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FERRAMENTAS DA QUALIDADE PARA SEGURANÇA DOS ALIMENTOS 2 ÁREA TECNOLÓGICA: Alimentos Identificação do MDI: Ferramentas da Qualidade para Segurança dos Alimentos 3 VISÃO “Consolidar-se como o líder estadual em educação profissional e tecnológica e ser reconhecido como indutor da inovação e da transferência de tecnologias para a indústria brasileira, atuando com padrão internacional de excelência”. MISSÃO Promover a educação profissional e tecnológica, a inovação e a transferência de tecnologias industriais, contribuindo para elevar a competitividade da indústria brasileira. VALORES Transparência Iniciativa Satisfação ao Cliente Ética Alta Performance Valorização das Pessoas POLÍTICA DA QUALIDADE Satisfazer as necessidades dos clientes com produtos competitivos reconhecidos pelo mercado. Intensificar ações de aperfeiçoamento e valorização de competências dos empregados. Assegurar o aprimoramento contínuo dos processos e serviços com padrões de qualidade, para o alcance de resultados. Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial 4 FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS NO ESTADO DE MATO GROSSO – FIEMT Jandir José Milan Presidente CONSELHO REGIONAL Jandir José Milan Presidente SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL Lélia Rocha Abadio Brun Diretora Regional do Departamento Regional de Mato Grosso Rubens de Oliveira Gerente de Educação e Tecnologia – GETEC Silvânia Maria de Holanda Coordenadora da Unidade de Desenvolvimento em Educação Inicial e Continuada - UEDE Eveline Pasqualin Souza Coordenadora da Unidade de Desenvolvimento em Educação Técnica e Tecnológica - UNETEC 5 © 2014 – SENAI/MT – Departamento Regional. É proibida a reprodução total ou parcial deste material por qualquer meio ou sistema sem o prévio consentimento do editor. EQUIPE TÉCNICA DE ORGANIZAÇÃO Valdanes Paludo Especialista Técnico SENAI Rondonópolis SENAI - MT Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Av. Historiador Rubens de Mendonça, 4.301 Bairro Bosque da Saúde - CEP 78055-500 – Cuiabá/MT Tel.: (65) 3611-1500 - Fax: (65) 3611-1557 www.senaimt.com.br S474r SENAI/MT Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Material Didático da Área de Alimentos. Departamento Regional. Cuiabá - MT, 2014. 1. Segurança de Alimentar. 2. Procedimentos Operacionais Padronizados. 3. Práticas da Boa Alimentação. 4. Sistemas APPCC. 5. Controle da Qualidade de Origem Vegetal e Animal. CDU 6 APRESENTAÇÃO Caro(a) Estudante, É com prazer que apresentamos este material didático que foi desenvolvido para facilitar seu aprendizado nos cursos de Educação Profissional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI de Mato Grosso. Este material tem o objetivo de atender as demandas industriais e satisfazer as necessidades de pessoas que buscam atualização e conhecimentos através de cursos profissionalizantes. Os conteúdos formativos deste material foram concebidos para atender as Áreas Tecnológicas de atuação do SENAI, alinhados aos Perfis Profissionais Nacionais elaborados por Comitês Técnicos Setoriais do SENAI Departamento Nacional e com a Classificação Brasileira de Ocupações – CBO. Esperamos que este material didático desperte sua criatividade, estimule seu gosto pela pesquisa, aumente suas habilidades e fortaleça suas atitudes, requisitos fundamentais para alcançar os resultados pretendidos em um determinado contexto profissional. 7 INFORMAÇÕES GERAIS - Objetivo do Material Didático: Visa proporcionar o desenvolvimento de capacidades referente à ferramentas da qualidade para a segurança dos alimentos, bem como, capacidades sociais, organizativas e metodológicas, de acordo com a atuação do profissional no mundo do trabalho. - Área Tecnológica: Alimentos e Bebidas - Eixo Tecnológico: Produção Alimentícia 8 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Ambiente organizacional de trabalho ........................................................................ 15 FIGURA 2 - representação da ferramenta da qualidade ............................................................. 18 FIGURA 3 - Boas práticas de fabricação ........................................................................................ 21 FIGURA 4 - Procedimento de higiene e saúde ............................................................................. 23 FIGURA 5 - Processamento de alimentos ..................................................................................... 27 FIGURA 6 - Coletores de resíduos reciclados ............................................................................... 29 FIGURA 7 - Procedimento operacional padronizado de higienização da caixa de água ....... 34 FIGURA 8 - Exemplo de árvore decisória ...................................................................................... 46 FIGURA 9 - Fluxograma de produção de charque ....................................................................... 56 9 SUMÁRIO CAPITULO I ........................................................................................................................................ 11 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 11 CAPITULO II ....................................................................................................................................... 12 2. A SEGURANÇA ALIMENTAR .............................................................................................. 12 2.1 Sistema 5S ................................................................................................................................ 13 2.1.1 Insistir em aprender e aplicar os 5S’s ........................................................................... 15 2.1.2 Kaizen ................................................................................................................................. 16 2.2 Boas Práticas de Fabricação – BPF ..................................................................................... 18 2.2.1 Abastecimento de água ................................................................................................... 21 2.2.2 Higiene pessoal ................................................................................................................ 22 2.2.3 Edifícios e instalações ..................................................................................................... 23 2.2.4 Produção e Operação ...................................................................................................... 24 2.2.5 Equipamentos e Utensílios ............................................................................................. 24 2.2.6 Limpeza e Sanitização ..................................................................................................... 25 2.2.6.1 Armazenamento dos produtos químicos ............................................................... 25 2.2.7 Armazenamento e Distribuição ......................................................................................25 2.2.8 Controle de Pragas e Vetores ........................................................................................ 26 2.2.9 Garantia da Qualidade ..................................................................................................... 26 2.2.10 Treinamentos .................................................................................................................. 27 2.2.11 Vestiários e sanitários .................................................................................................... 27 2.2.12 Refeitório ......................................................................................................................... 28 2.2.13 Área externa .................................................................................................................... 28 2.2.14 Coleta seletiva ................................................................................................................ 29 2.3 Procedimentos Operacionais Padronizados - POPs ......................................................... 30 2.3.1 Controlar os procedimentos ............................................................................................ 31 2.3.2 Como e quem deve fazer um POP ................................................................................ 31 2.3.3 A finalidade do POP ......................................................................................................... 33 2.3.4 Conteúdo mínimo de um POP ........................................................................................ 33 2.3.5 Importância e resultados do POP .................................................................................. 35 2.4 Sistema APPCC; ...................................................................................................................... 35 2.4.1 Breve histórico .................................................................................................................. 38 10 2.4.2 Definições associadas ao sistema APPCC .................................................................. 39 2.4.3 Pré-requisitos .................................................................................................................... 41 2.4.4 Os sete princípios do sistema APPCC .......................................................................... 42 2.4.4.1 Princípio 1: identificação e avaliação dos perigos – medidas preventivas ...... 42 2.4.4.2 Princípio 2: identificação dos pontos críticos de controle (PCC) ....................... 45 2.4.4.3 Princípio 3: estabelecimento dos limites críticos .................................................. 46 2.4.4.4 Princípio 4: estabelecimento dos procedimentos de monitoração .................... 47 2.4.4.5 Princípio 5: estabelecimento das ações corretivas .............................................. 48 2.4.4.6 Princípio 6: estabelecimento dos procedimentos de verificação ....................... 48 2.4.4.7 Princípio 7: estabelecimento dos procedimentos de registros ........................... 49 2.4.4.8 Composição do plano APPCC ................................................................................ 50 2.4.5 Implementação do Plano APPCC .................................................................................. 51 2.4.5.1 Comprometimento ..................................................................................................... 51 2.4.5.2 Liderança .................................................................................................................... 51 2.4.5.3 Formação da equipe multidisciplinar ...................................................................... 51 2.4.5.4 Treinamento de pessoal ........................................................................................... 52 2.4.5.5 Elaboração do Plano APPCC .................................................................................. 52 2.4.5.6 Dados de identificação da empresa ....................................................................... 53 2.4.5.7 Dados do produto ...................................................................................................... 53 2.4.5.8 Avaliação de pré-requisitos ..................................................................................... 54 2.4.5.9 Programa de capacitação técnica .......................................................................... 54 2.4.6 Análise de perigos e medidas preventivas (Princípio 1) ............................................ 54 2.4.6.1 Identificação dos Pontos Críticos de Controle (Princípio 2) ............................... 56 2.4.6.2 Estabelecimento dos limites críticos (Princípio 3) ................................................ 57 2.4.6.3 Estabelecimento dos procedimentos de monitoração (Princípio 4, ) ................ 57 2.4.6.4 Estabelecimento das ações corretivas (Princípio 5) ............................................ 58 2.4.6.5 Estabelecimento dos procedimentos de verificação (Princípio 6) ..................... 59 2.4.6.7 Estabelecimento dos procedimentos de registro (Princípio 7) ........................... 59 2.5 Controle de qualidade de alimentos de origem vegetal e animal; ................................... 60 2.6 Avaliação de qualidade higiênica e sanitária em locais de produção de alimentos ...... 61 CAPITULO III ...................................................................................................................................... 62 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 62 REFERENCIA ..................................................................................................................................... 63 11 CAPITULO I 1. INTRODUÇÃO As ferramentas da qualidade podem fornecer subsídios para com a garantia da qualidade do produto acabado, visando facilitar os meios de ações a serem adotadas. Com objetivo de alcançar a segurança alimentar de toda a produção, torna-se indispnsável os procedimentos de monitoramento para assim verificar qualquer desvio no processo de produção, e agir imediatamente, podendo eliminar as causas de não conformidades. Para tornar um alimento seguro é necessário seguir a um conjunto de normas de produção, transporte e armazenamento de alimentos visando determinadas características físico-químicas, microbiológicas e sensoriais padronizadas, segundo as quais os alimentos seriam adequados ao consumo. Estas regras são, até certo ponto, internacionalizadas, de modo que as relações entre os povos possam atender as necessidades comerciais e sanitárias. Alegando esta razão alguns países adotam "barreiras sanitárias" a matérias-primas agropecuárias e produtos alimentícios importados. Um conceito importante na garantia de um alimento saudável é o dos "perigos", que podem ser de origem biológica, química ou física. Os alimentos possuem uma composição bastante complexa, ou seja, possuem um número muito grande de componentes. Estes componentes são em sua maior parte água, proteínas, lipídios e carboidratos, além de outros importantes como sais minerais, vitaminas e ácidos nucléicos. Tal como o corpo humano, que consegue aproveitar significativa parte destes compostos, uma grande variedade de espécie de microrganismos também estão habilitados a fazê-lo. Isto faz com que os alimentos sejam locais ideais para a proliferação destes microrganismos. A crescente busca por alimentos seguros no mercado atual forçou indústrias a obter formas de controle mais apurados para fabricação dos produtos, tornando-os livres de qualquer tipo de contaminação. Os mecanismos de registros e controles operacionaisnos possibilitam melhorar cada vez mais os processos de produção, de forma a garantir a eficiência dos processos. 12 CAPITULO II 2. A SEGURANÇA ALIMENTAR O alimento sempre teve um papel de destaque nas questões sanitárias, e não apenas pelo seu valor nutritivo, mas, também, pela sua capacidade de veicular patologias. A adoção de medidas efetivas vem sendo cada vez mais necessária para melhorar a qualidade e a segurança dos alimentos. Como principais fornecedores dessa efetividade desejada, as ferramentas de segurança alimentar estão cada vez mais em evidência na cadeia produtiva de alimentos. Entre essas ferramentas, encontram-se o princípio 5S’s, as Boas Práticas de Fabricação (BPF), os Procedimentos Operacionais Padronizados (POP’s) e o Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC). A qualidade é uma vantagem competitiva que diferencia uma empresa de outra, pois os consumidores estão cada vez mais exigentes em adquirir alimentos seguros, ou seja, alimentos que não ofereçam nenhum risco a sua saúde. Logo, as empresas que não estiverem preocupadas com a garantia da qualidade poderão ficar às margens do mercado consumidor. A crescente preocupação com o tema qualidade dos alimentos levou a criação de várias ferramentas de gestão da qualidade e segurança para atender aos requisitos de idoneidade necessários ao mercado consumidor e ao mesmo tempo contemplar as exigências de exportação, com critérios ainda mais rigorosos. Outro ponto importante é a diminuição de custos, através da redução de perdas de matéria prima, ingredientes, embalagens e a minimização dos resíduos sólidos, efluentes e emissões atmosféricas gerados, bem como a otimização de recursos tais como a água e a energia, dentre outros benefícios. A segurança alimentar é um desafio atual e visa à oferta de alimentos livres de agentes que podem por em risco a saúde do consumidor. Assim, a fiscalização da qualidade dos alimentos deve ser feita não só no produto final, mas em todas as etapas de produção, desde o abate ou colheita, passando pelo transporte, armazenamento e processamento, até a distribuição final ao consumidor. A segurança alimentar existe quando todas as pessoas, 13 em todo os momentos, têm acesso físico e econômico a uma alimentação que seja suficiente, segura, nutritiva e que atenda a necessidades nutricionais e preferências alimentares, de modo a propiciar vida ativa e saudável. Pode-se definir um alimento seguro como sendo aquele no qual constituintes ou contaminantes que causem perigo à saúde estão ausentes ou abaixo do limite de risco. Vários fatores têm contribuído para reduzir a distância entre os alimentos seguros e os de risco. A exigência por parte dos consumidores de que alimentos processados tenham características organolépticas mais próximas às do produto natural tem levado ao emprego de condições de tempo x temperatura de cocção menores que há algumas décadas. Além disso, a utilização de concentrações mais baixas de cloreto de sódio e outros conservantes, bem como a utilização de outros coadjuvantes tecnológicos, exige controle mais eficiente sobre o processamento de alimentos. Um alimento pode tornar-se de risco por razões tais como: contaminação e/ou crescimento microbiano; uso inadequado de aditivos químicos; adição acidental de produtos químicos; poluição ambiental ou degradação de nutrientes. Há um consenso geral de que o problema mais importante, do ponto de vista de saúde pública, é a ingestão de alimentos contaminados por microrganismos patogênicos. A abordagem tradicional de controle de alimentos baseia-se principalmente na inspeção da produção e testes laboratoriais do produto final, tanto por órgãos governamentais quanto pelo pessoal do controle de qualidade da indústria, para verificar se o produto está ou não de acordo com as leis e necessidades comerciais. 2.1 Sistema 5S O 5S surgiu no Japão no início dos anos 1950. Na indústria, seus principais papéis são: liberar áreas, evitar desperdícios, melhorar relacionamentos, facilitar as atividades e localização de recursos disponíveis. Trata de uma sigla formada pelas iniciais de cinco palavras japonesas. No Brasil, alguns “S” foram traduzidos usando palavras variadas. Com isso, o 5S gerou resultados diferentes de um para outro local. A tradução que adotamos é uma das mais praticadas, em empresas e escolas, a partir da década de 90. É tradução adequada a qualquer lugar onde se vive, por não usar expressões exclusivas do meio empresarial. 14 Observando os métodos de gestão e o potencial das pessoas em variados ambientes, sentimos que, devidamente entendido e apresentado, o 5S pode ser praticado por qualquer pessoa, em qualquer circunstância. Com isso, o 5S que praticamos hoje é mais humano do que quando começou a ser divulgado no Brasil, nos anos 1980. Seus princípios são semelhantes aos princípios da vida. A filosofia dos 5S busca promover, através da consciência e responsabilidade de todos, disciplina, segurança e produtividade no ambiente de trabalho. Cada uma das cinco palavras representa uma etapa do programa de implantação do 5S, ou então, como também podem ser chamados os cinco “sensos”. O princípio “5S” é o nome de um método, ou antes, uma filosofia, de administração japonesa e se refere à inicial de cinco palavras: Seiton, Seiri, Seiso, Seiketsu e Shitsuke. SEITON: significa deixar tudo em ordem, ou o “senso de organização”. É literalmente arrumar tudo, deixar as coisas arrumadas e em seu devido lugar para que seja possível encontrá-las facilmente sempre que necessário. Assim, evita-se o desperdício de tempo e energia. SEIRI: se refere a evitar o que for desnecessário, ou o “senso de utilização”. Ao separar aquilo que é realmente necessário ao trabalho daquilo que é supérfluo, ou desnecessário, passando-o para outros que possam fazer uso dele ou simplesmente descartando, conseguimos melhorar a arrumação e dar lugar ao novo. SEISO: significa manter limpo, ou o “senso de limpeza”. Agora que você já tirou tudo que era desnecessário e deixou tudo em ordem, é preciso manter assim. SEIKETSU: zelar pela saúde e higiene, ou “senso de saúde e higiene”. Não adianta nada mantermos o local de trabalho limpo se não cuidarmos de nossa higiene pessoal também. SHITSUKE: disciplina. Este conceito é um pouco mais abrangente do que o significado ao qual estamos acostumados de seguir as normas. Ele se refere também ao caráter do indivíduo que deve ser honrado, educado e manter bons hábitos. Parece bem simples, mas na verdade os 5S são baseados na filosofia japonesa do Bushido (lê-se bushidô). Um código de princípios morais não escritos, mas que foram 15 passados de geração para geração e incorporados à cultura japonesa e que se resumem em disciplina e harmonia. Durante a década de 50 e 60 os japoneses passaram pela fase de reestruturação do pós-guerra e desenvolvimento acelerado de suas indústrias. Foi nesta fase que começaram a se desenvolver os conceitos de qualidade aplicada aos processos produtivos e, a filosofia dos 5S se espalhou pelo mundo dando origem a novas metodologias (“housekeeping”, por exemplo). FIGURA 1 - Ambiente organizacional de trabalho FONTE: http://www.5s.com.br/imagensgerais/diversos/5s_aimagem.jpg 2.1.1 Insistir em aprender e aplicar os 5S’s Devemos ensinar o tão natural 5S exatamente porque a vida do ser humano não é assim tão natural. Temos tanta tecnologia, conhecimentos, cultura, valores, tantos recursos artificiaisdescobertos, aperfeiçoados ou inventados pela humanidade, que não é mais possível utilizá-los sem aprendizado e treinamento. Ora, muitos recursos não adiantam nada se não soubermos utilizá-los, ordená-los, limpá-los, conservá-los e, finalmente, descartá-los ou reciclá-los quando chegar a hora. Nesta nossa vida tão cheia de novidades e oportunidades, é o 5S que vai nos mostrar como melhor aproveitá-las para a Qualidade de Vida. Qualidade de Vida para a humanidade e, sobretudo, para o sistema biológico, do qual fazemos parte e sem o qual não podemos viver. 16 2.1.2 Kaizen Kaizen é um termo de origem japonesa, que agrega o significado de "melhoria contínua" nos âmbitos do trabalho, família, pessoal e social. Seu propósito sugere o aprimoramento diário e constante das situações, visando sempre o aumento da produtividade, bem como eliminar os processos desnecessários e desperdícios, tanto de tempo, quanto de itens de produção, no ambiente de trabalho, por exemplo. O foco principal do Kaizen é humanizar as relações e com isso implementar sua produtividade. Sua origem se deu logo após a Segunda Guerra Mundial, na qual o Japão saiu com graves dificuldades econômicas e as leis trabalhistas impostas reforçaram e incentivaram melhores condições de trabalho aos funcionários. Sindicatos de diversas categorias lutaram por acordos nos quais os trabalhadores pudessem garantir bônus e remunerações mais altas. Visto este panorama, o governo do país iniciou um programa de estudos na área da Administração Clássica, cujas ideias eram baseadas em estudos do famoso engenheiro de origem francesa, Jules Henri Fayol. Seu pensamento seguia a linha crítica de aprimoramento constante, o Kaizen, que carregava uma forte influência da filosofia de visa oriental. O método Kaizen visa o bem do Homem e consequentemente suas ações melhoradas, auxiliam nos processos da empresa, na família e no convívio social. Os conceitos desta filosofia são baseados no mote: "Hoje melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje"; e a metodologia aplicada resulta em aplicações concretas e nítido salto qualitativo, com o aumento da lucratividade e diminuição do custo operacional. A linha de produção da fabricante de carros Toyota é tida como um Case de sucesso, na implantação dos princípios do Kaizen. A palavra Kaizen (do japonês mudança para melhor) é uma palavra de origem japonesa com o significado de melhoria contínua, gradual, na vida em geral (pessoal, familiar, social e no trabalho). Pode ser visto como um processo diário, cujo propósito vai além de aumento da produtividade. Quando corretamente executado, é também um processo que humaniza o ambiente de trabalho, elimina o trabalho duro, ensina as pessoas como realizar experimentos no seu trabalho usando o método científico e também como identificar e 17 eliminar desperdícios nos negócios. Em geral, o processo sugere uma relação humanizada com os trabalhadores e com aumento de produção. Para o Kaizen, é sempre possível fazer melhor, nenhum dia deve passar sem que alguma melhoria tenha sido implantada, seja ela na estrutura da empresa ou no indivíduo. Sua metodologia traz resultados concretos, tanto qualitativamente, quanto quantitativamente, em um curto espaço de tempo e a um baixo custo (que, conseqüentemente, aumenta a lucratividade), apoiados na sinergia gerada por uma equipe reunida para alcançar metas estabelecidas pela direção da empresa. O Sistema de produção Toyota (Lean Manufacturing) é conhecido pela sua aplicação do princípio do Kaizen. Uma analogia conhecida é a de uma história chamada "O Tesouro de Bresa", na qual um pobre alfaiate compra um livro com o segredo de um tesouro. Para descobrir o segredo, ele tem que decifrar todos os idiomas escritos no livro. Ao estudar e aprender estes idiomas, começam a surgir oportunidades, e ele lentamente (de forma segura) começa a prosperar. Depois, é preciso decifrar os cálculos matemáticos do livro. É obrigado a continuar estudando e se desenvolvendo, e a sua prosperidade aumenta. No final da história, não existe tesouro algum - na busca do segredo, a pessoa se desenvolveu tanto que ela mesma passa a ser o tesouro. O processo de melhoria não deve acabar nunca, e os tesouros são conquistados com saber e trabalho. Por isso, a viagem é mais importante que o destino. O Kaizen é regido por dez mandamentos: Todo desperdício deve ser eliminado Todos os colaboradores devem se engajar no processo de melhoria O aumento da produtividade deve ser baseado em ações que não demandem investimento financeiro alto. Deve ser aplicado em qualquer local/empresa. As melhorias obtidas devem ser divulgadas, como forma de se ter uma comunicação transparente. As ações devem ser focadas no local de maior necessidade. O Kaizen deve ser direcionado de forma que seu objetivo seja unicamente a melhoria dos processos. A priorização na melhoria das pessoas deve ser mais importante. E por fim: O foco do Kaizen é Aprender na Prática. Existem ainda as diversas aplicações para o método, tais quais Kaizen para o Grupo, com o sistema PDCA (Plan-Do-Check-Action), com o objetivo de tornar ágil a 18 execução dos projetos e processos, Kaizen para Administração, onde o princípio fundamental é o papel do Gerente, que deve dedicar 50% do tempo no melhoramento da equipe e o Kaizen com foco nas pessoas, cujo sistema deve ser dinâmico e que envolva todos os integrantes de forma igual. FIGURA 2 - representação da ferramenta da qualidade FONTE: http://www.integragi.com.br/resources/Kaizen.gif 2.2 Boas Práticas de Fabricação – BPF As empresas estão buscando a implantação das Boas Práticas de Fabricação (BPF), devido à competitividade, melhoria contínua, exigência do mercado consumidor e, principalmente, à segurança alimentar dos seus produtos, por meio do desenvolvimento de Sistemas de Gestão e Controle de Qualidade e treinamentos dos colaboradores, criando, assim, um diferencial na área da indústria. As BPF são atos de higiene que devem ser adotadas pelas indústrias de alimentos e obedecidas pelos manipuladores desde a aquisição das matérias-primas, durante o processamento, até o consumidor. O objetivo das BPF é evitar a ocorrência de doenças provocadas pelo consumo de alimentos contaminados (BRASIL, 2004). Segundo Gil (1994), qualidade é uma condição de equilíbrio, sintonia, utilidade, perfeição e lógica, que caracteriza processos e resultados de planejamento, execução, controle e auditoria, a qual, para ser alcançada, exercida ou trabalhada, necessita de planejamento, execução, controle e auditoria dos processos e resultados da entidade cuja qualidade está em foco, sob atuação e sendo objeto de esforços. 19 A qualidade nos alimentos diz respeito à ausência de defeitos, ao conjunto de propriedades de um produto em conformidade com as características para as quais foi criada e à totalidade das características de um produto relacionada com sua habilidade em atender as necessidades explícitas e implícitas dos alimentos. A qualidade total abrange todos os programas de qualidade implementados na indústria de alimentos, como: 5 Sensos (5S), Boas Práticas Agrícolas (BPA), Boas Práticas de Fabricação (BPF), Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), Procedimentos Padrão de Higiene Operacional (PPHO), Procedimentos Operacionais Padronizados (POP), Controle Integrado de Pragas (CIP), Controle Estatístico do Processo (CEP), Organização Internacional para Padronização (ISO), Qualificação dos Fornecedores, Qualidade Assegurada, envolvendo também a Qualidade deVida Ocupacional e Qualidade Ambiental, em busca da excelência dos produtos e serviços prestados, visando garantir a segurança dos clientes e superar suas expectativas e necessidades. Segundo Corrêia (2005), as BPF ou Good Manufacturing Pratices (GMP), em inglês, é um conjunto de regras, princípios e procedimentos adotados para o correto manuseio dos alimentos, que abrange desde o recebimento da matéria-prima até o produto final, considerando o controle dos processos, produtos, da higiene pessoal, da sanitização e o controle integrado de pragas, visando garantir a segurança do produto e a integridade do consumidor. Elas se aplicam a toda pessoa física ou jurídica que possua pelo menos um estabelecimento ou indústria de alimentos, em que sejam realizadas algumas das seguintes atividades: produção, industrialização e manipulação; fracionamento; armazenamento; transporte de alimentos industrializados. O Manual de BPF é um documento que descreve a situação real das operações e dos procedimentos realizados pelo estabelecimento, incluindo os requisitos sanitários dos edifícios, a manutenção e higienização das instalações, dos equipamentos e utensílios, o controle da água de abastecimento, o controle integrado de vetores e pragas urbanas, o controle da higiene e saúde dos manipuladores, cujo propósito é estabelecer uma sistemática para garantir a segurança do produto final, visando principalmente assegurar a 20 saúde do consumidor e a conformidade dos alimentos com a legislação sanitária (BRASIL, 2002; BRASIL, 2004). Definições segundo a Portaria 368/1997 MAPA; Estabelecimento de Alimentos Elaborados/Industrializados: é o espaço delimitado que compreende o local e a área que o circunda, onde se efetiva um conjunto de operações e processos que tem como finalidade a obtenção de um alimento elaborado, assim como o armazenamento e transporte de alimentos e/ou matéria prima. Manipulação de Alimentos: são as operações que se efetuam sobre a matéria prima até o produto terminado, em qualquer etapa do seu processamento, armazenamento e transporte. Elaboração de Alimentos: é o conjunto de todas as operações e processos praticados para a obtenção de um alimento terminado. Fracionamento de Alimentos: são as operações pelas quais se fraciona um alimento sem modificar sua composição original. Armazenamento: é o conjunto de tarefas e requisitos para a correta conservação de insumos e produtos terminados. Boas Práticas de Elaboração: são os procedimentos necessários para a obtenção de alimentos inócuos e saudáveis e sãos. Organismo Competente: é o organismo oficial ou oficialmente reconhecido ao qual o Governo outorga faculdades legais para exercer suas funções. Adequado: entende-se como suficiente para alcançar o fim que se almeja. Limpeza: é a eliminação de terra, restos de alimentos, pó ou outras matérias indesejáveis. Contaminação: entende-se como a presença de substâncias ou agentes estranhos de origem biológica, química ou física, que se considere como nociva ou não para a saúde humana. 21 FIGURA 3 - Boas práticas de fabricação FONTE: http://4.bp.blogspot.com/-YZBVrKwQWqY/UD- Desinfecção: é a redução, por intermédio de agentes químicos ou métodos físicos adequados, do número de microrganismos no prédio, instalações, maquinaria e utensílios, a um nível que impeça a contaminação do alimento que se elabora. 2.2.1 Abastecimento de água A água para consumo e produção de alimentos deve atender aos parâmetros de qualidade determinado pela portaria 2914/2011 da ANVISA. Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. A água para consumo industrial pode ser proveniente de água subterrânea ou de superfície. Se tratando de água de superfície o sistema de tratamento á mais simplificado, ou seja, coleta de água do poço, somente faz a correção do pH se necessário e a cloração da água. Sendo água de superfície o tratamento é mais complexo, compreende mais etapas como: coleta da água, sistema de pré armazenamento (lagoas), envio para o sistema de decantação, período de permanência, seguindo para aplicação de coagulante e 22 floculante para maior remoção de sólidos em suspensão. Após encaminha para o sistema de limpeza por filtro, para a completa remoção de material particulado. O sistema de filtro se composto pelo processo de retro lavagem, no final de cada dia pode ser efetuada a limpeza interna do filtro, garantindo a qualidade da água. Após a água completamente limpa (de material particulado), adiciona o cloro para desinfecção. 2.2.2 Higiene pessoal As pessoas que apresentam feridas, cortes, machucados, problemas de saúde ou portadoras de enfermidades contagiosas devem comunicar o fato ao seu supervisor e serem afastadas do contato com os alimentos, a fim de evitar contaminá-los e consequentemente transmitir bactérias aos consumidores. Devem ser obedecidos os avisos afixados que indicam a obrigatoriedade da correta lavagem das mãos e sua frequência, com agentes de limpeza autorizados e com água corrente potável fria ou fria e quente, no início do trabalho, imediatamente após o uso do sanitário, após o contato com material contaminado e todas as vezes que for necessário. Antes de tossir ou espirrar, a pessoa deve afastar-se do produto que esteja manipulando, cobrir a boca e o nariz e, em seguida, lavar imediatamente as mãos, para prevenir a contaminação. Todos os colaboradores devem tomar banho todos os dias, usar uniformes de cor clara e trocá-los diariamente, usarem sapatos fechados em bom estado de conservação e limpeza, meias e touca protetora. Esses elementos devem ser descartáveis ou laváveis. Durante a manipulação dos alimentos, é proibido o uso de adornos (anéis, alianças, colares, pulseiras, brincos) e objetos de uso pessoal. Além disso, são proibidas as seguintes práticas: comer dentro da área de processamento, mascar chicletes, fumar, tossir, carregar dinheiro, celulares e canetas no uniforme, ou outras não higiênicas. 23 FIGURA 4 - Procedimento de higiene e saúde FONTE: http://s3.amazonaws.com/magoo/ABAAABjOQAD-1.jpg O uso do uniforme fornecido pela empresa é de uso exclusivo e obrigatório nas dependências da empresa. Deve ser trocado a cada dia, ou caso necessário durante o expediente de trabalho, mediante autorização do superior imediato. Priorizar sempre por uniformes de cor clara (branca) no setor de manipulação de alimentos, devido melhor facilidade de visualização de qualquer resíduo de sujidade e/ou contaminantes. 2.2.3 Edifícios e instalações A indústria alimentícia deve estar localizada em área que não apresente riscos às condições gerais de higiene e sanidade, como contaminação ou infestação por pragas urbanas. Ademais, instalações provisórias devem ser evitadas. Na área de processamento, as paredes e os tetos devem ser lisos, pintados com cores claras, laváveis, impermeáveis e construídos de forma que não ocorram acúmulos de poeira e contaminação, portanto não devem ter aberturas que facilitem 24 a entradas de insetos e pragas. Para isso, deve-se usar redes, ou cortina de ar ou de plástico. Os edifícios destinados à instalação alimentícia, ao processamento, à embalagem, ao armazenamento, aos estoques de matérias-primas e aos produtos acabados devem ser mantidos com a devida ordem, serem de fácil manutenção e limpeza, de forma que não haja entrada de insetos e roedores, pombos,pássaros e demais pragas. As superfícies devem ser construídas de material impermeável, lisas, para facilitar os procedimentos de higienização, sem ranhuras onde possam oferecer abrigo ao microrganismos patogênicos. Os pátios devem ser mantidos com área pavimentada e limpos, sem amontoamento de entulho. 2.2.4 Produção e Operação Na área de produção e manipulação, os alimentos devem se protegidos de contaminações químicas, físicas e microbiológicas. É fundamental a elaboração do manual de operações ou instrução de serviço para todas as etapas de processo, melhorando assim as informações internas, reduzindo a possibilidade de erros. Os produtos retirados do mercado por vencimento da vida útil não devem ser reprocessados para fins alimentícios. Todo e qualquer produto descartado, deve ser imediatamente dado o destino final, não deixar acumulado nas dependências da empresa. 2.2.5 Equipamentos e Utensílios Os equipamentos devem cumprir as normas de desenho sanitário (material inerte, não permitindo o acúmulo de sujeiras e apresentar superfícies lisas). Os equipamentos devem ser mantidos a uma distância mínima de 30 cm do piso e 60 cm da parede e entre si. Os instrumentos de controle devem estar em boas condições, aferidos e calibrados periodicamente e dotados de sistema de registros. 25 2.2.6 Limpeza e Sanitização Os procedimentos de limpeza e sanitização da fábrica, dos equipamentos e utensílios utilizados devem estar descritos em manuais específicos e feitos com agentes de limpeza em suas devidas concentrações e diluições, sempre observar o tempo de ação do produto. O pessoal que realiza esse trabalho deve ser treinado nos procedimentos instituídos. A empresa deve estabelecer um cronograma, os métodos e a frequência de limpeza, por exemplo por turno ou a cada processo. Essa operação deve ser monitorada e controlada por responsável técnico. Os detergentes e sanitizantes devem ser armazenados em local específico e identificados fora da área de processamento. 2.2.6.1 Armazenamento dos produtos químicos Os produtos químicos devem ser armazenados devem ser armazenados em local identificado, com acesso restrito, somente a profissionais treinados para manipular os produtos. O depósito deve estar em local ventilado e afastado da fabrica de alimentos. É importante dispor dos POP’s no depósito para que o operador possa estar verificando para tirar qualquer dúvida, seja referente a concentração ou até mesmo tempo de ação. Todo produto químico deve conter seu rótulo de identificação, para que possa verificar o grau de risco que ele oferece, a validade do mesmo, e o fabricante. 2.2.7 Armazenamento e Distribuição Na área de armazenamento e distribuição, as matérias-primas, materiais de embalagem e produtos finais devem ser armazenados em condições adequadas, de acordo com suas especificações. As matérias-primas e os produtos acabados devem ser armazenados distantes da parede com, no mínimo, 45 cm de distância, para permitir a limpeza, as inspeções, melhorar o arejamento e os espaços, facilitando as possíveis operações de controle de pragas. 26 A área de armazenamento deve apresentar teto e piso impermeáveis e paredes pintadas com cor clara. Os veículos de transporte devem estar limpos e em bom estado de conservação, para evitar possível contaminação com os produtos transportados até os estabelecimentos comerciais, além de não apresentarem evidências da presença de possíveis pragas ou odores acentuados. Necessário obter um espaço identificado para depósito de qualquer produto proveniente de recall. Procurar atender aos cuidados de controle dos produtos em que: primeiro que entra é o primeiro que sai – PEPS. Não depositar os produtos diretamente sobre o piso, sempre em cima de bases (estrados) preferencialmente de plásticos, assim eles podem ser higienizados. 2.2.8 Controle de Pragas e Vetores Para o controle de pragas, devem ser impedidos a atração, o abrigo, o acesso e a proliferação de vetores e pragas urbanas que comprometam a qualidade sanitária dos alimentos. As ações preventivas e corretivas, com monitoramento, inspeções internas e externas com registros e relatórios, são imprescindíveis para o controle das pragas, impedindo que elas causem problemas significativos. Caso a medida de controle não seja eficaz, a indústria deve contratar empresas especializadas, a fim de utilizar produtos químicos para o controle das pragas, pois a aplicação destes deve ser feita por profissionais da área, com produtos registrados no Ministério da Saúde. É necessário que esses profissionais apresentem toda a documentação para registro dos procedimentos, além do certificado de garantia do serviço prestado. Para evitar o acesso de insetos voadores é necessário adotar cortina de ar na entrada das portas, telas milimétricas nas janelas ou qualquer abertura que tiver na fábrica. 2.2.9 Garantia da Qualidade A garantia da qualidade dos alimentos será um sistema preventivo, com disposição de controles e condições de trabalho que antecipem os problemas, 27 valendo-se da proposição de programas, ferramentas, procedimentos e normas, como forma de prevenção aos erros/falhas. As ações para garantir a qualidade exigem o comprometimento de todo o pessoal envolvido direta e indiretamente no processo produtivo. Os lotes dos produtos devem ser identificados de acordo com as condições apresentadas, ou seja, em análise, aprovado ou rejeitado. FIGURA 5 - Processamento de alimentos FONTE: http://www.opovoquersaber.com/wp-content/uploads/2013/10/ALIMENTOS1.jpg 2.2.10 Treinamentos O treinamento envolve atividades com o objetivo de instruir, treinar e capacitar os profissionais que trabalham no preparo de alimentos (manipulação e processamento), por meio de mecanismos que possibilitem a transmissão dos conceitos importantes sobre as técnicas operacionais e de informações sobre o controle higiênico-sanitário, para a devida conscientização profissional e sua mudança comportamental. É importante ressaltar que esses treinamentos devem ser revisados, reforçados e • atualizados, sempre que for necessário. O treinamento dos colaboradores deve ser feito de duas formas: expositiva e prática, • aumentando a motivação e a capacidade de resolução e prevenção dos problemas diários da empresa por meio de reflexões sobre situações já vivenciadas. 2.2.11 Vestiários e sanitários O local deve ser mantido limpo e organizado, portanto é necessário ter o cuidado de limpara o calçado antes de entrar no ambiente. Quando usar o chuveiro deixar o local limpo e organizado. 28 Quanto ao sanitário procurar utilizar corretamente a cesta de papel, ou se jogado no vaso, NUNCA jogar no chão. Deixar nesse ambiente somente o que é permitido como roupas que usou pra ir até a empresa e calçados. Nunca depositar em armário alimentos. Sempre observar indicações de entrada e saída. Procurar utilizar de forma equilibrada para com os demais. 2.2.12 Refeitório Deve ser construído em alvenaria, pintado com tinta de cor clara, as paredes, tetos e piso devem ser construídos de material impermeável, ser liso para facilitar a higienização, evitar proliferação de microrganismos patogênicos. Deve ser afastado da fábrica de alimentos, para evitar o contato direto. As portas devem ser dotadas de cortina de ar, procurar manter sempre fechadas, e as janelas obter tela milimétrica paraevitar qualquer possibilidade de acesso de pragas. O ambiente de refeitório deve ser mantido com o menor ruído possível, pois é um local de alimentação e assim todos possam se sentir bem. Fazer as refeições num ambiente tranquilo. Nas suas proximidade não pode ter qualquer tipo de lixo, pois facilita a proliferação de pragas, que podem se tornar vetores de doenças. 2.2.13 Área externa A área externa compreende jardim, gramados arvores de sombras, pavimentação entre outros. Deve ser mantido limpo, com a grama aparada, recolher sempre folhas e restos de plantas que caem no chão, as árvores de grande porte devem ser efetuado a poda, para evitar riscos de queda um galho sobre o empreendimento, ou até mesmo sobre um funcionário. Qualquer presença de animais peçonhentos, ou que ofereçam riscos tanto para a indústria como para os funcionários, deve ser imediatamente comunicado ao responsável, para que ele adote as medidas cabíveis. Deve ser mantida limpa, não jogar qualquer tipo de lixo no chão, ou em local indevido. Lembrar sempre, lugar de lixo é na lixeira. 29 2.2.14 Coleta seletiva A coleta seletiva compreende desde os recipientes de coleta seletiva de preferencia além da identificação escrita, ser das cores padrão conforme Resolução CONAMA 275/2001. Segue o padrão de cores. AZUL: papel/papelão; VERMELHO: plástico; VERDE: vidro; AMARELO: metal; PRETO: madeira; LARANJA: resíduos perigosos; BRANCO: resíduos ambulatoriais e de serviços de saúde; ROXO: resíduos radioativos; MARROM: resíduos orgânicos; CINZA: resíduo geral não reciclável ou misturado, ou contaminado não passível de separação. Elaborar cronograma de treinamentos relacionados a educação ambiental, para que todos possam obter o conhecimento e executar corretamente os procedimentos de separação dos resíduos sólidos, NUNCA jogar nada no chão ou em qualquer outro local indevido. FIGURA 6 - Coletores de resíduos reciclados FONTE: https://www.google.com.br/search?q=coleta+seletiva 30 2.3 Procedimentos Operacionais Padronizados - POPs O POP é a descrição de atividades, passo a passo de uma tarefa ou procedimento, definindo a ação, listando os materiais e as condições necessárias para a execução daquela tarefa, local para aplicação e ou utilização do POP, devendo constar também o local para o registro desta tarefa, identificando ainda os responsáveis pela execução do referido procedimento, listar as referências bibliográficas, resultado esperado, ações corretivas, data da elaboração, revisão anual, revisores, uso de EPI e a quantidade de cada material utilizado, garantindo assim a padronização e permitindo a avaliação de cada procedimento. A padronização de processos nasceu logo após a revolução industrial com o início da mecanização dos processos industriais, saindo assim da forma artesanal predominante até o momento. No início do século vemos um exemplo claro da busca pela padronização diante da produção dos carros da Ford, onde a linha de produção só fabricava carros da cor preta. Acontece que esta forma de padronização tem seu foco no processo, é claro que para a administração da indústria automobilística a ideia de se produzir carros de apenas uma cor é vista com bons olhos. Porém, para o usuário, a falta de opções não seria de sua satisfação. Como hoje, num mercado extremamente competitivo, satisfação e qualidade andam juntas não há mais espaços para produtos padronizados sem a satisfação de seus clientes. Com isso, temos hoje uma padronização de produtos e serviços com foco no cliente, seus interesses e desejos de satisfação têm caráter prioritário. Não devemos engessar uma organização para dentro de forma a podarmos sua capacidade de interagir com seus clientes e captar suas necessidades e desejos. Assim como a Ford se adaptou com novas necessidades de mercado e hoje produz carros com inúmeras cores e modelos, o mercado também exigiu de suas indústrias de alimentos novas adaptações de modo a suprir o desejo por garantia da qualidade de seus produtos. Estamos falando da padronização de atividades de forma a garantir a nossos clientes a metodologia mais satisfatória e adequada para processamento dos produtos, a implantação de procedimentos revisados e previamente aprovados se faz não só necessária, como também uma base sólida para a busca de um padrão de produção alimentícia satisfatório. 31 Em indústrias de alimento a maior parte das atividades são realizados com profissionais onde ocorre certa rotatividade de funcionários, sendo a produção em escala industrial. E ainda equipamentos automatizados com manuais cada vez mais completos. Nestes casos, o manual não precisa ser integralmente transcrito para o seu procedimento interno, a não ser que não estejam completos. Bastando então, anexá-la e fazer sua referência no interior do seu POP. Porém, as informações relacionadas a produção deverão estar contidas no POP, ou mesmo, as informações que por ventura se fazem necessárias para uma boa e correta aplicação e interpretação do seu procedimento. Exemplo de hierarquização da documentação do Sistema da Qualidade, onde MQ= Manual da Qualidade, PSQ= Procedimentos de Sistema da Qualidade e IT= Instruções de Trabalho. 2.3.1 Controlar os procedimentos A indústria deverá definir, documentar e manter um programa para controlar os seus procedimentos e documentos pertinentes (livros, especificações, tabelas, gráficos, desenhos, pôsteres, regulamentos, Normas, etc), seja de fonte interna ou externa, que fazem parte da documentação da Qualidade. A versão implementada deverá ser a atual, nunca deixe um procedimento obsoleto (versão anterior) circular pelos departamentos da indústria. A substituição é imediata e sua circulação sempre controlada. Tais procedimentos deverão ser sempre revisados (pelo menos anualmente, mesmo que aparentemente isto não se faça necessário). 2.3.2 Como e quem deve fazer um POP Todo e qualquer profissional envolvido com o processo produtivo, e que tenha o devido conhecimento de interligar as atividades, nos diferentes setores. Transcrever as 32 tarefas rotineiras que todos fazemos mecanicamente para uma folha de papel nem sempre é uma tarefa fácil, talvez seja um pouco cansativa, mas devemos tomar alguns cuidados. Nunca copie procedimentos de livros ou de outras organizações, existem particularidades que só a empresa tem e isso é de fácil percepção por parte da coordenação industrial ou ainda por ação de auditores, nem tão experiente. A pessoa que executa a tarefa é quem deve escrever o procedimento, ele é o dono do processo. Existe ainda um caráter psicológico que faz com que o funcionário se sinta parte integrante do Sistema da Qualidade da empresa e que as diretrizes desse sistema não sejam uma imposição da alta administração. O funcionário deve estar familiarizado com fatores que influenciam seu processo industrial produtivo, manuseio da amostra, aplicação e interpretação de seus controles internos e externos, manutenção e operação de equipamentos de sua área. Ou seja, este funcionário tem que ser treinado, habilitado e qualificado para a execução de sua tarefa. Sendo assim, escreva o que você faz e faça o que está escrito. Faça constantes análises críticas (pelo menos uma vez por ano) sobre a aplicabilidade de seus procedimentos e se os mesmos ainda estão sendo seguidos. A linguagem utilizada no POP deverá estar em consonância com o grau de instrução das pessoas O conteúdo do POP,assim como sua aplicação, deverá ter o completo entendimento e familiarização por parte dos funcionários que tenham participação direta e/ou indireta na qualidade final daquela atividade. Normalmente a ingerência de supervisores, coordenadores e diretores neste ponto é uma das causa de ineficiência na implantação de um Sistema da Qualidade. Cabendo aos mesmos as responsabilidades pela revisão e aprovação do POP, como vemos abaixo: 33 2.3.3 A finalidade do POP Um procedimento tem o objetivo de se padronizar e minimizar a ocorrência de desvios na execução de tarefas fundamentais para a qualidade da produção de alimentos, independente de quem as faça. Ou seja, um procedimento coerente garante ao usuário que a qualquer momento que ele se dirija a indústria, as ações tomadas sejam coerentes para garantir a qualidade de seus produtos sejam as mesmas, de uma rodada para a outra, de um turno para outro, de um dia para outro. Aumenta-se a previsibilidade de seus resultados, minimizando as variações causadas por imperícia e adaptações aleatórias da metodologia, independente de falta, ausência parcial ou férias de um funcionário. O POP também tem uma finalidade interna de ser um ótimo instrumento para a Gerência da Qualidade para praticar auditorias internas. Ou seja, funcionários de um setor auditam outro setor e de posse de um POP do setor auditado o auditor encontra subsídios técnicos para indagações e verificação de eficácia da metodologia, assim como sua familiarização entre os auditados. 2.3.4 Conteúdo mínimo de um POP Todos os POP’s da indústria deverão constar as seguintes informações: -Nome da empresa; -Identificação, assinatura e data da elaboração, revisão e aprovação do POP; -Número da versão atual; -Número do documento; -Paginação; Exemplo de cabeçalho de POP: Paginação, Número do POP, revisão, título, logo da empresa. Abrangência, distribuição; Números de cópias. Se o POP for um procedimento de industrialização de alimentos cárneos, este ainda deverá conter (quando aplicável): -Princípio de medidas de controle como temperatura; 34 -Procedimentos de cuidados; -Quantidade de produto a ser processado por batelada (tipo de produto e suas condições necessárias); -Padrões, controles, reativos e outros insumos; -Equipamentos (uso, calibração e manutenção preventiva); -Passo a passo da atividade (fase bem detalhada); -Cálculos (quando aplicável: Conversão de unidades ou aplicação de fatores); -Controle da Qualidade (externo e interno com periodicidade e faixa de aceitação de valores); -Interferentes e reações cruzadas; -Valores de referência (referentes à produção realizada); -Linearidade, limites de detecção e limitações do método (que deverão estar congruentes com as necessidades do usuário: Sensibilidade, robustez contra fatores externos, incertezas de medição, etc); -Correta coleta dos resultados da produção; -Referências bibliográficas (fontes dos dados obtidos no procedimento). FIGURA 7 - Procedimento operacional padronizado de higienização da caixa de água FONTE: http://correiogourmand.com.br/images/cartilha_seguranca_alimentar_anvisa_img_16.jpg 35 2.3.5 Importância e resultados do POP Segundo a Circular n° 369/2003; A monitoria dos procedimentos operacionais deve contemplar, no mínimo, os registros relacionados aos Procedimentos Operacionais Padrão (POP), como por exemplo, as operações de esfola (abate de bovinos) ou retirada das vísceras (abate de aves). Inclui as ações para identificar e corrigir casos ou circunstâncias de contaminação direta do produto por fontes ambientais (instalações, equipamentos, etc) ou por práticas dos funcionários (higiene pessoal, manipulação do produto, etc). Os itens verificados devem estar claramente classificados como conformes ou não conformes. Além disso, as não-conformidades registradas durante a monitoria devem ser descritas detalhadamente e identificadas corretamente (ex: sujeira é uma palavra genérica, portanto deve ser detalhado o tipo de sujeira). A planilha deve registrar o horário de execução da monitoria. Com a efetiva elaboração e implantação dos procedimentos operacionais padronizados na indústria de alimentos, visa ao desenvolvimento de atividades padronizadas, minimizando a possibilidade de erros de processos. Através dos controles e monitoramento para que assim possa assegurar o conhecimento de forma a disseminar a todos os funcionários da empresa, dessa forma poderá produzir os produtos de qualidade, garantindo ao consumidor. A ferramenta é de fácil entendimento e aplicação, possibilitando a qualquer organização adaptar a sua realidade e usufruir dela. Com auxílio das ferramentas de controle de processos possibilita cada vez mais produzir, com cada vez menos perdas, garantindo a saúde e integridade física do consumidor. 2.4 Sistema APPCC; Trata-se de uma metódologia reconhecida internacionalmente utilizada por unidades do setor de alimentos. É definida como um Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle. Foi concebido no seu formato inicial pelos pesquisadores da NASA, nos EUA. Em 1991, foi publicado pela Comissão do Codex Alimentarius, organização esta criada pela organização mundial de Saúde, sendo um conjunto de orientações e 36 recomendações sobre a sua aplicação, como uma alternativa de redução da contaminação biológica. Este sistema do HACCP, é um importante instrumento na proteção alimentar, consistindo objetivamente num método preventivo. A sua implementação procura prevenir, reduzindo os riscos de intoxicação alimentar. O controle é fundamentalmente efetuado através de colheita de amostras de matérias-primas, produtos intermédios e finais, e posterior aferição para confirmação dos parâmetros de qualidade. Esta análise visa identificar potenciais perigos para a saúde pública dos consumidores nas atividades de saúde alimentar. Esta metodologia possibilita a identificação das fases e locais onde estes perigos podem ocorrer e a decisão de quais são críticos e determinantes para a saúde dos consumidores. Desta forma as entidades focalizam-se nas fases e condições de ponto críticos para a segurança alimentar, garantindo que o controle dos seus produtos assegura a saúde, face a sua ingestão. O APPCC é uma ferramenta flexível e passível de adaptar as diferentes exigências de gestão de cada entidade, sendo aplicável a sua implementação em todos os processos produtivos, de transformação e distribuição de géneros alimentícios, independentemente da dimensão da organização. É direito das pessoas terem a expectativa de que os alimentos que consomem sejam seguros e adequados para consumo. As doenças e os danos provocados por alimentos são, na melhor das hipóteses, desagradáveis, e, na pior das hipóteses, fatais. Há também outras consequências. Os surtos de doenças transmitidas por alimentos podem prejudicar o comércio e o turismo, gerando perdas econômicas, desemprego e conflitos. Alimentos deteriorados causam desperdício e aumento de custos, afetando de forma adversa o comércio e a confiança do consumidor. O comércio internacional de alimentos e as viagens internacionais estão aumentando. Os resultados são importantes benefícios socioeconômicos, mas também a disseminação de doenças ao redor do mundo. Nas duas últimas décadas, os hábitos alimentares têm passado por mudanças em muitos países, acarretando o desenvolvimento de novas técnicas de produção, preparação e distribuição de alimentos. Portanto, um controle eficaz de higiene tornou-seimprescindível 37 para se evitar consequências prejudiciais decorrentes de doenças e danos provocados pelos alimentos à saúde humana e à economia. Todos agricultores e cultivadores, fabricantes e processadores, manipuladores de alimentos e consumidores têm a responsabilidade de garantir que o alimento seja seguro e adequado para consumo. Estes Princípios Gerais estabelecem uma base sólida para garantir a higiene dos alimentos e, quando apropriado, devem ser usados em conjunto com os códigos de práticas de higiene específicos e com as diretrizes sobre critérios microbiológicos. Segundo a Portaria n° 46/1998; Modernamente observa-se em todo o mundo um rápido desenvolvimento e aperfeiçoamento de novos meios e métodos de detecção de agentes de natureza biológica, química e física causadores de moléstias nos seres humanos e nos animais, passíveis de veiculação pelo consumo de alimentos, motivo de preocupação de entidades governamentais e internacionais voltadas à saúde pública. Ao mesmo tempo, avolumam-se as perdas de alimentos e matérias-primas em decorrência de processos de deterioração de origem microbiológica, infestação por pragas e processamento industrial ineficaz, com severos prejuízos financeiros às indústrias de alimentos, à rede de distribuição e aos consumidores. Face a este contexto, às novas exigências sanitárias e aos requisitos de qualidade, ditados tanto pelo mercado interno quanto pelos principais mercados internacionais, o governo brasileiro, juntamente com a iniciativa privada, vem desenvolvendo, desde 1991, a implantação em caráter experimental do Sistema de Prevenção e Controle, com base na Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle- APPCC, do inglês "HAZARD ANALYSIS AND CRITICAL CONTROL POINTS - HACCP". Este Sistema é uma abordagem científica e sistemática para o controle de processo, elaborado para prevenir a ocorrência de problemas, assegurando que os controles são aplicados em determinadas etapas no sistema de produção de alimentos, onde possam ocorrer perigos ou situações críticas. Este Sistema, hoje adotado pelos principais mercados mundiais, basicamente assegura que os produtos industrializados: a) sejam elaborados sem riscos à saúde pública; b) apresentem padrões uniformes de identidade e qualidade; 38 c) atendam às legislações nacionais e internacionais, no que tange aos aspectos sanitários de qualidade e de integridade econômica. Os sistemas tradicionais de Inspeção e Controle da Qualidade, face às necessidades de melhorarem seu desempenho quanto à eficiência, eficácia e relevância social na atividade de assegurar a qualidade dos alimentos, dentro de um sistema de gerenciamento da qualidade do processo industrial, passarão a utilizar como meio auxiliar este Sistema, que pela sua concepção e filosofia, além de assegurar os objetivos propostos, torna mais eficaz o Serviço de Inspeção Federal. Cabe destacar que o APPCC não é um Sistema de Inspeção. 2.4.1 Breve histórico O sistema APPCC (Avaliação de Perigos e Pontos Críticos de Controle), cuja sigla original em inglês é HACCP (Hazard Analisys and Critical Control Points) – pronuncia-se “Rassap” – teve sua origem na década de 50 em indústrias químicas na Grã-Bretanha e, nos anos 60 e 70, foi extensivamente usado nas plantas de energia nuclear e adaptado para a área de alimentos pela empresa americana Pillsbury Company, a pedido da NASA, que tinha duas grandes preocupações: A primeira se relacionava com os problemas que poderiam ocorrer com partículas de alimentos, migalhas flutuando na cápsula espacial em condições de gravidade zero. Essas migalhas poderiam danificar ou causar interferências nos sofisticados equipamentos eletrônicos. A segunda preocupação dizia respeito à inocuidade dos alimentos que seriam consumidos pelos astronautas, pois em nenhuma hipótese as suas refeições poderiam veicular qualquer tipo de DTA (Doença Transmitida por Alimentos). O problema das migalhas foi superado pelo desenvolvimento de embalagens especiais, e o de possíveis DTAs com a utilização do sistema APPCC, concebido especialmente para prevenir ou minimizar riscos alimentares. O conceito do APPCC foi apresentado ao público em 1971 pela Pillsbury, na Conferência Nacional sobre Proteção de Alimentos (APHA, 1972), e nos anos seguintes, a U.S. Food and Drug Administration (FDA) iniciou o treinamento de seus inspetores e dos processadores de alimento de baixa acidez, nos princípios do APPCC (ALMEIDA, 1998). 39 Mas foi somente em 1985 que a National Academy of Science dos EUA recomendou aos fabricantes de alimentos que adotassem o sistema APPCC, como uma forma de garantir a segurança de seus produtos. Em 1988, a International Comission on Microbiological Especification for Foods (ICMSF) publicou, por solicitação da Organização Mundial da Saúde (OMS), um livro sobre o assunto, que resultou na estruturação da técnica na forma atualmente aplicada, com os princípios alocados em sete passos (ICMSF, 1997). Em 1993, a comissão do Codex Alimentarius reconheceu a importância do HACCP passando a divulgar e recomendar a aplicação da metodologia (CODEX, 1997). O governo brasileiro, por intermédio do Ministério da Saúde, publicou em novembro do mesmo ano a Portaria n°1428/93 que estipulava que todos os estabelecimentos que trabalham com alimentos seriam obrigados a adotar a sistemática de controle preconizada pelo Método APPCC (BRASIL, 1993). 2.4.2 Definições associadas ao sistema APPCC Ações corretivas – são os procedimentos a serem tomados quando o resultado do monitoramento de um Ponto Crítico de Controle (PCC) indicar que o valor da variável adotada como critério de qualidade encontra-se fora dos limites estabelecidos (limitescríticos). Alimento seguro – alimento que não apresenta risco ao consumidor. Análise de perigos – consiste na identificação e avaliação de perigos potenciais, de natureza física, química e biológica, que representam riscos à saúde do consumidor. Árvore decisória – diagrama que representa a sequência de questões para determinação dos Pontos Críticos de Controle (PCCs). Critérios – são os requisitos que orientam a tomada de decisão em cada PCC. Podem ser usados parâmetros como: tempo, temperatura, pH, teor de sal, concentração de ácido acético, ensaios microbiológicos e avaliações sensoriais, dentre outros. Desvios – representam falha no cumprimento ou não atendimento aos limites críticos. 40 Limite crítico – é o valor ou atributo estabelecido (máximo e/ou mínimo), que não deve ser excedido, no controle do ponto crítico. Quando não atendido, significa impossibilidade de garantia da segurança do alimento em questão. O limite crítico deve ser mensurável, não pode ser um intervalo e as decisões não devem ser baseadas em critérios subjetivos. Limite de segurança – é o valor ou atributo próximo ao limite crítico, que deve ser adotado como medida de segurança para reduzir a possibilidade de ultrapassá-lo. Medida de controle (medida preventiva) – toda ação ou atividade que pode ser utilizada para prevenir ou eliminar um perigo à segurança do consumidor ou reduzi-lo a um nível aceitável. Monitoração – sequência planejada de observações ou medidas para assegurar que um PCC esteja sob controle. Os procedimentos de monitoração devem ser bem diferenciados dos de verificação. A monitoração é executada para identificar possíveis desvios dos limites críticos, e pode ser contínua (em 100% dos produtos) ou intermitente (amostragem). Já a verificação é realizada em uma etapa geralmenteposterior à aplicação das ações corretivas, e checa a eficiência tanto dos procedimentos de monitoração quanto das ações corretivas adotadas. Perigo – é uma contaminação inaceitável de natureza biológica, química ou física ou constituinte do alimento que pode causar dano à saúde ou à integridade do consumidor. Perigos de natureza biológica – incluem bactérias patogênicas (infecciosas ou toxigênicas), fungos, mofos, vírus, parasitas e peixes venenosos. Perigos de natureza física – incluem fragmentos de metal, vidro, farpas de madeira e pedras. Podem cortar a boca, quebrar os dentes, causar choque ou perfurar o trato gastrointestinal. Perigos de natureza química – incluem pesticidas, produtos de limpeza, antibióticos, metais pesados, tintas, óleos lubrificantes, aditivos acima das concentrações permitidas pela legislação específica. 41 Perigo significativo – é um perigo de ocorrência possível e/ou com potencial para resultar em risco inaceitável. Plano APPCC – É o documento elaborado de forma clara e detalhada para um determinado produto, de acordo com a sequência lógica do processo produtivo, que apresenta todas as etapas e justificativas para sua estruturação. Ponto Crítico de Controle (PCC) – ponto, etapa ou procedimento no qual uma medida de controle pode ser aplicada e um perigo pode ser eliminado, prevenido ou reduzido a níveis aceitáveis. Risco – estimativo da probabilidade (possibilidade) de ocorrência de um perigo ou ocorrência sequencial de vários perigos. Os graus de risco são classificados como alto, moderado, baixo e desprezível. Severidade – é a magnitude do perigo, ou grau de consequências, de um perigo. Pode ser classificada como alta, média ou baixa. Verificação – utilização de métodos, procedimentos ou testes, adicionais àqueles usados no monitoramento. Verificação difere de monitoração, pois não permite a tomada imediata de ações corretivas. 2.4.3 Pré-requisitos O sistema APPCC tem como pré-requisitos as Boas Práticas de Fabricação (BPF), os Procedimentos Operacionais Padronizados (POP’s) e os Procedimentos Padrão de Higiene Operacional (PPHO). A implementação desses procedimentos são capazes de controlar perigos potenciais Esses pré-requisitos atuam sobre perigos potenciais à segurança do alimento desde a obtenção das matérias-primas até o consumo, estabelecendo em determinadas etapas as medidas de controle e monitoração que garantem, ao final do processo, a obtenção de um alimento seguro e com qualidade. A Portaria 368, do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento / MAPA aborda especificamente as BPF ao aprovar o Regulamento Técnico sobre as condições higiênico sanitárias e de Boas Práticas para estabelecimentos industrializadores de alimentos (BRASIL, 1997). A Portaria 326, de 1997, do Ministério da Saúde (BRASIL, 1997), 42 exige para estabelecimentos produtores / industrializadores de alimentos o manual de BPF, e sugere os PPHO para que estes facilitem e padronizem a montagem do manual de BPF. As duas Portarias são muito semelhantes. Os PPHO preconizados pelo FDA (Food and Drug Administration) constituíam, até outubro de 2002, a referência para o controle de procedimentos de higiene, até que a Resolução 275 da ANVISA estabeleceu, no Brasil, os POPs (Procedimentos Operacionais Padronizados), que vão um pouco além do simples controle de higiene. São definidos como procedimentos escritos de forma objetiva que estabelecem instruções sequenciais para a realização de operações rotineiras e específicas na produção, armazenamento e transporte de alimentos (BRASIL, 2002). A partir da data de publicação desta Resolução, os estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos ficaram incumbidos de elaborar, implementar e manter para cada item relacionado abaixo, os respectivos POPs. Higienização das instalações, equipamentos, móveis e utensílios; Controle da potabilidade da água; Higiene e saúde dos manipuladores; Manejo dos resíduos; Manutenção preventiva e calibração de equipamentos; Controle integrado de vetores e pragas urbanas; Seleção das matérias-primas, ingredientes e embalagens; Programa de recolhimento de alimentos. 2.4.4 Os sete princípios do sistema APPCC Os sete princípios apresentados a seguir orientam a sequência lógica na elaboração do plano APPCC. 2.4.4.1 Princípio 1: identificação e avaliação dos perigos – medidas preventivas O primeiro princípio corresponde à coleta e avaliação de informações a respeito de perigos significativos para a segurança do alimento e das condições que favorecem sua presença. Os perigos que causam danos à saúde ou à integridade do consumidor podem ser de origem química, física ou biológica, porém, os perigos microbiológicos devem ser 43 considerados prioritariamente, pois estão relacionados à doenças transmitidas por alimentos (DTAs). Para a identificação dos perigos podem ser utilizados dados epidemiológicos, consultas bibliográficas, informações técnicas de todos os aspectos relacionados com a produção, processamento, estocagem, distribuição e uso do produto. Esta etapa representa a base para identificação dos Pontos Críticos de Controle (PCC) e visa, também, estabelecer as medidas preventivas cabíveis (ICMSF, 1997). Para orientar o trabalho todo o processo deve ser examinado e várias perguntas podem feitas em relação ao produto: Quais são os ingredientes que fazem parte da formulação? Qual o perfil microbiológico das matérias-primas? São usados conservantes? Quais? Qual o pH? Qual o valor da atividade da água (Aa)? Quais são as técnicas de conservação utilizadas (pasteurização, esterilização, desidratação, refrigeração, congelamento, fermentação, etc.)? Quais as condições para distribuição e uso? O produto deve ser mantido em temperatura ambiente, congelado, sob refrigeração ou aquecido? A embalagem é adequada para manter a estabilidade do produto? Qual o tempo de vida de prateleira pretendido? Considerar os prazos para distribuição, armazenamento/exposição e em poder do consumidor. Quais são as falhas que podem ocorrer durante a comercialização ou nas mãos do consumidor? O produto será consumido por uma população sensível (crianças, idosos ou pessoas enfermas)? Avaliação dos perigos – para ter significado, a identificação dos perigos deve ser acompanhada da determinação do risco e da severidade. O risco significa a probabilidade (possibilidade) da ocorrência do perigo. Pode ser classificado como baixo, médio ou alto. Perguntas úteis para avaliar o tipo de risco: Está sempre presente? Poderá ocorrer algum dia? Essas características influenciam na multiplicação de microrganismos infecciosos ou toxigênicos. 44 Informações sobre devolução ou apreensão de lotes, laudos de análises laboratoriais, relatório de reclamações por parte dos consumidores também são importantes para a determinação da frequência dos riscos. Dados epidemiológicos comprovam que os perigos de natureza biológica representam maior risco para grupos de consumidores, em comparação com os perigos físicos, que costumam afetar as pessoas individualmente. A severidade diz respeito à magnitude do perigo, que pode ser alta, média ou baixa. Por exemplo, no caso de perigos microbiológicos: Alta: contaminações que conduzem a quadros clínicos graves (Clostridium botulinum, Salmonella typhi, C. perfringens tipo C, Listeria monocytogenes, vírus da hepatite). Média: contaminações causadas por microrganismos de patogenicidade
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