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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA – Campus Videira CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA CURSO DE ENGENHARIA SANITÁRIA – 5ª FASE DISCIPLINA: QUALIDADE DE ÁGUAS PROF.: Estela de Oliveira Nunes POLUIÇÃO DAS ÁGUAS 1. POLUIÇÃO DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS - Esgotos domésticos: Provenientes da atividade humana. Possuem matéria orgânica em concentrações relativamente baixas quando comparadas com efluentes industriais, porém, ainda suficiente para desenvolver microrganismos heterotróficos aeróbios que irão consumir o oxigênio da água. Outra preocupação da contaminação com esgotos domésticos é a presença de coliformes fecais indicando a potencialidade de conter microrganismos transmissores de doenças. Além destes, outros problemas associados ao esgoto sanitário estão a cor, odor, turbidez e uma série de compostos orgânicos e inorgânicos ainda não controlados pelos órgãos responsáveis. Os esgotos domésticos são os maiores responsáveis pela poluição hídrica devido aos grandes volumes envolvidos, à descentralização de sua geração e à precários sistemas de tratamento implantados. - Esgotos industriais: provenientes da atividade industrial podendo ter uma composição diversa dependendo do seu ramo. Alguns possuem alta concentração de matéria orgânica e outros compostos tóxicos e recalcitrantes. Grandes desafios são enfrentados para o desenvolvimento de tecnologias adequadas ao tratamento destas águas. - Águas pluviais: Estas águas podem carregar impurezas da superfície do solo ou contendo esgotos lançados nas galerias. Normalmente, carregam consigo resíduos de origem urbana e são lançados na natureza de forma pontual, ou resíduos de origem rural, como pesticidas e fertilizantes de forma dispersa. - Resíduos sólidos (lixo): o lixo urbano acondicionado de forma inadequada libera um líquido percolado chamado de chorume que contém altas concentrações de matéria orgânica e de metais pesados, além de uma infinidade de compostos orgânicos. A precipitação das chuvas auxilia na lixiviação destes compostos aumentando os riscos de contaminação. - Precipitação de poluentes atmosféricos: Poluentes atmosféricos podem ser carreados pelas chuvas aos mananciais hídricos. Dentre os poluentes mais comuns encontram-se os ácidos sulfúrico e nitrito pela conversão de gases contendo SOx e NOx na atmosfera. - Erosão: Alterações nas margens dos mananciais, como o desmatamento, provocando o carreamento de solo e conseqüente assoreamento dos mananciais. - Acidentes industriais: acidentes provocados pelo manuseio e transporte de compostos químicos em mananciais ou em regiões próximas. Poluição dos mares e oceanos Os mares e oceanos foram sempre um vazadouro natural e ao longo dos séculos os ciclos biológicos asseguraram a purificação das águas e a absorção dos dejetos. Nos dias que correm, atingimos um estado de desequilíbrio. O mar possui uma a capacidade de autodepuração e constitui um meio desfavorável à maioria dos germes patogênicos. Contudo este estado de desequilíbrio torna-o um meio favorável ao desenvolvimento de organismos patogênicos. Os microorganismos não representam, em geral, risco para os banhistas, contudo no caso de elevadas poluições fecais constituem um perigo para quem se alimenta de seres criados nesse meio. Por ex. a abundância de matéria orgânica leva ao aparecimento de moluscos comestíveis, assim como peixes, que absorvem e retêm numerosos organismos patogênicos, assim se explicam as salmoneloses humanas e outras doenças provocadas pela ingestão destes moluscos. Embora a importância da poluição por microorganismos seja notória, é de maior importância a poluição química. Muitos detergentes e pesticidas arrastados pelas águas fluviais têm efeitos muito nocivos sobre a flora e fauna litorais. Alguns produtos petrolíferos têm efeitos catastróficos nas comunidades costeiras. As correntes marinhas auxiliam na formação de marés negras, que se abatem nas praias e outras zonas costeiras. Esta maré deve-se essencialmente à limpeza dos depósitos dos petroleiros que despejam assim em cada viagem, cerca de 1% da sua carga. Um número insignificante mas, quando assimilado ano após ano tende para um número cada vez mais significativo. Esta contaminação por produtos petrolíferos tem como efeitos a diminuição da fotossíntese, o tornar deficiente a oxigenação das águas e a intoxicação de muitos animais. Poluição dos rios A água é uma substância essencial à vida. Ironicamente, as águas doces em condições de utilização são cada vez menos, visto que a sua qualidade vai decrescendo diariamente, devido à poluição. Entre os vários poluentes dos rios encontramos: a contaminação de lixos orgânicos incluindo as excreções humanas e dos animais e resíduos agrícolas. Com o aumento da população e a aparição da atividade industrial, a poluição de rios e lagos aumentou proporcionalmente. Relativa à poluição das águas doces foi dada em 1961 pela Organização Mundial de Saúde, a seguinte definição: «Um curso de água considera-se poluído logo que a composição ou estado da água são direta ou indiretamente moldados pela atividade humana, de tal maneira que a água se presta menos facilmente às utilizações que teria no seu estado natural». Incluem-se aqui as modificações das propriedades físicas, químicas e biológicas da água que a podem tornar salobra ou inutilizada para consumo nas atividades industriais, domésticas, agrícolas, etc. 2. POLUIÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS A água subterrânea pode ser contaminada por substâncias que são prejudiciais à saúde dos organismos e que diminuem a sua utilidade. Estas águas estão, no entanto, geralmente livres de contaminação sendo por isso utilizadas na alimentação. Felizmente, a contaminação por poluentes de um aqüífero é muito lenta, pois o seu trajeto é feito através do solo e de rochas permeáveis. A poluição destas águas pode dar-se por ex. devido ao mau armazenamento ou derramamento de químicos no solo. Depois do aqüífero ser atingido, a área contaminada é alargada e a fonte fica inutilizada. É este o problema causado por lixeiras localizadas em aterros não impermeabilizados. ou por tóxicos derramados nos solos. As águas subterrâneas podem ainda ser impregnadas por pesticidas ou herbicidas através da água de irrigação que penetra nos solos. Também a água da chuva pode dissolver substâncias (mercúrio, chumbo, cromo, cobre, cádmio ou venenos) de uma lixeira e transportá-la para os aquíferos. Depósitos ou canos de esgoto podem conter microorganismos que podem contaminar estas águas assim como os resíduos tóxicos eliminados pelas indústrias e bases limitares e os produtos resultantes da drenagem de minas de carvão e de metais que contaminam a superfície, alastrando-se depois até às águas subterrâneas. Os líquidos armazenados em fossas e as estações de abastecimento de gasolina são geralmente fontes de poluentes, desde que atinjam terrenos permeáveis. TIPOS DE POLUIÇÃO Materiais orgânicos degradáveis Os materiais orgânicos passíveis de ataques bacterianos (biodegradáveis) constituem a maior parte do volume dos despejos em regiões costeiras, estuários e leitos (poluição orgânica). Estes materiais dividem-se principalmente em: - Resíduos agrícolas, especialmente fertilizantes(podem levar à eutrofização), insecticidas e dejectos animais (fosfatos, nitratos e silicatos) - o consumo de água com uma elevada percentagem de nitratos pode originar metaemoglobina infantil (oxidação incompleta da hemoglobina); - Resíduos urbanos - que podem conter bactérias e vírus(poluição biológica), podem conter ainda detergentes que além de tóxicos possuem fósforo, um nutriente que quando em excesso favorece a eutrofização; ´ água poluída por resíduos urbanos (www.mediacolors.ch) - Resíduos industriais - substâncias ácidas, sulfuretos, amoníaco, etc., provenientes da produção industrial paralisam as reações bioquímicas dos peixes e provocam a morte do animal; - Resíduos derivados do processamento de alimentos (ex.: matadouros, frigoríficos e usinas de açúcar, destilarias e fábricas de bebidas fermentadas); - Polpa de papel moído, incluindo uma grande variedade de grandes moléculas que são relativamente instáveis e que se partem facilmente; indústria situada na faixa costeira (www.funkandwagnalls.com) - Resíduos petrolíferos e derrame - são basicamente hidrocarbonetos e derivam do tráfego marítimo, descargas de navios, exploração de poços de petróleo; limpeza dos tanques dos petroleiros e acidentes com os mesmos, refinarias e instalações petroquímicas costeiras, resíduos urbanos, carreamento por águas das chuvas e dos rios, infiltrações naturais e precipitação atmosférica. Os produtos orgânicos mais freqüentes são: os aminoácidos, os ácidos graxos, ésteres, detergentes anônimos, aminas, etc. Os componentes inorgânicos encontram-se sob a forma de iões: sódio, cálcio, mangânes, cloro, nitrato, bicarbonato, sulfato e fosfato. A degradação bacteriana é um processo oxidante em que as bactérias aeróbias utilizam o oxigênio dissolvido na água na redução dos compostos orgânicos em compostos inorgânicos estáveis (ex.: dióxido de carbono, água e amônia). As bactérias anaeróbias têm a capacidade de oxidar moléculas orgânicas sem necessidade de utilizar oxigênio, no entanto os seus produtos finais são compostos como o sulfito de hidrogênio e o metano que para além de serem tóxicos para os organismos aquáticos, possuem um odor horrível. Se a taxa de introdução de matéria orgânica superar a taxa de degradação bacteriana, dar-se-á uma acumulação de matéria orgânica que beneficiará as plantas, conduzindo ao aumento de fito e zooplâncton, beneficiando assim muitas outras cadeias alimentares. Contudo se a acumulação de nutrientes for excessiva, dar-se-á a eutrofização. Esta associa-se, no mar, à maré vermelha, isto é, a abundância de fitoplâncton leva a que o mar ganhe uma coloração avermelhada. Esta maré deve-se a uma desoxigenação, derivada de uma ação bacteriana intensa. Estes fatores levam à poluição das águas das praias e de moluscos, o que pode causar doenças como hepatite ou conjuntivite. Por vezes, as marés vermelhas podem tornar-se tóxicas e letais para o Homem. A acumulação de matéria orgânica assim como a desoxigenação pode ter fortes impactos sobre a fauna e a flora. Resultados evidentes são por exemplo, o aparecimento nas praias de algas verdes (devido ao aumento de nutrientes) e de plantas macroscópicas (devido à desoxigenação) que levam ao desaparecimento de algumas espécies de peixes e animais. A desoxigenação, pode no entanto ter um impacto direto sobre os animais (ex.: os peixes, que antes de morrerem aos milhares, vêm á tona tentando desesperadamente sorver o oxigênio do ar)assim, como a maré vermelha (a morte de golfinhos, botos, e baleias coincidiu, por vezes, com o descoramento de recifes de coral e com o aparecimento de enormes marés vermelhas). Na saúde pública, os efeitos estão associados à contaminação de recursos naturais e à transmissão de patogêneses como o tifo e a cólera. derrame de óleo (www.funkandwagnalls.com) Poluentes Conservativos: Os poluentes conservativos não são passíveis de nenhum tipo de degradação, são sim bioacumulativos e biomagnificativos. Dividem-se essencialmente em: metais pesados como o mercúrio, o cádmio, o chumbo e o zinco; hidrocarbonetos halogenados: insecticidas (DDT) e produtos industriais ( PCBs); radioatividade. → Metais: Constituintes naturais da água e vitais a vários organismos (a hemoglobina contém ferro; a hemocianina, cobre; e algumas enzimas, zinco). No entanto quando em elevadas concentrações estes metais podem ser tóxicos para determinados organismos. A toxicidade dos metais é de ordem inversa à sua ocorrência na natureza, isto é, o metal é tanto mais perigoso quanto menor for a sua abundância na natureza. Parte do mercúrio que é lançado nos cursos de água é absorvido direta ou indiretamente pelas plantas e animais aquáticos, num processo denominado bioacumulação. Este processo leva à concentração crescente de mercúrio nos animais, como os peixes que iram ser consumidos pelo Homem. O mercúrio metálico provoca lesões celulares, atacando principalmente o tubo digestivo, os rins e o sistema nervoso central. A atividade bacteriana pode no entanto transformar o mercúrio metálico, em mercúrio orgânico, extraordinariamente tóxico. Este último foi o responsável, em 1956, pela morte de 46 pessoas e pela intoxicação de centenas numa vila de pescadores na baía de Minamata, no Japão. → Hidrocarbonetos Halogenados: Os, hidrocarbonetos, ao contrário dos metais, não se encontram na natureza e constituem um grande número de compostos, tais como compostos voláteis (solventes e CFCs) e os pesticidas e PCBs. Os solventes, utilizados na indústria têxtil, não são acumulativos nos organismos aquáticos. No entanto, os CFCs causam graves danos na camada do ozono e por isso estão a ser extintos. Os pesticidas (DDT) e os PCBs são compostos utilizados na agricultura. Estes entram no ciclo da água, podendo espalhar-se pelo mundo. São compostos insolúveis em água mas, no entanto solúveis nas gorduras, podendo assim ser encontrados nos diversos organismos. → Radioatividade: A radioatividade é um fenômeno natural, sendo a água naturalmente radioativa. No final da Segunda Guerra Mundial, com a explosão das primeiras bombas nucleares começou a introdução de radioatividade no mar, devido a atividades humanas. Nos tempos que correm, os lixos radioativos líquidos e sólidos das usinas nucleares e as águas de refrigeração dos reatores, são os que mais contribuem. Existem contribuições menores que são consideradas insignificantes, como as que advêm de acidentes com baterias radioativas (plutônio); dos navios e submarinos nucleares; dos rejeitos das plataformas de petróleo; de hospitais e universidades. As substâncias radioativas interferem diretamente nos átomos e moléculas que formam os tecidos vivos, provocando lesões celulares que podem levar ao cancro, alterações no material genético que podem acarretar mutações nas próximas gerações e modificações nas funções de certos órgãos do corpo. Poluentes dissipativos: Poluentes dissipativos são os despejos industriais como resíduos de salinas e o calor dos reatores nucleares, que quando em contacto com a água perdem as suas propriedades prejudiciais. A poluição causada por este tipo de poluente restringir-se-á a uma área próxima à fonte. As águas de resfriamento dos reatores nucleares contêm calor assim como as descargas de efluentes a altas temperatura (poluição térmica). Este calor pode fazer aumentar até 15ºC acima da temperatura ambiente. Este fato pode representar uma perda substancial de indivíduos visto que, em regiões tropicais, na altura do verão, existem muitos organismos que vivem a uma temperatura próxima do seu ponto térmico letal. Outro fator que pode levar à morte dos indivíduos é que o aumento de temperatura levar a uma ligeira desoxigenação da água, isto porque a água quentenão é capaz de conter tanto oxigênio como a água fria. Resíduos sólidos : De entre os resíduos sólidos, os que mais se destacam são: os materiais dragados em portos, rios e canais e que estão por vezes contaminados com metais pesados, hidrocarbonetos halogenados ou óleo e que acabam por se espalhar quando lançados no meio aquático; partículas suspensas (poluição física) como a fuligem, libertadas das usinas a carvão e/ou de outras empresas que possuem sistemas de incineração sem os devidos sistemas de filtros os plásticos e isopores, que não sendo tóxicos podem ser ingeridos por pássaros, peixes ou mamíferos acabando estes por morrer; entulhos em sua maioria provenientes de obras de engenharia; redes de pesca ( armadilhas fatais para peixes e pássaros); munições perdidas durante as guerras, incluindo armas químicas (mares e grandes rios). Interferência dos efluentes nos corpos d’água o Redução do nível de oxigênio dissolvido na água pela degradação da matéria orgânica, podendo ocasionar a mortandade de peixes e a formação de ambientes com odores desagradáveis; o Presença de compostos tóxicos (sulfatos, metais pesados) que causam inibição das atividades vitais dos peixes, microfauna e micoflora; o Aumento da dureza da água devido à presença de sais inorgânicos de Cálcio e Magnésio; o Eutrofização devido à presença de nitrogênio e fósforo; o Variação do pH dos cursos d’água; o Presença de materiais grosseiros, óleos, espumas, corantes, etc., que deterioram a aparência e influenciam negativamente na capacidade de re- oxigenação natural dos cursos d’água. Eutrofização: A eutrofização dos corpos d’água depende principalmente das suas cargas de nutrientes. O conceito de limitação de nutrientes pode ser considerado a chave da pesquisa da eutrofização. Com efeito, isto implica: (a) que um nutriente chave será o principal fator limitante para o crescimento de plantas em um dado ecossistema, (b) o crescimento de plantas em um dado ecossistema será proporcional à razão de fornecimento do nutriente e (c) que o controle da eutrofização será associado por restrição da carga deste nutriente para o ecossistema. AUTODEPURAÇÃO DOS CORPOS D’ÁGUA O impacto que as águas residuárias causam ao meio ambiente depende muito da sua composição química, da quantidade e da velocidade com que estes são lançados ao meio ambiente e da capacidade daquele ambiente natural em neutralizar os efeitos adversos causados pelos poluentes através das próprias características ambientais específicos. A esta capacidade de recuperação do ambiente natural por recursos próprios dá-se o nome de efeito de autodepuração. Um ecossistema antes de sofrer o lançamento de poluentes encontra-se num estado de equilíbrio físico, químico e biológico, de tal forma que as reações interativas entre seus meios permaneça de forma global constantes. Quando introduzimos um composto estranho ao meio ambiente este irá reagir à perturbação tendendo a voltar ao equilíbrio anterior. Dependendo da magnitude desta perturbação o ecossistema poderá atingir outro estado de equilíbrio diferente do original, o que seria indesejável. Portanto, deve-se conhecer com a maior precisão possível a capacidade de autodepuração do manancial em questão, frente ao poluente que está sendo introduzido no mesmo. Este conhecimento é de grande valia, auxiliando na definição da utilização da capacidade do manancial em funcionar como um sistema de tratamento do resíduo e impedir que sejam lançados resíduos em quantidades acima desta capacidade. Este conceito se aplica, a princípio, a qualquer composto poluente e a qualquer ambiente natural, porem, para ilustrar este conceito, um exemplo da capacidade de autodepuração de um rio quando lançado uma corrente de esgoto sanitário é apresentado a seguir: Figura de Autodepuração A figura mostra que ao ser lançado um esgoto sanitário em um ponto específico de um rio, contendo principalmente matéria orgânica como poluente primário, a princípio a concentração de oxigênio dissolvido (OD) na água cai pela dissolução dos compostos químicos no meio. Logo após, essa concentração começa a cair devido a atividade dos microganismos heterotróficos aeróbios que consomem também a matéria orgânica (DBO) lançada no meio. Com este metabolismo, a concentração dos microrganismos cresce até que a concentração do substrato (matéria orgânica) já não seja suficiente para sustentar o crescimento dos microrganismos. A partir deste momento, o rio com o seu contato com a atmosfera e com a sua agitação natural reaera o sistema voltando a crescer a sua concentração dissolvida no meio. No final do processo, os microrganismos voltam a concentrações próximas às anteriores, devido à morte dos mesmos pela falta de substrato e o oxigênio dissolvido também assume valores próximos aos originais. ÁGUAS RESIDUÁRIAS A associação da transmissão de doenças por veiculação hídrica com os resíduos lançados em mananciais datam de pouco mais de 100 anos. A partir de então, as águas residuárias domésticas, ou esgotos sanitários, passaram a receber especial atenção com relação ao seu destino final. Já as águas residuárias industriais, efluentes de processos de fabricação específicos, somente vieram a ser de importância após a revolução industrial, ou seja, quando estes passaram a ser produzido em grande escala. Durante o século XX o desenvolvimento econômico de um país foi diretamente relacionado com o desenvolvimento agrícola e industrial e através da exploração de seus recursos naturais, o que vem mudando um pouco esta perspectiva no século XXI. Este desenvolvimento se deu sem uma maior preocupação com as conseqüências ao meio ambiente, gerando um passivo ambiental considerável. Atualmente, os países desenvolvidos vêm centrando esforços para reverter a situação remediando os ambientes contaminados e tratando sua águas residuárias em níveis de purificação cada vez mais exigentes. No entanto, a geração de bens de consumo para suportar os crescimentos econômicos, associados às necessidades básicas de sobrevivência do ser humano, minimizando os impactos ambientais causados pela atividade do homem, continuam a ser grandes desafios principalmente para países em desenvolvimento. Esta consciência das diferenças entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento é fundamental, pois a economia mundial está cada vez mais associada aos investimentos nas questões ambientais o que poderá abrir um grande abismo entre estas nações. Cumprir as determinações das leis é preciso, porém, de forma sustentável. Na definição de um processo de tratamento de resíduos será selecionada a tecnologia que melhor se adequa àquela situação, sendo decisão tomada em relação ao nível de desenvolvimento da tecnologia e dos custos envolvidos, conforme a realidade do local de suas instalações. Para a tomada de decisão deve-se primeiro analisar as características da água residuárias para então verificar qual é o nível de tratamento que deve ser aplicado para chegar aos parâmetros exigidos pela legislação. Dentre as principais características das águas residuárias deve-se estar atento para aquelas que definem a necessidade de uma ou mais etapas de processo, as quais serão descritas a seguir: Sólidos em suspensão: a presença de sólidos em suspensão na água residuárias deve ser analisada com cuidado, dependendo da sua natureza. Se os sólidos forem majoritariamente inorgânicos e estes devem ser removidos antes deserem alimentados pelo sistema de tratamento propriamente dito, pois poderão provocar o assoreamento e abrasão dos equipamentos subseqüentes. Como estes já se encontram num estado de matéria de fácil separação, o uso da força da gravidade através de uma câmara de sedimentação é uma opção adequada para sua remoção. Caso os sólidos sejam de origem orgânica, a necessidade de separá-los dependerá de sua concentração e do processo de tratamento que será utilizado. Normalmente estes são separados em sedimentadores e tratados de forma independente da matéria orgânica dissolvida, pois existem tecnologias mais adequadas para cada tipo de resíduos; Óleos e graxas: as gorduras (óleos e graxas) são contaminantes presentes em vários efluentes, principalmente aqueles originados na indústria de alimentos. Primeiramente, deve-se avaliar a potencialidade de seu reuso como matéria prima de uma serie de produtos como na fabricação de sabão e na indústria de cosméticos. A sua presença nos processos subseqüentes trás uma serie de problemas operacionais, devido as características de aderência a superfícies que possuem este material, aumentando a manutenção destes equipamentos e diminuindo a eficiência da degradação dos compostos solúveis em água. A sua remoção também é facilitada pela diferença de densidade entre este e a água, sendo a flotação alternativa comumente usada; Matéria orgânica: o tipo de matéria orgânica e sua concentração devem ser analisados para auxiliar na escolha do sistema a ser usado. A tendência atual é a aplicação dos dois processos (aeróbios e anaeróbios) para aproveitar as vantagens de ambos, sendo o primeiro considerado o tratamento principal, e o segundo o polimento; Nutrientes: os nutrientes importantes são aqueles necessários em grandes quantidades para o crescimento dos microrganismos (macronutrientes), como nitrigenio, fósforo e enxofre. Existem métodos físico-químicos para remoção destes compostos como a precipitação e a volatização (striping), no entanto, recentemente estão sendo desenvolvidos processos biológicos de remoção destes compostos, que também são combinações de processos aeróbios seguidos de anaeróbios, ou vice-versa. Por outro lado, se estes compostos tiverem presentes em quantidades insuficientes para sustentar o crescimento dos microrganismos desejáveis ao processo de degradação, estes devem ser adicionados em quantidades suficientes para este fim; Compostos tóxicos e recalcitrantes: a presença de compostos tóxicos aos microrganismos e de compostos de difícil degradação deve ser analisada com cautela. Dependendo da natureza do composto tóxico e de sua concentração seu efeito deve ser neutralizado antes de entrar no reator biológico. Na maioria dos casos contorna-se a situação diluindo-se a água residuária com o próprio efluente tratado antes de ser alimentado no reator biológico. Após o tratamento biológico, estes compostos devem ser removidos por processos físico-químicos específicos, podendo envolver adsorção, troca iônica, oxidação fotocatalítica ou química, e uma serie de outros processos; Microrganismos patogênicos: os esgotos domésticos, por sua origem, possuem microrganismos patogênicos, indicados pelos coliformes fecais. Após todo o processamento das águas residuárias um elevado grau de inativação destes microrganismos foi realizado, no entanto, normalmente não é suficiente para removê-los aos níveis exigidos pela legislação. Um tratamento por oxidação química normalmente é empregado para atingir os níveis exigidos. Como exemplo, a tabela a seguir apresenta as características do esgoto sanitário. Observa-se nesta tabela que os esgotos sanitários possuem uma concentração de matéria orgânica baixa, comparada com as características da maioria dos efluentes industriais, o que implica em trabalhar com grandes volumes de líquido em reatores operados a baixos tempos de residência. Nota-se também que estes possuem uma concentração de sólidos em suspensão elevada em relação aos sólidos totais, indicando haver necessidade de uma separação previa destes sólidos antes de prosseguir com o tratamento biológico. Uma boa parte destes sólidos em suspensão são materiais orgânicos (~80%), indicando haver necessidade de tratamento dos resíduos sólidos separadamente, podendo ser utilizado um processo biológico para tal. Nos sólidos dissolvidos também há uma grande quantidade de matéria orgânica, indicando a viabilidade do uso de processos biológicos para remoção da matéria orgânica. Como complementação, verifica-se que há excesso de nitrogênio e fósforo nestes efluentes, que devem ser removidos ao final do processo, para fins de atendimento aos parâmetros definidos pela legislação. Como pode ser observada na tabela a seguir a composição de uma água residuária industrial depende muito do tipo de produção na industria e é muito diferente das características encontradas nos esgotos domésticos. As possibilidades de processos para o tratamento destes efluentes são varias e dependerá muito da experiência prévia com a água residuária em questão, devido as particularidades não só da produção, mas das praticas cotidianas da fábrica. A composição de uma planta de tratamento de águas residuárias é complexa e dependerá de uma serie de decisões, podendo variar muito de um projetista a outro. Uma pratica comum realizada no passado e que hoje é evitada ou não recomendada é a mistura dos efluentes industriais com os esgotos sanitários, devido a uma serie de problemas associados como a diluição de compostos tóxicos dificultando o seu tratamento. No entanto, não é incomum tratar o efluente industrial e depois lançá-lo na rede de esgotos municipal para sofrer um polimento final. É importante ressaltar que as características dos efluentes industriais apresentados na tabela a seguir está em constante modificação, pois há um movimento no sentido de minimizar a geração de resíduos e economizar insumos, promovendo os programas de reuso e de reciclo de águas e de recuperação de insumos e produtos. Como exemplo, na fabricação de cervejas era comum utilizar dez a quinze litros de água para produzir um litro de cerveja. Atualmente, esta media já ultrapassou a barreira dos cinco litros de água por litro de cerveja produzida, considerada como faixa mínima a alguns anos atrás. Com a minimização do descarte de água no processo a tendência é de aumentar as concentrações de matéria orgânica e dos poluentes encontrados nos poluentes industriais, o que por um lado é interessante do ponto de vista do tratamento dos resíduos orgânicos, mais por outro trás desafios ainda não mensurados para tratar estas águas altamente concentradas em resíduos tóxicos e recalcitrantes.
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