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1 ANÁLISE E MERCADO FINANCEIRO PROF.: LÚCIO FLÁVIO BICALHO 2 1. DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Na administração das organizações, todas as decisões gerenciais são importantes e têm reflexo no patrimônio da empresa, porém iremos focar principalmente nas análises que irão influenciar diretamente o seu capital de giro. Dessa forma, serão abordados alguns aspectos dos demonstrativos financeiros, como por exemplo: Fundamentos dos modelos de análise; Análise Vertical e Horizontal; Principais índices utilizados pelas empresas; Os fundamentos dos modelos de análise das demonstrações financeiras encontram-se no próprio sistema de contabilidade, que se inicia com o lançamento contábil pelo método das partidas dobradas, que registra os eventos contábeis através do débito e do crédito. Os principais lançamentos refletem os eventos econômicos das operações das empresas, bem como os eventos de financiamento dessas operações. Portanto, para um entendimento adequado dos modelos de análise financeira, é necessário o conhecimento da geração, classificação e acumulação das informações no sistema contábil. Para Refletir Para que você perceba qual a importância dos Demonstrativos Contábeis e dos Mercados Financeiros na gestão e análise das empresas, sugerimos-lhe que reflita sobre as seguintes questões: O que pode ter acontecido com uma empresa que teve queda nos lucros e problemas de liquidez de um ano para o outro, apesar de ter tido crescimento nas vendas no mesmo período? 1.1 – ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Recentemente houve mudanças significativas nas demonstrações contábeis com a edição das leis 11.638/07 e 11.941/09 no Brasil. Tais mudanças ocorreram no intuito de harmonizar a legislação brasileira com a legislação internacional. Diante disso, a partir de janeiro de 2008 o Brasil passou a utilizar as Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS), o que facilita as análises dos investidores internacionais, a consolidação dos balanços nas matrizes, etc. ALTERAÇÕES CONFORME LEI 11.638/07 e 11.941/09 As principais mudanças no Balanço Patrimonial foram: 1 – Reorganização do Ativo em apenas dois subgrupos: Circulante e Não Circulante; 2 – Criação do subgrupo “Intangível” no Permanente, desdobrado do subgrupo Imobilizado; 3 – Extinção do subgrupo Diferido; 4 – Eliminação da conta “Lucros ou Prejuízos Acumulados” mantendo somente a conta “Prejuízos Acumulados” ; 5 – Criação, no Patrimônio Líquido, do subgrupo “Ajuste de avaliação patrimonial”. 3 A estrutura do Balanço Patrimonial ficou assim: Ativo Passivo Circulante Não Circulante Realizável a Longo Prazo Investimentos Imobilizado Intangível Circulante Não Circulante Exigível a Longo Prazo Patrimônio Líquido Capital Reservas de Capital Reservas de Lucro Ajuste de Avaliação Patrimonial (-) Ações em Tesouraria (-) Prejuízos Acumulados Demonstração do Resultado (antiga DRE) ESTRUTURA CPC 26 (R1) - RESOLUÇÃO CFC Nº. 1.185/09 – 1.376/11 Essa estrutura que deve ser publicada Demonstração do Resultado (antiga DRE) Receita Líquida das Vendas e Serviços (-) Custo das Mercadorias/Produtos e Serviços Vendidos = Lucro Bruto (-) Despesas com Vendas (-) Despesas Gerais e Administrativas (+ ou -) Outras Receitas e Despesas Operacionais (+ ou -) parcela dos resultados de empresas investidas reconhecida por meio do método de equivalência patrimonial = Resultado antes das receitas e despesas financeiras (+ ou -) Despesas Financeiras Líquidas = Resultado antes dos tributos sobre o lucro (-) Despesa com tributos sobre o lucro Imposto de Renda Contribuição Social = Resultado líquido das operações continuadas (+ ou -) Resultado das operações descontinuadas = Resultado líquido do período Demonstrações Financeiras: Além das demonstrações financeiras já anteriormente previstas (Balanço Patrimonial, Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados e Demonstração do Resultado do Exercício), inova a lei ao exigir: Demonstração dos Fluxos de Caixa e, se companhia aberta, Demonstração do Valor Adicionado. A Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) foi substituída pela Dem. do Fluxo de Caixa. 4 1.2 – INTRODUÇÃO À ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕIES A análise econômico-financeira tem por objetivo extrair informações das demonstrações contábeis para ser utilizada no processo de tomada de decisões na empresa. E como já salientamos, é importante para o conhecimento da situação econômico-financeira de outras empresas, notadamente concorrentes, clientes e fornecedores. Porém o mais importante instrumento de análise econômico-financeira é sua utilização interna pela empresa para a tomada de decisões. Só teremos condições de conhecer a situação econômico-financeira de uma empresa por meio dos três pontos fundamentais de análise: Liquidez Fornece a situação financeira Endividamento Fornece a estrutura de capital Rentabilidade Fornece a situação econômica Os índices de liquidez são utilizados para avaliar a capacidade de pagamento da empresa, isto é, constituem uma apreciação sobre se a empresa tem capacidade para saldar seus compromissos. Os indicadores de endividamento nos informam se a empresa utiliza mais recursos de terceiros ou recursos dos proprietários. Saberemos se os recursos de terceiros têm seu vencimento em maior parte a Curto Prazo (Circulante) ou a Longo Prazo. A situação econômica é observada através da rentabilidade da empresa, do seu potencial de vendas, da sua habilidade de gerar resultados e da evolução das despesas. PREPARAÇÃO DO BALANÇO PARA ANÁLISE Cada analista tem uma visão sobre os elementos patrimoniais das demonstrações contábeis, bem como um modelo particular de análise. Assim, alguns passos devem ser seguidos, incluindo alguns ajustes dos dados das demonstrações. Passos para análise: 1) Verificar se estamos de posse de todas as peças das demonstrações BP, DRE, DOAR, DLPA, Fluxo de Caixa (3 períodos pelo menos) 2) Verificar autenticidade das demonstrações contábeis (parecer de auditoria) 3) Reclassificação das contas Reclassificações (ajustes): Eliminar os valores inexistentes ou superavaliados no ativo Apresentar os valores com mesmo poder aquisitivo Eliminar as contas retificadoras, reduzindo as rubricas ao seu valor líquido (duplicatas descontada, depreciaçao acumulada, etc.) Eliminar as contas correspondentes de ativos e passivos. Ex.: adiantamento de clientes e adiantamento a fornecedores, contrato de mútuo ativo e passivo Reconhecer contas de compensação se estas representarem riscos reais Acrescentar valores que sendo reais e conhecidos ainda não estejam computados no balanço. Ex.: clientes em situação falimentar não habilitados Despesas do exercício seguinte deverão ser ajustadas no PL 5 Raciocínio para análise: 1 – Extraem-se os indices das demonstrações contábeis 2 – Comparam-se os padrões 3 – Ponderam as diferentes informações e chega-se a um diagnóstico ou conclusões 4 – Toman-se as decisões. 2. ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL As análises Vertical (Participação) e Horizontal (Evolução) mostram aspectos pormenores que não são mostrados na análise através de índices. Exemplos.: Os índices demonstramalto endividamento. A análise V/H aponta qual o principal credor e como se alterou nos últimos anos Os índices mostram que a empresa teve pequena margem de lucro. A análise V/H mostra qual o item responsável pela reduzida margem de lucro. Relação Entre Análise Vertical e Análise Horizontal É recomendável que esses tipos de análise sejam usados conjuntamente. Não se deve tirar conclusões exclusivamente da Análise Horizontal, pois determinado item, mesmo apresentando variação de 2000%, por exemplo pode continuar sendo um item irrelevante dentro da demonstração financeira a que pertence. É desejável que as conclusões baseadas na Análise Vertical sejam complementadas pelas da Análise Horizontal. 2.1 - AN. VERTICAL (ANÁLISE DE PARTICIPAÇÃO) A Análise Vertical é um processo comparativo, expresso em porcentagem, que se aplica ao se relacional uma conta ou grupo de contas com um valor afim ou relacionável, identificado no mesmo demonstrativo contábil. A Análise Vertical possibilita a determinação da representação de cada item, conta ou grupo contábil, no total do Ativo, Passivo e Demonstração de Resultado do Exercício DRE. Mostra a importância de cada conta em relação à demonstração financeira a que pertence (dentro de um mesmo ano). No caso do Balanço Patrimonial, a base 100% é o total do Ativo e do Passivo. No caso da DRE, a base 100% são as vendas líquidas. Exemplo: ANÁLISE VERTIVAL ATIVO $ AV Disponível 10.000 2,7% Duplicatas a receber 56.000 15,1% Estoques 84.000 22,7% Total do Circulante 150.000 40,5% Investimentos 120.000 32,4% 6 Imobilizado 80.000 21,6% Diferido 20.000 5,4% Total do Permanente 220.000 59,5% Total do Ativo 370.000 100% Análise Vertical da D.R.E. $ AV RECEITA BRUTA VENDAS 605.303 - (-) Impostos e Devoluções (100.884) - RECEITA LÍQUIDA 504.419 100% (-) CMV (386.285) -77% = LUCRO BRUTO 118.134 23% (-) Despesas Operacionais (32.061) -6% + Outras Receitas Oper. 805 0% + Receitas Financeiras 6.219 1% (-) Despesas Financeiras (15.386) -3% = LUCRO OPERACIONAL 77.711 15% + Resultado não Operaci. 1.322 0% = LUCRO ANTES DO I.R. 79.033 16% (-) Imposto de Renda (27.661) -5% = LUCRO LÍQUIDO 51.372 10% 2.2 - ANÁLISE HORIZONTAL (ANÁLISE DE EVOLUÇÃO) A Análise Horizontal é também a comparação que se faz entre períodos com valores de uma mesma conta ou grupo de contas. É basicamente um processo de transformar valores monetários em índices, permitindo avaliar a evolução da conta no período. Mostra a evolução de cada conta nos diversos anos analisados (compara um ano com o outro). A base 100% é sempre o primeiro exercício. Exemplo: ANÁLISE HORIZONTAL X1 % X2 % X3 % Venda Líquida 2.000.000 100% 2.240.000 112% 2.400.000 120% (-) CMV (1.400.000) 100% 1.570.000) 112% 1.675.000) 120% = Lucro Bruto 600.000 100% 670.000 112% 725.000 121% (-) Desp. Venda (100.000) 100% (110.000) 110% (118.000) 118% (-) Desp. Adm. (150.000) 100% (160.000) 107% (178.000) 119% (-) Desp. Financ. (80.000) 100% (113.000) 141% (133.000) 166% = Resultado Oper. 270.000 100% 287.000 106% 296.000 110% (-) Imp. Renda (91.800) 100% (97.580) 106% (100.640) 110% = Lucro Líquido 178.200 100% 189.420 106% 195.360 110% 7 EXERCÍCIOS 1) Faça a Análise Vertical da Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) abaixo: AV RECEITA BRUTA 850.000 (-) Impostos (85.000) RECEITA LÍQUIDA 765.000 (-) CMV (300.000) = LUCRO BRUTO 465.000 (-) Despesas Venda (68.000) (-) Despesas Adm. (94.000) + Receitas Financ. 12.000 (-) Despesas Financ. (39.000) = LUCRO OPER. 276.000 + Resultado não Op. 8.000 = LUCRO ANTES I.R. 284.000 (-) Imposto de Renda (96.560) = LUCRO LÍQUIDO 187.440 2) Faça a Análise Horizontal do Balanço Patrimonial (Passivo) abaixo, e faça um pequeno comentário sobre os índices encontrados: 2002 2003 2004 PASSIVO AH AH AH Circulante 440.000 516.000 652.000 Fornecedores 350.000 400.000 450.000 Empréstimo Banc. 75.000 98.000 180.000 Salários a pagar 15.000 18.000 22.000 Exigível a L.P. Financiamentos 210.000 350.000 480.000 Patrimônio Líquido 1.158.300 1.165.700 1.178.400 Capital Social 1.100.000 1.100.000 1.100.000 Lucros Acumul. 58.300 65.700 78.400 TOTAL DO PASSIVO 1.808.300 2.031.700 2.310.400 3) A Comercial Novo Mundo Ltda é uma empresa atacadista de alimentos que atua há 40 anos na grande BH. A empresa foi fundada pelo Sr. Valadão, conceituado empresário que sempre administrou tudo com muito critério e austeridade. Dessa forma, a empresa sempre foi lucrativa. No entanto, há dois anos o Sr. Valadão se afastou da administração e, apesar de continuar crescendo, a Novo Mundo vem perdendo lucratividade. 8 Analise as despesas a seguir e faça um breve relatório da situação econômica e das prováveis causas da perda de lucratividade da empresa. Comercial Novo Mundo Ltda Jan AV Fev AV Desp. com salários 22.757 6% 23.895 6% Desp. com encargos sociais 8.756 2% 9.194 2% Desp. com energia elétrica 11.836 3% 12.428 3% Desp. com água 5.432 1% 5.704 1% Desp. com material limpeza 2.687 1% 2.821 1% Desp. com material escritorio 3.765 1% 3.953 1% Desp. com CMV 149.528 40% 157.004 38% Desp. com impostos sobre venda 13.974 4% 14.673 4% Desp. com publicidade 17.369 5% 18.237 4% Desp. com feiras e eventos 11.252 3% 11.815 3% Desp. com marketing 13.965 4% 21.985 5% Desp. com desenvolv. novos prod. 4.119 1% 4.325 1% Desp. com folders 1.289 0% 1.353 0% Desp. com veiculação 3.897 1% 4.092 1% Desp. com comissões s/ vendas 6.321 2% 6.637 2% Desp. com combustíveis 4.789 1% 5.028 1% Desp. com viagens 11.741 3% 12.328 3% Desp. com honor. advocatícios 3.654 1% 3.837 1% Desp. com treinamento 4.123 1% 4.329 1% Desp. com festas e comemor. 1.965 1% 2.063 0% Desp. com fotocópias 3.852 1% 4.045 1% Desp. com manutenção 11.258 3% 11.821 3% Desp. com reformas 15.987 4% 16.786 4% Desp. com Iso 9000 2.654 1% 2.787 1% Desp. com CPMF 5.236 1% 5.498 1% Desp. com juros bancários 21.247 6% 40.637 10% Desp. com taxas de cadastros 1.963 1% 2.061 0% Desp. com Imposto de Renda 5.896 2% 6.191 1% Total 371.312 100% 415.527 100% Receita Líquida de Vendas 423.987 452.129 Lucro Líquido do Exercício 52.675 12% 36.602 8% 9 4) Analise o Balanço da Cia Paulista de Cimento Ltda e faça alguns comentários sobre os índices já calculados das análises Vertical e Horizontal. Obs: Observe principalmente os índices com maiores distorções, para mais ou para menos. CIA PAULISTA DE CIMENTO LTDA 2000 2001 2002 ATIVO AV AH AV AH AV AH Circulante 1.346.200 77% 100% 1.340.990 73% 100% 1.584.246 72% 118% Disponível15.000 1% 100% 20.000 1% 133% 13.000 1% 87% Aplicações Financeiras 50.000 3% 100% 130.000 7% 260% 100.000 5% 200% Clientes 570.960 33% 100% 480.540 26% 84% 570.960 26% 100% Estoques 710.240 40% 100% 710.450 39% 100% 900.286 41% 127% Ativo Realizável a L.P. Emprést. a Coligadas 10.000 1% 100% 20.000 1% 200% 30.000 1% 300% Permanente 398.720 23% 100% 466.951 26% 117% 590.316 27% 148% Investimentos 78.350 4% 100% 93.051 5% 119% 180.320 8% 230% Imobilizado 320.370 18% 100% 373.900 20% 117% 409.996 19% 128% TOTAL DO ATIVO 1.754.920 100% 100% 1.827.941 100% 104% 2.204.562 100% 126% 2000 2001 2002 PASSIVO AV AH AV AH AV AH Circulante 564.140 32% 100% 498.841 27% 88% 681.325 31% 121% Fornecedores 237.911 14% 100% 198.326 11% 83% 153.908 7% 65% Outras obrigações 180.509 10% 100% 196.486 11% 109% 220.786 10% 122% Empréstimos Bancários 15.000 1% 100% - 0% 0% - 0% 0% Impostos a pagar 130.720 7% 100% 104.029 6% 80% 306.631 14% 235% Exigível a L.P. Financiamentos 25.286 1% 100% 23.394 1% 93% 18.325 1% 72% Patrimônio Líquido 1.165.494 66% 100% 1.305.706 71% 112% 1.504.912 68% 129% Capital e Reservas 1.105.134 63% 100% 1.220.386 67% 110% 1.308.586 59% 118% Lucros Acumulados 60.360 3% 100% 85.320 5% 141% 196.326 9% 325% TOTAL DO PASSIVO 1.754.920 100% 100% 1.827.941 100% 104% 2.204.562 100% 126% DRE 2000 2001 2002 AV AH AV AH AV AH RECEITA LÍQUIDA 504.419 100% 100% 426.182 100% 84% 858.250 100% 170% (-) CMV (386.285) -77% 100% (326.195) -77% 84% (583.286) -68% 151% = LUCRO BRUTO 118.134 23% 100% 99.987 23% 85% 274.964 32% 233% (-) Despesas Operacionais (32.061) -6% 100% (34.286) -8% 107% (48.005) -6% 150% + Outras Receitas Oper. 805 0% 100% 1.293 0% 161% 1.506 0% 187% + Receitas Financeiras 6.219 1% 100% 9.315 2% 150% 11.119 1% 179% (-) Despesas Financeiras (15.386) -3% 100% (17.286) -4% 112% (26.286) -3% 171% = LUCRO OPERACIONAL 77.711 15% 100% 59.023 14% 76% 213.298 25% 274% + Resultado não Operacional 1.322 0% 100% 2.386 1% 180% 4.219 0% 319% = LUCRO ANTES DO I.R. 79.033 16% 100% 61.409 14% 78% 217.517 25% 275% (-) Imposto de Renda (27.661) -5% 100% (21.493) -5% 78% (76.131) -9% 275% = LUCRO LÍQUIDO 51.372 10% 100% 39.916 9% 78% 141.386 16% 275% 10 3 – ANÁLISE POR MEIO DE ÍNDICES ECONÔMICO-FINANCEIROS ÍNDICES DE LIQUIDEZ Os índices desse grupo mostram a base da situação financeira da empresa. São índices que, a partir do confronto dos Ativos Circulantes com as Dívidas, procuram medir quão sólida é a base financeira da empresa. Uma empresa com bons índices de liquidez tem condições de ter boa capacidade de pagar suas dívidas (curto prazo, longo prazo e prazo imediato), mas não estará, obrigatoriamente, pagando suas dívidas em dia em função de outras variáveis como prazo, renovação de dívidas etc. Os índices de liquidez são: Liquidez Geral : LG Liquidez Corrente: LC Liquidez Seca: LS Liquidez Imediata: LI LIQUIDEZ GERAL: LG – O resultado mostra a relação dos recursos alocados no Ativo Circulante e Longo Prazo diante dos compromissos assumidos com terceiros. LG = Ativo Circulante + Realizável a Longo Prazo Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo Indica: quanto a empresa possui de Ativo Circulante e Realizável a Longo Prazo para cada $1,00 de dívida total. Interpretação: quanto maior, melhor. Exemplo: Situação da Cia BIG: 2000 2001 Ativo Circulante 1.960.480 2.269.171 Passivo Circulante 1.340.957 1.406.077 Exigível a Longo Prazo 314.360 1.170.788 Liquidez Geral: 1.960.480 = 1,18 2.269.171 = 0,88 1.655.317 2.576.865 O índice de Liquidez Geral de 2000, igual a 1,18, indica que para cada $1,00 de dívida a empresa tem $1,18 de investimentos realizáveis a curto prazo, ou seja, consegue pagar todas as suas dívidas e ainda dispõe de uma folga, excedente ou margem, de 18% (ou de $0,18 para cada $1,00 de dívida). O índice de 1,18 de 2000 significa que a empresa poderia pagar suas dívidas totais, mesmo aquelas de longo prazo, com os recursos que possui hoje, no Ativo Circulante, e ainda haveria uma sobra de 18%. Esta sobra representa uma espécie de reserva ou margem de segurança. Conclui-se nesse caso, que a empresa está satisfatoriamente estruturada do ponto de vista financeiro. 11 Já o índice de 0,88 obtido em 2001 revela que a empresa não conseguiria pagar, naquela data, a totalidade de suas dívidas. A primeira conclusão é de que a empresa já não tem a mesma boa situação do ano anterior, pois, agora, em vez de margem de segurança, existe ineficiência de $0,12 para cada $1,00 de dívida. Portanto, a empresa deverá gerar recursos para pagar suas dívidas, pois os atuais recursos circulantes são insuficientes. LIQUIDEZ CORRENTE: LC – Indica quanto a empresa possui no Ativo Circulante em relação aos recursos captados de terceiros alocados no Passivo Circulante. LC = Ativo Circulante Passivo Circulante Indica: quanto a empresa possui no Ativo Circulante para cada $1,00 de Passivo Circulante. Interpretação: quanto maior, melhor. Exemplo: Situação da Cia BIG: 2000 2001 Ativo Circulante 1.960.480 2.269.171 Passivo Circulante 1.340.957 1.406.077 Liquidez Corrente: 1.960.480 = 1,46 2.269.171 = 1,61 1.340.957 1.406.077 Nos dois exercícios, o Ativo Circulante é maior que o Passivo Circulante, e isto significa que os investimentos no Ativo Circulante são suficientes para cobrir as dívidas de curto prazo e ainda permitir uma folga de 46% e 61% respectivamente em 2000 e 2001. Pode-se concluir que, quando a Liquidez Corrente é superior a 1, o excesso em relação ao 1 deve-se à existência do Capital Circulante Líquido – CCL = AC - PC. Matematicamente, o que ultrapassa de 1, no índice de liquidez, deve-se ao Capital Circulante Líquido. O índice de Liquidez Corrente significa que há recursos no Ativo Circulante, superiores às dívidas junto a terceiros, na proporção de $1,46 para $1,00. Os recursos do Ativo Circulante entrarão em caixa num momento diferente da saída para pagamento do Passivo Circulante. O ideal é que as entradas em caixa sejam equivalentes às saídas. Cabe à administração financeira da empresa atingir cotidianamente esseideal, manobrando os prazos de recebimento e pagamento e renovando empréstimos bancários. Se para cada $1,00 de dívida há recursos de $1,46, a margem de folga para manobras é razoável. Se, porém, para cada $1,00 de dívida há somente recursos de $1,05, a margem torna-se muito estreita e a administração pode ter sérias dificuldades em atingir o seu intento de equilibrar as entradas e saídas de caixa. Eis ai o significado do índice de Liquidez Corrente: a margem de folga para manobras de prazos visa equilibrar as entradas e saídas de caixa. Quanto maiores os recursos, maior essa margem, maior a segurança da empresa, melhor a situação financeira. LIQUIDEZ SECA: LS – Este índice é um teste de força aplicado à empresa: visa medir o grau de excelência da sua situação financeira. A relação nos dá uma noção de qual é o nível de liquidez imediata em relação aos recursos de terceiros vencíveis a curto prazo, reconsiderando seus estoques, no caso de perdas ou danos. 12 LS = Ativo Circulante - Estoques Passivo Circulante Indica: quanto a empresa possui de Ativo Líquido para cada $1,00 de Passivo Circulante. Interpretação: quanto maior, melhor. Exemplo: Situação da Cia BIG: 2000 2001 Ativo Circulante 1.960.480 2.269.171 Estoques 751.206 1.039.435 Passivo Circulante 1.340.957 1.406.077 Liquidez Seca: 1.209.274 = 0,90 1.229.736 = 0,87 1.340.957 1.406.077 Em 2000, a Cia BIG conseguia pagar 90% de suas dívidas somente com o Disponível e as Duplicatas a Receber. Independentemente de padrões, pode-se afirmar que tinha boa performance. Assim, a avaliação da situação financeira que lhe fosse atribuída do índice de Liquidez Corrente poderia ser melhorada. Em 2001, registra-se quase o mesmo desempenho: o índice de Liquidez Seca está dentro da normalidade, não melhorando nem piorando o conceito de situação econômica financeira dado pelo índice de Liquidez Corrente. O Ativo Circulante da empresa compreende investimentos de riscos diferentes. Basicamente, são três: Disponível - Há risco de desfalque de dinheiro em caixa ou de desvio de conta corrente bancária. É risco que depende só da empresa. Duplicatas a Receber - O risco está na possibilidade de o cliente não pagar. É portanto, um risco maior por depender da capacidade de pagamento de terceiros. Estoques – Correm risco de roubo, obsoletismo, deterioração e de não serem vendidos, e, portanto, de não serem convertidos em dinheiro, não servindo para pagamento de dívidas. É um risco que depende da empresa, do mercado e da conjuntura econômica. LIQUIDEZ IMEDIATA: LI – Visa indicar quanto a empresa mantém disponível em caixa, confrontando com as exigibilidades. LI = Disponibilidades Passivo Circulante 2000 2001 Disponibilidades 163.634 107.224 Passivo Circulante 1.340.957 1.406.077 Liquidez Imediata: 163.634 = 0,12 107.224 = 0, 08 1.340.957 1.407.077 Em 2000, a Cia Big conseguiria pagar 12% de suas dívidas somente com o disponível. Em 2001, conseguiria pagar 8%. 13 INDICES DE ENDIVIDAMENTO (ESTRUTURA DE CAPITAL) Os índices desse grupo mostram as grandes linhas de decisões financeiras, em termos de obtenção e aplicação de recursos. ENDIVIDAMENTO TOTAL – Mostra qual o nível de participação dos capitais de terceiros em relação ao total dos recursos captados pela empresa (Passivo Total). Por esse índice pode-se avaliar as decisões sobre a captação de recursos que a empresa tomou, e, a princípio, quanto menor for essa relação, menor será o grau de vulnerabilidade da empresa (risco de quebrar). Endividamento Total = Capitais de Terceiros X 100 Passivo Total Indica: quanto a empresa tomou de capitais de terceiros para cada $100 de capital total investido. Interpretação: quanto menor, melhor (do ponto de vista do risco). Exemplo: Situação da Cia BIG: 2000 2001 Capitais de Terceiros 1.653.317 2.576.865 Passivo Total 2.726.178 3.984.050 Índice de Participação 1.655.317 = 61% 1.229.736 = 31% de Capitais de Terceiros 2.726.178 3.984.050 Esses índices mostram que em 2000, para cada $ 100 de capital investido, a empresa tomou $ 61 de Capitais de Terceiros e que, em 2001, para cada $ 100 investidos, tomou somente $ 31 emprestados. O índice de Endividamento Total, é um indicador de risco ou dependência a terceiros, por parte da empresa. Também pode ser chamado de índice de Grau de Endividamento. Do ponto de vista financeiro, quanto maior a relação de Capitais de Terceiros/Passivo Total menor a liberdade de decisões financeiras da empresa ou maior a dependência a Terceiros. Do ponto de vista da obtenção de lucro, pode ser vantajoso para a empresa trabalhar com Capitais de Terceiros, se a remuneração paga a esses capitais de terceiros for menor que o lucro conseguido com a sua aplicação nos negócios. Portanto, sempre que se aborda o Índice de Endividamento Total, está se fazendo análise exclusivamente do ponto de vista financeiro, ou seja, do risco de insolvência e não em relação ao lucro ou prejuízo. COMPOSIÇÃO DO ENDIVIDAMENTO – Dívidas de Curto e Longo Prazo. CE = Passivo Circulante X 100 Capitais de Terceiros 14 Indica: qual o percentual de obrigações de curto prazo em relação às obrigações totais Interpretação: quanto menor, melhor. Exemplo: Situação da Cia BIG: 2000 2001 Passivo Circulante 1.340,957 1.406.077 Capitais de Terceiros 1.653.317 2.576.865 Índice de composição 1.340.957 = 81% 1.406.077 = 54% do Endividamento 1.653.317 2.576.865 Tais índices indicam que em 2000 a empresa tinha 81% de suas dívidas vencíveis a curto prazo e que em 2001 esse percentual caiu para 54%, melhorando o perfil da dívida. IMOBILIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO – Mostra o quanto dos recursos próprios foi investido no Ativo Permanente da empresa. IPL = Ativo Permanente X 100 Patrimônio Líquido Indica: quanto a empresa aplicou no Ativo Permanente para cada $ 100 de Patrimônio Líquido. Interpretação: quanto menor, melhor. Exemplo: Situação da Cia BIG: 2000 2001 Ativo Permanente 765.698 1.714.879 Patrimônio Líquido 1.070.861 1.407.125 Índice de imobilização 765.698 = 71% 1.714.879 = 121% do Patrimônio Líquido 1.070.861 1.407.185O índice de imobilização de 2000 mostra que 71% do Patrimônio Líquido foram investidos no Ativo Permanente. Os restantes 29% acham-se aplicados no Ativo Circulante. Essa Parcela de 29% do Patrimônio Líquido é chamada de Capital Circulante Líquido. O índice de imobilização em 2001 é de 121%. Isto significa que para cada $ 100 existentes de Patrimônio Líquido a empresa aplicou $ 121 no Permanente, ou seja imobilizou todo o Patrimônio Líquido mais recursos de terceiros, equivalentes a 21% do Patrimônio Líquido. Nesse caso, o Ativo Circulante é totalmente financiado por Capitais de Terceiros, os quais financiam ainda uma parte do Ativo Permanente. Quanto mais a empresa investir no Ativo Permanente, menos recursos próprios sobrarão para o Ativo Circulante e em consequência, maior dependência a capitais de terceiros para o financiamento do Ativo Circulante. 15 IMOBILIZAÇÃO DOS RECURSOS NÃO CORRENTES IRNC = Ativo Permanente X 100 PL + Exigível a Longo Prazo Indica: que o percentual de Recursos não Correntes a empresa aplicou no Ativo Permanente. Interpretação: quanto menor, melhor. Exemplo: Situação da Cia BIG: 2000 2001 Ativo Permanente 765.698 1.714.879 Exigível Longo Prazo 314.360 1.170.788 Patrimônio Líquido 1.070.861 1.407.185 Índice de imobilização 765.698 = 55% 1.714.879 = 66% do Patrimônio Líquido 1.385.224 2.577.973 Esses índices mostram que a empresa destinou ao Ativo Permanente respectivamente, em 2000 e 2001, 55% e 66% dos Recursos não Correntes. Os elementos do Ativo Permanente têm vida útil que pode ser de 2, 5, 10, ou 20 anos. Assim não é necessário financiar todo o Imobilizado com recursos próprios. É perfeitamente possível utilizar recursos de longo prazo, desde que o prazo seja compatível com o de duração do Imobilizado ou então que o prazo seja suficiente para a empresa gerar recursos capazes de resgatar as dívidas de longo prazo. Daí a lógica de comparar as aplicações fixas (Ativo Permanente) com os Recursos não Correntes (Patrimônio Líquido + Exigível a Longo Prazo). Uma consideração importante é que esse índice não deve em regra ser superior a 100%. Ainda que a empresa quase tenha necessidade de Ativo Circulante, deve sempre existir um pequeno excesso de Recursos não Correntes, em relação às imobilizações, destinado Ativo Circulante. A parcela de Recursos não Correntes destinada ao Ativo Circulante é denominada Capital Circulante Líquido ( CCL). O CCL representa a folga financeira a curto prazo, ou seja, financiamentos de que a empresa dispõe para o seu giro e que não serão cobrados a curto prazo. A empresa investiu 66% dos Recursos não Correntes no Ativo Permanente destinando 34% para o Ativo Circulante. Observe-se que estes recursos não correntes destinados ao Ativo Circulante são constituídos exclusivamente de Exigível a Longo Prazo. INDICES DE RENTABILIDADE (SITUAÇÃO ECONÔMICA) Os índices desse grupo mostram qual a rentabilidade dos capitais investidos, isto é, quanto renderam os investimentos e, portanto, qual o grau de êxito econômico da empresa. 16 GIRO DO ATIVO (Rotatividade)– Revela a eficiência de vendas em relação ao investimento total, ou o giro que a empresa tem em sua atividade. Rotatividade = Vendas Líquidas Ativo Total Indica: quanto a empresa vendeu para cada $1,00 de investimento total. Interpretação: quanto maior, melhor. O sucesso de uma empresa depende, em primeiro lugar, de um volume de vendas adequado. O volume de vendas tem relação direta com o montante de investimentos. Exemplo: Cia BIG 2000 2001 Vendas 4.793.123 4.425.866 Ativo 2.726.178 3.984.050 Giro do Ativo: 4.793.123 = 1,76 4.425.866 = 1,11 2.726.178 3.984.050 A empresa vendeu, em 2000, $1,76 para cada $1,00 investido: o volume de vendas atingiu 1,76 vezes o volume de investimentos. Em 2001, houve queda acentuada do volume relativo de vendas: para cada $1,00 investido a empresa vendeu 1,11. O desempenho comercial da empresa pode ter sido afetado por diferentes causas em 2001: Retração do mercado como um todo: o mercado passou a comprar menos produtos, diminuindo as vendas de todas as empresas do ramo. Perda da participação de mercado: a empresa perdeu mercado para outros concorrentes que sabem vender melhor ou têm produtos mais competitivos. Estratégia da empresa: a empresa aumenta seus preços; dispõe-se a vender menos, mas com margem de lucro maior, compensando a queda das vendas. A vantagem dessa medida, quando bem-sucedida, é manter ou aumentar o lucro, com muito menor volume e, portanto, menor risco. MARGEM LÍQUIDA – Mostra a eficiência da empresa na administração dos seus custos para obter uma maior margem líquida sobre as vendas. Quanto maior for o índice, maior será a capacidade de gerar recursos para atender as expectativas de investidores e credores e gerar recursos adicionais para ampliação de sua capacidade produtiva. Lucratividade = Lucro Líquido X 100 Vendas Líquidas Indica: quanto a empresa obtém de lucro para cada $100 vendidos. Interpretação: quanto maior, melhor. 17 Exemplo: Cia BIG 2000 2001 Vendas 4.793.123 4.425.866 Lucro Líquido 223.741 167.116 Margem Líquida 223.741 = 4,66% 167.116 = 3,77% 4.793.123 4.425.866 Para cada $100 vendidos, a empresa obteve $4,66 de lucro em 2000 e $3,77 em 2001. Houve queda no volume de vendas simultaneamente à queda da margem de lucro. Margem representa a eficiência de despesas em relação às vendas, pois quanto menores as despesas maior será a margem de lucro. RENTABILIDADE DO ATIVO – Esse índice mostra quanto a empresa obteve de Lucro Líquido em relação ao Ativo. É uma medida da capacidade da empresa em gerar lucro líquido, e assim poder capitalizar-se. Rent. Ativo = Lucro Líquido X 100 Ativo Total Indica: quanto a empresa obtém de lucro para cada $100 de investimento total. Interpretação: quanto maior, melhor. Exemplo: Cia BIG 2000 2001 Lucro Líquido 223.741 167.116 Ativo 2.726.178 3.984.050 Rentabilidade 223.741 = 8,20% 167.116 = 4,19% do Ativo 2.726.178 3.984.050 Para cada $100 investidos, a empresa ganhou $8,20 em 2000 e $4,19 em 2001. Houve, portanto, queda na rentabilidade do Ativo de um ano para o outro Em resumo, a empresa teve acentuada queda simultânea do volume de vendas, da margem líquida e, consequentemente, da rentabilidade do Ativo, reduzindo seu poder de capitalização. RENTABILIDADE DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO – O papel do índice de Rentabilidade do Patrimônio Líquido é mostrar qual a taxa de rendimento do Capital Próprio. Essa taxapode ser comparada com a de outros rendimentos alternativos no mercado, (caderneta de poupança, CDBs, Ações, Aluguéis, Fundos de Investimentos, etc). Com isso se pode avaliar se a empresa oferece rentabilidade superior ou inferior a essas opções. Rentab. do PL = Lucro Líquido X 100 Patr. Líquido Médio 18 Indica: quanto a empresa obteve de lucro para cada $100 de Capital Próprio investido. Interpretação: quanto maior, melhor. Exemplo: Cia BIG 2000 2001 Lucro Líquido 223.741 167.116 Pat. Líquido Inicial 821.827 1.070.861 Pat. Líquido Final 1.070.861 1.407.185 Pat. Líquido Médio 946.344 1.239.023 Rentabilidade 223.741 = 23,64% 167.116 = 13,48% do Pat. Líquido 946.344 1.234.023 Para cada $100 de Capital Próprio investido, a empresa conseguiu $ 23,64 de lucro em 2000. Normalmente, espera-se das empresa rentabilidade superior à dos títulos de renda fixa: possuir o investimento na empresa representa capital de risco, ou seja, nada garante sua rentabilidade, que poderá ser inclusive negativa. Conceitos Importantes: Ativo Circulante = Capital de Giro Ativo Operacional = Ativo Circulante – Disponível Passivo Operacional = Passivo Circulante – Empréstimos Bancários de Curto Prazo CCL (Capital de Giro Líquido) = Ativo Circulante – Passivo Circulante NCG (Necessidade de Capital de Giro) = Ativo Operacional > Passivo Operacional CCP (Capital Circulante Próprio) = Valor do Patrimônio Líquido que excede o valor do Ativo Permanente que, conseqüentemente, irá para o Capital de Giro da empresa. Cia Big Ltda ATIVO PASSIVO 2000 2001 2002 2000 2001 2002 Ativo Circulante 1.960.480 2.269.171 2.578.130 Passivo Circulante 1.340.957 1.406.077 1.560.310 Disponibilidades 163.634 107.224 98.020 Exigível a L.P. 314.360 1.170.788 1.338.000 Estoques 751.206 1.039.435 1.350.000 P.L. 1.070.861 1.407.185 1.430.000 Outros ativos 1.045.640 1.122.512 1.130.110 Ativo Permanente 765.698 1.714.879 1.750.180 TOTAL ATIVO 2.726.178 3.984.050 4.328.310 TOT. PASSIVO 2.726.178 3.984.050 4.328.310 Vendas líquidas 4.793.123 4.225.866 Lucro líquido 223.741 167.116 19 CIA ALTEROSA LTDA - BALANÇO PATRIMONIAL (já reclassificado) ATIVO 31/12/X1 AV AH 31/12/X2 AV AH Circulante Disponível 57.475 55.198 Duplicatas a rec. 229.089 204.881 Estoques 262.500 439.275 Total do Circulante 549.064 699.354 Realizável a L.P. 25.005 26.271 Permanente Investimentos 50.585 30.378 Imobilizado 141.852 290.302 Diferido 8.515 29.161 Total do Perman. 200.952 349.841 TOTAL DO ATIVO 775.021 1.075.466 PASSIVO 31/12/X1 AV AH 31/12/X2 AV AH Circulante Fornecedores 44.010 58.709 Inst. Financ. a pagar 188.379 272.152 Provisão para IR 6.248 33.126 Dividendos a pagar 55.264 79.832 Outras contas a pagar 28.160 73.811 Total do Circulante 322.061 517.630 Exigível a L.P. Financiamentos 33.461 2.906 Contas a pagar 2.120 1.818 Total do Exigível a L.P. 35.581 4.724 Patrimônio Líquido Capital Social 228.360 304.480 Reserva de capital 14.549 18.763 Reservas diversas 174.470 229.869 Total do P.L. 417.379 553.112 TOTAL DO PASSIVO 775.021 1.075.466 DEMONSTRAÇÃODO RESULTADO DO EXERCÍCIO – CIA ALTEROSA LTDA 31/12/X1 AV AH 31/12/X2 AV AH Receita Bruta Oper. 2.154.307 3.587.129 (-) Deduções (330.200) (420.600) = Vendas Líquidas 1.824.107 3.166.529 (-) CMV (1.336.125) (2.345.843) = Lucro Bruto 487.982 820.686 Despesas Operacionais De Vendas (305.407) (483.705) Administrativas (77.445) (113.245) Depreciação (1.081) (2.368) Lucro Operacional 104.049 221.368 Receitas não operac. 41.507 8.832 Resultado da Corr. Monet. (8.393) (11.176) Provisão para IR (21.369) (33.862) Lucro Líquido 115.794 185.162 20 EXERCÍCIOS 1) Faça as análises Vertical e Horizontal do Balanço Patrimonial e DRE da Cia Alterosa acima. 2) Com base no Bal. Patrimonial e DRE da Cia Alterosa, calcule os seguintes índices (X1 e X2): a) Liquidez Geral b) Liquidez Corrente c) Liquidez Seca d) Liquidez Imediata e) O que quer dizer cada índice encontrado? 3) Com base no Bal. Patrimonial e DRE da Cia Alterosa, calcule os seguintes índices (X1 e X2): a) Endividamento Total b) Composição do Endividamento c) Imobilização do PL d) Imobilização dos Recursos não Correntes e) O que quer dizer cada índice encontrado? 4) Com base no Bal. Patrimonial e DRE da Cia Alterosa, calcule os seguintes índices (X1 e X2): a) Giro do Ativo b) Margem Líquida c) Rentabilidade do Ativo d) Rentabilidade do PL e) O que quer dizer cada índice encontrado? 5) Que efeito produziriam as seguintes ações no índice de liquidez corrente? Suponha que o capital de giro líquido seja positivo. a) Compra de mercadoria para estoque b) Pagamento de fornecedor c) Liquidação antecipada de empréstimo a longo prazo d) Estoque é vendido a preço de custo e) Estoque é vendido com lucro 6) Uma empresa possui um capital de giro líquido de $950, passivo circulante de $2.500 e estoque de $1.100. Qual é seu índice de liquidez corrente? E seu índice de liquidez seca? O que quer dizer os índices encontrados? 7) Uma empresa possui vendas de $30 milhões, ativo total de $42 milhões, e dívida total de $12 milhões. Se a margem de lucro é 7%, qual é seu lucro líquido? 8) Análise da Cia Mediana Ltda: Índices X1 X2 X3 LI 0,16 0,14 0,1 LC 1,4 1,35 1,08 LS 0,9 0,8 0,7 LG 0,3 0,31 0,29 21 O Dr. Sabe-Tudo, gerente financeiro da empresa argumenta: a) A LI caiu porque em época de inflação não é interessante ter dinheiro ocioso em caixa b) A LG é baixa, pois todo o financiamento obtido em X1 foi aplicado no Ativo Permanente. c) A LS caiu porque aumentamos consideravelmente nossos estoques de matéria-prima d) A no LC caiu, porém a nossa média é bem razoável Outras informações: A empresa está atrasando pagamento aos fornecedores na seguinte base: Atrasos médios: X1 20 dias X2 40 dias X3 56 dias O financiamento vencerá no ano seguinte (4 anos) O estoque de matéria prima é de fácil aquisição no mercado e normalmente sobe de preço em proporção menor que a inflação. Pede-se: Comente os argumentos do Dr. Sabe-Tudo 9) A Depreciação Acumulada é: a) Uma reserva b) Uma provisão somada às demais contas do PL c) Uma conta retificadora do Ativo Permanente d) Um fundo para reposição de máquinas e) Nenhumadas alternativas anteriores 10) Duplicatas descontadas no balanço padronizado: a) Fazem parte do Passivo Circulante Operacional b) Devem ser deduzidas de Contas a Receber c) Não precisam figurar no balanço d) São incluídas no Passivo Circulante Financeiro e) Nenhuma das alternativas anteriores 11) Os índices de estrutura mostram: a) As grandes linhas de decisões financeiras em termos de obtenção e aplicação de recursos b) Quão sólida é a base econômica de uma empresa c) O endividamento e a composição das exigibilidades d) Nenhuma das alternativas anteriores 12) Mantidos constantes os demais elementos, quanto maior for o índice de Ativo Permanente/PL, menor será o de: a) Liquidez Geral b) Rentabilidade do PL c) Giro do Ativo d) Composição do Endividamento 13) Quais são as informações evidenciadas pelos índices do grupo “Estrutura de Capitais”? 22 14) Qual a relação entre o Capital Circulante Líquido e o Índice de Imobilização dos Recursos não Correntes? 15) Qual o índice que mostra o perfil da dívida quanto ao prazo de vencimento? 16) Com base nos dados abaixo, preencher os espaços em branco: Ativo Circulante ___________ Passivo Circulante ___________ Caixa e Bancos _______200_ Exigível a L. Prazo ___________ Duplicatas a receber ___________ Patrimônio Líquido ___________ Estoques ___________ Total do Passivo ___________ Ativo Realizável LP _________0_ Ativo Permanente ___________ Total do Ativo ___________ ÍNDICES: Participação de Capitais de Terceiros: 125% Liquidez Geral: 0,80 Liquidez Corrente: 1,00 Liquidez Seca: 0,60 Liquidez Imediata: 0,10 4 – APLICAÇÕES PRÁTICAS DE ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES A análise das demonstrações financeiras fornece um ponto inicial para se compreender uma empresa, e uma boa maneira de se fazer isso é através da análise dos índices financeiros, que nos ajudam a entender as relações entre as diferentes áreas de negócios. Por exemplo, ajuda a entender qual deverá ser o investimento adicional em duplicatas a receber, estoques e duplicatas a pagar, para cada Real adicional de vendas. E também que nível de ativos permanentes dá suporte a um determinado nível de vendas. A análise dos demonstrativos contábeis pode ajudar a mostrar certas deficiências administrativas que estejam ocorrendo. Segundo Gitman (2002), uma empresa com excelente índice “Exigível-Patrimônio Líquido” (baixo endividamento) pode estar com o crescimento de vendas estagnado e não gerar caixa suficiente para quitar as dívidas. Tal fato fica evidente após uma análise de balanço. EXERCÍCIO A Comercial Minas Gerais Ltda é um supermercado de médio porte, cujos sócios são dois irmãos. As contas abaixo foram extraídas do balancete contábil em 31/12/X7. Monte o Balanço Patrimonial conforme as normas contábeis e responda: aa)) Qual o valor do Ativo Circulante? bb)) Qual o valor do Ativo Não Circulante? cc)) Qual o valor do Capital de Terceiros? dd)) Qual o valor do Capital Próprio? ee)) Faça uma rápida análise no balanço da Cia. Minas Gerais e responda: a empresa tem liquidez de curto prazo? A empresa trabalha mais com recursos próprios ou com recursos de terceiros? 23 Caixa 38.450 Salários a pagar 8.000 Móveis e utensílios 32.000 Contas a pagar em jul/X9 7.000 Bancos conta movimento 8.200 Duplicatas a receber 27.000 Capital Social 25.000 Financiamentos LP 60.000 Reservas 11.000 5 – OUTROS INDICADORES DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO (DVA) A Demonstração do Valor Adicionado (DVA) é o informe contábil que evidencia, de forma sintética, os valores correspondentes à formação da riqueza gerada pela empresa em determinado período e sua respectiva distribuição. Obviamente, por se tratar de um demonstrativo contábil, suas informações devem ser extraídas da escrituração, com base nas Normas Contábeis vigentes e tendo como base o Princípio Contábil da Competência. A riqueza gerada pela empresa, medida no conceito de valor adicionado, é calculada a partir da diferença entre o valor de sua produção e o dos bens e serviços produzidos por terceiros utilizados no processo de produção da empresa. A utilização do DVA como ferramenta gerencial pode ser resumida da seguinte forma: 1) como índice de avaliação do desempenho na geração da riqueza, ao medir a eficiência da empresa na utilização dos fatores de produção, comparando o valor das saídas com o valor das entradas, e 2) como índice de avaliação do desempenho social à medida que demonstra, na distribuição da riqueza gerada, a participação dos empregados, do Governo, dos Agentes Financiadores e dos Acionistas. O valor adicionado demonstra, ainda, a efetiva contribuição da empresa, dentro de uma visão global de desempenho, para a geração de riqueza da economia na qual está inserida, sendo resultado do esforço conjugado de todos os seus fatores de produção. A Demonstração do Valor Adicionado, que também pode integrar o Balanço Social, constitui, desse modo, uma importante fonte de informações à medida que apresenta esse conjunto de elementos que permitem a análise do desempenho econômico da empresa, evidenciando a geração de riqueza, assim como dos efeitos sociais produzidos pela distribuição dessa riqueza. EBITDA EBITDA significa "Earning Before Interests, Taxes, Depreciation and Amortization", ou seja, lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização. Máquinas e equipamentos 40.000 Marcas e patentes 5.000 Impostos a recolher 10.000 Empréstimos bancários 20.000 Lucros Acumulados 10.650 Fornecedores 20.000 Estoques 20.000 Ações de outras empresas 1.000 24 Em linhas gerais, o EBITDA representa a geração operacional de caixa da companhia, ou seja, o quanto a empresa gera de recursos apenas em suas atividades operacionais, sem levar em consideração os efeitos financeiros e de impostos. A utilização do EBITDA ganha importância, porque analisar apenas o resultado final da empresa (lucro ou prejuízo) muitas vezes tem sido insuficiente para avaliar seu real desempenho em um dado período, já que muitas vezes é influenciado por fatores difíceis de serem mensurados. APLICAÇÃO DO EBITDA O indicador pode ser utilizado na análise da origem dos resultados das empresas e, por eliminar os efeitos dos financiamentos e decisões contábeis, pode medir com mais precisão a produtividade e a eficiência do negócio. Como percentual de vendas, pode ser utilizado para comparar as empresas quanto à eficiência dentro de um determinado segmento de mercado. Além disso, a variação do indicador de um ano em relação a outro mostra aos investidores se uma empresa conseguiu ser mais eficiente ou aumentar sua produtividade. Por outro lado, como ressalva, vale lembrar que o EBITDA pode dar uma falsa ideia sobre a efetiva liquidez da empresa. Além disso, o indicador não considera o montante de reinvestimento requerido (pela depreciação), fator especialmente crítico nas empresas que apresentam ativos operacionais de vida curta. Assim, o EBITDA é um indicador financeiro muito relevante, mas que deve ser utilizado combinado com outros indicadores de desempenho para fornecer uma visão mais apropriada da performance da empresa. Ainda assim, é certamente o mais acompanhado pelos analistas e acaba ganhando bastante importância também na análise de crédito e nos múltiplos de avaliação de empresas. Em determinado cenário, uma empresa pode apresentar um EBITDA verdadeiramente "astronômico" e nem sequer ter dinheiro para pagar os salários (bastaque tenha vendido a clientes que não pagam, ou que tenha efetuado avultados investimentos). Isto deve-se ao fato deste indicador analisar somente as contas de resultado, não se importando com a movimentação patrimonial. O caso da famosa Worldcom é um bom exemplo disso. Um investidor que se tenha deixado "guiar" pelo EBITDA, foi enganado pelas "manipulações contábeis" efetuadas nas contas patrimoniais. EXERCÍCIOS - PADOVEZE 1) Uma empresa fez um investimento de $1.200.000 e espera um retorno de 15% ao ano. Calcule qual deve ser a margem líquida sobre vendas para obter essa rentabilidade, se o giro esperado é de 2,45. 2) Tomando como referência os dados do exercício anterior, a empresa está prevendo que conseguirá uma margem líquida para o ano seguinte de apenas 3%. Diante disso, a empresa admite um retorno do investimento de apenas 12%. Calcule qual deve ser o giro para obter esse retorno e qual será a variação do valor das vendas em relação ao exercício anterior. 3) O Controller da Cia Norte S/A, ao elaborar a análise das demonstrações contábeis da empresa, percebeu que o índice de composição do endividamento (CE = passivo circulante/capital de terceiros) alcançava um resultado igual a 0,90. Em vista disso, concluiu que: 25 a) a empresa está comprometendo quase a totalidade de seu capital próprio com obrigações para com terceiros; b) a empresa não terá como pagar seus compromissos de curto prazo; c) o endividamento da empresa está concentrado no curto prazo; d) o risco de insolvência da empresa é altíssimo; e) a cada $100,00 de ativo circulante, correspondem $90,00 de passivo circulante. 4) Em um determinado exercício social, a empresa de louças e vidros apresentou os seguintes dados e informações, referentes a esse mesmo exercício social: Índice de liquidez corrente 1,25 Índice de liquidez seca 1,00 Realizável a longo prazo $ 1.900.000,00 Mercadorias $ 414.000,00 Passivo exigível a longo prazo $ 2.125.000,00 Analisando os dados e as informações disponibilizados pela empresa, conclui-se que seu índice de liquidez geral, no mesmo exercício, é: a) 0,8941 b) 0,9701 c) 1,0308 d) 1,0500 e) 1,1184 5) A Cia Comercial S/A, ao final de um determinado período, apresentou as seguintes informações em reais: Dividendos a distribuir 250.000 Duplicatas a pagar 1.755.000 Duplicatas a receber 3.795.800 Duplicatas descontadas 1.200.000 Empréstimos a diretores da empresa 500.000 Provisão para créditos de difícil liquidação 205.500 Considerando exclusivamente as informações parciais apresentadas pela Cia Comercial S/A, as determinações legais e as técnicas e padronizações das demonstrações, o índice de liquidez corrente desta empresa é igual a: a) 1,1130 b) 1,1202 c) 1,2502 d) 1,2762 e) 1,4415 6) A companhia da qual você é contador apresentou-lhe as seguintes informações, em milhares de reais: Capital circulante líquido 3.080 Ativo total à disposição da empresa 12.000 Capital próprio 7.000 Passivo exigível a longo prazo 1.280 Índice de liquidez geral 1,6 a) Elabore o balanço patrimonial da companhia 26 b) Calcule os indicadores a seguir, explicando o que cada um representa e a situação da empresa em relação a eles: Capital circulante próprio Liquidez corrente Participação do capital de terceiros Composição do endividamento 7) Considerando: a) que uma empresa vendeu $120.000 em um período e obteve um lucro de $11.000; b) que ela tem um giro do ativo de 1,25; c) que a participação do capital próprio no ativo total é igual a 60%; d) que o restante do passivo está dividido em 70% de circulante e 30% de exigível a longo prazo; e) que essa empresa tem um índice de liquidez corrente de 1,5 e não tem realizável a longo prazo. Pede-se: a) determine o valor de seu ativo permanente; b) calcule, analise e interprete a imobilização do capital próprio. 8) Considerando os seguintes dados de uma empresa: a) um ativo total de $320.000 b) um giro do ativo de 0,80; c) custos e despesas totais do período de $247.000; d) um ativo permanente de 72% do ativo total; e) um exigível a longo prazo de $10.000 (não tem realizável a longo prazo); f) um capital próprio representando 65% do ativo. Pede-se: a) calcule o índice de liquidez corrente; b) calcule, analise e interprete a composição do endividamento. UN. 6 – MOEDA A moeda como intermediária nas trocas e meios de pagamento surgiu com o depósito de bens para atender as necessidades das sociedades primitivas, como eram os casos dos animais (bois, cavalos, porcos, etc.), dos vegetais (tabaco, arroz, etc.) e minerais (sal, conchas, etc.). O elemento comum desses bens era sua capacidade, em determinados momentos e lugares, de representar uma aceitação geral como meio de troca e pagamento. (PINHEIRO, 2001, p. 22). No alvorecer dos tempos, os primeiros agrupamentos humanos, em geral nômades, viviam sob padrões bastante simples de atividade econômica. Quando esses grupos recorriam à atividade de troca, realizavam trocas diretas em espécie, denominadas escambo. Para permitir o desenvolvimento de trocas, cada vez mais importante para o progresso econômico e social, o escambo foi dando lugar, gradativamente, a processos indiretos de pagamento. A generalizada aceitação de determinados produtos, recebidos em pagamento das transações econômicas que dia a dia se tornaram mais 27 intensas, configuraram a origem da moeda. Eleitos como moeda, esses produtos eram aceitos sem grandes restrições, porque todos os aceitavam. A troca já não é mais direta. A origem e a evolução da moeda podem ser divididas em cinco fases: Era da troca de mercadorias; Era da mercadoria moeda; Era da mercadoria metálica; Era da moeda-papel; Era da moeda escritural. 6.1 – MOEDAS MODERNAS Conceitos de moeda A moeda é um meio de pagamento legalmente utilizado para realizar transações com bens e serviços. É um instrumento previsto em lei e, por isso, apresenta curso legal forçado (sua aceitação é obrigatória) e poder liberatório (libera o devedor do compromisso). O uso da moeda viabiliza o funcionamento de toda a economia, indicando os bens e serviços a serem produzidos de maneira a satisfazer aos desejos de demanda dos vários agentes. (ASSAF NETO, 2003, p. 15). Segundo Pinheiro (2001, p. 17), a moeda pode ser conceituada como um conjunto de ativos financeiros de uma economia que os agentes utilizam em suas transações. Ela é um bem com características específicas e diferenciadas em relação aos demais bens da economia, visto que ela não produz nada, não é um bem de investimento e nem de consumo. O grande número de moedas metálicas e a utilização de metais como o ouro geravam dificuldades de utilização aos comerciantes, que necessitavam pesar essas peças e verificar o teor do metal utilizado, em operações bastante demoradas. Para facilitar as negociações, os ourives passaram a depositar o dinheiro em bancos; recebendo certificados de depósitos, com a promessa de devolução ao portador da quantia entregue. Esse bilhete, conversível a vista, deu início ao aparecimento da moeda de papel. A tendência global para a moeda é que se torne um produto virtual e eletrônico, substituindo a atual moeda física. Outra tendência é a unificação da moeda com a criação de blocos econômicos, como é o caso da União Européia. Lastro da moeda A circulação da moeda no passado era garantida por seu lastro em ouro. Todamoeda era emitida somente se tivesse seu equivalente em ouro como reserva, permitindo sua plena conversibilidade. Esse sistema de cambio fixo, denominado padrão-ouro, vigorou de 1816 a 1933. Nesse sistema os países-membros fixavam uma certa quantidade de ouro pela qual sua moeda podia ser livremente convertida por meio de seus bancos centrais. De 1944 a 1973 passou a vigorar um padrão monetário internacional puro, isto é, o padrão dólar e as taxas de conversão seriam fixas, mas ajustáveis em função de necessidades. Esse sistema funcionou bem até que o Acordo Smithsoniano, firmado entre os países do Grupo dos Dez, dificultou a estabilização das taxas de 28 cambio e, já no início de 1973, verificou-se uma nova onda de especulação contra o dólar dos EUA marcando o fim do sistema de taxas de cambio fixas. Atualmente, podemos dizer que o lastro da moeda é resultante de um conjunto de macro-variáveis como, por exemplo, as reservas cambiais que determinam o real poder aquisitivo de uma moeda. 6.2 – TIPOS DE MOEDAS A moeda (ou papel-moeda) é emitida mediante autorização legal das autoridades monetárias e de acordo com as necessidades identificadas em cada período na atividade econômica. No entanto, nem toda moeda emitida se encontra em circulação, podendo uma parte permanecer retida no Banco Central aguardando liberação futura. O montante da moeda emitida numa economia menos o saldo retido no caixa das autoridades monetárias é definido por moeda em circulação ou meio circulante. Para se compreender o conceito de moeda é importante também a compreensão de alguns conceitos de meio de pagamento. Tipos de moeda Papel moeda Notas/cédulas Moeda subsidiária Utilizada apenas para pequenos pagamentos Moeda escritural Depósitos bancários/empréstimos* Moeda manual É o papel moeda e as moedas metálicas – subsidiárias – em poder do público Quase-moeda Títulos de grande liquidez – NTN, BBC, CDB, Letras, etc. * a emissão de papel moeda gera moeda escritural bem maior do seu valor inicial O primeiro conceito de moeda, com o qual trabalharemos, é composto por dois elementos: moeda manual (moedas metálicas e notas em poder do público) e moeda escritural (depósitos à vista em instituições financeiras). Eles constituem o conceito de M1, ou seja, a primeira definição de moeda. M1 = Moeda manual (moedas metálicas e notas em poder do público) + Moeda escritural (depósitos à vista em instituições financeiras) Dos dois componentes desse conceito, os depósitos a vista correspondem a maior parte dos meios de pagamento, portanto, para se controlar a moeda tona-se necessário um controle estrito dos bancos e sua capacidade de multiplicar moeda por meio de instrumentos de política monetária como o open market, o compulsório e o redesconto. A capacidade de multiplicar moeda dos bancos resulta da possibilidade de manutenção de valores inferiores em espécie do total dos depósitos à vista recebidos de clientes. Isto ocorre em função da não-utilização total dos recursos de forma simultânea por parte dos clientes e do resultado do fluxo de entrada e saída desses mesmos recursos. Ou seja, de cada R$ 100,00 recebidos como depósito à vista, os bancos só necessitam deixar disponível sob a forma de encaixe (moeda em espécie) de três a cinco por cento, o restante ele poderia utilizar para realizar empréstimos para seus clientes e com isso multiplicar a capacidade de pagamento dos mesmos depósitos iniciais. 29 O segundo conceito de moeda inclui, além dos elementos que compõem m M1, os títulos federais, estaduais e municipais em poder do público, excluindo-se os títulos que compõem as carteiras de títulos dos Fundos de Aplicações Financeiras (FAF). M2 = M1 + Títulos públicos O terceiro conceito de moeda inclui, além dos elementos que compõem o M2, os depósitos de poupança mantidos pelo público em instituições financeiras. M3 = M2 + Depósitos de poupança O quarto conceito de moeda inclui, além dos elementos que compõem o M3, os depósitos a prazo, letras de câmbio e letras hipotecarias, excluindo-se os títulos pertencentes às carteiras de títulos dos Fundos de Aplicações Financeiras (FAF). M4 = M3 + Depósitos a prazo + Letras de câmbio + Letras hipotecárias Os cartões de crédito, atualmente, constituem também um importante meio de pagamento. Mesmo não sendo utilizados, eles representam um potencial de gasto em função do limite que cada um possui. Em razão disso, Córdoba (1996, p. 239) sugere a utilização de um novo conceito, o M5 que seria calculado em função da capacidade aquisitiva dos cartões de crédito. M5 = M4 + Capacidade aquisitiva dos cartões de crédito CONCEITOS IMPORTANTES: 1. Encaixe Bancário = As entidades financeiras quando recebem um depósito têm que deixar uma porcentagem em caixa para atender retiradas de efetivos. Esta porcentagem é precisamente o “encaixe bancário” ou “coeficiente de reservas (R)”. 2. Base Monetária = Papel moeda em poder do público + Encaixes Bancários. 3. Meios de pagamentos (Restrito) = Recursos prontamente disponíveis para pagamento de bens e serviços. Papel moeda em poder do público + depósitos à vista (M1). 6.3 – CARACTERÍSTICAS A moeda é vista como um bem de uso comum em todo tipo de transação que permite a participação de operação de troca, na qual se realiza compra ou venda simultânea de mercadorias, em operações separadas de intercâmbio, trazendo vários benefícios, entre eles: aumento do grau de especialização; redução no tempo gasto nas trocas; e eliminação da necessidade de dupla coincidência de desejos. 30 Uma mercadoria para assumir o papel de moeda deve possuir as seguintes características: Indestrutibilidade: a moeda deve ser durável no sentido de que não se destrua ou deteriore no seu uso e manuseio; Inalterabilidade: segundo esse princípio, a moeda é preservada de eventuais processos de falsificação, por meio de mecanismos que a protegem de alterações; Homogeneidade: quando comparadas, duas unidades monetárias distintas devem possuir valores idênticos e ser rigorosamente iguais; Divisibilidade: a moeda deve possuir múltiplos e submúltiplos para que seja assegurada a realização de transações de valores grandes e pequenos sem dificuldades; Transferibilidade: a moeda deve possibilitar a transferência da posse e propriedade de um detentor para outro, com grande rapidez e agilidade; Facilidade de manuseio: o manuseio e o transporte da moeda não devem representar dificuldades para os agentes que a utilizam. 6.4 – PRINCIPAIS FUNÇÕES A moeda é o instrumento básico para a intermediação financeira. Define-se intermediação financeira como uma atividade que tem a finalidade de viabilizar o atendimento das necessidades financeiras de curto, médio e longo prazos, manifestadas pelos agentes econômicos carentes de recursos, aplicando ao mesmo tempo o excedente monetário de agentes superavitários, com mínimo de riscos. Qualquer economia que tenha superado o estágio primitivo de troca direta, conta com bases institucionais para a operacionalidade do mercado financeiro, e tenha agente econômico deficitário e superavitário disposto a transacionar nesse mercado, fatalmente terá desenvolvido condições para o estabelecimento da intermediação financeira. Na economia, a moeda cumpre quatro importantes funções: Meio de pagamento: capacidade de diminuir dívidas em última instância, ou seja, é um ativo financeiro de liquidezimediata; Estoque de valor: com a adoção da moeda, os indivíduos adquiriram a capacidade de acumulação de riquezas, bem como uma aliada na proteção contra a perda do poder de compra para o futuro; Unidade-padrao de conta: uma unidade de conta é um instrumento que as pessoas utilizam para divulgar preços e registrar débitos. A moeda cumpre esse papel uma vez que todos os bens e serviços de uma economia têm seus preços expressos em unidades monetárias; Intermediária de trocas entre os agentes: como é um meio ou instrumento de troca geralmente aceito pelos agentes na concretização de suas transações, a moeda desempenha sua mais importante função na economia que é a de intermediária de troca entre os agentes econômicos. MULTIPLICADOR MONETÁRIO O Multiplicador Monetário é um termo que designa a variação na oferta de moeda originada pela variação em uma unidade na Base Monetária. O Multiplicador Monetário representa assim o poder que os bancos comerciais têm para criar moeda através da sua atividade de depositário e de concessão de empréstimos. 31 O valor do Multiplicador Monetário depende essencialmente de duas variáveis: a propensão marginal à retenção de moeda e a taxa de reservas bancárias. Dado que além de controlar a Base Monetária, o Banco Central controla também a taxa de reservas bancárias, este consegue ter um controlo praticamente total sobre a oferta de moeda. O multiplicador monetário, m, é o inverso do requerimento de reserva R: Exemplo: Para o exemplo, com uma taxa de reserva de 20%, ou R, pode também ser expressa em uma fração: Então o multiplicador monetário, m, pode ser expresso como: Este número multiplicado pelo depósito inicial mostra a quantidade máxima em que o dinheiro pode ser expandido Outra Maneira de Calcular o Multiplicador Monetário O multiplicador da base monetária mostra qual a variação dos meios de pagamento (quantidade de moeda, corrente e escritural, na economia) quando o Bacen emite uma unidade monetária. Fórmula: m = 1 . 1 – d ( 1 - r ) r = o encaixe total dos bancos comerciais/depósitos à vista nos bancos comerciais. d = depósitos à vista nos bancos comerciais/M (meios de pagamento da economia). EXERCÍCIOS: 1) Qual a importância da moeda para a atividade econômica e para a população atualmente? 2) Qual a relação da moeda com os fatores de produção e a remuneração? 3) Como funcionava o padrão que lastreava as moedas até 1933? E como é o lastro hoje? 4) Como a moeda escritural pode auxiliar na fiscalização de impostos no Brasil ? 5) Quais são as funções da moeda? 6) Defina M1, M2, M3, M4 e M5. 7) Como o Efeito Multiplicador da moeda favorece o consumo no Brasil? 32 8) Assinale a alternativa incorreta. a) Os meios de pagamento correspondem ao papel-moeda. b) O M1 é formado por papel-moeda em poder do público + depósitos à vista nos bancos. c) O M2 corresponde ao M1 + títulos governamentais em poder do público (fundos de curto prazo). d) O M3 corresponde ao M2 + depósito de caderneta de poupança. e) O M4 corresponde ao M3 + CDB e demais títulos privados. 9) O regime de câmbio flutuante puro é aquele no qual o Banco Central: a) Vende moeda estrangeira quando sua cotação esta aumentando; b) Compra moeda estrangeira quando sua cotação está diminuindo; c) Estabelece um intervalo de valores no qual permite a flutuação cambial; d) Não intervém no mercado cambial. 10) O regime de câmbio fixo puro é aquele no qual o Banco Central: a) Vende moeda estrangeira quando sua cotação está aumentando e compra moeda estrangeira quando a sua cotação está diminuindo; b) Compra moeda estrangeira quando sua cotação está aumentando e vende moeda estrangeira quando sua cotação está diminuindo; c) Estabelece um intervalo de valores no qual permite a flutuação cambial; d) Não intervém no mercado cambial. 11) Sabe-se que a relação entre a base monetária e os meios de pagamento é dada pelo multiplicador monetário. Ainda que esse multiplicador seja relativamente estável no curto prazo, o Banco Central tem mecanismos que o afetam. Para reduzir o multiplicador, o Banco Central deve tomar qual atitude? a) Venda de títulos no mercado aberto. b) Compra de títulos no mercado aberto. c) Redução de taxa de redesconto. d) Redução do depósito compulsório dos bancos comerciais no Banco Central. e) Aumento do depósito compulsório dos bancos comerciais no Banco Central. 12) O Banco do Estado S/A trabalha atualmente com um percentual de 15% de encaixe total, ou seja, total de reservas à disposição dos clientes em relação ao total de depósitos à vista. Diante disso, calcule qual é o multiplicador monetário (capacidade de criar moeda) dessa instituição financeira. 13) Considere os seguintes dados do Banco do Sudeste S/A: - Reservas à disposição dos clientes para saque: $25.000.000 - Multiplicador monetário deste banco: 6 vezes Calcule qual é o total de “Depósitos à Vista” deste banco. 14) (AFRF-ESAF) Considere c = papel-moeda em poder do público/M; d = depósitos a vista nos bancos comerciais/M, R = encaixe total dos bancos comerciais/depósitos a vista nos bancos comerciais. Sabendo que d = 0,3 e que R = 0,25, o valor do multiplicador da base monetária em relação aos meios de pagamentos será de, aproximadamente, a) 1,2903. b) 1,9600. c) 1,5436. d) 1,1100. e) 1,2500. 33 15) (ESAF/Especialista em Políticas Públicas/2009) – Considere os seguintes coeficientes de comportamento monetário: M1 = meios de pagamentos c = (papel-moeda em poder do público/M1) d = (depósitos à vista nos bancos comerciais/M1) R = (encaixes totais dos bancos comerciais/depósitos à vista nos bancos comerciais) Considerando que c = d/3 e R = 0,3, o valor do multiplicador da base monetária será de, aproximadamente, a) 2,105 b) 3,103 c) 1,290 d) 1,600 e) 2,990 UN. 7 – POLÍTICAS ECONÔMICAS A gestão da economia visa atender às necessidades de bens e serviços da sociedade e atingir determinados objetivos sociais e macroeconômicos, como pleno emprego, distribuição de riqueza, estabilidade de preços e crescimento econômico. Para tanto, o governo atua na economia por meio de políticas econômicas, identificadas pela política monetária, política fiscal, política cambial e política de rendas. (ASSAF NETO, 2003, p. 45). Fortuna (2005, p. 47) acrescenta que os objetivos fundamentais destas quatro políticas se identificam com a política econômica global do governo, que consiste, entre outros, equilibrar o volume financeiro das transações econômicas com o exterior e o controle da inflação. Os instrumentos das políticas econômicas são mais eficientes quando aplicados em mercados financeiros mais desenvolvidos. Em mercados menos evoluídos, com alta concentração de riqueza, o governo costuma promover maior intervenção no mercado, por meio, principalmente, da fixação das taxas de juros, controle direto do crédito e subsídios ao setor produtivo. 7.1 - POLÍTICA MONETÁRIA A política monetária enfatiza sua atuação sobre os meios de pagamento, títulos públicos e taxas de juros, modificando o custo e o nível de oferta do crédito. A política monetária é geralmente executada pelo Banco Central de cada país, o qual possui poderes e competência próprios para controlar a quantidade de moeda na economia. O Banco Central administra a política monetária por intermédio dos seguintes instrumentos
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