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A experiência portuguesa da arbitragem tributária 6 de Agosto de 2014 Clotilde Celorico Palma A experiência portuguesa da arbitragem tributária NOÇÃO DE ARBITRAGEM TRIBUTÁRIA: Possibilidade de as partes (contribuintes e administração tributária), usando um direito de que podem dispor, atribuírem a árbitros, por si escolhidos ou aceites, o poder de julgar ou compor os conflitos existentes entre elas, em substituição dos tribunais públicos, no caso, dos tribunais administrativos e fiscais. A arbitragem em Portugal constitui uma forma de resolução do litígio através de um terceiro neutro e imparcial - o juiz árbitro -, escolhido pelas partes ou designado pelo Centro de Arbitragem Administrativa (CAAD), que julga os litígios nos mesmos termos e com o mesmo valor jurídico que um magistrado judicial. A experiência portuguesa da arbitragem tributária O CAAD é um centro de arbitragem de carácter institucionalizado, que funciona a partir de uma associação privada sem fins lucrativos cuja constituição foi promovida pelo Ministério da Justiça (www.caad.pt). A experiência portuguesa da arbitragem tributária A nível nacional, a experiência da arbitragem como meio alternativo de resolução de conflitos era quase inexistente. Existiam, contudo, procedimentos para facilitar a resolução dos conflitos através da conciliação ou entendimento com as autoridades fiscais. Até à data, só a nível internacional se encontrava expressamente previsto o recurso à arbitragem em matéria tributária (Convenção Europeia de Arbitragem - Convenção 90/436/CEE, de 23 de Julho de 1990, JO L 225 de 20.8.1990 - e o recurso à arbitragem introduzido em Julho de 2008 no artigo 25.º da Convenção Modelo da OCDE para evitar a dupla tributação em matéria de impostos sobre o rendimento e sobre o património). A experiência portuguesa da arbitragem tributária A LEI PORTUGUESA: Lei da Arbitragem Tributária (LAT) - Decreto-Lei n.º 10/2011, de 20 de Janeiro - Entrada em vigor em 1 de Julho de 2011. Portaria n.º 112-A/2011, de 22 de Março, que regula a vinculação da AT à jurisdição arbitral. Circular n.º 53/2011, de 1 de Julho de 2011. Estatutos e Regulamento do CAAD. A experiência portuguesa da arbitragem tributária Com este Regime pretende-se: - Assegurar os direitos dos contribuintes. - Resolver, de forma mais rápida e simples, os conflitos entre os contribuintes e as Finanças. - Reduzir o número de processos por resolver nos tribunais. A experiência portuguesa da arbitragem tributária PRÓS - Celeridade e economia de recursos - Flexibilidade e informalidade - Descongestionamento dos tribunais estatais - Maior especialização CONTRAS - Falta de independência dos árbitros - Democraticidade do regime - Risco de violação de tutela jurisdicional efectiva A experiência portuguesa da arbitragem tributária A utilização do CAAD tem várias vantagens: Resolver litígios mais rapidamente - A existência de um prazo máximo de 6 meses garante uma decisão mais célere que nos tribunais administrativos e fiscais. Resolver litígios de forma mais barata - As custas são inferiores às dos tribunais administrativos e fiscais. A experiência portuguesa da arbitragem tributária A utilização do CAAD tem várias vantagens: Resolver litígios de forma mais especializada - Os árbitros do CAAD, pela sua especialização, garantem decisões de elevada qualidade. Resolver litígios de forma mais simples - A tramitação do processo é simples e gerida electronicamente. A experiência portuguesa da arbitragem tributária EXEMPLOS DE TEMAS PROPÍCIOS À AT: Preços de transferência As cláusulas anti-abuso Custos da empresa Fixação de matéria coletável por métodos indiretos Contratos fiscais Presunções fiscais Aplicação de valores de mercado Isto é: todos os casos em que haja apelo para juízos técnicos ou onde exista maior discricionariedade A experiência portuguesa da arbitragem tributária A arbitragem é feita por tribunais arbitrais que funcionam no CAAD. Estes tribunais são compostos por: Um árbitro – se o contribuinte optar por não indicar um árbitro e o valor em causa não ultrapassar 60 mil euros. Três árbitros – se o contribuinte optar por indicar um árbitro ou o valor em causa ultrapassar 60 mil euros. A experiência portuguesa da arbitragem tributária Os tribunais arbitrais com três árbitros podem ser nomeados pelo CAAD, pelo contribuinte e pela Autoridade Tributária e Aduaneira (AT). Neste último caso, um árbitro é indicado pelo contribuinte, outro pela AT e o terceiro (que será o árbitro-presidente) pelos dois primeiros. A experiência portuguesa da arbitragem tributária REQUISITOS DOS ÁRBITROS: Gerais: reconhecida capacidade técnica, idoneidade moral e sentido do interesse público. Os árbitros devem ser juristas com, pelo menos, dez anos de experiência nesta área. Magistrados jubilados que renunciem ou suspendam a sua condição. Em casos de especialização, podem ser árbitros não presidentes, licenciados em Economia ou Gestão com mais de 10 anos de experiência. Para garantir a imparcialidade e independência dos árbitros, estes não podem ter tido, nos dois anos anteriores, qualquer relação profissional, directa ou indirecta, com o contribuinte ou com as finanças. A experiência portuguesa da arbitragem tributária Procedimento: O contribuinte informa o CAAD que pretende recorrer à arbitragem. O Centro escolhe o árbitro ou árbitros ou, se for esse o caso, solicita ao contribuinte e à AT que indiquem os seus árbitros. O TA decide no prazo de seis meses. Se, no final do prazo, ainda não tiver chegado a uma decisão, este pode ser prolongado por, no máximo, mais seis meses. A decisão resultante da arbitragem tem de ser acatada. A experiência portuguesa da arbitragem tributária PEDIDO DE CONSTITUIÇÃO DE TA: A lei define prazos de 90 ou de 30 dias, conforme o tipo de actos em causa. O pedido é dirigido ao CAAD por requerimento efectuado por via electrónica, dele devendo constar elementos previstos na lei. O presidente do CAAD dá conhecimento em 2 dias à AT que pode revogar ou substituir o acto em causa durante 20 dias após a constituição do TA. Após a designação dos árbitros, há 15 dias para constituir o TA, iniciando-se o processo arbitral. A experiência portuguesa da arbitragem tributária EFEITOS DO PEDIDO: Preclude direito de, com os mesmos fundamentos, reclamar, impugnar, requerer revisão, excepto quando o processo arbitral termine sem pronúncia sobre o mérito da causa. Tem os mesmos efeitos da impugnação judicial, nomeadamente quanto à suspensão do processo de execução fiscal e à suspensão e interrupção dos prazos de caducidade e prescrição. A experiência portuguesa da arbitragem tributária DECISÃO ARBITRAL: Com base num princípio de legalidade, sendo vedado o recurso à equidade. Prazo para emissão e notificação às partes - 6 meses, prorrogáveis por sucessivos períodos de 2 meses, com o limite de 6. Após a notificação da decisão, o CAAD arquiva o processo e o TA é dissolvido. Decisão por maioria (nos TA colectivos). Decisão com identificação dos factos, as razões de facto e de direito que a fundamentam, data e assinatura dos árbitros e fixação e repartição de custas. Possibilidade de voto de vencido.A experiência portuguesa da arbitragem tributária Força executiva: atribuição à sentença arbitral, que não tenha sido objecto de recurso ou de anulação, da mesma força executiva que é atribuída às sentenças judiciais transitadas em julgado. Definição dos montantes e do modo de pagamento dos honorários e das despesas dos árbitros: fixação dos critérios de determinação dos honorários em função do valor atribuído ao processo, estabelecendo valores mínimos que ofereçam garantias qualitativas na composição do tribunal arbitral. A experiência portuguesa da arbitragem tributária Deveres da parte vencida: responsabilidade pela totalidade dos honorários e despesas dos árbitros, podendo ser estabelecidos critérios de limitação da responsabilidade da administração tributária, designadamente, o do montante das custas judiciais e dos encargos que seriam devidos se o contribuinte tivesse optado pelo processo de impugnação judicial ou pela acção para o reconhecimento de um direito ou interesse legítimo em matéria tributária. A experiência portuguesa da arbitragem tributária COMPETÊNCIA DOS TA/ABRANGE A DECLARAÇÃO DE ILEGALIDADE DE: Actos de liquidação de tributos, de autoliquidação, de retenção na fonte e de pagamentos por conta. Actos de fixação da matéria colectável quando não dê origem a liquidação. Actos de determinação da matéria colectável. Actos de fixação de valores patrimoniais. Se os factos e fundamentos de um acto tributário forem diferentes, pode deduzir-se pedido de impugnação judicial e de pronúncia arbitral. A experiência portuguesa da arbitragem tributária Fundamento do processo arbitral tributário: ilegalidade, lesão ou o risco de lesão de direitos ou interesses legítimos. Efeitos da sentença proferida a final pelo Tribunal Arbitral (TA): anulação, declaração de nulidade ou de inexistência do acto recorrido ou reconhecimento do direito ou do interesse legalmente protegido dos contribuintes. A experiência portuguesa da arbitragem tributária PRINCÍPIOS PROCESSUAIS: Princípio do contraditório Igualdade das partes Autonomia do TA na condução do processo Oralidade e imediação Livre apreciação dos factos Livre determinação das diligências de prova Cooperação e boa fé processual Publicidade das decisões (expurgadas de identificação) Celeridade, simplificação e informalidade A experiência portuguesa da arbitragem tributária DIREITO SUBSIDIÁRIO: Normas procedimentais ou processuais dos códigos tributários Normas sobre a organização e funcionamento da AT Normas sobre organização e processo nos tribunais administrativos e tributários Código do Procedimento Administrativo Código do Processo Civil A experiência portuguesa da arbitragem tributária RECURSOS DA DECISÃO: Regra geral: irrecorribilidade Excepções (suspendendo o efeito da decisão): - Recurso para o Tribunal Constitucional, quando a sentença arbitral recuse a aplicação de norma com fundamento na sua inconstitucionalidade ou aplique norma cuja constitucionalidade tenha sido suscitada. - Recurso para o Supremo Tribunal Administrativo (STA) quando a decisão esteja em oposição, quanto a mesmo questão fundamental de direito, com acórdão proferido pelo Tribunal Central Administrativo ou pelo STA. A experiência portuguesa da arbitragem tributária ANULAÇÃO PELO TCA E REENVIO: Fundamentos da impugnação (efeitos suspensivos): A não especificação dos fundamentos de facto e de direito que justificam a decisão, A oposição dos fundamentos com a decisão A pronúncia indevida e omissão de pronúncia A violação dos princípios do contraditório e da igualdade das partes Possibilidade de reenvio prejudicial para o Tribunal de Justiça da União Europeia A experiência portuguesa da arbitragem tributária Foi inicialmente previsto um regime transitório que possibilitou aos contribuintes submeterem ao tribunal arbitral a apreciação dos actos objecto dos processos de impugnação judicial que se encontravam pendentes de decisão, em primeira instância, nos tribunais judiciais tributários, com dispensa de pagamento de custas judiciais. A experiência portuguesa da arbitragem tributária A experiência portuguesa da arbitragem tributária A experiência portuguesa da arbitragem tributária A experiência portuguesa da arbitragem tributária A experiência portuguesa da arbitragem tributária Conclusões: A possibilidade de recurso à arbitragem em matéria fiscal é, inequivocamente, uma medida estruturante de uma nova relação entre a Administração Tributária e os contribuintes, encontrando a sua justificação no esgotamento do sistema judicial como resposta única à resolução de litígios em sede fiscal. A experiência portuguesa da arbitragem tributária Conclusões/Aspectos positivos: - Decisão célere - Especialização - Simplicidade do processo - Flexibilidade e Informalidade A experiência portuguesa da arbitragem tributária Conclusões/Aspectos negativos: - Irrecorribilidade da sentença arbitral. -Inexistência de um regime para causas de valor reduzido. - Não se toma em consideração a complexidade das causas para efeitos de pagamento dos honorários mas sim o seu valor. - O árbitro não conhece adequadamente os factos e a matéria de Direito em causa, mas apenas em termos genéricos. -Pouco rigor na escolha dos árbitros (declaração da Ministra da Justiça – 3.º aniversário do CAAAD, Jornal de Negócios on line, 3 de Julho de 2014). A experiência portuguesa da arbitragem tributária Conclusões : Até hoje a Arbitragem não conseguiu ainda atingir o objectivo principal da sua criação – diminuir as pendências litigiosas, contudo tem-se registado um aumento significativo dos processos, que se traduz num maior conhecimento do Regime e numa maior confiança. Há essencialmente 3 obstáculos principais: - Muitos contribuintes não estão interessados na celeridade. - A AT tem invocado questões formais para impedir/atrasar as decisões. - Os tribunais tributários apressam-se a resolver as questões apresentadas em TA.
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