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Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 1 Investigação Criminal 2 CRÉDITOS Francisco das Chagas S. Araújo – Delegado de polícia, aposentado da Polícia Civil do Distrito Federal. Professor da Universidade Católica de Brasília Virtual. Membro do grupo de trabalho que coopera com a elaboração e implantação da MATRIZ CURRICULAR NACIONAL. Pós-Graduado em Polícia Judiciária (Academia de Polícia Civil – PCDF). Curso superior de Polícia (Academia de Polícia Civil – PCDF). Curso sobre PAUTAS DEONTOLÓGICAS Y OPERATIVAS PARA EL CONTROL DE LA POLICIA, na División de Formación y Perfeccionamiento, Centro de Actualización y Especialización, Dirección General de la Policía , Ministerio del Interior, Ávila, España. Treinamento em técnicas de investigação sobre crimes relacionados ao abuso e desaparecimento de crianças – Facilitados pela Internet – promovido pelo International Centre for Missing & Exploited Children. Curso de Gestión de riesgo catastróficos y atención a desastres – promovido pela Agencia Española de Cooperación Internacional - AECI. Professor da Academia de Polícia Civil da PCDF, das disciplinas: Investigação criminal, Técnicas de entrevista e interrogatório, Ética policial e Procedimentos de polícia judiciária. Foi corregedor-geral e chefiou diversas delegacias da PCDF. Foi subsecretário de Doutrina, Ensino e Pesquisa da SSP/DF. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 2 Apresentação Seja bem-vindo ao curso Investigação Criminal 2. Nesta unidade, você estudará o processo de execução da investigação criminal. Os conhecimentos conceituais apresentados e discutidos na primeira unidade (Investigação Ciminal 1) do curso serão transversais aos temas que irá conhecer e discutir nessa etapa. Tal qual ocorreu com a primeira unidade, a proposta deste curso não é ensiná-lo todas as estratégias da investigação criminal, mas criar condições para que obtenha conhecimentos básicos e possa exercitar algumas habilidades necessárias ao serviço profissional da área de segurança pública, em colaboração à investigação criminal. Você estudou na unidade 1 que a investigação criminal é um processo científico, multidisciplinar, que depende dos referenciais de conhecimento de cada um dos profissionais da segurança pública. Como processo científico, depende de métodos e técnicas que serão aplicados pelo investigador com o apoio de cada um daqueles que colaboram com a busca da prova de um delito. Exige de seus executores postura lógica e percepção sistêmica do problema em estudo. Para cumprir sua missão de cientista da investigação criminal, o investigador deve desenvolvê- la em quatro etapas sistêmicas que são: Planejamento → Coleta de dados → Análise de dados → Elaboração do relatório Muito embora essas etapas impliquem em desdobramentos e procedimentos específicos, você verá que não ocorrem de maneira independente. Neste curso você conhecerá métodos e técnicas de coleta e análise de dados e conhecimentos que deverão ser validados como prova da prática de um delito e de sua autoria. Como dito, os cursos Investigação Criminal 1 e 2 fazem parte de um processo de construção e desenvolvimento de uma nova percepção da prestação dos serviços de segurança pública, voltado à formatação de novos modelos para a formação permanente dos profissionais da segurança pública no Brasil. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 3 Você é um privilegiado, pois está tendo a oportunidade de participar dessa maravilhosa construção de um novo perfil para os profissionais encarregados do primeiro momento da aplicação da lei, dentro do modelo de tutela de direitos e prestação de serviço pública ao cidadão. De agora em diante adote uma postura de cientista e veja como se desenvolve o processo da investigação criminal. Aproveite e bom estudo! Para alcançar os objetivos propostos, o curso está dividido em 6 módulos: Módulo 1 – Planejamento da investigação criminal Módulo 2 – Coleta de dados e informações na investigação criminal Módulo 3 – Análise de dados e gestão do conhecimento produzido pela investigação Módulo 4 – Elaboração do relatório Módulo 5 – A transversalidade da ética e dos direitos humanos na investigação criminal Módulo 6 – Estudo de casos Módulo 1 – Planejamento da investigação criminal O conteúdo deste módulo está dividido em 3 aulas: Aula 1 – Planejamento Aula 2 – Tipos de planejamento Aula 3 – Como elaborar um plano operacional da investigação criminal Ao final deste módulo, você será capaz de: - Construir, criticamente, um conceito de planejamento; - Listar os tipos de planejamento; e - Elaborar um plano operacional para a investigação criminal. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 4 Aula 1 – Planejamento A prática criminosa exige, cada vez mais, um grau de resposta eficiente e eficaz do Estado. As novas tecnologias trazem grandes benefícios para a humanidade, mas, em contrapartida, oferecem maiores possibilidades à instrumentalização do crime. O resultado é a sofisticação das práticas delituosas exigindo maior esforço das organizações de segurança pública na busca de conhecimentos que melhorem sua efetividade. Dentre eles está o conhecimento que possibilite melhora na qualidade do planejamento das ações. Imagine que você deseja comprar um carro novo, viajar para a Europa ou organizar a festa de casamento de sua filha. Com certeza, sua intenção é de que tudo dê certo, mas, para que isso ocorra, é preciso fazer um cuidadoso planejamento. O que é planejamento? Parta do seguinte raciocínio: a compra do carro, a viagem para a Europa e a festa de casamento de sua filha não acontecerão apenas porque você quer. Seu querer é importante, porém, não resolve por si só. Precisa de outro fator, a construção metódica desse querer. Para realizar uma festa, é preciso escolher a data, a hora e o local onde será realizada, bem como levantar os custos, contratar o bufê, escolher a igreja, definir o local da festa e tantas outras atividades. Fazer uma festa que irá durar por algumas horas requer cuidados especiais, imagine uma investigação criminal que poderá levar anos. Já é possível ter uma idéia do que é o planejamento? Veja alguns conceitos: - Planejar é conhecer e entender o contexto; é saber o que se quer e como atingir os objetivos; é saber como se prevenir; é calcular os riscos e buscar minimizá-los; é preparar-se taticamente; é ousar as metas propostas e superar-se de maneira contínua e constante. Planejar não é só vislumbrar o futuro, é também uma forma de assegurar a Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 5 sobrevivência e a continuidade dos negócios. Isso ocorre à medida que se formalizam programas e procedimentos que capacitam os profissionais a atuarem de modo consciente e conseqüente, face às eventualidades que se apresentam no cotidiano das organizações. (CHIAVENATO & SAPIRO, 2004) - Para Zimmermann (Apostila eletrônica do curso Elaboração e Gerenciamento de Projetos), planejar é “tornar claro aonde se quer chegar, tomaras decisões e escolher as ações que acreditamos que possam nos levar ao objetivo desejado”. E o filósofo romano Sêneca também nos leva a refletir sobre o planejar quando afirma: “Se você não sabe para onde vai, todos os ventos parecerão desfavoráveis”. Isso não é uma verdade? Antes de qualquer tomada de decisão, a atitude mais conveniente não é estabelecer um rumo, um objetivo, um ponto de chegada? O planejar é um processo que envolve um modo de pensar que nos leva a indagações, e essas nos conduzem a questionamentos sobre o que fazer, como fazer, quanto fazer, para quem fazer, por que, por quem e onde fazer. Contextualizando a investigação com esses raciocínios, é possível afirmar que o exercício do planejamento tende a reduzir as incertezas que destroem o processo decisório da investigação, provocando aumento da probabilidade de se alcançar às metas estabelecidas, na busca das explicações para o fenômeno objeto da pesquisa. Planejamento - O que fazer? - Como fazer? - Quando fazer? - Quanto fazer? - Para quem fazer? - Por que - Por quem? - Onde fazer? Variáveis a serem consideradas Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 6 Por ser o planejamento um processo contínuo de pensamento sobre o futuro, ele deverá ser objeto de constante reavaliação de curso e de ações alternativas a serem tomadas, visto que estará submetido a fatores diversos que o influenciarão, como: falta de recursos, greves, morte de testemunhas, fuga do suspeito, etc., ou seja, não basta planejar, terá que haver um acompanhamento permanente das ações, reavaliando as estratégias, num processo decisório constante, considerando um contexto ambiental interdependente e mutável. Esses fatores que interferem no planejamento são chamados de variáveis e decorrem da pressão ambiental que afeta a investigação, resultantes de forças externas e internas. - As forças externas estão em contínua alteração com diferentes níveis de intensidade de influência, decorrem de fatores fora do contexto da investigação e sua modificação não está ao alcance do investigador. Exemplos: Decisão judicial mandando suspender uma diligência; evolução tecnológica possibilitando novos métodos para a investigação; uma nova lei que descriminaliza uma conduta. - As forças internas resultam de fatores integrantes da instituição e estão dentro da possibilidade de serem modificadas. Exemplos: Escassez de recursos humanos e falta de recursos financeiros. Princípios do planejamento Alguns princípios operacionais dão o norte do planejamento. Dentre os gerais são ressaltados: - Princípio da precedência Significa que o planejamento deve ser a função administrativa que vem antes das outras, na busca da resolução dos problemas. Em resposta ao “como vai ser feito”, o planejamento assume o início do processo. - Princípio da maior penetração e abrangência Consiste no fato da atividade de planejamento provocar uma série de modificações nas características do sistema, com envolvimento da conduta das pessoas e atividades na absorção de novas tecnologias. - Princípio da maior eficiência, eficácia e efetividade Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 7 Consiste em que o planejamento deve procurar maximizar os resultados e minimizar as deficiências. Para Oliveira (2007), tais princípios têm os seguintes significados: - Eficiência Fazer as coisas da maneira adequada; resolver problemas; cuidar dos recursos aplicados; cumprir o dever e reduzir custos. - Eficácia Fazer as coisas certas; produzir alternativas criativas; maximizar a utilização dos recursos; obter resultados e aumentar o lucro. - Efetividade Manter-se sustentável no ambiente; apresentar resultados globais ao longo do tempo; coordenar esforços e energias sistematicamente. Aula 2 – Tipos e planejamento O planejamento divide-se em três níveis: - Planejamento estratégico Diz respeito à formulação de objetivos de longo prazo e à seleção dos recursos de ação a serem seguidos. Trata das políticas para alcançar a missão institucional. Seu reflexo imediato alcança toda instituição. Normalmente é de responsabilidade dos níveis mais altos da hierarquia administrativa. Exemplo O plano plurianual da Secretaria de Segurança Pública de redução dos crimes violentos no estado. - Planejamento tático Relaciona-se aos objetivos de mais curto prazo, com estratégias e ações que, geralmente, afetam só parte da instituição. É como se fosse a decomposição dos objetivos, das estratégias e políticas estabelecidas no planejamento estratégico e é desenvolvido pelos níveis organizacionais intermediários. Exemplo Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 8 O plano da Polícia Civil estabelecendo estratégias para enfrentamento ao crime de roubo a banco no estado, durante seis meses. - Planejamento operacional É a formalização, via de regra, por meio de documentos escritos, da metodologia de desenvolvimento e de implantação estabelecida. Nesse nível estão os planos de ação ou os planos operacionais. Exemplo O plano operacional da delegacia especializada na apuração de roubos a bancos, detalhando a prática operacional do enfrentamento aos roubos a banco. Plano operacional Por uma questão metodológica do curso, será abordado com maior ênfase, o planejamento operacional da investigação criminal. Para compreender o plano operacional da investigação, é preciso colocá-lo dentro de um contexto. Você percebeu que o plano está contido em um processo que é o planejamento. Esse processo é parte de outro maior que é o projeto. O que é um projeto? Projeto é um empreendimento não repetitivo, caracterizado por uma seqüência lógica de eventos, com início, meio e fim, que se destina a atingir um objetivo claro e definido, sendo conduzido por pessoas dentro de parâmetros pré-definidos de tempo, custo, recursos envolvidos e qualidade. (PMBOK, 2000. Slide curso Gerenciamento de Projetos) Segundo Zimmermann (Apostila eletrônica do curso Elaboração e Gerenciamento de Projetos), “projeto é um conjunto de atividades inter-relacionadas e direcionadas à obtenção de um ou mais produtos (bens ou serviços) únicos, com tempo e custos definidos.” Na investigação criminal, pode-se dizer que o empreendimento ou conjunto de atividades é o inquérito policial cujo destino é a apuração da prova de um determinado delito. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 9 No planejamento, o plano operacional é a ferramenta utilizada para organizar as ações, detalhando prazos, responsabilidades, custos, os subprodutos a serem obtidos, como será acompanhado e os instrumentos necessários para tal. A investigação não comporta improvisos, descuidos que afetem a qualidade e efetividade do resultado. Os delitos que hoje mais afligem as comunidades são produzidos “em larga escala” por verdadeiras “organizações”. O sucesso das polícias no combate a esses delitos passa pela sua capacidade de também se organizar e se antecipar às mudanças e adaptações dos criminosos aos novos ambientes. Como conseguir isso? → Planejando suas ações de forma criteriosa e lógica. Charles Darwin dizia que as espéciesvivas que sobrevivem não são as mais fortes e nem as mais inteligentes, são aquelas que conseguem adaptar-se e ajustar-se às demandas do meio ambiente. Esse é o segredo para a investigação criminal conseguir resultados satisfatórios. Ser organizada e planejada, suficientemente, para conseguir ajustar-se e adaptar-se às demandas de uma sociedade acossada pelo crime organizado. Aula 3 – Como elaborar um plano operacional da investigação criminal O plano operacional da investigação é um documento onde serão descritos os objetivos da investigação e os passos necessários para que esses objetivos sejam alcançados. O plano permitirá a diminuição dos riscos, incertezas, a identificação e restrição dos erros, antes que ocorram na prática. Para elaborar um plano operacional da investigação, você poderá utilizar algumas ferramentas que possibilitam a colocação ordenada das metas e estratégias para alcançá-las. A figura abaixo demonstra uma ferramenta denominada de 5W e 1H. A nomenclatura decorre da grafia, em inglês, dos termos. Trata-se de uma ferramenta cuja metodologia poderá ser facilmente adaptada para o plano de uma investigação criminal. Figura 1 – 5W e 1H WHAT WHY WHO WHERE WHEN HOW O QUÊ? POR QUÊ? QUEM? ONDE? QUANDO? COMO? Descrever o que será feito ou quais ações serão feitas. Especificar e delimitar bem as ações para se saber quando termina a ação. Cada verbo desencadeia um planejamento. Justificar. Serve para nivelar todas as pessoas envolvidas no plano com as razões específicas (legislação, recomendações). Nomear responsáveis. A pessoa ou pessoas que irão praticar as ações e a que irá liderar a ação. Indicar o grupo e o líder para poder identificar o responsável. Estabelecer local de onde serão coordenadas as ações (não onde estão sendo realizadas as ações). Estabelecer prazo. O tempo para desenvolver as ações propostas no “o quê?”. Dizer o dia de começo da ação. Descrever como será feito. Se houver várias ações, descrever as atividades para cada uma. A mesma metodologia pode ser aplicada, variando apenas a forma. Plano de ação da investigação 1. O QUÊ? Ação a ser desenvolvida: Descrever a investigação a ser apurada, definindo cada ação a ser executada. 2. QUEM? Executores: Nomear os executores e o coordenador. 3. POR QUÊ? Justificativa: Descrever as razões. Enumerar os objetivos. 4. QUANDO? Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 10 Período de execução: Descrever durante quanto tempo será executada a investigação. Como não há uma previsão de tempo para se concluir uma investigação, colocar o prazo do inquérito policial. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 11 5. ONDE? Local da coordenação: Indicar o local de onde será feita a gestão das atividades. 6. COMO? Técnicas: Descrever as técnicas a serem aplicadas para cada ação. No plano operacional, o nível da informação é detalhado, analítico, contemplando pormenores específicos de uma ação. Diz respeito ao detalhamento, no nível de operação, das ações e atividades necessárias para atingir os objetivos e metas fixadas no plano estratégico da investigação. O plano estratégico da investigação está no CPP e nas normas complementares. Conclusão Neste módulo, você teve oportunidade de conhecer os tipos de planejamentos que poderão ser aplicados na investigação criminal. Conheceu, também, técnicas que irão habilitá-lo a elaborar um plano operacional para os procedimentos da investigação criminal. Entretanto, nada disso repercutirá na qualidade e na eficácia da coleta de provas de um delito se você não refletir sobre a importância do planejar suas ações de investigação e não adotar atitudes que interfiram na construção dessa eficácia. No próximo módulo, você terá oportunidade de conhecer e discutir conhecimentos sobre técnicas de coleta de dados e informações para a investigação criminal. Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão do conteúdo. O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas páginas anteriores. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 12 1. De acordo com os princípios do planejamento, o princípio da precedência significa que: ( ) O planejamento deve procurar maximizar os resultados e minimizar as deficiências. ( ) O planejamento deve ser a função administrativa que vem antes das outras, na busca da resolução dos problemas. ( ) A atividade de planejamento deve provocar uma série de modificações nas características do sistema, com envolvimento da conduta das pessoas e atividades na absorção de novas tecnologias. 2. Relacione a 2ª coluna de acordo com a 1ª. ( a) Eficiência ( b) Eficácia (c) Efetividade ( ) Manter-se sustentável no ambiente; apresentar resultados globais ao longo do tempo; coordenar esforços e energias sistematicamente. ( ) Fazer as coisas da maneira adequada; resolver problemas; cuidar dos recursos aplicados; cumprir o dever e reduzir custos. ( ) Fazer as coisas certas; produzir alternativas criativas; maximizar a utilização dos recursos; obter resultados e aumentar o lucro. 3. Dentre as alternativas abaixo, qual delas é um exemplo de planejamento estratégico? ( ) O plano operacional da delegacia especializada na apuração de roubos a bancos. ( ) O plano plurianual da Secretaria de Segurança Pública, de redução dos crimes violentos no estado. ( ) O plano da Polícia Civil estabelecendo estratégias para enfrentamento ao crime de roubo a banco no estado, durante seis meses. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 13 4. Em relação ao plano operacional da investigação é correto afirmar que: ( ) O plano operacional da investigação é um documento onde serão descritos os objetivos da investigação e os passos necessários para que esses objetivos sejam alcançados. ( ) Mesmo bem elaborado, o plano não permitirá a diminuição dos riscos, incertezas, a identificação e restrição dos erros, antes que ocorram na prática. ( ) A utilização de ferramentas que possibilitam a colocação ordenada das metas e estratégias para alcançá-las, pouco poderão auxiliar na elaboração do plano operacional da investigação. 5. Considerando a natureza científica da investigação criminal, faça uma análise crítica sobre a importância do planejamento no processo da coleta da prova de um crime. 6. Leia o caso e elabore um plano 5W e 1H operacional para a investigação, seguindo o modelo 5W e 1H. Caso: Polícia procura garoto sumido desde domingo Lívia Nascimento - Correio Braziliense Publicação: 20/08/2008 08:39 O desaparecimento de um menino de 8 anos mobilizou durante toda essa terça-feira (19/08) homens do Corpo de Bombeiros e da 35ª Delegacia de Polícia (Sobradinho II). A família de Chrystian Gabriel de Araújo Mesquita conta que o garoto foi visto pela última vez na manhã de domingo, quando brincava com as irmãs em frente ao barraco onde mora como pai, a madrasta e as irmãs na Fazenda Chapadinha, um assentamento próximo ao Lago Oeste. Durante a operação, os bombeiros usaram cães farejadores e um helicóptero. Seqüestro ou vingança são as duas linhas de investigação da 35ª DP. De acordo com os parentes, Chrystian tinha se mudado para o local havia apenas oito meses. Antes, era criado pela avó paterna, Edileuza Martins Mesquita, em Taguatinga. A moradia da família está localizada em uma área extensa e pouco habitada. Segundo o pai do menino, Cristiano Mesquita, 29 anos, 30 famílias ocupam a fazenda, de aproximadamente 800 hectares. No local, há muitas cisternas. Os militares vasculharam muitas delas, pensando que o menino pudesse ter caído nos buracos. O trabalho foi em vão. O pai e o tio de Chrystian Gabriel também percorreram alguns locais em busca de informação. No fim de tarde de ontem, duas testemunhas afirmaram aos bombeiros terem visto o menino chegando de carona numa Fiorino branca ao balão do Colorado, ainda na manhã de domingo. “Ele estava um pouco desconfiado e perguntou onde era o ponto de ônibus. Disse que ia para Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 14 Taguatinga ver a tia, mas voltaria no mesmo dia e nos mostrou R$ 10”, contou Marlei da Silva, 54 anos, que viu Chrystian horas depois, no Posto Colorado. Uma terceira pessoa, que preferiu não se identificar, informou ao Correio e a agentes da 35ª DP ter visto quando o menino, que estava sentado em frente à padaria do posto, entrou em um EcoSport vermelho, dirigido por uma mulher de cabelos loiros. “Para mim, ele a conhecia porque ele entrou no carro sem mostrar estranheza”, relatou. Disputa de terra “Vamos investigar se o caso é um seqüestro convencional e se está ligado a vingança, pois há relatos de que o pai do garoto estava envolvido na disputa por terra”, afirmou o delegado-titular da 35ª DP, Márcio Michel Alves de Oliveira. A própria mãe de Cristiano Mesquita, Edileuza Martins Mesquita, 50, que cuidou do neto Chrystian durante sete anos, reconhece essa possibilidade: “Meu filho tem alguns problemas por causa dessa questão de terra, mas o Biel é só uma criança indefesa”. O Corpo de Bombeiros encerrou as buscas no início da noite de ontem. “Vamos entrar em contato com o centro de operações para passar as informações colhidas hoje. Diante desses novos fatos, o mais provável é que a Polícia Civil assuma esse trabalho daqui para frente”, afirmou o cabo Fernando Santos. A mãe do menino, Mônica de Araújo, chora e parece não acreditar no que aconteceu. “Meu coração está despedaçado. Acho que ele tentou sair daqui para nos visitar mas o caminho é longo e pode ter acontecido qualquer coisa”, lamentou a mãe, que mora em Taguatinga. (http://www.correiobraziliense.com.br/html/sessao_13/2008/08/20/noticia_interna,id_sessao=13 &id_noticia=26263/noticia_interna.shtml) Gabarito 1. O planejamento deve ser a função administrativa que vem antes das outras, na busca da resolução dos problemas. 2. ( c ) Manter-se sustentável no ambiente; apresentar resultados globais ao longo do tempo; coordenar esforços e energias sistematicamente. ( a ) Fazer as coisas da maneira adequada; resolver problemas; cuidar dos recursos aplicados; cumprir o dever e reduzir custos. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 15 ( b ) Fazer as coisas certas; produzir alternativas criativas; maximizar a utilização dos recursos; obter resultados e aumentar o lucro. 3. O plano plurianual da Secretaria de Segurança Pública, de redução dos crimes violentos no estado. 4. O plano operacional da investigação é um documento onde serão descritos os objetivos da investigação e os passos necessários para que esses objetivos sejam alcançados. 5. Resposta pessoal 6. Resposta pessoal Este é o final do módulo 1 Planejamento da investigação criminal Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 1 Investigação Criminal 2 Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 2 Módulo 2 – Coleta de dados e informações na investigação criminal O conteúdo deste módulo está dividido em 12 aulas: Aula 1 – Coleta de dados Aula 2 – Escolha da técnica de investigação Aula 3 – Técnicas básicas de investigação criminal Aula 4 – Coleta de dados por meio de informantes Aula 5 – Coleta de dados por meio da campana Aula 6 – Coleta de dados por meio da infiltração Aula 7 – Coleta de dados por meio da entrevista Aula 8 – Técnicas de entrevista Aula 9 – Fase de analise da entrevista Aula 10 – Métodos de investigação preliminar Aula 11 – Investigação no local de crime Aula 12 – Métodos de investigação de segmento O módulo oferecerá condições para que você possa: - Visualizar as técnicas básicas de investigação criminal; - Identificar as técnicas básicas para a investigação criminal; e - Aplicar os métodos básicos de investigação criminal. Aula 1 – Coleta de dados Concluída a primeira fase da investigação – o planejamento, o investigador parte para a coleta de dados e informações. É a fase que busca obter informações sobre a realidade específica, ou seja, as circunstâncias em que ocorreu o delito e quem o teria praticado. São diversas maneiras e ferramentas para operá-la: a entrevista, a análise de vestígios, a interceptação telefônica, a interceptação ambiental, a análise de imagens e a análise de sinais. A formulação da ferramenta de coleta é feita em função do fenômeno investigado e das variáveis necessárias para sua explicação. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 3 Todos os dados e informações levantados terão que ter relação com o fato em apuração para que possam ser validados como prova. Há diferença entre dados e informação? Qual é a utilidade prática desses conceitos para a investigação criminal? E conhecimento, você sabe o que é? Atividade Fazendo uso dos conhecimentos adquiridos até aqui, tente conceituar dado, informação e conhecimento e compare com o texto seguinte. Utilize o caderno de anotações para guardar sua resposta. Para SANTIAGO Jr, dados podem ser considerados: “Uma seqüência de números e palavras, sob nenhum contexto específico. Entretanto, quando os dados são organizados com a devida contextualização, há a informação. Já o conhecimento é a informação organizada, com o entendimento de seu significado.” (SANTIAGO Jr., 2004, p. 27) Dados – São informações fora de um contexto, sem valor suficiente para compreensão de um fenômeno, ou seja, o meio pelo qual a informação e o conhecimento são transferidos. Exemplos: Datas, local, hora do crime, perfil da vitima, um fragmento de impressão digitado, um respingo de sangue, etc. Fora de um contexto histórico e geográfico específicos, esses registros não têm compreensão suficiente para explicar o fato em apuração. Informação – São dados organizados, manipulados e tratados dentro de um contexto, contendo algum significado como explicação do fato em apuração. Exemplos: A notícia de que alguém foi visto, pouco antes do crime, saindo da casa onde foi encontrado o cadáverda vítima. A significação dada às gotículas de sangue encontradas na cena do crime como indicativas de que a vítima teria sido conduzida para aquele ambiente já ferida ou de que o autor teria saído da cena do crime com alguma lesão. E conhecimento, o que é? Conhecimento é a informação organizada, contextualizada e com o entendimento de todos seus significados. É resultado da interpretação da informação e de sua aplicação em algum fim, especificamente para gerar novas hipóteses, resolver problemas ou tomar decisões. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 4 Exemplo: A pessoa que foi vista saindo da casa onde foi encontrado o cadáver da vítima era seu ex-marido, que, enciumado, deu-lhe dois tiros no peito e depois fugiu para Madri levando as duas filhas menores. Metodologia da investigação criminal Muito embora não se possa dizer que o objetivo do investigador criminal seja idêntico ao do cientista puro, não há dúvida de que sua abordagem e técnica para investigação dos problemas ilustram, claramente, o método da ciência, conforme visto na unidade que trata da lógica aplicada a esse procedimento policial. A investigação criminal, tal como a pesquisa cientifica, é um processo de construção de conhecimentos sobre fatos que integram a sociedade e repercutem no mundo jurídico. O procedimento sistemático da investigação é orientado por regras que são a base do método científico aplicado. O método científico consiste em uma série de procedimentos realizados pelo investigador, o qual, da mesma forma que o cientista puro, se empenha para reduzir a possibilidade de erro. Até o juiz validar as provas apuradas, ao prolatar a sentença, o investigador trabalha com possibilidades de que tenha apurado as circunstâncias e autoria do delito. Se assim não fosse, estaria contrariando o principio constitucional da presunção da inocência previsto no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal que diz: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.” Produção do conhecimento A produção do conhecimento probatório de um delito é desenvolvida por meio de metodologia própria. Veja alguns conceitos para melhor compreensão: - Metodologia é a maneira concreta de realizar a busca de conhecimento. Engloba tudo o que é feito para adquirir as informações desejadas, de maneira racional e eficiente. - Método é a forma ordenada de proceder ao longo de um caminho. O conjunto de processos ou fases empregadas na investigação, na busca de conhecimento. Ele pode ser um processo intelectual e operacional. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 5 - Técnica é a prática, o como fazer a investigação. O método da investigação é adequado ao contexto em que ela se encontra. Para aquisição do conhecimento na investigação criminal, você pode observar a realidade ou a interpretar os fatos de diferentes maneiras. Aula 2 – Escolha da técnica de investigação Adequando a orientação de Denker (2007, p. 160), você pode dizer que a escolha da técnica de investigação deve ser adotada com a seguinte metodologia: - A técnica que será empregada em cada investigação dependerá do problema que está sendo investigado, dos objetivos e da disponibilidade de recursos para realização do projeto. - As técnicas não se excluem; poderão ser empregadas em uma mesma investigação metodologias e técnicas diversas, conforme a variável que está sendo analisada e a fase do projeto em que se encontra. - É recomendável iniciar a investigação por um estudo exploratório, para tomar conhecimento da situação, o que possibilitará ao investigador decidir quais serão os métodos necessários às fases posteriores. Técnicas preliminares de investigação Diante de um fato, o investigador precisa executar um processo preliminar de observações e reflexões para poder formular as primeiras hipóteses sobre a natureza do problema que lhe é apresentado (se é crime e que tipo), o autor (quem teria interesse, meios e oportunidade para praticá-lo) e as circunstâncias em que possa ter ocorrido (quando, onde e como aconteceu). Para isso terá que recorrer a algumas técnicas preliminares que estão em um contexto chamado de estudo exploratório. Estudo exploratório é um estudo de diagnóstico desenvolvido para análise de “onde se está” e “como se está”. Visa um maior conhecimento do fenômeno apresentado e não necessita de uma hipótese. Envolve levantamento de dados das circunstâncias e do Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 6 ambiente onde ocorreu o evento. São estudos preliminares para demonstrar a realidade existente, a partir de uma observação sistêmica para configuração do diagnóstico do fato que é colocado para investigação. Referencial do estudo exploratório O estudo exploratório utiliza os dados de: - Fontes secundárias: “Referem-se ao material conhecido e organizado segundo um esquema determinado.” (DENKER, 2007, p. 156) São informações que não têm relação direta com o caso, mas dizem do caso ou do ambiente onde ele aconteceu. Exemplos: Publicações de jornais, reportagens de TV, mapas, catálogos telefônicos, bases de dados e bancos de dados. - Estudo de caso: É uma forma de colocar o investigador diante de uma situação prática, onde irá refletir e praticar conceitos e técnicas. O caso é um problema vivido pela organização que exige uma análise ou decisão. Aplicado ao estudo exploratório para o plano de investigação, será a análise de uma situação investigada anteriormente, similar ao fato objeto do planejamento atual. É a oportunidade de aprendizagem com os erros e acertos já praticados. Esse tema será tratado em unidade própria. Exemplo: Um crime ocorrido e apurado, cujas características são as mesmas do que está sendo apurado. - Observação informal: É o método de coleta preliminar de informações necessárias às primeiras hipóteses e ao plano inicial. É aplicada por meio do reconhecimento. Exemplo: Antes de iniciar a investigação de um possível latrocínio ocorrido em uma região de comércio no centro da cidade, o investigador se desloca à cena para colher as primeiras informações, registrar suas impressões iniciais e, com isso, elaborar seu plano operacional. Levantamento de meios e modos Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 7 O estudo exploratório também serve para levantamento dos meios e modos aplicados pelo infrator na prática do delito, o que é chamado de “modus operandi” (modo de fazer). Os meios dizem respeito à técnica aplicada. Os instrumentos utilizados do planejamento ao exaurimento da conduta delituosa. Eles poderão ser documentos, armas, equipamentos de comunicação, etc. Meios = técnicas aplicadas Os modos dizem respeito à metodologia do crime. O criminoso observou a conduta diária da vítima? Fez uma abordagem velada? Utilizou métodos de simulação, etc.? Modos = metodologia do crime O reconhecimento é uma técnica de observação visual direta ou por meios eletrônicos, que requer memorização e descrição dos dados observados. É uma atividade preliminarde investigação que também ocorre durante o estudo exploratório. Busca as primeiras informações sobre as atividades do investigado, as características ambientais e geográficas de um determinado sítio. É uma técnica que busca a coleta dados sobre o ambiente operacional e o alvo específico. Oferece parâmetros para a percepção do grau de risco do procedimento investigatório. Grau de risco - É o grau de relevância do reflexo das possíveis ameaças, sobre a investigação criminal. O risco é caracterizado pela probabilidade de uma ocorrência, multiplicada pelo impacto que ela terá sobre a investigação. A análise dos riscos deve ser feita durante a elaboração do planejamento da investigação, definindo todos os cuidados que deverão ser adotados para os planos se concretizem. Dependendo do grau de dificuldade da investigação, poderão ser identificados os tipos de controles que deverão ser implementados a curto, médio de longo prazo. (Fonte: PORTO, Gilberto. Riscos sob Controle. Correio Braziliense, Brasília, 8 de junho de 2008. Trabalho & Formação Profissional, p. 2.) O reconhecimento poderá ser aplicado na fase que antecede o planejamento de outras modalidades de investigação, como a campana e a infiltração. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 8 - Reconhecimento é o ato pelo qual o agente examina atentamente as pessoas e o ambiente, através da correta utilização dos sentidos, olhando com atenção todos os aspectos e circunstâncias, e o maior número possível de dados, para posteriormente condensá-los em relatórios (croquis)”. (SILVA & FERRO & SILVA, p. 32) Reconhecimento O reconhecimento descreve a localização exata do alvo, endereço completo com mapas, fotos, desenhos e pontos de referência; características do alvo com uma descrição generalizada da área urbana, (mapas da cidade, favela, região industrial, comercial residencial, etc.); descrição específica de dimensões, tipo de construção, atividades desenvolvidas; usuários e freqüentadores do ambiente, instalações; vias de acesso e fuga, segurança, cobertura; meios de transportes, itinerários, horários, dias da semana; locais de estacionamento, sentidos, entradas e saídas; condições climáticas; postos de observação, fixação de bases de vigilância, etc. (SILVA & FERRO & SILVA, p. 32) O reconhecimento elabora um retrato fiel do ambiente onde será desenvolvido o procedimento policial. É uma visão antecipada do cenário da investigação. Ajudará a formulação das hipóteses preliminares do fenômeno investigado. Dependendo do grau de risco tanto para a eficácia da investigação quanto para integridade física do investigador, do investigado e demais pessoas que possam vir a ser envolvidas, o reconhecimento poderá ser ostensivo ou velado, com ou sem meios de disfarce do observador. O reconhecimento é fundamental para o desenvolvimento de um planejamento eficaz e para a reavaliação dos planos operacionais. Aula 3 – Técnicas básicas de investigação criminal A técnica é o como fazer a investigação. Estabelecido o objetivo da investigação, vem a escolha da técnica a ser adotada. A técnica é a investigação em concreto. Portanto, escolher o meio correto de investigação é fundamental para sua eficácia. A escolha depende da natureza do crime e das informações a serem colhidas. Como em toda atividade profissional, é preciso seu total domínio pelo investigador. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 9 É importante também lembrar que uma técnica não elimina a possibilidade do uso de outra. Numa investigação, poderão ser aplicadas várias técnicas. Neste curso, serão analisadas algumas técnicas que são elementares em toda investigação criminal. As técnicas de investigação criminal têm como elementos básicos: a observação, a memorização e a descrição. Observação Os instrumentos primários da investigação são os sentidos do investigador. A intensidade sensorial tem relação direta com o resultado da investigação. Quanto maior sua capacidade de percepção global do ambiente, maior será a probabilidade de compreender e encontrar a explicação correta para o delito. Investigar é observar a realidade. Grande parte das informações que o investigador procura poderá ser obtida pela observação direta dos fatos. Muitas dessas informações estão codificadas e precisam de uma leitura cuidadosa. Exemplo: Anúncios em jornais poderão conter códigos de comunicação entre membros de uma quadrilha que pratica tráfico de seres humanos. A cena do evento é sempre rica de informações que dependem de criteriosa observação para serem vistas. Questões básicas na observação Seja qual for o propósito da investigação, o investigador deverá responder quatro questões, segundo Denker (2007, p. 127): - O que deve ser observado Um documento? Uma pessoa ou grupo de pessoas? Um ambiente? Um vestígio? Um fato? O plano deverá fazer constar a natureza do alvo observado e a finalidade da observação, ou seja, que tipo de evidência você pretende encontrar no ambiente, pessoa ou objeto observado que possa estabelecer uma relação entre ele (ou outra pessoa) e o fenômeno investigado. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 10 - Como registrar as informações Diz respeito à ferramenta que irá ser utilizada para registro das informações que o investigador pretende encontrar. A tecnologia de hoje é rica em equipamentos para esse fim e isso terá que ser previsto nos recursos necessários, para que não haja o risco do investigador deixar de registrar o dado ou a informação observada. - Que processos devem ser adotados para garantir a exatidão. O investigador deverá indicar no plano quais são os procedimentos que poderão garantir a confiabilidade dos dados coletados. Denker(2007) cita os seguintes exemplos de processos para verificação da confiabilidade dos dados: Permanência prolongada no campo de observação. Quanto mais tempo demore a observação e quanto maior for o número de detalhes registrados, maiores serão as possibilidades de verificação da confiabilidade das informações colhidas; O questionamento por pares. Pedir a colaboração de outros investigadores envolvidos na análise dos dados; A triangulação, ou seja, investigar um mesmo ponto mais de uma maneira; e A análise de outras hipóteses. O investigador deverá analisar outras possíveis hipóteses para o caso e cruzá-las com a que está sendo verificada. - Que relação deve existir entre o observador e o observado. Esse processo é fundamental, principalmente nas técnicas de entrevista e infiltração, onde o observador interage diretamente com o observado. Esse critério poderá evitar erros que ponham em risco a investigação e o próprio investigador. Observar na investigação envolve o pensar reflexivo, a capacidade de sentir e ver problemas e respostas por mais obscuras que estejam. Memorização A memorização é o primeiro processo adotado para o registro das informações colhidas ou dados observados, durante a investigação criminal. O desempenho da memória é a chave para o sucesso da observação, bem como para a qualidade da atividade profissional do investigador. A memória é que nos define como indivíduos. Ela permite que você administre sua vida pessoale profissional. Ela não é um simples banco de dados; influencia seu modo de ver a vida, de reagir diante dos fatos. Uma memória ativa e poderosa é a base da nossa qualidade mental global. Entretanto, a memória poderá falhar temporariamente devido ao estresse, cansaço ou trauma, afetando as atividades da pessoa. As faculdades da memória são responsabilidades da parte do cérebro chamado de córtex. As informações sensoriais são enviadas, a todo o momento, ao córtex, e o recebimento dessas informações é coordenado pela parte do cérebro chamada de hipocampo que as organiza em memórias. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 11 Há entre o córtex e o hipocampo uma rede de circuitos programados para formar a associações entre diferentes informações sensórias sobre o mesmo objeto, evento ou comportamento. Muito embora o cérebro seja inundado de informações pelos sentidos, nem todas elas são vitais para a nossa sobrevivência, por isso o processo de filtragem feito pelo hipocampo, guardando aquilo que precisará ser relembrado no futuro. É o processo de associações multissensoriais do cérebro que irá permitir que você lembre das informações armazenadas. Exemplo: Quando você encontra uma pessoa, seu cérebro li a um nome a algumas informações sensoriais como a aparência, o timbre de voz, e o faz àquelas informações. Importância para a investigação A investigação é fundamentalmente a coleta de dados e inform técnica aplicada, o suporte de registro inicial será apenas a mem Você verá que algumas técnicas, como a infiltração, exigirão capacidade de memorizar informações de forma segura para que po g lembrar do nome vinculado ações e, dependendo da ória do investigador. do investigador a plena ssa ser revista depois. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 12 Durante o processo de observação, quanto maior for a rede sensorial do investigador, mais segura será a retenção dessas informações para acesso futuro, ou seja, quanto maior for o número de sentidos que você utilize para registrar informações sobre um objeto, pessoa ou evento, maior será a possibilidade de registrá-las e lembrá-las prontamente. Exemplo: Ao conhecer uma pessoa, se você usar apenas a visão, terá menor possibilidade de relembrar seu nome. Entretanto, se você ao conhecer uma pessoa, usar todos os sentidos, ao tentar lembrar seu nome irá ter mais informações associativas, como uma calvície, a aspereza da pele da mão, forte cheiro de cigarro, voz macia, etc. O processo associativo é fortalecido pela capacidade de utilização de todos os nossos sentidos na coleta de dados e de informações, facilitando sua consolidação. Pesquisas científicas demonstram que a utilização dos sentidos é um processo que precisa ser estimulado diariamente sob pena de que seja reduzido gradativamente. Melhoria da memória O potencial de memória tem relação direta com a capacidade de coleta de dados pelo investigador. Melhorar esse potencial trará benefícios incalculáveis para a qualidade das informações buscadas na investigação. O primeiro efeito é o aumento na confiança do investigador nas suas habilidades profissionais ao conseguir lembrar de informações de forma rápida e correta. Outro efeito da melhora da memória é a eficiência no desempenho da investigação, principalmente economizando tempo na busca de anotações para lembrar de informações, muitas vezes, vitais na resolução de problemas e tomadas de decisões. O importante é que sua memória pode ser treinada com técnicas que a ensinarão a fazer o que você decidir. Treine as técnicas de memorização, como forma de melhorar sua mais perfeita ferramenta para a prática da investigação no texto em anexo Técnicas de treinamento da memória. Descrição Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 13 Depois de observar os dados e informações, vem a necessidade de registrá-los para que possam ser analisados e validados como confirmação da hipótese levantada. Descrever é expor, narrar de forma circunstanciada pela palavra escrita ou falada tudo o que foi observado pelo investigador. No sistema jurídico brasileiro, onde o inquérito policial é uma peça escrita, a investigação resulta em relatos escritos, que tanto poderão ser uma informação do investigador cartorário como um laudo do perito ou do legista, ou termos e autos. O investigador irá descrever em sua informação, ambientes, circunstâncias, objetos, pessoas e suas próprias conclusões a respeito da hipótese levantada. Descrição de pessoas Você já tentou descrever uma pessoa depois de observá-la? Fazer a descrição de pessoas não é tão simples como parece. Requer metodologia própria que possibilite ao encarregado da análise a reunião coerente e organizada das observações, num processo de verificação de sua confiabilidade como resposta ao problema. A descrição terá que ter dados suficientes para confirmar ou não a hipótese levantada, por exemplo, sobre o suspeito de autoria. Nesse caso deverá responder a pergunta: a pessoa observada e registrada tem as características do suspeito descrito pela testemunha? Técnica de descrição de pessoas O melhor na descrição das pessoas consiste em começá-la pela cabeça, seguindo-se para os membros inferiores até os pés, de forma detalhada. Na descrição geral das pessoas devem ser observados fatores, como: a raça, o sexo, a idade aparente se não for possível a informação correta, a estatura, o peso (aparente), a compleição, a cor e o tipo do cabelo e dos olhos, a cor da pele, a presença ou ausência de bigodes, barba, a condição dentária, cicatrizes e marcas, uso de óculos e peculiaridades físicas, tipo, cor e aspecto da roupa, etc. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 14 Nem sempre é possível obter-se a completa descrição da pessoa suspeita, mas, mesmo a descrição parcial pode ser de valor inestimável, principalmente quando submetida à análise comparativa com outros dados. Descrição física geral e particular de pessoas - Nome (nomes usados, vulgo); - Sexo, raça, cor, nacionalidade; - Idade (aparente pelo menos); - Estatura (presumível, comparando-a com a própria ou de outra pessoa); - Peso (presumível); - Compleição física (gordo, magro, esguio, forte, encurvado, ombros caídos, obeso, estômago proeminente, etc.); - Marcas e cicatrizes (naturais, produzidas ou tatuagens); - Modo de falar (forte, suave, rouco, grosso, fino, lento, rápido, gagueira, sotaques, gírias); - Modo de andar (coxeando, etc.); - Defeitos físicos; e - Tipos de cabeça, sobrancelhas, nariz, boca, dentes, bigode, orelhas, barba, pescoço, ombros, tórax, braços e mãos. Descrição da indumentária - Camisa: cor, material, modelo; - Gravata: cor, material, modelo; e - Calça, paletó, cintos, sapatos, luvas, jóias, óculos, etc. Numa descrição de pessoas devem ser registrados os dados imutáveis. A descrição deve ser honesta, realista, sem influências pessoais ou preconceituosas. Devem ser particularizadas, pois as descrições genéricas pouco servem para a investigação. Observe no indivíduo, não o que de comum possa existir, mas o que de particular apresenta, isso permitiráuma identificação mais segura. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 15 Aula 4 – Coleta de dados por meio de informantes A coleta de dados por meio do informante é uma busca de informações para norteio da investigação. É uma observação intermediária de suporte, baseada em fonte secundária. O informante não é uma testemunha do evento. É alguém que tem informações complementares à investigação. Poderá ser a pessoa que conhece as características físicas do suspeito de autoria do crime, ou, ainda, a pessoa que exerce alguma atividade que, pela natureza e ambiente onde ocorre, tem informações importantes para o norteio da investigação. Exemplo: O barbeiro de confiança do suspeito que escute suas confidências. Informante é a pessoa que, não pertencendo à polícia, colabora com o investigador, criando facilidades ou fornecendo informações negadas para a verificação da prova. O informante poderá ser recrutado de forma induzida ou voluntária. Seu recrutamento deverá ocorrer entre pessoas que têm ou tiveram algum potencial relacionamento com a pessoa, dado ou ambiente de quem se quer informação. O informante é um elemento desconhecido no processo da investigação. Seu papel é fornecer dados preliminares ao investigador, o auxiliando na leitura do caso, para que possa formular as hipóteses preliminares. Exemplos: Alguém que conhece o suspeito e sabe que em sua terra natal já cometeu crimes idênticos; ou que ouviu dizer quem seria o autor do crime; ou que conhece uma circunstância idêntica a descrita por testemunhas, como um veículo com as mesmas características do que fora utilizado pelo autor. O informante complementa ou confirma as informações colhidas por outros meios. Muitas vezes é quem anuncia, em primeira mão, informações explicativas ou aponta a melhor pista a seguir. Saiba mais sobre o recrutamento do informante no texto em anexo. Fatores de motivação do informante Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 16 Os motivos que podem levar alguém a prestar uma informação ao investigador, vão desde a simples vontade de colaborar, passando pela consciência do seu papel de cidadão, até a vingança. Esses motivos deverão ser conhecidos e avaliados. A avaliação é facilitada pela verificação da pertinência da informação oferecida. Significa analisar sua vinculação com o contexto da investigação e se é efetivamente essencial. Os motivos que levam alguém a informar são variados. Dentre eles: - Medo; - Vingança; - Vaidade; - Desejo de reparação - legalista/justiça; - Mercantilismo – contrapartida; e - Altruísmo – amor ao próximo – abnegação. Utilização do informante e da informação Deverão ser adotados critérios objetivos para a utilização do informante. A instituição policial adotará um protocolo de recrutamento e utilização do informante e da informação produzida. Deverá definir critérios de análise, gestão e aplicação da informação. A informação será verificada antes que seja aplicada, quanto a credibilidade e potencialidade da fonte. Esse processo evita que o investigador seja levado para rumos que só interessam ao informante. REFLITA... Considere a possibilidade de que a motivação do informante seja a vingança. Isso poderá levá-lo a executar uma busca planejada por um condômino que, não gostando do sindico, se sentirá recompensado com a situação vexatória a que ele será submetido com a ação policial em seu apartamento, pela suspeita de pedofilia, por exemplo. A informação não avaliada quanto a pertinência, poderá contaminar todo um processo de investigação, tirando sua credibilidade”. Critérios de utilização do informante Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 17 Alguns critérios serão adotados na utilização do informante para que a sua participação tenha eficácia. São eles: - Como fonte imediata no levantamento de informações e, ainda, como fonte mediata, suprindo as dificuldades da polícia no acesso a dados ou informações; - Não conferir atribuições policiais ao informante; - Não dar informações aos informantes, mas deles colher todas as informações possíveis; - Não se promiscuir o investigador, com o informante; - Tratá-lo com respeito; - Manter, sempre que possível, o sigilo da identidade e da imagem do informante; e - Sempre confrontar as suas informações com outras existentes, buscando avaliar o nível de fidedignidade do informante e da idoneidade da informação. O informante é o olho avançado da investigação. É a consolidação do preceito constitucional do artigo 144, caput, da Constituição Federal, quando diz que a segurança pública é dever do Estado, direito, mas, também, responsabilidade do cidadão. Aula 5 – Coleta de dados por meio da campana A campana ou vigilância é outra modalidade técnica da investigação criminal. Muitas vezes o investigador terá que permanecer por horas ou dias observando pessoas, ambientes, objetos ou circunstâncias, para colher dados importantes para a produção de informações na investigação criminal. A vigilância poderá ser de pessoas procuradas pela justiça, criminosos em atuação, e até de testemunhas e vitimas que precisam ser encontradas. - Campana – É a observação contínua e discreta de pessoas, ambientes, objetos ou circunstâncias, com o objetivo de obter dados que formulem informações relacionadas com a prova do delito. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 18 KASALES citado por SILVA & FERRO & SILVA (Apostila de Planejamento Estratégico, Tático e Operacional), define o termo vigilância como: “A sistemática observação e registro de um espaço aéreo, locais, pessoas, lugares, coisas, por meios visuais, auditivos, eletrônicos, fotográficos e filmagens.” Tipos de campana Na campana, a observação deverá ser sistemática e contínua, pois qualquer lacuna poderá comprometê-la ou até inutilizá-la por completo. A campana poderá ser móvel ou fixa. - Campana móvel – É aquela em que o investigador segue a pessoa observada em seu deslocamento, a pé ou em veículo. Exemplo: Observação de pessoa que se desloca por vários pontos da cidade, durante o planejamento e execução de um delito. - Campana fixa – É aquela em que a observação é feita de um ponto fixo, do qual o investigador não se desloca. Exemplo: Observação da janela de um apartamento, do movimento de um ponto de tráfico de drogas. Veja qual deve ser o perfil do investigador que realiza uma campana, no texto em anexo. Planificação da campana Foi visto a importância do planejamento na investigação criminal. Sem ele, é pouco provável que se atinja seu objetivo de forma eficaz. Ele evita improvisações, desperdícios de tempo e recurso. O plano de operação é a materialização das metas propostas e de como executá-las. Cada diligência deverá ter seu plano, por mais simples que seja. O investigador não deve se lançar despreparado à campana, sem um plano. Imprevistos poderão ocorrer pondo em risco não só a investigação, mas sua própria segurança. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009Página 19 Para saber mais sobre o plano operacional da campana, os cuidados a serem tomados e os tipos que podem ser utilizados, leio o texto em anexo: “Campana”. Aula 6 – Coleta de dados por meio da infiltração Há momentos em que os dados que o investigador precisa para construção da prova estão em ambientes fora de seu alcance em situações normais. Entretanto, é importante que ele colha esses dados pessoalmente. Como operacionalizar esse procedimento? Com a técnica de infiltração. O ato é realmente de penetração e permanência em um ambiente. A infiltração consiste na penetração velada e dissimulada em ambientes onde são planejadas ou executadas atividades delituosas, para a coleta de dados que possam explicar as circunstâncias e autoria desses delitos. Essa é a modalidade de investigação de maior risco para o investigador. Daí a necessidade de um planejamento sério que diminua esse risco e aumente a garantia de sucesso. O plano operacional para execução da infiltração, além de cuidar das necessidades comuns, como definir os tipos de dados que deverão ser coletados, recursos, procedimentos a serem adotados, requer outros cuidados específicos. O plano obedecerá às normas impostas nas Leis n° 9.034/95 (Repressão ao crime organizado) e n° 11.343/2006 (Repressão ao tráfico ilícito de drogas), conforme visto na primeira fase deste curso. Veja os cuidados e a serem tomados quanto ao infiltrado e como manter sua segurança no texto em anexo. Fase final O plano de ação também deverá prever os procedimentos a serem adotados pelo infiltrado na fase final da diligência. Nessa fase, ele já terá as informações que procurava, em muitos casos, Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 20 a confirmação da prática do delito ou a identificação e paradeiro de pessoas e coisas, quando então poderá haver uma ação policial de repressão. Nos contatos com a base de gestão da diligência, o infiltrado passa circunstâncias que propiciarão um plano para a fase final. Serão respondidas questões como: Quando deverá ocorrer a prisão do infrator observado? Quando e como deverá ocorrer o resgate do infiltrado? Contudo, como regra geral, não deverá o infiltrado agir sozinho no desfecho da diligência, executando, por exemplo, prisões. Qualquer que seja a forma do desfecho da diligência terá que haver extremo cuidado com a retirada do investigador infiltrado. Aula 7 – Coleta de dados por meio da entrevista A entrevista é outra técnica aplicada na busca de dados para apuração do delito. Seu objetivo é obter informações sobre o fato objeto da investigação, por meio de testemunhos. Consiste numa lista de indagações em que o investigador procura colher as informações necessárias para formulação ou confirmação de uma hipótese. O conhecimento produzido por meio da entrevista é a referência de um relato verbal e de sinais não-verbais do entrevistado sobre o fato vivenciado por ele. Pela entrevista, o investigador capta a realidade de um evento pela visão do entrevistado. É ferramenta fundamental na coleta de informações na tentativa de responder as questões básicas da investigação: Quem? O que? Quando? Onde? Por quê? Como? Sua característica principal é a informalidade. É aplicada, em regra, para ouvir testemunhas, vítimas e suspeitos. Poderá ser utilizada, também, como auxiliar de outra técnica de investigação, como infiltração, campana e informante. No sistema processual brasileiro, a entrevista aplicada à investigação criminal poderá ter caráter de estudo exploratório que antecede o planejamento de uma atividade operacional como a busca e apreensão, a campana, etc. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 21 O investigador deverá estar seguro dos objetivos da entrevista, para garantir a obtenção de informações relevantes e reveladoras. Para isso terá que se preparar elaborando um plano de ação. Para DENKER (2007, p.165), “entrevista é uma comunicação verbal entre duas ou mais pessoas, com grau de estruturação previamente definido, cuja finalidade é a obtenção de informações de pesquisa”. Entrevista é uma situação de comunicação, antes de tudo vocal, num grupo de duas ou mais pessoas, mais ou menos voluntariamente reunidas, num relacionamento progressivo, entrevistador e respondente, com o propósito de elucidar fatos inerentes à situação investigada, de cuja revelação o perito espera tirar certo benefício. (CERQUEIRA, p. 56) Os dois conceitos relatam a característica principal da entrevista: a interação entre pessoas. Uma tem o dado, outra busca esse dado. É um jogo de troca de informações. Métodos de entrevista A entrevista pode ser aplicada de duas maneiras: quanto ao modo de formulação dos quesitos e quanto às circunstâncias em que ocorre. Quanto ao modo de formulação dos quesitos, a entrevista pode ser: - Estruturada – Elaborada com perguntas determinadas. O entrevistador elabora quesitos pré- determinados. - Semi-estruturada – Permite maior liberdade ao entrevistado, pois as perguntas, apesar de determinadas a um tema ou temas, são formuladas livremente. - Cognitiva – Busca maximizar a quantidade e a qualidade de informações obtidas de uma testemunha. - Mista – O entrevistador utiliza uma junção das técnicas anteriores. Quanto às circunstâncias em que ocorre, pode ser: - Ostensiva Quando em situação de normalidade o entrevistador não precisa esconder sua identidade funcional. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 22 - Encoberta Quando, por conveniência da investigação, o entrevistador precisa ocultar sua identidade funcional, assumindo outra que lhe permita acesso ao entrevistado, sem revelar a finalidade da entrevista. Fases da entrevista A entrevista tem três fases distintas: preparação, execução e análise. (A fase da análise, você verá na aula 9.) Fase de preparação A preparação da entrevista é de grande importância, pois é quando serão definidos os objetivos e, em razão deles, a estratégia a ser adotada. O tempo de duração de uma entrevista poderá ser bastante curto, mas com resultado duradouro e de efeito extraordinário na investigação. O investigador poderá sair de uma entrevista com todas as informações que esperava ou sem qualquer informação relevante. Tudo depende de como planejou e executou o processo. A seleção do alvo da entrevista deverá considerar fatores que possam habilitá-lo a isso. A entrevista busca conhecimentos, dos quais, o entrevistado terá que ser um potencial depositário. Para avaliar essa potencialidade, o investigador terá que tomar cuidados prospectivos que serão adotados em estudo exploratório. No contexto da investigação, o entrevistador precisa identificar as pessoas com potencialidade de informações que interessem para a resolução do crime. De acordo com Gastón Berger “A atitude prospectiva significa olhar longe, preocupar-se com o longo prazo; olhar amplamente, tomando cuidado com as interações; olhar a fundo, até encontrar os fatores e tendências que são realmente importantes; arriscar, porque as visões de horizontes distantes podem fazer mudar nossos planos de longo prazo; e levar em conta o gênero humano, grande agente capaz de modificar o futuro”. O estudo exploratório deverá municiar o investigador com todo o fundamentoteórico necessário para a execução da entrevista. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 23 O entrevistador fará um inventário com todos os dados conhecidos sobre o caso e sobre o alvo da entrevista (perfil), para elaboração do plano da entrevista. As informações colhidas, especialmente na cena do crime, servirão de referencial para as questões a serem feitas. Ele fará um esquema das perguntas-chave que servirá de roteiro para a entrevista. Com relação às testemunhas de crimes de homicídios, porém, aplicável à investigação como um todo, em sua pesquisa sobre a investigação de homicídios, MINGARDI (p. 64 e 65) diz que é comum se entrevistar seis tipos de testemunhas: - Testemunhas oculares; - Pessoas que tenham conhecimento das circunstâncias do crime; - Pessoas que tenham conhecimento da hora da morte (ou do crime); - Pessoas que possam conhecer a vítima; - Pessoas que possam saber algo do suspeito; e - Pessoas que possam ter informações sobre o motivo do crime. Fatores que poderão alterar a qualidade da informação O autor citado ressalta que na entrevista de testemunhas, principalmente as oculares, o investigador deverá ter o cuidado em relação à importância das informações, visto a possibilidade de equívocos por diversos motivos, dentre eles, os seguintes: - Distância física em relação ao incidente; - Capacidade física da testemunha; - Condição emocional no momento da ocorrência; - Experiência e aprendizado prévio; e - Preconceito e parcialidade. Esses fatores deverão ser conhecidos do entrevistador para que possa levá-los em consideração quando da elaboração do plano de entrevista. Como todo o processo da investigação, entrevista também precisa de um plano de ação bem elaborado para que possa ter possibilidade de êxito. Antes de passar para a próxima fase da entrevista, leia o texto em anexo: “Elaboração do plano da entrevista”. Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 24 Fase de execução da entrevista A entrevista é, fundamentalmente, um processo de comunicação. Portanto, sua condução deverá aplicar os princípios de relações humanas. Muito embora a palavra seja a linguagem mais comum na transmissão de mensagens entre as pessoas, há também a linguagem gestual que deverá ser observada pelo entrevistador, pois sempre estará carregada de mensagens que complementam a manifestação verbal. A comunicação é um processo bilateral que, para existir, precisará da interação entre um emissor e um receptor, num processo constante de retroalimentação. Entrevista = interação entre pessoas. Barreiras à comunicação O entrevistador deverá criar um ambiente de empatia para que receba o feedback necessário do entrevistado. A melhor técnica é a da audição ativa, isto é, ouvir e não apenas escutar. Um exemplo de audição ativa é você pedir que o entrevistado dê exemplos ou explique melhor sua informação. A audição ativa estabelece uma relação de confiança e respeito entre os interlocutores. Sendo um processo que se estabelece entre pessoas, a comunicação poderá sofrer curtos circuitos provocados por fatores que precisam ser conhecidos, percebidos e controlados. Veja quais são as regras básicas da entrevista no texto em anexo. Antes de prosseguir o curso leia os textos em anexo: - “Barreiras à comunicação” - “Linguagem corporal” Linguagem corporal Percebeu que a comunicação interpessoal não fica apenas no uso da linguagem oral? Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 25 As pessoas falam com o corpo coisas que não conseguem, não podem ou não querem dizer com a fala verbal. O investigador deve ficar atento para essas informações, pois, muitas vezes, estão carregadas de códigos que o ajudarão na busca da verdade do fato. Leitura a frio Percebeu a importância da atenção do entrevistador para com a linguagem que o entrevistado emite por meio de sinais que não a palavra falada? Há um método de leitura dessa linguagem simbólica bastante aplicado por terapeutas, videntes, astrólogos, vendedores e comunicadores, chamado de leitura a frio. (Leia o texto em anexo) A atenção do entrevistador deve estar voltado às reações do entrevistado, como entonação das palavras, linguagem corporal, padrões de respiração, dilatação ou contração das pupilas, que o permitirão vê se está diante de fontes de informações importantes para a investigação. A investigação criminal moderna tem procurado maior aplicação dos conhecimentos científicos na busca da prova fidedigna. Condução da entrevista Segundo HERÁLDEZ (falsas recordações), somente a partir do uso adequado das informações decorrentes da investigação científica, será possível se assegurar níveis mais altos de justiça nos processos judiciários. Para o mesmo autor, a psicologia tem exercido importante papel na aplicação dos métodos científicos na busca da prova de um crime, principalmente, na valoração das causas e conseqüências humanas do delito. Esse processo é mais claro na obtenção e análise das provas testemunhais. A prova testemunhal é parte importante da verdade real do fato, objeto principal da investigação criminal e do processo penal. Muitas vezes, é a prova mais significativa dessa verdade, portanto, deverá receber o trato necessário à sua fidedignidade. O testemunho fidedigno também depende da correta inquirição, segundo ensino de AREND (testemunho fidedigno). Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009 Página 26 A psicologia tem propiciado estudos científicos que expliquem melhor o funcionamento da memória que, para STEIN, citada por AREND (testemunho fidedigno), é o “coração” da prova testemunhal, criando métodos de inquirição que podem contribuir para a prevenção das “falsas recordações”. Aula 8 – Técnicas de entrevista A metodologia aplicada na elaboração do conteúdo deste curso está ligada à proposta de conhecimentos básicos para as práticas da investigação criminal. Ela ficará restrita a duas técnicas aplicadas à entrevista na investigação de delitos penais pelas polícias, muito práticas para a coleta de provas testemunhais. São elas: entrevista cognitiva e entrevista estruturada. - Entrevista cognitiva Uma das técnicas pesquisadas e aplicadas pela psicologia é a entrevista cognitiva que busca dar confiabilidade e validade aos depoimentos. Mas, o que é entrevista cognitiva? A entrevista cognitiva “é um processo de entrevista que faz uso de um conjunto de técnicas para maximizar a quantidade e a qualidade de informações obtidas de uma testemunha”, segundo PERGHER e STEIN (entrevista cognitiva). Segundo HERÁLDEZ (Creación de falsos recuerdos durante la obtencion de pruebas testimoniales. Disponível em: www.stj-sin.gob.mx/publicaciones/aequitas35.pdf), a entrevista cognitiva recebe tal denominação pelas seguintes razões: - Porque em seu procedimento se assegura que as perguntas não sugiram respostas; e - Porque se dá orientações sobre o tipo de perguntas que podem ser elaboradas de acordo com a idade, história educativo-cultural e outras características de seu desenvolvimento cognitivo. Veja uma explicação etimológica da palavra cognição: Etimologicamente, a palavra “cognição” deriva
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