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ALBERTI, Verena. Fontes Orais. História dentro da História. In: PINSKY, Carla Bassanezi, (org.). Fontes Orais. São Paulo: Contexto, 2005, p. 155-202. 
A História oral é uma metodologia de pesquisa e de constituição de fontes para o estudo da história contemporânea surgida em meados do século XX, após a invenção do gravador a fita. (p.155)
O trabalho com a História oral se beneficia de ferramentas teóricas de diferentes disciplinas das Ciências Humanas, como a Antropologia, a História, a Literatura, a Sociologia e a Psicologia, por exemplo. Trata-se, pois, de metodologia interdisciplinar por excelência. (p.156) 
A estratégia de ouvir atores ou testemunhas de determinados acontecimentos ou conjunturas para melhor compreendê-los não é novidade. Heródoto, Tucídides e Polínio, historiadores da Antiguidade, já utilizaram esse procedimento para escrever sobre acontecimentos de sua época. (p.156) 
Costuma-se considerar 1948 o marco do início da História oral “moderna". Nesse ano, quando foi inventado o gravador a fita, formou-se o Columbia University Oral History Research Office, programa de História oral da Universidade de Columbia fundado por Allan Nevins e Louis Starr em Nova York. (p.156)
Na década de 1960, paralelamente ao aperfeiçoamento do gravador portátil, tornaram-se frequentes também as “entrevistas de história de vida” com membros de grupos sociais que, em geral, não deixavam registros escritos de suas experiências e formas de ver o mundo. (p.157) 
Foi a fase conhecida como da História oral “militante”, praticada por pesquisadores que identificavam na nova metodologia uma solução para “dar voz “ às minorias e possibilitar a existência de uma História "vinda de baixo". (Pág.157) 
Michel Trebitsch, pesquisador do Institut d’Histoire du Temps Présent, observa que, em razão dessa linha desenvolvida a partir do decénio de 1960, durante muito tempo a identidade da História oral se baseou em um sistema maniqueísta de antinomias. Opondo-se à História positivista do século XIX, a História oral tornou -se a contra-História, a História do local e do comunitário (em oposição à chamada História da nação). (p.157)
Outro equívoco decorrente da História oral "militante" diz respeito aos usos da noção de História "democrática", ou História "vista debaixo". Será que o pesquisador que entrevista membros da elite-isto é, que investiga visões de mundo e experiências de vida de personagens da História "de cima" – escreve necessariamente uma História "não democrática"? Certamente que não. (p.158)
Deduz-se, pois, que a ideia de "dar voz" às minorias, tão cara aos pesquisadores "militantes", acaba reforçando as diferenças sociais: é o pesquisador que concede aos "de baixo" a possibilidade de se expressarem, pois eles são incapazes de fazê-lo por si sós! (p.159)
Em meados da década de 1970, precisamente em 1975, a História oral chegou ao Brasil. (p.160)
No plano internacional, o decénio de 1990 também representou um avanço para a História oral. A criação da International Oral History Association (IOHA), em 1996, constituiu um marco importante. (p.162) 
Durante muito tempo, desde a perspectiva positivista predominante no século XIX. A História preconizou o escrito em detrimento do oral (este, identificado com o anedótico, com as sociedades sem escrita e, portanto, "sem História"), e o passado remoto em detrimento de temas contemporâneos, em relação aos quais o historiador não seria suficientemente imparcial. (p.163)
A História oral é hoje um caminho interessante para se conhecer e registrar múltiplas possibilidades que se manifestam e dão sentido a formas de vida e escolhas de diferentes grupos sociais, em todas as camadas da sociedade. (p.164)
Uma pesquisa que emprega a metodologia da História oral é muito dispendiosa. Preparar uma entrevista, contatar o entrevistado, gravar o depoimento, transcrevê-lo, revisá-lo e analisá-lo leva tempo e requer recursos financeiros. (p.165)
Uma das principais riquezas da História oral está em permitir o estudo das formas como pessoas ou grupos efetuaram e elaboraram experiências, incluindo situações de aprendizado e decisões estratégicas. (p.165)
Ao mesmo tempo, o trabalho com a História oral pode mostrar como a constituição da memória é objeto de contínua negociação. A memória é essencial a um grupo porque está atrelada à construção de sua identidade. (p.167)
Durante muito tempo, a memória foi tratada, mais uma vez, de forma polarizada. Falava-se da oposição entre "memória oficial" e "memória subordinada" ou "dominada". (p.167)
Observe-se que estudar a constituição de memórias não é o mesmo que construir memórias. Muitos dos que trabalham com História oral acham-se imbuídos da missão de promover a construção de memórias. (p.168)
As possibilidades de pesquisa abertas pelo uso da História oral são, sem dúvida, bastante profícuas e atraentes. Mas entre gravar as entrevistas e delas tirar conclusões consistentes para os campos de investigação escolhidos vai uma grande distância. Não é fácil trabalhar com a chamada fonte oral. (p.168)
Ora, do mesmo modo que uma autobiografia, podemos dizer que uma entrevista de História oral é, ao mesmo tempo, um relato de ações passadas e um resíduo de ações desencadeadas na própria entrevista. (p.169)
E o que a entrevista documenta como resíduo de ação? Em primeiro lugar, ela é resídua de uma ação interativa: a comunicação entre entrevistado e entrevistador. (p.169)
A entrevista de História oral deve ser compreendida também como documento de cunho biográfico, do mesmo género de memórias, autobiografias, diários e outros documentos pessoais. (p.169)
Reconhecer os paradigmas que estão na base da História oral não implica renunciar a sua capacidade de ampliar o conhecimento sobre o passado. Ao contrário, saber em que lugar nos situou ao trabalhar com determinada metodologia ajuda a melhor aproveitar seu potencial. (p.170)
Outra especificidade da entrevista de História oral é o fato de um de seus principais alicerces ser a narrativa. (p.170)
O trabalho de produção de fontes orais pode ser dividido em três momentos: a preparação das entrevistas, sua realização e seu tratamento. A preparação das entrevistas inclui o projeto de pesquisa e a elaboração dos roteiros das entrevistas. (p.171)
O trabalho com a História oral tem um alto grau de imponderabilidade. Nem todas as entrevistas "rendem" o que se poderia esperar, do mesmo modo que nem todos os documentos de um arquivo textual são suficientemente "prolixos" em relação ao passado. (p.172)
A preparação de entrevistas de História oral inclui, pois, uma pesquisa exaustiva sobre o tema e sobre a vida dos entrevistados, a sistematização dos dados levantados e a definição clara dos problemas que se está buscando responder com a pesquisa. (p.177)
A entrevista de História oral é, antes de mais nada, uma relação entre pessoas diferentes, com experiências diferentes e muitas vezes de gerações diferentes. (p.178)
Essa é uma das diferenças entre a entrevista de História oral e a entrevista jornalística, cuja duração em geral é limitada pelo espaço disponível nos meios de comunicação. (p.178)
Conduzir uma entrevista não é tarefa fácil. É preciso estar permanentemente atento ao que diz o entrevistado, às indicações do roteiro, às oportunidades de formular perguntas e ao funcionamento do gravador ou da câmera. (p.179)
O tratamento das entrevistas gravadas em uma pesquisa de História oral depende do que foi definido no projeto inicial com relação ao destino do material produzido. (p.180)
Para realizar uma pesquisa ou produzir um acervo de História oral é preciso, evidentemente, contar com um equipamento de gravação e reprodução de áudio e/ou vídeo, cuja sofisticação dependerá, como sempre, dos objetivos do trabalho. (p.181-182)
Como toda fonte histórica, a entrevista de História oral deve ser vista como um "documento-monumento", conforme definido pelo historiador francês Jacques Le Goff. Durante muito tempo pensou-se em "documento" como resíduo imparcial e objetivo do passado, ao qualmuitas vezes se atribuía valor de prova. (p.183)
Se concordarmos com Le Goff que o "dever principal" do historiador é "a crítica do documento - qualquer que ele seja - como monumento",43 o pesquisador que trabalha com entrevistas de história oral como fontes deve ser capaz de "desmontá-las", analisar as condições de sua produção, para utilizá-las com pleno conhecimento de causa. Mas atenção: quando Le Goff afirma que todo documento é mentira, isso não significa que uma entrevista de História oral, ou um relatório de gestão, ou um decreto governamental são ficção. (p.184) 
A análise de um depoimento de História oral - realizada seja pelo próprio pesquisador, seja por terceiros - deve considerar a fonte como um todo. (p.185)
Há momentos nas entrevistas de História oral - não em todas - em que se pode perceber que a narrativa de determinados acontecimentos e situações cristaliza realidades que são condensadas e carregadas de sentido. (p.186)
Na análise de entrevistas de História oral deve-se ter em mente também outras fontes - primárias e secundárias; orais, textuais, iconográficas etc. - sobre o assunto estudado. Muitas delas já são do conhecimento do pesquisador, que a elas recorreu quando da pesquisa exaustiva anterior à realização das entrevistas. (p.187)
É preciso ter bem claro por que, como e para que se fará uma pesquisa utilizando história oral, e não adotar posturas ingénuas, como se imbuir da missão de "dar voz aos vencidos", ou esquecer que toda entrevista é "documento-monumento". (p.189)

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