; Engineering. INTRODUÇÃO O curso de cálculo diferencial e integral, ou apenas cálculo como é conhecido, é lecionado nas primeiras etapas dos cursos de engenharia com a finalidade de dar o suporte necessário para resolução de alguns problemas de engenharia que fazem uso do cálculo como uma ferramenta para sua resolução. Essa disciplina é ofertada logo no início do curso para servir de base para algumas disciplinas sequentes. Basicamente o curso de cálculo é dividido em três etapas: o estudo de limites, derivação e integração, muitas vezes precedido pelo estudo de funções de números reais e de gráficos. Após cursar essa disciplina o aluno deve ser capaz de resolver problemas de situação prática utilizando-se do cálculo como ferramenta [1]. É comum que alunos tenham dificuldades em assimilar o conteúdo dessa disciplina, por isso observa-se uma grande quantidade de reprovação nessa disciplina mesma. Uma possível resposta para esse baixo nível de desempenho é a falta de interesse dos alunos e isso se justifica pelo fato de que o cálculo é passado aos alunos de forma essencialmente teórica, com poucas aplicações práticas, sendo assim o aluno é conduzido ao desinteresse pelo assunto, já que não consegue visualizar uma finalidade para aquilo [2]. Outra fase em que os alunos sentem dificuldades é durante a etapa do curso em que precisam utilizar conhecimentos de cálculo para resolver problemas de outras disciplinas [3], como acontece, por exemplo, em mecânica dos fluidos, mecânica geral, entre outras. O aluno já passou pela disciplina de cálculo, portanto conhece a ferramenta necessária para a resolução dos problemas, mas não sabe como utilizá-la, já que não viu o conteúdo de forma prática, apenas como teórica. Portanto é comum ouvir questionamentos do tipo: “Mas quando eu vou precisar saber disso?” ou ainda “Pra que serve isso?”[4] e para solucionar essa dificuldade, o presente trabalho sugere que se utilize uma nova ferramenta no ensino de cálculo na engenharia. Através do uso de um material didático direcionado, com exercícios essencialmente voltados a solução de questões práticas comuns na área da engenharia. Com isso, os alunos seriam impulsionados a pensar como engenheiros, já que estão utilizando ferramentas matemáticas para resolução de problemas práticos. Os benefícios que esse material pode proporcionar aos alunos são: motivação pela disciplina, aplicabilidade, ótimo desempenho, tornando desta forma, o cálculo como ferramenta indispensável para a solução de outros problemas práticos da engenharia. METODOLOGIA Para realizar o trabalho de pesquisa foram utilizados livros de cálculo e demais disciplinas envolvidas com o curso de engenharia mecânica, além de apostilas relacionadas com aplicações do cálculo que são trabalhadas em sala de aula. Professores de diferentes áreas também foram consultados para orientação e verificação deste trabalho. Realizou-se um estudo de cada seção do curso de cálculo, e após o estudo foi feita uma busca por aplicações práticas relacionadas com o conteúdo estudado e a atuação do profissional engenheiro mecânico. Por meio dessas aplicações foram elaborados exercícios práticos propostos a serem utilizados em sala de aula e também foi organizado um texto de apresentação do conteúdo explorado para que seja introduzida a relação daquela seção com as aplicações propostas. À medida que esse material foi sendo produzido, um professor da área técnica correspondente realizava a verificação de eventuais falhas na elaboração do conteúdo. Esse material, aos poucos, é incrementado ao caderno de atividades a ser proposto. RESULTADOS E DISCUSSÃO No ramo da engenharia, o profissional deve ser capaz de lidar com problemas que exigem cálculos de alta complexidade para sua resolução, como o cálculo diferencial e integral, cálculo vetorial, cálculo numérico, equações diferenciais entre outras. Por essa razão o cálculo está inserido na grade curricular do curso de engenharia mecânica como pode ser vista na matriz curricular do curso de engenharia mecânica da UTFPR – campus Ponta Grossa disposta no anexo I. Essas disciplinas, que são chamadas disciplinas básicas, são apresentadas logo no início do curso para que seja formada uma base para as disciplinas posteriores específicas que utilizam dessas ferramentas. Durante a fase do curso em que o aluno aprende as disciplinas básicas, normalmente essas são abordadas de forma essencialmente teórica, com poucas aplicações práticas e em função disso o aluno, por vezes, não se sente interessado sobre aquele assunto e tem dificuldades em interpretar o que está aprendendo. A falta de uma abordagem prática acarreta à fase de estudo das disciplinas específicas, dificuldades, pois o aluno não consegue aplicá-las porque não foi instigado a pensar de maneira prática [5]. A seguir serão apresentadas algumas aplicações do cálculo diferencial e integral que podem ser exploradas em sala de aula pelo professor a fim de que os alunos tomem conhecimento das áreas em que essa ferramenta se tornará necessária durante sua graduação e em sua profissão. Cálculos aproximados Os problemas de engenharia, diferente da matemática pura, são satisfeitos com resultados considerando-se apenas algumas aproximações. Sendo assim, é conveniente que se aprendam mecanismos de simplificação de cálculos para resolvê-los de forma mais rápida, ainda que o resultado obtido seja aproximado. Uma ferramenta que simplifica os cálculos necessários é a diferenciação [7]. Seja uma função (1) Um acréscimo sobre as variáveis dessa função resultarão em um acréscimo ∆w: (2) Por outro lado, a derivada total de w é dada por: (3) Se for considerado a aproximação ∆w dw, ∆x dx, ∆y dy e ∆z dz, o desvio ∆w pode ser calculado em função da derivada total de w. Esse mecanismo vale para funções de quantas variáveis se queira. Segue que ∆w toma a forma: (4) Essa ferramenta é utilizada, entre outras aplicações, para propagação de erros de medidas obtidas em laboratório e também cálculo de dimensionamento de sólidos delgados, como mostra o exercício proposto a seguir: Considere uma lata cilíndrica com dimensões 3,5 cm para o raio interno e 9 cm de profundidade. Sabendo quea espessura da lata é de 0,15 cm para as laterais e 0,2 cm para a base e que o custo do material é de 0,7 centavo por cm³, calcule o custo do material de cada lata (desconsiderando sua tampa). Primeiramente, é necessário determinar a função que determina o volume de um cilindro é: (5) Como a lata tem espessura pequena, pode ser considerada a aproximação de (4) para o volume do cilindro em questão: (6) Substituindo-se as variáveis do problema: (7) Tem-se como resultado para o volume (8) Sabendo que o material custa 0,7 centavo por cm³, o custo para confeccionar uma lata das dimensões dadas é (9) Otimização Uma das atribuições do engenheiro é ser o responsável por escolhas. Essas escolhas são baseadas em especificações a serem seguidas e condições a serem respeitadas. Os parâmetros que determinam algumas escolhas podem ser equacionados matematicamente e há alguns métodos de se determinar a melhor combinação para essas variáveis. Esse processo se chama otimização e pode ser realizada com técnicas onde se encontram os máximos e mínimos de uma função. Algumas situações em que processos devem ser otimizados são para determinar as dimensões de um produto para que tenha menor custo, parâmetros para que se obtenha maior produtividade, menor consumo de energia, entre outras. Quando uma função que relacione as variáveis que determinam o resultado esperado pode ser estabelecida, sujeita a uma restrição ou condição que também pode ser equacionada, pode-se, em alguns casos, utilizar a técnica dos multiplicadores de Lagrange para determinar o ponto ótimo da função. Os multiplicadores de Lagrange é uma técnica matemática que consiste em otimizar uma função f(x, y) sujeita a uma condição g(x, y)=c, sendo c uma constante [6]. Para isso é necessário determinar os valores de x, y, z e λ que satisfaçam o sistema: (10) Um exemplo de aplicação prática dessa técnica segue: “Deve-se construir um depósito com tampa, em forma de cilindro circular reto com área de superfície 75,4 m². Ache as dimensões que maximizam o volume.1” A partir dessas informações interpreta-se o problema. É necessário construir um reservatório segundo a especificação, formato cilíndrico e que por alguma razão econômica ou de produção restringe a dimensão da sua superfície. A questão é determinar as suas dimensões para que se obtenha o máximo aproveitamento desse reservatório. A equação que determina o volume de um cilindro é a seguinte: (11) Sabendo que a superfície total do reservatório é sujeita a seguinte condição: (12) Realizando a operação (10) sobre as equações (11) e (12) obtém-se: (13) Resolvendo esse sistema, chega-se ao seguinte resultado: (14) Aplicando os valores de (14) na equação (12) chegamos o valor de: (15) Finalmente substituindo a equação (15) na equação (14) obtém-se a solução do problema: (16) 1 JUNIOR, Belmiro Witt. Cadernos de matemática: Cálculo II – UTFPR. Ponta Grossa. (Apostila). - Adaptado Sendo assim, nesse exemplo, as dimensões do tanque que maximizam sua capacidade são de 2m de raio e 4m de altura. O valor de λ não tem importância prática, funcionando apenas como ferramenta para resolução do problema. Integração A integração talvez seja a ferramenta do cálculo que seja aplicada em mais situações, principalmente relacionadas à física. A integração consiste em um somatório de parcelas muito pequenas conhecidas por infinitesimais [8]. Em um contexto físico, essa soma de infinitesimais tem aplicações na determinação de algumas grandezas de interesse, inclusive, para a engenharia, citando aqui, mecânica. Dentre as aplicações estudadas da integração dupla e tripla, serão citadas algumas delas, por vezes omitindo-se algumas deduções. Utiliza-se aqui o sistema de coordenadas cartesianas x, y, z. Cálculo da massa de uma placa ou sólido. Um sólido que tenha densidade variável, desde que seja conhecida a função que determina a densidade do material, pode-se calcular a massa por meio de integração. A região de integração seria o formato geométrico da placa. Portanto: (17) (18) Força resultante de uma carga sobre uma superfície. Quando se deseja calcular a força resultante de um carregamento sobre uma superfície basta que se multiplique a carga superficial a qual o material é submetido pela área de aplicação da carga. Nos casos, como dentro de um reservatório de água, a carga aplicada sobre a superfície é variável dependendo do ponto de aplicação, dessa forma segue o processo de integração para solução do problema, realizando o somatório das forças aplicadas sobre cada ponto infinitesimal. Tem-se: (19) Momento de uma força em relação a um eixo. Quando um sólido é fixado em um eixo de referência e uma carga mecânica é aplicada sobre esse, a carga tende a rotacionar o sólido ao redor do eixo. O momento de uma força é definido como o produto entre a força que atua perpendicularmente a superfície e a distância entre o ponto de aplicação e o eixo [9]. Realizando-se a integração da função que determina o carregamento pela superfície que sofre ação da carga, determinamos o momento da força em relação a um eixo. Sendo assim, o momento de uma força em relação ao eixo x é dado por: (20) Centro de massa de um sólido O centro de massa de um corpo pode ser entendido como a região, ou especificamente o ponto em que a massa encontra-se concentrada. Para determinar as coordenadas do centro de massa de um objeto utiliza-se o seguinte sistema de equações: (21) Para um material de densidade constante, o centro de massa coincidirá com o centro geométrico, mas quando o sólido não for homogêneo, o cálculo se realiza através de integração. Sendo a massa o produto da densidade pelo volume. O centro de massa é dado por: (22) Momento de Inércia. O momento de inércia é uma grandeza física que mede a distribuição da massa de um corpo em relação a um eixo. Quanto mais distribuída nas proximidades do eixo, mais difícil é para se rotacionar o sólido ao redor do mesmo [10]. A expressão para o momento de inércia de uma partícula que rotaciona a uma distância R de um eixo z é: (23) Sabendo que (24) (25) Obtem-se a seguinte expressão: (26) Seguindo raciocínio análogo para um sólido, tem-se a seguinte expressão: (27) CONCLUSÕES Um material diferenciado para o estudo da disciplina de cálculo diferencial e integral proporcionará uma melhora na qualidade do ensino dessa disciplina nos cursos de cálculo, visto que um material comum traz poucas aplicações dessa disciplina na sua área de atuação e o material a ser proposto enfatiza a resolução de problemas relacionados à engenharia. Esse fato pode fazer, inclusive, que os alunos se sintam mais atraídos e incentivados em estudar essa disciplina, já que desde cedo poderão visualizar aplicações do cálculo na engenharia, sendo positivo, inclusive, ao professor que lidará com uma turma mais motivada. Os alunos de uma turma que ao mesmo tempo aprendam aplicações do cálculo terão a chance de conhecer melhor sobre o curso que ingressou e ter uma ideia de como será sua atuação futura como profissional. É conveniente que para que haja um melhor acompanhamento do aluno em relação ao conteúdo prático abordado em sala, seja feita uma breve apresentação da teoria relacionada ao problema em questão, sem aprofundamento exagerado para que não haja um excesso de informação ao aluno. Aprofundamento esse que deverá ser ministrado na disciplina correspondente em outra fase do curso. Essa abordagem proporcionará uma noção que ajudará a compreensão do problema em questão, alémdisso, quando esse assunto for retomado na disciplina específica será mais facilmente assimilada, pois já se conhece a aplicabilidade do mesmo. REFERÊNCIAS [1] GUIDORIZZI, Luiz Hamilton. Um curso de cálculo – Vol. 2. LCT: Rio de Janeiro, 2001. [2] I KAIBER, C.T. e RENZ, S. P. Uma proposta metodológica para o ensino do Cálculo Diferencial e Integral. Anais V Congresso Ibero-americano de educação matemática. Porto: Associação de Professores de Matemática, 2005. [3] GODOY, L. F. S. e COSTA, L. S. O cálculo diferencial e integral e suas aplicações no ensino da engenharia: uma análise de currículo. Anais do XXXIX COBENGE. Blumenau, 2011. [4] GARBI, G. G. Para quê serve isso?. Revista do Professor de Matemática. (63), 2007. [5] LIMA, A. L. e SILVA, S. C. R. Necessidade de aplicações práticas do cálculo para Engenharia. Anais da II Jornada Brasileira do Grupo de Pesquisa Euro Latino Americano. Ponta Grossa, 2012. [6] ALVES, Lucas Máximo. Introdução aos métodos aproximados em engenharia: Algebra Linear, Geometria Analítica, Cálculo e Equações Diferenciais – UFPR. Curitiba, 2007. (Apostila) [7] STEWART, James. Cálculo – Vol. 2. Cengage Learning, 2002. [8] GALVÃO, Lauro César e NUNES, Luiz Fernando. Cálculo Diferencial e Integral II - UTFPR. Curitiba. (Apostila) [9] HALLIDAY, David; RESNICK, Robert e WALKER, Jearl. Fundamentos da física. Vol 1. LCT: Rio de Janeiro, 2008. [10] HIBBELER, R. C. Estática: Mecânica para Engenharia.Pearson Prentice Hall: São Paulo, 2005. ANEXO I Matriz curricular do curso de Engenharia mecânica – UTFPR campus Ponta Grossa
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