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Nós somos a paisagem

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NÓS SOMOS A PAISAGEM 
 
 
Como interpretar a 
Convenção Europeia da Paisagem 
 
 
 
 
 
 
¤ 
 
 
 
{tradução adaptada} 
versão portuguesa 
© MAPa2012 
 
Texto: Sara Di Maio e Cecilia Berengo 
em colaboração com 
Riccardo Priore e Damiano Gallà 
 
 
¤ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MAPa2012 SETEMBRO, 2011
i 
ÍNDICE 
 
 
INTRODUÇÃO 
O que é a paisagem?................................................................................................................................1 
Uma paisagem em 4000 fotos .................................................................................................................2 
 
COMO PERCEBEMOS A PAISAGEM 
Algo que nasce e se transforma ..............................................................................................................3 
Algumas ideias sobre o verbo “perceber” ...............................................................................................3 
Paisagem, panorama ou meio? ...............................................................................................................5 
O que é a paisagem?................................................................................................................................6 
Porque é importante a paisagem? ..........................................................................................................7 
 
QUEM DEFENDE A PAISAGEM? 
Uma legislação para a Europa .................................................................................................................9 
A Convenção Europeia da Paisagem......................................................................................................10 
Algo mais do que um postal ..................................................................................................................11 
O Conselho da Europa ...........................................................................................................................11 
 
A PAISAGEM É COMO O AR QUE RESPIRAMOS 
Paisagens excepcionais e paisagens quotidianas ..................................................................................13 
As redes europeias encarregadas da aplicação da Convenção Europeia da Paisagem .........................14 
Todos desempenhamos um papel.........................................................................................................15 
Muitas histórias e muitos protagonistas ...............................................................................................16 
Firmeza, utilidade e beleza ....................................................................................................................16 
 
AS REGRAS DO JOGO 
Construirmos o futuro ...........................................................................................................................19 
A qualidade da paisagem.......................................................................................................................19 
Um desenvolvimento sustentável .........................................................................................................20 
 
COMO PODEMOS PARTICIPAR? 
O princípio de subsidiariedade ..............................................................................................................22 
Conclusões.............................................................................................................................................22 
 
CONVENÇÃO EUROPEIA DA PAISAGEM 
Preâmbulo .............................................................................................................................................24 
CAPÍTULO I .............................................................................................................................................25 
Disposições gerais..................................................................................................................................25 
CAPÍTULO II ............................................................................................................................................26 
Medidas nacionais .................................................................................................................................26 
CAPÍTULO III ...........................................................................................................................................28 
Cooperação europeia ............................................................................................................................28 
CAPÍTULO IV...........................................................................................................................................30 
Disposições finais...................................................................................................................................30 
 
NÃO ME APETECE LER… VOU VER UM FILME 
Paisagem e Sociedade ...........................................................................................................................34 
Paisagens Quotidianas...........................................................................................................................34 
A Celebração da Paisagem.....................................................................................................................35 
Documentários ......................................................................................................................................36 
 
Referências Bibliográficas......................................................................................................................37 
Referências a páginas da web................................................................................................................37 
1 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
 
O que é a paisagem? 
 
 
A paisagem… Não há dúvida que é uma palavra que ouvimos muitas vezes, uma 
palavra que podemos dizer que conhecemos… mas saberíamos responder à pergunta 
“O que é uma paisagem?” Ainda que pareça fácil, não é. Porém, não há dia em que 
não nos relacionemos com ela. A paisagem é aquilo que vemos cada manhã ao sair de 
casa, a caminho da escola, quando vamos a algum lado de carro ou de autocarro. Esse 
percurso que fazemos todos os dias insere-se inevitavelmente numa paisagem. E não 
só. O que vemos quando olhamos pela janela do nosso quarto? Edifícios, ruas, árvores, 
jardins, fábricas, monumentos, construções, guindastes, pessoas, automóveis, a linha 
do comboio… Paremos um instante a observar e a reflectir sobre o que temos diante 
de nós. Tudo isso é a paisagem! 
 
Se repararmos no que está à nossa volta, percebermos que estamos rodeados 
de paisagens, algumas de uma beleza excepcional, outras degradadas ou 
abandonadas. Quer seja uma paisagem silenciosa de campos cultivados, uma paisagem 
caótica de uma zona industrial periférica, ou as ruas barulhentas e cheias gente do 
centro da cidade, é sempre um caso complexo em que a natureza fornece a matéria 
prima e os humanos modificam-na e enriquecem-na ao longo da história. O ser 
humano é quem introduz as mudanças mais profundas no meio que habita, ao longo 
dos anos. Passa-se mais ou menos o mesmo com o nosso quarto, que no fim de contas 
não deixa de ser uma “mini-paisagem”, com os seus móveis e objectos. Quantas vezes 
mudaste de lugar os posters da parede do teu quarto, ou os objectos que tens no teu 
escritório? Alguns desses objectos, os mais pesados e difíceis de mover, ficam mais 
tempo no mesmo sítio (é possível que os tenhas desde sempre e que os vejas como 
objectos especialmente vinculados a ti); outros vão e vêm; e outros vão-se 
acumulando como partes visíveis do tempo que vai passando.O mesmo acontece com 
as rochas, cuja idade os cientistas podem calcular observando a forma como se 
deslocam ou variam os seus elementos com o tempo. Resumindo, a primeira coisa que 
podemos dizer sobre a paisagem é que ela é independente do lugar onde fixamos o 
nosso olhar – nos pequenos espaços da vida quotidiana ou nos grandes cenários da 
nossa cidade, dos nossos campos, das nossas montanhas ou das nossas costas – o 
território que nos rodeia vai sempre oferecer-nos uma paisagem. Essa paisagem, por 
vezes vai agradar-nos, fascinar-nos, animar-nos, e outras vezes vai aborrecer-nos ou 
desiludir-nos; ou então, pode ser uma paisagem que não nos diga absolutamente nada 
e nos deixe indiferentes. Podemos começar esta pequena viagem através da paisagem 
e dos seus significados, com vontade de compreender porquê e como acontece tudo 
isto. 
2 
Uma paisagem em 4000 fotos 
 
 
Estamos em Nova Iorque, no coração do Brooklyn. Os escritores Auggie (Harvey 
Keitel) e Paul (William Hurt) sentam-se numa mesa. Auggie está a mostrar a Paul um 
álbum com 4000 fotografias, tiradas dia após dia, em que se vê a esquina oposta ao 
local onde os dois amigos se encontram. Este fragmento de conversa é em grande 
parte inspirado numa das cenas do filme “Fumo” (Smoke, 1995), do realizador Wayne 
Wang. 
 
 
Paul: [Incrédulo] São todas iguais… 
Auggie: [Sorridente, com orgulho.] Exacto. Mais de quatro mil fotografias do 
mesmo sítio: a esquina entre a terceira rua e a sétima avenida às oito 
da manhã. Quatro mil dias seguidos, com todo o tipo de estado de 
tempo… 
…Por isso nunca posso tirar férias. Tenho de estar aqui todas as 
manhãs. Todas as manhãs, no mesmo lugar, à mesma hora. 
Paul: [Atónito, folheando uma página a seguir à outra.] Nunca vi nada assim. 
Auggie: É o meu projecto. Poderíamos chamá-lo de trabalho de uma vida. 
Paul: [Pousa o álbum e pega noutro. Passa as páginas e vê que é mais do 
mesmo. Desconcertado, abana a cabeça.] Impressionante! Mas não sei 
se entendo muito bem… Quer dizer, como é que te lembraste de fazer 
isto… deste projecto? 
Auggie: Não sei, surgiu. Afinal, esta é a minha esquina. É só uma pequena parte 
do mundo, mas aqui também se passam coisas, exactamente como 
em qualquer outro lugar. É um testemunho do meu pequeno sítio. 
Paul: [Passa as folhas do e abana outra vez a cabeça.] A verdade é que 
impressiona… 
Auggie: [Continua, sorrindo.] Nunca vais perceber se não abrandas, meu 
amigo! 
Paul: O que queres dizer? 
Auggie: Quero dizer que vais demasiado rápido. Mal olhas para as imagens… 
Paul: Mas são todas iguais! 
Auggie: São todas iguais, mas cada uma é diferente da outra. Há manhãs claras 
e manhãs escuras; a luz do Verão e a luz do Outono; dias da semana e 
de fim-de-semana; pessoas com gabardines e galochas e pessoas 
calções e t-shirt. Às vezes são as mesmas pessoas, às vezes são outras. 
Por vezes as que são outras, transformam-se nas mesmas e as 
mesmas desaparecem. A terra gira à volta do sol, e cada dia a luz do 
sol bate sobre a terra de um ângulo diferente. 
 Paul: [Levanta os olhos do álbum e olha para Auggie.] Abrandar, hã? 
Auggie: Essa é a minha recomendação. Tu sabes, amanhã, amanhã, amanha… 
O tempo passa no seu ritmo lento. 
 
 
 As fotos que Auggie tirou parecem todas iguais porque reproduzem 
diariamente o mesmo lugar, mas na realidade cada uma apresenta algo de diferente: 
as estações, as pessoas, os sinais do tempo, as modificações trazidas pelo passar dos 
anos… A esquina fotografada por Auggie é um recanto anónimo da cidade, um lugar 
sem nenhum valor especial ou significado aparente. Porém, é também uma paisagem, 
uma paisagem humana rica. 
 
3 
COMO PERCEBEMOS A PAISAGEM 
 
 
 
 
Algo que nasce e se transforma 
 
 
“A paisagem é uma entidade viva que muda com o tempo (…). Nasce, 
desenvolve-se e morre, depois de passar por períodos de feliz prosperidade, por 
longas épocas de estagnação, por crises inesperadas, por momentos de êxtase e 
catástrofe. É afectada pela tradição, pelas reformas, pelas revoluções, e a comunidade 
que a habita reconhece-se nela como um texto em perpétua mudança.” As palavras de 
Franco Zagari, um arquitecto estudioso da paisagem, podem parecer difíceis, mas 
transmitem uma ideia-chave: a paisagem é um texto. Um texto em continua evolução. 
A paisagem, na realidade, consiste na combinação de muitos elementos e, ao mesmo 
tempo, numa única entidade. É um pouco como a nossa linguagem, que é composta 
por muitas frases, cada uma delas formada por uma série de palavras: artigos, verbos, 
substantivos, preposições, adjectivos… Cada uma destas palavras tem um significado 
diferente, segundo o contexto em que a usamos. Se, além disso, inserimos essa 
palavra numa frase, estamos a criar algo distinto, um corpo de signos, de palavras que 
têm o seu próprio significado e que entendemos sem precisarmos de nenhuma 
explicação. Acontece exactamente o mesmo quando observamos uma imagem 
panorâmica de qualquer lugar que nos é familiar. O que percebemos não é cada 
fragmento em separado, mas o conjunto que estes elementos formam globalmente. 
 
 
 
Algumas ideias sobre o verbo “perceber” 
 
 
Vermos uma praia cheia de gente a falar, a ouvir música alto, a brincar no mar, 
dá-nos uma sensação totalmente distinta de vermos a mesma praia ao pôr-do-sol, 
quando ela está deserta e a única coisa que conseguimos escutar é o murmúrio das 
ondas. É por isso que quando observamos um monumento, não só o apreciamos só 
com a visão, mas também percebemos os sons que o rodeiam ou o silêncio que o 
envolve. Nunca nos ficamos só por aquilo que vemos, pela imagem em si. 
 
Experimenta olhar pela janela numa dessas manhãs de chuva em que a única 
coisa que te apetece é ficar em casa, e pensa sobre o que estás a ver. É o mesmo que 
viste no dia anterior quando, se calhar, até estava sol? A verdade é que o nosso estado 
de espírito também pode influenciar a imagem que formamos de um lugar, e isto é o 
que chamamos de percepção, termo que na prática significa “compreender com a 
ajuda dos sentidos”. A emoção – seja ela muita ou pouca – é aquilo que nos faz ver as 
4 
coisas de outra forma, com mais atenção, ao activar um mecanismo de 
reconhecimento que possivelmente não seria despertado de outra maneira. As 
emoções são o estímulo que desencadeia o processamento da informação (neste caso 
visual, isto é, os objectos que constituem a imagem que se forma diante dos nossos 
olhos: árvores, casas, estradas...). Este processo é o que nos permite reconhecer o 
mundo e atribuir-lhe um valor; bonito ou feio, familiar ou estranho, fazendo-nos sentir 
mais ou menos atraídos por ele. Por isso, a paisagem é o resultado da intervenção 
humana e do trajecto da natureza; mas também é o produto da nossa percepção. A 
paisagem só existe no momento em que alguém a observa e sente. Há muitos factores 
que podem influenciar a nossa maneira de sentir e de recordar uma paisagem, entre 
eles a parte do nosso estado de espírito no momento em que a observamos ou a ideia 
que temos dela a partir da nossa própria cultura. Alguém que observa o Coliseu sem 
saber quem foram os antigos romanos, possivelmente não sente nada em absoluto. As 
paisagens agradáveis, aquelas que valorizamos positivamente, são lugares que nos 
transmitem uma sensação de bem-estar físico ou mental. Quando gostamos da nossa 
cidade é porque a vida nela nos parece cómoda, porque nos movimentamos de um 
lugar para o outro sem dificuldade, porque temos supermercados e serviços sempre à 
mão, porque temos espaços onde nos encontrar com os nossos amigos, onde praticar 
desporto, onde ir ao cinema… Mas, ainda mais, gostamos das ruas por onde andamos, 
dos lugares onde nos juntamos, do jardim que vemos a partir da nossa janela. Tudo 
isto nos transmite uma sensação de familiaridade e segurança, que nos dá paz e 
harmonia.À medida que crescemos, com o passar do tempo, as nossas necessidades 
mudam, da mesma forma que muda o mundo à nossa volta. Mudamos de casa e 
mudam as ruas que percorremos a cada dia; já não saímos para brincar no parque, 
mas vamos antes ao café ou encontramo-nos no centro com os nossos amigos; com 
uma bicicleta ou uma mota, podemos deslocar-nos para outros lugares fora da nossa 
zona habitual. Com isto, muda também a maneira como percebemos a paisagem, a 
maneira como vemos e compreendemos os elementos que a constituem. Vamos 
tentar imaginar este processo de mudança numa escala maior, e em vez de nos 
vermos só a nós mesmos e às nossas vidas, vamos tentar abranger um período de 
tempo mais amplo. Pensemos, por exemplo, como viviam os nossos avós e em como 
eles entendiam os lugares que os rodeavam. Possivelmente para eles, um campo de 
trigo não era mais do que um local de trabalho, o resultado de duros esforços de todo 
um ano, da mesma forma que as obras duma nova estrada certamente significava um 
grande avanço, uma melhoria na qualidade de vida e uma imagem de modernidade. 
Hoje em dia, para nós, um campo de trigo pode ser uma bela e emotiva imagem, e 
uma obra transmite-nos a ideia de ruído, confusão e mal-estar. Resumindo, a 
interpretação de uma paisagem depende em grande parte da cultura de cada país e do 
período histórico que atravessa uma sociedade em particular. 
 
 
 
 
 
 
5 
Paisagem, panorama ou meio? 
 
 
Antigamente, a ideia de paisagem estava muito vinculada à sua imagem, ao 
conceito de beleza, ao efeito visual gerado por uma vista bonita. A visão, como tal, é o 
primeiro sentido que empregamos para compreendermos um lugar, para atribuirmos 
um significado e um valor àquilo que temos diante dos nossos olhos. Esta forma de 
pensar considerava como paisagens só aqueles lugares de grande beleza, quer fosse 
uma beleza natural quer fosse construída pelo Homem. Nos últimos anos, sobretudo 
no norte da Europa, a emergência de uma cultura da ecologia e das preocupações 
ambientais estabeleceu que começássemos a identificar a paisagem como algo muito 
mais complexo, como um ecossistema. Esta forma distinta de ver o mundo pôs em 
relevo a relação entre seres vivos (tanto humanos como animais) e o meio em que 
estes viviam, que passou a ser concebido de uma forma mais científica e naturalista: 
um campo é um espaço formado por terra e plantas; uma montanha constrói-se a 
partir de diversos tipos de rochas sobre as quais crescem determinadas árvores ou 
arbustos; um edifício é o produto de uma acção humana que consiste na sobreposição 
de cimento e tijolo; e assim sucessivamente. 
 
Isto também se reflecte na forma das pessoas percebem a paisagem: é o que é, 
e não o que aparenta ser, uma vez que depende da sensibilidade dos indivíduos que a 
observam e não apenas da natureza do próprio lugar. Esta maneira de conceber a 
paisagem atribui muita importância ao meio ambiente, entendido como um lugar que 
devemos proteger e salvaguardar, que não devemos contaminar e com o qual não se 
deve interferir. Porém, nenhum destes dois pontos de vista, nem o que se concentra 
na beleza – mais clássico, ligado ao passado dos países mediterrâneos – como o que se 
concentra mais no meio ambiente – típico do norte da Europa –, tem em conta os 
processos cognitivos, ou seja, os mecanismos que actuam na nossa forma de entender 
as coisas: como nós compomos uma ideia sobre o que temos diante de nós. Estes 
mecanismos baseiam-se na nossa cultura, na nossa forma de pensar e na nossa 
inteligência. Acontece o mesmo quando, por exemplo, ouvimos alguém pronunciar 
uma frase. Não só ouvimos o som, como também entendemos o seu significado, o que 
se deve a sermos capazes de compreender tanto o significado de cada uma das 
palavras em separado como o sentido que estas adquirem todas juntas, ou seja, a 
frase completa. Ambas as interpretações do que constitui uma paisagem são, por isso, 
apenas verdades parciais. A paisagem é uma entidade muito mais complexa, formada 
por bosques, rios, montanhas, edifícios, pontes… As emoções, tanto as nossas como as 
da comunidade em que vivemos, filtram e modificam todos estes elementos. Quando 
observamos um lugar, reconhecemos estruturas territoriais e ambientais (os 
elementos da natureza, a estratificação das rochas, os componentes humanos), mas 
acima de tudo isto, ela desperta de alguma forma os nossos sentidos. É assim que, em 
cada momento, percebemos algo que nos parece único, belo, feio ou familiar. 
Podemos dizer que a paisagem é o território que existe e contém significado e valor 
através dos olhos das pessoas que nela habitam e das pessoas que por ela passam. Os 
nossos olhos! 
 
 
6 
O que é a paisagem? 
 
 
Agora que já sabemos mais algumas coisas, podemos tentar responder à 
pergunta que colocamos no início deste texto: “O que é a paisagem?”. 
 
Se analisarmos as respostas que os outros deram a esta pergunta antes de nós, 
descobrimos uma grande variedade de definições. Algumas dão mais importância aos 
aspectos históricos; outras aos ambientais; aos sociais ou aos emocionais. Ainda assim, 
todas são definições válidas e importantes, uma vez que cada uma delas pode 
manifestar um aspecto significativo. Lê as definições e decide qual se ajusta mais à tua 
ideia de paisagem. Se achares bem, podes também dar a tua própria definição. 
 
 
 A paisagem compõem-se dos traços visíveis de uma superfície 
de terra, que incluem elementos físicos como o relevo, elementos 
vivos que fazem parte da flora e da fauna, elementos abstractos como 
a luz e as condições meteorológicas e elementos humanos como a 
actividade humana e o meio construído. 
 [in Wikipédia – http://pt.wikipedia.org] 
 
 
 Paisagem significa uma grande superfície de campo, sobre 
tudo com respeito ao seu aspecto. 
[in Cambridge Dictionairies Online – http://dictionary.cambridge.org] 
 
 
Paisagem significa todos os traços visíveis numa superfície de 
terra. 
[in Oxford Dictionaries Online – http://www.askoxford.com] 
 
 
 
Se analisarmos tudo o que dissemos até agora, podemos concluir que a paisagem é: 
 
 
• Em termos gerais, uma grande superfície formada por elementos naturais 
(como montanhas, rios e árvores) e elementos humanos (como fábricas e 
monumentos históricos). É, portanto, uma realidade física que podemos tocar e 
sobre a qual podemos caminhar. É a visão de uma área com todos os 
elementos que a natureza criou e alterou e que o ser humano modelou e 
transformou. Mas, acima de tudo, para cada um de nós, a paisagem é também 
o sentimento que essa visão provoca (quer se trate de montanhas em flor, 
duma praia, duma praça com uma velha igreja ou do nosso antigo bairro), uma 
sensação que faz parte dessa paisagem concreta. 
 
• Um conjunto de elementos, tanto físicos como imateriais, em contínua 
mudança. Quando ordenamos alguns objectos de uso quotidiano (como um 
7 
caneta, um porta-chaves, um vaso, um livro, um telemóvel, uma lâmpada) 
numa estante ou no nosso escritório, consoante a forma como os colocámos, 
podemos perceber, além dos objectos em si, também a relação que se 
estabelece entre eles, por exemplo, as suas cores ou feitios, ou a maneira como 
estão dispostos. A soma das partes é o que nos faz ver essa estante de um 
modo distinto, como algo que passa de ser um simples portador de objectos 
para se transformar numa parte integrante do contexto dos objectos que 
contém. Pois bem, a paisagem é como as diferentes possibilidades de 
ordenação desses objectos na estante: muda constantemente, tal como a 
nossa percepção dos seus elementos e do seu todo também muda. 
 
• Um produto da sociedade. É uma projecção cultural, a partir do ponto de vista 
material, espiritual, ideológico e simbólico de uma sociedade, sobre um 
determinado espaço. 
 
• Um bem que tem um valorinerente. 
 
• O fruto do desenvolvimento e das mudanças contínuas da sociedade, que 
reflecte a forma de vida de todos os que a vivem e que influencia o seu bem-
estar, tanto individual como colectivo. 
 
• A memória do nosso passado e a base para o nosso futuro. 
 
• Uma espécie de quebra-cabeças, um jogo que consiste num rede de sinais, 
pistas e pegadas que o explorador, empreendedor duma fabulosa viagem ao 
longo da sua história, deve descobrir com o seu olhar observador. 
 
 
Porque é importante a paisagem? 
 
 
Os termos paisagem e terra têm a mesma origem, já que estão estreitamente 
vinculados; uma paisagem é habitualmente a imagem de um determinado país (a 
terra). Um arranha-céu faz-nos pensar imediatamente em Nova Iorque, tal como o 
deserto e as dunas nos transportam para a região do Saara, ou as praias de areia 
branca nos remetem para as ilhas das Caraíbas. 
Lembremo-nos da sensação de fascínio que nos desperta uma vila à beira-mar, 
com as suas casas típicas, os seus barcos pintados, a sua gente com as barracas de 
peixe e o seu modo de vida. Porém, o que vemos significa muito mais do que parece. 
As redes e as embarcações constituem também uma fonte de rendimento para as 
pessoas da vila, da mesma forma que os cereais e os girassóis que enfeitam os campos 
permitem que os agricultores que os cultivam ganhem a vida. Para não dizer que 
muitas regiões retiram toda a sua riqueza directamente da paisagem, através do seu 
cuidado e da sua promoção como atractivo turístico. Em resumo, se como vimos até 
agora, a partir da paisagem podemos entender grande parte da história e das 
condições económicas duma sociedade, podemos então imaginá-la como uma espécie 
8 
de código genético de uma região. O centro duma cidade, os arredores, uma pequena 
estrada secundária ou as montanhas cultivadas e sarapintadas de casas, são tudo 
reflexo da sociedade que as habita e da comunidade que nelas se expande, da 
protecção que essa mesma comunidade tem para com o seu território. A paisagem é 
um elemento fundamental do bem-estar individual e colectivo, e uma paisagem bem 
tratada é uma demonstração de civilidade. A qualidade da paisagem deve ser um 
direito de todos: o direito a usufruir de paisagens não degradadas, agraváveis e 
harmoniosas, que representem as pessoas que vivem nelas e as pessoas que as 
criaram. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
QUEM DEFENDE A PAISAGEM? 
 
 
 
 
Uma legislação para a Europa 
 
 
Nos últimos anos foi sendo generalizada a ideia da importância da paisagem, da 
necessidade de a reconhecer, de a proteger, de geri-la e renová-la por reconhecermos 
que ela tem grande valor para a nossa vida. Tanto é que, com o objectivo de 
consciencializar a sociedade, alguns estados decidiram criar uma legislação específica 
sobre esta matéria. Foi assim que nasceu a Convenção Europeia da Paisagem (ou, 
simplesmente, CEP). Em termos gerais, uma convenção é um acordo entre dois ou 
mais estados sobre determinados problemas ou assuntos de importância, que estes 
mesmos estados decidem abordar em conjunto. Pode também definir-se como um 
“pacto”. As convenções devem ser redigidas por escrito, para que se possam 
estabelecer melhor as condições do acordo e, sobretudo, para que se evite qualquer 
problema ou disputa no futuro. Isto implica que todas as partes envolvidas, como 
acontece com toda a legislação autêntica e verdadeira, assinem e concebam leis 
específicas de acordo os seus princípios. A ideia de elaborar uma convenção sobre a 
paisagem surgiu no seio do Concelho da Europa, uma grande organização internacional 
com sede em Estrasburgo (França), ao qual pertencem mais de 47 países europeus, de 
dentro e fora da União Europeia. 
 
As convenções redigidas pelo Conselho da Europa consistem em tratados 
internacionais, que impõem obrigações a todos os estados assinantes. Assim, por 
exemplo, a Convenção Para a Protecção dos Direitos Humanos e das Liberdades 
Fundamentais, entre outras coisas, proíbe a tortura, protege o direito à vida e tenta 
garantir que qualquer pessoa acusada de um delito tenha acesso a um julgamento 
justo. Os estados assinantes desta Convenção, comprometeram-se a debatê-la no seio 
dos seus respectivos governos e a desenvolver legislação pertinente para a defesa 
destes direitos básicos. Mas cada país fá-lo (ou fê-lo) de maneira diferente. Às vezes, 
há países que desenvolvem expressamente uma nova legislação; outros países incluem 
já normas deste género nas suas constituições; outros, não têm qualquer tipo de 
legislação a este respeito. Algumas convenções são de interesse universal e outras têm 
um raio de acção mais local. Assim que o Conselho da Europa aprova uma convenção, 
esta pode ser assinada pelos vários estados que, em consequência, se comprometem a 
aplicá-la no seu próprio território. 
 
 
10 
 
A Convenção Europeia da Paisagem 
 
 
A Convenção Europeia da Paisagem – conhecida também como Convenção de 
Florença, porque foi assinada nesta cidade italiana a 20 de Outubro de 2000 – surgiu 
na base de um projecto do Congresso de Poderes Locais e Regionais da Europa, 
entidade que representa os interesses das regiões e comunidades de toda a Europa. 
Na Convenção estabeleceram-se uma série de princípios que obrigam os estados 
aderentes a adoptarem políticas que promovam a qualidade da paisagem, assim como 
a fazerem participar todas as pessoas afectadas pelas decisões que dizem respeito ao 
seu território. Também se propuseram a aumentar a consciencialização civil sobre o 
valor das paisagens em que vivemos no dia a dia. A Convenção empenha-se pelo 
direito das pessoas se identificarem com a sua paisagem e pela sua obrigação de a 
cuidar. 
 
A história da Convenção Europeia da Paisagem é a história do encontro e união 
de duas iniciativas, uma do norte da Europa e outra do sul. Há alguns anos, uma série 
de organizações e estados do norte da Europa começaram a analisar a possibilidade de 
elaborar uma convenção para a protecção de paisagens rurais. Para o efeito, algumas 
regiões do sul da Europa (Andaluzia, em Espanha; Languedoque-Rossilhão, em França; 
e Toscana, em Itália) redigiram a Carta da Paisagem Mediterrânea, que aprovaram 
numa conferência organizada na cidade espanhola de Sevilha em 1993. Neste 
documento, que logo viria a ser conhecido por Carta de Sevilha, a paisagem define-se 
como “a expressão tangível da relação espacial e temporal entre indivíduos e 
sociedades e o seu meio físico, com maior ou menor intensidade, modelada pelos 
factores socais, económicos e culturais. A paisagem é, desde logo, o resultado da 
combinação de aspectos naturais, culturais, históricos, funcionais e visuais”, ou seja, 
algo muito concreto que temos perante os nossos olhos e que é o testemunho da 
história (relação temporal) de como vive uma comunidade e do meio natural. Em 1994 
o Congresso de Poderes Locais e Regionais do Conselho da Europa decidiu organizar 
um grupo de trabalho com o objectivo de redigir uma convenção sobre a paisagem 
que reunisse estas duas iniciativas (a do norte e a do sul da Europa). Este grupo 
acordou redigir uma convenção que seria de aplicação a todas as paisagens e que 
envolveria todos os cidadãos e todos os governos. No dia 1 de Março de 2004, a 
Convenção Europeia da Paisagem entrou em vigor em todos os países que a 
assinaram. 
 
 
 
 
 
 
 
11 
Algo mais do que um postal 
 
 
A Convenção constitui uma autêntica e total revolução. Com ela, a paisagem 
deixa de ser simplesmente o olhar, a vista panorâmica, a imagem bela de postal que 
todos queremos fotografar, e converte-se também no resto do território que nos 
rodeia, o território que nós, como habitantes, turistas ou viajantes consideramos 
importante, independentemente deste nos parecerbelo ou feio. A convenção define a 
paisagem de uma forma totalmente nova: 
 
 
“Paisagem” designa uma parte do território, tal como é 
apreendida pelas populações, cujo carácter resulta da acção e da 
interacção de factores naturais e ou humanos. 
[Artigo 1.º da Convenção Europeia da Paisagem] 
 
 
Trata-se de um bem, tanto económico como cultural, finalmente protegido por 
um estatuto legal que abrange praticamente todo o território; é uma entidade viva e 
activa que situa a comunidade no centro de um cenário, regulado por um projecto que 
não só pretende a sua protecção, como também a sua gestão e a renovação. A 
convenção é a prova de que as paisagens europeias estão no centro dum interesse 
político renovado e que existe o desejo de intervir, proteger, questionar e dar vida a 
novos projectos paisagísticos. 
 
 
O Conselho da Europa 
 
 
O Concelho da Europa é uma organização internacional com sede em 
Estrasburgo (França). Foi estabelecido a 5 de Maio de 1949, com o objectivo de 
criar um espaço onde se possam debater democraticamente todos os temas 
relacionados com a Convenção Europeia Sobre os Direitos Humanos e quaisquer 
outros relativos à protecção individual das pessoas. O trabalho do Conselho da 
Europa consiste em proteger os direitos humanos e a democracia, além de 
fomentar e estimular o conhecimento da diversidade e da identidade cultural 
europeias. Isto implica tratar de encontrar soluções comuns para problemas 
sociais, como por exemplo a descriminação das minorias, a xenofobia, a 
intolerância, o terrorismo, a corrupção e o crime organizado ou os maus-tratos a 
menores. Uma vez que a paisagem constitui uma componente básica do 
património natural e cultural europeu e contribui para o bem-estar e para a 
felicidade dos seres humanos e para a consolidação da identidade europeia, o 
Conselho da Europa decidiu criar um instrumento dedicado exclusivamente à 
paisagem e aos seus problemas: a Convenção Europeia da Paisagem. 
 
12 
A PAISAGEM É COMO O AR QUE RESPIRAMOS 
 
 
 
 Cada parte compromete-se a reconhecer juridicamente a 
paisagem como uma componente essencial do ambiente 
humano, uma expressão da diversidade do seu património 
comum cultural e natural e base da sua identidade. 
[Artigo 5.º da Convenção Europeia da Paisagem] 
 
 
 
Que significa este artigo da Convenção? À primeira vista pode parecer difícil de 
entender, mas o que quer dizer é que todos os estados que aceitarem a Convenção 
estão a reconhecer o valor essencial da paisagem, e que a paisagem é um elemento 
básico necessário à vida humana. É o mesmo valor que se reconhece, por exemplo, ao 
ar que respiramos. Todos precisamos de ar para viver; e para vivermos bem, esse ar 
deve ser puro. Temos ar a toda a nossa volta, e para o proteger concerteza não nos 
ocorreria isolarmos um pedaço de atmosfera com ar lá dentro. Mas sim, o que 
podemos fazer é estabelecer certas normas para evitarmos contaminá-lo ou para lhe 
causarmos cada vez menos danos. Assim, o ar que respiramos na nossa cidade é 
controlado periodicamente, e algumas autarquias tentam evitar a sua contaminação 
estabelecendo medidas como dias semanais ou mensais em que não se autoriza a 
circulação de veículos motorizados em determinadas zonas. Também se estabelecem 
normas de aplicação industrial, para que as fábricas não emitam gases nocivos ou 
outras partículas contaminadoras, para que produzam carros com emissões de 
carbono cada vez mais baixas, ou para que procurem utilizar energia a partir de fontes 
limpas e renováveis, que não poluam a atmosfera (como por exemplo, através de 
painéis solares ou aerogeradores, aquelas turbinas enormes com pás giratórias que se 
vê um pouco por toda a Europa ultimamente, e que transformam a energia eólica em 
energia eléctrica). O objectivo de todas estas medidas é manter o ar, o mais limpo 
possível. Porém, no que à paisagem diz respeito, até agora as administrações públicas 
(estatais, regionais e locais), só redigiram leis para protegerem aquelas paisagens 
consideradas de valor especial, como os parques naturais ou alguns tipos de 
monumentos históricos. Com esta forma de abordarmos a protecção da paisagem, 
corremos o risco de esquecermos que todo o território é paisagem, mesmo aqueles 
lugares mais normais, como a zona em que vivemos e que, possivelmente, não tem 
nenhum valor histórico ou natural de excepção. 
 
 
 
 
 
 
 
13 
Paisagens excepcionais e paisagens quotidianas 
 
 
Da mesma forma que criamos normas para protegermos o ar e para que as 
fábricas não o contaminem, deveríamos criar uma normativa para a paisagem que 
garanta que a sua beleza existente permanecem intacta, de forma a que tudo o que se 
construa seja com qualidade e que tudo o que se modifique seja respeitoso para com o 
meio ambiente e adaptado ao contexto em que se insere. Se, por exemplo, alguém 
quer construir um novo edifício no centro histórico de uma cidade, talvez próximo de 
outras edificações mais antigas, não o pode fazer de qualquer maneira. Tem de 
respeitar os elementos pré-existentes na zona. Isto não significa que deva imitar o 
mesmo estilo, mas sim garantir que pelo menos o velho e o novo combinem entre si. 
Se pensarmos na enorme pirâmide de cristal em frente ao museu do Louvre, em Paris, 
vemos que apesar de só ter sido construída em 1989, foi projectada de forma a fazer 
sentido e a encaixar perfeitamente no centro do pátio de acesso do edifício 
centenário. 
 
Vejamos outro exemplo: se quiséssemos restaurar uma velha casa de campo, 
tentaríamos utilizar materiais semelhantes aos originais (pedra, tijolo ou uma amostra 
das cores habituais daquela zona). Além de conservarmos a fachada da edificação 
original, sempre que introduzimos uma parte nova devemos tentar adaptá-la o melhor 
possível à construção existente, de forma que no seu interior, possamos reconhecer 
ainda o seu passado, mas também o seu presente. Há lugares que possuem um valor 
único e exclusivo por meio de elementos naturais, da história que representam ou do 
prestígio que o ser humano lhes atribuiu ao longo dos anos, como o Grand Canyon nos 
Estados Unidos, as pirâmides do Egipto ou a Torre Eiffel. Estes lugares são aquilo que 
podemos denominar de “paisagens excepcionais”. A rua onde vivemos ou a zona 
industrial onde trabalham os nossos pais não têm o mesmo prestígio que, por 
exemplo, o Grand Canyon; porém, são os espaços onde passamos mais tempo, os que 
podemos chamar de “paisagens da vida quotidiana”. Pois estas paisagens também 
merecem ser defendidas. As ruas, os edifícios, todos os espaços físicos da cidade 
deveriam ser protegidos para não se converterem em lugares inabitáveis cheios de 
lixo, sem parques para passearmos, sem zonas de estacionamento, etc. Por fim, 
também há lugares com que deixamo-nos de nos identificar, cujo carácter original 
mudou por completo e onde se tornou difícil tanto viver, como realizar qualquer tipo 
de actividade. São zonas em perigo que, para lhes darmos de novo valor e voltarmos a 
identificar-nos com elas, para que possam ser apreendidas pela população, é 
necessário transformá-las, organizá-las e reconsiderá-las. Não há como gostar de uma 
praia suja, cheia de lixo e de petróleo vertido pelos barcos no seu areal. Ninguém se 
pode identificar com essa praia, como aquele lugar belo em que passou a infância, e 
ninguém há de querer viver perto dela. É necessário limpá-la e reconsiderar o uso que 
se lhe poderia dar no futuro. 
 
 
 
14 
 
 
 
 
As redes europeias encarregadas da aplicação da Convenção 
Europeia da Paisagem 
 
 
Como vimos até aqui, respeitarmos a CEP significa protegermos, 
questionarmos e planificarmos todas as paisagens que nos rodeiam. Devemos 
trabalhar todos juntos para cumprirmos este objectivo: os governos de todo o 
tipo e a todos os níveis, as escolas, as universidades,as organizações da sociedade 
civil, os profissionais, os cidadãos a título individual… 
 
Partindo desta premissa, foram sendo criadas, por toda a Europa, 
organizações com o objectivo de oferecerem o seu apoio e colaboração. Além do 
sistema de controlo da Convenção estabelecido pelos estados (e que opera a 
partir do Conselho da Europa, em Estrasburgo; vê em: 
www.coe.int/europeanlandscapeconvention), existem três redes diferentes 
mas relacionadas, que tornam mais fácil para as regiões, as províncias, os 
municípios, as universidades e as organizações contribuir para a aplicação dos 
princípios da convenção. 
 
A primeira destas três redes é a RECEP-ENELC, a rede de autoridades locais e 
regionais (www.recep-enelc.net); a segunda, a UNISCAPE, rede de universidades 
(www.uniscape.eu); e a terceira, a CIVILSCAPE, a rede de organizações 
(www.civilscape.net). Os três organismos têm a sua sede em Florença, a cidade 
onde foi assinada a Convenção. 
 
O principal objectivo das três é aumentarem o grau de concentração e de 
aceitação da ideia de paisagem que promove a Convenção, de forma a que os 
governos locais, os sistemas educativos e todo os envolvidos que permitem a 
participação da cidadania no processo de tomada de decisões públicas, possam 
contribuir de forma activa para o desenvolvimento de políticas relacionadas com 
a paisagem, e com a integração da paisagem em todas as políticas que tenham 
algum impacto sobre ela. As redes também apoiam projectos paisagísticos 
individuais desenvolvidos pelas autoridades competentes a nível local. 
 
Nos últimos anos propôs-se a criação de uma quarta rede, denominada de 
PROSCAPE, que englobaria os profissionais a favor da aplicação da Convenção. 
Pode aceder-se às páginas da web das distintas redes em 
www.eurolandscape.net. 
 
15 
Todos desempenhamos um papel 
 
 
Se observarmos uma colina, uma montanha ou qualquer outro elemento da 
paisagem, podemos ler as coisas que nele aconteceram ao longo dos tempos. Se 
estudamos um terreno, as rochas e as camadas de que constam essas rochas, por 
exemplo, poderíamos descobrir que ali, onde hoje há um bosque, houve antes um rio; 
ou que onde hoje há um edifício, outrora houve um lago. A paisagem que vemos hoje 
em dia é o resultado de muitas mudanças e muitos acontecimentos que se foram 
sobrepondo. Entre todas estas transformações percebemos que há muitas provocadas 
pela natureza, mas também muitas outras causadas pelo ser humano. Cada sociedade, 
cada grupo de seres humanos foi deixando a sua pegada na paisagem. Houve quem 
cultivou a terra com uma metodologia particular, ou construiu vilas, ruas, casas; 
também houve quem modificou o uso da terra consoante as necessidades e exigências 
da época, reclamando território ao mar, modificando o curso de um rio, construindo 
estradas e caminhos-de-ferro… Mas a paisagem também nos conta uma história 
diferente, a história escrita por aqueles com uma vida normal, pelos acontecimentos 
mais vulgares e aparentemente de menor importância. É uma história contínua e 
interminável, na qual a paisagem se converte no cenário de actuação do Homem, da 
sociedade, das diferentes gerações; num cenário com múltiplas mudanças, onde se 
interpretam as vidas das pessoas. Entre elas, a nossa! Para entendermos melhor como 
se sobrepõem estas duas histórias, a da sociedade e a das pessoas individuais, 
podemos compará-las com o que acontece com o mar. Na superfície do mar há ondas 
e água em movimento; é como a parte da paisagem que nos transmite os 
acontecimentos que observamos continuamente. Nas profundidades do mar, no 
entanto, encontramos as águas escuras e silenciosas das profundezas marinhas; é a 
parte correspondente ao mais antigo da história. Nem tudo o que acontece lá em 
baixo entra em contacto com a superfície do mar. O mesmo acontece com a paisagem: 
nem tudo o que acontece na nossa vida diária deixa nela uma pegada permanente; 
nem todos os acontecimentos têm o mesmo peso na nossa vida. O trabalho que faz 
um agricultor, um arquitecto, quando acontece uma catástrofe, o curso de um rio, as 
mudanças no clima que interferem na vegetação… Os diferentes fenómenos e 
acontecimentos que sucedem ao longo da história, fazem com que a paisagem mude 
continuamente, no passado e no futuro. Algumas paisagens, as mais duradouras, 
resistiram e possivelmente continuarão a resistir; enquanto as mais frágeis vão-se 
perdendo, como uma espécie de selecção natural. Hoje, em algumas paisagens, ainda 
podemos ler as profundas pegadas do seu passado mais remoto; mas se ouvirmos os 
nossos pais ou os nossos avós falarem dos lugares da sua adolescência, 
compreendemos que eram totalmente distintos de como nós os vemos actualmente. 
Se pensarmos nos montes cultivados em socalcos tão habituais ainda hoje no sul da 
Europa, com os seus muros de pedra, é evidente que constituem uma paisagem que 
tem aos nossos olhos centenas de anos; porém, outras partes do território, vêem a sua 
identidade ameaçada pela incompatibilidade com determinadas actividades humanas. 
 
 
16 
Muitas histórias e muitos protagonistas 
 
 
Nesta paisagem, em que coexistem muitas histórias diferentes, vivemos e 
movemo-nos como actores num cenário, ao mesmo tempo que somos também 
espectadores. Vamos aparecendo em cada acto, atravessando uma praça ou 
conversando com amigos; mas ao observarmos à nossa volta, sabemos que também 
somos uma paisagem: reconhecemos o significado dos nossos actos e daquilo que 
fazemos. Por tudo isto, podemos dizer que a paisagem é a interface entre fazermos e 
vermos o que fazemos; é o território tal e qual o percebemos e, desta forma, inclui 
todas as nossas acções a par com as da natureza. Ou, dito de forma mais singela, 
poderíamos definir o território como tudo o que nos rodeia no sentido físico e 
concreto, e a paisagem como o território tal como o entendemos. Quando falamos de 
percepção, não nos referimos ao que percebe um só indivíduo, mas sim a um grupo 
alargado de indivíduos, o que poderíamos chamar de percepção colectiva. Deste 
modo, quanto contemplamos um panorama especialmente espectacular estamos 
conscientes de que não somos só nós que percebemos essa beleza, mas que essa 
sensação é compartilhada por muitas mais pessoas; tal como sabemos que há certas 
normas ou ideias partilhadas por todo o mundo. A partir daqui podemos começar a 
entender melhor o papel que podemos desempenhar neste cenário e de que maneira 
podemos defender e criar a paisagem. 
 
 
 
 
Firmeza, utilidade e beleza 
 
 
Se concebermos a paisagem como uma obra arquitectónica, podemos 
recorrer aos ensinamentos do grande arquitecto e escritor romano Vitrúvio, que 
viveu no século I a.C., há mais de 2000 anos. Segundo Vitrúvio, a arquitectura 
consta de três elementos básicos: firmitas “firmeza”, utilitas “utilidade” e venustas 
“beleza”. Citando as suas palavras: “Todos estes edifícios devem cumprir com os 
requisitos de firmeza, utilidade e beleza. Devem ter firmeza no momento de 
erguer os alicerces, fundos e resistentes, com materiais escolhidos com o maior 
cuidado e generosidade; devem conter utilidade na distribuição dos espaços 
interiores, uma distribuição que deverá ser concebida e adaptada ao uso de cada 
edifício; e devem ter beleza porque o seu aspecto final deve ser agradável e 
abranger uma proporcionalidade harmónica entre as suas partes, obtida mediante 
o cálculo detalhado da sua simetria”. Assim, se a paisagem tiver a capacidade de 
durar no tempo (firmitas) e constituir-se como um recurso no sentido de que tem 
utilidade (utilitas), do equilíbrio entre estes dois elementos pode surgir a harmonia 
(vetustas). 
 
 
 
17 
AS REGRAS DO JOGO 
 
 
 
Protegemos aquilo que é espectacular e que nos transmitiu um valor histórico; 
gerimos da melhor maneira possível os espaços normais em que vivemos; voltarmosa 
projectar sobre aqueles espaços onde a história nos deixou pouco ou nada, ou onde 
desapareceu tudo o que restava. Proteger, gerir e planear: estes são os três princípios 
básicos da Convenção Europeia da Paisagem. Poderíamos chamá-los de “regras do 
jogo”; regras que se podem aplicar de diferentes maneiras de acordo com as 
necessidades de cada momento. Por exemplo, quando um funcionário tem de 
supervisionar um determinado território, a primeira coisa que deve fazer é formular 
uma série de perguntas: esta paisagem é suficientemente importante para receber 
protecção? É uma paisagem tão complexa e variada que requer uma gestão 
meticulosa? Ou é uma paisagem feia, degradada, que perdeu toda a sua utilidade? É 
importante responder a estas três perguntas para que as autoridades públicas 
(municipais, regionais e estatais), com a aprovação da população local, possa decidir 
quais das três regras aplicar, tendo em conta que nenhuma delas exclui as demais. Não 
podemos proteger uma paisagem sem sabermos como geri-la, nem projectar algo 
novo sem conhecermos as regras de conservação. Para explicarmos melhor tudo isto, 
vejamos o que é que diz a Convenção Europeia da Paisagem: 
 
 
 Por “protecção das paisagens” entendem-se as 
acções dirigidas a conservar e manter os aspectos significativos 
ou característicos de uma paisagem, justificadas pelo ser valor 
patrimonial derivado da sua configuração natural e/ou da acção 
do homem. 
[Artigo I d – Definições] 
 
 
 
Empreendemos acções de protecção para conservarmos aquelas paisagens às 
quais as pessoas atribuem grande valor, que são património de todos e famosas a nível 
mundial. Temos o dever de proteger estas paisagens tão importantes! E, já que 
pertencem a toda a humanidade, teremos de ser nós quem as protege acima de tudo. 
 
 
 Por “gestão das paisagens” entendem-se as acções 
dirigidas de uma perspectiva de desenvolvimento sustentável, 
para garantir a manutenção regular de uma paisagem, a fim de 
regular e harmonizar as transformações induzidas pelos 
processos sociais, económicos e ambientais. 
[Artigo I e – Definições] 
 
 
 
18 
As mudanças sociais, económicas e ambientais reflectem-se directamente na 
paisagem, que é o espelho tanto das nossas acções como das da natureza. Deveríamos 
ver as mudanças realizadas num território como algo positivo, já que representam o 
crescimento e o desenvolvimento das pessoas que nele vivem: porém, quando se 
constrói algo de novo (uma estrada, um bairro, uma ponte) é fundamental gerirmos 
adequadamente as alterações que isso vai provocar na paisagem. Devemos garantir a 
observação constante destas mudanças, de forma que a nova construção possa 
conviver harmoniosamente com a paisagem já existente. A gestão é a ferramenta que 
melhora a paisagem consoante os desejos das pessoas e a sua qualidade de vida. 
Gerirmos a paisagem consiste fundamentalmente em modificá-la com respeito, sem 
esgotarmos todos os nossos recursos, sem exercermos pressão sobre ela. É importante 
não perdermos nunca de vista o conceito básico de desenvolvimento sustentável, ao 
qual a Convenção Europeia da Paisagem faz referência explícita, ao indicar que por 
cada acção que realizamos para melhorarmos a nossa qualidade de vida, não devemos 
nunca esquecer o bem-estar das gerações futuras. 
 
 
 Por “ordenação paisagística” entende-se as acções 
que apresentem um carácter prospectivo particularmente 
acentuado com vistas a melhorar, restaurar ou criar paisagens. 
[Artigo I f – Definições] 
 
 
 
Lugares abandonados, muito degradados ou deteriorados, como é o caso de 
alguns subúrbios; zonas a meio-caminho entre a cidade e o campo, onde podemos ver 
restos de fábricas abandonadas; costas estragadas por estruturas assombradas ou em 
desuso, ou sem alguém sequer as ter terminado… É necessário melhorarmos, 
reorganizarmos e renovarmos estas paisagens. Ocuparmo-nos da paisagem significa 
não só protegê-la e geri-la, como também alterarmos aqueles elementos de que não 
gostamos e projectarmos outros novos. Se apenas olharmos para o passado, sem 
esperança face ao futuro, se pensarmos que a única coisa que podemos fazer agora é 
conservar o que já foi edificado, vai ser difícil criarmos algo de belo. Se os nossos 
antepassados pensassem assim, jamais seriam capazes de projectar as grandes 
maravilhas que hoje vemos ao nosso redor. Basta pensar em algumas das grandes 
obras que no seu tempo causaram enorme mal-estar entre os cidadãos, como o 
traçado dos Campos Elísios, a famosa avenida parisiense. Quando foi construída, em 
meados do século XIX, ocasionaram uma enorme polémica, já que o imperador 
Napoleão III, para conseguir terreno suficiente para a obra, mandou demolir centenas 
de vivendas e obrigou ao realojamento de todos os que nelas vivam. Isto provocou um 
grande debate e gerou muita inquietude entre a população local; no entanto, hoje em 
dia é um dos lugares mais emblemáticos de Paris, conhecido por todo o mundo, é 
precisamente essa longa avenida coberta de árvores com os seus típicos terraços. 
19 
 
 
 Construirmos o futuro 
 
 
No momento de encontrarmos o equilíbrio entre a protecção, a gestão e o 
planeamento da paisagem, não devemos esquecer-nos de que não serve de muito 
conservarmos e congelarmos paisagens que chegaram até um determinado ponto na 
sua evolução. As paisagens experimentam mudanças ao longo de toda a vida e assim 
hão-de continuar, quer seja como consequência de algum processo natural ou da 
acção do ser humano. O nosso objectivo devia ser acompanhar essas mudanças, 
reconhecendo a diversidade e a qualidade das paisagens que herdamos, e realizar um 
esforço para as conservar ou, melhor ainda, para as enriquecer, em vez de as 
colocarmos em risco de se perderem. Claro que isto não é uma tarefa fácil, em parte 
porque em muitos casos temos a sensação de que os nossos antepassados eram muito 
melhores do que nós. Porém, se reflectirmos um pouco, percebemos que no passado 
as paisagens sofriam muito menos mudanças: os agricultores tinham os seus campos e 
a burguesia construía os seus palácios e jardins. Hoje a realidade é muito mais 
complexa: nós utilizamos muito mais o território, passamos por ele todos os dias a 
caminho da escola ou do trabalho, ou quando saímos para passar uns dias fora; muitos 
destes trânsitos implicam mesmo viagens a lugares muito mais distantes, que 
visitamos como turistas. Já quase não há lugares no mundo por explorar, onde o ser 
humano não tenha posto o pé. Tudo isto recebe o nome de ‘desenvolvimento’, o qual 
não é negativo em si. Infelizmente, acontecem situações em que alguém actua 
atendendo unicamente aos seus próprios interesses, sem o mínimo respeito ou 
consideração para com a qualidade das paisagens, ignorando a sua importância. Nunca 
deveríamos perder de vista as paisagens, já que só ao garantir a sua qualidade, 
podemos também criar novas paisagens e actuar sobre lugares de grande valor de uma 
forma harmoniosa e equilibrada. 
 
 
 
A qualidade da paisagem 
 
 
Como podemos estabelecer a diferença entre uma paisagem de qualidade e 
uma paisagem degradada, no momento de decidirmos o que fazer com ela? A primeira 
coisa que devemos fazer é identificarmos as paisagens que compõem o nosso 
território, vermos quantas e de que tipo elas são. Depois, há que analisar as suas 
características, estudar a sua história, examinar os sinais ainda visíveis para 
compreendermos o seu passado, o tipo de pessoas que vive nelas, as actividades a que 
se dedicam, porque é que alguns núcleos foram abandonados, porque se ampliou uma 
estrada, porque se modificou o curso de um rio, porque certas praias são agora mais 
pequenas e certas cidades maiores…. Uma vez respondidas todas estas questões, 
seremos capazes de compreender qual é a melhor solução para cada paisagem. E isto 
20 
é uma tarefaque afecta tanto as pessoas como a administração pública que, além de 
identificarem as paisagens e a sua dinâmica no tempo, devem converter-se nas vozes 
transmissoras das necessidades e das aspirações das pessoas afectadas, isto é, do tipo 
de território em que estas gostavam de viver. Quando a Convenção fala de qualidade 
da paisagem, faz também referência à qualidade ecológica, ou seja, ao estado 
ambiental dessa paisagem. Quanto mais limpo estiver um lugar maior será o 
reconhecimento e valor que lhe atribuirá a população; mas, antes de mais, essa 
população deveria sentir-se bem a viver nele, deveria poder movimentar-se de um 
lado para o outro sem dificuldades, deveria poder aceder a tudo o que necessita 
facilmente, etc. O conceito de qualidade da paisagem engloba a natureza, a cultura, a 
sociedade, a estética; mas, também, a economia. A qualidade não reside apenas na 
beleza, mas também no alcance de um ponto de equilibro entre as necessidades 
sociais, económicas e ambientais. Partimos da base de que devem ser as pessoas que 
habitam uma determinada zona, que reconhecem os seus recursos e que decidem 
sobre a sua qualidade de vida. 
 
 
 
Um desenvolvimento sustentável 
 
 
A partir da década de 1970, os povos começaram a ser cada vez mais 
conscientes da importância que têm os recursos naturais no crescimento 
económico dos países. Muitos cientistas da época disseram, com base na crise do 
petróleo, que os recursos da terra eram limitados. Já em 1972, uma associação de 
cientistas provenientes de vários países, conhecida como Clube de Roma, começou 
a falar dos “limites do desenvolvimento”. Em 1983, a Organização das Nações 
Unidas criou a Comissão Para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, um grupo 
que em 1987 publicaria toda a informação considerada de base para as futuras 
políticas de sustentabilidade. Na origem desta informação está uma definição de 
desenvolvimento sustentável que perdurou até hoje: “O desenvolvimento será 
sustentável se satisfizer as necessidades das gerações actuais sem comprometer a 
capacidade das futuras satisfazerem também as suas”. É justo querermos 
melhorar a nossa própria qualidade de vida, contudo que o façamos sem danos 
para o meio ambiente e para a vida dos que estão por vir. Desde então, e 
sobretudo a partir da organização da Conferência das Nações Unidas, no Rio de 
Janeiro, o desenvolvimento sustentável converteu-se num dos principais 
objectivos da agenda internacional, universalmente reconhecido como a 
necessidade de fazermos frente aos problemas ambientais, ao mesmo tempo que 
procuramos o desenvolvimento económico e social dos países. 
 
 
 
 
 
 
21 
 
COMO PODEMOS PARTICIPAR? 
 
 
 
Cada parte compromete-se a estabelecer procedimentos 
para a participação do público, as autoridades locais e regionais 
e outras partes interessadas na formulação e aplicação das 
políticas em matéria. 
[Artigo 5 – Medidas gerais] 
 
 
 
Se a paisagem é um bem comum, então as escolhas que fazemos com respeito 
a ela deveriam incluir-nos a todos, desde a administração pública, às organizações, até 
aos cidadãos. Todas as pessoas que residem num lugar deveriam ser tidas em conta e 
desempenhar um papel activo no importante trabalho de identificação e 
caracterização da paisagem, assim como o seu planeamento. O trabalho das 
autoridades (concelhos, províncias, regiões e Estado) é o de consciencializarem, 
envolverem e informarem os cidadãos residentes numa determinada zona, de maneira 
a que estes apreendam e percebam melhor a paisagem, que compreendam o seu valor 
e participem no processo de tomada de decisões relativas à sua zona. Neste sentido, 
só através da participação podemos construir um critério identificador para a 
paisagem, uma visão colectiva, uma sensação profunda de comunidade como um 
todo, e como participantes individuais. Os cidadãos e as cidades podem desempenhar 
um papel activo, tal como pretende a Convenção, se possuírem os meios para darem a 
sua opinião e expressarem a sua posição, de maneira a que as suas escolhas sejam 
realmente efectivas e respondam às necessidades de todo o mundo. 
 
Hoje em dia, na Europa, podemos ver múltiplos exemplos que demonstram 
como é possível envolver os cidadãos no processo de toma de decisões. Podemos 
utilizar vários métodos de consulta à população ou distribuir questionários; mas 
também podemos aceder à perspectiva real de pessoas individuais que, graças à 
internet, emitem opiniões sobre a sua comunidade. A pergunta é: qual é o organismo 
público mais apropriado para tomar decisões no que diz respeito à paisagem? Se nos 
basearmos no princípio de subsidiariedade, antes de intervirmos numa paisagem, 
deveríamos estabelecer o seu “nível de interesse colectivo”, ou seja, até que ponto ela 
é importante para a comunidade; a partir daqui podemos determinar qual a 
autoridade competente. Vejamos como aplicar este princípio na prática. Pensemos 
numa paisagem industrial, quer seja grande ou pequena, onde abundam as torres, as 
tubagens, as chaminés e as praças. O interesse duma zona como esta será logicamente 
local, e estará limitado à área ao seu redor. A competência quanto à tomada de 
decisões relativas às actuações necessárias para gerir esta zona recairá nas 
autoridades locais, a par com o governo regional do território mais amplo que essa 
localidade engloba. Se, pelo contrário, tivéssemos de gerir uma paisagem arqueológica 
cheia de achados, monumentos ou estradas milenares, testemunhas de uma antiga 
22 
cultura de importância nacional, europeia ou mesmo mundial – como, por exemplo, a 
antiga cidade romana de Pompeia –, seriam as autoridades estatais as que, com a 
colaboração da povoação local e de organismos locais pertinentes, se deveriam ocupar 
de tal paisagem, uma paisagem que consideraríamos como representativa duma 
identidade histórica. Com todas estas considerações em mente, a classe política e os 
peritos nessa matéria estão a trabalhar para que a cidadania desempenhe um papel 
mais claro e específico em relação à paisagem. 
 
 
 
 
 
 
Conclusões 
 
 
- E agora diz-me – perguntei sem me poder conter – 
como é que soubeste? 
- Meu querido Adso – disse o mestre –, durante toda a 
viagem aprende-se a reconhecer as pegadas através das quais 
nos fala o mundo como se fosse um grande livro. (...) Quase me 
dá vergonha de ter que repetir o que já deverias saber. 
 
in ‘O nome da rosa’, Umberto Eco (Milão, 1980) 
 
 
 
O princípio de subsidiariedade 
 
 
O princípio de subsidiariedade estabelece que qualquer actividade 
governamental deve ser assumida pelo poder político mais próximo da cidadania 
(as autarquias), e que só se pode delegar o exercício da dita actividade num órgão 
de carácter superior (a nível regional, de área metropolitana ou de comunidade 
insular ou de montanha) no caso deste estar melhor capacitado para oferecer um 
serviço mais apropriado. Este princípio aplica-se numa multiplicidade de leis e 
tratados. A Carta Europeia de Autonomia Local (um tratado internacional do 
Conselho da Europa) faz referência à subsidiariedade nos seguintes termos: “O 
exercício das competências públicas deve, de um modo geral, atingir 
preferencialmente as autoridades mais próximas da cidadania. A atribuição de 
uma competência a outra autoridade deve ter em conta a amplitude e a natureza 
da tarefa e das necessidades de eficácia e de economia”. 
 
23 
Agora que este texto chega ao fim, de certeza que o leitor entende que a 
paisagem não é apenas algo que podemos aprender a conhecer, como além do mais 
nos diz respeito a todos, incondicionalmente. Isto é assim, não só porque a paisagem é 
o cenário em que vivemos a nossa vida quotidiana, como também porque nós 
podemos e devemos decidir qual vai ser o seu futuro. Está na essência da Convenção 
Europeia de Paisagem, assinadapor todos os Estados da Europa: os lugares onde 
vivemos e onde havemos de viver no futuro são a expressão do nosso ser, dos nossos 
pais, dos nossos avós e dos nossos mais remotos antepassados. E, tal como eles, nós 
também podemos mudar o lugar onde vivemos e convertê-lo noutro melhor. Basta um 
pequeno gesto, como o de demonstrarmos respeito pelo meio ambiente e pela 
natureza; mas também tirarmos partido de um novo instrumento que não possuíam os 
nossos antepassados: a possibilidade de participarmos no processo público de tomada 
de decisões relativas ao planeamento de novos espaços naturais e arquitectónicos. Só 
assim, participando na primeira pessoa, sentiremos realmente que os lugares que 
habitamos (o nosso quarto, a nossa rua, a nossa cidade) formam, e formarão para 
sempre, parte integrante da nossa vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
CONVENÇÃO EUROPEIA DA PAISAGEM 
 
(Florença, 20.X.2000) 
 
 
 
Preâmbulo 
 
Os membros do Conselho da Europa signatários da presente Convenção: 
 
Considerando que o objectivo do Conselho da Europa é alcançar uma maior unidade 
entre os seus membros a fim de salvaguardar e promover os ideais e princípios que 
constituem o seu património comum, e que este objectivo é prosseguido em particular 
através da conclusão de acordos nos domínios económico e social; 
 
Preocupados em alcançar o desenvolvimento sustentável estabelecendo uma relação 
equilibrada e harmoniosa entre as necessidades sociais, as actividades económicas e o 
ambiente; 
 
Constatando que a paisagem desempenha importantes funções de interesse público, 
nos campos cultural, ecológico, ambiental e social, e constitui um recurso favorável à 
actividade económica, cuja protecção, gestão e ordenamento adequados podem 
contribuir para a criação de emprego; 
 
Conscientes de que a paisagem contribui para a formação de culturas locais e 
representa uma componente fundamental do património cultural e natural europeu, 
contribuindo para o bem-estar humano e para a consolidação da identidade europeia; 
 
Reconhecendo que a paisagem é em toda a parte um elemento importante da 
qualidade de vida das populações: nas áreas urbanas e rurais, nas áreas degradadas 
bem como nas de grande qualidade, em áreas consideradas notáveis, assim como nas 
áreas da vida quotidiana; 
 
Constatando que as evoluções das técnicas de produção agrícola, florestal, industrial e 
mineira e das técnicas nos domínios do ordenamento do território, do urbanismo, dos 
transportes, das infra-estruturas, do turismo, do lazer e, de modo mais geral, as 
alterações na economia mundial estão em muitos casos a acelerar a transformação das 
paisagens; 
 
Desejando responder à vontade das populações de usufruir de paisagens de grande 
qualidade e de desempenhar uma parte activa na sua transformação; 
 
Persuadidos de que a paisagem constitui um elemento-chave do bem-estar individual 
e social e que a sua protecção, gestão e ordenamento implicam direitos e 
responsabilidades para cada cidadão; 
 
25 
Tendo presente os textos jurídicos existentes ao nível internacional nos domínios da 
protecção e gestão do património natural e cultural, no ordenamento do território, na 
autonomia local e cooperação transfronteiriça, nomeadamente a Convenção Relativa à 
Conservação da Vida Selvagem e dos Habitats Naturais da Europa (Berna, 19 de 
Setembro de 1979), a Convenção para a Salvaguarda do Património Arquitectónico da 
Europa (Granada, 3 de Outubro de 1985), a Convenção para a Protecção do Património 
Arqueológico da Europa (revista) (Valletta, 16 de Janeiro de 1992), a Convenção 
Quadro Europeia para a Cooperação Transfronteiriça entre Comunidades e 
Autoridades Territoriais (Madrid, 21 de Maio de 1980) e seus protocolos adicionais, a 
Carta Europeia da Autonomia Local (Estrasburgo, 15 de Outubro de 1985), a 
Convenção sobre Diversidade Biológica (Rio, 5 de Junho de 1992), a Convenção 
Relativa à Protecção do Património Mundial Cultural e Natural (Paris, 16 de Novembro 
de 1972), e a Convenção sobre o Acesso à Informação, Participação do Público no 
Processo de Tomada de Decisão e Acesso à Justiça em Matéria de Ambiente (Äarhus, 
25 de Junho de 1998); 
 
Reconhecendo que as paisagens europeias, pela sua qualidade e diversidade, 
constituem um recurso comum, e que é importante cooperar para a sua protecção, 
gestão e ordenamento; 
 
Desejando estabelecer um novo instrumento dedicado exclusivamente à protecção, 
gestão e ordenamento de todas as paisagens europeias; 
acordam no seguinte: 
 
 
CAPÍTULO I 
Disposições gerais 
Artigo 1.º - Definições 
 
Para os efeitos da presente Convenção: 
 
a) «Paisagem» designa uma parte do território, tal como é apreendida pelas 
populações, cujo carácter resulta da acção e da interacção de factores naturais e ou 
humanos; 
 
b) «Política da paisagem» designa a formulação pelas autoridades públicas 
competentes de princípios gerais, estratégias e linhas orientadoras que permitam a 
adopção de medidas específicas tendo em vista a protecção, a gestão e o 
ordenamento da paisagem; 
 
c) «Objectivo de qualidade paisagística» designa a formulação pelas autoridades 
públicas competentes, para uma paisagem específica, das aspirações das populações 
relativamente às características paisagísticas do seu quadro de vida; 
 
26 
d) «Protecção da paisagem» designa as acções de conservação ou manutenção dos 
traços significativos ou característicos de uma paisagem, justificadas pelo seu valor 
patrimonial resultante da sua configuração natural e ou da intervenção humana; 
 
e) «Gestão da paisagem» designa a acção visando assegurar a manutenção de uma 
paisagem, numa perspectiva de desenvolvimento sustentável, no sentido de orientar e 
harmonizar as alterações resultantes dos processos sociais, económicos e ambientais; 
 
f) «Ordenamento da paisagem» designa as acções com forte carácter prospectivo 
visando a valorização, a recuperação ou a criação de paisagens. 
 
Artigo 2.º - Âmbito 
 
Sem prejuízo das disposições constantes do artigo 15.º, a presente Convenção aplica-
se a todo o território das Partes e incide sobre as áreas naturais, rurais, urbanas e 
periurbanas. Abrange as áreas terrestres, as águas interiores e as águas marítimas. 
Aplica-se tanto a paisagens que possam ser consideradas excepcionais como a 
paisagens da vida quotidiana e a paisagens degradadas. 
 
 
Artigo 3.º - Objectivos 
 
A presente Convenção tem por objectivo promover a protecção, a gestão e o 
ordenamento da paisagem e organizar a cooperação europeia neste domínio. 
 
 
 
CAPÍTULO II 
Medidas nacionais 
Artigo 4.º - Repartição de competências 
 
Cada uma das Partes aplica a presente Convenção, em especial os artigos 5.º e 6.º, de 
acordo com a sua própria repartição de competências em conformidade com os seus 
princípios constitucionais e organização administrativa, respeitando o princípio da 
subsidiariedade, e tendo em consideração a Carta Europeia da Autonomia Local. Sem 
derrogar as disposições da presente Convenção, cada uma das Partes deve harmonizar 
a implementação da presente Convenção de acordo com as suas próprias políticas. 
 
 
 
27 
Artigo 5.º - Medidas gerais 
 
Cada Parte compromete-se a: 
 
a) Reconhecer juridicamente a paisagem como uma componente essencial do 
ambiente humano, uma expressão da diversidade do seu património comum cultural e 
natural e base da sua identidade; 
 
b) Estabelecer e aplicar políticas da paisagem visando a protecção, a gestão e o 
ordenamento da paisagem através da adopção das medidas específicas estabelecidas 
no artigo 6.º; 
 
c) Estabelecer procedimentos para a participação do público, das autoridades locais e 
das autoridades regionais e de outros intervenientes interessados na definição e 
implementação daspolíticas da paisagem mencionadas na alínea b) anterior; 
 
d) Integrar a paisagem nas suas políticas de ordenamento do território e de 
urbanismo, e nas suas políticas cultural, ambiental, agrícola, social e económica, bem 
como em quaisquer outras políticas com eventual impacte directo ou indirecto na 
paisagem. 
 
Artigo 6.º - Medidas específicas 
 
A) Sensibilização 
Cada uma das Partes compromete-se a incrementar a sensibilização da sociedade civil, 
das organizações privadas e das autoridades públicas para o valor da paisagem, o seu 
papel e as suas transformações. 
 
B) Formação e educação 
Cada uma das Partes compromete-se a promover: 
 
a) A formação de especialistas nos domínios do conhecimento e da intervenção na 
paisagem; 
b) Programas de formação pluridisciplinar em política, protecção, gestão e 
ordenamento da paisagem, destinados a profissionais dos sectores público e privado e 
a associações interessadas; 
c) Cursos escolares e universitários que, nas áreas temáticas relevantes, abordem os 
valores ligados às paisagens e as questões relativas à sua protecção, gestão e 
ordenamento. 
 
C) Identificação e avaliação 
1 - Com a participação activa dos intervenientes, tal como estipulado no artigo 5.º, 
alínea c), e tendo em vista melhorar o conhecimento das paisagens, cada Parte 
compromete-se a: 
a): 
i) Identificar as paisagens no conjunto do seu território; 
28 
ii) Analisar as suas características bem como as dinâmicas e as pressões que as 
modificam; 
iii) Acompanhar as suas transformações; 
b) Avaliar as paisagens assim identificadas, tomando em consideração os valores 
específicos que lhes são atribuídos pelos intervenientes e pela população interessada. 
2 - Os procedimentos de identificação e avaliação serão orientados por trocas de 
experiências e de metodologias, organizadas entre as Partes ao nível europeu, em 
conformidade com o artigo 8.º 
 
D) Objectivos de qualidade paisagística 
Cada uma das Partes compromete-se a definir objectivos de qualidade paisagística 
para as paisagens identificadas e avaliadas, após consulta pública, em conformidade 
com o artigo 5.º, alínea c). 
 
E) Aplicação 
Tendo em vista a aplicação das políticas da paisagem, cada Parte compromete-se a 
estabelecer os instrumentos que visem a protecção, a gestão e ou o ordenamento da 
paisagem. 
 
 
CAPÍTULO III 
Cooperação europeia 
Artigo 7.º - Políticas e programas internacionais 
 
As Partes comprometem-se a cooperar para que a dimensão paisagística seja tida em 
conta nas políticas e nos programas internacionais e a recomendar, quando relevante, 
que estes incluam a temática da paisagem. 
 
 
Artigo 8.º - Assistência mútua e troca de informações 
 
As Partes comprometem-se a cooperar no sentido de melhorar a eficácia das 
medidas tomadas ao abrigo das disposições da presente Convenção e especificamente 
a: 
a) Prestar assistência técnica e científica mútua através da recolha e da troca de 
experiências e de resultados de investigação no domínio da paisagem; 
b) Promover a permuta de especialistas no domínio da paisagem, em especial para fins 
de formação e informação; 
c) Trocar informações sobre todas as matérias abrangidas pelas disposições da 
Convenção. 
 
 
29 
Artigo 9.º - Paisagens transfronteiriças 
 
As Partes comprometem-se a encorajar a cooperação transfronteiriça ao nível local e 
regional e, sempre que necessário, a elaborar e implementar programas comuns de 
valorização da paisagem. 
 
 
Artigo 10.º - Monitorização da aplicação da Convenção 
 
1 - Os competentes comités de peritos existentes, estabelecidos ao abrigo do artigo 
17.º do Estatuto do Conselho da Europa, são incumbidos pelo Comité de Ministros do 
Conselho da Europa de acompanharem a aplicação da presente Convenção. 
 
2 - Após a realização de cada reunião dos comités de peritos, o Secretário-Geral do 
Conselho da Europa apresenta um relatório sobre o trabalho desenvolvido e sobre o 
funcionamento da Convenção ao Comité de Ministros. 
 
3 - Os comités de peritos propõem ao Comité de Ministros os critérios de atribuição e 
o 
regulamento de um Prémio da Paisagem do Conselho da Europa. 
 
 
Artigo 11.º - Prémio da Paisagem do Conselho da Europa 
 
1 - O Prémio da Paisagem do Conselho da Europa pode ser atribuído às autoridades 
locais e regionais e às associações por elas constituídas que, no quadro da política da 
paisagem de uma Parte signatária da presente Convenção, estabeleceram uma política 
ou medidas de protecção, gestão e ou ordenamento das suas paisagens, 
demonstrando ser eficazes do ponto de vista da sustentabilidade, podendo assim 
constituir um exemplo para as outras autoridades territoriais europeias. A distinção 
também pode ser atribuída a organizações não governamentais que tenham 
demonstrado contribuir de forma notável para a protecção, a gestão e ou o 
ordenamento da paisagem. 
 
2 - As candidaturas ao Prémio da Paisagem do Conselho da Europa devem ser 
submetidas pelas Partes aos comités de peritos previstos no artigo 10.º As 
colectividades locais e regionais transfronteiriças e respectivas associações 
interessadas podem candidatar-se desde que administrem conjuntamente a paisagem 
em questão. 
 
3 - Mediante proposta dos comités de peritos mencionados no artigo 10.º, o Comité de 
Ministros define e publica os critérios para a atribuição do Prémio da Paisagem do 
Conselho da Europa, adopta o seu regulamento e atribui o Prémio. 
 
4 - A atribuição do Prémio da Paisagem do Conselho da Europa deve incentivar as 
30 
entidades que dele são titulares a garantir a protecção, a gestão e ou o ordenamento 
sustentável das paisagens em causa. 
 
 
CAPÍTULO IV 
Disposições finais 
Artigo 12.º - Relação com outros instrumentos 
 
As disposições da presente Convenção não prejudicam a aplicação de disposições mais 
rigorosas relativas à protecção, à gestão e ou ao ordenamento da paisagem 
estabelecidas 
noutros instrumentos nacionais ou internacionais vinculativos, em vigor ou que 
entrem em vigor. 
 
 
Artigo 13.º - Assinatura, ratificação e entrada em vigor 
 
1 - A presente Convenção será aberta para assinatura por parte dos Estados membros 
do 
Conselho da Europa. Será submetida a ratificação, aceitação ou aprovação. Os 
instrumentos de ratificação, aceitação ou aprovação serão depositados junto do 
Secretário-Geral do Conselho da Europa. 
 
2 - A Convenção entrará em vigor no 1.º dia do mês seguinte ao termo de um período 
de 
três meses após a data na qual 10 Estados membros do Conselho da Europa tenham 
expressado o seu consentimento em vincular-se à Convenção em conformidade com 
as disposições do parágrafo anterior. 
 
3 - Para qualquer Estado signatário que exprima posteriormente o seu consentimento 
em vincular-se à Convenção, esta entrará em vigor no 1.º dia do mês seguinte ao 
termo de um período de três meses após a data do depósito do instrumento de 
ratificação, aceitação ou aprovação. 
 
 
Artigo 14.º - Adesão 
 
1 - Após a entrada em vigor da presente Convenção, o Comité de Ministros do 
Conselho da Europa pode convidar a Comunidade Europeia e qualquer outro Estado 
europeu que não seja membro do Conselho da Europa a aderir à Convenção por 
decisão tomada por maioria, como disposto no artigo 20.º, alínea d), do Estatuto do 
Conselho da Europa, e por voto unânime dos Estados Parte com assento no Comité de 
31 
Ministros. 
 
2 - Em relação a qualquer Estado aderente, ou em caso de adesão pela Comunidade 
Europeia, a Convenção entrará em vigor no 1.º dia do mês seguinte ao termo de um 
período de três meses após a data do depósito do instrumento de adesão junto do 
Secretário-Geral do Conselho da Europa. 
 
 
Artigo 15.º - Aplicação territorial 
 
1 - Qualquer Estado ou a Comunidade Europeia pode, no momento da assinatura ou 
quando do depósito do

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