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LIVRO PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

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Psicologia do Desenvolvimento
Autores
 Ercília Maria de Paula
 Fernando Wolff Mendonça
2.a edição 
2009
© 2007-2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do 
detentor dos direitos autorais.
P324 Paula, Ercília Maria de. ; Mendonça, Fernando Wolff. / Psicologia 
do Desenvolvimento. / Ercília Maria de Paula. Fernando Wolff
Mendonça. 2. ed. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009.
164 p.
ISBN: 85-7638-585-6
1. Psicologia do desenvolvimento 2. Comportamento humano – 
desenvolvimento 3. Aprendizagem I. Título II. Mendonça, Fernando 
Wolff.
CDD 155
Todos os direitos reservados.
IESDE Brasil S.A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel 
80730-200 • Curitiba • PR
www.iesde.com.br
Sumário
Apresentação ............................................................................................................................7
Aspectos históricos da Psicologia ............................................................................................9
As diferentes linhas do pensamento psicológico ..................................................................................... 10
O desenvolvimento humano ..................................................................................................................... 15
Atividades ................................................................................................................................................ 15
Dicas de estudo ........................................................................................................................................ 16
Vygotsky: vida e obra – a história de um gênio .....................................................................19
Vygotsky e a sua visão da realidade ......................................................................................................... 20
Atividades ................................................................................................................................................ 23
Dicas de estudo ........................................................................................................................................ 24
Bases epistemológicas: o processo de humanização .............................................................25
Atividades ................................................................................................................................................ 28
Dicas de estudo ........................................................................................................................................ 29
Processo de humanização: comportamento animal versus comportamento humano ............31
A cultura ................................................................................................................................................... 33
A significação ........................................................................................................................................... 34
Atividades ................................................................................................................................................ 36
Dicas de estudo ........................................................................................................................................ 37
A função do instrumento e do símbolo ..................................................................................39
Atividades ................................................................................................................................................ 43
Dicas de estudo ........................................................................................................................................ 44
A formação de conceitos elementares ....................................................................................45
Atividades ................................................................................................................................................ 48
Dicas de estudo ........................................................................................................................................ 49
Formação de conceitos científicos .........................................................................................51
Atividades ................................................................................................................................................ 54
Dicas de estudo ........................................................................................................................................ 55
Piaget 1 .................................................................................................................................. 57
Introdução ................................................................................................................................................ 57
O desenvolvimento mental segundo Piaget ............................................................................................ 58
Atividades ................................................................................................................................................ 62
Dicas de estudo ........................................................................................................................................ 63
Piaget 2: estágios do desenvolvimento ..................................................................................65
O que são os estágios ............................................................................................................................... 65
Atividades ................................................................................................................................................ 71
Dicas de estudo ........................................................................................................................................ 72
Piaget 3: o desenvolvimento da inteligência ..........................................................................73
Aprendizagem .......................................................................................................................................... 74
Texto complementar ................................................................................................................................. 76
Atividades ................................................................................................................................................ 79
Dicas de estudo ........................................................................................................................................ 80
Wallon e a Psicologia Genética ..............................................................................................81
Aspectos biográficos ............................................................................................................................... 81
Fundamentos epistemológicos ................................................................................................................. 82
Atividades ................................................................................................................................................ 85
Dicas de estudo ........................................................................................................................................ 86
Wallon e o desenvolvimento da consciência .........................................................................87
As leis reguladoras .................................................................................................................................. 87
Os estágios ..............................................................................................................................................88
Atividades ................................................................................................................................................ 91
Dicas de estudo ........................................................................................................................................ 92
A obra de Sigmund Freud ......................................................................................................93
Biografia ................................................................................................................................................... 93
Contextualização histórica da Psicanálise ............................................................................................... 95
Texto complementar ................................................................................................................................. 99
Atividades .............................................................................................................................................. 100
Dicas de estudo ...................................................................................................................................... 101
Evolução dos instintos ........................................................................................................103
Fase oral ................................................................................................................................................ 104
Fase anal ................................................................................................................................................. 104
Fase fálica .............................................................................................................................................. 105
Fase de latência ..................................................................................................................................... 106
Fase genital ............................................................................................................................................ 107
A construção do aparelho psíquico ....................................................................................................... 107
Atividades .............................................................................................................................................. 108
Dicas de estudo ...................................................................................................................................... 108
Mecanismos de defesa .........................................................................................................109
Sublimação ............................................................................................................................................ 109
Negação ..................................................................................................................................................110
Projeção ..................................................................................................................................................110
Introjeção ................................................................................................................................................111
Identificação ............................................................................................................................................111
Formação reativa .....................................................................................................................................112
Isolamento ...............................................................................................................................................112
Anulação .................................................................................................................................................112
Deslocamento .........................................................................................................................................112
Idealização ..............................................................................................................................................113
Conversão ................................................................................................................................................113
Regressão ...............................................................................................................................................113
Racionalização .......................................................................................................................................113
Princípio fundamental da teoria psicanalítica ........................................................................................114
O professor e a teoria freudiana da aprendizagem ..................................................................................114
Texto complementar ................................................................................................................................117
Atividades .............................................................................................................................................. 120
Dicas de estudo ...................................................................................................................................... 121
Erik Erikson: o desenvolvimento psicossocial ...................................................................123
Formação da personalidade ................................................................................................................... 124
Crise psicossocial .................................................................................................................................. 124
Desenvolvimento contínuo .................................................................................................................... 125
Estágios psicossociais ............................................................................................................................ 125
Atividades .............................................................................................................................................. 130
Dicas de estudo ...................................................................................................................................... 131
A Psicologia Cognitiva: o processamento da informação ....................................................133
Linhas de pesquisa emprocessamento da informação ............................................................................ 135
Contribuições para os dias de hoje ........................................................................................................ 137
Atividades .............................................................................................................................................. 138
Dicas de estudo ...................................................................................................................................... 139
As inteligências múltiplas de Howard Gardner ..................................................................141
O que são as múltiplas inteligências? ..................................................................................................... 141
Critérios para existência da inteligência ................................................................................................ 142
Os tipos de inteligência de Gardner ...................................................................................................... 143
Atividades .............................................................................................................................................. 145
Dicas de estudo ......................................................................................................................................146
A inteligência triárquica de Robert Sternberg .....................................................................147
A inteligência e o mundo interno .......................................................................................................... 148
A inteligência e a experiência ............................................................................................................... 149
A inteligência e o mundo externo .......................................................................................................... 149
Atividades .............................................................................................................................................. 150
Dicas de estudo ...................................................................................................................................... 151
A importância das perspectivas psicológicas do desenvolvimento .....................................153
Atividades .............................................................................................................................................. 156
Dicas de estudo ...................................................................................................................................... 157
Referências ...........................................................................................................................159
Apresentação
E ste livro foi preparado para que você acompanhe as aulas de Psicologia do Desenvolvimento e aprofunde seus conhecimentos sobre as mudanças de comportamento humano durante as mais diferentes fases da vida.
Nele, você encontrará subsídios essenciais para sua prática profissional; ao longo das aulas, 
além de entrar em contato com o contexto histórico do surgimento dessa disciplina, conhecerá 
suas diferentes correntes, alguns dos principais estudiosos e as contribuições contemporâneas a 
esse campo. 
Para que você possa fixar o que aprendeu, o livro traz atividades abertas e exercícios, e também 
sugestões de leitura e de filmes, os quais ilustram os debates e podem ajudá-lo a perceber a aplicação 
dos conceitos aprendidos na prática. 
Aspectos históricos 
da Psicologia
Ercília Maria de Paula*
Fernando Wolff Mendonça**
Embora tenha sido uma das ciências mais antigas da humanidade, a Psicologia foi considerada como pré-científica durante muitos anos, pois defendia o dualismo do corpo e da alma. Acreditava-se que os “desvios” de comportamento humano 
ocorriam em decorrência dos espíritos que habitavam o corpo físico. O pensamento 
mítico era predominante e as diferenças comportamentais eram explicadas em 
função dos deuses e dos fenômenos sobrenaturais. 
De acordo com Davidoff (1983), a preocupação da Psicologia esteve voltada, 
no século XIX, para o estudo do cérebro, dos nervos e dos órgãos dos sentidos. 
Esse período é considerado o início da Psicologia científica, que utilizava diferentes 
procedimentos experimentais para explicar a mente humana. Com o tempo, a 
Psicologia foi se expandindo em diferentes correntes e sua linguagem também foi 
sendo popularizada.
Habitualmente, usamos o termo psicologia para as características de 
comportamento das pessoas que encontramos no cotidiano. É comum usarmos 
expressões como:
– Hoje estou psicologicamente afetado.
– Você percebeu como ela ficou abalada emocionalmente?
– Saí da loja com produtos que não queria comprar: aquele vendedor usou 
de muita psicologia para me convencer.
– José, eu vim falar com você porque você tem muita psicologia para ouvir 
as pessoas.
Essa forma popular de falarmos da Psicologia não representa, de fato, o 
fazer do psicólogo no seu dia-a-dia. Esse psicologismo, utilizado no cotidiano por 
muitas pessoas, ressalta o impacto que a ciência da Psicologia vem causando, por 
suas ações e seu fazer junto às pessoas. Porém, distante de toda essa realidade, 
a Psicologia veio buscando sua identidade como trabalho científico. Muito mais 
que a simples observação dos fenômenos cotidianos, ela procura estabelecer um 
critério sistematizado para analisar os fenômenos humanos inseridos na realidade 
cotidiana. Sendo assim, busca se diferenciar do senso comum para se tornar 
efetivamente uma disciplina científica. Para tanto, vem buscando fundamentos 
teóricos e científicos, bem como metodológicos, que proporcionem esse 
posicionamento diante da sociedade contemporânea.
 Doutora em Educação pela 
UFBA. Mestra em Educação 
pela USP. Pedagoga pela Uni-
camp. Professora do Ensino 
Superior.
 Mestre em Educação pela 
UFPR. Especialista em Peda-
gogia Terapêutica pela Univer-
sidade Tuiuti do Paraná. Fono-
audiólogo pela PUCPR.
Psicologia do Desenvolvimento
10
As diferentes linhas do pensamento psicológico
Como decorrência dessa necessidade de se colocar socialmente como 
ciência, muitas correntes foram se estabelecendo na Psicologia, tentando entender 
como o ser humano poderia ser concebido. Mostraremos algumas delas e seus 
principais pressupostos.
Estruturalismo
Tem como seus principais representantes o psicólogo e fisiologista 
alemão Wilhelm Wundt (1832-1920) e o psicólogo americano Edward Bradford 
Titchener (1867-1927). No começo do século XX, Wundt e Titchener discutiram 
com pensadores da época o conceito de mente e certas condições do método da 
introspecção científica. O objeto de estudo desta escola é a consciência mediante 
a introspecção e a auto-observação controlada. A mente, ou consciência imediata, 
não é algo substancial, mas somente processos elementares da atividade mental: 
sensação, sentimento e imagem.
Para Davidoff (1983), a Psicologia experimental de Wundt estuda as 
operações mentais centrais, como atenção, intenções e metas. Os sujeitos desses 
estudos são treinados para descrever, da forma mais objetiva possível, suas 
experiências com determinados estímulos de cores, sabores e odores. Wundt 
interessava-se por anatomia e sua vida acadêmica era voltada para a pesquisa 
fisiológica sobre as percepções sensoriais. O sistema da introspecção, proposto 
e praticado nos laboratórios de Wundt, refletia o método que os psicólogos 
utilizavam para que os sujeitos das pesquisas relatassem suas experiências 
internas em relação aos estímulos ambientais. Esses relatos eram os julgamentos 
e as observações conscientes dos sujeitos sobre o tamanho, a intensidade e a 
duração dos estímulos. A partir desses experimentos e relatos, Wundt descrevia 
a maneira como a consciência humana era estruturada.
Funcionalismo
Seus representantes mais destacados são o pedagogo e filósofo americano 
John Dewey (1859-1952) e o filósofo americano William James (1842-1910). 
Eles incorporam a concepção do naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882) 
afirmando que a mente humana e a conduta humana são adaptativas e que o 
ponto central da Psicologia está na ação ou na conduta. Para Dewey e James, o 
que a consciência possui é menos importante do que aquilo que ela faz. Segundo 
esses autores, não existe produção mental que não seja acompanhada de uma 
modificação corporal. Além disso, eles apresentam a relação estímulo-resposta 
como a proposta metodológica de seu trabalho.
A Psicologia Funcionalista interessa-se em compreender como ocorre o 
funcionamento e a adaptação da mente dos indivíduos no meio em que esses 
indivíduos se inserem. De acordo com Schultz (1992), o funcionalismo estuda as 
influências das crenças no comportamento emocional e corporal das pessoas, bem 
Aspectos históricos da Psicologia
11
como investiga a formação dos conceitos de acordo com as necessidades humanas. 
Para esta corrente, as pessoas apresentam comportamentos diferenciados em 
relação aos estímulos que recebem. Não existe uma única resposta aos estímulos: 
as respostas variam conforme os comportamentos adaptativos das pessoas. 
Portanto, a consciênciae as sensações são mutáveis. O funcionalismo investigou 
a estrutura psicológica de diferentes populações – como animais, crianças, povos 
primitivos e deficientes – para descobrir as variações nas organizações mentais 
desses grupos.
Gestalt
Questionando o reducionismo proposto pelo estruturalismo e pelo 
funcionalismo, a Gestalt prega que o todo é maior que a soma de suas partes, 
assim buscando ser uma Psicologia integrativa de caráter globalista. Propõe 
que para entender o todo é preciso analisá-lo em sua configuração, analisando e 
integrando as suas partes constituintes.
Segundo Davidoff (1983), a Gestalt surgiu como protesto contra o 
estruturalismo, principalmente contra a prática de reduzir experiências complexas 
a elementos simples. A invenção do cinema foi a demonstração de como uma 
série de fotografias e imagens imóveis, quando eram rapidamente apresentadas, 
transformavam-se em imagens contínuas. Dessa maneira, verificava-se que o filme 
projetado na tela esboçava o todo das partes que o compunham. O movimento 
aparente não podia ser compreendido, portanto, sem as análises de todos os 
seus componentes. A Gestalt é uma corrente muito significativa no estudo das 
percepções e também contribui para a compreensão dos indivíduos como parte de 
um campo mais amplo que inclui o organismo e o meio.
Conexionistas
Para o psicólogo americano Edward Lee Thorndike (1874-1949), o 
comportamento do sujeito é modelado pelo ambiente e segue leis que o direcionam. 
E esse comportamento só será efetivo se for condicionado por três princípios:
 lei do efeito – a aprendizagem se manterá ou não segundo as conseqüências 
que produz (reforçamento);
 lei do exercício – a importância da prática para que se mantenham as 
conexões nervosas e se fortaleça o aprendido;
 lei da disposição – se não existe disposição, não se produz comportamento 
aprendido, pois é a disposição que permite o comportamento.
Thorndike propunha conexões entre estímulos e respostas e seus experimentos 
envolviam o uso de animais. Um dos seus estudos clássicos foi a experiência que 
realizou com um gato privado de alimentos que ficou em uma caixa fechada com 
vários trincos. Para sair da caixa, o animal tinha que encontrar a alavanca correta 
para acessar o alimento, que estava do lado de fora. Por meio da lei do exercício, 
com diversas tentativas de ensaio e erro (empurrar, farejar e dar patadas), o gato 
Psicologia do Desenvolvimento
12
conseguiu abrir a alavanca. Em outras situações – quando o animal era recolocado na 
caixa, acionava a alavanca e conseguia o alimento –, manifestava-se a lei do efeito. A 
comida era sua recompensa e funcionava como um reforço positivo. Porém, quando o 
gato acionava a alavanca e não encontrava o alimento, sua resposta era enfraquecida. 
O uso prolongado da resposta incorreta fazia com que a resposta fosse sendo extinta, 
pois funcionava como um reforço negativo. Portanto, para os conexionistas, um 
comportamento poderia tanto ser reforçado como esquecido se não fossem realizadas 
as conexões necessárias: se o animal não encontrasse uma maneira de alcançar o 
alimento desejado, não havia disposição para realizar a ação.
Psicanálise
Para o médico austríaco Sigmund Freud (1859-1939), pai da Psicanálise, os 
processos psíquicos são de natureza inconsciente e os processos conscientes não 
são senão atos isolados ou fracionados da vida total. Segundo Freud, determinados 
impulsos instintivos, que podem ser unicamente de natureza sexual, desempenham 
um papel entre as causas das enfermidades nervosas, psíquicas, e colaboram na 
gênese das mais altas criações culturais, artísticas e sociais.
A Psicanálise considera que os processos mentais não ocorrem ao acaso: 
existem razões para os acontecimentos humanos, os sentimentos ou as ações. 
De acordo com Bock (2000), a Psicanálise busca o significado oculto das nossas 
ações, o qual é expresso por meio de gestos, palavras ou sonhos. Na educação, a 
Psicanálise assume um papel significativo no estudo da afetividade, dos recalques, 
das repressões, das projeções, das transferências e dos mecanismos de defesa 
vivenciados nas relações entre professores e alunos.
Reflexologia
O fisiologista russo Ivan Sechenov (1829-1905) e o fisiologista e psicólogo 
soviético Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) descobriram os mecanismos reguladores 
da conduta, os quais podem ser inibidos ou intensificados pelos mecanismos de 
estímulo e resposta. Pavlov propõe que as atividades nervosas superiores podem ser 
estudadas pelo procedimento do reflexo condicionado. Assim, o condicionamento é 
assumido como técnica fundamental, o que permite descobrir as condições para que, 
frente ao estímulo, haja uma resposta que não lhe pertence.
Por meio de pesquisas realizadas com cães, Pavlov demonstrou como um 
comportamento pode ser condicionado. Em seus estudos, ele observou que, se a 
comida era ofertada aos cães associada ao som de uma campainha, essa ação fazia 
com que esses animais, com o passar do tempo, já começassem a salivar quando 
ouviam o sinal da campainha. Esse aspecto representava um reflexo condicionado 
e essa resposta só ocorria em função de uma conexão existente entre o estímulo 
(o som) e a resposta (a comida). 
O processo de condicionamento não ocorre somente com os animais, mas 
também no cotidiano das pessoas. Alguns exemplos (acordar ao som do despertador, 
Aspectos históricos da Psicologia
13
atender ao som do celular, dormir em horários determinados) representam que o 
organismo está condicionado a oferecer determinadas respostas em função dos 
estímulos gerados. 
Condutivismo
Esta é a base de uma Psicologia eminentemente prática, sem nada de 
introspecção, tendo como objetivos a predição e o controle da conduta. São 
seus representantes os psicólogos americanos John Broadus Watson (1878-
1958), Clarck Leonard Hull (1884-1952), Edward Chace Tolman (1886-1959) 
e Burrhus Frederic Skinner (1904-1990). Este último propõe o condutivismo 
radical ou behaviorismo, segundo o qual toda conduta humana é completamente 
determinada, nunca havendo liberdade de escolha.
O termo behaviorismo deriva da palavra inglesa behavior, que significa 
“comportamento”. Skinner, um dos principais representantes desta corrente, 
observava que o comportamento humano podia ser modelado. De acordo com 
Fadiman (1986), em um dos seus experimentos Skinner observou que se, após 
realizar uma ação positiva, uma criança recebia uma bala, esse ato reforçava 
os comportamentos positivos dessa criança. Entretanto, se essa mesma criança 
realizava comportamentos de birra com a mãe todas as vezes que freqüentava uma 
loja, com o intuito de que sua mãe comprasse brinquedos, e se essa criança fosse 
atendida nos seus apelos, a mãe estava reforçando comportamentos negativos de 
sua filha. Portanto, ao estudar os reflexos, Skinner investigava a ocorrência desses 
reflexos e as respostas desejadas e indesejadas. A teoria condutivista é criticada na 
educação por estudar formas de recompensas no processo educacional, formas de 
controle do comportamento e por enfatizar o ensino programado, que centraliza o 
processo educacional no professor.
Psicologia soviética
O psicólogo russo Lev Semionóvitch Vygotsky (1896-1934) estudou as 
capacidades humanas (como cada um é capaz, com as ajudas adequadas, de 
desenvolver uma habilidade) e define consciência como o autêntico objeto de 
estudo da Psicologia: a consciência é a função mais especializada do cérebro e 
se desenvolve no contexto das relações sociais. Em suas investigações sobre os 
processos neuropsicológicos da mente humana, Vygotsky teve a colaboração do 
neurologista russo Aleksandr Romanovitch Luria (1902-1977).
A origem russa de Vygotsky contribuiu para que seus estudos recebessem 
influência do socialismo e estivessem voltados para as interações sociais e a 
construção coletivado conhecimento. Para ele, o ensino não estava somente 
centrado no professor, mas em todos os integrantes da sala de aula. A Psicologia 
soviética discutia a não-universalidade de padrões de desenvolvimento. Nesta 
corrente, a estrutura e o funcionamento do psiquismo humano são construídos de 
acordo com a cultura dos indivíduos. 
Psicologia do Desenvolvimento
14
Psicologia humanista
Propõe a clara distinção entre homens e animais: os homens têm uma 
natureza específica comum a outros homens e possuem uma natureza individual, 
que é única e sem repetição. Portanto, cada sujeito deve ser estudado como é, sem 
preestabelecimento de juízos ou conceitos. A Psicologia humanista se baseia em 
alguns princípios, como os de o homem:
 ser mais que uma soma de partes; 
 ser a essência em um contexto humano; 
 viver de forma consciente; 
 ter condições de escolha;
 ser orientado para metas. 
Os maiores representantes desta corrente são o psicopedagogo americano 
Carl Rogers (1902-1987) e o psicólogo americano Abraham Maslow (1908-1970).
O humanismo na educação prioriza a pessoa que aprende e a escola deve 
ensinar valores democráticos ao aluno, levando-o à autodireção. Assim,
 a aprendizagem transcende os limites cognitivos, afetivos e motores; 
 a educação deve ter qualidade de um envolvimento pessoal e a pessoa 
precisa ser tratada como um todo; 
 a avaliação reside no educando; 
 o aluno auxilia a realizar o planejamento, a formular questões, a discutir 
problemas referentes ao grupo e a avaliar as conseqüências de suas 
escolhas; 
 o professor precisa ser um facilitador da aprendizagem e estabelecer um 
clima de receptividade entre os alunos.
Cognitivismo
O objetivo principal desta corrente é a atividade humana de um sujeito 
que busca, escolhe, elabora, interpreta, transforma, armazena e reproduz a 
informação proveniente do meio ambiente ou do seu interior. Direcionado por um 
objetivo, esse sujeito planeja, programa, executa e corrige a ação em processo até 
o término dessa ação. O biólogo e filósofo suíço Jean Piaget (1896-1980) concebe 
o conhecimento como um conjunto de estruturas cognitivas que permitem à 
criança adaptar-se ao ambiente. E ele chama de epistemologia genética ao seu 
campo de estudo, sobre as origens e os estágios da inteligência e do conhecimento 
na criança. Os teóricos do processamento da informação estabelecem correlação 
entre os comportamentos humanos e os ordenadores de modelos virtuais, que 
processam informações mediante mecanismos de entrada, processamento e 
saída de informações, assim como acontece com o sistema cerebral humano. A 
partir disso, esses teóricos propõem um sistema de modelos de funcionamento 
da mente humana.
Aspectos históricos da Psicologia
15
Piaget buscou nas crianças a origem do conhecimento. No início de suas pesquisas, ele realizava 
observação direta do comportamento de seus três filhos. Com o tempo, foi sistematizando seu método 
de investigação para entender a lógica infantil. Para ele, o desenvolvimento cognitivo ocorria por 
meio de processos constantes de desequilíbrio e equilibração. Ou seja, a cada interação do indivíduo 
com um objeto desconhecido, o indivíduo assimilava as estruturas desse objeto e, posteriormente, 
acomodava as características desse objeto ao seu pensamento. Dessa maneira, novos elementos 
eram incorporados à estrutura mental dos indivíduos e, em sucessivos processos de desequilíbrio e 
equilibração, os sujeitos construíam conhecimentos. 
O desenvolvimento humano
A partir dessas diferentes abordagens e pontos de vista sobre o comportamento humano, 
buscaremos um referencial que nos permita entender como nos constituímos como sujeitos. Para 
tanto, partimos de algumas premissas.
 Em primeiro lugar, o princípio de que o ser humano não é um sujeito acabado ao nascimento: 
ele se constitui ao longo de seu desenvolvimento e de maneira tão peculiar e única que 
exige um estudo organizado para serem conhecidas as formas e as condições em que um 
sujeito vai se formando ao longo de sua vida. Para tanto, faz-se necessário que a Psicologia 
do Desenvolvimento estude, com base nos teóricos que admitem tais condições de 
desenvolvimento da criança, o processo de constituição de cada um.
 Posteriormente, deve ser claro que devemos levar em conta a condição de existência de 
cada um de nós a partir desse processo contínuo. Assim, teóricos que tenham essa óptica 
são eleitos para nosso estudo: as perspectivas psicanalítica, cognitivista e interacionista 
são as escolhidas para discutirmos, ao longo deste material, como se dá o comportamento 
humano a partir do desenvolvimento, da infância até a maturidade. E dessa forma 
poderemos construir um referencial teórico útil na relação que manteremos com a criança 
ao longo do processo de escolarização.
1. Escolha três amigos de sua sala de aula e discuta com eles as questões abaixo.
 São as características psicológicas humanas um atributo da espécie ou um processo de 
desenvolvimento gradual e aprendido?
Psicologia do Desenvolvimento
16
 Nas perspectivas teóricas apresentadas, quais dão prioridade ao desenvolvimento 
proporcionado pelo meio, quais dão prioridade ao biológico e quais propõem uma visão 
interativa de sujeito humano?
2. Discuta com seus amigos quais as características diferenciais entre o que pensa uma criança e 
o que pensa um adulto dentro do ponto de vista psicológico.
3. Das correntes psicológicas estudadas, qual defende a afirmativa de que “toda conduta humana 
é completamente determinada, nunca havendo liberdade de escolha”?
CARPIGIANI, Berenice. Psicologia: das raízes aos movimentos contemporâneos. São Paulo: Pioneira 
Thomson Learning, 2004.
Para entender melhor a teoria psicanalítica, assistir ao filme:
Freud Além da Alma (EUA, 1962), com direção de John Huston.
Abordagem dos problemas vivenciados por Freud para que a Psicanálise fosse aceita como 
ciência e também as principais idéias da teoria freudiana.
Aspectos históricos da Psicologia
17
Para entender melhor a teoria behaviorista, há dois filmes, conforme abaixo.
Laranja Mecânica (Inglaterra, 1971), com direção de Stanley Kubrick.
Narra a vida do líder de um grupo de jovens violentos e torturadores que é preso e, na cadeia, 
são realizados experimentos e apresentadas diversas formas de controle do seu comportamento e 
sua consciência.
O Show de Truman (EUA, 1998), com direção de Peter Weir.
Apresenta uma pessoa que tem sua vida transmitida para os Estados Unidos inteiro em canal de TV 
paga, mas não sabe o que está acontecendo, não sabe que tudo o que ocorre ao seu redor é fictício, até o 
dia em que descobre a farsa. O filme retrata os limites do controle do comportamento na vida humana.
Psicologia do Desenvolvimento
18
Vygotsky: vida e obra – 
a história de um gênio
P ara compreender o direcionamento da obra de Vygotsky, é necessário compreender um pouco o percurso vivido pelo homem Lev Semenovich Vygotsky, bem como o contexto histórico e social em que ele estava inserido. Dessa forma, é necessário analisar as influências recebidas 
da família, do clima intelectual e social da época em que viveu.
Vygotsky nasceu em 5 de novembro de 1896, em Orsha, uma pequena cidade na Bielo-Rússia 
(alguns livros trazem a data de 17 de novembro, mas não consideraram que o antigo calendário russo 
trazia 12 dias de diferença em relação ao ocidental). Era descendente de uma família de origem 
judaica. Viveu sua infância em Gomel, na companhia dos pais e dos sete irmãos. Foi uma infância 
marcada por um ambiente desafiador em termos intelectuais e tranqüila quanto ao aspecto econômico: 
o pai era bancário e a mãe, professora formada, dedicou-se à criação dos filhos. Eles foram os 
principais organizadores da biblioteca pública da cidade, da qual todos os filhos e amigos eram ativos 
freqüentadores.Até os 15 anos, sua educação ocorreu em casa, acompanhada pelo tutor Solomon Asphiz. Desde 
muito jovem, ele se mostrava um estudante dedicado, um amante das artes e da literatura. Em sua 
casa, havia uma biblioteca onde estudava sozinho ou na companhia de amigos. Um aspecto marcante 
na sua formação foi o aprendizado de diferentes idiomas, o que lhe permitiu contato com textos de 
diversas línguas.
Aos 17 anos, completou o curso secundário, recebendo medalha de ouro por seu brilhante 
desempenho. Por sua origem étnico-religiosa, enfrentou dificuldades para ingressar no ensino superior: 
a Universidade de Moscou oferecia apenas 3% das vagas para estudantes judeus. Para conseguir seu 
ingresso, Vygotsky participou de um sorteio. Em 1914, iniciou seus estudos no curso de Medicina, 
opção que, apoiada por seus pais, poderia lhe proporcionar uma vida estável, mas depois de um mês se 
transferiu para Direito e Literatura. Como trabalho de conclusão de curso, apresentou um estudo sobre 
Hamlet, de Shakespeare, obra que mais tarde se tornaria o livro Psicologia da Arte, no qual discute a 
influência da literatura no indivíduo.
Vygotsky começou sua carreira profissional aos 21 anos, após a Revolução Russa. No período 
entre 1917 e 1923, ele lecionou e proferiu várias palestras sobre temas ligados à Literatura, além de 
fazer crítica literária. Duas características marcantes definem o estudioso nessa época: o seu retorno 
à medicina (mesmo já sendo renomado, freqüentou o primeiro ano com naturalidade, junto aos alunos 
mais novos) e sua aptidão para a leitura (seu amigo Luria o definiu como um “leitor em diagonal”, sem 
dizer que o que Vygotsky lia não eram novelas românticas).
Seu interesse pela Psicologia surgiu de forma mais sistemática a partir do contato com crianças 
com problemas congênitos. Vygotsky trabalhou intensamente no início do período pós-revolucionário e, 
a partir de suas experiências, passou a pensar em alternativas que pudessem auxiliar no desenvolvimento 
dessas crianças.
Ele estudava os problemas neurológicos das crianças para compreender o funcionamento psi-
cológico do homem. Sua atividade acadêmica foi muito diversificada. Atuou nas áreas de Psicologia, 
Psicologia do Desenvolvimento
20
Pedagogia, Filosofia, Literatura e de atendimento aos portadores de necessidades 
especiais. Para entender o funcionamento da mente humana, iniciou suas pesqui-
sas com crianças que não possuíam os padrões considerados “normais”. Vygotsky 
considerava que era preciso ir além dos pressupostos e dos objetivos do desenvol-
vimento humano. Para ele, o desenvolvimento variava consideravelmente segun-
do as tradições e as circunstâncias culturais de diferentes comunidades. 
Naqueles anos, seus estudos sobre os grandes pensadores da época 
o colocaram em contato com as mais diferentes obras do seu tempo e suas 
preocupações com um ideal de sociedade o faziam decisivamente mais próximo 
das obras de Marx e Engels. Em 1919, descobriu ser portador de tuberculose, 
doença que o mataria 15 anos mais tarde, mas que em momento algum lhe tirou a 
tenacidade e a obstinação.
Em sua carreira, 1924 é um marco: a partir desse ano, Vygotsky se dedicou de forma 
mais sistemática ao estudo da Psicologia, tendo realizado uma palestra no 2.º Congresso 
Psiconeurológico e causando espanto e admiração em pesquisadores renomados que 
viram aquele jovem de 28 anos abordar, com clareza e de forma revolucionária, as idéias 
acerca do estudo do comportamento consciente humano. Depois disso, ele foi convidado 
a trabalhar no Instituto de Psicologia de Moscou, mudando-se para essa cidade e dando 
início à construção de sua obra. Foi também aos 28 anos que ele se casou, e dessa união 
teve duas filhas. Em 11 de junho de 1934, morreu em Moscou.
A produção de Vygotsky foi vasta. Porém, como ele faleceu aos 37 anos de 
idade, muitos de seus textos não expressavam detalhes dos seus experimentos 
e pesquisas. De todo modo, a produção de Vygotsky era revolucionária para 
sua época pelo fato de romper com a estagnação da Psicologia e das ciências 
educacionais de então. É preciso destacar que as obras de Vygotsky foram 
ignoradas no Ocidente até 1962 por problemas políticos e pela situação de 
isolamento que a União Soviética apresentava em relação aos centros europeus 
e americanos de produção do conhecimento. 
Vygotsky e a sua visão da realidade
A obra de Vygotsky é inovadora, contrapondo-se às visões correntes na 
sua época. Nas primeiras décadas do século XX, a Psicologia estava dividida 
em duas tendências. 
O grupo ligado à filosofia empirista encarava a Psicologia como ciência 
natural, devendo deter seu olhar na descrição das formas exteriores do 
comportamento. Este primeiro grupo ignorava os fenômenos complexos da 
atividade consciente, especificamente humana. 
Os empiristas defendiam que as pesquisas realizadas sobre o comportamento 
deveriam ser comprovadas por raciocínio dedutivo. Também enfatizavam os estudos 
dos comportamentos observáveis e desprivilegiavam pesquisas voltadas para o estudo 
de comportamentos que se manifestavam de forma subliminar, ou seja, no insconsciente 
humano. Para os empiristas, os comportamentos deveriam ser analisados e testados.
Vygotsky: vida e obra – a história de um gênio
21
O outro grupo, fundamentado na filosofia idealista, acreditava que 
a vida psíquica não pode ser alvo de estudo de uma ciência objetiva, já que 
era manifestação do espírito. Este segundo grupo ignorava as funções mais 
complexas do ser humano e se detinha na descrição subjetiva de tais fenômenos 
(REGO, 1995).
Os idealistas acreditavam que não era possível tratar o homem somente 
como resultado da interferência de um mundo físico e social. Eles procuravam 
entender o homem na sua totalidade, uma vez que o psiquismo sempre deveria ser 
visto na sua relação com o mundo.
No 2.º Congresso Psiconeurológico, o mais importante evento de Psicologia na 
época, Vygotsky buscou superar essa situação usando o método dialético marxista ao 
apresentar palestra sobre “A metodologia da investigação reflexológica e psicológica”, 
na qual expôs as bases de um pensamento para além da perspectiva vigente na 
Psicologia, propondo uma Psicologia de caráter materialista (MOLL, 2002).
A Psicologia materialista procurava entender os fenômenos e o psiquismo 
humano a partir da interação dos aspectos biológicos e sociais no desenvolvimento. 
O homem, em uma relação dialética, era ao mesmo tempo produto e produtor das 
relações sociais. O cérebro, para os materialistas, não era somente um órgão, mas 
também um sistema aberto e flexível cujo funcionamento era construído na própria 
história dos homens. O desenvolvimento biológico não era descontextualizado, 
mas pensado em uma relação direta com o desenvolvimento social. Sendo assim, 
a cultura transformava as pessoas, seus valores e representações.
Sobre essas bases, Vygotsky pretendia construir uma nova Psicologia, uma 
teoria marxista do pensamento humano. Essa nova forma de pensar a construção 
do humano deveria incluir:
A identificação dos mecanismos cerebrais subjacentes a uma determinada função: a 
explicação detalhada da sua história ao longo do desenvolvimento, com o objetivo de 
esclarecer as relações entre formas simples e complexas daquilo que aparentava ser 
o mesmo comportamento; e, de forma importante, deveria incluir a especificação 
do contexto social em que se deu o desenvolvimento de comportamento. (COLE; 
SCRIBNER apud VYGOTSKY, 1984).
Esse grande projeto conta com a colaboração de um grupo de pesquisadores, 
incluindo Alexander Romanovich Luria e Alexei Nikolaievich Leontiev, principais 
colaboradores de Vygotsky. Juntos, eles construíram a chamada tróica (“trinca”), 
da qual Vygotsky era o líder e que representava toda a efervescência da época 
pós-revolucionária. O grupo se encontrava com freqüência, aproximadamente 
seishoras de cada vez, duas vezes por semana.
Durante uma década de trabalho, Vygotsky e seu grupo se dedicaram à 
construção de uma nova Psicologia abordando diferentes temas relacionados ao 
desenvolvimento humano. Houve buscas incessantes sobre a formação do homem, 
em todos os referenciais da época, e o grupo realizou experiências ao longo de muitas 
pesquisas. Com a impossibilidade de acompanhar as pesquisas mais distantes, 
eram enviadas expedições pela Rússia em busca de dados que pudessem ilustrar 
Psicologia do Desenvolvimento
22
as suas perspectivas sobre o papel da cultura na constituição do sujeito. Luria e 
Leontiev foram os principais pesquisadores dessas expedições, cujos resultados 
podiam ser estudados profundamente pelos membros do grupo de pesquisa e, após 
as conclusões, era Vygotsky quem se encarregava da redação final da obra.
A teoria elaborada por Vygotsky ficou conhecida como teoria sócio-histórica 
ou teoria histórico-cultural. Para o autor, “o mundo psíquico que temos hoje não 
foi nem será sempre assim, pois sua caracterização está diretamente ligada ao 
mundo material e às formas de vida que os homens vão construindo no decorrer 
da história da humanidade” (BOCK, 2000, p. 86).
Segundo essa visão, o homem é um ser ativo, histórico, e social e dessa 
forma sua ação deixa na natureza marcas e produtos que serão apropriados pelos 
demais integrantes do núcleo social mediante as atividades praticadas. Além 
disso, o uso das ferramentas transforma as pessoas e a sociedade em que elas 
vivem.
O uso dos instrumentos é um conceito expressivo na teoria de Vygotsky, 
pois está associado ao trabalho e às transformações da natureza. De acordo com 
Oliveira (1997, p. 28), “é o trabalho que, pela ação transformadora do homem 
sobre a natureza, une homem e natureza e cria a cultura e história humana”. No 
trabalho se realizam as ações coletivas e a construção dos instrumentos.
Na história da humanidade, a evolução dos instrumentos demonstra como 
os homens foram construindo estratégias para se adaptarem e transformarem o 
meio social. No processo de alimentação, por exemplo, é possível verificar como as 
diferentes culturas foram elaborando múltiplas maneiras de conceber a forma e a 
estruturação coletiva de suas refeições. Os povos ditos primitivos foram elaborando 
ferramentas para poderem se alimentar. As mãos em concha e os objetos da natureza 
eram utilizados para beber água. Estes objetos foram os instrumentos precursores 
da invenção das colheres. Os objetos e materiais cortantes foram sendo adaptados e 
se transformaram em facas. Os galhos serviam como garfos. Estas foram algumas 
pequenas amostras da evolução do trabalho humano.
Para Oliveira (1997), os animais também utilizam instrumentos, porém, 
de forma rudimentar. A autora cita os exemplos dos chimpanzés, que usam 
varas para conseguir alimentos distantes. Todavia, os animais não produzem 
os instrumentos com os mesmos objetivos que os homens. A característica de 
preservar a função dos instrumentos e transmiti-las de geração para geração é 
um aspecto da cultura humana.
A apropriação desses instrumentos elaborados historicamente e a 
internalização dos modos de agir ocorrem no convívio social. Oliveira (1990) 
citou o caso verídico das meninas-lobo Amala e Kamala, na década de 1920 
na Índia. Abandonadas pequenas na selva, elas aprenderam a conviver com os 
animais. Quando foram encontradas, andavam, comiam e se comunicavam como 
os lobos. Durante um determinado tempo, ficaram internadas em uma instituição, 
mas tiveram poucos avanços nos aspectos sociais e cognitivos. Amala morreu 
com dois anos de idade e Kamala conseguiu sobreviver até os nove anos. Porém, 
Vygotsky: vida e obra – a história de um gênio
23
Kamala necessitou de seis anos para andar e, quanto à linguagem, apresentava um vocabulário bem 
precário. 
Essa situação representa a maneira como o convívio social possibilita criar condições para 
o aparecimento da consciência. Para Davis e Oliveira (1990), os homens, quando transformam a 
natureza e aprimoram seus instrumentos, estão desenvolvendo suas funções mentais superiores, 
como percepção, atenção, memória e raciocínio. Nesse processo, também estão formando suas 
personalidades. Cabe à Psicologia do Desenvolvimento, portanto, conhecer e compreender a forma 
de estruturação do comportamento humano e dos processos de aprendizagem. 
1. Pesquise e comente com os seus colegas a influência da revolução socialista de 1917 no pensa-
mento de Vygotsky.
2. Pesquise o significado da expressão homem concreto, levando em conta a teoria de Karl Marx.
3. Nas afirmativas abaixo, existe um enunciado que não corresponde à teoria materialista de 
Vygotsky. Marque com um X esse enunciado.
a) O materialismo busca entender os fenômenos e o psiquismo humano.
b) O materialismo compreende o homem como produto e produtor das relações sociais.
Psicologia do Desenvolvimento
24
c) O materialismo defende que o homem relaciona-se somente com os materiais. 
d) O materialismo é construído na história dos homens.
4. Qual o nome atribuído à teoria de Vygotsky?
a) Comportamentalista.
b) Behaviorista.
c) Histórico-cultural.
d) Cognitivista.
LEITE, Luci Banks; GALVÃO, Izabel. (Orgs.) A Educação de um Selvagem: as experiências 
pedagógicas com Jean Itard. São Paulo: Cortez, 2000.
História de um garoto selvagem, conhecido como Victor de Aveyron, que viveu nos anos de 
1801 a 1806 na França. O livro é composto por diversos artigos de pesquisadores brasileiros que 
enfocam as angústias, as dores e os prazeres, bem como os saberes da Psicologia e das experiências 
educacionais daquela época, utilizados por Jean Itard, um médico e pedagogo que desejava integrar 
Aveyron à sociedade. Também é mostrado o difícil processo de humanização daquele menino.
Indicação de filme: O Enigma de Kaspar Hauser (Alemanha, 1975), com direção de Werner Herzog. 
O filme retrata a vida de Kaspar Hauser, um garoto que apareceu numa praça de Nuremberg, 
em maio de 1828. Era um estranho, ninguém sabia quem era ou de onde vinha. Durante muitos anos, 
ele ficou trancado em um porão. Não sabia andar nem falar. Tinha aproximadamente 15 ou 16 anos de 
idade. O filme reflete a respeito da forma como as interações sociais foram sendo construídas entre 
o garoto e a comunidade. Também apresenta a maneira como as pessoas procuraram inseri-lo nos 
processos civilizatórios daquele local.
1 René Descartes (1596-1650), filósofo e matemá-
tico francês. Autor de Regras 
para a Direção do Espírito 
(1628), Discurso sobre o Mé-
todo (1637) e Princípios da 
Filosofia (1644). Sua primei-
ra preocupação foi fundar 
um método que permitisse o 
pensamento claro e distinto. 
Para o pensamento cartesia-
no, a racionalidade do mundo 
físico e biológico se expressa 
exclusivamente em termos de 
causa e efeito.
Bases epistemológicas: o 
processo de humanização
A Formação Social da Mente, uma das mais conhecidas obras de Vygotsky, marca uma das principais idéias da corrente sócio-histórica elaborada por ele, que não buscava descobrir a natureza da mente como uma colcha 
de retalhos, mas sim, com base no pensamento e no método marxistas, “saber 
de que modo a ciência tem de ser elaborada para abordar os estudos da mente” 
(VYGOTSKY, 1998, p. 10). Assim, o materialismo histórico deriva da influência 
de Marx em sua obra, enquanto para o materialismo dialético ele procurou 
fundamentação em Engels. Sobre suas bases marxistas se assentam os princípios 
da sua visão acerca da construção de uma ciência psicológica:
 os fenômenos devem ser estudados em permanente transformação;
 ao transformar a natureza com a sua atividade, o homem transforma 
também a si mesmo;
 o conhecimento só pode ser construído a partir da essência dos fenômenos 
e não da aparência, ou seja, é preciso conhecer sua gênese;a consciência é determinada pelo modo de vida concreta dos sujeitos.
Ele dirige dura crítica ao sistema cartesiano, proposto por Descartes 
(1649), pela incompletude de sua abrangência nas questões de Psicologia. Tinha 
uma admiração profunda pela obra de Spinoza (1675), que buscava uma relação 
monista (unificada) para o problema do corpo e da mente. Para Vygotsky, além de 
não possibilitar o entendimento das funções tipicamente humanas, as tendências 
cartesianas acabavam por gerar uma crise na Psicologia.
O filósofo Descartes1 era mecanicista e considerava que o corpo é um conjunto 
de reflexos regido pelas leis da física e da mecânica. Para Carpigiani (2004), o 
pensamento cartesiano estava voltado para a separação da mente e do corpo (alma 
e espírito) e considerava que a única interação possível entre essas estruturas 
ocorria por meio da glândula pineal. De acordo com Descartes, essa glândula era 
localizada na base do cérebro e responsável pela memória e pelo pensamento. 
Todavia, embora o pensamento cartesiano enfatizasse essa característica da 
dualidade, não concebendo o homem como um ser único, suas afirmativas, para a 
época, contribuíram para as pesquisas na área da anatomia. Até aquele momento, 
os estudos sobre o corpo humano eram condenados pela Igreja, que afirmava que 
os corpos são sagrados e, portanto, intocáveis. Dessa maneira, os corpos humanos 
não podiam ser estudados.
Descartes argumentava que os corpos dos animais eram como máquinas sem 
alma e, por isso, podiam ser dissecados e estudados. Nesse sentido, a separação 
entre corpo e mente favoreceu as pesquisas anatômicas. No entanto, o pensamento 
de Descartes não considerava a influência que a mente exerce sobre o corpo.
Psicologia do Desenvolvimento
26
Segundo Wertheimer (1982), o filósofo Benedito Spinoza2 descrevia de 
forma mais lógica e geométrica o comportamento humano. Spinoza discorreu 
sobre a epistemologia e a ética e propôs uma solução para o problema do corpo 
e da alma, desenvolvendo a perspectiva monista, que sustentava a unidade entre 
mente e corpo como substâncias unitárias. 
Na teoria sócio-histórica, Vygotsky entendia a construção da inteligência 
humana a partir da vertente interacionista, que conjugava o corpo com a alma. 
Também defendia a complementaridade dos aspectos biológicos e sociais no 
desenvolvimento humano. 
Essa teoria considera que é por meio das suas interações com outros seres 
humanos que o homem se constrói. Em outras palavras, o homem não nasce 
homem e sim com possibilidades de humanizar-se nas interações que estabelece 
ao longo da vida. Ao pensar assim, Vygotsky alia-se à perspectiva marxista de que 
o homem ao longo de sua existência tem produzido, pelo trabalho, transformações 
de natureza social e material. Nascidos nesse contexto, os sujeitos devem se 
apropriar dessas transformações para poderem participar da sociedade.
Entendida como instrumentos, essa produção permitiu que o homem atuasse 
sobre o meio – utilizando mediadores materiais, a priori, e simbólicos, a posteriori 
(PINO, 2000) – para promover sua relação com o outro e com a natureza. Assim, no 
seu nascimento, o sujeito encontra os elementos pertinentes à sua realidade, ou seja, ele 
interage com a tecnologia instrumental e simbólica vigente. Pode-se tomar um exemplo 
da necessidade do conhecimento digital para assim participar mais intensamente das 
transformações que o conhecimento gera na realidade dos dias de hoje.
As mediações simbólicas que o homem constrói ao longo de sua existência 
estão relacionadas à invenção dos signos, que são elementos da cultura humana 
e orientam o pensamento. Na atualidade, quando uma mãe está grávida, já existe 
um instrumental tecnológico desenvolvido por gerações anteriores que vão mediar 
as futuras interações do seu bebê com o mundo.
Ao longo da evolução das espécies, os homens foram elaborando diferentes 
instrumentos adaptados às crianças, como brinquedos, utensílios para a alimentação, 
e mesmo o mobiliário infantil. Além desses instrumentos, também foram sendo 
construídas representações sociais. Em diferentes culturas, a cor azul está associada 
ao sexo masculino e a cor rosa, ao sexo feminino. Portanto, mesmo antes de nascer, 
a criança já está imersa em um conjunto histórico de instrumentos, representações, 
signos e símbolos. A partir do nascimento, essa criança vai aos poucos se 
familiarizando e compreendendo seus significados. Tais símbolos e representações 
são expressos de várias formas em função das diversidades culturais.
Assim, as características tipicamente humanas não estão prontas no 
nascimento: desenvolvem-se no decorrer da vida.
As funções psicológicas superiores do ser humano surgem da interação dos fatores biológicos, 
que são parte da constituição física do Homo sapiens, com fatores culturais, que evoluíram 
através de dezenas de milhares de anos de história humana. (LURIA, 1994, p. 60). 
Para Vygotsky, as funções psicológicas superiores são:
2 Baruque de Spinoza (1632-1677), também chamado 
Benedito de Spinoza, filósofo 
holandês. Grande parte de 
sua obra foi publicada postu-
mamente: Ética (1661-1675), 
Tratado sobre a Reforma do 
Entendimento (1662) e Trata-
do Político (1676-1677). Seu 
maior objetivo foi transmitir 
uma mensagem libertadora 
diante de todas as servidões. 
Sua idéia moral sobre o homem 
se estende para a vida em so-
ciedade: a cidade existe pela 
reunião de todos no espírito de 
liberdade.
Bases epistemológicas: o processo de humanização
27
 a capacidade de solucionar problemas; 
 o uso da memória; 
 a formação de conceitos; 
 o desenvolvimento da linguagem. 
Reunidos, esses aspectos compõem as características eminentemente 
humanas. O processo de desenvolvimento das funções psicológicas superiores e 
de novas formas de atividade mental é um processo ativo e de interações que 
permitem a construção de ações partilhadas e modificações nos ambientes.
Isso é percebido quando comparamos a atividade humana com a atividade 
animal. Os animais não deterioram seu habitat, ou seja, vivem em harmonia com 
ele. Por sua vez, o homem, na medida em que gera trabalho (base do materialismo 
de Marx), transforma o meio ambiente e as próprias pessoas, modificando os 
sistemas sociais, naturais e individuais. 
Na relação entre as transformações geradas pelo trabalho e pela ação 
intencional do homem sobre a natureza, a criação da linguagem humana deve 
ser tomada com destaque. Em virtude de sua intensa atividade com a natureza e 
com seus semelhantes, o homem necessita manter relações de troca de bens entre 
estes. Associada ao processo de liberação da mão e da face (PINO, 2000), essa 
necessidade proporcionou, pelo gesto e pela voz, a criação de um complexo sistema 
de representações desenvolvido a partir dos gestos e dos sons. Esse instrumento 
complexo, a linguagem, possibilita a troca de informações, experiências e 
atividades sem a presença dos objetos e das pessoas de quem se fala. Essa função, 
caracterizada por Vygotsky como a principal atividade humana, distanciou-nos 
das formas de atividade animal, permitindo-nos a representação das ações. E a 
possibilidade de interagir com a mediação do signo modificou por completo a 
atividade humana, criando funções cognitivas de ordem superior.
Para Vygotsky, a utilização da linguagem pela criança constitui um 
dos meios mais expressivos para a formação da consciência. As experiências 
históricas dos homens se encontram tanto nas produções materiais como nas 
formas verbais de comunicação. E é principalmente pelo uso da linguagem e 
dos signos que a criança interioriza o universo que está ao seu redor. Ao estudar 
o comportamento de crianças pequenas na fase pré-verbal, comparando-o ao 
comportamento dos macacos antropóides, Vygotsky constatou que, quando as 
crianças incorporam a fala e os signos nas suas ações, seu comportamentosupera 
a inteligência prática dos macacos. Por meio dos processos de interiorização 
dos aspectos culturais, as crianças começam a controlar o ambiente e o próprio 
comportamento. Esses aspectos produzem novas relações sociais que constituem 
a base para a formação do intelecto.
Embora estabeleçam comunicações entre si, os animais não conseguem 
elaborar signos. De acordo com Oliveira (1997), os signos são produções construídas 
pelos homens para a solução de seus problemas, tais como lembrar, comparar 
coisas, relatar, escolher e descrever ações. Da mesma forma que os instrumentos 
Psicologia do Desenvolvimento
28
auxiliam o homem no trabalho, os signos são instrumentos psicológicos utilizados pelos homens para 
auxiliar no pensamento e no desempenho de atividades.
Existe uma infinidade de situações do uso dos signos para auxiliar a memória. A utilização 
de agendas, lista de compras, bilhetes anotados e espalhados pela casa e anotações em sala de aula 
são recursos que constituem a atividade prática mental de povos das sociedades letradas. Essas 
estratégias auxiliares da memória são aprendidas coletivamente. Porém, cada pessoa, com o passar 
do tempo, vai elaborando recursos internos próprios para auxiliar na sua memória e na construção 
do pensamento. Uma anotação de sala de aula no caderno, por exemplo, pode ser um excelente 
recurso para auxiliar a memorização dos conteúdos de uma disciplina, para quem escreveu o 
texto. Todavia, pode não ser tão funcional para um outro leitor, que não compreende os signos, 
representações e rascunhos do escritor. Portanto, essas estratégias externas de anotação vão sendo 
transformadas de acordo com as características individuais dos sujeitos em processos conhecidos 
como internalização.
Vygotsky (1988, p. 63) caracteriza o processo de internalização como uma “reconstrução 
interna de uma operação externa”. Ou seja: a humanidade está sempre em constante movimento de 
recriação e de reinterpretação de conceitos e significados. Oliveira (1997) considera que a cultura é 
um “palco de negociações” em que os sujeitos compartilham idéias e conhecimentos e reelaboram 
significados. Portanto, quando os indivíduos se apropriam da cultura de seu povo, não o fazem de 
forma passiva e estática.
As atividades externas vão sendo absorvidas internamente, ao que Vygotsky denomina 
processos interpsicológicos, e também vão sendo reapresentadas em processos intrapsicológicos. 
Dessa maneira, Vygotsky considera que o desenvolvimento ocorre do social para o individual. Nesse 
processo, a linguagem exerce um papel expressivo na constituição das pessoas.
1. Existem diferenças entre o estado de consciência e a consciência humana. Quais são e que 
fatores as determinam?
Bases epistemológicas: o processo de humanização
29
2. Explique o que Vygotsky quer dizer com “formas típicas do comportamento humano”.
3. Qual afirmativa corresponde ao sistema cartesiano?
a) Os fenômenos devem ser estudados em processo de transformação.
b) O corpo e o pensamento devem ser estudados como elementos distintos.
c) O corpo e o pensamento devem ser estudados como elementos que se integram.
d) O conhecimento é construído a partir dos fenômenos sociais.
4. Quais são as funções psicológicas superiores descritas por Vygotsky?
a) Capacidade de solucionar problemas, memória e linguagem. 
b) Instrumentos e símbolos.
c) Signos e percepções.
d) Representações e símbolos.
MORTIMER, Eduardo Fleury; SMOLKA, Ana Luísa B. (Orgs.). Linguagem, Cultura e Cognição: 
reflexões para o ensino e a sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
Indicação de filme: Nell (EUA, 1994), com direção de Michael Apted.
Nell, a personagem principal, é interpretada por Jodie Foster. O filme retrata a vida de uma jovem 
de aproximadamente 30 anos de idade que foi encontrada em uma casa abandonada após a morte de sua 
mãe, que era uma eremita. Nell vivia isolada do mundo moderno e reproduzia sons incompreensíveis. 
Havia recebido poucos estímulos para falar e também era afásica, isto é, apresentava uma patologia 
que afetava sua linguagem e sua comunicação. Foi encontrada por um médico que buscou integrá-la 
à sociedade. É interessante conferir como foi o processo de “humanização” de Nell.
Psicologia do Desenvolvimento
30
Processo de humanização: 
comportamento animal versus 
comportamento humano
P ara discutir as características tipicamente humanas, Vygotsky analisa o comportamento animal. A comparação entre o comportamento humano e o comportamento animal é encontrada em diferentes momentos de sua obra. Em A Formação Social da Mente, ele analisa as mais 
diferentes correntes psicológicas da época e critica o uso de comportamentos animais para explicar os 
comportamentos humanos. E, por outro lado, analisa que os fatores considerados inerentes à natureza 
humana também não são determinados apenas pelas características biológicas.
Segundo Vygotsky, existem alguns traços característicos do comportamento humano:
 qualquer comportamento de um animal conserva uma ligação direta com os motivos 
biológicos;
 o comportamento humano não é determinado por estímulos imediatos;
 existem diferenças nas fontes do comportamento do homem e do animal.
O primeiro aspecto fica claro quando percebemos que a atividade animal está relacionada 
a comportamentos de espécie, ou seja, comportamentos ligados ao instinto animal. Lorenz (apud 
PINO, 2000) fala da existência de “mecanismos inatos deslanchadores da ação” que permitem que 
os animais reajam de forma “sensata” aos sinais emitidos por outros animais. Esses sinais seriam 
ativados em situações de ameaça, fome ou perigo para a sobrevivência de si ou do grupo. Esse viés 
instintivo se tornou muito marcante na Psicologia, com o comportamento humano sendo atribuído a 
porções instintivas do cérebro humano, o que se correlaciona a condutas predeterminadas.
Durante muitos anos, a psicologia acreditou que algumas reações humanas aos reflexos eram 
instintivas, parecidas com as dos animais. A Psicologia histórico-cultural de Vygotsky trouxe novos 
elementos e interpretações para esses processos. Segundo Vygotsky (1988), algumas reações humanas 
são instintivas, mas também podem ser culturalmente elaboradas. Alguns acontecimentos de uma 
vida em grupo, por exemplo, podem provocar reações emocionais diferenciadas, que variam de 
cultura para cultura.
Assim sendo, o segundo aspecto se torna claro à medida que percebemos que as características 
do comportamento humano são maiores que a mera sensorialização dos estímulos ambientais: existe 
no comportamento humano uma elaborada forma de análise e representação dos elementos indicativos 
do ambiente, o que implica uma interpretação desses elementos. As relações como “cheiro de fumaça 
> fogo”, características do comportamento de fuga dos animais, são diferentes no comportamento 
humano. Existe uma reflexão contextual em que a análise de bens, valores e condição de enfrentamento 
está posta como prioritária na resposta do humano ao específico sinal do ambiente.
Psicologia do Desenvolvimento
32
O terceiro aspecto posto na diferenciação entre o comportamento humano e 
o comportamento animal está relacionado às fontes do comportamento. A vida em 
grupo trouxe desafios de sobrevivência além do caráter natural: a busca de comida 
e o ritual de caça trouxeram novas formas para o comportamento humano. A 
necessidade de interpretar os sinais da caça e a elaboração de modos de captura e 
apreensão modificaram o comportamento inteligente, fazendo com que o homem 
criasse instrumentos que lhe permitiram modificar profundamente sua relação 
com o ambiente natural.
Nos seus estudos sobre a evolução da atividade humana, subsidiados pela 
perspectiva sócio-histórica de Vygotsky e pelos fundamentos da História, da 
Filosofia e da Antropologia, Palangana (2000) demonstrou que a linhagemhumana 
sofreu uma transformação significativa quando os nossos ancestrais passaram 
da condição de arborícolas para a de terrícolas. A alimentação semicarnívora 
modificou características físicas e psíquicas dos homens, bem como possibilitou a 
invenção da agricultura e estratégias específicas para o cultivo da terra. De acordo 
com a autora,
A vida na terra liberou as mãos da constante tarefa de preensão e, ao mesmo tempo, 
obrigou os hominidas a lidar com os perigos imanentes à diferente realidade em que se 
encontravam. Esses fatos se completam: as mãos estão disponíveis a uma necessidade 
emergente, qual seja, usar instrumentos para se defender e, igualmente, para garantir o 
sustento. Tais condições de subsistência modificam a forma das mãos e mais, imprimem-
lhes habilidades e destrezas antes inexistentes. A mão humana é um órgão de trabalho e, 
concomitantemente, produto dele. Mas, ela não é parte independente do resto do corpo. É, 
isto sim, membro de um organismo integrado e extremamente complexo. Os benefícios 
processados pelas mãos repercutem no corpo do qual é parte. Assim, as novas habilidades 
e destrezas estão nas mãos, no pensamento e no mundo. (PALANGANA, 2000, p. 21-22) 
A partir dessa citação, é possível verificar como o uso das mãos foi sendo 
aprimorado ao longo da evolução da espécie humana. A convivência coletiva 
entre os povos primitivos também trouxe a divisão de tarefas, a necessidade de 
comunicação e o aparecimento da consciência humana relacionada ao trabalho.
O surgimento de uma nova forma de pensar o mundo natural, chamada 
por Vygotsky de inteligência prática, faz com que o ser humano desenvolva 
habilidades diferenciadas em relação a muitos animais, mas ao mesmo tempo 
essas habilidades ainda são compartilhadas por animais de comportamento mais 
evoluído. Nos seus estudos sobre o comportamento animal, ele relata que existe a 
função instrumental em animais superiores como o macaco, e cita os estudos de 
Kohler (1925).
Esses estudos de Wolfgang Kohler foram realizados com macacos 
antropóides, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). De acordo com 
Vygotsky (1988), esses experimentos procuravam comparar os comportamentos 
das crianças pequenas com os dos macacos. Kohler estudou as estratégias das 
crianças pequenas para a apreensão dos objetos, o modo como buscavam resolver 
seus problemas e como faziam uso de instrumentos primitivos. 
Processo de humanização: comportamento animal versus comportamento humano
33
A experiência clássica realizada por Kohler era a de solicitar às crianças 
pequenas, de até dois anos de idade, que tirassem um anel de um bastão. Ele 
observou que as crianças dessa faixa etária possuíam estratégias de resolução de 
problemas muito próximas às dos chimpanzés: elas não eram capazes de tirar o 
anel do bastão deslizando-o verticalmente, mas puxavam lateralmente o bastão 
para arrancar o anel. Kohler considerava que as crianças pequenas apresentavam 
a inteligência prática. No entanto, a perspectiva das crianças era diferente da dos 
chimpanzés, pois as crianças desenvolviam os movimentos sistemáticos, tinham 
uma percepção mais aguçada, usavam as mãos de diferentes maneiras e, algumas, 
utilizavam a linguagem. 
Para Vygotsky, “o sistema de atividade da criança é determinado em cada 
estágio específico, tanto pelo seu grau de desenvolvimento orgânico quanto 
pelo grau e domínio no uso de instrumentos” (1988, p. 23). Dessa maneira, o 
desenvolvimento da criança depende tanto da sua maturação biológica como da 
sua maturação intelectual. A interação dos adultos com as crianças faz com que 
formas mais elaboradas de manipular os objetos, perceber as situações, memorizar 
eventos e buscar variadas tentativas de solucionar os problemas sejam transmitidas 
e compartilhadas de geração para geração.
Porém, Vygotsky relata que a diferença não está apenas no desenvolvimento 
da inteligência prática, mas também no desenvolvimento da fala. Ele nos esclarece 
que, à medida que se desenvolvem na criança, essas duas funções psicológicas 
vão proporcionando uma forma diferente de comportamento que em nenhuma 
espécie animal é encontrada, ou seja, surge o que Vygotsky chama de funções 
psicológicas superiores, ou seja, as formas típicas de comportamento humano.
Vygotsky (1988) considera que as funções psicológicas superiores envolvem 
o desenvolvimento humano, a capacidade do uso dos signos e o aprimoramento da 
memória. A transformação desses processos é resultado de uma longa sucessão de 
interações e eventos na história de uma pessoa.
A cultura
A cultura pode ser definida como o produto da ação intencional do homem, 
isto é, o resultado da construção que se vale da criação de instrumentos e o ato 
de deixar marcas e representações sobre o mundo natural. Ao conceber o homem 
como um ser eminentemente social, Vygotsky (1987) propõe que a formação e 
o desenvolvimento do psiquismo humano se dão com base em uma crescente 
apropriação dos modos de agir, pensar e sentir culturalmente elaborados. 
Para ele, o desenvolvimento caminha do social para o individual, visto que, 
quando nasce, a criança já está imersa em um mundo de cultura historicamente 
produzido, existindo, por parte do ser humano, uma paulatina apropriação do 
mundo que o cerca.
Psicologia do Desenvolvimento
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FERRAMENTA
A função de mediação em Vygotsky
SIGNO
MEdiAdor
E r
Esquema da mediação entre um estímulo ambiental (E) e o receptor individual (R), em um processo interativo ou 
dialético em que operam dois instrumentos mediadores: as ferramentas psicológicas e os signos (esquema tomado de 
Guillermo R. Becco).
Isso implica que a apropriação da cultura só é possível a partir do contato 
social. Assim, a criança vai tornando seu aquilo que foi construído por seu grupo 
cultural, atribuindo-lhe sentido a partir do que já está construído em sua história 
de interação. Segundo Davis (1994), a interação social só pode ser compreendida 
no campo das relações que se estabelecem entre os indivíduos reais e concretos 
em um determinado tempo histórico.
A teoria histórico-cultural de Vygotsky propõe que o desenvolvimento 
das crianças, sua construção como sujeitos, ocorre em determinados ambientes 
físico-sociais historicamente elaborados. Oliveira e Paula (1995) afirmam que, 
nesses ambientes, os membros adultos de uma cultura (pais, avós, educadores, 
irmãos e amigos) se preocupam em fazer a criança participar de diferentes 
situações, promovendo atividades variadas, de acordo com as suas concepções de 
desenvolvimento infantil. O processo de apropriação desses conhecimentos pela 
criança não responde somente às necessidades de um organismo biológico mas 
também às necessidades psicossociais, que são históricas.
Em Pensamento e Linguagem (1987), Vygotsky estabelece que o desenvol-
vimento do psiquismo humano se dá com base em uma crescente apropriação dos 
modos de ação culturalmente elaborados.
A significação
Uma vez imersa no ambiente social e cultural, a criança busca, valendo-se 
de seu agir (que é a corporeidade), (PINO, 1993), expressar suas necessidades. 
Ao ser praticada essa atividade, o outro que está próximo à criança interpreta 
Processo de humanização: comportamento animal versus comportamento humano
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a atividade como indício da demanda da criança e busca dar resposta a essa 
demanda. Pela interpretação da vontade da criança, o outro atribui significação 
a essa ação e, posteriormente, a criança construirá para si uma representação da 
interpretação dada pelo outro.
Um dos exemplos clássicos de Vygotsky (1988) para demonstrar como as 
crianças começam a perceber o universo dos adultos e lhes atribuir significados 
é a interiorização do gesto de apontar. Ele descreve que, inicialmente, a criança 
utiliza o gesto como meio para conseguir algum objeto, mas o concebe apenas 
como um movimento. Quando

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