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capítulo 1 • 29 A forma de fixação do valor da causa pode ser encontrada no artigo 292, in- cisos e §§ 1º e 2º do CPC/2015, bem como em outras hipóteses previstas em leis extravagantes, sendo a matéria de ordem pública, o que pode levar, em caso de esquecimento ou apresentação de valor incorreto, à correção de ofício pelo juiz (artigo 292, § 3º, do CPC/2015), podendo, ainda, ser objeto de impugnação ao valor da causa pela parte contrária. Chama-se também a atenção para o fato de que o valor da causa é base para o recolhimento das custas processuais, do ponto de vista fiscal. Usualmente, o valor da causa é apresentado ao final da petição, antes do fechamento, em um tópico próprio, sendo a redação no estilo de cada peticionante. Exemplo: DO VALOR DA CAUSA: “Dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais)”\ 1.11 Considerações finais (fecho) Embora não seja considerado como requisito da petição inicial por não estar inserido no artigo 319 do CPC, não menos importante é o fechamento da peti- ção, pois toda petição deve, ao final, conter local e data. Ademais, assinatura do advogado e o número de sua inscrição junto à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) devem vir ao final da peça processual, sob pena de ser considerada por apócrifa (termo jurídico do qual indica que não possui autenticidade, significa dizer: sem assinatura). Usualmente, antes de mencionar o local e data, na praxe forense, podemos constatar a expressão: “Nestes termos, pede deferimento.” ou “Termos em que pede deferimento”, compondo dessa forma o fechamento da petição o seguinte exemplo: Nestes termos, pede deferimento. Local, data Advogado OAB nº.../UF 30 • capítulo 1 1.12 Peça prático-profissional Dos Aspectos Formais da Petição Inicial: a. margem direita de 3cm; b. margem esquerda de 3cm; c. fonte, no mínimo, 12; d. espaço de entrelinha 1,5; e. recuo nas primeiras linhas dos parágrafos; f. alinhamento justificado; g. órgão jurisdicional a que é dirigida em caixa alta; h. 10 cm de espaço entre o endereçamento e o preâmbulo; i. nomes das partes em caixa alta; j. nomes dos representantes legais em caixa baixa; k. nome da ação em caixa alta; l. discurso indireto (narrativa com os verbos na terceira pessoa); m. fatos narrados em ordem cronológica; n. parágrafos curtos com coesão e coerência no discurso; o. nas citações, deverá ser esclarecida a fonte do texto, sendo em citação doutri- nária (nome do autor, obra citada, editora, ano e página) e em citação jurispru- dencial (tribunal, câmara ou turma, espécie de recurso, número do processo, data da publicação do acórdão); p. quanto à forma, o texto de citação deve vir entre aspas, devendo haver um re- cuo da margem esquerda de 4cm; o tamanho da letra deve diminuir um ponto e o espaço de entrelinha deve ser reduzido a simples; q. a conclusão da causa de pedir é muito importante, devendo ser um fecho adequado para a pretensão do Autor; r. não se termina a causa de pedir com citação de texto alheio; s. o pedido segue a ordem dos atos processuais que serão realizados, devendo ser claro, conciso e, de preferência, dividido em itens; t. prova não é item do pedido; u. o valor da causa deve ser expresso em reais (R$ ...). capítulo 1 • 31 MODELO: PEÇA PROCESSUAL – CONTESTAÇÃO (fonte 12, Times New Roman, espaçamento 1,5) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA ... DA COMAR- CA DE ... (espaço de 10 linhas) (NOME DA PARTE AUTORA), (nacionalidade), (estado civil), (profissão), portador da carteira de identidade nº..., expedida pelo..., inscrita no CPF/MF sob o nº..., residente e domiciliado..., nesta cidade, por seu advogado, com endereço profissional..., nesta cidade, endereço que indica para os fins do artigo 106 do CPC, propor... (NOME DA AÇÃO), pelo procedimento (COMUM ou DIFERENCIADO) em face de (NOME DA PARTE RÉ), (nacionalidade), (estado civil), (profissão), portador da carteira de identidade nº..., expedida pelo..., inscrita no CPF/MF sob o nº..., residente e domiciliado..., pelos fatos e fundamentos que passa a expor. (espaço de 1 linha) DOS FATOS (espaço de 1 linha) DOS FUNDAMENTOS (espaço de 1 linha) DO PEDIDO (espaço de 1 linha) 32 • capítulo 1 Diante do exposto, requer: 1. a citação do Réu; 2. que seja julgado procedente o pedido para (pedido imediato), em (pedido mediato); 3. que seja julgado procedente o pedido para condenar o réu nas custas processuais e nos honorários advocatícios. (espaço de 1 linha) DAS PROVAS Requer a produção de todas as provas em direito admitidas, na amplitude dos artigos 369 e seguintes do CPC, em especial (a prova documental, a prova pericial, a testemunhal e o depoimento pessoal do Réu). (espaço de 1 linha) DO VALOR DA CAUSA Dá-se à causa o valor de R$... (valor expresso em reais). (espaço de 1 linha) Pede deferimento. Local, (Dia), (Mês) de (Ano). Advogado (nome completo do advogado e sua assinatura). OAB/UF nº... (sigla do Estado da Federação e número da OAB do advogado.) Caso concreto exemplificativo Antônio e Maria, ambos residentes em Vila Velha, Espírito Santo, procuraram você, advogado(a), para promover medida judicial para resguardo de seus in- teresses, narrando que seus pais, Jair e Flávia, residentes em Vitória, Espírito Santo, no escopo de ajudar o filho mais novo, Joaquim, que não possuía casa própria, venderam-lhe bem imóvel, sem o consentimento dos demais descen- capítulo 1 • 33 dentes, e causando aos mesmos efetivo prejuízo, conforme demostrado. O imó- vel alienado situa-se em Vitória, Espírito Santo, onde Joaquim passou a resi- dir. O valor ajustado para a celebração do negócio jurídico foi de R$200.000,00 (duzentos mil reais), através de Escritura de Compra e Venda lavrada no dia 20 de dezembro de 2013, no Cartório de Ofício de Notas da Comarca de Vitória e devidamente transcrita no respectivo Registro Geral de Imóveis. Antônio e Maria esclarecem ainda que não concordam com o mencionada venda, uma vez que o valor de mercado do imóvel, na época da realização do negócio jurídico, era de R$450.000,00 (quatrocentos e cinquenta mil reais). Elabore a peça processual cabível para resguardo dos direitos de seus clientes. EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CÍVEL DA CO- MARCA DE VITÓRIA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO ANTÔNIO, (nacionalidade), (estado civil), (profissão), portador da carteira de identidade nº..., expedida pelo..., inscrita no CPF/MF sob o nº..., residente e domiciliado..., nesta cidade, e MARIA, (nacionalidade), (estado civil), (profissão), portadora da carteira de identidade nº..., expedida pelo..., inscrita no CPF/MF sob o nº..., residente e domiciliada..., nesta cidade, ambos por seu advogado, com endereço profissional..., nesta cidade, endere- ço que indica para os fins do artigo 106 do CPC, propor... AÇÃO DE ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO, pelo procedimento COMUM em face de JAIR, (nacionalidade), (estado civil), (profissão), portador da carteira de identidade nº..., expedida pelo..., inscrita no CPF/MF sob o nº..., residente e domiciliado..., FLÁVIA, (nacionalidade), (estado civil), (profissão), portadora da carteira de identidade nº..., expedida pelo..., inscrita no CPF/MF sob o nº..., residente e domiciliada..., E JOAQUIM, (nacionalidade), (estado civil), (profissão), portador da carteira de identidade nº..., expedida pelo..., inscrita no CPF/MF sob o nº..., residente e domiciliado..., pelos fatos e fundamentos que passa a expor. 34 • capítulo 1 DOS FATOS No dia 20 de dezembro de 2013, no Cartório de Ofício de Notas da Comarca de Vitória, os réus, sem o consentimento dos autores,venderam um imóvel situado em Vitória, Espírito Santo, ao seu filho mais novo, Réu Joaquim, onde passou a residir, no escopo de ajudá-lo, já que este não possuía casa própria. No entanto, tal venda causou efetivo prejuízo aos autores, uma vez que o valor ajustado para a celebração do negócio jurídico foi de R$200.000,00 (duzentos mil re- ais), e o valor de mercado do imóvel, na época da realização do negócio jurídico, era de R$450.000,00 (quatrocentos e cinquenta mil reais). DOS FUNDAMENTOS O direito dos autores encontra amparo inicialmente no artigo 104, III do Código Civil, uma vez que para ser válido, o negócio jurídico precisa ter forma escrita ou não defesa em lei. Ademais, o art. 496 do mesmo diploma legal, ensina que é anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. O ilustre professor Carlos Roberto Gonçalves assevera sobre o assunto: “A ven- da realizada sem o referido consentimento é anulável, estando legitimados para a ação anulatória os descendentes preteridos.” (Principais inovações no Código Civil de 2002. São Paulo: Saraiva). Diferente não é a jurisprudência do STJ: Processo EREsp 661858/PR EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL 2006/0091674-1 Relator(a) Ministro FERNANDO GONÇALVES (1107) Órgão Julgador S2 – SEGUNDA SEÇÃO Data do Julgamento 26/11/2008 Data da Publicação/Fonte DJe 19/12/2008 Ementa CIVIL. VENDA. ASCENDENTE A DESCENDENTE. ATO ANULÁVEL. 1 - A venda de ascendente a descendente, sem a anuência dos demais, se- gundo melhor doutrina, é anulável e depende da demonstração de prejuízo pela parte interessada. Precedentes. Ementa RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. VENDA DE ASCENDENTE A DES- CENDENTE, SEM O CONSENTIMENTO DOS DEMAIS DESCENDENTES. capítulo 1 • 35 AÇÃO DE NULIDADE/ANULAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA DE COTAS DE SOCIEDADE EMPRESARIAL. ART. 1.132 DO CÓDIGO CIVIL/1916. NU- LIDADE RELATIVA. PRECEDENTE DA EG. SEGUNDA SEÇÃO. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA PARA A COMPROVAÇÃO DE EVENTUAL PREJUÍZO DE- CORRENTE DA ALIENAÇÃO, BEM COMO PARA A AFERIÇÃO DO PATRIMÔNIO DO DE CUJUS, SEM O QUE NÃO SE PODERIA COGITAR DE OFENSA À LEGÍTIMA. RECO- NHECIMENTO, PELO TRIBUNAL DE ORIGEM, DE QUE HOUVE CERCE- AMENTO DE DEFESA COM O JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. OFENSA AOS ARTS. 330, I, 334, II, 249, § 1º, DO CPC, 1.132 E 145, IV E V, DO CC/16 NÃO CARACTERIZADA. DIVERGÊNCIA PRETORIANA SUPERADA PELO MENCIONADO PRECEDENTE DA SEGUNDA SEÇÃO. 1. A Eg. Segunda Seção desta Corte, no julgamento do EREsp 668.858/ PR, do qual foi Relator o eminente Ministro FERNANDO GONÇALVES, DJ 19/12/2008, uniformizou a jurisprudência do STJ sobre o tema, adotando o entendimento de que “a venda de ascendente a descendente, sem a anuência dos demais, segundo melhor doutrina, é anulável e depende da demonstração de prejuízo pela parte interessada”. 2. Dessa forma, uma vez reconhecida que a venda de ascendente a des- cendente, sem a anuência dos demais descendentes, em contrariedade ao art. 1.132 do Código Civil/1916, constitui ato anulável, impondo-se, por isso, a possibilidade de o descendente-adquirente comprovar a ausência de prejuízo para os demais descendentes, em decorrência de tal alienação, não há como afastar o entendimento do acórdão recorrido quanto à indis- pensabilidade, na hipótese, de dilação probatória. 3. Está correto o acórdão hostilizado ao acatar a alegação dos ora recorridos de que houve cerce- amento de defesa com o julgamento antecipado do feito, sem que lhes fosse oportunizado produzir provas capazes de demonstrar a ausência de prejuízo, o que, se reitere, seria indispensável, haja vista que o descumprimento da norma inserta no mencionado art. 1.132 do CC/1916 constitui nulidade relativa, e não ab- soluta, como pretendem os recorrentes.
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